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1 TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM AGROECOLOGIA Resumo: O artigo resulta de pesquisa realizada em curso de Mestrado com o tema da formação teórico-prática do técnico em agroecologia em uma escola pública de Santa Catarina. O objetivo foi analisar como teoria e prática se encontram articuladas nas ações pedagógicas desta escola, amparando- se em pesquisa bibliográfica, documental, observações e entrevistas. Os resultados indicam para uma frágil articulação entre teoria e prática e portanto de uma fragilidade na formação destes técnicos, decorrente de limites de compreensão presentes na escola e das condições objetivas em que ocorre o curso. Conclui-se que estes problemas relacionam-se ao processo de desqualificação da educação brasileira destinada aos trabalhadores. Palavras chaves: Teoria e prática; Trabalho; Formação Técnica; Agroecologia. Introdução O artigo resulta de pesquisa realizada no curso Mestrado Profissional em Agroecossistemas do Programa de Pós Graduação do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina com o tema da formação teórico-prática do técnico em agroecologia na Escola 25 de Maio de Fraiburgo-SC. Nesta pesquisa se procurou investigar a relação teoria e prática nos processos educativos desenvolvidos por esta escola para perceber os limites e as potencialidades que se apresentam na formação do técnico militante proposto no projeto político pedagógico (PPP) da escola. O objetivo desse estudo foi analisar como teoria e prática encontram-se articuladas nas ações pedagógicas desenvolvidas por esta

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TEORIA E PRTICA NA FORMAO DO TCNICO EM AGROECOLOGIA

Resumo:

O artigo resulta de pesquisa realizada em curso de Mestrado com o tema da formao terico-prtica do tcnico em agroecologia em uma escola pblica de Santa Catarina. O objetivo foi analisar como teoria e prtica se encontram articuladas nas aes pedaggicas desta escola, amparando-se em pesquisa bibliogrfica, documental, observaes e entrevistas. Os resultados indicam para uma frgil articulao entre teoria e prtica e portanto de uma fragilidade na formao destes tcnicos, decorrente de limites de compreenso presentes na escola e das condies objetivas em que ocorre o curso. Conclui-se que estes problemas relacionam-se ao processo de desqualificao da educao brasileira destinada aos trabalhadores. Palavras chaves: Teoria e prtica; Trabalho; Formao Tcnica; Agroecologia.IntroduoO artigo resulta de pesquisa realizada no curso Mestrado Profissional em Agroecossistemas do Programa de Ps Graduao do Centro de Cincias Agrrias da Universidade Federal de Santa Catarina com o tema da formao terico-prtica do tcnico em agroecologia na Escola 25 de Maio de Fraiburgo-SC. Nesta pesquisa se procurou investigar a relao teoria e prtica nos processos educativos desenvolvidos por esta escola para perceber os limites e as potencialidades que se apresentam na formao do tcnico militante proposto no projeto poltico pedaggico (PPP) da escola. O objetivo desse estudo foi analisar como teoria e prtica encontram-se articuladas nas aes pedaggicas desenvolvidas por esta escola. O estudo ampara-se em pesquisa bibliogrfica, documental, observaes e entrevistas realizadas na mencionada escola entre os anos de 2013 e 2014. O Curso Tcnico em Agroecologia da Escola estudada fruto da luta das famlias assentadas no municpio de Fraiburgo e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST, de Santa Catarina. Ela caracteriza-se como escola pblica vinculada ao Sistema Estadual de Educao de Santa Catarina SED-SC e tem vnculo orgnico com o MST. Esta dupla vinculao, segundo Mohr e Ribas (2012) produz vrios conflitos entre Escola, MST e Estado. Estes conflitos podem ser compreendidos a partir da teoria da educao que se fundamenta na ideia de que a escola no existe descolada da sociedade. Ou seja, na escola perpassam as contradies que se estabelecem na sociedade burguesa.

Fruto da luta do MST/SC, esta escola foi forjada pelos Sem Terra para ser uma escola na qual se trabalha a formao tcnica em agroecologia a partir da unidade teoria e prtica para capacitar politicamente e tecnicamente os camponeses para a mudana da matriz produtiva e tecnolgica hegemnica do agronegcio, para uma matriz produtiva e tecnolgica de base agroecolgica. A luta pelo curso tcnico em agroecologia comea no ano de 2002 e a conquista definitiva do curso se deu seis anos aps, no ano de 2008. Inicialmente, a SED-SC havia prometido que este curso iria comear no ano de 2004, o que acabou no ocorrendo, levando a Escola 25 de Maio a se articular junto Universidade Federal de Santa Catarina UFSC para elaborar projeto via Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria PRONERA para realizar este curso. No ano de 2005 o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria aprova o projeto para realizao da primeira turma do curso tcnico em agroecologia em parceria com a UFSC. No ano de 2007 inicia-se uma nova turma pelo PRONERA. A certificao das duas foi dada pelo Instituto Federal de Araquari-SC. Houve uma terceira turma, essa em parceria com o Instituto Federal de Rio do Sul-SC e certificada por essa instituio de ensino. Desde a sua criao a Escola se props trabalhar a educao em que teoria e prtica pudessem se vincular como uma unidade. Esta vinculao entre teoria e prtica est exposta no Projeto Poltico Pedaggico- PPP da escola (PPP, 2013). Nesse documento tambm pode-se perceber que a escola assume os princpios da Educao do MST (MST, 2005), particularmente no que diz respeito formao para e pelo trabalho. Nesse sentido, o trabalho tomado como princpio educativo. Outra caracterstica presente no PPP (2013) a auto-organizao dos estudantes, para isso ela organiza Ncleos de Base NBs. Os NBs seriam o espao no qual os estudantes pudessem participar do processo organizativo e pedaggico da escola.

O Curso Tcnico em Agroecologia acontece em ciclos de alternncia, dividido entre Tempo Escola- TE e Tempo Comunidade- TC. O TE o tempo que o estudante do curso fica na escola para estudar os componentes curriculares e contribuir no processo produtivo da Escola, na produo de alimentos a partir de tecnologias de base agroecolgica. Nesse sentido os estudantes participaro dos trabalhos da produo vegetal e animal. A produo animal se d a partir do pastoreio racional Voisin (PRV), a produo de sunos ao ar livre (Siscal) e a produo vegetal a partir da produo de verduras (horta).

A participao dos estudantes nas atividades produtivas seria, segundo o PPP (2013), forma privilegiada de unir teoria e prtica. Do mesmo modo, em cada TC seriam encaminhadas atividades relacionadas aos contedos ensinados em sala de aula na perspectiva de fortalecer a formao terica-prtica. Na volta ao TE, os estudantes trariam os resultados obtidos do trabalho do TC para serem discutidos nas aulas das disciplinas tcnicas e tambm seria realizado um seminrio para socializar as atividades desenvolvidas.

Em vista de apresentar os resultados a que nossos estudos de mestrado chegaram, organizamos o presente artigo em duas outras partes, alm desta introduo. Na primeira buscamos uma compreenso histrica da relao entre teoria e prtica na formao humana em geral e em particular a educao escolar, o que tem base em autores como Marx, Gramsci e Manacorda, para, a partir disto, pensar a formao do tcnico em agroecologia. A segunda parte consiste em compreender a formao do tcnico em agroecologia para a implementao da agroecologia como contraponto ao agronegcio. Neste momento so apresentados os resultados da pesquisa que responde questo central, qual seja, a relao teoria e prtica na formao do tcnico em agroecologia na Escola 25 de Maio, seus limites e possibilidades de avanar na qualificao da formao do tcnico militante em agroecologia da referida escola.O trabalho como base da relao teoria e prtica e a formao tcnica em agroecologia

Para Marx (1968) e Engels (1999), o trabalho que diferencia os homens dos animais. Marx (1968), ao afirmar que a melhor das abelhas inferior ao do pior dos arquitetos, se refere que a abelha faz sua colmeia sempre da mesma forma, sem conceb-la em sua mente, ao passo que o arquiteto, por pior que seja, antes de construir concebe na sua imaginao o produto final. Esta capacidade de conceber o produto a ser feito antes de faz-lo uma atividade especificamente humana. Essa propriedade humana foi se desenvolvendo no e pelo processo de produzir coisas teis para satisfazer as necessidades. Ou seja, no e pelo trabalho. Nesse sentido trabalho :

Um processo de que participam homem e a natureza. Processo em que o ser humano com sua prpria ao, impulsiona, regula e controla seu intercambio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas foras. Pe em movimento as foras naturais de seu corpo, braos e pernas, cabea e mos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhe forma til vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a ao mesmo tempo modifica sua prpria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domnio o jogo das foras naturais (MARX, 1968, p. 202).Foi no processo histrico do desenvolvimento da sociedade humana que o homem foi se educando/formando. Isto quer dizer, a partir da prtica social, do trabalho. Trabalho visto como unidade dialtica entre conceber e fazer. no processo de atuar sobre a natureza que o homem modifica a natureza, mas tambm modifica a si mesmo. A partir da ao sobre a natureza o ser humano vai construindo aprendizados, vai tomando conscincia dessas aes, e, dessa forma, produz a cultura.O processo de toda sociedade humana se educar/formar pelo trabalho, num dado momento da histria da humanidade rompido, isto acontece com o surgimento da diviso da sociedade em classes. Ao dividir a sociedade em classes sociais tambm se divide o trabalho. Essa diviso tem consequncias na forma de se educar/formar. Segundo Manacorda (1989), nas sociedades de classes, comeando no escravismo e se estendendo at o feudalismo, uma parte da sociedade, ou seja, os detentores dos meios de produo, se educam em espaos do no trabalho e outra parte, os que vivem do trabalho, continuam a se educar no processo do trabalho. Segundo o mesmo autor, a escola como lugar de educao nasce junto com a sociedade de classes. Nesse sentido, a diviso da sociedade em classes cinde a educao. Ou seja, um tipo de educao para os que trabalham e vivem do trabalho e um tipo de educao para os que no trabalham e vivem do trabalho de outrem. Segundo Manacorda (1989), so as condies reais de organizao do processo do trabalho que vo conformando o processo educativo do ser humano. Dessa maneira, em cada nova forma de organizao do processo do trabalho e da produo vai se constituindo num novo modo de organizar a educao. Assim, com o aparecimento da sociedade de classes vai se conformando uma educao dual, assim como a vida da sociedade vai se constituindo de forma dual. Essa ciso entre a classe dominante e a dominada na sociedade antes do capitalismo estava bem clara entre os que trabalhavam e se educavam/formavam no e pelo processo de produo e os que no trabalhavam, esses ltimos tinham para eles um lugar prprio para se educar/formar, a escola.Sob o capitalismo como forma de organizar a produo da existncia do ser humano, revolucionam-se as foras produtivas, as tcnicas de produo, e tambm a forma de educar/formar o ser humano. Mas este modo de produo continua assentado na diviso social em classes. Segundo Marx (1968), so duas as classes fundamentais, os que detm os meios de produo, a quem cabe o trabalho intelectual, e os que nada tm a no ser vender sua fora de trabalho, a estes cabe o trabalho manual. Esta forma da sociedade se organizar para produzir sua existncia produz uma nova forma de educao/formao, agora no mais entre educao escolar e educao do processo do trabalho, ou seja, segundo Manacorda (1989) entre escola e no escola. Nesse novo modo de produo, o capitalismo, todos necessitam da escola para se educar/formar, pois nessa sociedade todos participam do processo de produo e este exige uma preparao geral e comum necessria ao desenvolvimento produtivo alcanado.

Se no modo de produo capitalista h necessidade da educao escolar para o conjunto dos proletrios, isto , estes precisam se apropriar de alguns poucos conhecimentos tcnicos necessrios para operar as mquinas, na agricultura Brasileira, a escola comea a ser uma exigncia a partir da segunda metade do sculo XX com a modernizao da agricultura. Nesse momento histrico, segundo Sobral (2005), at a dcada de 1960 a educao rural e a formao tcnica para a agricultura eram depreciadas como formaes marginais. S a partir a da segunda metade da dcada de 1960, que o Estado brasileiro assume a educao profissional para o meio rural, implementando aes concretas com esta finalidade. Estas aes visavam estimular o processo da modernizao da base tcnica da agricultura brasileira.

A revoluo da base tcnica da agricultura conhecida como Revoluo Verde, traz para o campo problemas tanto relacionadas ao xodo rural quanto a questes ambientais. Este novo processo produtivo alicerado sobre a mecanizao, o uso de sementes primeiramente hbridas e posteriormente transgnicas, com um alto consumo de agrotxicos, a plantao de monocultivos em grandes extenses de terras, tendem a produzir duas consequncias fundamentais, a expulso do campons do campo e a destruio do meio ambiente com contaminao da flora e da fauna brasileira, alm do prprio ser humano.

O processo produtivo acima mencionado necessitou de tcnicos formados para sua implementao. Estes tcnicos so formados de forma unilateral. Ou seja, tcnicos que se apropriam de habilidades do fazer sem o domnio do pensar sobre o que esta forma de produzir na agricultura poder acarretar sobre o meio ambiente e a vida do ser humano. A formao tcnica proporcionada para implementao da revoluo verde produziu um rompimento na agricultura do pensar sobre o fazer, do homem com a natureza. Segundo Pinheiro Machado e Machado Filho (2014), o rompimento da unidade dialtica homem e natureza, produzido pelo modo de produo capitalista, produz tambm a destruio da natureza pelas tecnologias inventadas para um tipo de produo que no leva em conta a vida do ser humano e do Planeta Terra, pois, para o capital, o que interessa o lucro. Nessa tecnologia separada a concepo da execuo, ou seja, na forma de produo implementada pela revoluo verde, como vimos afirmando, o agricultor no necessita mais de conhecimento tcnico acumulado atravs da experincia, mas, simplesmente, precisa saber operar, saber fazer. Isto tambm vlido para a formao do tcnico da extenso rural, que no necessita saber, basta ter a receita produzida pela classe social que tem em suas mos os meios de produo. Segundo Marx e Engels (1998), a classe que detm a dominao material tambm tem a dominao espiritual, seja ao se apropriar do conhecimento colocando-o sobre o seu controle, seja ao produzir uma ideologia que obscurece o verdadeiro sentido da tecnologia. Nesse sentido, esta forma de produzir separa a concepo da execuo, e, em consequncia disso, tambm separa o trabalho manual e o trabalho intelectual, o pensar e o fazer. Dissocia aquilo que inseparvel na vida cotidiana do ser humano, pois segundo Gramsci (1982) no possvel separar o homo sapiens do homo faber.

Para se contrapor a isso o MST comea discutir em sua organizao a Agroecologia como matriz produtiva e tecnolgica. Ao fazer esta discusso percebe a necessidade de formar quadros tcnicos na rea para contribuir na implantao desta matriz produtiva em seus assentamentos. E para atender a essa demanda comea a discutir em suas instncias a necessidade de lutar por escolas para proporcionar esta formao. A formao dos tcnicos em Agroecologia pretendida pelo MST se fundamenta na relao teoria e prtica para a formao omnilateral. Ou seja, a formao tcnica aliada formao de conhecimentos gerais, alm da formao poltico-ideolgica. Esta formao se daria a partir de uma pedagogia que tenha a prtica social como referncia da relao entre o trabalho e a educao, tomando-se o trabalho como princpio educativo.

Por isso, ela no poder ser feita com a mesma pedagogia que foi utilizada para a formao dos tcnicos que viriam a implementar a revoluo verde, pedagogia esta que buscava a formao de habilidades no sentido do treinamento, do saber fazer no qual no era includo o pensar sobre o fazer. A educao/formao tcnica buscada pelo MST, para fortalecer a discusso e implementao da Agroecologia como matriz produtiva e tecnolgica, d-se em virtude desse Movimento introduzir essa matriz como um caminho para viabilizar a autonomia produtiva frente ao agronegcio, bem como uma forma de produzir sem degradar a natureza. Segundo Silva (2011) a introduo da Agroecologia nas discusses no MST comea a aparecer, com mais fora, tornando-se referncia neste Movimento, a partir da segunda metade da dcada de 1990, atingindo, desta forma, a referncia do cooperativismo produtivista que era dominante at ento e que passa a ser questionado. Rego (2011) observa que foi a partir do V Congresso Nacional do MST em 2007, que este Movimento adota definitivamente como orientao poltica, para o conjunto da sua organizao, a Agroecologia como matriz produtiva e tecnolgica para o desenvolvimento da agricultura nos assentamentos.

A formao tcnica pensada pelo MST indica para formar seus integrantes para o domnio das tcnicas de produo agroecolgica que, segundo Machado e Machado Filho (2014), j existem e precisam chegar aos camponeses. Nesse sentido o MST busca em seus cursos articular teoria e prtica (MST, 2004). Entende-se que no processo de articulao teoria e prtica, a formao/educao pode ser um instrumento que contribua para a superao da sociedade de classes e, com isso, romper com uma educao na qual so dissociados a teoria da prtica, o trabalho manual e intelectual. Torna-se necessrio, porm, no esquecer do que nos alerta Enguita (1999) para quem a educao e escola, numa sociedade de classes, cumprem com a funo da reproduo desta mesma sociedade, portanto romper com a esta dualidade educacional no tarefa fcil ou exclusivamente educacional.

Nesse sentido primordial a compreenso que a agroecologia como matriz produtiva e tecnolgica ultrapassa a forma de produzir no campo. Agroecologia, para alm da forma de produzir, uma cincia que segundo Segundo Guhur e Ton (2012), ao procurar desenvolver processos produtivos em que no se altere de forma artificial os ciclos naturais do desenvolvimento dos vegetais e animais, a Agroecologia devolve ao campons a capacidade de pensar sobre o fazer e de planejar como, quando e o que produzir. Assim, a Agroecologia une a Agronomia Ecologia, que a cincia cartesiana, com sua organizao tendo por base os conhecimentos fragmentados, separou. Dessa forma, devolve ao humano aquilo que lhe essencial, unindo o pensar, o sentir e o fazer. Nesse sentido, pode-se pensar em aproximar um conceito de Agroecologia como sendo a construo de um novo paradigma cientfico, no mais alicerado sobre a cincia cartesiana que fragmenta e separa o conhecimento, mas sobre o conhecimento de totalidade que tem por objeto de anlise as unidades de agroecossistemas, as quais, segundo Machado e Machado Filho (2014), incorporam tcnicas e tecnologias produtivas para aumentar a produtividade do trabalho e, ao mesmo tempo, diminuir a sua penosidade. Nas unidades de anlises so considerados todos os aspectos sendo os sociais, ambientais, econmicos, culturais nas suas multideterminaes. Isto quer dizer que a Agroecologia situa-se numa perspectiva de totalidade, onde o todo maior do que as somas das partes.

Portanto, a Agroecologia pode ser vista em quatro dimenses, a dimenso sociopoltica, a dimenso cultural dos saberes populares, a dimenso econmica e a dimenso tecnolgica ou tcnica da produo. Nesta acepo, a agroecologia vai alm de uma forma de produzir, podendo se transformar em instrumento que possibilite contribuir na formao da conscincia ecolgica e poltica organizativa do trabalhador do campo em particular e do trabalhador em geral para se contrapor matriz produtiva do capital, que se fundamenta na produo de mercadorias a partir da monocultura e do uso de insumos que deixam rastros de destruio, gerando uma dependncia dos agricultores em relao ao capital. Segundo Machado e Machado Filho (2014, p. 61):

O paradigma da revoluo verde e a respectiva agricultura industrial se poia em trs princpios, todos para criar a dependncia e, portanto, custos para o produtor; fertilizantes de sntese qumica- ureia, superfosfatos, cloreto de potssio e tantos outros-, venenos contaminantes da vida humana e da vida do ambiente (agrotxicos) e as monoculturas que destroem a biodiversidade e, consequentemente, os biomas. Ou seja, para gerar novas fontes de reproduo do capital, que , finalmente, o objetivo dos detentores do controle dessas indstrias, o capital financeiro internacional.

Na matriz produtiva agroecolgica se aliam o jeito e a forma de produzir na agricultura com a utilizao de tcnicas e tecnologias apropriadas produo em escala sem contaminar e sem destruir o meio ambiente, se contrapondo ao agronegcio. Para isso, o agricultor necessita de ter conhecimentos cientficos acerca do que o solo, como a planta se alimenta, como solo/vegetal/animal se inter-relacionam em um agroecossistema. Nesse sentido Machado e Machado Filho (2014, p. 61-62) escrevem:

A Agroecologia, ao se contrapor ao agronegcio, e, portanto, negando esses procedimentos custosos e destrutivos, soluciona os problemas criados pela revoluo verde atravs de condutas e processos simples e eficientes como a prpria essncia da natureza: desintoxicao do solo, sem rotul-lo; controle dos parasitas (e dos agrotxicos) pela trofobiose; nutrio das plantas atravs do ciclo do etileno no solo e das substancias complexas de alto peso molecular e dispensa dos fertilizantes externos pela ao dos micro-organismos do solo, por meio da transmutao dos elementos baixa energia. Tudo isso com proteo ambiental e sem custo financeiro ao produtor, pois todos esses processos so realizados, em ltima anlise, custa de energia solar que, repetimos em termos humanos infinita, no tem dono e no pode ser vendida!

Esse processo de conhecimento no se d puramente na teoria, mas necessariamente na prtica do fazer agricultura. Nesse intuito, segundo Machado e Machado Filho (2014), a pesquisa que pretenda ser comprometida com os objetivos e dimenses da Agroecologia precisa estar abrindo e apontando os caminhos. Ainda segundo os mesmos autores, a pesquisa precisa dialogar com os agricultores que fazem a Agroecologia na prtica.

H que dispensar um extraordinrio esforo de pesquisa, ensino e extenso. Em todos os nveis em todas as latitudes, certamente, com a participao dialtica dos produtores, pois, afinal so eles os sujeitos do processo, aqueles que vo pr em prtica as conquistas das cincias (MACHADO; MACHADO FILHO, 2014, p. 66).

Vale destacar que o agricultor ao aplicar a Agroecologia no o faz sem conhecimento tcnico cientfico, orientado pelo pesquisador ou tcnico. Nesse processo de interao entre pesquisador e agricultor, este vai se apropriando do conhecimento e das tcnicas no s do como fazer, mas tambm do porqu fazer. Essa relao do como e do porqu fazer vai educando este agricultor do sentido de uma formao omnilateral.

A agricultura enquanto atividade prtica, desenvolvida por milnios pelo ser humano, produziu uma infinidade de conhecimentos que a Agroecologia no pode desconsiderar, assim como no pode ignorar o conhecimento acumulado pela cincia. Segundo Caporal et all (2006) e Gomes (2006) e Leff (2004), preciso que o conhecimento cientfico dialogue com o conhecimento popular para romper com a racionalidade econmica capitalista, a qual produz a destruio, seja do ambiente e da natureza, seja do ser humano. Romper com essa racionalidade significa construir uma nova forma de se relacionar com a terra e com a natureza. Assim, enquanto matriz produtiva, a Agroecologia se coloca como fora social atuando como contraponto racionalidade econmica produzida pelo modo de produo capitalista.

Deste modo, a Agroecologia pode vir a ser um espao de formao do ser humano na conquista da sua emancipao se aliar teoria e prtica. A Agroecologia vista a partir da prtica agrcola, alm de ser um modelo de produo que no se utiliza de agrotxicos e/ou fertilizantes de origem sinttica, precisa, tambm, ser produtora de alimentos saudveis, no qual o agricultor procura desenvolver tcnicas de produo que possam aumentar a produtividade do trabalho sem produzir danos natureza, e, desta forma, desenvolver prticas que possam incidir em novas relaes dos seres humanos com a natureza e entre si mesmos.

Nesse processo de construo da Agroecologia enquanto teoria articulada indissociavelmente prtica abrem-se as possibilidades para o agricultor se apropriar do processo de produo, sobre o que produzir e como produzir. Na Agroecologia o agricultor vai se formando e tomando conscincia da necessidade de construir uma outra relao com a natureza e com os demais seres humanos. Esta relao precisa estar fundamentada em princpios que respeitem o meio ambiente, de modo a produzir alimentos saudveis pela introduo de tcnicas em que a energia solar e o prprio solo, atravs da relao produo animal e vegetal, possam produzir e alimentar a fertilidade deste solo. Dessa forma, segundo Machado e Machado Filho (2014), a prpria natureza vai produzindo a fertilidade do solo sem precisar usar produtos exgenos. Este processo de aprendizado que comea pela prtica social pode devolver ao trabalhador do campo a capacidade de pensar como, porque e para quem fazer o processo de produo.

A Agroecologia vem sendo construda como uma matriz produtiva de modo que possa se contrapor ao agronegcio, pelos danos que este pode significar para a natureza e, nesta, os seres humanos que dela fazem parte. Nessa matriz produtiva preciso buscar tcnicas e tecnologias produtivas que possibilitem produzir em escala, que respeitem o ciclo da natureza e que sejam aliadas preservao do meio ambiente. Deste modo, o que compreendemos como Agroecologia, no mbito do fazer agricultura, esta que procura desenvolver a produo agrcola a partir da produo de alimentos saudveis, incorporando tcnicas produtivas as quais tm por base o policultivo e o no revolvimento do solo ou mesmo o seu envenenamento. A formao do tcnico em agroecologia na Escola 25 de Maio: (im)possibilidade de articular teoria e prtica?

O Curso Tcnico em Agroecologia da Escola 25 de Maio, segundo o PPP (2013) prope formar tcnicos em agroecologia com capacidade tcnica e competncia poltica para contribuir junto aos camponeses na implantao da matriz tecnolgica e produtiva para a produo de alimentos de base agroecolgica. Nesse sentido, buscamos olhar para o espao da escola e o curso tcnico em agroecologia para compreender como que se d a relao teoria e prtica nos processos pedaggicos e quais os limites que este curso apresenta e as possibilidades que existem para avanar.

Os aspectos enfocados para anlise so referentes s relaes que se estabelecem entre professor e aluno na atividade pedaggica, como professores e alunos compreendem o trabalho, a relao entre escola, MST e SED-SC, a qualificao dos professores da rea tcnica do curso, o perodo em que so realizadas as aulas, a compreenso sobre a auto-organizao dos estudantes e o quadro de profissionais tcnicos para acompanhar o TC e os trabalhos de campo realizados pelos alunos.

A partir das observaes pode-se perceber que a relao professora(a) aluno que se estabelece nas disciplinas tcnicas do curso tcnico em agroecologia pode ser descrita como relaes que buscam pautar-se pelo dilogo, mas um dilogo cuja relao est dissociada entre o prtico e o terico. O dilogo baseia-se na teoria, cuja metodologia de ensino utilizada por quase todos os professores est na exposio do contedo pelo uso da lousa, ou de data show e a partir disso abre-se o dilogo. O Projeto Poltico Pedaggico (2013) do Curso Tcnico em Agroecologia, foco dessa pesquisa, declara que o trabalho princpio educativo e precisa ser utilizado como um mtodo adequado no intuito de unir teoria e prtica. O que se compreende por trabalho como princpio educativo exposto no PPP, aquele socialmente necessrio, ou o trabalho produtor de valor de uso (Shulgin, 2013). Esse trabalho no o trabalho que se realiza na escola, mas que se realiza fora do mbito escolar, ou seja, realizado no entorno da escola, na comunidade onde a escola est inserida, com a participao da comunidade e suas organizaes. O trabalho princpio educativo porque ele a base da unio entre teoria e prtica, ele fonte do conhecimento terico e prtico, ele que possibilita saber fazer e saber compreender o que se faz. O trabalho visto dessa forma difere daquilo concebido pelos professores.

Professor A- O trabalho ele veria mais para uma questo de fortalecer aquilo que eles tm da teoria. Ento a prtica vai ajudando, no caso no curso tcnico em agroecologia por exemplo, se eles forem l exercitar um mochamento de um animal, que uma atividade prtica de um trabalho, eles vo acabar tendo mais certeza daquilo que esto fazendo (Entrevista realizada em abril de 2014).Professor B- Porque voc no consegue fazer um trabalho sem ter uma prtica por simples que seja o trabalho. Por exemplo vou fazer uma cerca alm de ser um trabalho vai ser uma prtica que estou desenvolvendo (Entrevista realizada em abril de 2014).

Diretor da escola: eles no conseguem fazer esta relao teoria e prtica, elas acabam ficando em algum momento na teoria e no conseguem fazer esta relao com a prtica devido s condies de formao, condies materiais, enfim so vrios elementos (Entrevista realizada em abril de 2014).

Percebe-se a partir da fala desses professores o que tambm evidenciamos entre os professores de forma geral a partir das observaes e conversas informais de que existe um limite para a relao entre teoria e prtica, e que quando tentam relacionar, o fazem dentro de uma concepo em que o trabalho visto como forma de verificar a teoria, ou ainda, como forma de aprender fazendo. Nessa concepo o trabalho visto como algo que afirma a teoria, dessa forma identificando o trabalho como elemento que contribuiu no aprendizado, porm, falta o elemento humanizador presente no trabalho que a unidade dialtica de concepo e execuo. Segundo Ciavata e Frigotto (2006), o trabalho como elemento que procura demonstrar a veracidade da teoria, e ou, de aprender fazendo, tambm est presente na educao capitalista ao introduzir o trabalho na escola. Porm, nessa concepo o trabalho visto de forma dual, separando concepo de execuo. Este trabalho reproduz a sociedade de classes. Falta ainda escola estudada uma compreenso mais vigorosa sobre o trabalho como base da educao e o lugar deste na escola, o qual, inclusive precisa ser articulado teoria. Sabemos que a teoria emerge do trabalho, da prtica social, por outro lado, para explic-los e para neles operar necessitamos da teoria. Desta forma, teoria e prtica no so apenas complementares, so indissociveis numa perspectiva de formao ominlateral ou dos trabalhadores.

Em relao ao perodo que acontecem as aulas das reas tcnicas e a forma de contratao dos professores, conforme dados coletados pela observao e entrevistas com o coordenador do curso, direo da escola e Conselho Escolar, notou-se que cerca de 70% das aulas acontecem no perodo noturno, o que compromete a possibilidade de diversos trabalho a campo, dificuldade ainda a articulao destas disciplinas com as atividades desenvolvidas pelos estudantes no perodo diurno na escola. Quando se olha o quadro de professores contratados pela SED-SC para trabalhar com as disciplinas tcnicas, percebe-se que eles no tm qualificao ou que tm qualificao insuficiente nas reas em que atuam. Segundo informaes da direo da escola e do conselho escolar, a formao que os professores tm no a que precisavam para trabalhar os conhecimentos tcnicos da rea pela qual foram contratados. Segundo o diretor da Escola, a forma que a SED-SC se utiliza para fazer a contratao dos professores da rea tcnica sem abertura de edital especfico no qual deveria constar a formao exigida para cada rea do conhecimento tcnico. O critrio utilizado no a qualificao, mas o currculo, o que no necessariamente encontra-se relacionado formao tcnica que deveria ser pressuposta para atuao nestas reas. Assim, dos 7 professores contratados somete um formado na rea em que atua. Os demais professores das disciplinas tcnicas so formadas em outras reas do conhecimento, como bacharel em Gesto Ambiental, licenciado e Biologia, bacharel em Administrao, licenciado em Pedagogia, licenciado em Histria e licenciado em Matemtica.

Ainda em relao contratao e qualificao dos professores, conforme afirmado anteriormente, o curso funciona em ciclo de alternncia - TE e TC. Nesta metodologia, segundo o PPP (2013), os estudantes seriam acompanhados por um profissional qualificado para uma tentativa de unir os estudos realizados no curso prtica a ser realizada no TC. Porm este profissional no existe no curso, pois a SED-SC no o contratou. Dizer da implicao disto, ou seja, do fato de as atividades de campo estarem sem acompanhamento, significa constatar que a realidade da produo dos assentamentos e da rea rural dos estudantes e do seu trabalho rural no devidamente observada, analisada e refletida pela escola, fragilizando a reflexo sobre o real e as possibilidades de a escola melhor projetar os aspectos que se mostram relevantes na formao.

Nas discusses nos NBs percebeu-se tambm uma falta de iniciativa por parte dos estudantes em saber de que forma poderiam contribuir melhor com a atividade produtiva da escola, como contribuir no processo organizativo no que diz relao produo agrcola, assim como nas outras atividades da escola. Por outro lado, perceberam-se alguns ensaios importantes em relao ao planejamento e execuo das atividades necessrias de serem desenvolvidas. Eram discusses feitas pelos estudantes no sentido de propor algumas questes referentes ao tipo de trabalho realizado na Escola. Apareciam elementos como a necessidade de diminuir a penosidade do trabalho atravs de incorporao de tecnologias que aumentassem a produtividade do trabalho, mas estas discusses muitas vezes no tinham uma materialidade concreta para serem postas em prtica, pois dependiam de recursos financeiros e a escola no os tinha.

Uma das maiores reclamaes apresentadas pelos estudantes era em relao ao tipo de trabalho que estavam realizando na escola. Esta informao vem pela entrevista realizada com estudantes quando afirmam: ns aqui realizamos os mesmos trabalhos que fizemos em casa, como roar, capinar, arrumar da cerca, ordenhar as vacas, etc. A partir dessa informao pode-se perceber que o trabalho realizado no Curso um trabalho manual, repetitivo, que no tem muita relao com a teoria estudada nas aulas tcnicas e que tem pouco potencial na formao tcnica. Segundo os estudantes, o trabalho realizado por eles no abordado pelos professores em sala de aula. Segundo eles e a partir da observao do pesquisador, a metodologia utilizada pelos professores em sala de aula faz parte da educao tradicional. So aulas expositivas com auxlio de instrumentos como lousa, data show. Mesmo no caso de algum professor que tenta fazer uma relao com o trabalho, o ensino ainda muito abstrato e vago.

A partir das entrevistas constata-se que tanto os professores como os alunos reconhecem que haveria a necessidade ter mais aulas prticas, mas como a grande maioria das aulas acontecem noite, como anteriormente assinalado, impossibilita-se a realizao de prticas relacionadas s atividades de campo. Por outro lado, o que tambm se percebe quando na anlise dos planos de ensino que os professores se propem a realizar entre uma e duas prticas. A partir do que os professores falam e o que expressam no planejamento, aparentemente existe contradio, mas isto se faz entender quando olhamos o perodo em que acontecem as aulas.

A realidade do curso aqui apresentado no que diz respeito contratao de professores sem qualificao suficiente, s aulas tcnicas sendo realizadas noite, e s demais dificuldades para que o curso possa efetivamente buscar relacionar teoria e prtica, fazem parte do processo da desqualificao do processo educacional escolar implementado no Brasil. Segundo Frigotto (2010), esse processo parte da estratgia do capital em fazer com que a educao, mesmo sendo improdutiva para a classe trabalhadora que a frequenta, traga uma produtividade ao capital. Compreender a relao dialtica que se estabelece entre infraestrutura e superestrutura fundamental para compreender a atual forma escolar desenvolvida no atual estgio de desenvolvimento do capital.

a partir da compreenso acima assinalada que pode-se entender porque a SED-SC no contrata profissionais qualificados para atuar nas reas tcnicas do Curso em anlise. nessa mesma direo que no se contrata profissionais qualificados para acompanhar o TC, assim como o trabalho de campo realizado pelos alunos.

Existem problemas que so relacionadas s questes de compreenso do conjunto da escola, como aquela relativa ao trabalho como princpio educativo, confundindo-o com o trabalho que contribui no aprendizado do estudante. Da mesma forma, no compreende-se a teoria e a prtica como unidade dialtica, no percebendo que existe uma relao dialtica entre trabalho manual e trabalho intelectual e que a sociedade cindida em classes sociais sob o capitalismo a ps em oposio.

Nesse sentido, identificam-se lacunas entre o que o PPP (2013) da escola aponta como necessidades intrnsecas formao da totalidade do ser humano, como a adoo do trabalho como princpio educativo, a relao teoria e prtica, a auto-organizao dos estudantes, a unidade entre o pensar e o fazer e entre trabalho manual e intelectual e a realidade efetivada no curso. Estas lacunas podero ser superadas na sua totalidade quando construirmos uma sociedade sem classes, ou como dizia Marx (1968), com a construo de uma sociedade da livre associao dos produtores. Por outro lado possvel ir construindo processos de educao escolar que possam mostrar essa direo. Para isso torna-se necessrio fazer lutas sociais para ir alterando as condies objetivas e buscar a reorganizao do trabalho pedaggico no interior da escola que possibilite a formao para as atividades intelectuais e atividades manuais, o homem omnilateral, conforme a proposta de Gramsci (1982; 2001) da escola unitria.

A superao dos limites apresentados no depende s da escola ou do MST, mas tambm do Estado, atravs da SED/SC, pelo fato de a Escola 25 de Maio estar vinculado ao sistema estadual de educao. Como visto no decorrer deste estudo, a educao escolar nas sociedades de classes e, mais especificamente, na sociedade burguesa, foi criada para reproduzir a sociedade de classes e formar o ser humano a ela necessrio. Mas, como nessa sociedade existe a luta de classes, esta perpassa tambm a educao escolar, assim esta tambm pode contribuir na superao dessa sociedade. Nessa perspectiva, no d para esperar do Estado burgus as condies necessrias para realizar uma educao que aponte para a superao dessa sociedade que a Escola/Curso se prope a realizar. Por isso, a escola e o conjunto do MST tm tambm um papel fundamental a cumprir que o de lutar, pressionando o Estado para obter conquistas que venham na direo da educao pensada pela Escola/Curso, ao mesmo tempo em que avance na realizao de uma formao mais aproximada perspectiva de formao agroecolgica e omnilateral.

Essa superao s ser possvel se avanarmos na compreenso do que o trabalho enquanto unidade dialtica de prtica e teoria que se expressa no trabalho enquanto princpio educativo e irmos luta pela escola pblica e de qualificada. Ter clareza da unidade teoria e prtica implica novas possibilidades para a formao do Tcnico em Agroecologia que os trabalhadores rurais necessitam nesse momento histrico para a mudana da matriz produtiva e tecnolgica hegemnica do agronegcio, para uma matriz produtiva e tecnolgica de base agroecolgica.

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a organizao dos estudantes em grupos. Cada grupo chamado de Ncleo de Base. um espao destinado para auto-organizao dos educandos. Nesse espao os educandos podem fazer avaliaes sobre os encaminhamentos da Escola, como a participao individual e coletiva de cada educando nas tarefas, no trabalho, e ainda sobre os demais assuntos do cotidiano da Escola (PPP, 2013).

De modo geral, os tcnicos de extenso rural, no estado do Rio Grande do Sul, esto vinculados Associao Sulina de Crdito e Assistncia Rural (ASCAR), que atua junto com a Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (EMATER/RS), portanto: ASCAR-EMATER/RS.

Unidade de agroecossistemas so unidades de produo que podem ser de nvel particular (unidade familiar) local (unidade assentamento) municipal (unidade municpio) e assim por diante. Na anlise da unidade de agroecossistema levada em considerao a relao existente entre as comunidades de animais, vegetais, o ser humano e as relaes que se estabelecem entre todos. Isto quer dizer que se analisam as partes na relao entre si e estas com a totalidade.

Informaes coletadas a partir das entrevistas feitas em abril de 2014.

Entrevista concedida a Paulo Davi Johann em abril de 2014.