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Sapientiam Autem Non Vincit Malitia www.seminariodefilosofia.org Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permissão expressa do autor. 1 As doze camadas da personalidade humana E e as formas próprias de sofrimento Por OLAVO DE CARVALHO Introdução A camada é a síntese da personalidade, portanto cada passagem de camada a camada é uma mudança da personalidade inteira, ou seja, o conjunto adquire uma nova forma sem alterar suas partes. Para cada uma dessas mudanças, muda como um todo, e o todo só pode mudar em relação a alguma coisa e essa coisa não pode ser as suas próprias partes, portanto tem que ser em relação a algo que lhe esteja interno, no caso, externo à personalidade, e em relação ao qual esta vai assumir diferentes posições no percurso da vida. Portanto, o valor respectivo das partes começa a mudar e tem que haver algo que muda da valoração desses vários traços independentes, sem mudar de certo modo a estrutura de base, pois esta tem de ficar intacta, como se fosse uma máquina que, permanecendo a mesma, é usada com várias finalidades. Esse algo em relação ao qual ocorre a mudança da personalidade inteira é um novo objetivo da vida, um novo ponto de concentração focal de todas as energias, durante uma fase em que o indivíduo estará se esforçando para alcançá-lo. Nessas progressivas passagens de camada a camada, o que muda é o fim, o propósito a que se dirige o todo da personalidade. É um propósito diferente a cada época, e esse propósito em si mesmo nada tem a ver com a estrutura da personalidade, porque ele faz parte de um desenvolvimento ideal do ser humano ao longo da vida; é como se fosse um esquema da vida,

As Doze Camadas Da Personalidade Humana

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olavo de carvalho

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Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.1As doze camadas da personalidade humanaE e as formas prprias de sofrimentoPor OLAVO DE CARVALHOIntroduoA camada a sntese da personalidade, portanto cada passagem de camada a camada uma mudana da personalidade inteira, ou seja, o conjunto adquire uma nova forma semalterar suas partes. Para cada uma dessas mudanas, muda como um todo, e o todo s podemudar em relao a alguma coisa e essa coisa no pode ser as suas prprias partes, portantotem que ser em relao a algo que lhe esteja interno, no caso, externo personalidade, e emrelao ao qual esta vai assumir diferentes posies no percurso da vida. Portanto, o valorrespectivo das partes comea a mudar e tem que haver algo que muda da valorao dessesvrios traos independentes, sem mudar de certo modo a estrutura de base, pois esta tem deficar intacta, como se fosse uma mquina que, permanecendo a mesma, usada com vriasfinalidades.Esse algo em relao ao qual ocorre a mudana da personalidade inteira um novoobjetivo da vida, um novo ponto de concentrao focal de todas as energias, durante uma faseem que o indivduo estar se esforando para alcan-lo.Nessas progressivas passagens de camada a camada, o que muda o fim, o propsito aque se dirige o todo da personalidade. um propsito diferente a cada poca, e esse propsitoem si mesmo nada tem a ver com a estrutura da personalidade, porque ele faz parte de umdesenvolvimento ideal do ser humano ao longo da vida; como se fosse um esquema da vida,ou seja, um esquema do desenvolvimento temporal humano. a camada, portanto, que vai dar a finalidade do ato, e este s pode ser explicado atravsde sua finalidade.Esta Teoria das Camadas s pode ser entendida em termos de autoconscincia, e cadanova camada um novo padro de autoconscincia.Conscincia: S se entende a conscincia se entend-la como um valor, que umapossibilidade humana que no se realiza automaticamente; quando se a aceita como um valore a persegue, busca e deseja - ento ela se desenvolve.As camadas da personalidade correspondem a uma diviso cronolgica ou pelo menos auma escala de evoluo ideal, e cada camada abarca toda a personalidade, concretamente.Toda diviso cronolgica no separa partes do ser, mas etapas do tempo e subentende-seque o ser existe concretamente em cada uma dessas etapas; e que, alis, ele s se concrecionano tempo e no espao.As camadas podem ser:Camadas Integrativas - fecham a personalidade num quadro definido.So elas: 1 - 2 - 5 - 6 - 8 11.Camadas Divisivas - abrem a personalidade para o ingresso de influncias externas,rompendo o equilbrio anterior e desencadeando a luta por uma nova e superior integrao.So elas: 3 - 4 - 7 - 9 - 10 - 12.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.2At a Camada 8, todas esto presentes em todo indivduo adulto normal, segundo GastonBerger:CAMADA 1Carter Camada Integrativa. Astrocaracterologia.O corpo a precondio para que exista a personalidade; ele "anterior" personalidade,j est dado, pronto, no instante do nascimento, ao passo que a personalidade ser a resultantedo esforo de existenciao mediante a absoro progressiva dos elementos.CAMADA 2Hereditariedade, constituio, temperamento, estrutura pulsionalCamada Integrativa. Szondi (tipologias em geral)Este aporte biolgico primeira condio para que o corpo adquira existncia real econcreta. Para que este se realize, necessria a hereditariedade, a constituio, etc. Nestacamada h muitos elementos que, vindos "de fora", ingressam na constituio pessoal,favorecendo ou obstando sua realizao.A camada 2 engloba toda a hereditariedade, tal como revelada pelo teste de Szondi. Umrecm-nascido s pode sofrer ou do impacto de condies fsicas externas adversas ou detendncias mrbidas de sua prpria hereditariedade.CAMADA 3Cognio, percepoCamada Divisiva. Piaget, Kholer, Gestalt em geral, behaviorismo, Festinger; psicologia dalinguagem.Todas essas escolas acima se dedicaram a descrever o processo cognitivo, sua evoluo esuas vrias etapas. evidente que o processo cognitivo esquematicamente o mesmo emtodos os seres humanos, mas, sendo bastante complexo, ele introduz um elemento de variaono quadro delimitado pela hereditariedade. O que o indivduo vir a aprender, e como, algoque depende em parte da hereditariedade, em parte do meio ambiente, em parte da livrevontade do indivduo e em parte da lgica inerente ao processo cognitivo mesmo, a qual uma coisa totalmente independente da hereditariedade individual.Quando o indivduo penetra nesta camada, est se introduzindo um elemento de liberdadee de indeterminao no quadro anteriormente delimitado pela hereditariedade: nem todas aspessoas com as mesmas caractersticas hereditrias recebem as mesmas informaes. Ahistria do desenvolvimento cognitivo do indivduo deve ser contada independentemente dahereditariedade, pois esta no determina as oportunidades de aprendizado nem onipotente aodeterminar a capacidade de absoro.O momento em que se inicia o processo de aprendizado pode ser ocasio de erros,fracassos, mal-entendidos e humilhaes. Entre dois e sete anos de idade, a criana faz umesforo de aprendizado gigantesco, querendo continuamente aprender, no necessariamente oque os adultos querem ensinar, mas algo que a interessa. Isto significa que conseguir - ou no- compreender e dominar um assunto , nessa poca, muito importante para a criana.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.3As dificuldades inerentes ao aprendizado aparecem desde cedo, quando a criana aprendea andar, a falar, e sofre quando fracassa.A camada 3 representa os acontecimentos do cotidiano e possui um ritmo rpido. Ossofrimentos da camada 3 so relativos ao processo de aprendizado, tal como um exerccio quepode cansar ou irritar. Esta camada indica a aquisio de um domnio sobre a linguagem,sobre as significaes do meio no qual se vive.O motivo de sofrimento referente camada 3 da ordem do fracasso ou sucesso; umdesajuste entre a criana e ela mesma, entre o que ela pretende e o que de fato consegue fazer.Esse tipo de fracasso no deixa traumas, porque dura pouco tempo e a prpria evoluo doindivduo supera isso.CAMADA 4Histria pulsional e afetiva Camada Divisiva.Freud, Klein, psicanlise em geral.O padro afetivo do indivduo tem uma histria, ele provm das experincias vividas, quecristalizam aos poucos determinadas reaes, originando o "carter" tal como o entendeFreud, que como uma resultante da histria vivida, que canaliza os impulsos nesta ounaquela direo at consolidar um circuito so ou neurtico que tende a repetir-se.Essa histria pulsional e afetiva tambm pode ser estudada independentemente do carter,da hereditariedade e da histria cognitiva - mas evidente que, para conhecermos apersonalidade real e integral deveremos ir aos poucos inserindo cada camada na seguinte,conforme a ordem cronolgica de sua entrada em cena. medida que o tempo passa, surge a questo da felicidade e infelicidade, que no surgemais cedo porque, de certo modo, normal que o homem seja feliz. Para que uma crianamanifeste uma infelicidade profunda, e comece a lutar pela felicidade, preciso que algotenha lhe causado tristeza.A quarta camada entra em cena muito depois da terceira. A idia de que gostam dela ouno demora para ser formada, pois requer experincias repetidas ou alguma experinciafundamental que se torne marcante.Esta ltima se identifica com a biografia do indivduo e possui um ritmo mais lento que oda camada 3. Mesmo que uma criana disponha de todas as possibilidade para ter umacamada 4 bem resolvida, ainda assim ela pode sofrer por assuntos da camada 3. Umainaptido fsica para alguma finalidade, por exemplo, pode gerar enorme sofrimento, mesmoque o ambiente afetivo da criana seja timo.O sofrimento da camada 4 surge quando a criana descobre se feliz ou no. Isso s possvel se houver experincias e frustraes repetidas que a levem a se sentir amada ourejeitada. Os acontecimentos aqui representam ciclos extensos de vida, que demoram para seformar. Ultrapassada a infncia, tais acontecimentos moldam um padro afetivo que irmarcar o restante de uma vida.O desenvolvimento at a camada 4 quase inevitvel, exceto no caso do indivduoretardado mental, que no dispe de compreenso suficiente para ter uma relao afetiva. Elepossui uma afetividade, porm, latente, o que significa que o retardado mental desconhece osenso de rejeio de uma criana normal. Se ele for tratado como um cachorro, talvez nemperceba que h algo errado nisso. Se no houve uma camada 3 bem desenvolvida, a camada 4no se realiza. Todos os indivduos que no so retardados alcanam a camada 4. So pessoasSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.4que nunca se colocam em teste, pois fogem aos desafios. So os tmidos, os dependentes, queno querem vencer, que s querem ser amados. Na verdade, esses indivduos no precisam deamor, como imaginam, e sim de dificuldades para que possam comear a ter respeito por simesmos.Na histria afetiva dos indivduos, ocorre sistematicamente um descompasso entre anecessidade real e a necessidade alegada, o que conseqncia de uma discrepncia entre ascamadas dois e trs, ou seja, entre os impulsos e a disponibilidade de meios de comunicao.Se acontece de um sujeito ter presente uma necessidade no expressa e no atendida, istopode resultar, ao longo do tempo, que tal necessidade venha a ser substituda por outra, esta,sim, conhecida. Isto gera um equvoco que regra geral na vida de todos os seres humanos,que chegam na maturidade com inmeras necessidades esquecidas. Estas podem sersatisfeitas de forma simblica, o que evidentemente no funciona, pois seria o mesmo quesaciar a fome de algum, mas deix-lo com sede.A solicitao afetiva tanto maior quanto menos o sujeito tenha ingressado na camadaseguinte. Ele acredita que necessita de muito amor, de muito afeto, e no age em seu prpriobenefcio a no ser com o apoio alheio.Nesta camada, o indivduo se coloca como algum muito especial, que tem direito apraticamente tudo. Se a demanda de afeto continua pela vida afora isto significa que a camadano foi resolvida. Se o problema se localiza na esfera da carncia afetiva infantil, hnecessidade de psicoterapia. Sofrimento de camada 4 no se resolve sem ajuda especializada,pois preciso fazer o indivduo voltar a sentir emoes infantis que no so encaixveis noquadro da existncia adulta. Dentro de uma psicoterapia se pode revelar necessidades infantisque sero trabalhadas de alguma maneira. As exigncias de camada 4 no podem seratendidas no curso normal da vida adulta, requerendo portanto a criao de uma situaoartificial que isola o indivduo da realidade e, de certo modo, o devolve ao estgio infantil. Seo sujeito no passa para a camada seguinte (5) antes da idade madura vai necessitar depsicoterapia.Carncia afetiva s considerada normal em um meio doente. Segundo o INPS, 10% dapopulao brasileira so doentes mentais. Porm, o normal no pode ser determinado porestatstica, mas tem que estar de acordo com as exigncias do contato real individual. aresposta a uma necessidade que marca a normalidade e esta necessidade que impe umpadro de julgamento. Por exemplo, normal que um animal possa fazer tudo aquilo que sejanecessrio sua sobrevivncia, pois ele dotado pela natureza de meios para isto.Normalidade um conceito intuitivo, que se refere a algo que est funcionando e noreparamos. Nas relaes humanas quase impossvel alcanar esse nvel de normalidade. Onormal seria satisfazer as vrias necessidades com o mnimo de atrito ou dificuldade. Osprofissionais da Psicologia, Pedagogia, Astrologia, tm uma enorme responsabilidade nessaquesto, pois no podem aceitar um padro de sanidade to baixo como o do brasileiro.O indivduo que no passou da camada 4 requer uma psicoterapia, porque as necessidadesdesta camada no podem ser atendidas num adulto na situao normal da vida. A demanda deateno de um sujeito de camada 4 imensa, sendo preciso montar um ambiente teraputicoespecfico para isto.CAMADA 5Ego, autoconscincia e individuaoCamada Integrativa. Jung.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.5Toda a psicologia de Jung nada mais do que uma psicologia do ego e daautoconscincia; apenas uma resposta pergunta: Como me apreendo como indivduoautoconsciente e como esta autoconscincia se desenvolve desde as trevas da ignorncia at aapreenso dos arqutipos que determinam sua forma individual e seu destino?Quando na adolescncia, o sujeito comea a delimitar o seu espao vital, ele no podefazer isso se no tiver conscincia de si como entidade autnoma. Uma criana imagina terpoderes que na realidade no tem, atribuindo tambm a si os poderes do pai e da me. Ela nodelimita o espao vital prprio e, portanto, aglomera as pessoas em torno e dentro de umespao vital comum.Ao atingir a adolescncia, o indivduo compreende que autnomo, que deve resolverseus problemas sozinho. Ele percebe que no basta ser amado, que precisa desenvolver seupoder pessoal.O sentimento de desejar algo e no ter o poder pessoal de conquist-lo muito diferentedo sentimento de ser amado ou rejeitado. Mesmo que o sujeito fosse amado, isto noresolveria absolutamente nada. Sofrer por rejeio diferente de sofrer por no ter poder.A transio da camada 4 para a camada 5 ocorre quando o mais importante para oindivduo j no se sentir amado, mas sim conseguir algo com suas prprias foras. Nomomento em que muda esta clave, muda tambm a camada. Na camada 5 o sujeito se satisfazto logo demonstre seu poder, ainda que isto se realize numa esfera de atividadecompletamente intil. Uma pessoa de camada 5 julga tudo em funo de si mesma, noreparando em nada que esteja fora ou alm dela.Na camada 5 a fonte de sofrimento um autojulgamento depreciativo, no no sentidomoral, mas da capacidade pessoal; uma autodecepo. O nico modo de se ajudar umindivduo centrado na camada 5 psicolgico, porque qualquer ajuda material que se ofereapode contribuir ainda mais para o julgamento negativo que faz dele mesmo.Passar para a camada 5 problemtico, porque esta camada expressa uma vontade de seralgum, de testar a prpria fora, e um grande nmero de pessoas no chega a fazer isto,preferindo restringir voluntariamente o seu espao vital e buscar satisfaes apenas na camada4. Na camada 5 o indivduo j adquiriu autoconfiana e, embora no saiba fazer nada, sabeque tem um potencial a desenvolver. Ele pode enfrentar a vida, mas o que ele enfrenta nomomento ainda no a vida real, apenas a sua auto-imagem.No normal um adolescente exigir muito afeto. Ao contrrio, normal at ele rejeitar afeto,desejar ser solitrio, aventureiro. Um adolescente no quer "amor", quer vencer, sentir quevale alguma coisa para si mesmo. Constatamos que um indivduo passou para a camada 5quando sua auto-satisfao suficiente para fazer com que, mesmo sozinho, ele fique mais oumenos feliz (no o tempo todo evidentemente).Na camada 5 no se trata de um problema afetivo, e sim de experimentar o prprio poder. bastante comum as pessoas no saberem que tm poder; portanto, ignoram asconseqncias de seus atos, pensando que so as nicas que sofrem. Se uma taxa significativada populao conseguisse entrar na camada 5 j seria timo, pois melhor ter uma populaode jovens arrogantes que no sabem fazer nada do que uma populao de coitadinhos. Ojovem arrogante pode, pelo menos, vir a aprender alguma coisa algum dia, mas o coitadinhono.No caso da demanda da camada 5 podemos considerar o que queramos fazer para nostestar na adolescncia. Tudo de importante que no foi feito por timidez ou medo, prende osujeito na camada 5, pois um sinal de que ele no possui aquele poder.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.6No entanto, fundamental detectar quando o problema entre o sujeito e o mundo, ouentre ele e ele mesmo. Derrotado pelo mundo qualquer um pode ser, mas isto muitodiferente de restringir o prprio espao vital. Provar para si o seu valor essencial numa certapoca da vida de qualquer indivduo. Se isso no for feito na adolescncia, vai ter que ser feitomais tarde. Por outro lado, a insistncia na demonstrao de poder pessoal revela que acamada 5 ainda no foi superada. A auto-afirmao deve ser vivida na adolescncia, porque amaturidade comea no ponto onde o que conta o resultado efetivo.CAMADA 6Aptido e vocaoCamada Integrativa. Ungricht, Cyrill Burt, Eysenck.Pode-se distinguir entre aptides, que seriam mais ou menos inatas, e capacidades, queseriam mais ou menos adquiridas. No entanto, no faz sentido estudarmos esta questo antesde termos uma viso suficiente da psicologia do ego, pois aptido o domnio consciente dealguma coisa. A aptido latente ou se transforma em capacidade pela filtragem do ego, oudela voc nunca toma conhecimento. A aptido o conjunto dos meios intelectuais, tcnicos,etc., de que o indivduo dispe para realizar seu carter, e esses meios em parte dependemdele mesmo, em parte so dados pelo meio ambiente. Uma coisa estudar a relao entrecarter e hereditariedade, carter e desenvolvimento cognitivo, e carter e aptido. Algumcom uma hereditariedade propcia pode no chegar a ter a capacidade porque faltou em seumeio a oportunidade de adquiri-la.Na passagem para a camada 6 a afirmao do poder pessoal abandonada em favor daobteno de um resultado efetivo. Na camada 6 o que interessa no a demonstrao de poderpessoal, mas a consecuo de algo objetivo, como trabalhar e receber um salrio. Isto conseqncia de um desvio de eixo de valor, que se transfere do sujeito para o objeto.Um sujeito que trabalha e recebe um salrio no provoca uma alterao nele prprio, masfora dele, a qual retorna no apenas sob a forma de uma satisfao subjetiva, como na camada5, e sim sob a forma de um resultado objetivo.Saber algo concreto, no somente saber fazer, mas estar fazendo costumeiramente, ter umdomnio efetivo de alguma coisa, mesmo que seja pequena, a base de qualquer visoobjetiva. Enquanto o sujeito no vive isso, ele continua "em teste", porque estpermanentemente se olhando como medida de aferio do mundo, ao passo que na camada 6o mundo real se torna a medida do indivduo.Se no acontece a aquisio de uma habilidade especfica que permita ao indivduo agirobjetivamente, ele se ver sempre como centro de tudo. fcil perceber a diferena que existeentre a pessoa que tem domnio sobre algo e a que no tem. Na execuo de uma tarefa, aprimeira se entrega de corpo e alma, enquanto a outra fica se observando, numa espcie deespelho retrovisor, avaliando narcisisticamente o prprio desempenho. evidente que a plena capacidade individual obtida somente quando o problema daauto-avaliao narcisista no est mais em jogo. O que agora interessa ao sujeito realizaralgo objetivo, e no apenas sentir-se capaz.Nesta camada o indivduo se esfora para manter ou alterar a organizao de sua vida,visando prioritariamente interesses e necessidades pessoais. Tal atitude pode criar um conflitocom o papel social que o indivduo ocupa, revelando sua incapacidade de corresponder a essepapel.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.7Na camada 6, a fonte de sofrimento um prejuzo objetivo, pois havia a pretenso de umresultado que se frustrou; um dano, no de ordem psicolgica mas real, muito embora oindivduo da camada 5 considere seu dano to real quanto o do indivduo que no temdinheiro para pagar o aluguel. Mas se algum ajuda a resolver o seu problema, ele ficasatisfeito, pois no se considera mais em teste.CAMADA 7Situaes e papis sociaisCamada Divisiva. Adler, Honey e a escola culturalista em geral; psicologia da comunicao.O mesmo indivduo tem vrios sub-egos ou subconstelaes da personalidade conformeos seus vrios papis sociais exercidos. Temos que distinguir as vrias situaes que oindivduo vivencia, quais so os vrios papis, as diferentes subpersonalidades que cria parase adaptar a essas situaes, para no confundir meros papis sociais com traos depersonalidade ou de carter.A conquista do poder de fazer algo em particular e de defender nunca abrange a totalidadeda existncia. Somos capazes de fazer algumas coisas, mas no a maioria delas. Precisamosdos outros e assim desenvolvemos, ao longo do tempo, um papel social que representa oconjunto de expectativas que temos das realizaes dos outros s nossas aes, e vice-versa.Trata-se portanto de um conjunto de reciprocidades.O papel social abrevia a comunicao com as pessoas em torno, por exemplo, numasituao profissional, e tambm facilita a comunicao dentro de uma linha predeterminada,para isso excluindo uma srie de outras. Muitos comportamentos que seriam humanamentepossveis ficam ausentes de um papel social especfico. Como o papel social estabeleceexpectativas constantes sobre o comportamento, ele coloca a ao individual em um quadrode reciprocidades. Isto se refere no somente aos papis profissionais, mas igualmente aospapis familiares.O papel social legitima pretenses e permite respostas automatizadas, de acordo com a suanatureza. Porm, isto exige uma limitao. Se um indivduo que ocupa um papel passa a agirrepetidamente fora dele, os outros ficam confusos, o que vai comprometer o sistema derespostas automticas.Reconhecemos que algum incorporou um papel social somente quando as exigncias dessepapel so aceitas e assimiladas plenamente como fonte de motivao. A partir da, aorganizao da vida pessoal feita considerando-se as expectativas dos outros. O objetivo no mais atender apenas as convenincias do indivduo, mas sim aprimorar o seu papel social.Muitas vezes a definio de um papel se torna difcil, como por exemplo, os papis de paie de me perante os filhos. As pessoas em geral no tm claro o que a estrutura familiar eportanto no entendem que os papis de pai e me so primordialmente biolgicos, isto , ofilho um ser indefeso e os pais seus defensores. Nesse sentido, os pais dispem deautoridade absoluta nos pontos essenciais para a defesa da criana. Se os papis se misturam,e a me interfere em assuntos que no so de me e o pai interfere em assuntos que no so depai, a criana termina desorientada.Atualmente, todos os papis esto confusos, de pai, me, filho, marido, mulher, etc.Quando uma sociedade no distingue os papis dos indivduos, as relaes entre eles vo semostrar problemticas, porque sempre ser preciso explicaes, sempre surgiro expectativasfalsas, decepes, conflitos.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.8A convivncia humana marcada por uma distribuio de papis, por expectativas mtuase por um sistema de legitimidades, de direitos e deveres recprocos, cujo sentido corretoindica que a cada direito equivale um dever alheio. Proclamar um direito, para um indivduoou para um grupo, atribuir um dever recproco a um outro indivduo ou a um outro grupo. Apromulgao de um direito traz, assim, implicitamente um dever. Em todas as relaeshumanas existe um sistema de expectativas mtuas, no qual a cada dever de um cabe umdireito ao outro, e a cada direito de um incumbe um dever de outro. A confuso dos papissociais ocorre quando a expectativa de direito de um no corresponde a deveres do outro, evice-versa.Aps a conquista da habilidade, ou seja, do poder de se defender, que resulta dahierarquizao seletiva, o exerccio de um papel social representa a stima camada naconstruo da personalidade. A conquista de um poder efetivo, que se experimenta na camada6, pode ou no se converter num papel social. Os papis sociais so delineados de maneiraimplcita, pois eles se baseiam e se consolidam no costume. Aquilo que sou capaz de fazer, seeu fizer costumeiramente, as pessoas vo notar que eu fao e acabaro criando um sistema deexpectativas em torno daquilo.O casamento um prottipo do papel social, e o mais problemtico de todos. O Dr. J.A.Mller afirmava que em geral o casamento atende a uma constelao de necessidades muitodiferentes entre si, que poderamos relacionar com as camadas da personalidade. Em primeirolugar, a atrao fsica mtua, que no ocorre entre quaisquer pessoas, pois tem um fundohereditrio marcante, e o teste de Szondi revelador neste sentido. Entretanto, esse dado nobasta, pois duas pessoas podem sentir uma atrao mtua, mas terem linguagens diferentes,culturas desiguais. Alm disso, devem suprir as necessidades afetivas nascidas das respectivashistrias pessoais. Por exemplo, o padro de relacionamento entre um homem e sua me, eentre uma mulher e seu pai, pode determinar, positiva ou negativamente, a necessidade afetivaa ser atendida. Do mesmo modo, os respectivos espaos vitais e as possibilidades reais deao devem ser coeridos de alguma maneira.Como o papel social de marido e mulher tem que responder a uma constelao de motivosque se originam em vrias camadas da personalidade, desnecessrio dizer que o casamentorepresenta o setor de maior defasagem dos papis sociais. muito difcil preencher tantasexigncias, mais ainda quando a prpria sociedade obscura na distribuio dos papissociais. Por outro lado, a correta definio do papel social no casamento, que abrange atotalidade da vida de uma pessoa, requer o conhecimento de necessidades e solicitaessublimadas, pertinentes camada 4.A definio do papel social se completa no casamento, que um sistema de compromissosque abarca a totalidade do indivduo, enquanto que os demais papis sociais solicitam deleapenas uma parcela. Em geral, os papis sociais so limitados a uma linha de ao eparticipao, exceto o casamento. At mesmo a relao entre pais e filhos requer somentealguns aspectos do indivduo, mas o casamento engloba tudo. Constatamos tambm quedeterminadas empresas exigem quase que um casamento das pessoas que nelas trabalham.Quando um sujeito assume um papel social, isto significa que ele nasceu, teve tendnciashereditrias, passou por um aprendizado, vivenciou uma histria e conquistou seu espaovital, onde selecionou certas reas sobre as quais adquiriu um poder especfico que lhepermite desempenhar um papel social e ser reconhecido atravs dele. Assim podemos delinearuma vida. No entanto, o indivduo pode ter atuado de maneira equivocada, no atendendo sresponsabilidades normais de sua posio.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.9Quando algum no assume o papel social que lhe cabe, comporta-se tal como um atorque entrou no palco errado. Isso ocorre com enorme freqncia e transforma o sistema dedireitos e deveres em fonte de inmeras frustraes.No processo de construo da personalidade, a conquista de um papel social definido,mesmo que insignificante, torna o sujeito consciente do que est fazendo, permitindo-lheinclusive saber qual a sua insatisfao com aquilo.Os sofrimentos da camada 7 so relativos ao no cumprimento de expectativas mtuas.Qualquer pessoa, ao adquirir um papel social, espera ser aceita e rejeitada, e que os outrosajam de acordo com a legalidade de sua posio. Se isso no ocorre, ou se o sujeito nocorresponde ao papel que lhe cabe, criam-se ento duas fontes de sofrimento. A primeira pelofato de se estar socialmente desorientado, e neste caso no houve entrada na camada 7; e asegunda porque apesar de ter segurana sobre o lugar que ocupa, o indivduo no encontrareciprocidade nos outros.A inibio intolervel no adulto, sob qualquer aspecto. Se a rejeio em colaborar proveniente disto, o sujeito est impedido de atingir a camada 7, e portanto no poderparticipar das atividades humanas. A inibio um severo limite imposto utilidade social dapessoa. Temos que estar prontos para tudo que uma situao exige, temos que ser socialmenteteis para realizar a camada 7. Quando mostramos interesse em ajudar que podemos nostornar algum socialmente, sermos reconhecidos como membros da sociedade. Este oprmio da camada 7: ser aceito socialmente e considerado como igual pelos demaisindivduos.A defesa do papel social, da respeitabilidade social, um elemento importante da camada 7,ou seja, cumprirmos o que esperado de ns. O sujeito que j est na camada 7 querpermanecer no lugar conquistado e ser reconhecido como membro do meio social. Dessemodo, ele deve proceder a todos os atos necessrios para o desempenho do seu papel. Sefalhar, isto significa que ele recusa aquele papel e, querendo outro, no pode ocupar espaoindevidamente.A camada 7 implica um desejo de aceitao; deseja-se ser respeitado, aceito e at amado,mas apenas como todo mundo. Aqui se trata de reivindicar a cota pessoal dentro de umadiviso medianamente igualitria, sabendo que ningum obter mais do que isto.Falhar no desempenho do papel social um motivo de sofrimento para o indivduo querealmente est na camada 7, porque neste caso ele tem conscincia de que no esteve alturado seu dever.O conceito de dever fundamental na camada 7. normal para quem alcanou estacamada entender que o cumprimento de um dever uma manifestao de amor. Por exemplo,um pai que trabalha para sustentar o filho, faz isto por amor ou por dever? exatamente omesmo, ou seja, um dever determinado por amor, e mais nada.O cumprimento do dever uma manifestao de amor pelos semelhantes. Em geral, aspessoas no pensam nesse aspecto afetivo do dever: se deixarmos de fazer algo, vamosprejudicar um outro, que ficar infeliz.A nfase no conceito do amor de camada 4, que um conceito muito primitivo, no ajudaas pessoas a se tornarem adultas e responsveis. O amor no um sentimento. Quandoamamos algum, surgem todos os sentimentos possveis na convivncia. Basta isto parapercebermos que o amor no um sentimento. Amor uma atitude de fomento da existnciado outro. propiciar o fortalecimento do outro.Entretanto, freqentemente as pessoas no querem exercer o amor, mas apenas senti-lo, o que um sinal de imaturidade, de perspectiva infantil, doentia. Devemos compreender que umaatitude de amor exige satisfao na renncia, em abdicar de algo em benefcio do outro. EmSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.10suma, limitar o prprio espao em favor do outro e gostar de fazer isso.CAMADA 8Sntese IndividualCamada Integrativa. Le Senne, Berger. Sntese individual provisria em cada etapa dedesenvolvimento, isto , "perfil caracterolgico" no sentido de Le Senne e Berger.Se entendemos carter no apenas no sentido das trs primeiras colunas, mas como umadas nove colunas do teste de Berger, podemos dizer que ele uma somatria, uma snteseindividual, que num dado momento fornece um retrato do indivduo tal como ele est.Nesse ponto, chegamos noo de uma personalidade global pela primeira vez. Mas apersonalidade no termina aqui - termina aqui apenas para a mdia dos seres humanos, mas hpessoas que tm outras faixas da personalidade que no podem ser abarcadas pelos estudosdescritos at o momento. Essas pessoas tm um algo mais que as destaca.A partir da stima camada, nos deparamos com uma personalidade completa, quandoento o indivduo, aps ter conquistado um papel social definido, pode retroativamente olhar atrajetria de sua vida e fazer uma avaliao. no momento dessa somatria que o sujeito alcana um grau de estabilidade nas suastendncias, o que propicia um resultado mais ou menos permanente no teste de Le Senne.Esse conjunto estabilizado das tendncias individuais o que Le Senne denomina carter.Para a astrocaracterologia, o carter no sentido da camada I tem outra conceituao. A mesmapalavra adquire um sentido diferente quando referida camada 8. Segundo Le Senne, ocarter consiste na estabilizao das tendncias que marcam a individualidade, no apenasfisicamente mas abarcando tambm o papel social, as capacidades, o espao vital, a histriapessoal, etc. A totalidade dessas tendncias se torna estvel na maturidade, sobretudo notocante s tendncias de base. O teste de Le Senne aplicado prematuramente pode apresentarum resultado varivel em funo de acontecimentos, modificando o quadro das tendncias.No instante em que o indivduo define seu papel social que surge propriamente o carter,no sentido que lhe atribui Le Senne. A personalidade adulta, bem ou mal formada, aexpresso da oitava camada.Uma vez assumido o papel social, a experincia repetida, o hbito, vai ajudando naconsolidao das tendncias de base. De todas as tendncias herdadas, algumas semanifestaram, enquanto outras foram neutralizadas. Mesmo que essas tendncias tenham sidoenfatizadas, dissolvidas, ou ainda simplesmente esquecidas, isso persiste numa espcie deebulio at a conquista de um papel social.Nesse momento ocorre uma estabilizao das tendncias, de tal modo que se o indivduofor retirado do seu papel social, essas tendncias subsistiro. a isso que Le Senne chamacarter: o conjunto das tendncias estabilizadas na idade adulta, portanto aps umaassimilao dos papis sociais permanentes.Quando se atinge a camada 7, isto , quando a pessoa adquire um papel social, ela tambmdefine suas tendncias, suas inclinaes. Vrias pessoas podem ter um papel social similar,mas para cumprir as exigncias dele decorrentes cada uma responde de uma determinadaforma, que se torna estvel ao longo do tempo.Le Senne afirma que os traos de base dificilmente mudam. Porm, ele acrescentou outrostraos, como por exemplo, uma inteligncia que pode ser dispersa ou concentrada, no sentidode abranger uma multiplicidade de dados simultaneamente ou de captar uma linhaSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.11especializada de raciocnio. Isso consiste numa reao do indivduo a alguma solicitao domundo externo.Os termos "concentrada" e "dispersa" no so usados no sentido patolgico, quando o sujeito incapaz de prestar ateno, mas no sentido do contedo daquilo em que ele presta ateno:se todo um horizonte de dados heterogneos ou, ao contrrio, em algo especfico. Dispersono significa distrado, mas sim que o espectro de informao amplo. O sujeito concentrado,no sentido de Le Senne, pode ser distrado no sentido patolgico e vice-versa.A estabilizao das tendncias individuais coincide com a incorporao de um papelsocial, que atua como catalisador. O papel social concentra um conjunto de exigncias dentrode um sistema de regras de convivncia com pessoas, com as quais se tem uma expectativarecproca e pressuposta, pois implica aes e reaes costumeiras que criam umcomportamento padronizado. Uma eventual falha no atendimento da expectativa indicariauma anormalidade, ao passo que a realizao habitual dessa mesma expectativa no sequernotada.Os papis sociais representam um sistema de expectativas costumeiras, que compem oquadro de uma convivncia legal, de modo que no se pode admitir o descumprimento deuma expectativa.Enquanto no se tem essa expectativa, quase que inconsciente, no possvel estabilizartendncias, porque o sujeito obrigado a tomar muito mais decises do que aquele que jpossui um papel social definido. A prpria mudana de papel social requer adaptaessucessivas, que impedem a consolidao das tendncias.No h como, seno pelo hbito, fixar tendncias. por isso que o teste de Le Senneapresenta resultados diferentes conforme a idade e que somente se mostram estveis namaturidade. O carter para Le Senne no inato e sim produto de uma evoluo que seestabiliza, semelhante ao crescimento orgnico.Desde que o sujeito nasce at se tornar adulto, seu organismo sofre alteraes, que depoisse estabilizam. Se na evoluo fsica h mudanas e depois de uma certa idade no se mudamais, ou muda-se numa velocidade menor, igualmente na construo da personalidade hmudanas at um certo momento. Da em diante, em condies normais, essas mudanascessam.Quando o indivduo atinge esse ponto, mesmo que troque de papel social, o carter no semodifica mais, porque j adquiriu autonomia. Podemos, ento, constatar um modo prprio deagir que se consolidou. a que se percebe que o indivduo tem uma personalidade formada,que no basta ele mudar de emprego ou de cidade para mudar tambm de carter. Aps ostrinta anos ningum pode continuar sendo to influencivel, e quando isto acontece porqueevidentemente foi mal realizada uma camada anterior.O papel social favorece a consolidao das vrias tendncias subjetivas. No entanto, apartir de uma determinada etapa da vida, tais tendncias no dependem mais do papel social,de maneira que, mesmo retirado do papel social, o sujeito permanece intacto. Caso isso noocorra porque no existe ainda uma personalidade completa.O sofrimento pertinente camada 8 o sofrimento do sujeito com ele mesmo. tpico doindivduo maduro que, tendo percorrido todas as camadas at conquistar um papel social etudo o que este pode proporciona, termina por se perguntar: "o que eu fiz da minha vida?"Supondo-se que uma pessoa tenha realmente obtido o que desejava, ainda assim ela poderevelar uma insatisfao consigo mesma. Para isto necessrio olhar a prpria vida como umconjunto. O que est sendo questionado no somente o papel social, o espao vital, a histriaSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.12afetiva, mas o curso inteiro de uma existncia. Em geral, as pessoas desconhecem este tipo desofrimento at chegar aos 40 anos.A capacidade de julgar a vida como uma totalidade, sem culpar ningum, assunto dacamada 8. A se d o confronto com o destino. O sujeito j est individualizado, definido,sabe que sua personalidade e sua vida compem um todo distinto, sabe que autor de seusatos e que foram suas as escolhas que fez, tenham sido certas ou erradas.Uma pessoa que acabou de conquistar o seu papel , sendo aceito e respeitado no exercciodele, de repente v um colega largando tudo porque entrou numa crise de conscincia. Comose poderia avaliar isso? Como distinguir o sujeito que est numa autntica crise evolutiva e oque ficou maluco?Em condies normais, o homem que est numa crise evolutiva no perde o papel social,mas apenas se posiciona em outro plano. Quando o sujeito renuncia a um papel social parabuscar algo que faa mais sentido para ele, os outros que tm um papel igual em geral oestranham. Uma mudana no auge de uma carreira pode significar que o indivduo tenhachegado ao limite das possibilidades oferecidas pela sua profisso. Porm, essa mudana no necessariamente profissional, uma mudana de orientao. mudar para mais e no paramenos.CAMADA 9Personalidade IntelectualCamada Divisiva. Pradines, Bergson, Koestler, neurstica.Personalidade Intelectual, superior; gnio; criao artstica, estilo, etc.; "personalidadepotica" no sentido de Croce, em oposio "personalidade emprica".Todo o mencionado at aqui a personalidade emprica, a personalidade que o sujeito temde fato, no decorrer de sua experincia. Comeamos a poder falar em obra e em personalidadea partir do momento em que esta personalidade emprica recebe uma valorao consciente emalgum dos seus aspectos, ou seja, onde o indivduo percebe que alguns elementos de suapersonalidade podem conter a afirmao de certos valores universais e passa a se dedicar arealizar esses aspectos em particular.A isso chamamos personalidade intelectual superior, e nem todo mundo a tem. Voc tem apartir do momento em que quer e que procura desenvolv-la. A natureza leva o homem atcerto ponto, cria nele determinados rgos, mas h outros que o homem mesmo que"inventa".Existe um "rgo" num Balzac ou Beethoven que no existe nas outras pessoas e que oque Croce chama de personalidade potica - o aspecto criativo da personalidade, o qual,provindo da personalidade emprica, por vezes a engloba totalmente, tanto que os traos destaacabam sendo neutralizados.A partir do nvel de conscientizao representado pela camada 8, pode surgir uma nonacamada, que na quase totalidade dos seres humanos no surge. O normal atingir a oitavacamada e as demais ficarem apenas como potncias.Em princpio, qualquer ser humano tem potencial para prosseguir at a ltima camada,mas dependendo da vontade, do meio social e de outros fatores, nem todos efetivam a camada8, muitos nem a 7, e outros sequer a 6 ou a 5.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.13Na evoluo normal do ser humano, possvel atingir at a camada 8. nela que oindivduo experimenta uma personalidade completa, podendo ver sua vida como um todo,contar sua prpria histria e, de certo modo, julg-la. A partir da pode se desenvolver acamada 9, a qual denominamos personalidade intelectual.A personalidade intelectual comea no instante em que a chave do comportamento dosujeito a realizao de determinados fins da sociedade e da cultura humana. Isso se situapara alm da personalidade, no sentido corriqueiro do termo. A personalidade intelectual ,portanto, um aspecto que ultrapassa a prpria personalidade, embora no se expressenecessariamente numa atividade dita cultural.O indivduo conquista uma personalidade intelectual quando a soluo de um problema,terico ou prtico, que se coloque sua inteligncia, seja para ele mais importante do que asua prpria personalidade. algo a mais a que o sujeito se dedica por lhe parecer relevante eque no est vinculado a um papel social especfico. Se este algo a mais se torna o centro davida do sujeito, ento ele tem uma personalidade intelectual, que procura servirprioritariamente aos interesses da sociedade e da cultura.No entanto, perfeitamente possvel o indivduo estar envolvido com questes quetranscendem a sua esfera pessoal e no ter personalidade intelectual nenhuma, mas estarsimplesmente atendendo necessidades de camadas inferiores. Por exemplo, qualquer ministrode estado, que no tenha resolvido de modo original um problema enfrentado, no possui umapersonalidade intelectual, no mximo alcanou a camada 7. Se ele apenas cumpreburocraticamente o que se espera do seu papel social, est na camada 7.O fundamental para a camada 7 seria corresponder s atribuies de um cargo, enquantoque para a camada 8 bastaria a satisfao de ter realizado algo no qual veja sentido. Porm, seo indivduo desenvolveu uma personalidade intelectual, isso jamais bastar. O que importa se dentro do papel social que exerceu, o sujeito se limitou s exigncias dele decorrentes oufez algo a mais do que estava obrigado a fazer. A diferena aqui reside na ao.A personalidade intelectual surge a partir do momento em que existe esse algo a mais, isto, quando o indivduo busca solucionar uma questo que a sua prpria inteligncia coloca, eque se ele no o fizer ningum sua volta notar. uma espcie de conscincia a mais queele tem, de um dever para com os fins da cultura, da sociedade, da existncia humana, talcomo este indivduo os interpreta. algo que ultrapassa o interesse pessoal ou o papel social.O sujeito que cumpre o seu dever, como outro cumpriria no lugar dele, est meramenteatendendo a um papel social. Ele no precisa sequer julgar esse papel, porque se assimproceder j entra na camada 8. A partir da, existe um ponto onde o indivduo pode dar umacontribuio pessoal a algo que o transcende.Quando o indivduo desenvolve uma personalidade intelectual e passa a agir em funodela, todos os que esto abaixo dele no conseguem compreender que a motivao, nestecaso, decorrente de uma necessidade interna, que extrapola o papel social, o interessefinanceiro e o desejo de auto-afirmao.Podemos explicar as aes de um sujeito em funo das camadas 4, 5 ou 6, mas existempessoas cuja comportamento escapa ao comum. De modo contrrio, podemos tambm atribuirao sujeito motivaes complexas quando ele est simplesmente procurando atendernecessidades infantis.A tendncia dominante optar por interpretaes depreciativas, porque medida que ainformao se difunde, de se supor que um nmero cada vez maior de pessoas poucoeducadas utilizem os meios de expresso que antes ficavam restritos a pessoas de nvel maiselevado. Atualmente no preciso ascender at o nvel de intelectualidade suficiente para seSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.14exercer uma profisso, o que provocou o surgimento do que podemos chamar de proletariadointelectual.A difuso da cultura bastante dbia: por um lado possibilita que indivduosadequadamente dotados, mas que no dispem de recursos materiais, dela se beneficiem,embora, por outro lado, permita que os indivduos sem nenhum talento se dediquem aatividades intelectuais.O ideal seria uma escolha rigorosa, tal como se fazia no antigo sistema do letrado chins.O acesso ao ofcio de letrado na China era independente da classe social, baseando-se apenasna capacidade individual. Hoje em dia, para eliminar o princpio injusto da seleoeconmica, criou-se a falsa expectativa de que todos, sem distino, podem se tornarintelectuais ou cientistas.CAMADA 10Eu transcendentalCamada Divisiva. Kant, Husserl, Berdiaeff, Gusdorf, Caruso. Eu transcendental,responsabilidade moral, livre-arbtrio, etc.O problema da personalidade moral s se coloca a partir do momento e que o sujeito temuma personalidade. intelectual, pois a personalidade intelectual que vai destacar noindivduo a idia do valor universal como algo que existe para ns. Sem isso, comopoderamos julgar moralmente nossos atos? Abaixo de um certo nvel de integrao dapersonalidade que permita a ecloso dessa personalidade intelectual superior, a rigor podemosdizer que os atos do sujeito so moralmente irrelevantes - isto no sentido da moral kantiana,no da moral social, pois seus atos tm influncia sobre os outros.O problema moral de que falamos surge quando, concebendo que existem valoresuniversais em si, que lhe cabe realizar, o indivduo se recusa a faz-lo. Mas como exigir issodaquele que no tem uma sntese individual formada, de um indivduo que ainda est sedesenvolvendo dentro da mentalidade coletiva e que, quando erra, erra junto com os outros?A dcima camada significa o indivduo que concebe a si mesmo como representante daespcie humana, como ser dotado de autoconscincia e responsvel por todos os seus atos. ,em suma, o "eu transcendental".Na camada 10 o indivduo observa-se de um ponto de vista tal que qualquer outro serhumano, no seu lugar, teria a obrigao de se encarar daquela forma. A est o homem perantea razo, perante suas faculdades superiores, detentor da capacidade de avaliar a racionalidadedos seus atos em termos absolutos.Scrates, ao discutir, sabia que as condies de veracidade que existiam para ele eramiguais as que existiriam para qualquer outra pessoa, porque o pensamento dele expressava aautoconscincia da sua prpria universalidade.A camada 10 representa a conquista de um papel definido dentro da hierarquia dahumanidade. Estar nesta camada estar permanentemente tendo conscincia intelectual dauniversalidade de todos os atos. Conscincia de que o animal racional, em geral, deve agirassim nesta ou naquela circunstncia. Os atos adquirem, ento, uma significao universal,embora no um alcance universal.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.15CAMADA 11PersonagemCamada Integrativa. Dilthey, Weber, Waelon. Aqui j encontramos o indivduo perante aHistria, a Civilizao, a Humanidade.Na medida em que tenha uma personalidade intelectual superior e um eu transcendentecapaz de se sobrepor a toda a sua existncia e julg-la, no momento em que alcana esteponto, de poder julgar sua existncia e seus atos como se estivesse acima de si, que o sujeitopresta satisfao de si perante o tribunal da Humanidade, da Histria.O plano da universalidade, o pensar apodctico so elementos de camada 10. Encontramosa uma teoria universalmente vlida, mas agir de maneira universal j algo diferente. Aprxima etapa seria julgar a totalidade da vida face s aes realizadas e s conseqnciasdelas para a humanidade.Atingir uma certeza, com objetividade, ainda no atribui sentido histrico aos atos doindivduo. como se ter uma universalidade, porm, terica.A camada 11 representa a ao individual no conjunto da histria. No importa se asaes so grandes ou pequenas, pois o fundamental aqui saber exatamente onde o indivduoest situado, no apenas enquanto animal racional, mas dentro da Histria como um todo,dentro do processo de evoluo da espcie humana.Quando o indivduo conquista um papel histrico, sua ao julgada pela Humanidade,alcanando ento uma dimenso global.O prottipo da camada 11 a figura de Napoleo Bonaparte. Ele pretendia descobrir atonde seria possvel chegar o poder de um indivduo a ponto de mudar o curso da Histria. Seformos estudar sua biografia no o compreenderemos procurando explic-lo segundo motivosde camadas anteriores.Quando se age em funo de fins histricos, age-se em funo de algo que no existeainda, o que implica que essa ao no pode ser avaliada nem pelo seu contedo social nempelo seu proveito prtico, porque est acima disto. Somente encontraremos a chave docomportamento se subirmos mais alto. A sim, os atos se unificam e adquirem uma formacompleta.Napoleo no tinha nenhum plano determinado para executar e este o seu traocaracterstico: a absoluta inexistncia de um esprito de misso. O que ele possua era umesprito de tentativa que o levou a experimentar a liberdade humana e a fora do indivduo atonde lhe foi permitido. Napoleo buscou direcionar isso no sentido do bem, tal como ele oentendia.No cabe definir Napoleo nos termos de um simples desejo de poder, o que em inmeroscasos um dado irrelevante face Histria. No entanto, alguns personagens deixam umamarca e os que sabem qual essa marca, e qual o julgamento que a Histria far deles,atingem a camada 11.Napoleo tinha conscincia de haver alterado a Histria de modo indelvel, o que raroshomens conseguiram. Isso no decorrncia da quantidade de poder acumulado, queposteriormente pode ser apagado ou revertido. Pode inclusive ocorrer um engano trgico,quando os efeitos das aes se tornam exatamente o contrrio do imaginado.Na camada 11 o sujeito se posiciona como uma pea da Histria, que num momentoespecfico, com certeza plena, realiza determinadas aes que vo modificar o rumo dacoletividade humana.Sapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.16No h espao para todos na camada 11. A prpria natureza hierrquica do incio ao fim.No h democracia natural, porque evidente que as pessoas tm graus diferenciados desade ou de inteligncia. O que realmente se constata um processo seletivo, embora sejadifcil admitir que existam indivduos melhor dotados do que outros.CAMADA 12Destino finalCamada Divisiva. Psicologias msticas tradicionais; Paul Diel, Victor Frankl. Destino final:o indivduo perante Deus; o sentido e o valor da vida, etc.As psicologias msticas tratam fundamentalmente do sentido da vida do indivduo, doindivduo perante sua responsabilidade moral ltima, algo que est acima do personagem,algo que a Humanidade mesma no sabe. fundamentalmente o indivduo como HomemUniversal, como Cristo, como pastor e responsvel pela humanidade inteira.A camada 12 consiste na ao do indivduo em funo do propsito ltimo de todas ascoisas. Para Gandhi - que um prottipo da camada 12 - somente interessa a relao dele comuma finalidade que transcende a vida biolgica e a vida da espcie humana. Quando ambasacabassem, sobraria Deus, e esperando por esse momento que se norteia a sua ao.No caso de Gandhi, nem mesmo o objetivo poltico explica o seu comportamento, pois eleno aceitava a independncia da ndia em quaisquer termos, colocando exigncias moraismuito acima do que os seres humanos costumam imaginar. Gandhi agia exatamente aocontrrio do raciocnio poltico, apelando para o centro da questo e oferecendo comogarantia no apenas sua prpria vida, mas seu destino "post-mortem".Na camada 12 todas as aes so pautadas pela seguinte regra: "o que Deus vai achar disto?"Tal o sujeito que, de acordo com a Bblia, caminha diante de Deus e sabe o que Ele estpensando. Normalmente, mesmo uma pessoa excepcional no submete todos os atos a essecritrio. O confronto com Deus pressupe que o homem seja capaz de conceber cada ato seusob um prisma eterno.Se temos uma deciso a tomar, podemos fazer isso ou aquilo por razes de camada 5 - istome fortalece, eu me sinto mais autoconfiante; de camada 6 - vai dar resultado; de camada 7 - um dever que me compete; de camada 8 - isto tem lgica dentro da minha biografia; decamada 9 - isso o que o dever da inteligncia impe. At a camada 9 est presumida aexistncia do mundo, pois que sentido faria agir segundo um proveito prtico se tudo fosseacabar amanh?O atendimento do dever referente a um papel social pressupe a existncia de pessoas quetenham uma expectativa em relao ao ocupante desse papel. Agir em funo da coerncia daprpria biografia, pressupe que esta deva continuar. Agir visando objetivos ditados pelacultura, pela inteligncia, pressupe que hajam fins realizveis dentro do prazo de umaexistncia histrica. Porm, se o indivduo age exclusivamente em funo de um final, ele estagindo precisamente em funo da inexistncia de um mundo em torno. Com ou sem mundo,ele agiria da mesma maneira. Os atos adquirem ento um significado supratemporal, suprahistrico,ou seja, eternamente o homem deveria agir assim, antes de existir o mundo ouquando este deixar de existir. Aqui a ao tida como a expresso direta de uma qualidadedivina que prescinde da existncia do mundo.Qualquer pessoa que cr em Deus eventualmente procede inspirada no eterno, muitoembora seja difcil compreender algum que age assim permanentemente, tal como Gandhi,para quem devemos usar uma outra chave de comportamento. como se ele soubesse o queSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.17Deus quer, como se conversasse com Deus o tempo todo. Um homem santo realizado age emfuno do sentido eterno da existncia, no tem outro motivo, sequer a Histria.Na camada 12 as aes do indivduo parecem por demais complexas e enigmticas. Parase entender as aes de um santo s acreditando nele. A ento tudo se encaixa, comeamos aperceber uma coerncia, um princpio explicativo das aes. Isso ocorre independentementede motivaes vocacionais que tenham surgido no curso da biografia, relativas s camadasanteriores, que podem ter contribudo para colocar o sujeito numa determinada via, mas nobastam para esclarecer o desenrolar da sua histria.Podemos falar de santidade apenas quando a relao do indivduo com um Deus eterno que motiva cada um dos seus atos. No somente atos acidentais, mas todos, um por um, noexistindo um nico ato que se possa explicar fora desse dilogo. Com quem o sujeitoconversa, a quem ele responde? Se apagarmos essa conexo, a vida dele se torna uma coleode atos sem sentido. Existem indivduos que j nascem na camada 12, tanto que ao passarempelas que a antecedem elas vo sendo absorvidas rapidamente.CRITRIOS DE RECONHECIMENTOAs camadas fluem sucessivamente na medida em que o sujeito evolui, absorvendo oselementos contidos na camada anterior e os direcionando segundo um outro princpiounificador, que lhe indica uma nova fonte de motivaes, ou seja, uma nova chave deexplicao dos atos. Por exemplo, a defesa, preservao, aquisio ou abandono de um papelsocial implica motivaes diferentes daquelas que saem das camadas que antecedem a stima.No se saltam camadas nunca, mas pode ocorrer a pseudo-passagem de uma camada outra, quando o indivduo j est ocupado de assuntos da camada seguinte, mas o motivo desofrimento dele ainda se reporta camada anterior. No houve portanto uma conquistaefetiva, mas apenas uma falsa extenso, porque a chave do comportamento no mudou. Todoindivduo s sai de uma camada quando esta deixa de ser problema, ou seja, quando eleenfrenta um problema pior e o seu sofrimento passa a ter outro motivo. Isso no pode seravaliado externamente, apenas o prprio sujeito quem sabe, ou ento quem o observa porum longo tempo.O desajuste de motivao fica claro quando, numa camada, continuamos agindo conformemotivos pertinentes s camadas anteriores. Seria o mencionado caso de um sujeito exercer umpapel social, que representa a stima camada, de acordo com sua economia orgnicaexclusivamente, que um motivo da sexta camada. Dessa maneira, ele no tem papel socialnenhum ou est no papel errado.No existe regresso de camada, a no ser em casos patolgicos, como demncia senil,leso cerebral, etc. Se o sujeito regride porque, na verdade, nunca esteve naquela camada.Trata-se de uma pseudo-ocupao de camada, o envolvimento com assuntos da camadaseguinte, quando a chave do comportamento encontra-se na camada anterior. umaperformtica, uma inflao: o indivduo inchou, mas no ocupou realmente o espao. Ele como um balo vazio. importante perceber que para um indivduo situado numa determinada camada, asmotivaes das camadas seguintes parecem abstratas e inverossmeis. Como que umacriana, que se esfora para atrair a ateno, o carinho do pai e da me, poderia imaginar quealgum desejasse o contrrio, ou seja, ficar sozinho, abandonar pai e me? Uma criana sabeque o adolescente tem algo que ela no tem, mas no sabe direito o que . Do mesmo modo, oindivduo que est se colocando em teste e que precisa aferir o prprio valor, a extenso doSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.18seu poder, no pode conceber que algum se dedique a algo sem nenhum interesse por umarecompensa subjetiva.S nos possvel compreender quem est na mesma camada que ns ou nas inferiores. Osoutros, seria melhor no tentar explic-los. Nas camadas superiores as motivaes do sujeitoso muito complexas, pois ele est vivendo num plano onde aquilo que para ns decisivo,para ele simplesmente no existe. O indivduo cuja personalidade ainda est se definindosegundo o molde do papel social, dificilmente poder entender as preocupaes de ordempuramente pessoal de quem rev a prpria vida, questionando inclusive o trabalho, o papelsocial, etc.Para sabermos em que camada um indivduo est, devemos detectar o motivo real dosofrimento dele, o que de fato representa problema para ele. Em qualquer etapa, podemos nosdeparar com um bloqueio ou mesmo com a impossibilidade de transpor uma camada paraalcanar a seguinte. Cada camada expressa um princpio de organizao da vida por inteiro,absorvendo os elementos contidos na camada anterior e dando-lhe uma nova forma e umanova direo.A pergunta decisiva : onde di? Di na camada onde se est. Aqui nos referimos aosofrimento psicolgico. No entanto, pode ocorrer um sofrimento objetivo, como no caso doindivduo sofrer um estreitamento do seu espao vital desde fora. Numa sociedade que noadmita a liberdade de expresso, esse estreitamento externo e far o indivduo sofrer emfuno de uma exigncia legtima de sua camada 5, mesmo que esteja na dcima camada.Podemos sofrer em qualquer camada, at nas mais inferiores, sem que estejamosvinculados a elas. Tudo depende de verificar se existe um impedimento externo real. Para umhomem de quarenta anos sofrer na camada 5, embora esteja na 7 ou na 8, s possvel se forum sofrimento muito grave, porque normalmente se no podemos ampliar o espao vital paraum lado, ampliamos para o outro.Aquilo que se quer fazer, mas no objetivamente vivel, representa um conflito com omundo, e isto no psicolgico. Quando o indivduo no reconhecido no papel social quedesempenha, isto um motivo de sofrimento, mas no de causa psicolgica.Pode tambm acontecer uma privao externa de necessidades elementares. Uma pessoaexcepcionalmente odiada sofrer na camada 4, mesmo sem nela estar. O sujeito que trabalha eno ganha o suficiente sofre uma privao de meios, e isto assunto de camada 6. Em ambosos casos, a modificao da situao externa resolveria o problema. Quando o sujeito revelaalguma inibio (camada 5), como vergonha ou medo, isto provm dele prprio, o que diferente do impedimento externo. Em contrapartida, existem pessoas que nunca encontramchance de mostrar o que podem, ainda que saibam fazer o suficiente na profisso queescolheram. Isso no uma incapacidade interna, e sim mera falta de oportunidade.Apesar de existirem casos de limitaes externas concretas, na quase totalidade dassituaes o que se constata so impedimentos internos que o indivduo no consegue superar.A carncia afetiva, por exemplo, geralmente uma carncia internalizada que vem de umaoutra poca. O sujeito, entretanto, continua agindo com referncia ao passado, embora nohaja mais, de fato, aquela necessidade e portanto no adianta tentar satisfaz-laretroativamente. justamente para isso que servem as psicoterapias, as quais simulam umasituao em que pseudo-necessidades sero pseudo-atendidas.A necessidade de expressar uma agressividade de vinte anos atrs, para uma pessoa queno est mais presente, no pode ser aceita como uma necessidade efetiva; ela meramentesimblica. preciso, ento, montar um psicodrama, um teatro que atenda a imaginao. IstoSapientiam Autem Non Vincit Malitiawww.seminariodefilosofia.orgTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada outransmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.19no pode ser feito no cotidiano, se bem que freqentemente possamos observar pessoas secomportando em geral como se estivessem numa situao de psicoterapia.Como a psicologia foi criada para suprir necessidades simblicas, ela a nica soluopara quem fica retido na camada 4. J na camada 5, possvel tirar dvidas relativas ao poderpessoal reconstituindo uma circunstncia, mesmo que tenha transcorrido muito tempo.A diferena entre camada da personalidade e casa astrolgica esta: o sujeito vivencia osassuntos de vrias casas, mas est localizado numa s camada determinada. Por exemplo, umsujeito pode estar na camada 4, mas preocupado em ganhar dinheiro, em definir umaprofisso, etc.