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  • Revista de Economia, v. 36, n. 3 (ano 34), p. 111-131, set./dez 2010. Editora UFPR 111

    Interaes entre universidade e tecido produtivo: experincias em

    atividades tradicionais de Santa Catarina

    Hoydo Nunes Lins1

    Resumo: Este estudo ocupa-se de relaes entre universidade e tecido produtivo em atividades tradicionais. O foco duplo, a maricultura de ostras e mariscos e a produo de artigos de vesturio, na regio de Florianpolis (SC). As duas admitem abordagem no marco das relaes entre universidade e tecido produtivo, que na ma-ricultura implicam a Universidade Federal de Santa Catarina, a Empresa de Pesquisa e Extenso Rural de Santa Catarina e membros das comunidades litorneas, e na indstria do vesturio envolvem a criao, entre outras coisas, de um Bacharelado em Moda Habilitao em Design de Moda na Universidade do Estado de Santa Catarina, depois completado por ensino de ps-graduao. Considerando as espe-cificidades, o estudo compara as duas experincias quanto aos seus movimentos e aos resultados das interaes entre universidade e tecido produtivo, e tangncia a questo da sua importncia para o desenvolvimento local e regional.

    Palavras-chave: relaes entre universidade e atividades produtivas; Florianpolis (SC); maricultura de moluscos; indstria do vesturio.

    University-industry interactions: experiences in traditional activities of

    Santa Catarina

    Abstract: This article is about the interactions between universities and pro-duction in traditional activities. Its focus is twofold: mariculture of mollusks and clothing production in the area of Florianpolis (Santa Catarina State, Brazil). Both analyses can take into account the discussion about university-industry relations. In the former activity, such relations involve the Universidade Federal de Santa Catarina, the Empresa de Pesquisa e Extenso Rural de Santa Catarina and people living in seaboard communities. In the second activity, they concern among other

    1 Professor do Departamento de Cincias Econmicas e do Programa de Ps-Graduao em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail para contato: [email protected]

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    things the creation and operation of a graduate course on Fashion Qualification in Fashion Design, at the Universidade do Estado de Santa Catarina, that was soon followed by a postgraduate course. Without leaving aside the specific features, the paper compares both experiences in terms of results of the university-industry interactions, and briefly approaches the question of their importance for local and regional development.

    Keywords: university-industry relations; Florianpolis (SC); mariculture of mollusks; cloth production.

    JEL: O39; L67; Q22

    Introduo

    No Brasil, como em nvel internacional, o debate sobre as relaes entre uni-versidade e tecido produtivo tende a privilegiar setores de maior intensidade tecnolgica. A perspectiva adotada nesse debate refere-se basicamente aos sistemas de inovao, focalizados nas escalas nacional ou regional e local, e as abordagens apresentam-se costumeiramente pontuadas spor crticas ao que se entende ser um trao recorrente dessas relaes. Trata-se, como detectado em bom nmero de casos, do carter inegavelmente rarefeito de tais vnculos, que s em algumas experincias permitem observar interaes efetivamente bem sucedidas entre as esferas da cincia e da tecnologia.

    O presente estudo objetiva discutir a problemtica das ligaes entre univer-sidade e tecido produtivo com foco no na alta tecnologia, mas em atividades tradicionais. Dois setores de atividades so contemplados, ambos pertencentes estrutura socioprodutiva da regio de Florianpolis, polarizada por muni-cpio do mesmo nome, capital do Estado de Santa Catarina.

    Um desses setores a maricultura, ligada ao cultivo de ostras e mariscos envolvendo numerosos habitantes de localidades litorneas, muitos deles ex-pescadores artesanais afetados pelo declnio da pesca e pelo decorrente estreitamento das possibilidades de reproduo social nas suas comunidades. O outro setor vincula-se produo de artigos de vesturio, que mobiliza mulheres de localidades e bairros perifricos na condio de assalariadas em pequenas e mdias empresas, e tambm como trabalhadoras em domiclio e/ou integrantes de empreendimentos coletivos informais (cooperativas de costureiras), em quase todos os casos significando canalizao de funes e tarefas terceirizadas por empresas. Ambos so segmentos da estrutura pro-dutiva local que exibem destacada capilarizao social, isto , incidncia por assim dizer pulverizada, em escala de comunidade.

    O fundamento da pesquisa que essas atividades admitem abordagem no mar-co das relaes entre universidade e tecido produtivo. A maricultura evoluiu

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    na esteira de importantes interaes entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Empresa de Pesquisa e Extenso Rural de Santa Catarina (EPAGRI), do governo estadual, e moradores das comunidades litorneas. A indstria do vesturio foi organizada por medidas que, alm de entidades de representao, coordenao e defesa dos interesses dos fabricantes, incluram a criao de um curso hoje denominado Bacharelado em Moda Habilitao em Design de Moda, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), posteriormente complementado por formao em nvel de ps-graduao.

    Considerando as especificidades setoriais, o estudo compara as duas expe-rincias quanto aos movimentos e aes protagonizados e particularmente quanto s caractersticas e aos resultados dos vnculos entre universidades e atividades produtivas. Por extenso o estudo discute, para um caso e para o outro, o significado dos percursos trilhados em termos de contribuio ao desenvolvimento local.

    O texto apresenta-se organizado em quatro sees, alm desta introduo e das consideraes finais. A seguir discorre-se sobre a problemtica das inte-raes entre universidade e tecido produtivo, de modo amplo, visando dar enquadramento pesquisa especfica. As duas sees seguintes abordam, pela ordem, a maricultura e a indstria do vesturio na rea de estudo, na pers-pectiva das relaes entre universidade e tecido produtivo. Posteriormente, salientam-se as particularidades entre as duas experincias, discutindo as-pectos de caracterizao e, sobretudo, de resultados, com nfase nos reflexos em matria de desenvolvimento local.

    1. O tema das interaes entre universidade e tecido pro-dutivo

    A problemtica do relacionamento entre universidade e tecido produtivo adquiriu importncia redobrada e alcanou grande visibilidade no bojo dos processos econmicos observados em escala mundial desde as ltimas dca-das do sculo XX, pelo menos. A assim chamada globalizao da economia, representando oportunidades e principalmente desafios, imps a aquisio de conhecimento e a capacidade de inovar como requisitos bsicos para a inser-o positiva de empresas e setores produtivos em ambientes concorrenciais cada vez mais exigentes, alm de balizados por fatores que refletem escalas amplas de determinao.

    Nesse contexto, as interaes entre tecido produtivo e tecido institucional ganharam enorme relevncia, passando a figurar quase como um recurso. O significado de que se revestem esses vnculos, atualmente, aspecto do que Lundvall e Borrs (1997: 35) designam como economia da aprendizagem, quer dizer, uma economia em que a habilidade para aprender crucial para o sucesso econmico de indivduos, regies e economias nacionais.

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    Tendo em vista a sua natureza como integrante do sistema de produo de conhecimento, a universidade tipo de instituio capaz de desempenhar pa-pis estratgicos nesse contexto econmico, embora o debate sobre tal assunto exiba posies diferenciadas, como assinalam Godin e Gingras (2000). nfase particular nessa proeminncia da universidade colocada pela perspectiva analtica da Hlice Tripla, que ressalta as relaes, envolvendo diferentes arranjos institucionais, entre universidade, indstria e governo. Ostentam maior realce no correspondente debate as estruturas de inter-relaes que se caracterizam pela interpenetrao dessas trs esferas, com a emergncia de organizaes hbridas, o que Leydesdorff e Etzkowitz (1998) caracterizam como modelo da Hlice Tripla III. No marco da Hlice Tripla III, com efeito, o

    objetivo comum materializar um ambiente inovativo abrangendo firmas na forma de spin-offs de universidades, iniciativas trilaterais para o desenvolvimento econmico baseado no conhecimento e alianas estratgicas entre firmas (grandes e pequenas, operando em reas diferentes e com diferentes nveis de tecnologia), laboratrios governamentais e grupos de pesquisa acadmica (Etzkowitz & Ley-desdorff 2000: 112).

    No que concerne ao papel especfico da universidade, postula-se que essa instituio pode desempenhar um mais poderoso papel em termos de ino-vao em sociedades crescentemente baseadas em conhecimento (Etzkowitz & Leydesdorff 2000: 109). Esse entendimento deriva, por exemplo, de cons-tatao segundo a qual as universidades parecem estar passando por uma segunda revoluo acadmica: a funo econmica da universidade est cada vez mais institucionalizada, o que se adiciona diferenciao entre educao superior e pesquisa (Leydesdorff & Etzkowitz 1996:283).

    essencial destacar que o relacionamento entre universidade e tecido produti-vo, particularmente no formato captado pelo modelo da Hlice Tripla III, tende a reverberar mais intensamente em escalas locais e regionais. Isso verdade sobretudo quando se verifica territorializao da economia (Storper 1997), situao em que os desdobramentos dos arranjos institucionais centrados no conhecimento e na inovao apresentam-se comparativamente mais conse-quentes. Ao mesmo tempo, o territrio o local, a regio representa escala que potencializa o desempenho interinstitucional nos termos aqui focalizados, haja vista a proximidade, nas vrias acepes desse termo.

    O nvel de exigncia que isso impe universidade, inevitavelmente guindada, segundo essa perspectiva, condio de agente central para o desenvolvimento de cidades e regies, nada menos que desafiador. Com efeito:

    A crescente importncia do nvel subnacional em termos econmicos e polticos oferece um foco territorial ao novo papel da universidade na economia do conhe-cimento. H uma nfase ampliada na sua contribuio para a competitividade mediante a canalizao do benefcio econmico proporcionado pela cincia e

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    tecnologia, para o que a escala subnacional desempenha um importante papel. Entretanto, simultaneamente ao atendimento dessas novas demandas, as uni-versidades [tambm] devem responder aos desafios, oportunidades e ameaas globais e continuar a preencher suas funes tradicionais de ensino e pesquisa (Harloe & Perry 2004: 216).

    A Amrica Latina no exceo na tendncia mundial de fortalecimento das interaes entre universidade e tecido produtivo. Sutz (2000) aponta duas formas bsicas desses vnculos no subcontinente. De um lado, relaes desenvolvidas a partir da necessidade do setor produtivo por conhecimento disponibilizado no meio acadmico para solucionar problemas especficos (um enfoque de tipo bottom-up). De outro lado, ligaes escoradas no de-sempenho das instituies, isto , derivadas da institucionalizao de esforos protagonizados na universidade, no setor produtivo e na esfera governamental (com perfil top-down).

    Contudo, os resultados dessas inter-relaes costumam ser precrios, segundo diferentes avaliaes. Tal caracterstica encontra explicao, de uma parte, em condies estruturais, como uma insero na economia mundial histo-ricamente pouco vinculada ao conhecimento e inovao. De outra parte, tm igualmente peso processos mais ou menos recentes, como os relativos s reformas do Estado, traduzidas, entre outras coisas, em privatizaes que, abrangentes, no raro significaram desnacionalizao de segmentos do aparato produtivo.

    No Brasil, impulso considervel s interaes entre universidade e tecido produtivo originou-se da conjuntura de crise vivenciada nos anos 1980. O estrangulamento financeiro do setor pblico e a reduo dos investimentos em cincia e tecnologia, entre outras coisas, provocaram aproximao entre instituies de ensino e pesquisa e o setor industrial (Baldini & Borgonhoni 2007). A experincia de incubar empresas, como forma institucional desse tipo de vnculo, logrou alcanar disseminao (Vedovello et al. 2001), sendo ilustrativo que numerosos estudos de caso sobre esses vnculos, inclusive evo-cando questes de desenvolvimento local, digam respeito a essa modalidade (Vedovello 2001; Diniz & Oliveira 2006).

    Nos anos 1990, sob o signo de uma maior exposio da indstria nacional concorrncia estrangeira, por conta da desregulamentao da economia e da abertura comercial, promover a competitividade tornou-se requisito indis-pensvel. Esse entendimento perpassou iniciativas de busca de dinamismo competitivo principalmente vinculado s empresas de base tecnolgica. Para tanto, recorrer ao conhecimento produzido na universidade e implementar grandes programas de alcance nacional, articulando instituies governa-mentais, empresas e universidades, perfilaram-se como tipos de providncias frequentemente exploradas. Cabe assinalar que tal quadro no se revelou imune a crticas, ao menos pelo ngulo dos interesses da universidade. A idia generalizada de que existiria um ganho para a atividade de pesquisa

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    desenvolvida na universidade decorrente de uma maior interao com a empresa privada passou a ser revista (Dagnino 2003: 301).

    De todo modo, segundo assinalam Suzigan e Albuquerque (2007), o pa-dro de interao entre universidade e tecido produtivo revela-se limitado no Brasil, deixando a desejar quanto capacidade de imprimir dinamismo econmico efetivamente escorado na inovao. Os casos de reconhecido su-cesso so especficos, aparecendo como pontos de interao entre cincia e tecnologia em cuja base podem ser detectadas razes histricas e trajetrias de longa durao.

    Esse o marco geral das experincias de dilogo entre universidade e tecido produtivo tratadas neste artigo.

    2. Interaes entre universidade e tecido produtivo: a maricultura

    O crescimento da maricultura em escala mundial no passou ao largo do Brasil, onde o setor exibe trajetria marcante pelo menos no Estado de San-ta Catarina. No litoral desse estado, de quase 600 quilmetros, surgiu e se desenvolveu o cultivo de mexilhes e ostras (Figura 1), seguido por alguns resultados com camares e outras tentativas. Santa Catarina ganhou grande destaque no universo maricultor brasileiro, particularmente na ostreicultura, pois j em meados da dcada de 1990, quando a produo era uma simples frao do que se alcanou posteriormente, anunciou-se em todo o pas que a ostra d lucro no mar catarinense (Miura 1996: 8).

    FIGURA 1. SANTA CATARINA PRODUO DE MOLUSCOS CULTIVADOS (1991-2007)

    FONTE: Elaborao do autor com dados da EPAGRI (www.epagri.rct-sc.br/)

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    O cultivo de moluscos em geral mostra-se pulverizado na metade norte dessa costa. Todavia, o segmento de ostras fortemente concentrado na regio de Florianpolis. Segundo dados da EPAGRI, obtidos em www.epagri.rct-sc.br/, em 2007 o Municpio de Florianpolis respondeu por 69% de toda a produ-o estadual de ostras cultivadas. Somando-se as quantidades de Palhoa e So Jos, outros municpios dessa regio onde tambm se cultivam ostras, o resultado supera 90% do total.

    Deve-se sublinhar, na perspectiva deste artigo, que essa trajetria da maricultura indissocivel das atividades da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da EPAGRI. Na UFSC, o vnculo remonta ao incio da dcada de 1980, quando o Departamento de Aquicultura criou um Laboratrio de Ostras para estudar as possibilidades de cultivo de ostras nativas. Os frustrantes resultados fizeram as atenes se voltarem ostra japonesa ou do Pacfico, espcie extica tornada alvo principal daquele laboratrio, depois transformado em Laboratrio de Cultivo de Moluscos Marinhos (LCMM), atualmente Laboratrio de Moluscos Marinhos (LMM) (www.lmm.ufsc.br/). Trata-se de ostra cujas primeiras sementes foram importadas pelo Brasil nos anos 1970 e que se desenvolve bem em cativeiro e se adaptou rpido ao clima do litoral catarinense (...) (Barardi et al. 2001: 70). Tambm naquele perodo comearam as pesquisas com mexilhes.

    Na EPAGRI, a participao decorreu de interesse no que acenavam as pesquisas da UFSC quanto criao de alternativas nas comunidades litorneas. A aproximao aos laboratrios da UFSC desencadeou processo em que tcnicos da EPAGRI bus-caram formao em maricultura. A partir da a atividade se disseminou, com esse rgo desempenhando importante papel em mobilizao comunitria, informao e assistncia tcnica por meio de extensionistas. A EPAGRI envolveu-se tambm em administrao, regulamentao e controle, junto com rgos ligados ao meio ambiente, e na organizao dos produtores em associaes e cooperativas.

    Bastante frtil foi a parceria, de 1993 a 2003, entre o ento LCMM e a Cana-dian International Development Agency (CIDA). Dela resultou o Brazilian Mariculture Linkage Program (BMLP), financiado pela CIDA e concebido para ajudar no combate pobreza em comunidades pesqueiras no Brasil. Esse programa englobou cinco universidades federais brasileiras, entre elas a UFSC, e trs canadenses, com intercmbios para capacitao de recursos humanos brasileiros no Canad e a vinda de produtores canadenses ao Brasil.

    Como se nota, em Santa Catarina a maricultura baseou-se em teia de relaes implicando instituies de ensino e pesquisa, rgos governamentais e par-cerias internacionais. A figura 2 sistematiza esses vnculos, que remetem problemtica das interaes entre universidade e tecido produtivo, alcanando tambm rgos governamentais, conforme focalizado na segunda seo. O resultado desse arranjo foi uma irrefutvel inovao no litoral catarinense um novo setor de atividades foi entronizado , escorada por ligaes inte-rinstitucionais em si mesmas revestidas do sentido de inovao.

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    O papel da UFSC mostrou-se decisivo nesse percurso, pois foi no mbito de suas estruturas laboratoriais que ocorreram as pesquisas sobre tecnologias de cultivo. O problema da obteno de sementes de moluscos mereceu especial ateno. No segmento de ostras, por se tratar de espcie no nativa, uma etapa chave implicou produo em laboratrio. Desse modo, o ento LCMM privile-giou estudos sobre produo de larvas e sementes de ostras do Pacfico, tanto que esse laboratrio se transformou no principal fornecedor aos ostreicultores. No segmento de mexilhes, as sementes podem ser obtidas por raspagem nos costes (bancos naturais) ou pela utilizao de coletores artificiais (em que as larvas fixam-se naturalmente). a segunda forma a compatvel com uma maricultura sustentvel, e seu aprimoramento foi priorizado nas pesquisas.

    Merece destaque que o processo de ampliao do conhecimento e desenvol-vimento tecnolgico tenha sido marcado pelas interaes entre produtores e pesquisadores. No houve [na maricultura catarinense] um pacote tecnolgico pronto, mas sim a (...) adaptao da tecnologia conhecida em [outros] pases (...). Geralmente as grandes linhas de ao so discutidas entre pesquisadores, exten-sionistas e produtores (Rosa 1997: 116). No cultivo de ostras, cabe mencionar relaes com produtores de Santo Antnio de Lisboa, na costa noroeste da Ilha de Santa Catarina. No de mexilhes, deve-se referir comunidade de Enseada do Brito, no trecho continental sul da regio da Grande Florianpolis. Tais vn-culos evidenciando a importncia da extenso universitria pari passu com a pesquisa mostraram-se fundamentais, pois nutriram a investigao cientfica, contriburam para o aperfeioamento das prticas de cultivo e, na esteira dos resultados, serviram para atrair o interesse de outras pessoas nas comunidades.

    FIGURA 2. INTERAES BSICAS NA MARICULTURA EM SANTA CA-TARINA

    FONTE: elaborao do autor a partir de Gramkow (2002) e Vinatea (2000)

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    Mostrou importncia nesse movimento o chamado capital humano, ligado tradio pesqueira das comunidades. Foi o conhecimento impregnado nas localidades que propiciou aquele entrelaamento frtil e favoreceu a adaptao de tecnologias vindas de outros pases e regies brasileiras, traduzindo-se at na opo por materiais disponveis nas prprias comunidades. exemplo o uso de estacas de bambu no cultivo de mexilhes pelo sistema fixo em mesas, um recurso que, embora menos durvel comparativamente, representa custos de instalao inferiores e favorece a participao de famlias pobres.

    Tambm na ostreicultura pode-se encontrar ilustrao, como nas caixas flutuantes para depsito das sementes de ostra na gua, desenvolvidas pelos pesquisadores da UFSC junto com os produtores. Alguns ostreicultores tinham passado a utilizar essa forma de colocao por conta prpria, em substituio a outras (como a lanterna, por exemplo). O trabalho dos pesquisadores visando o aprimoramento resultou em sistema que proporciona resultados superiores aos de outras formas conhecidas. Na raiz, como se observa, est a interao entre pesquisadores e grupos de maricultores.

    A citada parceria entre o ento LCMM e a CIDA repercutiu no fortalecimen-to da infraestrutura laboratorial, envolvendo equipamentos, transferncia tecnolgica e disseminao de conhecimento tcnico. Isso favoreceu de-sempenho manifestado, entre outras coisas, no imprescindvel papel desse laboratrio como produtor e distribuidor de sementes de ostras do Pacfico entre os produtores. Aspecto problemtico dessa relao a dependncia dos ostreicultores, mas tambm quanto a isso avanos parecem ter sido logra-dos, pois passou-se a buscar desenvolvimento tecnolgico que representasse garantia de autoabastecimento aos produtores. O assentamento remoto, j utilizado em outros pases, tcnica capaz de atender a essa necessidade. Mesmo exigindo a compra de larvas principalmente nos Estados Unidos , representa menores custos de produo, entre outras vantagens. Assim, continuam a ter destaque na estrutura do LMM os setores de assentamento de sementes e de larvicultura.

    Para realar a importncia dessas interaes entre universidade e tecido produtivo, cabe ressaltar que o avano da maricultura provocou maior aten-o para com o meio ambiente na costa de Santa Catarina. A razo bvia: a qualidade das guas um requisito bsico para o cultivo de espcies marinhas, mostrando-se sintomtico o envolvimento, no implicado tecido institucional, de rgos dos planos federal e estadual com atuao nessa esfera. Digno de nota que o engajamento de numerosos contingentes nos cultivos parece ter fortalecido o sentido de preservao ambiental nas comunidades. Mais do que s ateno sobre a qualidade das guas, as localidades passaram a registrar monitoramento e controle sobre prticas como despejo de efluentes domsticos no mar.

    Mas tambm aspectos socioeconmicos merecem realce. A expanso dos cul-tivos representou oportunidades de trabalho nessas comunidades (Machado

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    2002; Rosa 1997; Vinatea 2000), sendo prximo de 750 o contingente de pro-dutores atualmente registrados, organizados em 24 associaes presentes em 12 municpios (www.epagri.rct-sc.br/). Os reflexos nos rendimentos estariam a justificar a opo de diversas famlias, como sugerido por alguns estudos de campo (Vinatea op cit.; Silveira 1999), dando coerncia s mudanas de percepo sobre a maricultura em diferentes locais. Machado (op cit.: 164) constatou que a introduo dessa prtica na localidade de Ribeiro da Ilha (Municpio de Florianpolis) suscitou mudana da estrutura produtiva e melhoria da qualidade de vida local, mesmo que, no perodo estudado, essa atividade no acrescentasse mais do que um salrio mnimo renda das famlias envolvidas.

    3. Interaes entre universidade e tecido produtivo: o vesturio

    Embora sem termo de comparao com outras regies catarinenses onde as atividades txteis e vestuaristas tm presena histrica, Florianpolis e sua rea registram produo de artigos de vesturio. Trata-se de fabricao de artigos de moda diversificados, vendidos em mercados principalmente locais e regionais.

    Muito do que se observa nesse setor em tal regio espelha iniciativa da ad-ministrao municipal de Florianpolis em meados dos anos 1980, quando, no intuito de impulsionar a gerao de emprego e renda em local de poucas oportunidades, a Prefeitura criou projeto para promover fabricantes de roupas da rea, todos de micro e pequeno porte. Seu nmero era considervel, pois dados da Relao Anual das Informaes Sociais (RAIS) para o incio dos anos 1990 indicam que o Aglomerado Urbano de Florianpolis abrigava 279 desses estabelecimentos, com 2.287 empregados. Note-se que esses nme-ros captam s o lado formal de uma atividade notoriamente marcada por grande informalidade.

    Estratgica, porque sintonizada com a necessidade de fortalecer as atividades de conceber e criar produtos do vesturio, foi a abertura de um Bacharelado em Moda Habilitao em Design de Moda na UDESC, em meados dos anos 1990, mais precisamente em 1996. O funcionamento desse curso estar no centro desta abordagem posteriormente.

    Essas providncias foram seguidas por rpido crescimento do nmero de empresas nos primeiros anos. Estudo do Instituto de Planejamento Urbano de Florianpolis no final da dcada de 1980 indicou que novas empresas surgiram e muitos empregos foram criados (Perfil 1989). No Municpio de Florianpolis, o nmero de empregos captado pela RAIS aumentou 40% entre 1994 e 1996, passando de 802 para 1.127.

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    Mas essa indstria no atravessou sem percalos as mudanas macroeco-nmicas do Brasil nos anos 1990. A liberalizao do comrcio externo e a valorizao da moeda nacional multiplicaram as importaes, sobretudo de produtos asiticos mais baratos. Na regio de Florianpolis, esse processo, agravado por outros fatores internos, provocou o fechamento de vrias em-presas. A tabela 1, sobre o perodo 1994-2006, sugere os problemas criados por tal conjuntura. Logo aps o Plano Real (1994), essas atividades sofreram uma contrao s estancada no final daquela dcada. Dos quatro municpios que compem o seu aglomerado urbano, apenas Florianpolis exibiu cresci-mento nos empregos entre 1994 e 1996, talvez devido s aes anteriores de promoo dessa indstria. Mas logo depois, como se o flego se esgotasse, tambm esse municpio amargou declnio. A mudana na poltica cambial em 1999 trouxe recuperao a partir do incio dos anos 2000, sem que, todavia, houvesse retorno aos anteriores nveis de participao dessa indstria no total da indstria de transformao: em 1994, os empregos e estabelecimentos daquela representavam 1/5 e , respectivamente, dos empregos e estabeleci-mentos desta, e em 2006 essas propores tinham cado para 10,6% e 14,3%.

    A crise dos anos 1990 teve outras consequncias importantes. Pesquisa rea-lizada no seu auge sugeriu existir convico, entre os agentes envolvidos na produo vestuarista, de que as empresas em atividade eram quase sobrevi-ventes, beneficirias de estratgias adequadas (Lins 2002). Ou seja, uma certa depurao tivera lugar, mesmo que a predominncia de micro e pequenas empresas persistisse, em que pese a observada tendncia de relativa con-centrao: dados da RAIS informam que a presena das empresas com at 9 assalariados diminuiu e que a do estrato superior das microempresas (de 10 a 19 empregados) cresceu, espelhando uma forte contrao do nmero de estabelecimentos com at 9 empregados.

    Todavia importante destacar, antes de tudo, que parecem ter sido limitados os avanos em criao, pedra angular da competitividade na indstria de vesturio. Estudos que captaram aspectos dessa problemtica na segunda metade dos anos 1990 salientam as carncias e limitaes existentes, fruto da ausncia de progressos significativos mesmo diante das presses competitivas do perodo. Embora diversos agentes reconhecessem ser essencial desenvol-ver, em face da enxurrada de produtos importados baratos, o estilismo e a modelagem, para melhorar a presena no mercado, a situao era precria em nvel de firma ou de instituies envolvidas.

    No momento atual a situao no muito diferente, a julgar pelo que se mostra ser a tnica na capacitao empresarial. Rosa (2005) constatou mediante pes-quisa de campo que os fabricantes costumam incorporar novidades aos seus produtos, acompanhando as tendncias da moda. Contudo, as atividades de criao acontecem de forma extremamente centralizada (p. 82), querendo isso dizer que so quase prerrogativa dos proprietrios das empresas, mesmo que em alguns (poucos) casos as tarefas de pesquisa e desenvolvimento en-

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    volvam tambm estilistas, pertencentes ou no aos quadros de funcionrios. A grande maioria dos que realizam essas atividades (os proprietrios) no possui formao especfica e tem o seu conhecimento vinculado prtica cotidiana, to somente.

    TABELA 1. PARTICIPAO DA INDSTRIA TXTIL, DO VESTURIO E ARTEFATOS DE TECIDOS NA INDSTRIA DE TRANSFORMAO DO AGLOMERADO URBANO DE FLORIANPOLIS: 1994-2006

    FONTE: elaborado pelo autor com base nos dados da RAIS, de vrios anos

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    Esse quadro, assinale-se, corresponde a ambiente onde existe um importante curso superior de moda, implantado para formar profissionais justamente em estilismo e modelagem, atividades que representam o cerne do proces-so de criao. O aludido curso de moda da UDESC opera h quase quinze anos, interagindo com outras instituies ligadas produo de artigos do vesturio e com as prprias empresas. Destaque-se que o curso participa em diversos eventos de moda, como o Floripa Fashion, ocasio em que os alunos expem colees conceituais de sua concepo. Para a UDESC, aes desse tipo representam oportunidades para divulgar o seu papel na formao de profissionais de moda, na expectativa de favorecer a posterior absoro dos alunos pelo tecido produtivo.

    Ora, se o quadro referente criao o esboado acima, e, mais amplamente, se a aspirao de tornar Florianpolis um polo irradiador de moda, conforme manifestado por diferentes atores no auge da crise dos anos 1990, no resultou em situao que autorize comemorar resultados realmente expressivos, os vnculos entre as estruturas de formao de quadros tcnicos e profissionais, de um lado, e as empresas, de outro, devem ser postos em questo. A trajetria da indstria de vesturio local mostra o envolvimento, com particularidades que refletem os vrios perfis, de estruturas de formao profissional vinculadas a instituies como o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Servio Nacional do Comrcio (SENAC), alm de escolas privadas, todas primordialmente voltadas esfera tcnica (Lins 2000). Entretanto, haja vista o foco deste artigo cujo campo analtico so as interaes entre universidade e tecido produtivo , o curso de moda da UDESC que deve figurar no centro daquelas indagaes.

    O Bacharelado em Moda da UDESC oferece os contedos necessrios for-mao em moda e estilismo, capacitando os alunos para avaliar e incorporar as tendncias do processo de criao, em sintonia com a evoluo tecnolgica e as diferentes mudanas na indstria. Mas no se observa uma absoro efetiva dos egressos do curso pelo tecido empresarial da regio. Esse pro-blema apresenta-se duradouro. Pesquisa realizada junto aos egressos das duas primeiras turmas formadas pelo curso, em 2000 e 2001, constatou que menos de 10% da amostra de ex-alunos entrevistados trabalhavam como estilistas e/ou modelistas em empresas da regio que fabricam artigos de vesturio; cerca de atuavam como freelancers em criao e produo de moda ou de figurinos para teatro; e 36% eram docentes em cursos tcnicos ou superiores de moda (Overrath 2002). Esse quadro geral no mudou desde ento. Informaes obtidas pelo autor, em fevereiro de 2010, junto chefe do Departamento de Moda da UDESC indicam que, atualmente: a maioria dos egressos encaminha-se docncia em cursos tcnicos ou superiores de moda, em Florianpolis ou em outras cidades catarinenses; muito reduzida a percentagem dos que entram no setor produtivo, quer dizer, so contratados por empresas do setor vestuarista; essa proporo ainda menor quando se considera a contratao por empresas da regio de Florianpolis, pois os

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    poucos alunos bem sucedidos nesse processo tendem a trabalhar no Vale do Itaja, principal reduto das indstrias txteis e vestuaristas de Santa Catarina e um dos mais importantes do Brasil.

    A rigor, segundo constatou Rosa (2005) em empresas da regio de Florianpo-lis, h mesmo desconhecimento, no tecido produtivo local, sobre as atividades do programa de formao da UDESC. E o ponto principal a ser destacado que esse estranhamento no fortuito. Nas empresas, a principal necessidade de mo de obra (...) [refere-se quela] voltada para o processo de montagem, ou seja, (...) pessoas que entendam melhor o processo de preparao e costura das peas (Rosa & Torrinelli 2005: 61). O realce de aspectos dessa natureza, relativamente formao de recursos humanos em sintonia com os interesses dos fabricantes locais, transparece igualmente em outros estudos. Pesquisa realizada em 2009 junto a 14 empresas observou ser unnime a constatao de que no h disponibilidade de mo de obra qualificada na regio que possa atender s demandas das empresas, fazendo-se necessria uma maior oferta de cursos nas reas de qualidade, corte/costura e atendimento ao cliente (Souza 2009: 79).

    Entretanto, na formao que oferece, o curso de moda da UDESC tem priori-zado as etapas de criao e modelagem com nfase em questes conceituais, sem uma necessria articulao, portanto, com as reais necessidades das empresas. No admira, assim, que na pesquisa anteriormente mencionada se tenha constatado, nas empresas entrevistadas, a quase total ausncia de relaes de cooperao (...) [com] empresas concorrentes, centros tecnolgicos e universidades (Souza op cit.: 89 sublinhado na citao). evidente que isso aponta para problemas nas relaes entre universidade e tecido produtivo, do que decorre a observada dificuldade para o aluno egresso ser aceito no mercado de trabalho da regio de Florianpolis (Rosa & Torrinelli op cit.: 61).

    O curso , inegavelmente, um atributo estratgico do ambiente vestuarista local e regional. Um aspecto disso a sua interao com vrias instituies, uma das quais o SEBRAE-SC, o que favoreceu o acesso a especialistas para ministrar palestras aos alunos, e uma outra a FIESC, o que ajudou na atu-alizao do curso sobre o perfil dos fabricantes. Cabe ainda mencionar vn-culos com associaes de fabricantes, possibilitando alguma projeo rumo indstria por meio de palestras de professores e exposies dos trabalhos dos alunos das ltimas sries. Como indicado, o curso participa de eventos de moda organizados pelo empresariado, como nas diversas verses do Beira Mar Fashion, estando o seu destaque sugerido pelo fato de no raramente caber-lhe a abertura dos desfiles, pautada na explorao do conceito de moda (Viana 2001).

    Mas isso no altera a situao de precrio entrelaamento entre o curso e a indstria de vesturio local. De um lado, tal problema estaria representando limitaes insero do curso na realidade socioeconmica local e regional, certamente com prejuzo para o prprio curso. De outro lado, sugere que o

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    tecido produtivo deixa de se beneficiar das potencialidades locais no tocante gerao de quadros funcionais que representam possibilidades de upgrade produtivo, inclusive na perspectiva da inovao.

    O percurso cumprido pelo curso, no tocante relao entre formaturas e abandonos de alunos, parece espelhar esses problemas. A figura 3 apresenta o nmero de alunos formados a cada ano desde a primeira turma, que ingressou em 1996, e o nmero de abandonos. A primeira formatura ocorreu no primeiro semestre de 2000, pois o curso semestral, mas preferiu-se apresentar os dados de cada ano, pela soma dos semestres. O quadro que emerge exibe, grosso modo, um abandono para cada duas formaturas: entre 2000 e 2009 houve 269 formaturas e 140 abandonos. Claro que essa relao no fixa. Por exemplo, enquanto em 2001 os abandonos superaram consideravelmente as formaturas, em 2004 receberam o diploma 39 alunos, contra apenas 5 evases.

    FIGURA 3. NMERO DE ALUNOS FORMADOS E DE ABANDONOS NO BACHARELADO EM MODA HABILITAO EM DESIGN DE MODA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (2000-2009)

    FONTE: elaborado pelo autor com base nos dados fornecidos pela secretaria do Bacharelado em Moda Habilitao em Design de Moda da UDESC

    4. Interaes entre universidade e tecido produtivo: ma-ricultura versus vesturio

    Em texto idealizado para estimular o debate sobre as interaes entre uni-versidade e mundo empresarial no Brasil, Chaimovich (1999) indica ser uma

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    responsabilidade da primeira, inserida em (...) sociedade com profundas desigualdades sociais, incentivar relaes com empresas que possibilitem gerao de empregos e aumento de renda (p. 22). justo considerar que, pelo menos no plano das intenes, inscrevem-se nessa lgica os papeis desempe-nhados na regio de Florianpolis pela UFSC e pela UDESC, relativamente expanso da maricultura e ao fortalecimento da capacidade local para criao na indstria de vesturio, nessa ordem.

    Mas, como observado, essas experincias de interao entre universidade e tecido produtivo apresentam-se bem distintas na maricultura e na indstria de vesturio, quer nos contornos e no escopo dos vnculos, quer nas suas repercusses e nos seus resultados.

    Na maricultura esteve desde sempre presente o sentido de rede, com trocas sistemticas de informaes entre a esfera do conhecimento cientfico e a do conhecimento tradicional, esta segunda abarcando prticas das comunidades litorneas impregnadas de histria e cultura. Tal sentido de rede significou fertilizao recproca entre as atividades de pesquisa desenvolvidas na UFSC, em mbito laboratorial, e as atividades de cultivo protagonizadas nas dife-rentes localidades onde lograram obter xito os esforos da EPAGRI voltados introduo e disseminao desse novo setor. O duradouro desempenho da UFSC na proviso de sementes de moluscos representa um importante cimento desse entrelaamento.

    Na indstria de vesturio, o sistema de ensino e pesquisa, focalizando prio-ritariamente o conceito de moda e exibindo uma forte presena da experi-mentao, no conseguiu o pretendido inter-relacionamento com a rbita da produo. Para as empresas, o ensino e a pesquisa disponibilizados no curso de moda da UDESC no contemplariam devidamente as suas necessidades, sendo possvel falar em dissociao entre o que parece ser o interesse da universidade e o interesse da esfera produtiva. Assim, essas interaes entre universidade e tecido produtivo mostrar-se-iam crivadas de uma aparente intransigncia da primeira quanto flexibilizao do perfil conceitual e ex-perimental da formao oferecida, de uma parte, e pela relutncia da segunda frente aos riscos inerentes contratao de profissionais no claramente harmonizados com as urgncias empresariais, de outra parte.

    Tudo indica que essa fraca interao entre o Bacharelado em Moda da UDESC e as empresas vestuaristas locais resulta, ao menos parcialmente, de problemas vinculados comunicao entre agentes. Comunicao, aqui, no se refere a, simplesmente, dar a conhecer a sua existncia: no h dvida de que o tecido empresarial vestuarista da regio sabe que o curso de moda da UDESC existe, a julgar pelos registros de participao de professores e alunos das ltimas fases em variados tipos de atividades promovidas pelas iniciativas privada e pblica (Rosa 2005). Por comunicao quer-se aludir, isto sim, problem-tica da compatibilidade ou da sintonia entre as prticas dos agentes, assim como adequada explicitao destas. Assinale-se que esta uma importante

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    questo do debate sobre interaes entre universidade e tecido produtivo na perspectiva da Hlice Tripla, abordada na segunda seo deste artigo. A passagem abaixo ajuda a situar o problema.

    O estudo da Hlice Tripla requer um modelo que complemente a perspectiva institucional com um foco em operaes interativas em nvel de sistema. As estruturas institucionais podem ser consideradas como as impresses digitais de estruturas de comunicao que foram funcionais at agora. Todos os atores e agncias envolvidas so reflexivos, quer dizer, ajustam recorrentemente suas posies levando em conta barreiras institucionais e oportunidades. Competncias comunicativas (...) tornam-se to importantes quanto realizaes em cada uma das hlices (Leydesdorff & Etzkowitz 1996:283).

    Nas interaes entre o curso de moda da UDESC e a indstria de vesturio da regio de Florianpolis, as competncias comunicativas (conforme o sentido de comunicao aqui empregado) encontram-se, ao que parece, em questo. No se trata, certamente, de problemas ligados traduo de uma lingua-gem setorialmente especfica ou presena de mensagens culturalmente codificadas, como acontece entre agentes pertencentes a esferas ou setores marcadamente distintos. Afinal, o curso e o referido tecido empresarial pos-suem um s e mesmo objeto, praticamente: a produo de artigos de vesturio, com as diferentes questes envolvidas. Mas, do ponto de vista institucional, h diferena entre a linguagem da universidade e a linguagem dos negcios, quer dizer, h aparente dissociao, ao que tudo estaria a indicar, entre o interesse desse curso de moda e o que nesse se realiza e o interesse do tecido empresarial e o que nele se realiza. Esse hiato, que na perspectiva da Hlice Tripla se poderia chamar de comunicativo, figuraria na base do problemtico quadro de interaes entre universidade e tecido produtivo no caso em foco.

    H razes para imaginar que a situao distinta na mais importante regio txtil e vestuarista de Santa Catarina, o Vale do Itaja. So aspectos inega-velmente sugestivos a criao e o funcionamento, na estrutura do SENAI de Blumenau principal cidade da regio e centro de gravidade de um verda-deiro cluster txtil e vestuarista , de um Centro de Tecnologia do Vesturio (CTV) sintonizado com as exigncias derivadas das mudanas pelas quais tem passado a cadeia produtiva txtil em escala mundial (em que a moda e as funes implicando criao, como estilismo e modelagem, adquiriram um enorme peso). Essencial para o que interessa neste artigo que, de um lado, o CTV oferece cursos em nvel de graduao (Bacharelado em Moda) e de ps-graduao (...), cursos superiores de tecnologia (...) e vrios outros cursos tcnicos, de aprendizagem industrial e de qualificao (Lins 2008: 358), e, de outro lado, que entre os usurios das diversas atividades desen-volvidas pelo CTV figuram empresas importantes (...) como Karsten, Hering e Marisol (...) (idem).

    Na maricultura, o nvel de comunicao atingido entre os agentes implicados

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    (comunicao entendida, repita-se, na perspectiva utilizada neste artigo) sugerido pelos resultados da prpria atividade de cultivar moluscos, ante-riormente destacados. De fato, o desenvolvimento registrado indissocivel das interaes entre a UFSC e a EPAGRI e entre estas e os produtores de moluscos. Aparece como subentendida uma aproximao das linguagens, sem o que a trajetria percorrida no teria sido possvel. nesse marco que cabe considerar aspectos como a permanente e regular disponibilizao de sementes de ostras pelo LMM/UFSC e a adequada obteno de sementes de mexilhes atravs de coletores, assim como o aperfeioamento dos maricul-tores relativamente ao manejo da produo.

    Mas no h somente aspectos positivos nas interaes em torno da mari-cultura. As tentativas de EPAGRI objetivando organizar os produtores em cooperativas nem sempre talvez s minoritariamente alcanaram o xito pretendido pela instituio. Ligadas a unidades de beneficiamento, as cooperativas auxiliariam a equacionar problemas de comercializao dos moluscos, causados ou agravados por limitaes de infraestrutura para be-neficiamento e armazenagem que impem a venda para intermedirios, em detrimento de maiores ganhos para os produtores. O escasso interesse, ou mesmo a resistncia, dos produtores representou frustrao dessa iniciativa, a ponto de a prpria EPAGRI estampar entre os chamados pontos fracos do cultivo comercial de moluscos em Santa Catarina a fragilidade da estrutura organizacional da classe (www.epagri.rect-sc.br). Pode-se considerar que se est diante de problemas de ordem comunicativa entre as esferas institu-cional e produtiva.

    De todo modo, a experincia da maricultura estaria a reiterar a postulao, apresentada na segunda parte do artigo, de que as interaes entre univer-sidade e tecido produtivo costumam ser mais consequentes na escala local ou regional. A trajetria do cultivo de moluscos, inegavelmente escorada em entrelaamento dessa natureza, representa alguma mudana em estruturas comunitrias litorneas, abrindo perspectivas at ento ausentes em matria de gerao de renda e ocupao. J no setor de vesturio, as repercusses dos vnculos entre universidade e tecido produtivo ainda esto por ser testemunha-das. Carece ainda de demonstrao, com efeito, a incrustada potencialidade para imprimir dinamismo em setor de atividade que, pela sua estrutura e por suas caractersticas, exibe clara capilarizao social, ou seja, alguma disseminao ao nvel das localidades.

    Consideraes finais

    As trajetrias recentes da maricultura de moluscos e da produo de artigos de vesturio, dois setores de atividades da regio de Florianpolis que foram objeto de inequvocas medidas de apoio institucional nas ltimas dcadas,

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    podem ser consideradas no marco das relaes entre universidade e tecido produtivo, como se destacou no estudo. Entretanto, essas duas experincias setoriais exibem casos bastante diferentes relativamente a tais vnculos: interaes densas e duradouras, amplamente consequentes, na maricultura, e interaes rarefeitas e errticas, com escassos resultados aparentes, na indstria de vesturio.

    A diferena parece implicar, em grande medida, problemas de dilogo entre as esferas envolvidas em ambos os percursos. Enquanto na maricultura, pelo que se observa, a comunicao entre UFSC, EPAGRI e produtores fluiu e flui adequadamente, mostrando-se multilateralmente profcua, no vesturio as diferenas de linguagens, querendo-se aqui falar de prticas e interesses, entre a universidade e o tecido empresarial revelaram-se um forte obstculo.

    Assim, para o vesturio, aproximar as esferas universitria e empresarial mediante projees recprocas, ainda que com a possvel intermediao de agentes governamentais, seria procedimento estratgico. Estratgico no s para o fortalecimento desse setor de atividade e para uma melhor insero social do Bacharelado em Moda da UDESC, mas, sobretudo, no sentido de contribuir para o desenvolvimento local e regional. Isso importante em ambiente que necessita, tendo em vista o rpido crescimento populacional das ltimas dcadas, o aparecimento contnuo de novas oportunidades de trabalho e fontes de renda.

    Na maricultura, no obstante os resultados obtidos, problemas de comunica-o, no sentido privilegiado no artigo, entre as esferas institucional (EPAGRI) e produtiva precisam ser equacionados no que toca criao de cooperativas de produtores, objetivando massificar a adeso dos maricultores distribudos nas distintas localidades litorneas participantes. Avanar ainda mais nesse setor, com adequada infraestrutura para beneficiamento e armazenagem e com capacidade de comercializao desvinculada da forte presena de intermedi-rios, certamente significar um considervel impulso ao desenvolvimento local e regional.

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    Recebido em: 28 de setembro de 2009

    Primeira resposta em: 23 de novembro de 2009

    Aceite em: 18 de maro de 2010