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7/16/2019 artigo teacch
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A Aplicação do método TEACCH como
Intervenção Psicoeducacional em um
Autista.
INTRODUÇÃO
Na atualidade poucas são as formas de adoecimento que não foram muito estudadas,
porém pouco explicadas quanto à sua etiologia ou a uma terapêutica que possa ser aplicada
com segurança. Esse é o caso do espectro autístico.
Os indivíduos acometidos por essa síndrome, haja vista que abrange o autismo e as
condições similares, sempre se colocaram como uma incógnita para a ciência e foram
entendidos de diferentes formas, de acordo com os mais diversos referenciais teóricos.
Num primeiro momento formou-se a respeito do autismo a hipótese de que os paiseram do tipo “frio” e causadores da problemática de seus filhos. Hoje em dia, devido a
enorme gama de estudos científicos, esta teoria caiu por terra, documentando-se um
comprometimento orgânico-neurológico central. Para os teóricos que entendem esse
acometimento patológico a partir desse último viés, o autismo é um transtorno do
desenvolvimento, logo uma terapêutica eficiente deveria partir não do princípio de que o
autismo é um transtorno de personalidade onde as psicoterapias convencionais poderiam
ajudar. Não há causas psicológicas, traumas, para se ir buscar. Há causas orgânicas que
provocam um atraso no desenvolvimento.
Para uma proposta de intervenção precisa é necessário olhar para, e descrever os
fenômenos observáveis, os sintomas, tentar pensar como esses indivíduos percebem e
interpretam a realidade que os cerca e perguntar o que ocorre em suas mentes para que
funcionem de um modo diferente.
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O presente artigo fundamentado no método TEACCH (Treatment and Education of
Autistic and Related Communication Handicapped Children) acredita que o autismo pode
ser melhor entendido como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e que a criança
autista evoluirá melhor com um tratamento combinando terapia comportamental e educação
especial. O TEACCH é um método Psicoeducacional que advoga, através do trabalho do
seu criador Schopler, que essas crianças respondem melhor a realidades estruturadas de
acordo com suas limitações e potencialidades.
É sobre a aplicação deste método em um adolescente autista, que trata o seguinte
texto, para testar a aplicabilidade do método como proposta interventiva para obtenção da
maior independência e mudança na qualidade de vida desses sujeitos.
Um levantamento teórico e um estudo de caso são a base utilizada por este artigo,
para discutir sobre o conceito e apontar propostas, com o objetivo de sairmos deste vazioem que se encontram os serviços de atendimento aos autistas, onde muito ruído e pouco
entendimento existem na transmissão da comunicação dos saberes sobre o autismo.
1. AUTISMO
I. Conceito
Se falar sobre a enunciação de qualquer doença ou síndrome, demanda falar
necessariamente da sua evolução histórica. Estudar a definição do autismo torna imperativo
saber o que se conjeturou sobre a definição e etiologia dessa síndrome até então, uma vez
que as primeiras tentativas de delimitar um saber sobre esse distúrbio aconteceram no início
do século passado.
Não é a proposta do presente artigo, fazer um resgate profundo sobre como a
definição do autismo evoluiu e como adquiriu diferentes aspectos. Mas, tentar lembrar
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alguns aspectos históricos importantes, para que a tentativa de se fechar uma definição não
seja estéril e a-histórica.
Leo Kanner em 1943 e Hans Aspeger, no ano seguinte descrevem uma forma de
patologia infantil com sintomatologia muito parecida, o primeiro autor, por escrever sua
obra em inglês torna-se mais conhecido que o segundo, que publica suas descobertas com o
original em alemão. Mesmo Gauderer (1993, pg 8), não compartilhando a conceituação do
autismo dada por Kanner (1943), lembra que este último afirmava ser o autismo um
distúrbio inato do contato afetivo, relacionando-o com fenômeno da linha esquizofrênica,
talvez pela sua influência de Bleuler que estava impregnado com as idéias da psicanálise.
Kanner associava o autismo à psicose por falhas nos exames físicos e laboratoriais e por
acreditar que ocorressem entre os parentes algumas formas de “refrigeração emocionais”,
diferente de Gauderer (1997, pg 8) que acredita que o autismo é um quadro de um distúrbiodo desenvolvimento não havendo qualquer indício de etiologia psicológica.
As principais características do autismo seriam: 1) as dificuldades no
relacionamento com pessoas; 2) desejo obsessivo a preservar coisas e situações; 3)
alterações da linguagem e na comunicação interpessoal.
Com o advento do diagnóstico diferencial e mudanças por parte da psiquiatria e da
psicologia na forma de compreender essa patologia, pôde-se ver que na esquizofrenia que
ocorre na infância notam-se comportamentos estranhos, mas os mais típicos são
alucinações, delírios, associações soltas, desconexas ou incoerente do pensamento,
sintomas estes que não aparecem no autismo, como nos lembra Gauderer (1997, pg 10).
Para este autor, o autismo é uma inadequalidade no desenvolvimento que se
manifesta de maneira grave durante toda a vida. É incapacitante e aparece nos três
primeiros anos de vida. Atinge as famílias de qualquer configuração racial, étnica e social,
não se conseguiu até agora provar nenhuma causa psicológica no meio ambiente dessas
crianças que possa causar a doença.
Para Petters (1998, pg 65), tratam-se de crianças que vieram com uma inabilidade
inata de ter contatos afetivos normais e biologicamente determinados com as pessoas.
Ainda persistem profissionais que acreditam na psicogenia do autismo. Por mais
que até o presente momento alguns psicanalistas tentem argumentando sobre a imbricação
do autismo com a psicose, o próprio Dicionário de Psicanálise de Laplache e Pontalis,
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(2001, pg 391) traz que a psicose teria como denominador comum os sintomas manifestos
pela tentativa secundária de restauração do laço objetal, através da construção delirante,
ausente no autismo, como dito antes. Essa concepção não parece sensata, já que parte do
pressuposto de que seria uma forma de patologia que afetava crianças anteriormente
normais, como afirma Rutter em seu artigo para o livro de Gauderer, 1997.
Autores, como Ornitz, no mesmo livro argumentam ser o autismo um grave
distúrbio no desenvolvimento do comportamento que não apresenta sinais neurológicos
demonstráveis, nem uma neuropatologia consistente e nem marcadores genéticos.
Para Schwartzman (1994, pg 15) o autismo é uma condição crônica com início
sempre na infância, em geral aparecendo os primeiros sintomas até o final do terceiro ano
de vida, que afeta meninos em uma proporção de quatro a seis para cada menina. A
estimativa é de dez para cada dez mil nascimentos, essa síndrome para este autor vem decondições nos períodos pré-peri-pós-natais.
Neste momento pode-se tentar pensar sobre o autismo como uma incapacidade de
aprendizagem social diferente de uma incapacidade intelectual geral ou retardo mental, a
diferença é que no autismo existe uma desvantagem com base em um desenvolvimento que
resulta em um estilo cognitivo diferente. Hoje, fala-se, da tríade de desordem, sendo ela
formada por distúrbios de comunicação, de interação social e de imaginação, “estes
apresentam-se juntos, embora com intensidade e qualidade variadas” (Bosa, 2002, pg 25).
Em função dessa nova noção de tríade Assumpção Jr in Guaderer e col, (1997, pg 182)
afirma que não se pode falar de uma doença e sim de uma síndrome, com as mais variadas
etiologias, em que existe um repertório comportamental característico formado pela
incapacidade qualitativa na interação social, na comunicação verbal e não verbal e na
atividade imaginativa.
Na verdade, trata-se de uma distorção grave e generalizada do processo de
desenvolvimento, podendo persistir até a idade adulta que recebe o nome de estado
residual.
O autismo pode ocorrer isoladamente ou em associação com outros distúrbios que
afetam o funcionamento do cérebro, como infecções viróticas, distúrbios metabólico,
epilepsia e retardo mental, pode está associado a doenças orgânicas como rubéola congênita
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ou fenicce tonúria, havendo dois diagnósticos, a síndrome comportamental e a doença
física, advoga Gauderer (1997, pg 12).
Os critérios diagnósticos para o autismo são os seguintes:
Início antes dos dois anos e seis meses (trinta meses) de idade;
Uma determinada forma de desvio do desenvolvimento social;
Uma determinada forma de desvio da linguagem;
Comportamentos estereotipados e rotinas;
Ausência de delírios, alucinações e distúrbios do pensamento do tipo
esquizofrênico.
II. CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DA SÍNDROME
Muito embora alguma anormalidade possa ser observada desde o início na
maioria das crianças com autismo infantil, algumas vezes a condição somente se torna
manifesta ou ao menos percebida pelos pais ou profissionais da saúde até o final do
terceiro ano de vida. Excepcionalmente, alguns casos só serão identificados por volta
dos cinco anos de idade. Pais e profissionais atentos poderão identificar alterações, em
geral, já nos primeiros meses de vida (Rosenberg, 1992 apud Schwartzam, 1994, pg
16).
Os sintomas mudam e podem até desaparecer com a evolução da idade. As
características da doença podem ser distribuídas em:
Distúrbios do relacionamento:
Esta deficiência precoce inclui a falta de desenvolvimento de uma relação
interpessoal e de contato visual, ausência de sorriso social, atraso ou ausência
de resposta antecipatória, aversão ao contato físico, preferência por permanecer
sozinho ou isolado e desinteresse por jogos ou brincadeiras. Gauderer (1993, pg
54) fala sobre uma inadequabilidade no modo de se aproximar, falta de contato
visual e de resposta facial, indiferença ou aversão a afeto ou contato físico e
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sociabilidade superficial. Pode-se falar, em alguns casos, de ausência de
qualquer desejo de comunicação com os outros e incapacidade de tocar alguém
para consolar ou encorajar. Pode ainda não haver alguma atividade espontânea,
e, sim uma insistência em ficar em uma mesma postura corporal.
Rutter in Gauderere e col (1997, pg 82) traz como características
comportamentais do autismo a incapacidade de criar vínculos, ausência de
reciprocidade, não desenvolvimento de rituais de afagos e carinhos, ausência de
empatia, para este autor o prognóstico é fortemente influenciado pelo QI e pelas
habilidades de linguagem da criança.
Distúrbios da fala e da linguagem
Enorme atraso, com fixações e paradas ou total mutismo, são apenas algunsdos aspectos encontrados, não em todos os autistas, já que a síndrome se
apresenta de forma muito diferenciada em cada sujeito. A ecolalia é comum
sendo associada ao uso inadequado ou reversão do pronome pessoal,
podendo ser imediata ou tardia. Gauderer (1993, pg 55) advoga que
inúmeras foram as tentativas de se entender a ecolalia dessas crianças em
termos psicanalíticos, mas esta deficiência está relacionada à extrema rigidez
de imitação notada nessas crianças. Quando há fala comunicativa, ela é
atonal, arrítmica, sem flexão e incapaz de comunicar apropriadamente as
emoções. Os desvios qualitativos do desenvolvimento da fala são inúmeros
no autismo, os que acreditam na etiologia orgânica da do autismo falam de
um déficit na compreensão da linguagem falada que antecede o
desenvolvimento da fala.
O balbucio tende a ser pouco, em termos de quantidade e anormal em
termos de qualidade e quando a fala se desenvolve o aspecto mais marcante
é o seu uso limitado para fins sociais.
A compreensão, como dito anteriormente, podem ser inexistentes ou
apresentarem vários graus de retardo,.há uso idiossincrático das palavras e
pronomes, os sinais não verbais que acometem a fala (expressão facial,
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contato do olhar, gestos e mímicas) quase sempre estão alterados, variando
da ausência total até o uso inadequado.
Distúrbios de motilidade
“O maneirismo e os padrões peculiares de motilidade dessas crianças
são os traços que lhes conferem em grande parte sua aparência estranha e
bizarra, podem comprometer as mãos, os membros inferiores, o tronco e
todo o corpo” (Gauderer, 1993, pg 57). Há presença de movimentos
complexos e ritualísticos e estes não possuem características de movimentos
involuntários ou do tipo convulsivo, e alterações no andar e na postura.
Distúrbios da percepção e imaginaçãoEstes indivíduos, em sua grande maioria, não conhecem formas ou
objeto, apresentam dificuldades de orientação têmpero-espacial, deficiência
da atenção e concentração. Existem reações exageradas a estímulos
sensoriais, ou falta de responsabilidade. Objetos colocados na mão dessas
pessoas caem, como se elas não possuíssem nenhuma sensação tátil. Estas
crianças, em geral, não notam cortes, escoriações ou até mesmo injeções.
Sobre a capacidade imaginativa há uma ausência total de imitação e
brincadeiras de faz-de-conta.
Com toda o conjunto de sintomas apresentados acima vale ressaltar que se
configuram de forma diferenciada entre os indivíduos, cabe aos profissionais que trabalham
com este distúrbio muita cautela seja na forma de trabalhar com eles ou na forma de lhe
dar.
Inúmeros são pesquisadores que se têm dedicado ao estudo de como facilitar a
aprendizagem simples, mas de extrema complexidade para os portadores dessa síndrome
através da utilização de técnicas de modificação de comportamento nessas crianças, como
forma de proporcionar para elas e suas famílias bem estar e adequabilidade social, uma
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forma de intervenção que vai ao encontro dessa proposta é o método terapêutico TEACCH,
o qual será elucidado no próximo capítulo desse artigo.
Para a aplicação de tal método é necessário ter a certeza de um diagnóstico
diferencial prévio, contudo, as estratégias utilizadas por este método, certamente podem
ajudar qualquer outro indivíduo com o desenvolvimento cognitivo, lingüístico e
pessoal/social comprometido, assim como portadores de Distúrbios Invasivos do
Desenvolvimento, além de estimular indubitavelmente, a afetividade e o desenvolvimento
psicomotor.
III. AÇÃO PSICOEDUCATIVA COM O AUTISTA: O MÉTODO DE TEACCH
Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficiências relacionadas à
Comunicação é o que significa a sigla TEACCH, do inglês Treatment and Education of
Autistic and related Communication handicapped Children. Método criado por Eric
Schoppler em 1972 no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte,
em Chapel Hill, para atender crianças portadoras de autismo ou psicose infantil como era
mais comum na época. O grupo que trabalhava com Schoppler antes da criação do método
atuava a partir de uma visão psicanalítica, oferecendo liberdade total às crianças e terapia
aos pais destas para tentar modificar sua relação com os filhos, que segundo eles seria a
causadora de seus distúrbios.
Descontente com os resultados obtidos em relação ao tratamento do autismo, onde
encontrava-se muita falta de preparação dos profissionais da área, tanto para realizar o
diagnóstico correto em época precoce como também, escassez de locais para um
atendimento adequado. Schoppler e seu grupo solicitaram uma verba federal ao Instituto
Nacional de Saúde mental para poder testar suas idéias.Petteres (1998, pg 213) nos lembra que as pesquisas iniciais que propiciaram o
desenvolvimento do método TEACCH, primeiramente, foram realizadas sob a forma de
observações intensas e abrangentes de como o indivíduo autista se desenvolvia e, o que
mais lhe chamava a atenção e mais: sob quais condições respondia melhor e, em função
destas pesquisas, pode-se constatar que crianças autistas são mais capazes de adquirir
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aprendizados numa proposta de atividade estruturada em vez de uma intervenção
terapêutica de caráter mais livre e interpretativo.
Esse é ponto de ancoragem e início do tratamento, toda a proposta de método se
baseia no pressuposto de que os autistas respondem bem aos sistemas organizados, ou seja,
é colocando as coisas em um padrão definido de organização que o autista poderá ter
compreensão do que lhe demandado pelas outras pessoas, adequando-se o melhor possível
à nossa sociedade.
IV. ESTUDO DE CASO
Os estudos de casos a respeito da aplicação de métodos comportamentais em
autistas são em pequeno número, as pesquisas feitas nessa área trabalham na revisão
bibliográfica e publicam artigos sobre a aplicação sim, dos métodos em instituições falando
de forma geral os ganhos em alguns tipos de comportamentos inadequados e a facilitação
da situação de aprendizagem, mas pouco se esmiúçam em detalhar um caso específico em
tratamento.
O Método TEACCH pode ser classificado como um método psicoeducacional, da
ordem da pedagogia terapêutica ou clínica educacional. Os que não concordam com sua
proposta de intervenção levantam a hipótese de que os sujeitos atendidos por esse método
tendem a robotização.
Como há a possibilidade de relatar um estudo de caso, um tratamento em
andamento, a proposta do presente artigo recai na possibilidade de falar de um sujeito que
aparece como ser cognoscente, quando aprende e usa dessa aprendizagem para expressar
suas vontades, assim vê-se que a aplicação do método TEACCH a partir de técnicas
comportamentais estrutura a vida do autista para que este possa entender o que se quer delee que ele possa dentro da suas limitações dizer o que necessita, longe de se tornar um
protótipo de robô.
No estudo que se segue, Gabriel1 é o filho primogênito de um casal possuidor de
um histórico de parentes com problemas de hiperatividade, ele tem o diagnóstico de
1nome que será dado ao adolescente em situação do atendimento relatado
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autismo e retardo mental leve, comorbidados com um quadro de hiperatividade, como será
possível ver durante o descrever do caso.
Durante a gestação de Gabriel, sua mãe submete-se a um exame que acusa uma
infecção de toxoplasmose, ao repetir o exame nada foi acusado, como não foi feito um
terceiro exame, tomou como tranqüila a gestação de nove meses. Muito antes de completar
um ano, Gabriel já possuía uma impaciência notada por todos de sua casa, chorava muito
segundo a sua mãe, a hiperatividade estava presente desde cedo de acordo com a mesma.
Aos dois anos e três meses foi levado a uma fonoaudióloga, pois tudo o que tinha
falado até essa idade era “papa” e “mama”, mas naquele momento não apresentava
linguagem verbal compatível com as crianças de sua idade. A fonoaudióloga levantou a
hipótese de se tratar de algum problema neurológico indicando-lhe uma consulta com um
médico neurologista, este ao examinar a criança deu-lhe o diagnóstico de hiperativo.Até os três anos de idade apresentou o comportamento de arrancar todos os cabelos
do lado esquerdo de sua cabeça. Quando um ano depois sua mãe, indicada pelo
neurologista, foi procurada por uma psicóloga que iniciava uma escola para autistas soube
do diagnóstico real de seu filho e pode perceber que ele apresentava um comportamento
auto-agressivo ao puxar seus cabelos. Nessa escola ficou dos quatro aos sete anos, em
sistema de horário diurno integral, seu desempenho sempre oscilava, devido a sua
hiperatividade.
Dos sete aos nove anos estudou em uma escola normal, as crianças desta nova
escola e seus pais ajudavam Gabriel como podiam, segundo sua mãe. Mas depois dos noves
anos ele já estava grande demais e destruía as coisas da escola.
Nos anos que se seguem Gabriel é encaminhado à FUNAD, mas por não ser
trabalhado dentro de uma proposta terapêutica estruturada não consegue ter muitos
avanços, afirma sua mãe, hoje psicóloga analista de comportamento. Atualmente Gabriel
tem dezesseis anos e faz um tratamento psicofármaco com Melleril e Fernegan.
Os primeiros contatos com ele se dão no sistema de observação livre no seu lar, e
são notados comportamentos esteriotipados como pulos excessivos, folhear um mesmo
encarte de supermercado durante boa parte do dia, usar o observador como ferramenta , não
apresentar movimentos antecipatórios, nem atenção compartilhada, aversão ao contato
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físico e interação social inadequada . No campo da linguagem, percebeu-se ecolalia tardia e
frases desconexas em momentos inapropriados.
Várias são às vezes em que Gabriel aborda o observador puxando-o pela blusa,
comportamento repetido com todos em casa. Durante todo o dia busca conforto no ato de
balança-se em uma rede. O fato de o observador usar óculos faz com que Gabriel tire-o do
rosto e agarre-o forte, o observador tomava-lhe o óculos e dizia a seguinte frase: Põe aqui,
apontando para o seu rosto, hoje esse comportamento foi extinto.
Num segundo momento das observações pôde-se saber que Gabriel possuía alguns
horários de rotina, ao banheiro sempre era levado as sete, nove, onze, quinze e dezenove
horas. Dormir sempre às vinte horas. O seu café é às sete horas, seguido por um lanche às
nove, almoço às doze, um outro lanche às quinze e às dezoito horas, o jantar. Responde
bem a esse sistema e quando está próximo da refeição chegar ele repete que “quer comer”.Durantes as últimas observações, frases como pega a bola, guarda a sacola,
enunciadas pelo observador são entendidas e executadas por Gabriel. È possível se
constatar que ele sabe o nome de todos em sua casa e coisas que lhe cercam, e que quando
entende o que se pede tende a executar a ordem.
O observador foi submetido a um curso de formação de terapeuta-professor
interdisciplinar pelo método TEACCH, e em seguida inicia-se o tratamento numa sala na
própria casa de Gabriel, estruturada de acordo com o método, com objetivos pré-
determinados: trabalhar para adaptação dele ao setting, trabalhar na mesa individual por
quinze minutos, trabalhar na mesa independente por dez minutos. Nessas últimas duas
atividades, serão estimulados os aspectos cognitivos como reconhecimento de cores e
formas diferentes, atividades de encaixe e emparelhamento.
O fato dos primeiros atendimentos ocorrerem dentro da casa do mesmo, transforma-
se de início em uma variável interferente, pois o Gabriel estava acostumado com fato de ter
todo o seu tempo livre, buscando conforto em comportamentos esteriotipados, revelando
uma resistência a mudanças.
Num primeiro instante os atendimentos ocorreram de forma sistemática durante três
vezes por semana com duração de duas horas, aumentando progressivamente, para não
sobrecarregá-lo com o início do processo. Estímulos foram usados para que o estudante
pudesse ficar dentro do setting de maneira agradável, essa era uma forma de tentativa de
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adaptação. No horário do lanche da tarde, este era usado como estímulo para a adaptação ao
setting, só era lhe apresentado o lanche quando ele sentava.
Durante os atendimentos Gabriel não sentava uma só vez, ficava entre entradas e
saídas, mesmo na hora do lanche ele não ficava tranqüilo na sala. Recursos que chamassem
a sua atenção para que ele sentasse-se à mesa de trabalho em grupo foram utilizados nesses
primeiros atendimentos. Gabriel sentava-se, mas levantava-se em poucos segundos, ainda
encontrava-se muito agitado, não conseguia se acalmar. O lanche começou a ser
interrompido quando ele levanta, para que pudesse compreender que só se alimentaria
quando estivesse sentado. Uma caminhada foi incorporada como forma de aproximação
entre terapeuta e estudante, essa passou a ser sua melhor performance.
Com duas semanas já havia um pequeno progresso, Gabriel já sentava muitas vezes,
a freqüência aumentou consideravelmente, contudo o tempo de permanência sentado aindaera muito pouco, cerca de quinze segundos, e já compreendia que só era alimentado na hora
do lanche quando sentado. O setting já não lhe parece um lugar estranho. Mesmo assim sua
resistência ao trabalho é significativa, o tempo em que está na sala e não está sentado é
gasto desmontando a mesma, uma forma de não ficar nela.
Na semana seguinte cartões utilizados pelo método PECS (Picture Exchange
Communication), comunicação pela troca de cartões, onde ele pode apontar para o cartão e
solicitar o que quer comer são introduzidos no período do lanche. Estes, num primeiro
momento, causam-lhe estranheza. Mas em poucas semanas começa a aceitá-los melhor.
Através do uso de um jogo de emborrachado de formas diferentes ele senta, monta o
jogo e levanta-se, aumentando o seu tempo de sentar em um minuto. Na caminhada há um
progresso no sentido de que nas primeiras tentativas ocorreram as aparições de
comportamentos inadequados como abordar pessoas e sentar no chão. Esses
comportamentos melhoraram significativamente, mas ainda hoje Gabriel os apresenta, em
menor freqüência, lembrando ao terapeuta que esse trabalho só pode ser feito com exercício
de paciência contínuo de sua parte, para lembrar que existe um tempo do estudante com
suas limitações. O tempo do terapeuta não pode ser uma variável interferente, a ansiedade
deste não pode ser nociva para o autista.
Com quase dois meses, a sala de atendimento muda-se para uma instituição fundada
para atender outros portadores de autismo, idealizada pela mãe de Gabriel, este fato faz
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com que haja um significativo progresso no seu tratamento. Cartões do sistema PECS com
fotos fazendo referencias as atividades são introduzidos para orientar Gabriel, informando-
lhe que tarefa deveria executar e sua seqüência, logo, um primeiro trabalho é feito, treinar o
reconhecimento dos cartões, antes de executar propriamente as atividades. Nessa mesma
época devido a sua capacidade de tolerância ao trabalho estar aumentando os atendimentos
passam a acontecer todos os dias com quatro horas diárias, de segunda à sexta.
Uma primeira atividade chamada de Círculo de Entrada é feita no início de cada
sessão, onde informações temporais são trabalhadas e é induzida a participação na escrita
em um quadro negro. O trabalho individual ocorre com a empilhagem simples de
classificação de cores e encaixes sólidos com cor única e forma diversificada. No trabalho
independente trabalha-se com empilhagem de única cor e encaixes de única forma, assim
como de acordo com que as atividades do trabalho individual vão sendo aprendidas passam para essa segunda fase, para isto necessita-se de absoluta certeza de que tal situação foi
aprendida e possa se dar um passo adiante.
Através da apresentação de estímulos primários, pipoca que Gabriel gosta, ele senta
nas mesas e cumpre as tarefas. Num primeiro momento foi necessário também um apoio
físico para que o estudante entendesse o que ele teria que fazer para ganhar o estímulo
primário.
Seu tempo atualmente na mesa de trabalho individual é de quinze a vinte minutos, e
na mesa de trabalho independente é de dez minutos, aumentou consideravelmente desde o
início do processo, e já não se usam mais nem o apoio físico, nem a apresentação do
estímulo primário, uma vez que ele já senta e cumpre suas tarefas. Hoje, pode se ver que
Gabriel através de atividades estruturadas tem tardes onde se encontra muito mais calmo e
sem tanta agitação, seus pulos durante os atendimentos diminuíram consideravelmente,
assim como os seus gritos. Geralmente ele chega muito agitado e acalma-se durante a
sessão.
Mas o trabalho não se limita apenas aos aspectos cognitivos, como nos lembra Lipp
1987, pg 111, a abordagem dessas pessoas acometidas pelo autismo deve ser semelhante à
do deficiente mental grave, usando-se técnicas comportamentais visando induzir uma
normalização de seu desempenho e lhes ensinando noções básicas de funcionamento, tais
como vestir, comer, higiene, etc, nesse sentido treinos de banho, uso de sanitário, atividades
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de vida prática, estão presentes no plano terapêutico individual de Gabriel, para tentar-lhe
possibilitar a maior independência possível.
Em quatro meses de tratamento Gabriel tem atingido os objetivos propostos pelo o
seu plano terapêutico individual, criado a partir de uma avaliação de suas dificuldades e
possibilidades, como também dos interesses de sua família.
Não se trata de um trabalho fácil nem para o seu terapeuta, nem tão pouco para ele,
pois a hiperatividade de Gabriel é seu maior inimigo, sua capacidade de concentração é
afetada diretamente devido a sua agitação psicomotora, dificultando assim sua capacidade
de aprendizagem, as intervenções em primeira mão têm sido no sentido de administrar essa
agitação através de técnicas comportamentais. Em casa onde ele pode ficar mais tempo sem
nada fazer, faz com ele ainda apresente comportamentos indesejados, contudo a
continuidade do tratamento vai no sentido de estruturar atividades também em casa para sever os benefícios que poderão trazer.
Ainda são inúmeros os comportamentos inadequados por ele apresentados no
setting, os quais ainda precisam-se entender como eles surgem e sob quais condições, mas
seus ganhos são significativos, através das atividades estruturadas ele tem podido aprender
e interpretar as informações em sua volta. Um exemplo disso é o uso dos próprios cartões
de atividade, quando não quer fazer uma atividade, ele não pega o cartão, tomando em vez
disso o cartão de uma atividade que quer fazer e apresentando ao terapeuta, às vezes ainda
está longe o horário do lanche e ele vai à sua agenda de trabalho e pega o cartão do lanche e
diz que quer lanchar, é surpreendente ver um garoto que só gritava quando queria algo, sem
saber como dizer sobre sua vontade, apresentar uma informação estruturada solicitando
algo. Isto, entre outros ganhos, prova à eficácia do método TEACCH para portadores de
autismo, e como ele possibilita o indivíduo comunicar-se com quem está a sua volta.
Gabriel nesse momento ainda encontra-se submetido ao método, e devido ao seu
avanço, seu plano terapêutico tem sido reorganizado, numa proposta de trabalhar atividades
de cunho profissional, como atividades de escritório e trabalho de fabricação de bijuterias,
num momento próximo estas atividades serão iniciadas, já que Gabriel está na adolescência
e tem que se pensar sobre o seu futuro.
Decididamente o TEACCH tem ajudado ao autista a adequar-se dentro de suas
possibilidades à sociedade, promovendo sua independência em função de suas dificuldades,
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o tratamento de Gabriel ainda levará um bom tempo, não se pode estimar o quanto, para
que não se crie expectativa irreal acerca de seu caso.
O trabalho com o autista é tarefa árdua, cheia de entraves, mas bastante possível,
desde que se tenha certo que é preciso todo o instante avaliações de tudo o que possa ajudar
ou interferir no processo. Nesse sentido esse estudo de caso não termina por aqui, continua
durante o tratamento com Gabriel, certo de que possa haver um bom prognóstico para esse
adolescente, desde que não se perca de vista os fundamentos do método TEACCH e a
constante busca por bibliografias especializadas.
Como a própria bibliografia utilizada neste estudo advoga, as técnicas
comportamentais e a educação especial têm se mostrado a forma mais eficiente para o
tratamento com os indivíduos portadores do espectro autístico, ainda é pouco o tempo ao
qual está submetido Gabriel ao TEACCH, mas já é possível pesar seus ganhos e ver quevale a pena investir em uma proposta estruturada e individualizada, já que quem trabalha
com esse método parte do principio que não é a criança que tem que se adaptar ao método,
mas sim ele à criança. Usando da pesquisa de potencialidades, dificuldades e gosto de
indivíduo para criar um plano que promova o máximo possível sua independência.
BIBLIOGRAFIA
7/16/2019 artigo teacch
http://slidepdf.com/reader/full/artigo-teacch 16/16
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