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 A Aplicação do método TEACCH como  Intervenção Psicoedu cacional em um  Autista. INTRODUÇÃO  Na atualidade poucas são as f ormas de adoecimento que não foram muito estudadas,  porém pouco explicadas quanto à sua e tiologia ou a uma terapêutica q ue possa s er aplicada com segurança. Esse é o caso do espectro autístico. Os indivíduos acometidos por essa síndrome, haja vista que abrange o autismo e as condições similares, sempre se colocaram como uma incógnita para a ciência e foram entendidos de diferentes formas, de acordo com os mais diversos referenciais teóricos.  Num pr imeiro momento formou-se a r espeito do a utismo a hipótese de qu e os p ais eram do tipo “frio” e causadores da problemática de seus filhos. Hoje em dia, devido a enorme gama de estudos científicos, esta teoria caiu por terra, documentando-se um comprometi ment o orgâ nic o-ne urológico cen tra l. Para os teó ric os que entendem esse acometi ment o pat ológico a parti r desse úl ti mo viés, o aut is mo é um tr anstorno do desenvolvimento, logo uma terapêutica eficiente deveria partir não do princípio de que o autismo é um transtorno de personalidade onde as psicoterapias convencionais poderiam ajudar. Não há causas psicológicas, traumas, para se ir buscar. Há causas orgânicas que  provocam um atraso no desenvolvimento. Para uma proposta de intervenção precisa é necessário olhar para, e descrever os fenômenos observáveis, os sintomas, tentar pensar como esses indivíduos percebem e interpretam a realidade que os cerca e perguntar o que ocorre em suas mentes para que funcionem de um modo diferente.

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 A Aplicação do método TEACCH como

 Intervenção Psicoeducacional em um

 Autista.

INTRODUÇÃO

 Na atualidade poucas são as formas de adoecimento que não foram muito estudadas,

 porém pouco explicadas quanto à sua etiologia ou a uma terapêutica que possa ser aplicada

com segurança. Esse é o caso do espectro autístico.

Os indivíduos acometidos por essa síndrome, haja vista que abrange o autismo e as

condições similares, sempre se colocaram como uma incógnita para a ciência e foram

entendidos de diferentes formas, de acordo com os mais diversos referenciais teóricos.

 Num primeiro momento formou-se a respeito do autismo a hipótese de que os paiseram do tipo “frio” e causadores da problemática de seus filhos. Hoje em dia, devido a

enorme gama de estudos científicos, esta teoria caiu por terra, documentando-se um

comprometimento orgânico-neurológico central. Para os teóricos que entendem esse

acometimento patológico a partir desse último viés, o autismo é um transtorno do

desenvolvimento, logo uma terapêutica eficiente deveria partir não do princípio de que o

autismo é um transtorno de personalidade onde as psicoterapias convencionais poderiam

ajudar. Não há causas psicológicas, traumas, para se ir buscar. Há causas orgânicas que

 provocam um atraso no desenvolvimento.

Para uma proposta de intervenção precisa é necessário olhar para, e descrever os

fenômenos observáveis, os sintomas, tentar pensar como esses indivíduos percebem e

interpretam a realidade que os cerca e perguntar o que ocorre em suas mentes para que

funcionem de um modo diferente.

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O presente artigo fundamentado no método TEACCH (Treatment and Education of 

Autistic and Related Communication Handicapped Children) acredita que o autismo pode

ser melhor entendido como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e que a criança

autista evoluirá melhor com um tratamento combinando terapia comportamental e educação

especial. O TEACCH é um método Psicoeducacional que advoga, através do trabalho do

seu criador Schopler, que essas crianças respondem melhor a realidades estruturadas de

acordo com suas limitações e potencialidades.

É sobre a aplicação deste método em um adolescente autista, que trata o seguinte

texto, para testar a aplicabilidade do método como proposta interventiva para obtenção da

maior independência e mudança na qualidade de vida desses sujeitos.

Um levantamento teórico e um estudo de caso são a base utilizada por este artigo,

 para discutir sobre o conceito e apontar propostas, com o objetivo de sairmos deste vazioem que se encontram os serviços de atendimento aos autistas, onde muito ruído e pouco

entendimento existem na transmissão da comunicação dos saberes sobre o autismo.

1. AUTISMO

I. Conceito

Se falar sobre a enunciação de qualquer doença ou síndrome, demanda falar 

necessariamente da sua evolução histórica. Estudar a definição do autismo torna imperativo

saber o que se conjeturou sobre a definição e etiologia dessa síndrome até então, uma vez

que as primeiras tentativas de delimitar um saber sobre esse distúrbio aconteceram no início

do século passado.

 Não é a proposta do presente artigo, fazer um resgate profundo sobre como a

definição do autismo evoluiu e como adquiriu diferentes aspectos. Mas, tentar lembrar 

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alguns aspectos históricos importantes, para que a tentativa de se fechar uma definição não

seja estéril e a-histórica.

Leo Kanner em 1943 e Hans Aspeger, no ano seguinte descrevem uma forma de

 patologia infantil com sintomatologia muito parecida, o primeiro autor, por escrever sua

obra em inglês torna-se mais conhecido que o segundo, que publica suas descobertas com o

original em alemão. Mesmo Gauderer (1993, pg 8), não compartilhando a conceituação do

autismo dada por Kanner (1943), lembra que este último afirmava ser o autismo um

distúrbio inato do contato afetivo, relacionando-o com fenômeno da linha esquizofrênica,

talvez pela sua influência de Bleuler que estava impregnado com as idéias da psicanálise.

Kanner associava o autismo à psicose por falhas nos exames físicos e laboratoriais e por 

acreditar que ocorressem entre os parentes algumas formas de “refrigeração emocionais”,

diferente de Gauderer (1997, pg 8) que acredita que o autismo é um quadro de um distúrbiodo desenvolvimento não havendo qualquer indício de etiologia psicológica.

As principais características do autismo seriam: 1) as dificuldades no

relacionamento com pessoas; 2) desejo obsessivo a preservar coisas e situações; 3)

alterações da linguagem e na comunicação interpessoal.

Com o advento do diagnóstico diferencial e mudanças por parte da psiquiatria e da

 psicologia na forma de compreender essa patologia, pôde-se ver que na esquizofrenia que

ocorre na infância notam-se comportamentos estranhos, mas os mais típicos são

alucinações, delírios, associações soltas, desconexas ou incoerente do pensamento,

sintomas estes que não aparecem no autismo, como nos lembra Gauderer (1997, pg 10).

Para este autor, o autismo é uma inadequalidade no desenvolvimento que se

manifesta de maneira grave durante toda a vida. É incapacitante e aparece nos três

 primeiros anos de vida. Atinge as famílias de qualquer configuração racial, étnica e social,

não se conseguiu até agora provar nenhuma causa psicológica no meio ambiente dessas

crianças que possa causar a doença.

Para Petters (1998, pg 65), tratam-se de crianças que vieram com uma inabilidade

inata de ter contatos afetivos normais e biologicamente determinados com as pessoas.

Ainda persistem profissionais que acreditam na psicogenia do autismo. Por mais

que até o presente momento alguns psicanalistas tentem argumentando sobre a imbricação

do autismo com a psicose, o próprio Dicionário de Psicanálise de Laplache e Pontalis,

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(2001, pg 391) traz que a psicose teria como denominador comum os sintomas manifestos

 pela tentativa secundária de restauração do laço objetal, através da construção delirante,

ausente no autismo, como dito antes. Essa concepção não parece sensata, já que parte do

 pressuposto de que seria uma forma de patologia que afetava crianças anteriormente

normais, como afirma Rutter em seu artigo para o livro de Gauderer, 1997.

Autores, como Ornitz, no mesmo livro argumentam ser o autismo um grave

distúrbio no desenvolvimento do comportamento que não apresenta sinais neurológicos

demonstráveis, nem uma neuropatologia consistente e nem marcadores genéticos.

Para Schwartzman (1994, pg 15) o autismo é uma condição crônica com início

sempre na infância, em geral aparecendo os primeiros sintomas até o final do terceiro ano

de vida, que afeta meninos em uma proporção de quatro a seis para cada menina. A

estimativa é de dez para cada dez mil nascimentos, essa síndrome para este autor vem decondições nos períodos pré-peri-pós-natais.

Neste momento pode-se tentar pensar sobre o autismo como uma incapacidade de

aprendizagem social diferente de uma incapacidade intelectual geral ou retardo mental, a

diferença é que no autismo existe uma desvantagem com base em um desenvolvimento que

resulta em um estilo cognitivo diferente. Hoje, fala-se, da tríade de desordem, sendo ela

formada por distúrbios de comunicação, de interação social e de imaginação, “estes

apresentam-se juntos, embora com intensidade e qualidade variadas” (Bosa, 2002, pg 25).

Em função dessa nova noção de tríade Assumpção Jr in Guaderer e col, (1997, pg 182)

afirma que não se pode falar de uma doença e sim de uma síndrome, com as mais variadas

etiologias, em que existe um repertório comportamental característico formado pela

incapacidade qualitativa na interação social, na comunicação verbal e não verbal e na

atividade imaginativa.

 Na verdade, trata-se de uma distorção grave e generalizada do processo de

desenvolvimento, podendo persistir até a idade adulta que recebe o nome de estado

residual.

O autismo pode ocorrer isoladamente ou em associação com outros distúrbios que

afetam o funcionamento do cérebro, como infecções viróticas, distúrbios metabólico,

epilepsia e retardo mental, pode está associado a doenças orgânicas como rubéola congênita

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ou fenicce tonúria, havendo dois diagnósticos, a síndrome comportamental e a doença

física, advoga Gauderer (1997, pg 12).

Os critérios diagnósticos para o autismo são os seguintes:

Início antes dos dois anos e seis meses (trinta meses) de idade;

Uma determinada forma de desvio do desenvolvimento social;

Uma determinada forma de desvio da linguagem;

Comportamentos estereotipados e rotinas;

Ausência de delírios, alucinações e distúrbios do pensamento do tipo

esquizofrênico.

II. CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DA SÍNDROME

Muito embora alguma anormalidade possa ser observada desde o início na

maioria das crianças com autismo infantil, algumas vezes a condição somente se torna

manifesta ou ao menos percebida pelos pais ou profissionais da saúde até o final do

terceiro ano de vida. Excepcionalmente, alguns casos só serão identificados por volta

dos cinco anos de idade. Pais e profissionais atentos poderão identificar alterações, em

geral, já nos primeiros meses de vida (Rosenberg, 1992 apud Schwartzam, 1994, pg

16).

Os sintomas mudam e podem até desaparecer com a evolução da idade. As

características da doença podem ser distribuídas em:

Distúrbios do relacionamento:

Esta deficiência precoce inclui a falta de desenvolvimento de uma relação

interpessoal e de contato visual, ausência de sorriso social, atraso ou ausência

de resposta antecipatória, aversão ao contato físico, preferência por permanecer 

sozinho ou isolado e desinteresse por jogos ou brincadeiras. Gauderer (1993, pg

54) fala sobre uma inadequabilidade no modo de se aproximar, falta de contato

visual e de resposta facial, indiferença ou aversão a afeto ou contato físico e

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sociabilidade superficial. Pode-se falar, em alguns casos, de ausência de

qualquer desejo de comunicação com os outros e incapacidade de tocar alguém

 para consolar ou encorajar. Pode ainda não haver alguma atividade espontânea,

e, sim uma insistência em ficar em uma mesma postura corporal.

Rutter in Gauderere e col (1997, pg 82) traz como características

comportamentais do autismo a incapacidade de criar vínculos, ausência de

reciprocidade, não desenvolvimento de rituais de afagos e carinhos, ausência de

empatia, para este autor o prognóstico é fortemente influenciado pelo QI e pelas

habilidades de linguagem da criança.

Distúrbios da fala e da linguagem

Enorme atraso, com fixações e paradas ou total mutismo, são apenas algunsdos aspectos encontrados, não em todos os autistas, já que a síndrome se

apresenta de forma muito diferenciada em cada sujeito. A ecolalia é comum

sendo associada ao uso inadequado ou reversão do pronome pessoal,

 podendo ser imediata ou tardia. Gauderer (1993, pg 55) advoga que

inúmeras foram as tentativas de se entender a ecolalia dessas crianças em

termos psicanalíticos, mas esta deficiência está relacionada à extrema rigidez

de imitação notada nessas crianças. Quando há fala comunicativa, ela é

atonal, arrítmica, sem flexão e incapaz de comunicar apropriadamente as

emoções. Os desvios qualitativos do desenvolvimento da fala são inúmeros

no autismo, os que acreditam na etiologia orgânica da do autismo falam de

um déficit na compreensão da linguagem falada que antecede o

desenvolvimento da fala.

O balbucio tende a ser pouco, em termos de quantidade e anormal em

termos de qualidade e quando a fala se desenvolve o aspecto mais marcante

é o seu uso limitado para fins sociais.

A compreensão, como dito anteriormente, podem ser inexistentes ou

apresentarem vários graus de retardo,.há uso idiossincrático das palavras e

 pronomes, os sinais não verbais que acometem a fala (expressão facial,

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contato do olhar, gestos e mímicas) quase sempre estão alterados, variando

da ausência total até o uso inadequado.

Distúrbios de motilidade

“O maneirismo e os padrões peculiares de motilidade dessas crianças

são os traços que lhes conferem em grande parte sua aparência estranha e

 bizarra, podem comprometer as mãos, os membros inferiores, o tronco e

todo o corpo” (Gauderer, 1993, pg 57). Há presença de movimentos

complexos e ritualísticos e estes não possuem características de movimentos

involuntários ou do tipo convulsivo, e alterações no andar e na postura.

Distúrbios da percepção e imaginaçãoEstes indivíduos, em sua grande maioria, não conhecem formas ou

objeto, apresentam dificuldades de orientação têmpero-espacial, deficiência

da atenção e concentração. Existem reações exageradas a estímulos

sensoriais, ou falta de responsabilidade. Objetos colocados na mão dessas

 pessoas caem, como se elas não possuíssem nenhuma sensação tátil. Estas

crianças, em geral, não notam cortes, escoriações ou até mesmo injeções.

Sobre a capacidade imaginativa há uma ausência total de imitação e

 brincadeiras de faz-de-conta.

Com toda o conjunto de sintomas apresentados acima vale ressaltar que se

configuram de forma diferenciada entre os indivíduos, cabe aos profissionais que trabalham

com este distúrbio muita cautela seja na forma de trabalhar com eles ou na forma de lhe

dar.

Inúmeros são pesquisadores que se têm dedicado ao estudo de como facilitar a

aprendizagem simples, mas de extrema complexidade para os portadores dessa síndrome

através da utilização de técnicas de modificação de comportamento nessas crianças, como

forma de proporcionar para elas e suas famílias bem estar e adequabilidade social, uma

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forma de intervenção que vai ao encontro dessa proposta é o método terapêutico TEACCH,

o qual será elucidado no próximo capítulo desse artigo.

Para a aplicação de tal método é necessário ter a certeza de um diagnóstico

diferencial prévio, contudo, as estratégias utilizadas por este método, certamente podem

ajudar qualquer outro indivíduo com o desenvolvimento cognitivo, lingüístico e

 pessoal/social comprometido, assim como portadores de Distúrbios Invasivos do

Desenvolvimento, além de estimular indubitavelmente, a afetividade e o desenvolvimento

 psicomotor.

III. AÇÃO PSICOEDUCATIVA COM O AUTISTA: O MÉTODO DE TEACCH

Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficiências relacionadas à

Comunicação é o que significa a sigla TEACCH, do inglês Treatment and Education of 

Autistic and related Communication handicapped Children. Método criado por Eric

Schoppler em 1972 no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte,

em Chapel Hill, para atender crianças portadoras de autismo ou psicose infantil como era

mais comum na época. O grupo que trabalhava com Schoppler antes da criação do método

atuava a partir de uma visão psicanalítica, oferecendo liberdade total às crianças e terapia

aos pais destas para tentar modificar sua relação com os filhos, que segundo eles seria a

causadora de seus distúrbios.

Descontente com os resultados obtidos em relação ao tratamento do autismo, onde

encontrava-se muita falta de preparação dos profissionais da área, tanto para realizar o

diagnóstico correto em época precoce como também, escassez de locais para um

atendimento adequado. Schoppler e seu grupo solicitaram uma verba federal ao Instituto

 Nacional de Saúde mental para poder testar suas idéias.Petteres (1998, pg 213) nos lembra que as pesquisas iniciais que propiciaram o

desenvolvimento do método TEACCH, primeiramente, foram realizadas sob a forma de

observações intensas e abrangentes de como o indivíduo autista se desenvolvia e, o que

mais lhe chamava a atenção e mais: sob quais condições respondia melhor e, em função

destas pesquisas, pode-se constatar que crianças autistas são mais capazes de adquirir 

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aprendizados numa proposta de atividade estruturada em vez de uma intervenção

terapêutica de caráter mais livre e interpretativo.

Esse é ponto de ancoragem e início do tratamento, toda a proposta de método se

 baseia no pressuposto de que os autistas respondem bem aos sistemas organizados, ou seja,

é colocando as coisas em um padrão definido de organização que o autista poderá ter 

compreensão do que lhe demandado pelas outras pessoas, adequando-se o melhor possível

à nossa sociedade.

IV. ESTUDO DE CASO

Os estudos de casos a respeito da aplicação de métodos comportamentais em

autistas são em pequeno número, as pesquisas feitas nessa área trabalham na revisão

 bibliográfica e publicam artigos sobre a aplicação sim, dos métodos em instituições falando

de forma geral os ganhos em alguns tipos de comportamentos inadequados e a facilitação

da situação de aprendizagem, mas pouco se esmiúçam em detalhar um caso específico em

tratamento.

O Método TEACCH pode ser classificado como um método psicoeducacional, da

ordem da pedagogia terapêutica ou clínica educacional. Os que não concordam com sua

 proposta de intervenção levantam a hipótese de que os sujeitos atendidos por esse método

tendem a robotização.

Como há a possibilidade de relatar um estudo de caso, um tratamento em

andamento, a proposta do presente artigo recai na possibilidade de falar de um sujeito que

aparece como ser cognoscente, quando aprende e usa dessa aprendizagem para expressar 

suas vontades, assim vê-se que a aplicação do método TEACCH a partir de técnicas

comportamentais estrutura a vida do autista para que este possa entender o que se quer delee que ele possa dentro da suas limitações dizer o que necessita, longe de se tornar um

 protótipo de robô.

No estudo que se segue, Gabriel1 é o filho primogênito de um casal possuidor de

um histórico de parentes com problemas de hiperatividade, ele tem o diagnóstico de

1nome que será dado ao adolescente em situação do atendimento relatado 

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autismo e retardo mental leve, comorbidados com um quadro de hiperatividade, como será

 possível ver durante o descrever do caso.

Durante a gestação de Gabriel, sua mãe submete-se a um exame que acusa uma

infecção de toxoplasmose, ao repetir o exame nada foi acusado, como não foi feito um

terceiro exame, tomou como tranqüila a gestação de nove meses. Muito antes de completar 

um ano, Gabriel já possuía uma impaciência notada por todos de sua casa, chorava muito

segundo a sua mãe, a hiperatividade estava presente desde cedo de acordo com a mesma.

Aos dois anos e três meses foi levado a uma fonoaudióloga, pois tudo o que tinha

falado até essa idade era “papa” e “mama”, mas naquele momento não apresentava

linguagem verbal compatível com as crianças de sua idade. A fonoaudióloga levantou a

hipótese de se tratar de algum problema neurológico indicando-lhe uma consulta com um

médico neurologista, este ao examinar a criança deu-lhe o diagnóstico de hiperativo.Até os três anos de idade apresentou o comportamento de arrancar todos os cabelos

do lado esquerdo de sua cabeça. Quando um ano depois sua mãe, indicada pelo

neurologista, foi procurada por uma psicóloga que iniciava uma escola para autistas soube

do diagnóstico real de seu filho e pode perceber que ele apresentava um comportamento

auto-agressivo ao puxar seus cabelos. Nessa escola ficou dos quatro aos sete anos, em

sistema de horário diurno integral, seu desempenho sempre oscilava, devido a sua

hiperatividade.

Dos sete aos nove anos estudou em uma escola normal, as crianças desta nova

escola e seus pais ajudavam Gabriel como podiam, segundo sua mãe. Mas depois dos noves

anos ele já estava grande demais e destruía as coisas da escola.

 Nos anos que se seguem Gabriel é encaminhado à FUNAD, mas por não ser 

trabalhado dentro de uma proposta terapêutica estruturada não consegue ter muitos

avanços, afirma sua mãe, hoje psicóloga analista de comportamento. Atualmente Gabriel

tem dezesseis anos e faz um tratamento psicofármaco com Melleril e Fernegan.

Os primeiros contatos com ele se dão no sistema de observação livre no seu lar, e

são notados comportamentos esteriotipados como pulos excessivos, folhear um mesmo

encarte de supermercado durante boa parte do dia, usar o observador como ferramenta , não

apresentar movimentos antecipatórios, nem atenção compartilhada, aversão ao contato

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físico e interação social inadequada . No campo da linguagem, percebeu-se ecolalia tardia e

frases desconexas em momentos inapropriados.

Várias são às vezes em que Gabriel aborda o observador puxando-o pela blusa,

comportamento repetido com todos em casa. Durante todo o dia busca conforto no ato de

 balança-se em uma rede. O fato de o observador usar óculos faz com que Gabriel tire-o do

rosto e agarre-o forte, o observador tomava-lhe o óculos e dizia a seguinte frase: Põe aqui,

apontando para o seu rosto, hoje esse comportamento foi extinto.

 Num segundo momento das observações pôde-se saber que Gabriel possuía alguns

horários de rotina, ao banheiro sempre era levado as sete, nove, onze, quinze e dezenove

horas. Dormir sempre às vinte horas. O seu café é às sete horas, seguido por um lanche às

nove, almoço às doze, um outro lanche às quinze e às dezoito horas, o jantar. Responde

 bem a esse sistema e quando está próximo da refeição chegar ele repete que “quer comer”.Durantes as últimas observações, frases como pega a bola, guarda a sacola,

enunciadas pelo observador são entendidas e executadas por Gabriel. È possível se

constatar que ele sabe o nome de todos em sua casa e coisas que lhe cercam, e que quando

entende o que se pede tende a executar a ordem.

O observador foi submetido a um curso de formação de terapeuta-professor 

interdisciplinar pelo método TEACCH, e em seguida inicia-se o tratamento numa sala na

 própria casa de Gabriel, estruturada de acordo com o método, com objetivos pré-

determinados: trabalhar para adaptação dele ao setting, trabalhar na mesa individual por 

quinze minutos, trabalhar na mesa independente por dez minutos. Nessas últimas duas

atividades, serão estimulados os aspectos cognitivos como reconhecimento de cores e

formas diferentes, atividades de encaixe e emparelhamento.

O fato dos primeiros atendimentos ocorrerem dentro da casa do mesmo, transforma-

se de início em uma variável interferente, pois o Gabriel estava acostumado com fato de ter 

todo o seu tempo livre, buscando conforto em comportamentos esteriotipados, revelando

uma resistência a mudanças.

 Num primeiro instante os atendimentos ocorreram de forma sistemática durante três

vezes por semana com duração de duas horas, aumentando progressivamente, para não

sobrecarregá-lo com o início do processo. Estímulos foram usados para que o estudante

 pudesse ficar dentro do setting de maneira agradável, essa era uma forma de tentativa de

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adaptação. No horário do lanche da tarde, este era usado como estímulo para a adaptação ao

setting, só era lhe apresentado o lanche quando ele sentava.

Durante os atendimentos Gabriel não sentava uma só vez, ficava entre entradas e

saídas, mesmo na hora do lanche ele não ficava tranqüilo na sala. Recursos que chamassem

a sua atenção para que ele sentasse-se à mesa de trabalho em grupo foram utilizados nesses

 primeiros atendimentos. Gabriel sentava-se, mas levantava-se em poucos segundos, ainda

encontrava-se muito agitado, não conseguia se acalmar. O lanche começou a ser 

interrompido quando ele levanta, para que pudesse compreender que só se alimentaria

quando estivesse sentado. Uma caminhada foi incorporada como forma de aproximação

entre terapeuta e estudante, essa passou a ser sua melhor performance.

Com duas semanas já havia um pequeno progresso, Gabriel já sentava muitas vezes,

a freqüência aumentou consideravelmente, contudo o tempo de permanência sentado aindaera muito pouco, cerca de quinze segundos, e já compreendia que só era alimentado na hora

do lanche quando sentado. O setting já não lhe parece um lugar estranho. Mesmo assim sua

resistência ao trabalho é significativa, o tempo em que está na sala e não está sentado é

gasto desmontando a mesma, uma forma de não ficar nela.

 Na semana seguinte cartões utilizados pelo método PECS (Picture Exchange

Communication), comunicação pela troca de cartões, onde ele pode apontar para o cartão e

solicitar o que quer comer são introduzidos no período do lanche. Estes, num primeiro

momento, causam-lhe estranheza. Mas em poucas semanas começa a aceitá-los melhor.

Através do uso de um jogo de emborrachado de formas diferentes ele senta, monta o

 jogo e levanta-se, aumentando o seu tempo de sentar em um minuto. Na caminhada há um

 progresso no sentido de que nas primeiras tentativas ocorreram as aparições de

comportamentos inadequados como abordar pessoas e sentar no chão. Esses

comportamentos melhoraram significativamente, mas ainda hoje Gabriel os apresenta, em

menor freqüência, lembrando ao terapeuta que esse trabalho só pode ser feito com exercício

de paciência contínuo de sua parte, para lembrar que existe um tempo do estudante com

suas limitações. O tempo do terapeuta não pode ser uma variável interferente, a ansiedade

deste não pode ser nociva para o autista.

Com quase dois meses, a sala de atendimento muda-se para uma instituição fundada

 para atender outros portadores de autismo, idealizada pela mãe de Gabriel, este fato faz

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com que haja um significativo progresso no seu tratamento. Cartões do sistema PECS com

fotos fazendo referencias as atividades são introduzidos para orientar Gabriel, informando-

lhe que tarefa deveria executar e sua seqüência, logo, um primeiro trabalho é feito, treinar o

reconhecimento dos cartões, antes de executar propriamente as atividades. Nessa mesma

época devido a sua capacidade de tolerância ao trabalho estar aumentando os atendimentos

 passam a acontecer todos os dias com quatro horas diárias, de segunda à sexta.

Uma primeira atividade chamada de Círculo de Entrada é feita no início de cada

sessão, onde informações temporais são trabalhadas e é induzida a participação na escrita

em um quadro negro. O trabalho individual ocorre com a empilhagem simples de

classificação de cores e encaixes sólidos com cor única e forma diversificada. No trabalho

independente trabalha-se com empilhagem de única cor e encaixes de única forma, assim

como de acordo com que as atividades do trabalho individual vão sendo aprendidas passam para essa segunda fase, para isto necessita-se de absoluta certeza de que tal situação foi

aprendida e possa se dar um passo adiante.

Através da apresentação de estímulos primários, pipoca que Gabriel gosta, ele senta

nas mesas e cumpre as tarefas. Num primeiro momento foi necessário também um apoio

físico para que o estudante entendesse o que ele teria que fazer para ganhar o estímulo

 primário.

Seu tempo atualmente na mesa de trabalho individual é de quinze a vinte minutos, e

na mesa de trabalho independente é de dez minutos, aumentou consideravelmente desde o

início do processo, e já não se usam mais nem o apoio físico, nem a apresentação do

estímulo primário, uma vez que ele já senta e cumpre suas tarefas. Hoje, pode se ver que

Gabriel através de atividades estruturadas tem tardes onde se encontra muito mais calmo e

sem tanta agitação, seus pulos durante os atendimentos diminuíram consideravelmente,

assim como os seus gritos. Geralmente ele chega muito agitado e acalma-se durante a

sessão.

Mas o trabalho não se limita apenas aos aspectos cognitivos, como nos lembra Lipp

1987, pg 111, a abordagem dessas pessoas acometidas pelo autismo deve ser semelhante à

do deficiente mental grave, usando-se técnicas comportamentais visando induzir uma

normalização de seu desempenho e lhes ensinando noções básicas de funcionamento, tais

como vestir, comer, higiene, etc, nesse sentido treinos de banho, uso de sanitário, atividades

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de vida prática, estão presentes no plano terapêutico individual de Gabriel, para tentar-lhe

 possibilitar a maior independência possível.

Em quatro meses de tratamento Gabriel tem atingido os objetivos propostos pelo o

seu plano terapêutico individual, criado a partir de uma avaliação de suas dificuldades e

 possibilidades, como também dos interesses de sua família.

 Não se trata de um trabalho fácil nem para o seu terapeuta, nem tão pouco para ele,

 pois a hiperatividade de Gabriel é seu maior inimigo, sua capacidade de concentração é

afetada diretamente devido a sua agitação psicomotora, dificultando assim sua capacidade

de aprendizagem, as intervenções em primeira mão têm sido no sentido de administrar essa

agitação através de técnicas comportamentais. Em casa onde ele pode ficar mais tempo sem

nada fazer, faz com ele ainda apresente comportamentos indesejados, contudo a

continuidade do tratamento vai no sentido de estruturar atividades também em casa para sever os benefícios que poderão trazer.

Ainda são inúmeros os comportamentos inadequados por ele apresentados no

setting, os quais ainda precisam-se entender como eles surgem e sob quais condições, mas

seus ganhos são significativos, através das atividades estruturadas ele tem podido aprender 

e interpretar as informações em sua volta. Um exemplo disso é o uso dos próprios cartões

de atividade, quando não quer fazer uma atividade, ele não pega o cartão, tomando em vez

disso o cartão de uma atividade que quer fazer e apresentando ao terapeuta, às vezes ainda

está longe o horário do lanche e ele vai à sua agenda de trabalho e pega o cartão do lanche e

diz que quer lanchar, é surpreendente ver um garoto que só gritava quando queria algo, sem

saber como dizer sobre sua vontade, apresentar uma informação estruturada solicitando

algo. Isto, entre outros ganhos, prova à eficácia do método TEACCH para portadores de

autismo, e como ele possibilita o indivíduo comunicar-se com quem está a sua volta.

Gabriel nesse momento ainda encontra-se submetido ao método, e devido ao seu

avanço, seu plano terapêutico tem sido reorganizado, numa proposta de trabalhar atividades

de cunho profissional, como atividades de escritório e trabalho de fabricação de bijuterias,

num momento próximo estas atividades serão iniciadas, já que Gabriel está na adolescência

e tem que se pensar sobre o seu futuro.

Decididamente o TEACCH tem ajudado ao autista a adequar-se dentro de suas

 possibilidades à sociedade, promovendo sua independência em função de suas dificuldades,

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o tratamento de Gabriel ainda levará um bom tempo, não se pode estimar o quanto, para

que não se crie expectativa irreal acerca de seu caso.

O trabalho com o autista é tarefa árdua, cheia de entraves, mas bastante possível,

desde que se tenha certo que é preciso todo o instante avaliações de tudo o que possa ajudar 

ou interferir no processo. Nesse sentido esse estudo de caso não termina por aqui, continua

durante o tratamento com Gabriel, certo de que possa haver um bom prognóstico para esse

adolescente, desde que não se perca de vista os fundamentos do método TEACCH e a

constante busca por bibliografias especializadas.

Como a própria bibliografia utilizada neste estudo advoga, as técnicas

comportamentais e a educação especial têm se mostrado a forma mais eficiente para o

tratamento com os indivíduos portadores do espectro autístico, ainda é pouco o tempo ao

qual está submetido Gabriel ao TEACCH, mas já é possível pesar seus ganhos e ver quevale a pena investir em uma proposta estruturada e individualizada, já que quem trabalha

com esse método parte do principio que não é a criança que tem que se adaptar ao método,

mas sim ele à criança. Usando da pesquisa de potencialidades, dificuldades e gosto de

indivíduo para criar um plano que promova o máximo possível sua independência.

BIBLIOGRAFIA

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