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As Projeções Sobre o Futuro Da Água

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As projees sobre o futuro da guaPublicado em30 de janeiro de 2014poradminAs projees sobre o futuro da gua e suas implicaes para a indstriaPor Fred SeifertH uma crescente preocupao com a disponibilidade da gua nas prximas dcadas. A apreenso tem sentido, j que grande parcela da populao mundial ainda vive sem acesso gua potvel e ao saneamento bsico, situao que tende a piorar com o aumento populacional esperado. Entre as solues propostas est a da precificao dos recursos hdricos, o que poderia implicar em custos significativos para diversos setores da indstria. Mas ser esta soluo puramente econmica a definitiva?gua: um recurso cada vez mais escassoAs Naes Unidas definiram 2013 como o ano mundial da cooperao pela gua. A preocupao com o tema no de forma alguma infundada. De acordo com dados da prpria ONU, pelo menos 780 milhes de pessoas vivem sem acesso gua potvel, enquanto 2,5 bilhes no possuem saneamento bsico adequado.As projees para o ano de 2050 tambm so alarmantes. Enquanto a populao mundial vai saltar dos atuais 7 bilhes para 9 bilhes, a Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE) estima que o aumento na utilizao de gua ser da magnitude de 55%. Dessas pessoas, em torno de 40% vivero em regies de severo estresse hdrico. Embora espera-se que um dos Objetivos do Milnio seja alcanado, reduzindo o nmero de pessoas sem acesso gua mais do que pela metade de 780 milhes para 240 milhes, outro muito provavelmente no ser. Em 2050, ainda sero 1,4 bilho de pessoas sem saneamento bsico.Segundo informaes da OCDE, as principais atividades responsveis pela utilizao dos recursos hdricos so a agricultura e a produo de alimentos (70%), seguidas pela indstria (20%), o que inclui a gerao de energia. Os 10% restantes so gastos atravs do uso domstico. O aumento populacional gerar uma presso considervel na produo de alimentos e espera-se um crescimento de demanda na casa de 90% at 2050. A produo industrial no deve ficar muito atrs e s a gerao de energia atravs da hidroeletricidade e outras fontes renovveis deve subir em torno de 60%.A gua doce um dos ativos ambientais de valor inestimvel para a vida humana e j a utilizamos em um nvel superior ao que a natureza consegue repor. Apesar de nosso planeta ser, em grande parte, coberto por gua, 97% desta est na forma de gua salgada nos oceanos e apenas 2,5% potvel. Deste menor percentual, cerca de dois teros existem na forma de geleiras, o que nos deixa com menos de 1% de toda a gua existente no globo disponvel para consumo. Para piorar a situao, a maior parte dessa gua potvel se apresenta disponvel em momentos inoportunos: mones e alagamentos. Alm disso, 20% est localizada em locais muito remotos, longe do nosso alcance.O resultado final que apenas 0,2% dos recursos hdricos mundiais est efetivamente em uso, distribudo de modo bastante desigual, e um valor ainda menor, 0,13%, renovvel precipitao em direo ao solo e posterior evaporao. A utilizao a nveis atuais insustentvel e as previses futuras, com aumento no consumo, tornam o cenrio ainda mais preocupante. Para garantir a disponibilidade da gua sero necessrios mecanismos de controle e o desenvolvimento de tecnologias para aumento de eficincia.A precificao da gua no BrasilEntre os mecanismos desenvolvidos para promover o uso eficiente dos recursos hdricos, talvez seja o da precificao aquele que ganhou maior popularidade. Muitos especialistas assumem que a determinao de um preo justo para a gua etapa necessria para garantir o consumo racional desse ativo ambiental. A ideia reside na teoria de que, havendo um preo, o usurio tem maior noo do valor do recurso e agir de maneira mais prudente, aumentando sua eficincia e produtividade.No Brasil, a gua, de maneira geral, tratada como bem pblico. De qualquer maneira, indstrias, agricultores, empresas de saneamento e qualquer pessoa que utilize a gua proveniente de rios, lenis freticos e lagos precisa de uma outorga da Agncia Nacional de guas (ANA) para garantir o direito de uso. atravs da gerncia de outorga que, segundo a ANA, a agncia realiza o controle qualitativo e quantitativo do uso da gua.Entretanto, j existem casos de cobranas pela utilizao de recursos hdricos no pas. De acordo com a Agncia Nacional de guas, o recolhimento est em vigor em alguns rios sob domnio da Unio e em rios, lagos e baas de responsabilidade estadual em Alagoas, Bahia, Esprito Santo, Gois, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, So Paulo e no Distrito Federal. O mtodo utilizado o volumtrico: o usurio paga de acordo com a quantidade utilizada, existindo um valor determinado em R$/m.Considerando uma universalizao dessa cobrana em territrio nacional, o que parece ser uma tendncia para os prximos anos, possvel a realizao de alguns clculos exploratrios para se determinar a magnitude do impacto dessa precificao no custo operacional e no valor de mercado de empresas de determinados setores:

Para a elaborao das contas, foram consideradas como variveis: o volume mdio de gua utilizado pelas empresas nos ltimos anos; o preo da gua, baseado nos valores j cobrados no pas e de acordo com a regio de atuao da companhia; as porcentagens de gua captada e reutilizada; e o horizonte temporal para a cobrana efetiva pelo uso de recursos hdricos, variando conforme o nvel de estresse hdrico do local onde as plantas industriais se encontram. No foi levado em conta a possibilidade de contaminao de nascentes e seu impacto reputacional. O resultado final foi dividido pelo valor de mercado das empresas (nmero de aes x valor das aes).Conforme pode-se observar pelo grfico, o impacto da precificao da gua nomarket capdas empresas dos setores de alimentos, bebidas, energia, minerao, papel e celulose e siderurgia do IBOVESPA, que so intensivos no uso do recurso, varia entre 0,1% e 5,3%.As diferenas intrassetoriais se explicam, basicamente, por uma melhor gesto hdrica e investimento em tecnologias para a reduo do consumo e reaproveitamento da gua. O caso mais expressivo na indstria de alimentos processados, onde a empresa menos impactada, nas condies atuais, poderia ter seu valor reduzido em 0,6% aps a imposio de um valor para gua, enquanto que a que sofreu abalo teve seumarket capreduzido em 5,3%.O caso do setor de bebidas atpico. Embora seja uma indstria que utilize consideravelmente os recursos hdricos, a empresa listada no IBOVESPA bastante eficiente tanto no uso quanto no reuso desse ativo. E, principalmente, o seu valor de mercado to alto que minora a extenso do impacto da precificao.De qualquer modo, o preo da gua pode ter um custo significativo para as corporaes desses e de outros setores, aumentando custos operacionais, reduzindo margens e, consequentemente, afetando o seu valor de mercado. A eficincia na utilizao dos recursos hdricos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento podem ser fatores de diferenciao considerveis em um futuro prximo.Precificao e mercado de gua: soluo inteligente ou sada mais fcil?Como dito anteriormente, a determinao de um preo para a gua se baseia no racional de que, ao se determinar um valor para esse recurso, ele seria utilizado com maior precauo, aumentando a eficincia no consumo, melhorando sua alocao e reduzindo seu uso. Contudo, ao se colocar o preo como nico determinante da viabilidade de explorao de um ativo natural, todas as questes socioambientais so subjugadas pelas consideraes econmicas. Dessa maneira, os valores estticos, ticos e at mesmo, em alguns casos, espirituais dos rios, lagos e outras fontes so deixados de lado.Em questes prticas de mercado, a criao do sistema de preos para a gua e um subsequente mercado pode ter outros efeitos perniciosos. Nesse cenrio, regies abundantes em recursos hdricos e, por esse motivo, historicamente desenvolvidas, possuiro maior acesso gua a um preo mais baixo do que regies de estresse hdrico, exatamente as que precisariam de gua em valor mais baixo para se desenvolver. Ao mesmo tempo, empresas que acumularam maior capital financeiro e tecnolgico, talvez at mesmo atravs da explorao abusiva de recursos naturais, possuiro enorme vantagem competitiva sobre companhias em desenvolvimento, seja na venda dos crditos para uso adicional de certos ativos quanto na obteno desses ativos. muito improvvel que lanando mo apenas de artifcios da mesma natureza daqueles que levaram contnua depredao dos recursos naturais que o problema do uso excessivo desses recursos seja resolvido. Faz-se necessria uma profunda reviso da questo do hiperconsumo e da ideia de desenvolvimento ilimitado, no condizente com um planeta de recursos finitos, o que envolve uma mudana de cultura e educao importantes. Alm disso, vital a criao de instrumentos que tragam consideraes ticas, morais e estticas para a determinao dos uso dos recursos naturais, incluindo a imposio de limites, definidos aps extensa anlise dos impactos em comunidades locais, fauna e flora.A soluo deve ir alm dos simples incentivos econmicos que tm se provado, em sua maioria, insuficientes.Economista pela UFRJ, Fred Seifert consultor daSITAWI Finanas do Bemdesde agosto de 2011 e vencedor do Prmio Ita de Finanas Sustentveis 2012 ([email protected] |www.sitawi.net).

Texto extrado da pgina: http://www.ideiasustentavel.com.br/2014/01/as-projecoes-sobre-o-futuro-da-agua/Acesso s 08:30h do dia 29/04/2015