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    A REDAO DE CONTRATOS

    Flvia Lubieska N. Kischelewski

    Resumo: O artigo tem por objetivo apresentar os principais aspectos queenvolvem a redao de contratos. Esse assunto muito pouco explorado nadoutrina jurdica brasileira, justificando, assim, a importncia do tema escolhido.A escrita contratual deve ser em prosa, sendo caracterizada pela clareza,acuracidade, simplicidade, brevidade e profissionalismo. Antes mesmo de seiniciar a escrita do contrato, o advogado deve se aprofundar no estudo dalegislao pertinente, de acordo com o negcio travado por seu cliente.

    preciso que se questione e se imagine todas as circunstncias que poderoocorrer durante a execuo do contrato, pois as regras aplicveis a cadapossvel evento devero estar previstas no instrumento firmado. Tambm devese ter em mente que o contrato no atingir apenas as partes contratantes,mas tambm terceiros, que variaro de acordo com o objeto contratual. Antesde se iniciar os trabalhos, recomendvel que se faa um check-list, issoauxiliar na construo de um plano de redao para a organizao da minuta.Uma vez feito o primeiro esboo, o advogado deve revisar vrias vezes o queescrever, de preferncia, em conjunto com seu cliente. O preo da m redaode um contrato pode custar a perda do cliente ao advogado e, ainda, grandesprejuzos ao cliente. Como sabido, muitas aes em curso no judiciriobrasileiro so frutos de contratos mal redigidos.

    Palavras-chaves: Direito. Contratos. Redao. Tcnica.

    Introduo

    O presente artigo tem por objeto analisar a importncia da redao decontratos, estudando, sucintamente, os principais cuidados que precisam seradotados pelos advogados nesse trabalho.

    Sem adentrar no estudo das teorias jurdicas que cercam a formao docontrato, sero estudadas as caractersticas que norteiam a escrita dosinstrumentos contratuais.

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    A importncia do tema eleito reside no fato de que o texto acordadodeve refletir fielmente os interesses dos contraentes, constituindo, inclusive,forma de prevenir eventuais litgios.

    No Brasil, todavia, parece-nos que dada pouca ateno a esse

    assunto. Os estudantes de direito aprendem nas faculdades sobre a teoria dasobrigaes contratuais e extracontratuais, estudam as formas de dirimir emjuzo os conflitos oriundos dos contratos, porm, em regra, nada aprendemacerca da redao de contratos. Nessa esteira, h pouca literatura produzidalocalmente dedicada a esse tema.

    Assim, sem pretenso de ser o presente artigo um manual sobre otema, trataremos sucintamente acerca das principais caractersticas presentesna tarefa da redao de contratos. Apresentaremos, ainda, alguns cuidadosque so necessrios antes mesmo de se iniciar a confeco de uma minuta,bem como algumas tcnicas que podem auxiliar aos juristas que queiram seaperfeioar na arte da redao contratual.

    1 As Caractersticas Para a Redao de Contratos

    O professor norte-americano de direito Haggar defende que todo bom

    jurista, especialmente aquele dedicado redao de contratos, deve possuircinco caractersticas bsicas: acuracidade, clareza, brevidade, simplicidade etom adequado.

    Em resumo, o autor ensina que a acuracidade consiste em mais do queser preciso e em se revisar as minutas. necessrio que o que se escreveucorresponda exatamente aos objetivos de seu cliente. O texto pode estar bemescrito, no ter quaisquer sortes de erros e ainda ter uma srie de proteespara os envolvidos, porm pode pecar na ausncia da descrio dosverdadeiros objetivos que vinculam as partes. Assim sendo, a descrio e o

    cumprimento das obrigaes estabelecidas pelas partes podem ficarprejudicados.

    Com relao clareza, necessrio que a linguagem contratual sejadireta, sem frases truncadas. O texto deve ser em prosa e a linguagemafirmativa. No h espao para retrica, o que no quer dizer que, por vezes,no seja conveniente que algumas sentenas beirem a redundncia, no intuitode serem efetivamente precisas e claras. Aqui no se trata de uso excessivo oude se ser repetitivo, mas de preciosismo na linguagem para evitarambigidades.

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    Com equilbrio, no haver conflito com a caracterstica da brevidade,visto que no existe uma regra que estabelea uma quantidade de palavrasnem um limite de clusulas. Isso somente poder ser aferido frente aocontedo do contrato e ir variar conforme a complexidade de seu objeto.

    A brevidade est relacionada a cortar o suprfluo. Segundo Haggar,deve-se ter um cuidado especial com relao brevidade para que essa noseja elevada ao extremo. Nesse sentido:

    If an idea can be expressed in a single 26 word sentence, then do it that way.But if that idea requires six paragraphs for full expression, then anything short of

    that would be inadequate. The answer to the question, How long should it be?

    Is very simple: long enough and not one word longer (Haggar, 1996, p.6-7).

    Enquanto brevidade significa aqui se expressar com o mnimo de

    palavras possveis, simplicidade implica em dizer o que necessrio na formaem que apresentada.

    Haggar ensina, tambm, que o tom da linguagem a ser utilizada deveser aquele de uso profissional. O jurista deve deixar de lado a escritarebuscada e pomposa, da mesma forma que as grias e palavras coloquiais.Tampouco h espao para o jurista expor suas impresses pessoais.

    Essas caractersticas, quando presentes, ajudaro na redao docontrato. Para se ter certeza se elas esto presentes, recomenda-se revisar o

    contrato quantas vezes forem necessrias, a fim de se verificar se tudo o que preciso foi includo, se no h erros ou repeties, etc. aconselhvel que ocliente tambm revise a minuta contratual, pois ele quem conhece o negcioque se est ajustando e quem se vincular ao termo redigido, sofrendo suasconseqncias, sejam elas benficas ou no.

    2 O Conhecimento da Legislao

    Juntamente com a teoria geral das obrigaes, imprescindvel que oadvogado conhea a legislao que cercar o contrato que se quer redigir.

    As espcies de contratos mais comuns foram regulamentadas peloCdigo Civil; so os chamados contratos tpicos. As disposies legais auxiliamna construo do contrato, pois so um norte para o advogado, associada teoria geral das obrigaes.

    Alm dos contratos em espcie referidos no Cdigo Civil, h ainda

    ampla legislao esparsa que regula determinadas contrataes, como a Leide Locao, por exemplo. No basta apenas conhecer a lei, preciso entend-

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    la e saber aplic-la. Por exemplo, importante que o advogado saiba que a Leide Locao no usada para contratos em que um apart-hotel cedido aterceiros. Nesse caso, a Lei de Locao no aplicvel, devendo serempregadas as regras para contratos de hospedagem.

    Deve-se ter cuidado com a legislao, sob pena de se ter um contratoparcial ou totalmente nulo. Alm disso, um dispositivo contratual ilegal podegerar responsabilidades cveis e criminais s partes. At mesmo a omisso dealguma clusula contratual, pode, em funo da legislao, gerarconseqncias.

    Existem, ainda, detalhes especficos que precisam ser consideradosquando da preparao de um contrato. No que tange os contratos de adeso,por exemplo, o legislador recentemente demonstrou preocupao em protegeros consumidores, fixando que sua escrita deve ser clara e o tamanho da fonteempregada no pode ser inferior ao corpo doze1.

    Nesse caso, no basta apenas se preocupar com o tipo do contrato e oseu contedo, necessrio tambm se atentar ao tamanho da fonte naredao do contrato, pois o legislador visou barrar o uso das chamadas letrasmidas. Alis, aqui cabem parnteses, visto que, para alguns, somente fixar otamanho da letra no seria suficiente para proteger o consumidor, vez queacreditam que faltaria, ainda, precisar o tipo da fonte.

    No entanto, embora essa proteo para os consumidores seja

    importante e no deva ser desprezada, entendemos que a principalpreocupao com relao a todo e qualquer contrato deve recair sobre o seucontedo. nesse contexto que deve figurar o advogado redator de contratos,apto a construir acordos e analisar minutas que reflitam a vontade de seusclientes, em conformidade com a legislao aplicvel.

    Ainda no campo das relaes de consumo, deve-se ter em mente asquestes relativas ao uso da arbitragem nos contratos de adeso. O Cdigo deDefesa do Consumidor classifica como clusula abusiva e, portanto, nula a

    estipulao da obrigatoriedade da arbitragem em contratos de adeso

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    . Issono quer dizer que a arbitragem seja vedada em contratos de relao deconsumo, ela vlida desde que seja voluntria, assim como em qualquersorte de contrato. Nesse sentido, a Lei de Arbitragem (Lei n 9.307/1996),

    1Reza o 3, do artigo 54 do Cdigo de Defesa do Consumidor, com redao dada pela Lei n

    11.785/2008: Os contratos de adeso escritos sero redigidos em termos claros e com caracteres

    ostensivos e legveis, cujo tamanho da fonte no ser inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua

    compreenso pelo consumidor.2

    O inc. VII, do art. 51 do Cdigo de Defesa do Consumidor dispe que so nulas de pleno direito, entreoutras, as clusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e servios que determinarem a

    utilizao compulsria de arbitragem.

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    inclusive, disciplina a forma adequada para insero vlida da clusulacompromissria nos contratos de adeso, como est disposto no art. 4, 2:

    2. Nos contratos de adeso, a clusula compromissria s ter eficcia se o

    aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar,

    expressamente, com a sua instituio, desde que por escrito em documentoanexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa

    clusula.

    Outro aspecto importante no conhecimento da legislao diz respeito aplicao das regras hermenuticas de interpretao contratual. o caso datcnica poermittitur quod non prohibetur, segundo a qual tudo o que no proibido, presumido permitido. Sendo assim, se no h vedao legal, aspartes podem estabelecer livremente as diretrizes que se aplicaro ao contratoque visam firmar.

    3 O Uso Adequado das Palavras

    A habilidade com o uso das palavras caracterstica essencial noexerccio da redao de um contrato. O advogado deve ter amploconhecimento acerca do significado das palavras que emprega. Um termo ou

    expresso mal empregado pode comprometer a interpretao contratual e,conseqentemente, o cumprimento das obrigaes pelos contraentes,ensejando o surgimento de conflitos entre as partes.

    Essa habilidade tambm deve estar presente com relao s regrasgramaticais. Deve-se atentar ao correto emprego da pontuao. Cabe cuidar,por exemplo, da insero adequada do conector e para somar oraes, nolugar do conector alternativo ou, que, em vez de agregar, tem carterexcludente.

    A problemtica causada pelo uso inadequado da pontuao, porexemplo, freqentemente vista quando se questiona a interpretaolegislativa, onde comum se ter longas discusses sobre o que o legisladorquis dizer ou no. a busca das chamadas brechas na lei ou de novasinterpretaes, que acabam por gerar infindveis discusses no Judicirio eque podem tambm ocorrer com relao interpretao contratual.

    O cuidado com o uso das palavras ajuda, igualmente, a evitar apresena de ambigidades, que podem surgir quando uma palavra temmltiplos sentidos (polissemia) ou, ainda, quando um dispositivo prev uma

    situao contrria a outro dispositivo contratual, presente no mesmo

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    instrumento. Alis, esse cuidado deve ser redobrado quando se estiver dianteda redao de um contrato em lngua estrangeira.

    O conhecimento das palavras e de seus significados permite aoadvogado estabelecer conceitos internos aplicveis na interpretao do

    contrato. A tcnica de conceitualizar ou fixar conceitos serve para eliminar ouso exagerado de expresses repetidas, tornando o texto contratual maisobjetivo e preciso.

    Os dispositivos contratuais devem ser enxutos, deixando-se de lado, porexemplo, o uso de adjetivos, que apenas qualificam outras palavras, no,necessariamente, contribuindo para traduzir a vontade das partes. O uso deadjetivos costuma ser pernicioso em razo da subjetividade que carregam,recomendando-se, ento, o seu no uso.

    No existe uma regra especfica que indique o tamanho exato de umcontrato ou de uma clusula. Cada sentena deve conter tantas palavrasquanto forem necessrias para exprimir a idia que se quer transmitir. Se forpossvel, substitu-la por um nmero menor de palavras ou condensar frases, recomendvel que isso seja feito, desde que o sentido da clusula no sejacomprometido.

    O bom sendo deve imperar, pois no h como deixar de lado eventuaisprotees contratuais apenas para se simplificar o contrato. Por outro lado, denada serve um contrato exageradamente extenso, prevendo inmeros eventos

    e a forma de lidar com cada um deles, se tais eventos em nada se relacionamao objeto contratual.

    Por melhor escolhidas que sejam as palavras, preciso que elas sejambem empregadas e sejam realmente teis composio contratual.

    4 Preparando a Redao de um Contrato

    Antes de se redigir um contrato, importante que o advogado se cerquede todas as informaes existentes sobre a negociao feita entre seu cliente ea(s) outra(s) parte(s).

    Todos os fatos e circunstncias atuais devem ser conhecidos, bemcomo futuros possveis eventos devem ser considerados. O mbito em que seinsere o acordo estabelecido tambm deve ser considerado. O advogado deveexplorar amplamente o contexto legal e o ftico que envolve o instrumento aser redigido.

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    No pode o advogado se limitar aos seus conhecimentos jurdicos, preciso que ele se aprofunde tambm no ramo de negcios explorado por seucliente. Se, por exemplo, o cliente for uma construtora, o advogado no precisaentender tudo de engenharia, mas o contrato ser melhor redigido se o juristacompreender as nuances e os desdobramentos das obras civis feitas por seucliente para a implantao do empreendimento.

    importante identificar precisamente qual o propsito do contrato, se visando prevenir, garantir, constituir ou mesmo encerrar uma situao. Nesseprocesso, o advogado deve fazer todas as perguntas que julgar necessrias aoseu cliente e que forem pertinentes contratao. Essas perguntas devem serno sentido de evitar problemas futuros, de forma que o contrato contemplepreventivamente a forma de soluo de aspectos que poderiam causarimpasses entre as partes.

    Pode-se discutir, por exemplo, a forma de penalizao das partes peloinadimplemento contratual ou buscar estabelecer eventos tidos como especiaise que no sero vistos como descumprimento das obrigaes. Esses tpicosgeralmente no tero sido debatidos entre os contraentes nem figuraro daspropostas tcnico-comerciais, cabendo, ento, ao advogado suscit-las junto aseu cliente.

    um verdadeiro exerccio intelectual, como aponta Haggard:

    Drafting is one of the most intellectually demanding of all lawyering skills. Itrequires a knowledge of the law, the ability to deal with abstract concepts,

    investigative instincts, an extraordinary degree of prescience, and

    organizational skills (Haggard, 1996, p.10).

    O advogado deve buscar, junto a seu cliente, respostas quelasperguntas bsicas do gnero: Quem? Quando? Como? Quanto? Onde? E se?Por qu? Se um evento razoavelmente previsvel, o contrato deveestabelecer como as partes agiro se tal situao se concretizar. Cabe, aqui,visualizar como ser a vida do contrato, a sua execuo futura. O advogado

    precisa prever e julgar os acontecimentos possveis.Uma ferramenta que pode ajudar a obter todas as respostas junto ao

    cliente, evitando que se deixe algum ponto descoberto, o uso de um check-list que, posteriormente, servir para se montar o plano de redao docontrato3.

    3Arajo segue essa metodologia ao apresentar um modelo de check-list para negociao de contratos

    internacionais, em sua obra Direito Internacional Privado: teoria e prtica brasileira (Rio de Janeiro:

    Renovar, 2003, p.447). Embora o modelo tenha sido desenvolvido para abranger as cautelas necessrias

    elaborao de um contrato internacional, o modelo apresentado pode ser facilmente adaptado a umcontrato domstico.

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    O check-list pode ser construdo tomando-se por base, primeiramente,as disposies legais que cercam o negcio, bem como as questesobrigatrias e essenciais que foram negociadas entre as partes. Usar bonsmodelos de contratos como referncia tambm pode ser til na elaborao docheck-list. No entanto, deve-se cuidar com os modelos que serviro desubsdio, para que esses no sejam falsos amigos.

    5 A Organizao do Contrato

    A organizao de um contrato importante para sua interpretao eexecuo. Para que isso seja possvel, cabe ao jurista elaborar, primeiramente,

    um plano, com base no check-listou mesmo mentalmente, antes de se redigiro contrato.

    Define-se, ento, um plano, estabelecendo a diviso dos assuntos,classificando-os em categorias como, por exemplo, objeto, descrio dosservios, remunerao, condies gerais, etc. Nessa etapa, para cadacategoria, ao lado pode-se fazer um resumo do que ser discutido ali, isto , oque se pretende tratar em determinado captulo ou clusula do contrato. Essadiviso gerar um ndice sistemtico que direcionar a ordem a ser seguidapara a escrita do contrato.

    Essa ordem, geralmente, acompanha a forma de execuo doscontratos. Num contrato de prestao de servios, ilustrativamente, primeiro seescreve sobre o objeto, depois acerca da forma de execuo dos servios,fixando as obrigaes das partes, incluindo-se aquelas especiais, em seguidadefine-se o preo e a forma de pagamento, segue-se, ento, para ascaractersticas especiais do negcio, como condio de aceitao dos servios,inexistncia de vnculo trabalhista entre as partes, confidencialidade, etc.

    importante que o contrato siga uma ordem lgica, da a sua diviso

    mnima em clusulas. Contratos mais complexos so, por vezes, divididos emsees, ttulos e/ou captulos. Ao se fazer tal diviso, que pode ser acrescidapor uma denominao especfica para a clusula ou captulo, por exemplo, ojurista indica os temas a serem tratados naquela parte do contrato.

    Alis, se a denominao das clusulas ou captulos for adotada, todasas questes afetas quele tema devem estar naquele espao. A insero detemas afetos a um determinado captulo, mas que estejam colocadascuriosamente em outras sees do contrato pode ser um indcio de m-f,vez que se pode estar tentando induzir a outra parte em erro, ao se tentar

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    esconder dispositivos contratuais. de se cogitar, nesses casos, apossibilidade de anulao desses dispositivos dispersos, principalmente, noscontratos de adeso.

    6 A Identificao do Pblico do Contrato

    A identificao do pblico que ser atingido pelo contrato algofundamental e que tambm deve ser considerada cuidadosamente na redaodo contrato. Ao contrrio do que se possa imaginar, um contrato atinge muitomais destinatrios do que apenas os contratantes. Isso quer dizer que ummesmo contrato poder ser usado com diferentes finalidades.

    Como exemplo, usemos uma situao em que uma empresa visa aconstruir uma usina hidreltrica. O contrato para a construo doempreendimento poder variar desde uma empreitada simples somada aoutros contratos de fornecimento e montagem eletromecnica, entre outros, atum contrato nico e robusto na modalidade EPC.

    Seja qual for o modelo adotado, o contrato de construo ter comopblico, primeiramente, as partes envolvidas, que so os destinatrios diretos.A empresa est interessada na execuo do empreendimento, nas garantias

    da construo e na forma de pagamento.O construtor, de seu lado, ter no contrato um manual a ser cumprido,

    juntamente com a execuo do projeto. O engenheiro responsvel oucoordenador do contrato ser o guardio do cumprimento do contrato. Elerepresentar a construtora e garantir o cumprimento das obrigaes para quea construtora faa jus sua contra-prestao.

    Alm das partes, a instituio bancria usar o contrato para avaliar aconcesso de financiamento. As instituies ambientais, de seu lado, avaliaroos impactos causados pela construo contratada. Existiro, ainda,fornecedores, bem como subcontratados, que tambm devero agir de forma agarantir o cumprimento das obrigaes contratuais assumidas pela construtora.E tantos outros formaro o pblico do contrato firmado. At mesmo um juiz ouTribunal Arbitral ser pblico do contrato caso seja necessrio dirimir algumconflito, estabelecer responsabilidades e definir valores devidos de uma parte outra.

    Sendo assim, quando da redao do contrato, deve-se lembrar que oinstrumento escrito dever ser compreensvel tambm para terceiros.

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    7 Concluso

    O tema da redao de contratos pouco explorado no Brasil, o que

    precisa ser remediado, posto que o preo da m redao de um contrato podecustar a perda do cliente ao advogado, alm de prejuzos diversos ao clienteque poder ter de discutir o contrato frente ao Poder Judicirio ou emarbitragem.

    A escrita contratual deve ser em prosa, sendo caracterizada pelaclareza, acuracidade, simplicidade, brevidade e profissionalismo. O uso de umplano ou de um check-listpodem ajudar o advogado na preparao de umaminuta.

    Na redao contratual, o advogado deve ser parceiro de cliente, paracompreender o negcio que se est travando, a fim de que o contrato reflitaexatamente os deveres e obrigaes de cada parte. Assim, a minuta docontrato deve ser revisada pelo cliente. Essa necessidade se intensifica noscasos em que o advogado no participou da negociao junto a seu cliente.

    preciso que os advogados se dediquem mais aos contratos,especialmente com sua redao. Isso se justifica quando vemos que boa partedos conflitos, especialmente no mbito empresarial, fruto de quebras decontrato e divergncias quanto interpretao de dispositivos contratuais.

    Por fim, deve-se lembrar que a atuao do advogado no se encerracom a redao do contrato. A execuo do contrato deve ser monitorada apssua assinatura. O advogado deve estar atento a mudanas na legislao ou nasituao do cliente que possam ensejar a reviso do contrato.

    Referncias

    Araujo, Nadia de. Direito Internacional Privado: teoria e prtica brasileira. Rio

    de Janeiro: Renovar, 2003.

    Haggard, Thomas R. Legal Drafting: in a Nutshell. St. Paul, Estados Unidos:West Publishing Co., 1996.

    Noronha, Fernando. O direito dos contratos e seus princpios fundamentais:autonomia privada, boa-f, justia contratual. So Paulo: Saraiva, 1994.

    Rodrigues, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declaraes unilaterais devontade. 19.ed. atual. So Paulo: Saraiva, 1989-1990, v.3.

    Wald, Arnoldo. Curso de Direito Civil Brasileiro: Obrigaes e Contratos. 4.ed.rev. e atual. So Paulo: Sugestes Literrias, 1974.