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AS RAÍZES DA IGUALDADE · O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma ... Com base no trabalho disponível em http ... étnica das brechas

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Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.

AS RAÍZES DA IGUALDADE

por Gustavo Augusto Bardo

Ceannaire/Líder, por Briogáledon,

http://briogaledon.wordpress.com

Palavras-chave: Guerreiras, Celtas, Permanências, Revoltas, Minorias.

1

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Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.

RESUMO

Neste artigo se descreve a relevância da análise da procedência étnica das brechas que

permitem ou impõe a necessidade de harmonia e igualdade entre os gêneros. À sombra das

tensões e da opressão, todo avanço parece surgir do conflito e da discriminação, mas essas

estruturas também ensejam a presença de permanências referentes a povos desconsiderados na

luta por liberdade, tais como os Celtas, cuja sociedade assentada na existência de grandes

Guerreiras, tanto a nível imaginário quanto no histórico, moldou a identidade de diversas etnias

descendentes, algumas das quais migraram e também ajudaram a formar ao Brasil de hoje em

dia. Reconsiderar essas permanências é romper paradigmas nos estudos das tensões sociais, e

devolver dignidade a uma cultura igualitária que jamais deixou de viver em nossa história, e

que foi parcialmente transportada pelo próprio Colonizador, ou por imigrantes do Norte da

Espanha, do Norte de Portugal, da França ou das Ilhas Britânicas, povos que aos dias de hoje

tem cada vez mais resgatado sua Identidade Celta mediante festivais, congressos e

organizações, em clara continuidade desse passado.

Ocultas em contextos sociais, características culturais encontradas em antigas tribos

Celtas, reaparecem ao longo da construção do Brasil. Um sobrenome, uma procedência, e então

todo um universo de conexões com o mundo Celta da Idade Antiga, se torna visivelmente

conectado. Aponta para a possibilidade de que essas estruturas sejam permanências históricas

preservadas de geração a geração mediante a transmissão pela educação familiar, comum a

povos cujos ancestrais ocupam destaque em suas formações morais. À luz das estruturas sociais

dos Antigos Celtas, outras minorias e contextos culturais, desenvolvidos com estruturas

similares, também produziram grandes Guerreiras.

Este artigo analisa tanto a permanência de brechas culturais de passado Céltico para a

questão da igualdade entre gêneros, quanto a repetição dos resultados das mesmas estruturas em

panoramas geohistóricos semelhantes. O foco central são as mulheres que ao longo da nossa

história ocuparam o destaque como guerreiras heróicas ou líderes populares contra panoramas

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opressivos. Para tal estudou-se às Culturas Celtas, nas quais também foram encontradas

grandes guerreiras, que serviram de referência para a busca das guerreiras brasileiras: mulheres

ora afeitas à batalha, à ação, com destemor ao combate, ora acreditando em grandes ideais

voltados ao bem do coletivo, dos mais necessitados, de uma dada crença ou de toda uma nação.

E até encontramos algumas possíveis descendentes, Anita Garibaldi, Chiquinha Gonzaga, entre

outras, então, irão ilustrar a esta pesquisa.

E à luz da repetição de estruturas sociais semelhantes em um Brasil rural, selvagem,

natural e místico, de modo muito semelhante ao contexto do rath Celta, vemos o aparecimento

de mulheres igualmente guerreiras e com grande capacidade de liderança popular ou de

destemor à guerra, tais como evidenciam a soldado Maria Quitéria, a bandeirante Maria Diaz

Ferraz do Amaral chamada Heroína do Capivari, entre outras, ou no lado místico a ativista

judaica Branca Dias, e a líder messiânica Jacobina Mentz Maurer, da Revolta dos Munckers. E

em paralelo à resistência dos povoados celtas de tipo castrejo à escravidão, encontramos em

cidades de ocupação semelhante, mulheres abolicionistas e mulheres idealistas.

E não é por mera coincidência que percebemos em pessoas como a líder republicana

pernambucana Bárbara Pereira de Alencar, ou a cangaceira Maria Bonita, semelhantes

bravuras, pois muito ainda se oculta nas estruturas em que surgem, e na realidade estão bastante

vinculadas. E assim, por realidade histórica ou cultura imaginária, ou ainda desenvolvendo-se

em universos geohistóricos semelhantes, mulheres se tornaram figuras de grande destaque não

apenas por serem reações a estruturas de coação e opressão sociais, mas acima de tudo por

terem conexões a permanências estruturais de sociedades tradicionais, ora assentadas em

fortíssimo enfoque ancestralista, ora vinculadas à percepção da natureza como sagrada, seja nas

comunidades místicas ruralizadas, ou nos sertões do Brasil com sua liberalidade para a

belicosidade, de modo bastante similar ao da sociedade antiga Celta organizada em tribos semi-

autônomas e como um enclave entre cidade e floresta, e às vezes com clara conexão étnica a

essa civilização guerreira.

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AS RAÍZES DA IGUALDADE

por Gustavo Xamã

Ceannaire/Líder, por Bramaigar/FIACBrasil

I. Introdução:

A presença do componente cultural Celta, muito desprezado quando se estuda a

composição étnica do brasileiro, é muito mais marcante do que se imagina. Como etnia aberta à

miscigenação, como deixaram claro pelas várias misturas a que se permitiram, parece que a

identidade em si ficou adormecida sob nome de outras nações. Mas recordemos que o próprio

Lebor Gabála Érenn ou Livro das Invasões da Irlanda deixa claro o fato dessa nação ter sido

formada por sucessivas migrações dos mais variados povos, entre os quais os Galegos e outros

povos do Norte da Península Ibérica, o que foi comprovado geneticamente pela pesquisa de

Dan Bradley em conjunto às Universidades de Trinity/Dublin, de Leeds e de Cambridge, como

também se tornou evidente nos levantamentos de haplogrupos genéticos europeus, como os

disponibilizados pela Eupedia que apontam, apenas a título ilustrativo, para o haplogrupo R1b

que inclui os celtas da Era Romana, nada menos que 56% de descendentes atuais, somente em

Portugal (Fig. 1), havendo outros haplogrupos célticos, o que evidencia uma grande

contribuição genética para uma das populações formadoras do Brasil, e por que não

evidenciaria uma grande influência cultural, já que se trata de uma sociedade tradicional,

apegada a ancestrais e ao valor da continuidade desses ao longo da memória das gerações

futuras? No campo da História do Imaginário, o trisquel ou triskelion símbolo céltico maior,

costuma ser interpretado como símbolo da vida, da morte, do renascimento, da igualdade, da

eternidade e da indivisibilidade, deixando claro que a idéia de continuidade impregnava os

Celtas Antigos. Além disso, após o surgimento do Celtismo a partir do século XVIII, e por

consegüinte a Independência da Irlanda entre as décadas de 1920 e 1930, a identidade Celta já

foi resgatada por variados povos descendentes, outra evidência dessa continuidade, caso

contrário, não teria se desenvolvido o interesse na mesma nem haveriam vestígios culturais e de

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imaginário sobre os quais pudesse se assentar.

São hoje, freqüentemente, listados como Povos Celtas, as seguintes nações e regiões:

Bretanha, na França; as Astúrias, a Cantábria e a Galícia, na Espanha; as regiões de Minho,

Trás-os-Montes e Alto-Douro, em Portugal; a Irlanda, país soberano e livre; a Cornualha, o

País de Gales, a Escócia (referendo de independência agendado para 2014), a Ilha de Man e a

Irlanda do Norte, essas no Reino Unido da Grã-Bretanha; entre outras regiões da Europa que

começaram ainda tenuemente a resgatar essa identidade, caso de alguns Cantões Suiços e de

outras partes da França. Na Espanha, um acordo inter-territorial chamado Território Iberkéltia

está resgastando a antiga Celtibéria, enquanto isso a britânica Celtic League luta politicamente

para as independências das nações Celtas ou pelo resgate de suas identidades.

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Figura 1. Haplogrupos R1B Italo-CÉLTICOS, Fonte: Eupedia.

A presença toponímica dos Celtas em países da Península Ibérica é assunto inegável,

sendo de conhecimento da Lingüítica Histórica, que o radical briga é de origem Celta, estando

o mesmo presente em cidades como Conimbriga, que se tornaria Coimbra, ou como nas duas

Brigantia que se tornaram uma a La Coruña, na Galícia e a outra, a Bragança, em Portugal,

ambas supostamente relacionadas, por sinal, a Breogan mito formador ao mesmo tempo Galego

e Irlandês, entre muitas outras relações toponímicas atribuídas aos Celtas. Etimólogos também

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costumam mencionar diversas famílias como toponímicos ou sobrenomes ocupacionais de

origens célticas, pré-célticas, galo-romanas ou assim dessas linhagens antigas, conforme

enumeram as bases da dados Apelidos de Galicia e Xenealoxia, ambas galegas, mencionadas

em Referências Bibliográficas e Webliográficas. Sobrenomes comuns a muitos brasileiros e

brasileiras, cujo vínculo étnico parece estar sendo desmerecido quanto à real origem, são

freqüentemente relatados como portugueses ou espanhóis, como aparecem os galegos,

asturianos e cântabros, e a contragosto dos movimentos libertários dessas nações.

Esses povos hoje referidos como Celtas, desenvolveram sociedades com bastante

semelhanças entre si, maior apego aos ancestrais, à família, maior abertura à miscigenação

genética, amor pela natureza de suas terras de nascimento e origem, e uma certa preferência

pelo meio rural ou pelo meio litorâneo, modos coletivos tal como evidencia a estrutura

administrativa assentada em juntas e comunas, derivada da fine céltica, e não raro buscando um

meio físico semelhante ao de origem, produzindo hábitos semelhantes entre si, como ter na

conversa e na bebida, rituais sociais gregários para celebrar negociações ou grandes

acontecimentos, tocar a gaita de fole (também presente no Norte de Portugal, e demais regiões

Celtas Ibéricas) ou ter na música um importante modo de interação coletiva, pois enfim todas

derivam do mesmo modelo antigo da tribo celta, uma estrutura social coletiva, assentada sobre

um conceito de que a sociedade é um grande conjunto de clãs, que por sua vez são conjuntos de

famílias, e que todos derivam de um mesmo ancestral e são portanto aparentados entre si, uma

sociedade igualitária em que homens e mulheres podiam exercer praticamente os mesmos

ofícios, inclusive a liderança política das tribos e a prática bélica como guerreiros e guerreiras,

ou mesmo como comandantes. Há vários registros históricos dessa igualdade nas narrativas de

revoltas e guerras contra o Império Romano, como a Batalha de Watling Street liderada pela

rainha-guerreira Boudicca, a Revolta de Viriato, na Lusitânia, a Resistência de Numância, na

Celtibéria, as Guerras Cântabras, e as Guerras Gálicas essas lideradas por Vercingetórix, todas

bastante documentadas, e nas quais há relatos tanto do invasor Romano, quanto de historiadores

da época, de que não apenas as mulheres iam a combate munidas de armas, ou ao comando de

tropas, como nos casos de cerco, preferiram matar a si mesmas do que se verem escravas dos

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Romanos, o que é evidência de uma sociedade completamente oposta à escravidão e ao

servilismo, apegada fortemente à liberdade, a tal ponto de sacrificar até a própria vida se

julgassem o mais correto!

Ao longo da história do Brasil mulheres tão destemidas quanto as mulheres Celtas,

surgem não apenas em ambientes geohistóricos semelhantes, pouco diferentes do modelo tribal,

livre, autônomo, familiar, clânico, natural, místico e belicoso dos Celtas, como também, por

vezes, demonstram evidências em sua genealogia de descenderem de fato de povos Celtas!

Analisar, portanto, tanto a continuidade de estruturas sócio-culturais Célticas ao longo de

gerações, quanto os efeitos semelhantes produzidos por uma morfologia urbana e estruturas

políticas aproximadas, faz-se preponderante para se conhecer mais das Raízes da Igualdade!

II. Objetivos:

✔ Descobrir Mulheres Guerreiras brasileiras que possam descender de povos Celtas;

✔ Descobrir Mulheres Guerreiras brasileiras que apesar de não descenderem,

aparentemente de Celtas, se desenvolveram como tais em sociedades de modelo

semelhante ao modelo Celta;

✔ Permitir que esses espaços geofísicos e sócio-culturais de modelos semelhantes ao

Celta sejam reabordados sob a ótica das suas capacidades estruturais de gerarem

mulheres com grande capacidade de luta pelos ideais em que acreditam;

✔ Estabelecer uma nova abordagem acerca da Igualdade de Gêneros, a analisando na

ótica das brechas étnicas ou sócio-culturais que a potencializam, e ao mesmo tempo

conectar essa reflexão ao processo contemporâneo de Resgate da Identidade Celta por

variadas etnias descendentes.

III.Metodologia:

✔ História do Cotidiano, História da Vida Privada e História do Imaginário:

Utilizou-se essas disciplinas para o estudo comparativo entre povoamentos Célticos,

no intuito de resumir previamente os atributos, estruturas e componentes

geohistóricos, sócio-espaciais, sócio-culturais e psicossociais do Modelo Tribal

Antigo Celta, descritos na Introdução e também nos Resultados da Pesquisa;

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✔ Antropologia Cultural Interpretativa: Partiu-se do conceito semiótico de cultura

conforme exposto na obra de Clifford Geertz, a partir do qual foi buscada toda uma

rede de estruturas, forças e conjunturas históricas comuns tanto ao contexto do

Modelo Tribal Antigo Celta quanto aos modelos geohistóricos brasileiros, no objetivo

de encontrar a mulher celta dentro da mulher brasileira;

✔ História das Estruturas: Partiu-se do conceito das estruturas como determinadas

geohistoricamente, para aproximar o Modelo Tribal Antigo Celta a outros modelos

com características geofísicas e sócio-espaciais semelhantes, e seguiu-se o modelo

dos conceitos estruturais de Fernand Braudel e de Krzysztof Pomian para identificar

as variações das ocupações Celtas, e permitir parâmetros comparativos a outras

sociedades;

✔ Psicologia Social, História Social e da Família, História Política, Lingüística

Histórica e Etimo-Genealogia: Uma vez encontrados os cenários históricos análogos

ou semelhantes ao modelo buscado, passou-se ao estudo específico em busca de

mulheres que atendessem às mesmas caracterizações da listagem Celta, e uma vez

encontradas, essas foram analisadas sob a ótica da possível influência de sua

ascendência familiar ou da possível influência do estilo de vida sob um modelo

semelhante ao Antigo Celta. Apenas no inuito de facilitar estudos posteriores, as

mulheres foram divididas nos Resultados da Pesquisa em dois grupos: Resultantes de

Possível Ascendência Celta e Resultantes de Modelo Social Semelhante ao Celta.

IV.Resultados da Pesquisa:

A partir das características listadas como componentes Celtas, conforme descritos na

Introdução, obteve-se a apreensão de dois eixos que resumem, neste estudo, o panorama geral

dos Povos Celtas durante a Idade Antiga e a Alta Idade Média, e por vezes se mesclam sem

evidências aparentes de oposição. Esses dois eixos são:

✔ Rath Irlandês: povoamentos familiares rurais afastados entre si por certa extensão de

terras, tanto cultiváveis quanto selvagens; a família é a base da sociedade, e o poder

político emana da associação entre famílias; opta-se por lugares próximos a florestas,

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com relevos montanhosos ou em colinas, visando à defesa, as propriedades são coletivas,

a divisão do trabalho é igualitária, a produção é de subsistência, mas excedentes

eventuais podem ser trocados em feiras; as feiras são eventos sazonais ligados ao

Calendário Religioso. Alguns rath se valem de ilhas e costas litorâneas escarpadas como

meio de proteção. Poder Descentralizado. A população apresenta miscigenação com

etnias de hábitos semelhantes.

✔ Civilização Castreja Ibérica: povoamentos semi-urbanos, o castrum é uma comunidade

rural semi-autônoma e fortificada, que produz visando a um modelo sustentável, mas

com produção excedente microrregional, sendo essa trocada em feiras dentro da

microrregião ou a outros povos que atuam como importadores (caso aliás dos Romanos),

também sazonais e igualmente vinculadas a um Calendário Religioso; a divisão do

trabalho possui um certo nível de especialização com o aparecimento de ofícios. Os

castra predominam ocupando microrregiões montanhosas ou com colinas em áreas de

campos próximos a florestas, ou isolados em áreas mais áridas, como recurso defensivo,

nas quais no entanto se desenvolve uma produção mais intensiva, em geral caprina, e

também ocupando costas litorâneas com funções estratégicas e ao mesmo tempo

atividade pesqueira. O castrum exerce poder centralizador sobre povoamentos menores

na microrregião. Em geral observa-se algum Panorama Hostil, como a constante

ameaça de Invasões Romanas. A população apresenta miscigenação com etnias de

hábitos diferentes, o que denota maior abertura ao outro.

Em ambos os eixos se encontrou aparente liberdade para o exercício da maioria dessas

funções por qualquer gênero, parecendo que as mesmas estão mais presas a famílias, gerando

sobrenomes ocupacionais, do que a outro critério. Evidência disso é a participação feminina na

função de guerreiras, o que remete não apenas aos fatos de terem sido treinadas como de terem

uma mínima formação acerca das técnicas de fabricação das armas, necessárias ao correto

manuseio das mesmas. No imaginário Celta Irlandês é uma mulher, Scáthach quem treina o

herói Cú Chulainn nas Artes da Guerra. No universo histórico: a participação das mulheres nos

combates é fato considerado notório nos estudos históricos dessa etnia.

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Em ambos os eixos observou-se uma mesma lógica para as representações do

Imaginário: há variadas representações tanto femininas quanto masculinas, mas representações

femininas parecem predominar em áreas essenciais ao ciclo de vida tribal tanto no aspecto

biológico quanto no equilíbrio social, como as forças da Natureza, a Cura, a Fertilidade, a

Sabedoria, a Guerra e a Justiça. A figura masculina aparenta predominar em funções

paternais como a Criação das Coisas por co-geração ou por magia, e a Proteção ao que foi

criado, o que reflete bastante a figura do pai Celta na educação, enquanto a representação

feminina reflete a mulher celta, ao mesmo tempo jovem guerreira, mãe que dá nascimento e

cura aos filhos, e anciã sábia e justa, exatamente como representa a figura de Brighid chamada

deusa tríplice pois é donzela, mãe e anciã, um reflexo do universo social feminino céltico. Com

a Cristianização na Irlanda, por exemplo, as Santas continuam predominando no imaginário, e

os Santos que aparecem, São Brandão e São Patrício, possuem características fundadoras,

semelhantes à função criadora dos deuses. Entre os Celtas Continentais, se notará um

predomínio da Virgem Maria com variadas regionalizações, e sua retratação como Mãe

Divina, deixando aparente a permanência do conceito deusa-mãe anterior e uma necessidade

tribal de cada povoado ter a sua própria Virgem Maria, como ocorre bastante na Península

Ibérica, e mesmo no Brasil. Do mesmo modo, antigamente, cada tribo Celta tinha a sua própria

deusa-mãe.

Uma vez resumidos os componentes e os eixos Célticos, e comparados ao panorama

brasileiro, foram encontrados espaços geohistóricos e psicossociais, que atendiam à demanda

por características semelhantes aos mesmos, a saber:

- Tipo mais Isolado: Rath Irlandês > Cultura Estancieira dos Pampas (Lutas por Liberdade,

Poder Descentralizado, mas com produção excedente); Comunidades Rurais Autossuficientes

em geral assentadas sobre o aspecto Religioso, não raro com histórico de tensão frente à

metrópole (Guerra do Contestado, Guerra de Canudos, Revolta dos Munckers), produção de

subsistência, miscigenação aparentemente condicionada à presença de hábitos semelhantes

(nota: não se deseja aqui classificar a presença de uma discriminação, embora possa estar

inserida, mas sim definir um tipo social com maiores dificuldades de se mesclar a modelos com

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pouca ou nenhuma semelhança), Sesmarias dos Primórdios da Colonização do Brasil, isoladas

e rurais;

- Tipo mais Interativo: Civilização Castreja Ibérica > Civilização do Couro (Nordeste, Centro-

Oeste, Minas Gerais, desenvolvedoras de Cultura Popular com forte Imaginário Místico, Lutas

por Liberdade e Panorama Hostil do Cangaço); Litoral Catarinense (aonde a presença

Açoriana trouxe forte Imaginário Místico, Lutas por Liberdade, Panorama Hostil do Controle

Imperial); Civilização do Ouro (Minas Gerais, Centro-Oeste, com forte Imaginário Místico,

Lutas por Liberdade, e Panorama Hostil do Controle pela Coroa Portuguesa e depois a

Jagunçaria), Baías Estratégicas (Rio de Janeiro, Panorama Hostil da Pirataria, e das Invasões

Francesas). Sociedades essas com aparente maior abertura à miscigenação com membros de

sociedades bastante diferenciadas;

Foram encontradas em todos os espaços geohistóricos e psicossociais selecionados como

de tipo celta, uma ou mais mulheres com características semelhantes ou análogas às da mulher

celta, conforme previamente pesquisada. Partindo do pressuposto que todos os sobrenomes

sejam reais, e não derivações de alterações ao longo da história familiar, e após o estudo etimo-

genealógico, obteve-se a relação de mulheres brasileiras destacadas como:

- Resultantes de Possível Ascendência Celta:

✔ Anita Garibaldi (Santa Catarina). Ana Maria de Jesus Ribeiro, participou das Revoluções

Juliana e Farroupilha, e lutou na Unificação da Itália, é heroína na Itália e no Brasil.

Apontada como descendente de portugueses imigrados dos Açores. Ao se estudar os

Açores, obteve-se que sua migração formadora era constituída por pessoas do Algarve,

do Alentejo, da Extremadura e do Minho, área hoje reconhecida como Celta. Além disso

o toponímico Ribeiro aparece como relacionado aos sobrenomes Ribeira, e Riveira

conforme se observa na base de dados virtual Apelidos de Galicia., e é considerado

toponímico de origem Galega, portanto, Celta. O haplogrupo R1B apresenta nos dias de

hoje 63% de ocorrência, na Galícia (Fig.1). Ela própria se casa com estrangeiro, aberta,

portanto, à miscigenação.

✔ Chiquinha Gonzaga (Rio de Janeiro), Francisca Edwiges Neves Gonzaga. A família

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Gonzaga é considerada Italiana, nobre, oriunda do Ducado de Mântua, na Lombardia,

área outrora extensamente ocupada pelos Celtas Gauleses. O haplogrupo R1B apresenta

nos dias de hoje 55% de ocorrência (Fig.1). Recordemos que ela era abolicionista e

feminista, e que os Celtas possuem séculos de luta contra escravidão e contra servilismo,

conforme atestam as suas variadas revoltas por liberdade. Em sua família há abertura à

miscigenação, pois ela mesma é afro-euro-descendente. Note-se que apesar do ambiente

urbano, que Chiquinha é filha de um General, e é educada pela família de seu pai, o que

denota seu desenvolvimento sob estímulo belicoso.

✔ Francisca Senhorinha da Motta Diniz, abolicionista, feminista e republicana, segundo o

Behind the Name, o sobrenome Motta é de origem Italiana mas deriva do Celta Gaulês,

significando colina, coincidentemente séculos mais tarde uma descendente guerreira

nasceu justamente em Minas Gerais, região famosa pelo relevo montanhoso;

✔ Inês de Souza (Rio de Janeiro), esposa do Governador Salvador Correia de Sá, defendeu

o Rio de Janeiro contra invasão Pirata, no século XVI. O sobrenome Souza ou Sousa, é

de origem portuguesa e possui origem pre-romana, sendo de linhagem antiga, o que

favorece ancestrais Celtas, que aqui foram considerados como possíveis tendo em vista a

pouca possibilidade de no século XVI dados os preconceitos da época, um governador,

de sangue nobre e formação militar, ter se casado com alguém cuja família não fosse

direta ou indiretamente relacionada ao sangue nobre. Como o sobrenome data de Era

Pré-Romana, acreditou-se aqui se tratar potencialmente de Celtas, uma vez que outros

povos Bárbaros ainda não haviam invadido a Península Ibérica substancialmente, e que

Portugal era originalmente ocupada por Celtas Galaicos e por Pré-Celtas Lusitanos, entre

outras tribos. Todavia ela também estaria enquadrada na categoria seguinte, dado o Rio

de Janeiro da época se ajustar ao modelo Castrejo.

✔ Maria Dias Ferraz do Amaral (Goiás), chamada Heróina do Capivari, foi uma

Colonizadora e Bandeirante que esteve em guerra contra Índios. Após pesquisa Etimo-

Genealógica, descobriu-se que Amaral se refere a um vocábulo arcaico galaico-

português amaro, amara que no século IX nomeiava uma espécie de uva amarga.

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Portanto evidencia-se aqui, ao menos no tocante ao universo lingüístico um ponto de

relação com os Celtas visto que os galaicos ou galegos são predominantemente

descendentes de Celtas, até mesmo aos dias de hoje, possuindo 63% do haplogrupo R1B

(Fig.1). Consta que era filha do Capitão Bento Dias Ferraz do Amaral, portanto também

pode ter herdado do pai, pelo estilo de vida em que cresceu, os traços guerreiros que

possuía, o que também a qualificaria à categoria seguinte, mas é colocada aqui devido à

evidência lingüística. Alguns estudos apontam que os Ferraz e os Dias tenham braços de

cristãos-novos, o que reforçaria a abertura à miscigenação.

- Resultantes de Modelo Social Semelhante ao Celta:

✔ Bárbara Pereira de Alencar (Nordeste), não apenas lutou a favor da República no

Pernambuco, como transmitiu a seus filhos a continuidade dessa luta. O estudo Etimo-

Genealógico, atestou para o sobrenome Alencar, origem gentílica referente aos Alanos,

um dos povos indoirânicos que participam da reconstrução de Coimbra, cidade

originalmente Celta, e fundam a cidade de Alenquer e talvez a Torre de Vedras.

Vinculados aos escandinavos Vândalos, mantem um reino ao sul da Península Ibérica, a

Vandalicia que dá origem à Andaluzia. Os Alanos atuais chamados Ossetas, se arrogam

parentesco com os Sármatas em cuja sociedade teriam havido rainhas guerreiras, e com

as Amazonas, que seriam uma de suas tribos. A lenda diz que Thalestris, uma rainha

Amazona, teria dado enorme trabalho bélico a Alexandre O Grande. Embora hajam

evidências de mescla entre Alanos e Celtas, consideramos Bárbara como de estilo de vida

semelhante, mas é interessante mencionar que o sobrenome Pereira pode fazer referência

a cristãos-novos, o que remete à abertura à miscigenação.

✔ Branca Dias (Nordeste), cristã-nova, recusou abandonar o rito Judaico, mantendo a

preservação de sua fé e cerimônias, ao ser morta pela Inquisição, se tornou mártir na luta

pela Tolerância Religiosa e pela Liberdade de Pensamento. Sua memória foi mesclada no

Imaginário a outras defensoras da liberdade de crença, a tornando uma figura quase

lendária, no entanto é sabido que viveu no século XVI. A clara citação como Judia, a

remove ao menos a priori do contexto Celta, mas nota-se que o ambiente das Capitanias e

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Sesmarias, semelhante ao rath irlandês, com propriedades isoladas, rurais, coletivas,

também produziu mulheres guerreiras.

✔ Maria Bonita (Nordeste), Maria Gomes de Oliveira, o sobrenome Oliveira acusa

possibilidade de ancestrais cristãos-novos. Segundo o Behind the Name, o sobrenome

Gomes deriva de possível origem Visigótica. Os visigodos eram um povo tribal e

Escandinavo, e apesar de evidências de mistura aos Celtas, a colocamos na lista de

influenciadas por estilo semelhante. A base de dados The Internet Surname Database diz

que Gomes provem dos Anglo-Saxônicos, que eram teuto-germânicos, de estilos de vida

também semelhantes ao modelo Celta. O ambiente da chamada Civilização do Couro fez

dela uma mulher guerreira e belicosa. Era esposa de pessoa do mesmo meio cultural.

✔ Jacobina Mentz Maurer (Rio Grande do Sul), mediante estudo genealógico, descobriu-

se que descende das famílias alemãs Müller e Mentz, tendo como sobrenomes nos avós

maternos Müller e Conrad. Descobriu-se mediante o The Internet Surname Database

que ambos os sobrenomes Müller e Conrad datam da Alta Idade Média, sendo

germânicos em sua origem. Apesar de a Eupedia revelar aos dias de hoje uma média de

44,5% para o haplogrupo R1B (Fig. 1) dos Celtas na Alemanha, o fato de a Alta Idade

Média assistir ao aparecimento de variadas tribos Germânicas, Eslavas e Escandinavas na

região, aponta imprecisão quanto aos ancestrais Celtas, mas considera-se notória a

semelhança do modelo tribal desses povos aos Celtas Continentais. Se casa com

membro da própria comunidade.

✔ Maria Quitéria (Bahia), Maria Quitéria de Jesus Medeiros. A primeira soldado de

carreira feminina do Brasil, heroína da Independência do Brasil, alcançou à patente de

Alferes de Linha. O sobrenome de Jesus remonta à evidência de algum ancestral órfão,

ou algum ancestral indígena ou africano em algum passado distante, uma vez que não se

reconhecia, senão muito raramente, sobrenomes oriundos dessas etnias àquela época. O

sobrenome Medeiros possui controvérsias à sua origem, aparecendo tanto como

português como como aragonês. Desse modo, sem certeza sobre sua origem étnica, a

colocamos no ambiente semelhante, uma que nasce e morre em área litoânea de uma

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costa estratégica, aos moldes do modelo Castrejo.

Evidenciou-se que as Raízes da Igualdade estariam presentes nas estruturas sócio-

culturais seja por direta ou indireta continuidade da Herança Celta, seja pela reprodução de

condições semelhantes àquelas nas quais a Civilização Celta se desenvolveu.

V. Discussão:

A capacidade guerreira das mulheres celtas torna-se bastante evidente quando

analisamos Boudicca, rainha dos Celtas Icenos, nas Ilhas Britânicas, que após a morte do

marido e o estupro de suas filhas por soldados Romanos, organiza nada menos que um exército

de 100 mil guerreiros e guerreiras, que chegará segundo arqueólogos a 300 mil, e começa uma

série de ataques aos povoados romanizados, que apesar de culminar na derrota no campo de

Watling Street, foi o marco do recuo do Império Romano em sua intenção de avançar na

colonização das Ilhas Britânicas, e é graças à resistência dada por Boudicca que essas regiões,

hoje, não falam nenhum idioma latino. E na Idade Média, nos deparamos com a francesa

Joanne d'Arc, que nasce em terras outrora ocupadas por povos Celtas, cuja memória é

transportada ao Brasil dentro do Imaginário Cristão, e também mediante a imigração francesa.

Ou séculos mais tarde, vemos a pioneira da guerrilha partisã marítima irlandesa Grace

O'Malley, comandando navios piratas em atividade de corso contra a Frota Inglesa; para não

mencionar as mulheres anônimas que lutaram nas revoltas Célticas de Vercingetórix, Viriato,

Numância e nas Guerras Cântabras, entre outras, imaginários esses também conectados a

nichos de imigrantes, o que se torna bastante claro quando ao buscar as origens étnicas das

mulheres guerreiras do Brasil, também nos deparamos com evidências de um plausível

passado distante Celta.

A presença feminina no imaginário Celta também é inegável do ponto de vista

mitológico, quase todas essas nações Celtas tiveram em tempos de antanho como divindades

mais importantes, justamente mulheres, tais como deixam claro: a Dana ou Danu, irlandesa,

deusa das forças da Natureza, da Guerra e da Justiça, entre outros atributos, que se sincretizaria

na Santa Ana dos Irlandeses; a Brighid ou Brigid que sabidamente foi cristianizada como a

Santa Brígida dos Irlandeses, sendo interessante mencionar que mesmo na Idade Média o

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convento a ela dedicado não apenas estava sobre antigo local sagrado consagrado a Brighid

como ainda mantia uma pira com uma chama eterna, símbolo da deusa Brighid, que aparece na

hagiografia da santa católica, juntamente a uma cruz com desenho repartido e que lembra a um

trisquel também símbolo dessa deusa; a Ceridwen dos Celtas Galeses, uma feiticeira lendária; a

Cantaber dos Celtas Cântabros, que não apenas era seguida como lhes dava nome, e do mesmo

modo a deusa Cailleach dos Celtas Galegos, cujo nome teria derivado ao grego Kalaikoi e ao

latim tardio Callaecia originando Gallaecia e daí, Galícia, entre muitas outras divindades

femininas presentes no panteão, bem como lendárias feiticeiras, fadas e guerreiras, conforme

amplamente documentado pelos estudos mitológicos, tais como os iniciados pela famosa obra

de Charles Squire, e por vários historiadores sucessivos.

É possível que a contra-propaganda romana tenha contribuído para apagar boa parte

dessa memória, pois tal como cita a historiadora Sirona Knight, que prefacia um dos volumes

da obra de Charles Squire, não há evidências arqueológicas de que os Celtas fizessem

sacrifícios humanos, como chegaram a narrar os Romanos, e os mesmos narradores afirmam

não serem testemunhas oculares dessas suposições, a historiadora também coloca que teria

havido uma continuidade dessa propaganda durante a Idade Média com a ascensão do

cristianismo, além é claro do uso catequista do sincretismo, conforme deixam claro as santas

Ana e Brígida irlandesas, e a coincidência ou proximidade do Calendário Celta em vários

momentos com o calendário católico, como os Maios uma festa galo-romana, que se tornou

Mês de Maria, e na Galícia une o Catolicismo a crenças Pagãs (do latim paganus, morador da

aldeia) como o uso de maias, espécie de guirlandas de flores amarelas, colocadas às portas para

afastar maus-espíritos, hábito que também se repete no Natal em várias casas católicas, sem que

se saiba sua origem étnica.

A mesma capacidade guerreira se viu em mulheres submetidas a situações igualmente

belicosas e em sociedades igualmente rurais, coletivas e existinto entre um mundo natural

e um mundo espiritual, assim como as sociedades Celtas eram predominantemente um

enclave entre a cidade e a floresta, coexistindo de modo praticamente sustentável com o meio

selvagem, e tendo nele campo para a criação de seu Imaginário, ponto de partida do seu

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Misticismo, também no Brasil não foram poucas as comunidades místicas desdobradas a partir

desse contato rural com a Natureza, isoladas em sertões e pampas, longe das influências, e da

pressão econômica das grandes metrópoles, tal como deixam claro as comunidades que se

envolvem na Guerra de Canudos, na Guerra do Contestado e na Revolta dos Munckers, essa

última liderada por uma dessas mulheres guerreiras. Do mesmo sob óticas mais sociais que

religiosas, o mesmo tipo de espaço geofísico, que era ocupado por povos Celtas deu origem no

Brasil a mulheres guerreiras, tal como se observa nos Sertões, nos Pampas, nas Gerais e no

Agreste, e também nas Costas Litorâneas de caráter Estratégico, ambientes que desenvolvem

sociedades combativas tais como as Celtas, seja devido a serem ambientes hostis por sua

própria natureza, seja por potencializarem a disputa por outros povos, caso acima de tudo das

costas litorâneas de caráter estratégico. Considerando que é previsível que imigrantes busquem

lugares de moradia mais semelhantes aos seus próprios, encontrarmos descendentes de povos

Celtas em ambientes geofísicos com algum grau de semelhança, não é nada surpreendente! Por

outro lado, do mesmo modo que os Celtas foram também construídos pelas suas relações com

o meio em que viviam, outras sociedades, vivendo em meios semelhantes tendem a desenvolver

características semelhantes. Portanto o estudo do Modelo Tribal Antigo Celta pode, seja pela

transmissão cultural geração após geração ou pela geohistória análoga, potencializar a

descoberta de mulheres tão guerreiras quanto as aqui encontradas.

VI. Conclusões:

A partir da relação entre os apontamentos geofísicos e sócio-espaciais, em que

apareceram semelhanças nos estilos de vida dos Povos Celtas, ao longo da Idade Antiga e da

Alta Idade Média, e os estilos de vida Brasileiros encontrados nos Resultados, e percebendo

que ambos os direcionamentos produziram de fato sociedades belicosas mas ao mesmo tempo

com brechas para a luta contra a opressão, seja contra a escravidão, seja contra o servilismo, de

modo semelhante a como se dava entre os antigos Celtas, e sendo evidente que essa

característica guerreira não apenas continuou entre os povos diretamente descendentes de

Celtas, como está presente tanto em mulheres brasileiras possivelmente descendentes quanto

surgidas de sociedades semelhantes, conclui-se aqui que de fato há evidências das influências

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das estruturas sociais do Modelo Tribal Antigo Celta no componente guerreiro, na formação

pessoal com destemor ao combate, e na abertura psicossocial para a atitude da guerra, da

revolta ou da contraposição à mais duras adversidades.

Tendo em vista que ao longo tanto do Modelo Tribal Antigo Celta quanto dos povos

diretamente descendentes, ou das sociedades brasileiras apontadas como geohistoricamente

semelhantes, as mulheres guerreiras apareceram de modo igualitário em relação aos homens

de seu meio, ao menos no tocante à luta por seus ideais ou à luta contra as adversidades,

conclui-se que há evidências de estruturas históricas em comum a esses modelos que estejam

agindo como Raízes da Igualdade, e portanto termina-se este estudo concluindo que realmente

existem estruturas, quer por transmissão educacional familiar, quer por semelhanças de

ambiente geohistórico, que servem de brechas para a Igualdade dos Gêneros, ao menos nas

situações especificadas por este estudo.

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