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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS Relatório Final de Auditoria Operacional As políticas públicas municipais para mitigação dos impactos ambientais e diversificação das atividades econômicas: Prefeitura Municipal de Conceição do Mato Dentro

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  • TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

    Relatrio Final de Auditoria Operacional

    As polticas pblicas municipais para mitigao dos

    impactos ambientais e diversificao das atividades

    econmicas:

    Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro

  • TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

    Superintendncia de Controle Externo

    Diretoria de Engenharia e Percia e Matrias Especiais

    Coordenadoria de Auditoria Operacional

    Relatrio Final de Auditoria Operacional

    As polticas pblicas municipais para mitigao dos

    impactos ambientais e diversificao das atividades

    econmicas:

    Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro

    Equipe de auditoria:

    Janana Andrade Evangelista

    Joelma Terezinha Diniz de Macedo

    Marcelo Vasconcellos Trivellato Coordenador da Equipe

    Valria Cristina Gomes dos Santos

    Ryan Brwnner Lima Pereira Coordenador - CAOP

    Colaboradores:

    Antonieta de Pdua Freire Jardim

    Isabella Kuschel Ngl

    Jaqueline Loures

    Jaqueline Somavilla

    Valria Afonso Dressler

    Valria Cristina Gonzaga

    Belo Horizonte

    2016

  • Agradecimentos

    O sucesso desta auditoria relaciona-se, entre outros fatores, parceria que se estabelece

    entre a equipe de auditoria, os beneficirios e as entidades e rgos envolvidos na

    operacionalizao das polticas pblicas avaliadas. Nesse sentido, compete agradecer:

    1. aos gestores e servidores da Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro, pela presteza

    no atendimento s solicitaes feitas e percepo da importncia da sua participao na

    concretizao de melhorias no desempenho da administrao municipal;

    2. aos membros do CODEMA, do COPAM, de organizaes da sociedade civil e de associaes

    comunitrias e de moradores;

    3. aos gestores e servidores do SISEMA e da Secretaria de Desenvolvimento Econmico;

    4. aos gestores e servidores municipais das demais cidades mineradoras citadas neste relatrio.

  • LISTA DE SIGLAS

    AMDA - Associao Mineira de Defesa do Meio Ambiente

    AMIG - Associao de Municpios Mineradores de Minas Gerais

    AMM - Associao Mineira de Municpios

    CAMGE - Coordenadoria de Avaliao da Macrogesto Governamental

    CFEM - Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais

    CODEMA - Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental

    COMTUR Conselho Municipal de Turismo

    COMUDAR - Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural

    COPAM - Conselho Estadual de Poltica Ambiental

    DNPM - Departamento Nacional de Produo Mineral

    EIA - Estudo de Impacto Ambiental

    EMATER - Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado de Minas Gerais

    FUNDEMA - Fundo Municipal de Meio Ambiente

    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDHM - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    IPEAD/MG - Instituto de Pesquisas Econmicas Administrativas e Contbeis de Minas Gerais

    ISSQN Imposto sobre Servios de Qualquer Natureza

    INTOSAI - Organizao Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores

    PDR - Plano de Desenvolvimento Rural

    PGAT - Plano de Gesto dos Atrativos Tursticos

    PIB - Produto Interno Bruto

    PPAG - Plano Plurianual de Ao Governamental

    RIMA - Relatrio de Impacto Ambiental

    SEDE - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico

    SEMAD - Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento sustentvel

    SIACE - Sistema Informatizado de Apoio ao Controle Externo

    SIAFI - Sistema Integrado de Administrao Financeira

    SISEMA - Sistema Estadual de Meio Ambiente

    SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente

    SIGPLAN - Sistema de Informaes Gerenciais e de Planejamento do Plano Plurianual

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Igreja do Rosrio ........................................................................................................... 27

    Figura 2 Lixo de Conceio do Mato Dentro ........................................................................ 40

    Figura 3 - Posto de Apoio ao Migrante ......................................................................................... 41

    Figura 4 - Parque Salo de Pedras: a) Cerca para conter avano da ocupao irregular; b)

    ocupao irregular ......................................................................................................................... 43

    Figura 5 - Divulgao do Plano Diretor ........................................................................................ 55

    Figura 6 - Cartilhas do Plano Diretor ............................................................................................ 55

    Figura 7 - Pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ................................... 56

    Figura 8 - texto retirado da pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ....... 56

    Figura 9 - Pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ................................... 57

    Figura 10 - Pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ................................. 57

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Projeo da Receita Corrente Lquida .......................................................................... 25

    Tabela 2- Legislao disponvel no site oficial da Prefeitura ........................................................ 54

  • SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................. 7

    A MISSO INSTITUCIONAL DO TCEMG E A AUDITORIA OPERACIONAL ....................... 7

    IDENTIFICAO DO TEMA ......................................................................................................... 7

    ANTECEDENTES ........................................................................................................................... 8

    OBJETO E ESCOPO DA AUDITORIA ........................................................................................ 10

    METODOLOGIA DE ANLISE ................................................................................................... 11

    ESTRUTURA DO RELATRIO FINAL ...................................................................................... 13

    2. VISO GERAL ........................................................................................... 14

    3. ATUAO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCEIO DO

    MATO DENTRO NO ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAO DA

    CFEM ................................................................................................................. 16

    4. OS RECURSOS DA CFEM E AS POLTICAS DE DIVERSIFICAO

    DA ECONOMIA LOCAL ................................................................................ 21

    5. PARTICIPAO DO MUNICPIO DE CONCEIO DO MATO

    DENTRO NO MBITO DO LICENCIAMENTO E NA FISCALIZAO

    DAS CONDICIONANTES E DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

    DECORRENTES DA ATIVIDADE MINERRIA....................................... 33

    6. A ADMINISTRAO MUNICIPAL E OS MECANISMOS DE

    TRANSPARNCIA DA GESTO PBLICA EM UM CONTEXTO

    MINERADOR ................................................................................................... 47

    7. COMENTRIOS DO GESTOR ............................................................... 59

    8. CONCLUSO ............................................................................................. 60

    9. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO ................................................ 62

    REFERNCIAS ................................................................................................ 65

    ANEXO ............................................................................................................... 66

  • 7

    1. INTRODUO

    A MISSO INSTITUCIONAL DO TCEMG E A AUDITORIA OPERACIONAL

    1.1 O Tribunal de Contas um rgo de controle externo da gesto dos recursos pblicos,

    compreendendo a fiscalizao contbil, financeira, oramentria, operacional e patrimonial e

    abrange os aspectos de legalidade, legitimidade, economicidade e razoabilidade de atos que geram

    receita ou despesa pblica, conforme dispositivo constitucional a seguir:

    Art. 70. A fiscalizao contbil, financeira, oramentria, operacional e

    patrimonial da Unio e das entidades da administrao direta e indireta, quanto

    legalidade, legitimidade, economicidade, aplicao das subvenes e renncia de

    receitas, ser exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e

    pelo sistema de controle interno de cada Poder. Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, ser exercido com o auxlio

    do Tribunal de Contas da Unio, ao qual compete:

    (...)

    II - julgar as contas dos administradores e demais responsveis por dinheiros, bens e

    valores pblicos da administrao direta e indireta, includas as fundaes e sociedades

    institudas e mantidas pelo Poder Pblico federal, e as contas daqueles que derem causa

    a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuzo ao errio pblico;

    Art. 75. As normas estabelecidas nesta seo aplicam-se, no que couber, organizao,

    composio e fiscalizao dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem

    como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municpios.

    1.2 Dentre as misses elencadas constitucionalmente para o Tribunal de Contas, tem-se a

    fiscalizao operacional dos bens pblicos. Nesse sentido, a auditoria operacional tem como

    objetivo promover o aperfeioamento da gesto pblica, examinando de forma independente e

    objetiva a economicidade, a eficincia, a eficcia e a efetividade das organizaes, programas e

    atividades governamentais (INTOSAI: 2004).

    1.3 A auditoria operacional visa analisar a eficincia e a economicidade na aplicao dos

    recursos e na aquisio de bens, bem como analisar a efetividade e a eficcia dos resultados

    alcanados.

    IDENTIFICAO DO TEMA

    1.4 A indstria extrativa mineral caracterizada como uma atividade de explorao de recursos

    no renovveis, de baixa agregao de valor e baixa gerao de renda. A atividade minerria

    objetiva a extrao de substncias minerais a partir de depsitos ou massas minerais valiosos por

  • 8

    sua utilidade econmica, sendo a responsvel pela gerao e distribuio de matrias primas

    utilizadas na fabricao e produo de mercadorias, geralmente industrializadas.

    1.5 A minerao, apesar de sua importncia econmica, gera problemas, principalmente no

    campo ambiental, tais como eroses, partculas em suspenso, contaminao das guas

    superficiais, impacto sobre a captao de gua subterrnea devido ao rebaixamento do lenol

    fretico para explorao da cava, alm do desmatamento. Ocorrem tambm problemas sociais

    como impacto sobre a infraestrutura e servios da cidade no pico das obras de implantao das

    empresas de minerao e desemprego gerado em decorrncia do encerramento da explorao

    mineral, devido ao esgotamento das jazidas minerais.

    1.6 O Brasil o segundo maior produtor mundial de minrio de ferro, considerando-se o teor

    do mineral, conforme informao do Plano Nacional de Minerao, e Minas Gerais destaca-se no

    cenrio nacional, respondendo por 66% das reservas de minrio de ferro oficialmente conhecidas

    no Brasil.

    1.7 Boa parte da histria do Estado de Minas Gerais foi determinada pela explorao da grande

    riqueza mineral que se encontra em seu territrio. Seu nome, inclusive, provm da larga quantidade

    e variedade das minas presentes e que, nos dias atuais, movimentam uma frao importante da

    economia do Estado.

    1.8 A atividade minerria um dos pilares da economia de Minas Gerais, representando

    expressiva arrecadao tributria para o Estado e Municpios mineradores, destacando-se a

    Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais CFEM, que uma indenizao

    em funo da explorao mineral em seus territrios devida por aqueles que exploram os recursos

    minerais.

    ANTECEDENTES

    1.9 Ao analisar as contas do Chefe do Poder Estadual Antnio Augusto Junho Anastasia

    relativamente ao exerccio financeiro de 2011, o Exmo. Sr. Conselheiro Relator Cludio Couto

    Terro assim manifestou:

    O estudo da economia mineira identificou um intenso processo de diversificao e

    modernizao ocorrido nos anos 70, transformando Minas Gerais em importante polo

    industrial do pas. Contudo, nas dcadas de 80 e 90, experimentou-se instabilidade e

    crescimento limitado, acompanhando o ritmo lento da economia brasileira. Novo ciclo de

    crescimento foi registrado nos anos 2000, guiado pelo boom das commodities no

    mercado internacional, impactando a economia estadual, especialmente o setor mnero-

    metalrgico.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Mina_(minera%C3%A7%C3%A3o)

  • 9

    Entre 2003 e 2010 foi verificada a expanso de mais de 250% nas exportaes mineiras.

    Entretanto, a situao preocupante, uma vez que, dentre os produtos da pauta, os setores

    que apresentaram maiores taxas de crescimento foram aqueles de baixa complexidade

    tecnolgica e pequena agregao de valor, relativos agropecuria e minerao.

    Esse fenmeno foi resultante do aquecimento da demanda internacional por commodities,

    carreado principalmente pela China, que passou a deter mais de 30% das exportaes de

    Minas. O ritmo de concentrao econmica nesse tipo de atividade e nesse mercado de

    destino sugere considervel risco de primarizao da economia mineira e formao de

    elevado potencial de instabilidade. Em outras palavras, um movimento de reduo da

    diversificao na produo e nos mercados de destino causa aumento da dependncia a

    esses produtos e a seus compradores.

    Com esse novo perfil, a economia mineira tornou-se mais sensvel s oscilaes da

    economia internacional. Em 2009, devido crise deflagrada pelos Estados Unidos, em

    2008, o Produto Interno Bruto de Minas Gerais PIB mineiro regrediu 4%. J em 2010,

    ano de recuperao, o PIB mineiro avanou 10,3%, enquanto em 2011, com o

    agravamento da crise da dvida na Unio Europeia e as dificuldades de combate recesso

    nos Estados Unidos, o PIB mineiro expandiu apenas 2,7%, mesma taxa ocorrida no Brasil

    como um todo.

    (....)

    O estudo do IPEAD aponta que as regies Central e Noroeste experimentaram as maiores

    taxas de crescimento do PIB real mdio nos ltimos anos. O crescimento da regio Central

    foi motivado pela atividade mineradora, aumentando a concentrao econmica na

    regio, cuja participao no PIB mineiro saltou de 43,4% em 2000 para 46,6% em 2008.

    (Grifo nosso)

    (...)

    Em suma, observou-se, em Minas Gerais, grande desigualdade em termos de

    desenvolvimento econmico entre as regies de planejamento, havendo forte

    concentrao de emprego, produto e arrecadao na regio Central, no tendo sido

    constatados grandes sinais de mudana entre 2000 e 2008 nem vislumbradas alteraes

    significativas para o cenrio de 2012 a 2030.

    Tais estudos demonstram a importncia e a necessidade da adoo de polticas

    econmicas que promovam a desconcentrao regional do produto e do emprego e a

    diversificao da produo, conciliadas com a melhoria de indicadores sociais e

    ambientais em todas as regies de Minas, o que ser determinante para a sustentabilidade

    da receita fiscal mineira. Nesse sentido, frisa-se a valiosa contribuio do IPEAD, que

    sugeriu diretrizes para a poltica de desenvolvimento regional do Estado, conforme

    estampado no relatrio tcnico e no seu apndice (Anexo 1). (Grifo nosso)

    Segundo o reexame tcnico, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico

    SEDE demonstrou alinhamento com as recomendaes da CAMGE e do IPEAD.

    Contudo, perduram tendncias de concentrao regional e no foram identificadas, com

    suficiente clareza e detalhamento, as polticas por regio. Tambm foi constatada baixa

    execuo oramentria do programa estruturador, denominado Promoo e Atrao de

    Investimentos Estratgicos e Desenvolvimento das Cadeias Produtivas das Empresas

    ncoras, componente do Plano Plurianual de Ao Governamental PPAG 2008/2011

    (Leis ns 17.347/08 e 19.417/11).

    No PPAG 2012/2015, o sobredito programa consta como Investimento Competitivo para

    Fortalecimento e Diversificao da Economia Mineira e ser avaliado a partir do

    exerccio financeiro em curso.

  • 10

    1.10 Diante do exposto, o Exmo. Sr. Conselheiro Relator determinou a esta Diretoria Tcnica

    que inclusse no plano anual de auditorias a realizao de auditorias de natureza operacional nos

    principais municpios mineradores para a avaliao do desempenho das polticas pblicas

    municipais na mitigao dos impactos negativos da minerao, em especial os ambientais e os de

    concentrao (no diversificao) das atividades econmicas.

    OBJETO E ESCOPO DA AUDITORIA

    1.11 A presente auditoria tem como objetivo avaliar o desempenho das polticas pblicas

    municipais na mitigao dos impactos negativos da minerao, em especial os ambientais e os de

    concentrao (no diversificao) das atividades econmicas.

    1.12 Na fase preliminar da auditoria foram identificadas reas de atuao das prefeituras

    municipais consideradas relevantes anlise do desempenho das polticas municipais. Assim,

    considerando a proposio do Conselheiro Cludio Couto Terro, bem como os levantamentos

    iniciais realizados pela equipe de auditoria, estruturou-se o presente trabalho, cujo escopo foi

    delimitado pelas seguintes questes:

    Questo 1: De que forma a prefeitura municipal atua no acompanhamento e

    fiscalizao dos recursos provenientes da CFEM?

    Questo 2: De que maneira vem sendo implementadas as polticas de diversificao

    da economia do municpio?

    Questo 3: De que forma o municpio tem se envolvido no processo de

    licenciamento e acompanhamento do cumprimento das condicionantes de

    empreendimentos minerrios?

    Questo 4: Em que medida a administrao municipal contribui para a eficcia dos

    mecanismos de transparncia da gesto pblica em um contexto minerador?

    1.13 A anlise das questes de auditoria deu-se luz da legislao especfica sobre o assunto, a

    saber: Constituies da Repblica e do Estado de Minas Gerais; Lei Federal n 7.990/1989, que

    institui a CFEM; Lei Federal n 8.001/1990, que estabelece os percentuais da CFEM a serem

    distribudos aos Municpios, aos Estados e Unio; Lei Federal n 6.938/1981, que dispe sobre

    a Poltica Nacional do Meio Ambiente; Lei Complementar Federal N 140/2011, que fixa normas

    http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.938-1981?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lcp%20140-2011?OpenDocument

  • 11

    para a cooperao entre os entes federativos nas aes administrativas relativas ao meio ambiente;

    e legislao municipal aplicvel.

    METODOLOGIA DE ANLISE

    1.14 Estabelecido o objeto no mbito desta Corte, competiu equipe de auditoria realizar um

    levantamento de escopo restrito, de forma a esclarecer os principais processos operacionais dos

    municpios mineradores.

    1.15 Na fase de planejamento, com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre o assunto,

    bem como identificar as reas que poderiam demandar uma inflexo na investigao, foram

    aplicadas as seguintes tcnicas de diagnstico:

    Stakeholders, na qual foram identificados os principais atores envolvidos,

    bem como opinies e conflitos de interesse e informaes relevantes;

    rvore de Problemas, na qual foram identificados os problemas por

    meio de reviso da literatura, de informaes obtidas na pesquisa exploratria e de

    entrevistas com especialistas que atuam nas reas de minerao e meio ambiente. Sua

    construo permitiu a identificao e a organizao das causas e consequncias ou

    efeitos do problema central da auditoria.

    1.16 A estratgia metodolgica do trabalho centrou-se na pesquisa, utilizada em conjunto com

    estudos de caso dos municpios mineradores como suporte para as anlises de carter qualitativo.

    As anlises foram realizadas a partir de dados secundrios, obtidos mediante consulta legislao

    sobre o tema, bibliografia especfica e aos documentos obtidos junto ao Municpio. Foram

    utilizados, tambm, dados primrios, derivados das respostas a entrevistas realizadas com os

    gestores dos rgos e entidades envolvidos, e de questionrios aplicados in loco.

    1.17 A pesquisa documental foi desenvolvida por meio da anlise de documentos

    administrativos requeridos Prefeitura, de consulta a banco de dados e a publicaes diversas, e

    de verificao de sistemas de controle como o Sistema Informatizado de Contas dos Municpios

    SICOM e o Sistema Informatizado de Apoio ao Controle Externo - SIACE.

  • 12

    1.18 Na fase de coleta de dados foram realizadas entrevistas com secretrios e tcnicos

    estaduais, secretrios e tcnicos municipais, bem como membros do Conselho Estadual de Poltica

    Ambiental COPAM e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental CODEMA, de

    associaes comunitrias e de organizaes no-governamentais.

    1.19 As visitas exploratrias foram realizadas no perodo de 27 a 29 de novembro e de 8 a 12

    de dezembro de 2013 com a finalidade de conhecer fases distintas da explorao mineral. Para

    isso, foram escolhidos trs municpios mineradores, a saber: Riacho dos Machados, em fase inicial

    de explorao mineral; Congonhas, onde a minerao uma atividade econmica consolidada; e

    Fortaleza de Minas, em fase de encerramento das atividades de explorao. O trabalho consistiu

    em entrevistas realizadas com diversos atores locais para um maior conhecimento do tema

    auditado.

    1.20 A partir dessas visitas, verificou-se que a minerao gera impactos positivos, como o

    aumento da arrecadao municipal, a gerao de emprego e de renda. Em sede de impactos

    negativos podem ser destacados: aumento da populao flutuante na fase de implantao da mina;

    infraestrutura insuficiente e impacto nas vias urbanas (poeira, trfego de caminhes e nibus);

    adoo de polticas assistencialistas; e fragilidade na estrutura administrativa dos municpios

    mineradores. Tambm foi possvel obter informaes que subsidiaram a elaborao dos

    instrumentos de coleta de dados, reduziram incertezas e definiram os critrios e as questes de

    auditoria.

    1.21 No caso do Municpio de Conceio do Mato Dentro, o levantamento de campo foi

    realizado no perodo de 21 a 25 de julho de 2014 e de 16 a 19 de junho de 2015. Foram realizadas

    entrevistas semiestruturadas direcionadas aos Secretrios Municipais de Fazenda, Planejamento e

    Desenvolvimento Econmico, Meio Ambiente, Turismo, Cultura, Assessora de Comunicao, e

    aos tcnicos municipais das reas correspondentes, bem como lderes comunitrios, membros do

    CODEMA, alm de contatos com responsveis por aes setoriais realizadas em diversas

    secretarias municipais. Para a anlise dos dados qualitativos provenientes das entrevistas

    realizadas foi utilizada a anlise de contedo categorial temtica (Bardin, 1977 apud Oliveira,

    2008).

    1.22 Dentre as limitaes encontradas no decorrer do trabalho, destacam-se a dificuldade de

    acesso legislao municipal em meios eletrnicos e aos dados municipais nos sites das

    Prefeituras.

  • 13

    ESTRUTURA DO RELATRIO FINAL

    1.23 Alm deste primeiro captulo, de contedo introdutrio, este relatrio encontra-se

    estruturado em mais 8 captulos. O captulo 2 apresenta uma viso geral da atividade mineradora

    no municpio de Conceio do Mato Dentro. Nos captulos 3, 4, 5 e 6 so apresentados os

    principais achados de auditoria. No captulo 7, so apresentados os comentrios do gestor, o

    captulo 8 apresenta as concluses do trabalho e as recomendaes, no captulo 9.

  • 14

    2. VISO GERAL

    2.1 Os minerais do subsolo so bens pblicos, de propriedade do povo brasileiro, sendo

    assegurada a participao de estados e municpios no resultado, conforme art. 20, IX da

    Constituio Federal. A Lei Federal n 7.990/1989 regulamentou o referido dispositivo

    constitucional, instituindo a CFEM, e a Lei Federal n 8.001/1990, estabeleceu os percentuais a

    serem distribudos aos Municpios, aos Estados e Unio.

    2.2 Em relao ao meio ambiente, a Constituio Federal estabelece a competncia comum da

    Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios na sua proteo e impe sua defesa ao

    Poder Pblico. Nesse sentido, a Lei Federal n 6.938/1981, que dispe sobre a Poltica Nacional

    do Meio Ambiente, explicita o papel de estados e municpios na proteo ao meio ambiente.

    2.3 Nos termos da Lei Complementar Federal N 140/2011, que fixa normas para a cooperao

    entre os entes federativos nas aes administrativas relativas ao assunto, destaca a atribuio

    comum de fiscalizao da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou

    potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislao ambiental em

    vigor. Nos casos de iminncia ou ocorrncia de degradao da qualidade ambiental, o ente

    federativo que tiver conhecimento do fato dever determinar medidas para evit-la, fazer cess-la

    ou mitig-la, comunicando imediatamente ao rgo competente para as providncias cabveis.

    2.4 Conceio do Mato Dentro possui uma populao urbana superior populao rural,

    estimada em 18.235 habitantes, com rea territorial de 1.726,83 quilmetros quadrados, e est

    localizada a 160 km de Belo Horizonte. De acordo com IBGE, o IDHM de 2010 alcanou o

    patamar de 0,634, inferior mdia nacional e do Estado. O PIB per capita do municpio, para o

    exerccio de 2012, era de R$ 9.973,47 (nove mil novecentos e setenta e trs reais e quarenta e sete

    centavos), inferior ao PIB per capita nacional e do Estado de Minas Gerais1.

    2.5 Em dezembro de 2009, o conglomerado britnico Anglo Americano iniciou, com o aval do

    Estado, a implementao do empreendimento minerrio Minas-Rio. O projeto consiste na

    instalao de uma mina a cu aberto e estruturas adjacentes em Conceio do Mato Dentro e dois

    municpios vizinhos em Minas Gerais, alm de um mineroduto de 525 km de extenso para o

    transporte do minrio at o litoral do Rio de Janeiro no Porto de Au, estrutura final do

    1 Disponvel em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=311750&search=minas-gerais|conceicao-do-mato-dentro|infograficos:-informacoes-completas .,,, ,,,, Acesso em 11/08/2015

    http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.938-1981?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lcp%20140-2011?OpenDocumenthttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=311750&search=minas-gerais|conceicao-do-mato-dentro|infograficos:-informacoes-completashttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=311750&search=minas-gerais|conceicao-do-mato-dentro|infograficos:-informacoes-completas

  • 15

    empreendimento2. O projeto iniciou-se com a AMMX Minerao e Metlicos S.A. No tocante

    arrecadao da Compensao Financeira pela Explorao dos Recursos Minerais CFEM, o

    Municpio de Conceio do Mato Dentro recebeu nos meses de janeiro a junho de 2015 o

    equivalente a R$ 4.184.232,27 (quatro milhes cento e oitenta e quatro mil duzentos e trinta e dois

    reais e vinte e sete centavos), conforme informaes obtidas no livro contbil razo na Prefeitura.

    2.6 A arrecadao da CFEM vem crescendo no cmputo da receita corrente total. Isto requer,

    por parte do executivo municipal, a elaborao de instrumentos que possibilitem um planejamento

    estratgico das aes governamentais de curto, mdio e longo prazos, adotando a poltica de

    diversificao econmica e investimentos fora do eixo da minerao, tendo em vista a

    possibilidade de esgotamento das reservas minerais, ainda que esteja no processo inicial de

    explorao. Alm disso, o minrio de ferro uma commodity sujeita a oscilaes de preo, fruto

    das alteraes do ambiente econmico internacional, o que interfere na arrecadao municipal.

    2 Monografia Marina Abreu Torres- 2014- FAFICH/UFMG

  • 16

    3. ATUAO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCEIO DO MATO DENTRO NO ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAO DA

    CFEM

    3.1 A Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais - CFEM, estabelecida

    pela Constituio de 1988 no 1 do art. 20, devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos

    Municpios e aos rgos da administrao da Unio como contraprestao pela utilizao

    econmica dos recursos minerais em seus respectivos territrios.

    3.2 A atividade de minerao em decorrncia da explorao ou extrao de recursos minerais

    leva, obrigatoriamente, ao recolhimento da CFEM. A sada por venda do produto mineral das reas

    da jazida, mina, salina ou outros depsitos minerais constitui-se fato gerador da contribuio.

    Outro fator gerador da contribuio a transformao industrial do produto mineral ou mesmo o

    seu consumo por parte do minerador. No caso da venda do produto mineral, a CFEM calculada

    sobre o valor do faturamento lquido, obtido por ocasio da venda. Entende-se por faturamento

    lquido o valor da venda do produto mineral, deduzindo-se os tributos (ICMS, PIS, COFINS) que

    incidem na comercializao, bem como tambm as despesas com transporte e seguro. Quando no

    ocorre a venda, porque o produto mineral consumido, transformado ou utilizado pelo prprio

    minerador, ento se considera como valor, para efeito do clculo da CFEM, a soma das despesas

    diretas e indiretas ocorridas at o momento da utilizao do produto mineral.

    3.3 A Lei Federal n 8.001/1990, que define os percentuais da distribuio da CFEM,

    estabeleceu no 1 do art. 2 os seguintes percentuais da compensao financeira, de acordo com

    as classes de substncias minerais:

    I - minrio de alumnio, mangans, sal-gema e potssio: 3% (trs por cento);

    II - ferro, fertilizante, carvo e demais substncias minerais: 2% (dois por cento);

    III - pedras preciosas, pedras coradas lapidveis, carbonados e metais nobres: 0,2% (dois

    dcimos por cento);

    IV - ouro: 1% (um por cento), quando extrado por empresas mineradoras, isentos os

    garimpeiros.

    3.4 Os valores arrecadados com a CFEM, conforme o 2 do art. 2 da Lei Federal n

    8.001/1990, so distribudos aos Municpios, aos Estados e Unio, em cotas de 65%, 23% e 12%,

    respectivamente, em suas contas de movimento especficas, no sexto dia til que sucede ao

    recolhimento por parte das empresas de minerao.

  • 17

    3.5 De acordo com o inciso IX do art. 3 da Lei Federal n. 8.876/1994, que autoriza o Poder

    Executivo a instituir como Autarquia o Departamento Nacional de Produo Mineral - DNPM,

    cabe Autarquia a administrao e fiscalizao dos recursos provenientes do recolhimento da

    CFEM, bem como o repasse dos valores recolhidos e sua divulgao.

    3.6 No obstante as competncias da Autarquia, considerando a importncia da receita oriunda

    da CFEM na arrecadao municipal e a importante contribuio que o Municpio pode oferecer ao

    rgo federal, foi analisada a atuao da administrao municipal no acompanhamento da

    arrecadao e da fiscalizao da referida Compensao.

    Deficincias no acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte da

    Administrao Municipal

    3.7 Ressaltando que cabe ao DNPM o recolhimento, a fiscalizao e a partilha dos recursos da

    CFEM, na anlise da atuao da administrao municipal foi verificado que o Municpio no

    adotou uma postura preventiva de acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da

    Compensao. So evidncias dessa situao:

    i) No foram identificadas aes relativas ao acompanhamento da arrecadao e da

    fiscalizao dos valores da CFEM a serem arrecadados;

    ii) No foram identificados, no quadro de pessoal da Prefeitura Municipal,

    profissionais que, dentre suas atribuies, acompanhem o recolhimento e a fiscalizao

    da CFEM.

    3.8 As deficincias no acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte

    da Administrao Municipal relacionam-se a diversas causas, dentre as quais destacamos: a) o fato

    de no se encontrar em vigncia o Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM; b) deficincias

    da capacitao do quadro de pessoal da Secretaria Municipal de Fazenda quanto CFEM.

    a) Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM no se encontra em vigncia

    3.9 O Acordo de Cooperao Tcnica celebrado entre o DNPM e o Municpio tem por objeto

    a cooperao tcnica entre as partes, cabendo ao Municpio, dentre outras atribuies:

  • 18

    (...) acompanhar, conjuntamente, as aes de fiscalizao e, em sendo o caso, promover

    posterior legalizao das atividades de explorao mineral, orientando os envolvidos

    conforme legislao, resguardadas as respectivas competncias legais.

    3.10 Ou seja, o Acordo trata da implementao de aes conjuntas no que se refere fiscalizao

    da CFEM. No entanto, em relao ao Municpio de Conceio do Mato Dentro, o Acordo de

    Cooperao Tcnica n 20/2005, assinado pelas partes em 12/09/2005, encontra-se vencido.

    3.11 Destaca-se que, conforme minuta, o referido Acordo possibilita Secretaria Municipal, sob

    coordenao do DNPM, o poder de fiscalizao, conforme exposto:

    CLUSULA STIMA DAS ATRIBUIES ESPECFICAS

    (...)

    II - Caber (Secretaria Municipal designada):

    (...)

    B) Fiscalizar, sob a coordenao do DNPM, o pagamento da CFEM sobre todas as

    atividades de extrao mineral desenvolvidas no Municpio (nome do Municpio

    interessado), independentemente do regime de aproveitamento das substncias minerais.

    3.12 Deve ser salientado que o Acordo objetiva a ao conjunta de fiscalizar a explorao de

    recursos minerais do municpio e o acompanhamento dos valores recolhidos por cada mineradora

    instalada no Municpio. Sendo assim, o fato de um dos instrumentos institucionais que facilitaria

    a ao de acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte da administrao

    municipal no se encontrar em vigncia pode ser apontado como uma das causas das deficincias

    da administrao municipal em relao ao assunto.

    b) Deficincias da capacitao do quadro de pessoal da Secretaria Municipal de Fazenda

    quanto CFEM

    3.13 As competncias relativas ao acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM,

    bem como o entendimento da legislao pertinente, exigem a capacitao permanente de seus

    servidores para o desempenho de suas atribuies. Nesse sentido, destaca-se que a Lei

    Complementar Municipal n. 073/2013, que dispe sobre a organizao, a estrutura orgnica e os

    procedimentos da administrao do Municpio, atribui ao Departamento de Gesto de Pessoas da

    Secretaria Municipal de Administrao as competncias relativas ao treinamento de pessoal,

    conforme transcrito a seguir:

  • 19

    Art. 63. Ao Departamento de Gesto de Pessoas compete:

    (...)

    II - estudar, elaborar e propor planos e programas de formao, treinamento e

    aperfeioamento de pessoal;

    III - analisar as solicitaes de treinamento de outro rgo da administrao;

    3.14 Conforme informaes obtidas por meio de entrevistas com tcnicos e secretrios

    municipais, no existe no quadro de pessoal da Prefeitura Municipal um profissional com

    conhecimentos sobre a CFEM. Alm disso, no foram realizados cursos ou treinamentos

    especficos sobre o assunto, conforme informaes prestadas pela Prefeitura Municipal.

    3.15 Levando-se em considerao que atualmente a arrecadao da CFEM incipiente no

    municpio de Conceio do Mato Dentro, mas h perspectivas de aumentos progressivos em curto

    prazo, a adoo de uma poltica de cursos e treinamentos especficos para o acompanhamento,

    fiscalizao e arrecadao da CFEM imperiosa. Em 2014, o municpio era o 20 arrecadador da

    CFEM em Minas Gerais, considerando o recolhimento referente ao minrio de ferro3. Em agosto

    de 2015, j figurava como 9 arrecadador4, com potencial de crescimento no ranking at o

    encerramento do exerccio corrente.

    3.16 No entanto, no foram apresentadas evidncias da adoo por parte da Administrao

    Municipal de uma postura proativa frente necessidade de aprimoramento do quadro tcnico do

    pessoal da Secretaria da Fazenda no tocante arrecadao, acompanhamento e fiscalizao da

    CFEM. Corrobora in casu a falta de previso na programao da Secretaria da Fazenda para

    realizao de cursos e treinamentos referentes CFEM, conforme o 26 Relatrio Gerencial da

    Prefeitura Municipal referente ao perodo de maio a junho de 2015.

    3.17 Soma-se a isto a necessidade de reativar o Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM,

    pois o disposto na minuta do Acordo5 celebrado entre DNPM e Municpios, onde caber a

    autarquia federal a realizao de cursos e treinamentos, nos seguintes termos:

    CLUSULA STIMA DAS ATRIBUIES ESPECFICAS

    I - Caber ao DNPM:

    (...)

    D) Quando solicitado, colaborar de forma a promover curso de treinamento, acerca das

    tcnicas de fiscalizao/CFEM, para os agentes fiscalizadores do Municpio.

    3 Disponvel em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspx. Acesso em 11/08/2015. 4 Disponvel em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspx. Acesso em 11/08/2015. 5 Disponvel em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/acordo/frm_solicitacao_acordo.aspx. Acesso em 11/08/2015.

    https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspxhttps://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspxhttps://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/acordo/frm_solicitacao_acordo.aspx

  • 20

    3.18 Portanto, considera-se o fato de no ter havido capacitao dos servidores municipais no

    tema, compromete o acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte da

    Administrao Municipal.

    Efeitos das deficincias no acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM

    por parte da Administrao Municipal

    3.19 Como efeitos das deficincias da administrao municipal no acompanhamento da CFEM

    podem ser destacadas a reduo da capacidade de estimar as receitas decorrentes da Compensao,

    bem como de detectar inconformidades em sua arrecadao e de atuar em parceria com o DNPM.

    Recomendaes

    3.20 Com base nas deficincias apuradas recomenda-se que a Prefeitura Municipal de

    Conceio do Mato Dentro:

    Desenvolva e implemente um programa de capacitao do quadro de pessoal da Secretaria

    Municipal de Fazenda relativos CFEM;

    Renove o Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM e promova aes no sentido de

    operacionalizar as atividades nele previstas, mantendo arquivos sistematizados dos

    documentos referentes s iniciativas da Prefeitura Municipal para verificao em futuras

    auditorias.

    Benefcios esperados

    3.21 Com a implementao das recomendaes no que se refere ao acompanhamento da

    arrecadao e da fiscalizao da CFEM pela Prefeitura Municipal espera-se:

    A melhoria da gesto administrativa;

    A melhoria nos processos de trabalho;

    Maior previsibilidade das receitas por parte dos agentes municipais.

  • 21

    4. OS RECURSOS DA CFEM E AS POLTICAS DE DIVERSIFICAO DA ECONOMIA LOCAL

    4.1 O art. 8 da Lei Federal n 7.990/1989, que instituiu a CFEM, e o pargrafo nico do art.

    26 do Decreto n 01/1991, que a regulamenta, vedam a aplicao dos valores arrecadados por meio

    da Compensao em pagamento de dvidas e no quadro permanente de pessoal. O DNPM6 informa

    que as receitas devero ser aplicadas em projetos que direta ou indiretamente revertam em prol da

    comunidade local na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da sade e da

    educao.

    4.2 Mas a legislao no tem a mesma clareza para delimitar onde os recursos devem ser

    investidos. Prefeituras, especialistas em direito minerrio e promotores de Justia no se entendem

    quanto ao direcionamento do dinheiro originado na explorao dos recursos minerais. Com a falta

    de especificidade na Lei, os recursos entram no caixa nico dos Municpios para fechar o

    oramento.

    4.3 Como a contribuio tem sua origem na compensao pela extrao de recursos minerais,

    atividade sabidamente degradadora do meio ambiente, a prioridade dos investimentos dos recursos

    em benefcio da melhoria da qualidade ambiental (implantao de depsitos de resduos urbanos,

    estaes de tratamento de esgotos, projetos de educao ambiental etc.) nos Municpios onde

    ocorre a explorao mostra-se sem dvida como uma das opes mais razoveis e convenientes,

    uma vez que funcionaria como uma forma indireta de compensao pelos efeitos deletrios

    causados pelos empreendimentos minerrios.

    4.4 A anlise do tema minerao pode ser feita sob a perspectiva do desenvolvimento

    sustentvel e da funo socioambiental da CFEM. Considerando o primeiro aspecto, Maria Amlia

    Enrquez analisou a contribuio do setor mineral para o desenvolvimento sustentvel, afirmando

    o seguinte:

    As polticas indicadas para evitar o colapso das economias de base mineira so aquelas

    que buscam diminuir o peso relativo da produo mineral, ou seja, que promovam a

    diversificao produtiva. Auty (1994) recomenda usar as rendas mineiras para

    diversificar rapidamente a base produtiva dos setores no-mineiros. Afirma que o setor

    mineral no deveria ser considerado como a coluna vertebral da economia; ao invs disso,

    ele deveria ser visto como um bnus que permite acelerar o crescimento econmico e

    promover mudanas estruturais saudveis na economia (AUTY, 1993, p. 258),

    enquanto [o governo] prudente pode evitar as armadilhas polticas (AUTY, 1994, p.

    24). No entanto, o prprio Auty reconhece que predomina muito mais o mau uso das

    rendas mineiras e que, na mdia, os governantes no tm se mostrado capazes de evitar

    as armadilhas associadas dependncia mineral. (ENRQUEZ, 2008, p. 101)

    6 Disponvel em: . Acesso em 3/12/2014.

    http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=60

  • 22

    4.5 Nessa esteira, a autora continua sua abordagem do tema diversificao, quando faz a

    seguinte considerao:

    Segundo Veiga et al. (2001), para que uma comunidade mineira seja considerada

    sustentvel, ela deve seguir os princpios da sustentabilidade ecolgica, da vitalidade

    econmica e da equidade social. Progressos nessa direo ocorrem quando se adiciona

    valor s comunidades durante o ciclo de vida da minerao. Para os autores, a herana

    deixada para a comunidade mineira, aps o fechamento da mina, est emergindo como

    uma das mais significativas questes do planejamento da indstria mineral.

    Nesse sentido, uma boa poltica de gerenciamento ambiental importante, porm

    insuficiente para alcanar todas as dimenses do desenvolvimento no nvel local.

    Iniciativas nas reas da comunicao, educao, sade e segurana, parcerias e

    diversificao so elementos fundamentais para a sustentabilidade da comunidade no

    longo prazo. (ENRQUEZ, 2008, p. 118-119)

    4.6 Considerando a funo socioambiental da CFEM, Romeu Thom, em artigo sobre o

    assunto, destaca:

    inegvel, portanto, a importncia da minerao para a interiorizao do

    desenvolvimento econmico do Brasil e seu relevante papel incentivador da criao de

    vilas e cidades no entorno de minas e jazidas. Todavia, uma caracterstica inerente aos

    recursos minerais no pode ser, em momento algum, desprezada: a sua esgotabilidade.

    So recursos no renovveis que, inevitavelmente, um dia se esgotaro. E ento as

    inmeras vilas e cidades originadas e dependentes da minerao podero se deparar com

    inimaginveis impactos socioeconmicos advindos do encerramento das atividades

    mineiras, caso no providenciem a diversificao de sua economia. A Constituio

    Federal oferece instrumentos adequados para que o Poder Pblico promova os

    investimentos necessrios para impedir ou diminuir os impactos socioeconmicos e

    ambientais decorrentes do encerramento de atividades minerrias. (THOM, 2009)

    4.7 No mesmo artigo o autor enfatiza o papel da CFEM, no seguinte contexto:

    Tambm no se pode admitir tratar-se a CFEM apenas de participao econmica dos

    Estados e Municpios no resultado da explorao mineral. A interpretao sistemtica da

    Constituio Federal nos impele a analisar o instrumento da CFEM de forma ampla,

    compreendendo-o como parte integrante da estrutura normativa constitucional. Com

    respaldo nos princpios do desenvolvimento sustentvel, da preveno e da reparao,

    resta claro que o objetivo do repasse de percentuais considerveis da CFEM aos Estados

    e Municpios no simplesmente particip-los economicamente (viso estritamente

    econmica, superada no atual Estado Scio-ambiental de Direito), mas, sobretudo,

    compens-los pelos impactos ambientais e sociais advindos da explorao mineral em

    seus territrios. O objetivo foi estabelecer uma compensao pela degradao ambiental

    da explorao mineral e pelo impacto socioeconmico do esgotamento da mina. Desta

    forma os Estados e, principalmente os Municpios, devem aplicar os recursos advindos

    da CFEM na recuperao do meio ambiente, no desenvolvimento da infra-estrutura

    da cidade e na atrao de novos investimentos e atividades, tendo em vista a

    diversificao de sua economia (grifo nosso), com o intuito de minimizar a dependncia

    local em relao atividade mineral que, por se tratar de explorao de recursos no-

    renovveis, certamente esgotar-se- um dia. (THOM, 2009) (grifo nosso)

  • 23

    4.8 Nesse sentido, cumpre destacar, citando novamente Maria Amlia Enrquez, que se pode

    identificar dois padres de uso da CFEM:

    1. armadilha do caixa nico os recursos entram no caixa da prefeitura e se diluem nas despesas correntes. (...)

    2. uso sustentado os recursos da CFEM entram no caixa da prefeitura e so direcionados (total ou parcialmente) para determinados fins previamente definidos.

    (ENRQUEZ, 2008, p. 346)

    4.9 Segundo a autora, o uso sustentado da CFEM tem apresentado resultados positivos para os

    Municpios que o adotam, reduzindo a dependncia excessiva em relao minerao devido ao

    investimento na diversificao produtiva e na formao de capital humano (ENRQUEZ, 2008).

    4.10 Sendo assim, tendo em vista os objetivos dessa auditoria operacional, foi analisada a

    poltica local de diversificao econmica considerando a legislao vigente no Municpio e seu

    papel no planejamento do desenvolvimento sustentvel, bem como a utilizao dos recursos da

    CFEM nesse processo.

    Insuficincia da estratgia de diversificao da economia local

    4.11 O Municpio de Conceio do Mato Dentro apresentou uma estratgia de diversificao

    econmica local insuficiente para lidar com os problemas e oportunidades advindos da atividade

    minerria. Aps o exame da documentao obtida junto municipalidade, bem como entrevistas

    com secretrios e tcnicos municipais, podem ser citadas vrias evidncias dessa situao:

    i) No h um planejamento especfico para a aplicao dos recursos da CFEM em sade,

    infraestrutura, urbanismo, diversificao econmica e educao;

    ii) o processo de implementao dos programas setoriais tem sido muito longo. No caso

    do turismo, a elaborao do Plano Municipal encontra-se prevista no art. 194 do Plano

    Diretor, institudo pela Lei Complementar n 20/2003; quanto agricultura, a Lei

    Municipal n. 1651 foi publicada em 2001. No entanto, em relao aos dois setores as

    aes de elaborao e implementao das polticas pblicas no haviam sido

    concludas at a realizao desta auditoria operacional.

    iii) O Plano Diretor em vigor, promulgado em 2003, foi concebido em perodo anterior

    explorao mineral relativa ao projeto Minas Rio, no refletindo a realidade atual do

    Municpio.

    4.12 O plano diretor o instrumento bsico da poltica de desenvolvimento e expanso urbana,

    de acordo com artigo 40 da Lei Federal n 10.257/2001 - Estatuto das Cidades, que estabelece

  • 24

    diretrizes gerais da poltica urbana. O Plano Diretor de Desenvolvimento de Conceio do Mato

    Dentro em vigor foi institudo pela Lei Complementar Municipal n 020/2003.

    4.13 A elaborao do Plano Diretor de Conceio do Mato Dentro ocorreu em perodo anterior

    explorao de minrio de ferro que atualmente caracteriza o ambiente econmico do Municpio.

    Sendo um Plano Diretor concebido para um municpio turstico ou de outras atividades no-

    minerrias, a minerao, como instrumento de desenvolvimento, contemplada apenas no artigo

    191 deste instrumento, dividindo o teor do texto com o desenvolvimento industrial, conforme

    segue:

    Art. 191 As aes de promoo da atividade industrial e de minerao devero buscar

    a realizao dos seguintes objetivos:

    I - Promover a constituio de pequenos empreendimentos de origem local, cooperativas

    de artesanato, alimentos e outros similares, integrando os encadeamentos econmicos,

    quais sejam extrao e/ou produo, transformao e beneficiamento;

    II - Desenvolver a infraestrutura para o exerccio de atividades industriais e de minerao

    em harmonia e em correspondncia com as diretrizes para a ocupao urbana

    preestabelecida;

    III - Adequar as atividades industriais e de minerao s normas de preservao ambiental

    e s caractersticas ecolgicas e histricas do Municpio, subordinando as atividades que

    causam impactos ao meio ambiente natural e urbano, em especial a atividade mineradora,

    a um rigoroso licenciamento ambiental, fiscalizao, monitoramento constante e

    obrigatoriedade de preservao e recomposio dos ambientes por ventura afetados, com

    destaque para o retorno social das comunidades envolvidas.

    4.14 Nesse sentido, cumpre transcrever a opinio do Secretrio Municipal de Planejamento

    sobre o assunto:

    Nosso plano diretor de 2003 e foi concebido para um municpio turstico e no um

    municpio minerrio. Em 2007 foi proposta uma reviso, com adequao para a atual

    situao do municpio. Porm, em virtude de problemas polticos no municpio (...) o

    plano ainda no foi votado. Em 2014 houve reincio das movimentaes para construo

    e aprovao de novo Plano.

    4.15 O Secretrio ao falar em adequao para a situao atual do municpio refere-se sua nova

    condio de municpio cuja atividade de maior relevncia econmica a minerao.

    4.16 O prazo para a reviso do Plano Diretor estabelecido na Lei Federal n 10.257/2001 -

    Estatuto das Cidades, conforme reproduzido a seguir:

    Art. 40. (...) (...)

    3o A lei que instituir o plano diretor dever ser revista, pelo menos, a cada dez anos. 4o No processo de elaborao do plano diretor e na fiscalizao de sua implementao,

    os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantiro: I a promoo de audincias pblicas e debates com a participao da populao e de

    associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade; II a publicidade quanto aos documentos e informaes produzidos;

  • 25

    III o acesso de qualquer interessado aos documentos e informaes produzidos.

    4.17 Nesse sentido, aps a realizao de estudos e de audincias pblicas no Municpio, foi

    elaborado o Plano Diretor Participativo encaminhado Cmara Municipal na forma do Projeto de

    Lei Complementar n 03/2015. O Projeto deu entrada na Cmara em 28/05/15 e estava em

    tramitao naquela Casa poca da elaborao deste Relatrio.

    4.18 Verificou-se, portanto, que a estratgia de diversificao da economia local apresentada

    pela Administrao Municipal revela-se insuficiente para lidar com a realidade de explorao

    mineral que caracteriza atualmente a cidade de Conceio do Mato Dentro. Essa situao

    relaciona-se a diversas causas, dentre as quais se destacam: a) no apresentao de programas para

    o desenvolvimento local sustentvel em um contexto de explorao mineral; b) deficincias no

    processo de implementao das polticas de desenvolvimento setorial.

    a) No apresentao de programa para o desenvolvimento local sustentvel em um

    contexto de explorao mineral

    4.19 A nova realidade econmica do Municpio de Conceio do Mato Dentro traz

    oportunidades de desenvolvimento bem como problemas decorrentes da atividade minerria que

    devem ser considerados pela administrao local. Porm, no foram apresentados programas,

    planos ou planejamento que definam uma estratgia local com vistas diversificao econmica

    do municpio em um contexto de explorao mineral.

    4.20 Deve ser destacado que, conforme informaes prestadas, a Administrao Municipal

    prev significativo aumento das receitas municipais. Conforme o documento Cenrios Atuais e

    Desafios Futuros do Planejamento Territorial de Conceio de Mato Dentro, de abril/2013, a

    arrecadao da CFEM vem projetando um crescimento da ordem de 30%, conforme Tabela 1,

    reproduzida a seguir.

    Tabela 1 - Projeo da Receita Corrente Lquida

    Realizada Mdia de

    crescimento

    Projetada (mdia aritmtica)

    2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

    16.501.216,77 21.259.894,26 30.347.486,19 35.980.375,80 30,00% 46.791.865,17 60.852.022,73 79.137.017,88 102.916.342,27

    28,80% 42,70% 18,60% 30,00% 30,00% 30,00% 30,00%

    Fonte: Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro (Cenrios atuais e Desafios Futuros do Planejamento Territorial de CMD-abril/2013).

  • 26

    4.21 Ressalta-se que, com base neste estudo, a receita prevista para o exerccio de 2016 alcana

    o patamar de aproximadamente R$ 103.000.000,00 (cento e trs milhes de reais), montante

    expressivo diante de um quadro populacional em torno de 20.000 habitantes.

    4.22 O futuro projeta Conceio do Mato Dentro como um dos municpios com expressivo PIB

    per capita. Este quadro sinaliza que o municpio j deveria possuir um estudo de longo prazo,

    viabilizando projetos estratgicos custeados com a arrecadao da CFEM, a fim de lidar com as

    oportunidades e os problemas advindos da explorao mineral.

    4.23 Diante do exposto, seria necessria a definio de uma estratgia de desenvolvimento local

    sustentvel em vista dessa nova realidade, considerando os diversos setores que compem a

    economia local, as novas oportunidades surgidas e o ambiente socioeconmico atual. Desse modo,

    partindo de um diagnstico que revele as potencialidades do Municpio em face dessa realidade

    minerria, podero ser definidos os objetivos a serem alcanados, partindo de premissas que devem

    ser respeitadas para que o processo de desenvolvimento tenha coerncia e sustentao.

    b) Deficincias no processo de implementao das polticas de desenvolvimento setorial

    4.24 As aes relativas implementao do Plano Municipal do Turismo e do Plano de

    Desenvolvimento Rural de Conceio do Mato Dentro, apesar de decorrido grande lapso temporal

    desde sua definio inicial, no esto concludas, o que denota a existncia de deficincias em seu

    processo de implementao.

    4.25 A elaborao do Plano Municipal de Turismo encontra-se prevista no art. 194 do Plano

    Diretor, institudo pela Lei Complementar n 20/2003, transcrito a seguir:

    Art. 194 - Em face da importncia de Conceio do Mato Dentro em termos de atrativos

    e potencial para o turismo, atividade esta que j vem se consolidando no Municpio, e a

    sua insero em uma rea mais ampla de potencial turstico tambm relevante (Circuitos

    Tursticos da Serra do Cip, do Diamante, da Estrada Real), o desenvolvimento de um

    Plano Municipal de Turismo dever se apoiar nas seguintes diretrizes:

    I - Adequao e melhoria das condies internas do Municpio para melhor receptividade

    e dinamizao do fluxo de visitantes;

    II Insero do Municpio nos circuitos tursticos da regio, visando sua consolidao

    como um espao mais amplo de atividades para o turismo;

    III Implantao de planos de manejo das unidades de conservao, assim como dos

    atrativos naturais pblicos e privados.

  • 27

    4.26 O Plano Municipal de Turismo foi elaborado em 29/04/2013 no mbito do Programa de

    Apoio ao Turismo, constante do processo de licenciamento ambiental do empreendimento Minas-

    Rio Minerao da empresa Anglo American.

    Figura 1 - Igreja do Rosrio

    4.27 Nesse sentido, a Lei Municipal n 2.075, de 30/12/13, dispe sobre a Poltica Municipal de

    Turismo Responsvel, o Sistema Municipal de Turismo, o funcionamento das atividades e

    empreendimentos tursticos e o Fundo Municipal de Turismo. Essa legislao estabelece a

    necessidade de elaborao de diversos instrumentos para a operacionalizao da legislao de

    turismo. Dentre eles, destaca-se o Plano Diretor de Turismo, definido no 5 do art. 4 da referida

    Lei:

    Art. 4 (...)

    (...)

    5 O Plano Diretor de Turismo o documento tcnico que dever conter as diretrizes e

    estratgias para o turismo do municpio para um perodo de 04 anos de acordo com o

    Plano Plurianual de Ao Governamental.

  • 28

    4.28 O Plano Diretor de Turismo, conforme o inciso II do art. 4, composto pelas seguintes

    fases e documentos: a) diagnstico turstico; b) zoneamento turstico; c) Plano de

    Desenvolvimento Turstico; d) Plano de Marketing Turstico.

    4.29 A Lei n. 2.075/2013 criou tambm o Plano de Gesto dos Atrativos Tursticos PGAT,

    como segue:

    Art. 9 - Fica criado o Plano de Gesto dos Atrativos Tursticos PGAT, instrumento que

    poder ser implementado nos atrativos tursticos devidamente licenciados pela Secretaria

    Municipal de Turismo e que conter um plano das atividades tursticas na propriedade,

    no intuito de aprimorar continuamente a qualidade da infraestrutura e da segurana dos

    produtos e servios prestados oferecidos pelos atrativos, bem como sua sustentabilidade

    ambiental.

    4.30 A referida Lei Municipal tambm determina a apreciao do Conselho Municipal de

    Turismo - COMTUR e a reviso peridica, como segue:

    Art. 9 (...)

    (...)

    3 - O PGAT dever ser submetido ao COMTUR e dever ser revisto a cada 02 (dois)

    anos podendo ser alterado durante sua vigncia desde que com anuncia prvia do

    COMTUR.

    4.31 poca da realizao desta auditoria operacional, o Plano Diretor de Turismo e o Plano

    de Gesto dos Atrativos Tursticos ainda no estavam em elaborao. A demora na normatizao

    desses instrumentos remete-nos morosidade de algumas aes necessrias adequada e eficiente

    explorao dos pontos tursticos de Conceio do Mato Dentro, tais como o Parque Municipal

    Salo de Pedras e o Parque Natural Municipal Ribeiro do Campo onde localiza-se a Cachoeira

    do Tabuleiro.

    4.32 Em relao ao setor agropecurio, a adoo de polticas pblicas de desenvolvimento rural

    constitui uma importante fonte de diversificao econmica do municpio, principalmente se

    considerados fatores como o aumento da arrecadao municipal decorrente da CFEM, o Convnio

    realizado com a Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado de Minas Gerais

    Emater e a relativa proximidade com a Capital. Nesse sentido, destaca-se o seguinte inciso da Lei

    Municipal Complementar n 20/2003, que instituiu o Plano Diretor:

    Art. 189 - So partes integrantes da poltica municipal de desenvolvimento econmico:

    (...)

    VI - A implementao de uma poltica rural que dissemine culturas e tcnicas adequadas

    ao aumento da produtividade das atividades agrcolas e da criao de animais;

  • 29

    4.33 A respeito do assunto deve ser destacada a vigncia da Lei Municipal n. 1.651/2001,

    anterior ao Plano Diretor, que dispe sobre a Poltica de Desenvolvimento da Atividade Rural,

    institui o Sistema de Desenvolvimento de Atividade Rural - Conselho e Fundo Municipal de

    Desenvolvimento de Atividade Rural.

    4.34 A referida Lei, alterada pela Lei Municipal n. 1.896/2007, determina em seu artigo

    primeiro que a poltica de desenvolvimento rural ser planejada e executada com vistas a

    incrementar a produo agropecuria do municpio e dotar o trabalhador rural de meios para que

    permanea no campo e tenha uma satisfatria qualidade de vida. J em seu art. 7 instituiu o

    Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural COMUDAR, como segue:

    Art. 7 - Fica institudo o Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural

    COMUDAR, rgo gestor do desenvolvimento rural sustentvel do Municpio de

    Conceio do Mato Dentro, estado de Minas Gerais, que ter funo consultiva ou

    deliberativa, segundo o contexto de cada poltica pblica ou programa de

    desenvolvimento rural em implementao.

    Pargrafo nico. O Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural

    COMUDAR vinculado Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuria e

    Abastecimento.

    4.35 Ainda assim, a legislao promulgada nos exerccios de 2001 e 2007 ainda no foi

    efetivamente implementada, sendo que a Prefeitura no apresentou as aes de promoo e

    incremento da atividade agropecuria em consonncia com a referida normatizao legal

    detalhadas a seguir.

    4.36 Conforme documentao apresentada por tcnicos da Prefeitura Municipal, os membros

    efetivos e suplentes do COMUDAR foram nomeados em 09/08/2013 por meio do Decreto n

    039/2013. O mandato dos membros do Conselho de 02 (dois) anos, conforme disposto no

    pargrafo 3 do artigo 9 da Lei Municipal n. 1.651/2001, permitida uma reconduo por igual

    perodo. Ressalta-se que no foi informada pela Prefeitura Municipal a composio atual do

    Conselho, uma vez que o mandato a que se refere o Decreto n 039/2013 expirou em 10/08/2015.

    4.37 Cabe ao COMUDAR, nos termos da Lei Municipal n. 1.651/2001, alterada pela Lei

    Municipal n. 1.896/2007:

    Art. 8 - Respeitadas as competncias exclusivas do Poder Legislativo Municipal,

    compete ao Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural:

    I - deliberar sobre a Poltica Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural;

    II - fixar diretrizes a serem observadas na elaborao do Plano Plurianual de

    Desenvolvimento da Atividade Rural para o Municpio;

  • 30

    III - assegurar a execuo do Plano Plurianual de Desenvolvimento da Atividade Rural

    para o Municpio;

    4.38 Por meio de consulta ao site do Municpio, verificou-se, conforme a notcia PDR comea

    a ser debatido e formatado que em 16/06/2015 aconteceu o primeiro seminrio para elaborao

    do Plano de Desenvolvimento Rural de Conceio do Mato Dentro.7 A Secretaria Municipal de

    Desenvolvimento Rural encaminhou as propostas discutidas no evento realizado na ocasio.

    Observa-se que foram listadas propostas de programas municipais para a agricultura e a pecuria.

    Consta tambm da documentao o Plano de Trabalho do Posto Agropecurio, com o objetivo de

    orientar e sistematizar as aes a serem executadas em 2015 e que, conforme informaes

    prestadas, seria apresentado em reunio do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural -

    CMDRS.

    4.39 Cabe ressaltar que a legislao em vigor menciona o COMUDAR e no CMDRS, no

    tendo sido apresentada legislao que altere o nome do Conselho Municipal referente ao setor

    rural. Alm disso, observa-se que a documentao no apresenta datas de incio e concluso das

    fases que compem o Plano, bem como responsveis e detalhamento de tarefas.

    4.40 Nos termos da legislao anteriormente transcrita, infere-se o papel central que o

    COMUDAR teria na implementao do Plano. Porm, uma vez que, apesar de solicitadas, no

    foram apresentadas as atas do COMUDAR relativas ao perodo de agosto de 2013 a agosto de

    2015, no foi possvel verificar em que estgio encontram-se as aes relativas implementao

    do Plano de Desenvolvimento Rural.

    Efeitos da insuficincia da estratgia de diversificao da economia local

    4.41 Como efeitos da insuficincia da estratgia de diversificao da economia local pode ser

    destacado o seguinte:

    A perda de eficcia e de eficincia dos programas de desenvolvimento econmico

    municipal devido ao longo tempo de implementao; e

    A baixa diversificao da economia local.

    7 Disponvel em: http://cmd.mg.gov.br/noticias/pdr-comeca-a-ser-debatido-e-formatado. Acesso em 20/08/2015.

    http://cmd.mg.gov.br/noticias/pdr-comeca-a-ser-debatido-e-formatado

  • 31

    Determinaes

    4.42 Em vista do no atendimento solicitao desta equipe de auditoria, entende-se que cabe

    determinar Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro que:

    Esclarea se o rgo gestor do desenvolvimento rural sustentvel do Municpio de

    Conceio do Mato Dentro o Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade

    Rural COMUDAR, conforme Lei Municipal n. 1.896/2007, ou o Conselho

    Municipal de Desenvolvimento Rural CMDRS, mencionado em documentao

    enviada pela Prefeitura Municipal, apresentando documentao e/ou legislao

    pertinente;

    Apresente o Decreto de nomeao dos atuais membros efetivos e suplentes do

    COMUDAR;

    Apresente as atas do COMUDAR relativas ao perodo de agosto de 2013 a agosto de

    2015.

    Recomendaes

    4.43 Em vista do exposto, recomenda-se que a Prefeitura Municipal de Conceio do Mato

    Dentro:

    Apresente plano municipal que contenha a definio de uma estratgia de

    desenvolvimento local sustentvel, considerando os diversos setores que compem a

    economia local, o ambiente socioeconmico atual e futuro e as novas oportunidades

    surgidas para que, partindo de um diagnstico que revele as potencialidades do Municpio,

    estejam definidos os objetivos a serem alcanados.

    Mantenha arquivos sistematizados dos documentos referentes Poltica Municipal de

    Turismo e Poltica de Desenvolvimento da Atividade Rural, bem como de outros projetos

    relacionados diversificao econmica local, a fim de que seja preservada a memria

    dessas iniciativas para futuras consultas, auditorias e prestaes de contas.

  • 32

    Em relao Poltica Municipal de Turismo:

    Apresente o cronograma de aes referente elaborao do Plano Diretor de Turismo,

    cujos documentos e fases esto especificados na Lei Municipal n 2.075/2013, com a

    identificao dos responsveis pelas aes e a previso de datas para seu incio e concluso;

    Apresente o cronograma de aes referente elaborao do Plano de Gesto dos

    Atrativos Tursticos, criado pela Lei Municipal n 2.075/2013, com a identificao dos

    responsveis pelas aes e a previso de datas para seu incio e concluso.

    Em relao Poltica de Desenvolvimento da Atividade Rural:

    Apresente o cronograma de aes referente elaborao do Plano de Desenvolvimento

    Rural, com a identificao dos responsveis pelas aes e a previso de datas para seu

    incio e concluso.

    Benefcios esperados

    4.44 Com a implementao dessas medidas, espera-se obter os seguintes benefcios:

    Aumento da transparncia dos programas de diversificao da economia local;

    Reduo do prazo de implementao dos programas de diversificao econmica;

    Maior eficincia na diversificao da economia local.

  • 33

    5. PARTICIPAO DO MUNICPIO DE CONCEIO DO MATO DENTRO NO MBITO DO LICENCIAMENTO E NA

    FISCALIZAO DAS CONDICIONANTES E DOS IMPACTOS

    AMBIENTAIS DECORRENTES DA ATIVIDADE MINERRIA

    5.1. Este captulo tem por objetivo avaliar a participao do municpio no processo de

    licenciamento desenvolvido pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hdricos -

    SISEMA, bem como a atuao municipal na fiscalizao e na verificao do cumprimento das

    condicionantes do licenciamento e dos impactos ambientais da minerao.

    5.2. Foram realizadas entrevistas e anlises documentais que permitiram avaliar o nvel de

    participao do Municpio no processo de licenciamento, assim como a estrutura, a legislao e as

    aes de fiscalizao ambiental municipais no contexto minerrio. Procurou-se identificar ainda

    se h interao entre o setor de meio ambiente do Municpio e o SISEMA, principalmente quanto

    ao processo de licenciamento, e a colaborao na fiscalizao dos empreendimentos minerrios.

    5.3. Como identificado no Relatrio de Auditoria Operacional: Gesto Estadual das Atividades

    de Extrao do Minrio de Ferro, em elaborao nesta Corte, o SISEMA apresenta diversas

    dificuldades para realizar o licenciamento dos empreendimentos minerrios e para acompanhar e

    fiscalizar o cumprimento das garantias e compromissos assumidos pelo empreendedor minerrio

    na forma de condicionantes. Nesse sentido, a atuao em parceria com o Municpio seria de grande

    importncia para aumentar a eficcia, eficincia e efetividade da atuao do SISEMA.

    5.4. A complexidade dos impactos gerados pela minerao, o estabelecimento de

    condicionantes que no guardam relao com as reais necessidades do Municpio e a falta de

    acompanhamento de seu cumprimento fazem com que o processo de licenciamento perca

    efetividade. Assim, o Municpio acaba arcando com o nus decorrente dos impactos gerados pela

    minerao ou dos gastos para sua mitigao.

    5.5. A Constituio Federal de 1988, em seu art. 225, estabelece como direito o meio ambiente

    ecologicamente equilibrado, cabendo ao poder pblico avaliar os empreendimentos com potencial

    impacto ambiental e ao empreendedor recuperar o meio ambiente degradado, conforme segue:

    Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

    comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e

    coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

    1 - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:

    (...)

  • 34

    IV - exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora

    de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que

    se dar publicidade;

    (...)

    2 Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente

    degradado, de acordo com soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, na

    forma da lei.

    3 - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os

    infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas,

    independentemente da obrigao de reparar os danos causados.

    5.6. A complexidade da avaliao de impactos da minerao sobre o meio ambiente, bem como

    a extrapolao dos limites polticos municipais exigem a atuao conjunta e complementar dos

    entes da federao, de maneira que a Constituio Federal define no art. 23 como competncia

    comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios:

    Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municpios:

    VI - proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas;

    (...)

    XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concesses de direitos de pesquisa e explorao

    de recursos hdricos e minerais em seus territrios;

    5.7. A Lei Federal n 6.938/1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente,

    instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente SISNAMA, constitudo por rgos e entidades

    da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios, bem como as

    fundaes institudas pelo Poder Pblico, responsveis pela proteo e melhoria da qualidade

    ambiental. Nessa estrutura, aos rgos locais compete:

    Art. 6 - Os rgos e entidades da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios

    e dos Municpios, bem como as fundaes institudas pelo Poder Pblico, responsveis

    pela proteo e melhoria da qualidade ambiental, constituiro o Sistema Nacional do

    Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:

    (...)

    VI - rgos Locais: os rgos ou entidades municipais, responsveis pelo controle e

    fiscalizao dessas atividades, nas suas respectivas jurisdies;

    (...)

    1 - Os Estados, na esfera de suas competncias e nas reas de sua jurisdio, elaboraro

    normas supletivas e complementares e padres relacionados com o meio ambiente,

    observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.

    2 Os Municpios, observadas as normas e os padres federais e estaduais, tambm

    podero elaborar as normas mencionadas no pargrafo anterior.

    5.8. Com base nas legislaes federal e estadual, o empreendedor responsvel pela

    recuperao do ambiente degradado. Cabe ao poder pblico identificar esses impactos, com o

    http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.938-1981?OpenDocument

  • 35

    auxlio dos Estudos de Impacto Ambiental EIA realizados pelo empreendedor, e estabelecer

    condicionantes que garantam a recuperao do ambiente degradado e a mitigao ou a

    compensao dos impactos sofridos pelo ambiente e pela sociedade. Estado e Municpio devem

    atuar de forma complementar na proteo ao meio ambiente, sendo que o Municpio tem a

    competncia para fiscalizar empreendimentos em seu territrio que possam causar impactos ao

    meio ambiente.

    5.9. O Cdigo Ambiental, Lei Municipal n 2.119/2015, instituiu a Poltica Municipal de Meio

    Ambiente, e no inciso VIII do artigo 11 tambm prev a cooperao entre os governos, a iniciativa

    privada e os demais setores da sociedade para a preservao, manuteno e recuperao da

    qualidade de vida. O artigo 5 d destaque ao dever de todo cidado informar ao Municpio sobre

    atividades poluidoras ou que degradem o ambiente das quais tiver conhecimento e define prazo

    para resposta do rgo ambiental.

    5.10. O artigo 3 por sua vez, estabelece como princpios a sustentabilidade e a precauo, e em

    acrscimo as seguintes finalidades:

    XII - Garantia populao do direito informao sobre os processos de localizao e

    padres de operao de empreendimentos potencialmente poluidores, e seus possveis

    impactos;

    (...)

    XIV - Quem realizar obras ou atividades que afetem ou possam afetar o ambiente, est

    obrigado a prevenir, minimizar e reparar os danos que causar, em conformidade com o

    princpio do poluidor pagador e com as regras que estabelece esta Lei;

    5.11. As atribuies do rgo Municipal de Meio Ambiente definidas no art. 17 do Cdigo

    Ambiental, em acrscimo s definidas em outras leis, compreendem:

    XXII. Executar a fiscalizao ambiental como medida destinada defesa e conservao

    da integridade ambiental e aplicar as penalidades previstas nesta Lei e em seus

    regulamentos;

    (...)

    XXVI. Exigir e acompanhar o estudo de impacto ambiental, anlise de risco e

    licenciamento, para instalaes e ampliaes de obras ou atividades potencialmente

    poluidoras, conforme a legislao vigente, dando-lhe publicidade;

    5.12. O Cdigo Ambiental define ainda dentre as competncias do CODEMA, em seu artigo 22:

    XIII receber as denncias feitas pela populao, diligenciando, no sentido de sua

    apurao, encaminhando aos rgos municipais e estaduais responsveis e sugerindo as

    providncias cabveis;

  • 36

    (...)

    XVII deliberar, aps a anlise da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o Termo de

    Anuncia, previsto no art. 10, 1, da Resoluo CONAMA n 237, de 19/12/1997 e

    declarao de conformidade ambiental para todos os fins;

    5.13 Para a implementao da poltica ambiental municipal foi criado o Fundo Municipal de

    Meio Ambiente FUNDEMA, por meio da Lei Municipal n1867/2006 e alteraes do Cdigo

    Ambiental. O FUNDEMA o rgo financiador das aes de recuperao, melhoria, restaurao

    dos ecossistemas, recursos hdricos e demais atributos do meio ambiente natural e urbano do

    municpio e conta como fonte de recursos financeiros 10% (dez por cento) da Compensao

    Financeira pela Explorao de Recursos Minerais (CFEM), conforme o inciso IX do artigo 30 da

    Lei Municipal n 2119/2015 Cdigo Ambiental.

    5.14 Sendo assim, foi analisada a atuao do rgo ambiental municipal no processo de

    licenciamento ambiental, no acompanhamento das condicionantes e na fiscalizao dos

    empreendimentos minerrios.

    Reduzida atuao do Municpio no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos

    minerrios e no acompanhamento e fiscalizao das respectivas condicionantes

    5.15 Os empreendimentos minerrios de maior porte no municpio foram licenciados pelo

    Estado com reduzida participao da Prefeitura e de seus tcnicos. Evidenciou-se ainda o pouco

    envolvimento do Municpio na fiscalizao do cumprimento de condicionantes e dos impactos

    ambientais. Algumas condicionantes no tm sido cumpridas em sua completude e os impactos

    ambientais e sociais so sentidos por todos os entrevistados.

    5.16 Os processos de licenciamento em minerao do municpio esto todos relacionados ao

    empreendimento Minas Rio, compreendendo Mina de lavra a cu aberto, a linha de transmisso e

    o mineroduto Conceio do Mato Dentro So Joo da Barra/RJ, sendo esse ltimo licenciado

    pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA e os

    outros dois pelo SISEMA.

    Atuao do municpio no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos minerrios

    5.17 Foram solicitados Prefeitura o processo de concesso da Declarao de Conformidade do

    empreendimento legislao municipal, documentos relativos s comunicaes do Municpio com

    o SISEMA e processos de fiscalizao de empreendimentos minerrios no Municpio.

  • 37

    5.18 Em Conceio do Mato Dentro os pedidos de Declarao de Conformidade com as leis e

    regulamentos administrativos do Municpio so formalizados pelo empreendedor, que deve

    apresentar os estudos e documentos solicitados pela Prefeitura. Apesar de terem sido apresentadas

    as comunicaes demandando informaes complementares, no foi apresentado o parecer tcnico

    da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e nem a manifestao do CODEMA.

    5.19 A relao entre SISEMA e Municpio incipiente, com frgil comunicao no

    licenciamento e acompanhamento das condicionantes. Segundo o tcnico de meio ambiente

    entrevistado no h um canal efetivo e contnuo de comunicao com o SISEMA.

    5.20 Os tcnicos e o Secretrio entrevistados declararam que o Municpio no informado

    oficialmente sobre as condicionantes dos processos de licenciamento realizados pelo Estado, e,

    ainda, que no h participao da Prefeitura no processo de licenciamento, exceto pela emisso da

    Declarao de Conformidade do empreendimento legislao municipal.

    5.21 Quanto ao EIA/RIMA, os tcnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente disseram

    que no so consultados pelo empreendedor ou por empresa por ele contratada na sua elaborao.

    Conforme declarao do tcnico TMA78 No h como efetivar essa participao, pois no h

    equipe multidisciplinar capacitada o suficiente.

    Fiscalizao de impactos ambientais e acompanhamento do cumprimento de condicionantes dos

    empreendimentos minerrios

    5.22 Nessa auditoria pode ser verificada ainda a deficincia no acompanhamento das

    condicionantes pelo SISEMA e pela Secretaria de Municipal de Meio Ambiente. Conforme relato

    do tcnico TMA7, no h um acompanhamento frequente e sistemtico. No h estrutura para

    isso. O acompanhamento ocorre de forma espordica.

    5.23 Segundo o tcnico de meio ambiente e o Secretrio as condicionantes no vm sendo

    cumpridas no prazo estabelecido.

    As condicionantes esto sendo cumpridas em parte. Algumas esto sendo cumpridas. No

    se sabe exatamente o percentual (TMA-7).

    5.24 A prefeitura relata descumprimento de diversas condicionantes, ou o seu cumprimento fora

    do prazo, o que em ambos os casos compromete a mitigao dos impactos da minerao, em

    TMA8 - Tcnico de Meio Ambiente - Para manter o anonimato dos tcnicos entrevistados foram criados cdigos que permitem diferenciar os informantes mas manter sua identidade protegida.

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    especial os advindos da fase de implantao. Nessa fase houve aumento da populao devido ao

    grande nmero de funcionrios para as obras de implantao. Entre outros impactos pode-se

    destacar a sobrecarga na infraestrutura da cidade, como o aumento na gerao de resduos slidos

    e procura por moradias. Nos pargrafos seguintes apresentado um breve histrico sobre as

    condicionantes estabelecidas para mitigao desses dois impactos.

    Condicionante sobre resduos slidos

    5.25 Conforme parecer nico do SISEMA, no.757545/2010 SUPRAM/Jequitinhonha, que trata

    da avaliao para concesso da Licena de Instalao LI da Fase II da mina e barragem de rejeito

    do Empreendimento Anglo Ferrous Minas Rio Minerao S/A, a condicionante 31 da Licena

    Prvia LP foi considerada cumprida. A condicionante 31 determinava mineradora:

    Prover assessoria tcnica aos municpios da ADA para disposio adequada de resduos

    slidos urbanos at que os mesmos obtenham financiamento para construo de um aterro

    intermunicipal, em consonncia com o disposto no Programa de adequao da

    Infraestrutura Urbana.

    5.26 Nesse mesmo parecer, os tcnicos relatam que a mineradora apresentou ofcios solicitando

    uma reunio para discutir essa assessoria tcnica, e que os municpios em reunio teriam informado

    que esto de acordo com a legislao estadual no que se refere disposio de resduos slidos

    e que no necessitavam do apoio da Anglo. Acrescentam ainda, que no foram apresentados

    documentos que comprovassem esse posicionamento dos municpios, e que pelo menos dois

    desses municpios, Alvorada e Conceio do Mato Dentro, foram autuados em 2005 e 2009 por

    disposio inadequada dos resduos slidos urbanos. Nesse ponto ressalta-se que a finalidade dessa

    condicionante foi a disposio adequada dos resduos at que o aterro intermunicipal fosse

    construdo, o que pelo relato do prprio SISEMA no foi comprovado. Entretanto a condicionante

    foi considerada cumprida.

    5.27 A condicionante 74 da LP determinou:

    Prover suporte tcnico e financeiro para a obteno dos recursos necessrios a viabilizar

    o Consrcio Intermunicipal para implantao do aterro sanitrio comum aos municpios

    de Conceio do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim.

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    5.28 Conforme consta do parecer nico, foram realizadas reunies para a consecuo do aterro

    intermunicipal, mas ainda nos estgios iniciais, sendo recomendado o envio pela mineradora de

    relatrios trimestrais para o acompanhamento pelo SISEMA.

    5.29 Verifica-se que no h meno no parecer nico do SISEMA de consulta aos municpios

    que deveriam estar envolvidos nessas aes, assim como de qualquer manifestao formal desses

    junto ao SISEMA, indicando a desarticulao entre SISEMA e Municpio quanto ao

    acompanhamento das condicionantes.

    5.30 Com base nas anlises citadas foi emitida a licena de instalao da Fase II, com as

    seguintes condicionantes para os resduos slidos:

    35 Enviar relatrio detalhado das aes de assessoria tcnica prestada aos municpios d

    AID para disposio adequada de resduos slidos urbanos at que os mesmos obtenham

    financiamento para construo de um aterro intermunicipal.

    56 Apresentar relatrio detalhado das seguintes atividades relacionadas proposta de

    criao do Aterro Intermunicipal: assessoria para implantao de projeto de coleta

    seletiva; assessoria para aprovao de lei de consrcio intermunicipal; definio

    conceitual de sistema de gesto de resduos slidos a ser implantado nos municpios;

    dimensionamento do aterro sanitrio; elaborao de estudos de alternativas locacionais

    para implantao do aterro; e elaborao de projeto de captao de recursos para

    implantao do aterro sanitrio intermunicipal.

    5.31 Conforme Ofcio no. 12/2012, do Secretrio de Meio Ambiente ao Prefeito Municipal de

    Conceio do Mato Dentro, so relatados os descumprimentos de condicionantes, como

    apresentado a seguir.

    5.32 A condicionante 4 da Licena Prvia determinava:

    Apresentar proposta de apoio prefeitura de Conceio do Mato Dentro para implantao

    de aterro sanitrio municipal com unidade de triagem e compostagem e coleta seletiva,

    tendo em vista o aumento da demanda que deve ocorrer na fase de implantao do

    empreendimento (...) Prazo na formalizao da LI.

    5.33 O Secretrio aponta no referido Ofcio que as condicionantes relativas aos resduos slidos

    foram alteradas ao longo do processo de licenciamento (LP, LI e LO), tornando-se mais flexveis,

    e que mesmo assim essas condicionantes no foram cumpridas. Os resduos do Municpio,

    inclusive os gerados pelo empreendimento, ainda eram dispostos no lixo do Municpio. Entre

    outras medidas tomadas pela Prefeitura est a proibio s empresas contratadas pela mineradora

    de lanar seus resduos no referido lixo, posteriormente alterado para proibio de lanamento

    somente dos inertes, e por fim, como uma solicitao para que a mineradora fornecesse

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    equipamentos e pessoal para a operao do aterro controlado. Entretanto, a empresa no atendeu

    solicitao, e esse apoio ainda est em negociao.

    5.34 No referido Ofcio consta ainda comentrio quanto a uma visita tcnica realizada pelo

    SISEMA para avaliao de cumprimento de condicionantes e respectivo parecer. Nesse parecer as

    condicionantes relativas aos resduos so dadas como cumpridas ou parcialmente cumpridas,

    apesar de haver vrias aes no realizadas.

    5.35 Dessa maneira os resduos slidos gerados pelo empreendimento de 2009 a 2011 foram

    dispostos no lixo, Figura 2, e os correspondentes impactos gerados pela minerao no foram

    mitigados, restando portanto o dano ao meio ambiente, sade e qualidade de vida da populao.

    Ademais, os custos incrementados foram absorvidos pelo poder municipal.

    Figura 2 Lixo de Conceio do Mato Dentro

    Condicionante relativa habitao

    5.36 Dentre as condicionantes da LI devido ao impacto sobre a infraestrutura local causado pela

    populao flutuante das empreiteiras foi solicitado tambm:

    49-Comprovar a prestao de auxlio tcnico prefeitura municipal de Conceio do

    Mato Dentro visando a elaborao d