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Edição especial ISSN 2447-2131 João Pessoa, 2016 Artigo Variação anatômica da artéria braquial – relato de caso Páginas 115 a 131 115 Variação anatômica da artéria braquial relato de caso Anatomic variation of the brachial artery case report Layon de Oliveira Madeiro 1 André de Sá Braga Oliveira 2 Yoshyara da Costa Anacleto Estrela 3 Ariany Cibelle Costa Rezende 4 Francisco Erinaldo Leite Pereira 5 Thales Marx Soares de Araújo 6 RESUMO Introdução: A artéria braquial fornece o principal suprimento arterial para o braço. É uma continuação da artéria axilar, começa na margem distal do tendão do músculo redondo maior e termina na fossa cubital (cotovelo). Uma variação nesse vaso tem implicações clínicas, já que o braço é um sítio de lesões frequentes e está envolvido em muitos procedimentos cirúrgicos e invasivos. Objetivo: Relatar um caso de variação anatômica na bifurcação da artéria braquial, bilateralmente. Metodologia: Foi utilizado material convencional para a dissecção cadavérica (pinças, tesouras, bisturi). Para a análise morfométrica, foi utilizada fita métrica e os seguintes dados foram registrados: o tamanho da artéria braquial (AB), a distância da origem da artéria braquial até o colo do rádio (OR) e o espaço entre a bifurcação da artéria braquial e o epicôndilo medial (BE). Resultados: Verificou-se que as artérias braquiais direita e esquerda possuíam, 1 Estudante de Graduação em Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba Brasil. E-mail: [email protected] 2 Professor do Curso de Fisioterapia e Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP, Patos, Paraíba Brasil. 3 Estudante de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba Brasil. 4 Estudante de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba Brasil. 5 Estudante de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba Brasil. 6 Estudante de Graduação em Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba Brasil.

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Variação anatômica da artéria braquial – relato de caso

Páginas 115 a 131 115

Variação anatômica da artéria braquial – relato de caso

Anatomic variation of the brachial artery – case report

Layon de Oliveira Madeiro1

André de Sá Braga Oliveira 2

Yoshyara da Costa Anacleto Estrela3

Ariany Cibelle Costa Rezende4

Francisco Erinaldo Leite Pereira5

Thales Marx Soares de Araújo6

RESUMO

Introdução: A artéria braquial fornece o principal suprimento arterial para o braço. É

uma continuação da artéria axilar, começa na margem distal do tendão do músculo

redondo maior e termina na fossa cubital (cotovelo). Uma variação nesse vaso tem

implicações clínicas, já que o braço é um sítio de lesões frequentes e está envolvido em

muitos procedimentos cirúrgicos e invasivos. Objetivo: Relatar um caso de variação

anatômica na bifurcação da artéria braquial, bilateralmente. Metodologia: Foi utilizado

material convencional para a dissecção cadavérica (pinças, tesouras, bisturi). Para a

análise morfométrica, foi utilizada fita métrica e os seguintes dados foram registrados: o

tamanho da artéria braquial (AB), a distância da origem da artéria braquial até o colo do

rádio (OR) e o espaço entre a bifurcação da artéria braquial e o epicôndilo medial (BE).

Resultados: Verificou-se que as artérias braquiais direita e esquerda possuíam,

1 Estudante de Graduação em Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba –Brasil.

E-mail: [email protected] 2 Professor do Curso de Fisioterapia e Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP, Patos, Paraíba –

Brasil. 3 Estudante de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba –Brasil. 4 Estudante de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba –Brasil. 5 Estudante de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba –Brasil. 6 Estudante de Graduação em Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos-FIP; Patos, Paraíba –Brasil.

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respectivamente, 8,2cm e 6,4cm. A distância da origem da artéria até o colo do rádio, no

braço direito foi de 26,4cm e no esquerdo, 24cm. O espaço entre a bifurcação e o

epicôndilo medial foi de 16,5cm, no direito, e 17cm, no esquerdo. Observou-se também

que a artéria radial se originou medialmente e a artéria ulnar lateralmente, e estas se

cruzavam na parte média do úmero para seguir o trajeto anatômico normal no antebraço.

Conclusão: É válido ressaltar que pacientes com essa variação podem apresentar

dificuldades na realização de procedimentos clínicos como aferição de pressão e palpação

do pulso braquial. Apesar de serem raras, é imprescindível que profissionais de saúde

tenham conhecimentos das possíveis variações morfológicas da artéria braquial,

principalmente nas ocasiões em que o paciente seja submetido a procedimentos invasivos.

Palavras-chave: Artéria braquial. Variação anatômica. Anatomia.

ABSTRACT

Introduction: The brachial artery provides the main blood supply to the arm. It is a

continuation of the axillary artery, begins at the distal margin of the tendon of the teres

major muscle and ends in the cubital fossa. A variation of this vessel has clinical

implications, since the arm is a common injury site and is involved in many surgical and

invasive procedures. Objective: Therefore, the objective of this study was to report a case

of anatomic variation in the bifurcation of the brachial artery bilaterally. Method: It was

used conventional material for cadaveric dissection (tweezers, scissors, scalpel). For

morphometric analysis, measuring tape was used and the following data were recorded:

the size of the brachial artery, the distance from the origin of the brachial artery to the

neck of the radius and the space between the bifurcation of the brachial artery and the

medial epicondyle. Results: It was found that the right and left brachial arteries had,

respectively, 8.2 cm and 6.4 cm. The distance of the artery from source to radial neck was

26.4cm (right arm) and 24 cm (left arm). The space between the fork and the medial

epicondyle was 16.5 cm on the right, and 17 cm on the left. Also noted is that the radial

artery originated medially and ulnar artery appears laterally in both arms, and these

arteries intersected in the middle part of the humerus to follow the normal anatomical

path on the forearm. Conclusion: It is worth noting that patients with this variation may

have difficulties in performing clinical procedures such as pressure measurement and

palpation of the brachial pulse. Although they are rare, it is essential that health

professionals are aware of possible morphological variations of the brachial artery,

especially at times when the patient is subjected to invasive procedures.

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Keywords: Brachial artery. Anatomic variation. Anatomy.

INTRODUÇÃO

As artérias são vasos que conduzem o sangue que sai do coração e distribuem-no

para o corpo. Os seus vários tipos são diferenciados de acordo com o tamanho, quantidade

relativa de tecido elástico ou muscular na túnica média, espessura da parede e função

(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).

A artéria braquial fornece o principal suprimento arterial para o braço. Começa na

margem distal do tendão do músculo redondo maior como uma continuação da artéria

axilar, e segue para baixo ao longo do braço, terminando a cerca de 1 cm acima da prega

do cotovelo, na fossa cubital, onde se divide nas artérias radial e ulnar. De início, a artéria

braquial situa-se medialmente ao úmero; porém à medida que desce, torna-se

gradualmente anterior a ele e, na prega do cotovelo, situa-se à metade da distância entre

os dois epicôndilos (GOSS, 2012).

Esse vaso é sobreposto, do lado lateral, pelos músculos coracobraquial e bíceps

braquial. Sua metade superior tem relação com o nervo cutâneo medial do antebraço; sua

parte média, com o nervo mediano; e sua parte inferior está relacionada com a aponeurose

bicipital (SNELL, 1999).

A artéria braquial é relativamente superficial e palpável em todo o seu trajeto, e

está localizada anteriormente aos músculos tríceps braquial e braquial. Inicialmente situa-

se medialmente ao úmero, onde suas pulsações são palpáveis no sulco bicipital medial.

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Em seguida, passa anteriormente à crista supraepicondilar medial e tróclea do úmero

(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).

Variação anatômica consiste em uma diferença morfológica, apresentada por parte

da população, dentro da normalidade, que por si só não causa ou se caracteriza por ser

afecção (ABREU, 2007).

A anatomia humana é um dos conhecimentos mais importantes para o profissional

de saúde, já que constitui a base do seu trabalho. Diante disso, a descoberta de variações

anatômicas constitui um marco fundamental no estudo da anatomia humana, pois

fornecem subsídios para a interpretação das mais diversas situações vividas pelos

profissionais, em tratamentos, por exemplo, que requerem a realização de abordagens

invasivas. (ITACARAMBI, 2014)

Ao contrário das veias, variações na anatomia arterial são menos frequentes e na

maioria dos casos afeta artérias viscerais (MADHYASTHA et al.; 2009). Em alguns

casos, a artéria braquial divide-se em um nível mais proximal do que o habitual. Com

isso, as artérias ulnar e radial começam na parte superior ou média do braço, e o

nervo mediano passa entre elas (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).

Uma variação na artéria braquial tem implicações clínicas, já que o braço é um

sítio de lesões frequentes e está envolvido em muitos procedimentos cirúrgicos e

invasivos (MADHYASTHA et al.; 2009).

Portanto, o objetivo deste trabalho foi relatar um caso de variação anatômica nas

artérias braquiais direita e esquerda.

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MÉTODO

Este relato de caso foi aprovado pelo Comité de Ética Faculdades Integradas de

Patos –PB, instituição em que foi desenvolvido o trabalho, através do Certificado de

Apresentação para Apreciação Ética (CCAE): 54670416.4.0000.5181.

Através de uma dissecção cadavérica, no laboratório de anatomia humana das

Faculdades Integradas de Patos – FIP, Paraíba – PB, observou-se uma variação arterial

incomum em um cadáver adulto do sexo feminino, de idade desconhecida, conservado

em solução de formaldeído (Figura 1).

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Figura 1: Variação na bifurcação da artéria braquial.

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Antes de iniciar o processo de dissecção, o cadáver foi colocado na posição de

decúbito dorsal com o membro superior em abdução em ângulo reto para identificar

convenientemente os músculos, vasos e nervos da região. Iniciou-se o procedimento com

uma incisão circular feita na pele da superfície anterior do braço um pouco abaixo do

ombro. Em seguida, fez-se uma incisão longitudinal através da pele no meio das regiões

anteriores do braço e do antebraço, estendendo-a distalmente desde a incisão transversal

superior até o punho. Realizou-se duas incisões transversais, uma na frente do cotovelo

do epicôndilo medial ao epicôndilo lateral. Assim, ficaram demarcadas quatro retalhos de

pele no braço e antebraço; que foram rebatidos medial e lateralmente.

Desse modo, através do procedimento descrito, verificou-se na porção proximal

do terço superior do braço, uma bifurcação alta bilateral da artéria braquial.

Para a análise morfométrica (Figura 2), foi utilizada fita métrica e os seguintes

dados foram registrados: o tamanho da artéria braquial (AB), a distância da origem da

artéria braquial até o colo do rádio (OR) e o espaço entre a bifurcação da artéria braquial

e o epicôndilo medial (BE)

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Figura 2: Análise morfométrica da variação da artéria braquial. AB: tamanho da artéria

braquial; OR: origem da artéria até o colo do rádio; BE: espaço entre a bifurcação e o

epicôndilo medial.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o processo de dissecção, constatou-se uma variação na bifurcação da

artéria braquial do cadáver (Figura 3). A bifurcação alta bilateral da referida artéria estava

localizada a 15 cm da fossa cubital (cotovelo) e 7,5 cm abaixo da axila no membro

superior direito. Já no braço esquerdo, a divisão situa-se a 16,8 cm da fossa cubital

(cotovelo) e 6,5 cm abaixo da axila.

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Figura 3: A seta aponta para a bifurcação alta da artéria braquial.

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Somado a isso, analisou-se o comprimento da artéria braquial direita e esquerda,

desde a sua origem até sua bifurcação em artérias radial e ulnar, além da distância

existente entre a bifurcação e o epicôndilo medial. Desse modo, concluiu-se que a artéria

braquial direita deste cadáver possui 8,2 cm e a esquerda 6,4 cm. Já a distância da origem

da artéria até o colo do rádio foi de 26,4 cm no braço direito e 24 cm no braço esquerdo.

O espaço entre a bifurcação e o epicôndilo medial é de 16,5 cm para o braço direito e de

17 cm para o braço esquerdo (Tabela 1). Verificou-se também que a artéria radial se

originou medialmente e a artéria ulnar lateralmente em ambos os braços, e estas se

cruzavam na parte média do úmero para seguir o trajeto anatômico normal (Figura 4).

Tabela 1 - Dados obtidos através da análise morfométrica. Tamanho da artéria braquial

(AB). Distância da origem da artéria até o colo do rádio (OR). Distância entre a bifurcação

e o epicôndilo medial (BE).

Braço direito Braço esquerdo

AB 8,2 cm 6,4 cm

OR 26,4 cm 24 cm

BE 16,5 cm 17 cm

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

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Figura 4: Artérias radial (1) e ulnar (2). Foi observado que a artéria radial originou-se

medialmente e a artéria ulnar lateralmente, e estas se cruzam na parte média do úmero

para seguir o trajeto anatômico normal.

Variações anatômicas no sistema arterial podem ter significado tanto clínico

quanto cirúrgico e, desse modo, atrai a atenção de estudantes de medicina, anatomistas,

cirurgiões e outros especialistas. Estudos sobre essas possíveis variações relacionadas

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com procedimentos médicos são necessários para evitar dificuldades e eventuais erros

que podem ocorrer durante a manipulação da artéria.

Segundo Rossi Junior (2011), a incidência de uma bifurcação alta da artéria

braquial é rara na população em geral, sendo o evento unilateral mais comum que os

bilaterais. Docimo et al. (2009) afirma que as variações anatômicas arteriais nos membros

superiores são mais comuns nas artérias radial e ulnar. Geralmente, essas variações

podem ser explicadas com base em seu desenvolvimento embriológico.

Embriologicamente, as artérias dos membros superiores são originadas da artéria

axial primária e seus ramos. Essa artéria torna-se a artéria braquial do braço e a artéria

interóssea comum do antebraço com seus ramos interósseos anterior e posterior.

(MOORE; PERSAUD, 2013). Alterações na origem embriológica são na maioria das

vezes responsáveis pelas variações morfogenéticas encontradas na anatomia das artérias

dos membros superiores.

Segundo Gujar et al. (2014) um amplo estudo da anatomia arterial das

extremidades superiores e suas variações é indispensável para o ambiente clínico. O

conhecimento dessas variações é essencial para evitar lesões, trombose e até mesmo

amputação dos membros, particularmente em pacientes que requerem diálise ou

submetidos a arteriografia (MELLING et al., 2000; CORRÊA et al., 2005).

Atahan, Cetinus e Yasim (2005) e Madhyastha et al. (2009) afirmam que a

variação no padrão de ramificação da artéria braquial pode ter significado morfológico e

clínico. Radiologistas e cardiologistas envolvidos em cirurgias, por exemplo, devem estar

atentos a estas possibilidades de alteração anatômica. Além disso, a artéria braquial é

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frequentemente usada em procedimentos médicos, como a palpação de pulso braquial,

punção arterial, monitorização de pressão arterial, arteriografia e outros.

O conhecimento de variações na ramificação da artéria braquial consiste em um

fator importante em procedimentos como o cateterismo cardíaco para angioplastia,

retalhos pediculados, ou enxerto arterial. Por isso é necessário que quaisquer posições

anormais ou divisões da artéria braquial sejam identificadas antes da cirurgia

(MADHYASTHA et al., 2009).

Shewale, Sukre e Diwan (2012) também apontam procedimentos que envolvem a

artéria braquial. Segundo eles, variação nesse vaso pode causar dificuldade em avaliações

angiográficas, acidentes durantes punções, além de danos durante cirurgias e

comprometimento durante a medição da pressão arterial.

No trabalho de Nidugala et al. (2012), encontrou-se uma bifurcação alta da artéria

braquial no braço direito. A variação foi encontrada em um cadáver de 52 anos de idade

e estava situada a 12 cm acima da fossa cubital (cotovelo) e 15cm abaixo da axila. As

outras relações da artéria braquial estavam normais. Neste caso, a artéria ulnar tinha um

diâmetro menor que a artéria radial e não sofria ramificações.

Bertolazzo et al. (1981) também relataram um caso de bifurcação alta da artéria

braquial. Neste trabalho, entre 202 cadáveres dissecados apenas um apresentou a

variação, o que corresponde a um percentual de 0,5. Em outro estudo, realizado por Rossi

Junior (2011) foram dissecados 56 cadáveres e um apresentou uma bifurcação bilateral

localizada a 20cm da fossa cubital, no lado direito e 21,5 cm da fossa cubital, no lado

esquerdo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste contexto, vale ressaltar a importância do estudo nas variações de padrão de

ramificação das artérias dos membros superiores, como a artéria braquial, já que esta tem

grande significado clínico e cirúrgico. O conhecimento desta variação é importante para

os médicos de clínica geral, cirurgiões plásticos, ortopedistas e radiologistas, além de ser

usada nas técnicas e protocolos de diagnóstico e tratamento, como aferição de pressão

arterial, palpação do pulso braquial, punção arterial, arteriografia e outros.

Salienta-se que, apesar de serem raras, é imprescindível que profissionais de saúde

tenham conhecimentos das possíveis variações morfológicas da artéria braquial,

principalmente nas ocasiões em que submeterá o paciente a procedimentos invasivos.

REFERÊNCIAS

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