As revistas Sur, Contorno e a nova geração intelectual argentina (1948-1956)

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    As revistas Sur , Contorno e a nova gerao intelectual argentina (1948-1956)

    Paulo Renato da Silva1

    Resumo: Este artigo demonstra que foi a revista culturalSur de Victoria Ocampo que difundiu ofilsofo francs Jean-Paul Sartre na Argentina e sua defesa do engajamento poltico do intelectual,ainda que de modo crtico. A revistaContorno dos jovens de esquerda no causa, masconseqncia dessa difuso. O artigo enfatiza os pontos em comum entre as duas geraesintelectuais argentinas.Palavras-chave: Argentina, peronismo, intelectual e poltica.

    Abstract: This article shows that it was the Victoria Ocampos cultural magazineSur that diffusedthe French philosopher Jean-Paul Sartre in the Argentine and his defense of intellectual politicalengagement, although critically. The left youth magazineContorno isnt cause, but consequence of this diffusion. The article emphasizes the similarities between the two Argentine intellectualgenerations.Keywords: Argentine, peronism, intellectual and politics.

    A relao entre as revistas culturais argentinasSur (1931-1992)2 de VictoriaOcampo (1890-1979) eContorno (1953-1959)3 dos jovens intelectuais de esquerda pautada por uma idia de ruptura. Ao contrrio daSur , os colaboradores daContorno seaproximam do nacionalismo o que os levaria a revisar positivamente o peronismo depoisda queda de Pern em 1955 e, sob a influncia de Sartre, defendem o envolvimento

    poltico do intelectual. Os colaboradores daContorno reconhecem a importncia dos

    1 Doutorando em Histria pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). E-mail:. Este artigo uma adaptao do ltimo captulo da dissertao VictoriaOcampo e intelectuais deSur : cultura e poltica na Argentina (1931-1955), defendida em 28 de outubro de2004 no Instituto de Filosofia e Cincias Humanas (IFCH) da UNICAMP.2 A Sur publicou nmeros inditos com periodicidade variada at a dcada de setenta, depois, somentecoletneas.3 Tambm com periodicidade variada, aContorno publicou dez nmeros os trs ltimos duplos e doiscadernos especiais.

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    intelectuais daSur , seu legado para a cultura argentina, tanto que ficam conhecidos comoparricidas ao critic-los. Apesar do reconhecimento, a idia de ruptura persiste.

    Este artigo pretende demonstrar que, em meados do sculo XX, o debate sobrecosmopolitismo, nacionalismo e uso poltico da Literatura e das artes em geral no colocado pioneiramente pelaContorno , mas por Victoria Ocampo e seus colaboradores.Isso questiona as crticas segundo as quais Victoria Ocampo e aSur no seriam abertas aodilogo com outros grupos sociais, intelectuais e polticos. Falar em ruptura pode sugerirque as idias defendidas pelaContorno nunca encontraram espao naSur . Como a maiorparte da historiografia sobre aContorno , Beatriz Sarlo coloca que h o parricdio, pero

    tambin discusin de la herencia (SARLO, p. 798). Sim, mas a perspectiva, aqui, umpouco diferente: a discusso da herana comea antes, na revista de Victoria Ocampo.Alm disso, a idia de uma ruptura entre as publicaes pode ser questionada pelapermanncia naContorno de elementos criticados naSur , como a valorizao doestrangeiro e uma viso elitista sobre as massas. Autores como Oscar Tern (1993) e JuanJos Sebreli (1999) destacam a difuso de Sartre pelaSur e os debates que a revistapromoveu sobre as relaes entre arte e poltica. Porm, Tern defende, assim mesmo, aidia de ruptura entre as revistas e Sebreli destaca que, apesar das discusses, aSur privilegiou a Literatura fantstica em detrimento do realismo ou, em outras palavras,preferiu o distanciamento ao engajamento poltico.

    Victoria Ocampo e sua revista ficaram conhecidas pelo cosmopolitismo, ou seja,pela crena na universalidade da cultura, que estaria acima de fronteiras e contextoshistricos. De um modo geral, o contrrio do cosmopolitismo o nacionalismo. Almdisso, Victoria Ocampo e aSur se colocavam como apolticas, diziam que suaspreocupaes eram pura e exclusivamente culturais. Alm da Literatura, a revista abria

    espao para cinema, pintura, msica, Histria e Filosofia, dentre outros assuntos. Aorganizao interna mudou bastante, mas, de um modo geral, os nmeros daSur eramformados por artigos principais seguidos de sees especializadas comoCalendario ,

    Debates sobre temas sociolgicos , Documentos e Realidad Argentina , marcadas peladiscusso de temas contemporneos.

    Como contraponto ao discurso cosmopolita e apoltico daSur , a Contorno foilanada em 1953 em um ambiente literrio at ento dominado pela revista de Victoria

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    Ocampo. Assim como aSur , cada nmero daContorno apresentava alguns artigosprincipais e geralmente eram finalizados com resenhas.

    A histria daContorno comea em trs outras revistas.Verbum , publicao doCentro dos Estudantes da Faculdade de Filosofia e Letras (FFeL) da Universidade deBuenos Aires (UBA), deixa um grande espao vazio ao ser publicada pela ltima vez em1948, aps noventa nmeros. Alm de estudantes, aVerbum contava com inmerosprofessores renomados entre seus colaboradores. A partir de 1951,Centro ocupa partedesse espao.

    Em junho de 1953 lanado o primeiro e nico nmero de Las Ciento y Una ,

    revista dirigida por Hctor A. Murena, que tambm configurava entre os colaboradores daSur. 4 A publicao apresenta um enfoque poltico e se prope a analisar a realidadeargentina e latino-americana.

    Em termos gerais, aContorno aparece em novembro de 1953 com uma propostaque procura conciliar a preocupao mais acadmica e cultural deCentro com o enfoquepoltico de Las Ciento y Una . Las Ciento y Una tambm influencia a diagramao daContorno . No primeiro nmero daContorno , Ismael Vias o diretor, tarefa que seriadividida posteriormente com o seu irmo David, No Jitrik, Adolfo Prieto, LeonRozitchner, Ramn Alcade e Adelaida Gigli, esposa da David. Desde j, vale umcomentrio: as relaes pessoais e familiares, ento, no so uma exclusividade daSur ,como parece insinuar parte da crtica.

    O rompimento daContorno com Victoria Ocampo e aSur evidente desde oprimeiro nmero, rompimento literrio que no tardaria em se evidenciar no plano poltico.Diferentemente da proposta apoltica e cosmopolita de Victoria Ocampo e daSur , aContorno se preocupa em indagar o passado e a realidade da Argentina atravs da

    Literatura nacional. Dessa maneira, aContorno desenvolve uma crtica literria querelaciona o texto com o contexto, a criao literria com as condies histricas que aenvolvem. Da teria vindo o nome da revista que, de acordo com David Vias, teria sido

    4 H. A. Murena (1923-1975) era o pseudnimo usado pelo escritor, ensasta, poeta e dramaturgo argentinoHctor Alberto lvarez. Formado em Letras, chegou a escrever paraVerbum e tambm esteve entre oscolaboradores do jornal liberal La Nacin .

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    uma sugesto dele.5 Quizs me lo tenga que atribuir, pero evidentemente lo que queramosdesignar era lo que estaba alrededor (VIAS, 1981, p. 11). Segundo Oscar L. Arias

    Gonzalez, cuando hablan de un contorno piensan en la situacin sartreana (GONZALEZ, 2001, p. 23). A influncia de Sartre sobre o grupo se d especialmente porOque a Literatura? , obra publicada em 1950. A propsito, Sartre aparece como odenominador comum entre os colaboradores daContorno , acima das tendncias internas.

    A principal influncia de Sartre sobre aContorno a defesa do engajamentopoltico do intelectual. Engajamento no necessariamente em termos partidrios eideolgicos, como demonstram as crticas ao marxismo ortodoxo, mas no sentido de um

    envolvimento com a realidade circundante com o intuito de transform-la de modoprogressista, revolucionrio. Nesse sentido, a Literatura seria um instrumento privilegiadode conscientizao, esclarecimento. Esse engajamento aparece claramente no primeironmero daContorno nas palavras de Ismael Vias, assim como o rompimento com agerao intelectual de Victoria Ocampo e dos principais colaboradores daSur :

    Cuando empezamos a enterarnos del mundo a que pertenecamos, nosencontramos con una constelacin de nombres que parecan ocuparcumplidamente su tierra y su cielo: nuestros hroes, nuestros poetas, nuestrospolticos, nuestros profesores, nuestros filsofos, nuestros maestros.Fuimos aprendiendo puntualmente que pocos de entre ellos posean algo detrsde sus fachadas. No era el comn rechazo juvenil por los antepasados. Era que,debajo de sus renunciamientos con aires beatifcales, se ocultaba la ineptitud o lacobarda (VIAS, 1953, p. 2).

    Dentre os nomes destacados por Ismael Vias est Jorge Luis Borges, um dosprincipais colaboradores daSur que, naqueles anos, estava se tornando conhecidointernacionalmente. Traduzida ao francs por Roger Caillois (1913-1978), a Literatura

    fantstica de Borges conquistava a Europa.6

    5 David Vias, premiado escritor e crtico literrio, nasceu em Buenos Aires em 1929. Com a ditadura dadcada de setenta, se exilou nos Estados Unidos e na Europa, onde deu aulas de Literatura em diversasuniversidades. Seus dois filhos esto entre os trinta mil desaparecidos polticos. Com a abertura democrtica,retornou ao pas, onde professor de Literatura Argentina da FFeL da UBA.6 Caillois vive na Argentina durante a Segunda Guerra Mundial inteira (1939-1945) e, com o auxliofinanceiro de Victoria Ocampo, organiza e dirige a revista Lettres Franaises , que defendia a causa dosAliados perante a invaso da Frana pela Alemanha de Hitler. Sua traduo de Borges foi publicadaoriginalmente pelaGallimard , uma das principais editoras francesas.

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    Em 1945, Borges defende a Literatura fantstica ao ser premiado pela SociedadeArgentina de Escritores (SADE) porFices 7, obra publicada no ano anterior pela editora

    Sur. 8 Hay quienes juzgan que la literatura fantstica es un gnero lateral; s que es el msantiguo, s que, bajo cualquier latitud, la cosmogona y la mitologa son anteriores a la

    novela de costumbres (BORGES, 1945). Tal viso positiva no seria compartilhada comcolaboradores daContorno . Como lembra Juan Jos Sebreli, aliteratura fantstica que sehaba convertido en los aos 40 y 50 en el gnero preferido de algunos miembros del

    grupo Sur (...) nos dejaba indiferentes a quienes ramos partidarios del realismo (SEBRELI, 1997, p. 5).9 David Vias tambm demonstra indiferena, mais exatamente em

    relao a Borges. A m Borges no me interesaba (...) Yo no lo lea demasiado (VIAS,1981, p. 12). Como se nota nas palavras de Ismael Vias no primeiro nmero daContorno ,consideravam a antiga gerao intelectual e sua Literatura fantstica como isoladas,isolamento com o qual se endeusariam, mas que na verdade revelaria sua incapacidade,covardia perante a realidade e seus problemas.

    Victoria Ocampo criticada inmeras vezes como uma intelectual fechada aodilogo com outros grupos sociais, intelectuais e polticos. Concordando com CsarFernndez Moreno, Jorge Cernadas coloca queen los aos finales del primer

    peronismo, (...) instituciones (...) como la revista Sur o el suplemento de La Nacin 10 cierran o por lo menos entornan sus puertas a las nuevas promociones de intelectuales

    7 Em 1942, Borges no foi premiado pela Comisso Nacional de Cultura, que preferiu uma estticanacionalista e realista e excluiu El jardn de senderos que se bifurcan . Em contrapartida, a SADE, quenucleava muitos colaboradores daSur , cria o Grande Prmio de Honra, dado a Borges, contra os oficiais,crescentemente nacionalistas. Vale lembrar que, em 1943, a Argentina sofreu um golpe de Estado lideradopelo Grupo de Oficiais Unidos (GOU), formado por militares nacionalistas simpatizantes do nazi-fascismo,dentre os quais estava o futuro presidente Juan Domingo Pern, eleito em 1946.8 A editora fundada em 1933 com o objetivo de difundir autores latino e norte-americanos e de traduziroutros ainda inditos em castelhano. Financeiramente, a editora visava manter a revista. O modelo seguidopor Victoria Ocampo foi o adotado pelo filsofo espanhol Jos Ortega y Gasset, diretor da Revista deOccidente e da editora de mesmo nome.9 Juan Jos Sebreli nasceu em Buenos Aires, pouco aps o golpe militar de 1930. Estudou na FFeL da UBA,mas se afastou gradualmente dos crculos acadmicos. H edies dos seus livros na Espanha, Itlia eAlemanha. Escreveu Eva Pern, aventurera o militante? , no qual chega a comparar Victoria Ocampo comEvita. Enquanto a primeira teria se preocupado somente com a opresso sofrida pelas mulheres, Eva Pernteria se preocupado com todas as formas de opresso. A contribuio de Victoria Ocampo para a afirmaodas mulheres era desconsiderada pelo peronismo, que destacava a atuao de Evita e tambm pela esquerda,que considerava mais importante a emancipao do proletariado.10 O suplemento do jornal liberal ao qual se refere Cernadas o cultural, para o qual escreviam vrioscolaboradores daSur , como destaque para Eduardo Mallea, que foi um dos principais diretores dosuplemento.

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    (CERNADAS, p. 2). Viso que vem de longa data. Em 1967, Angela B. Dellepiane colocaque os jovens intelectuais queriam dizer coisas, tinham muito que dizer, pero donde

    publicar? Sur y La Nacineran (y todava lo son, en parte), los bastiones olmpicos delos padres. La alternativa era o sucumbir a ellos o crear nuevos rganos de expresin (DELLEPIANE, 1968, p. 244).

    Apesar disso, um posicionamento muito parecido ao de Ismael Vias no primeironmero daContorno j aparece naSur dois anos antes, no nmero 204, publicado emoutubro de 1951. Em Martnez Estrada: la leccin a los desposedos , Hctor A. Murenacoloca que trs colaboradores daSur , Ezequiel Martnez Estrada, Mallea e Borges, so

    profetas que, com suas obras inquietantes, revelaram a Amrica aos americanos, suapobreza, inclusive cultural. A respeito da importncia do pensamento dos trs, Murenaescreve o seguinte:

    (...) los americanos somos los parias del mundo, (...) somos los ms miserables(...), somos unosdesposedos . Somos unos desposedos porque lo hemos dejadotodo cuando nos vinimos de Europa o de Asia, y lo dejamostodo porquedejamos lahistoria (MURENA, 1951, p. 6).

    No entanto, Murena considera que a superao deles uma necessidade.Como

    hijos, debemos empezar por ver los defectos de nuestros padres. Y agreguemos quetambin nos sentimos ms all de la leccin (MURENA, 1951, p. 14). Talvez nesse trechoesteja a origem da expresso parricidas para designar os colaboradores daContorno , usadapela primeira vez pelo crtico uruguaio Emir Rodrguez Monegal em El juicio de los

    parricidas (1956). verdade que Murena jamais escreveu para aContorno , mas era um jovem

    intelectual conhecido no meio universitrio e sua efmera revista, Las Ciento y Una ,influenciou aContorno . Tambm verdade que, politicamente, Murena est um tantodistante dos jovens de esquerda daContorno . Nesse sentido, David Vias coloca que,depois de Las Ciento y Una , Murena optou pelo outro lado, referindo-se aos liberais(VIAS, 1981, p. 10). Contudo, sua relao com os liberais como Victoria Ocampo e osprincipais colaboradores daSur no menos distante. Angela B. Dellepiane destacaMurena como um enojado, assim como os colaboradores daContorno . Enojados,incomodados, inconformados com a situao argentina e latino-americana. Apesar dascrticas, o prprio David Vias reconhece que Murenaera el heterodoxo de Sur: l tena

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    una reflexin argentina en un espacio totalmente liberal y europesta (VIAS, 1981, p.11). Como a maioria dos colaboradores daContorno , Murena centra sua crtica na questo

    do distanciamento dos intelectuais da realidade argentina e latino-americana. El profetamarcha apoyndose en el cielo, (...) anda con inseguridad sobre su misma tierra y por esono entiende del todo a lo que siempre lo han rodeado (MURENA, 1951, p. 15). Murenaaparece, assim, como uma espcie de arqutipo dos jovens intelectuais e da sua relao comVictoria Ocampo e os principais colaboradores daSur . Se Martnez Estrada, Mallea eBorges tm o mrito de terem revelado a Amrica aos americanos, j era momento,segundo Murena, de solucionar seus problemas, em um claro clamor pelo engajamento.

    Tenemos que vivir, tenemos que sobrepasar la enfermedad (MURENA, 1951, p. 18).Dois anos antes, na seo Los penltimos das do nmero 176 daSur , publicado em

    junho de 1949, Murena j fala em um distanciamento de Borges da realidade, inclusivefisicamente, como se perceberia nas suas conferncias.11 Ao comentar uma sobre HenryJames, Murena coloca que Borges est longe de ser um conferencista ideal, que mantmsem interrupes sua comunicao com o pblico:

    La simpata del pblico es evidente, pero l est separado en forma

    radical de la realidad, del pblico y de todo. Se ve que es un tormentopara l hablar, intentar comunicarse. Me resulta un smbolo. El smbolode una profunda experiencia de este mundo americano, el smbolo delintelectual cercado sin piedad por los elementos que aqu se mueven yhaciendo esfuerzos enormes por dominarlos (MURENA, junho de 1949,p. 96).

    Murena no foi o nico da nova gerao intelectual a colaborar com aSur . Oprprio David Vias, irmo de Ismael e um dos encarregados da direo daContorno ,chegou a escrever para aSur . Nessa condio, ainda se encontram Juan Jos Sebreli e o

    historiador Tulio Halpern Donghi.12 Alm disso, muito antes deO que a Literatura? ,

    11 Borges passa a fazer conferncias aps pedir demisso, em 1946, da biblioteca municipal Miguel Can.Borges pede demisso ao saber da sua transferncia para o cargo de inspetor de aves, coelhos e ovos dasfeiras portenhas. A transferncia foi uma represlia por ter apoiado os Aliados, as democracias liberais, naSegunda Guerra Mundial. O episdio indica a fora dos setores pr-Eixo na Argentina, mesmo depois daderrota do nazi-fascismo na guerra.12 Tulio Halpern Donghi nasceu em Buenos Aires em 1926. Estudou Histria e Direito na UBA. Entre 1955 e1966, foi professor da FFeL da UBA e da Faculdade de Humanidades da Universidade Nacional do Litoral.Com o golpe militar de 1966, saiu do pas e foi trabalhar em universidades norte-americanas.

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    Sartre j aparecia naSur , como colaborador e como tema de discusses. Segundo JohnKing, Sartre publicado pelaSur antes mesmo de ser conhecido na Frana. El aposento ,

    traduo do conto La chambre , aparece naSur j em maro-abril de 1939.13 Em outraspalavras, no foi aContorno , mas a Sur , a responsvel pela divulgao inicial dopensamento de Sartre na Argentina, tanto a revista como a editora.14 A Sur somenteassumiria uma postura rgida contra Sartre aps algumas declaraes nas quais daria aentender que apoiava as aes da Unio Sovitica na Europa Oriental. Essas declaraestambm provocaram o rompimento de Albert Camus com Sartre.

    Vale acrescentar que colaboradores daSur , especialmente Borges, tambm foram

    publicados porTemps Modernes , a revista de Sartre que tanto influencia aContorno .Sebreli relata um episdio indicativo dos dilemas e da linha tnue que separa as duasgeraes intelectuais. Conta que os sartreanos argentinos receberam com grande surpresa,em julho de 1955, o nmero deTemps Modernes com inmeros ensaios deOtrasinquisiciones de Borges. (...)algunos sartreanos argentinos como Oscar Masotta y CarlosCorrea comenzaron a sentirse atrados por Borges ledo en francs, aunque guardando el

    secreto para no provocar el desdn de sus amigos (SEBRELI, 1999, p. 339).No nmero 162 daSur , publicado em abril de 1948, Ren Marill-Albrs elogia

    Sartre, destaca que a sua obra marcada pela liberdade e pelo desejo de enfrentar afealdade do mundo, e no de destrui-lo para transform-lo, como desejariam os dialticos.Su moral aspira a reemplazar el farisesmo por el compromiso, la obediencia a un modelo

    fijo por la empresa (MARILL-ALBRS, abril de 1948, p. 94). No nmero 168, publicadoem outubro de 1948, Marill-Albrs tambm resenha positivamente um livro sobre Sartreescrito por Vicente Fatone, outro colaborador daSur . Ao contrrio dos telogos do nada,Sartre enfrentaria o mundo e seus problemas, armado com a devoo pela ao e pelo

    ativismo.

    13 Outro texto importante de Sartre naSur publicado no nmero 124, de fevereiro de 1945,Pars bajo laocupacin , sobre a invaso e ocupao de Paris pelos nazistas. Logo depois, no nmero 127, de maio de 1945,Sartre publicaSobre un libro de Francis Ponge: A favor de las cosas . Alm destes, no nmero 138, deabril de 1946, aSur publica Retrato del antisemita , no qual Sartre condena o maniquesmo que marcou aperseguio aos judeus. Para finalizar, nos nmeros 147, 148 e 149, de janeiro, fevereiro e maro de 1947,Sartre publica El existencialismo es un humanismo , que a editoraSur lanaria como livro no mesmo ano. Valeacrescentar que colaboradores daSur , especialmente Borges, tambm so publicados porTemps Modernes , arevista de Sartre que tanto influencia aContorno .14 Alm de El existencialismo es un humanismo , a editoraSur lana, em 1948, Reflexiones sobre la cuestin

    juda .

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    Evidentemente que essa abertura no acontece sem tenses entre as diferentesvises do intelectual e da Literatura. Na seoCalendario do nmero 166 da revista,

    publicado em agosto de 1948, Alfredo J. Weis enaltece o engajamento poltico dointelectual proposto por Sartre, que no se enquadraria no modelo comunista ortodoxo eautoritrio. No entanto, sua crtica literria, ao se preocupar exageradamente com ocontexto, reduziria a Literatura, poisapunta menos a la obra que al escritor (WEIS, 1948, p. 104).15

    Outro exemplo dessa tenso acontece entre Murena e Carlos Mastronardi.16 Nonmero 164-165, de junho-julho de 1948, Murena critica o grupo Martn Fierro ao qual

    pertenceu Borges.17

    Murena destaca que o nacional proposto pelo grupo era forneo,europeu, baseado nas suas correntes estticas, o que teria resultado em uma Literaturaartificial, presa ao passado, pitoresca, criadora do nacional e no criada por ele.Queremosvolver a ser pasado porque slo all nos sentimos ser , y en verdad nos estamos impidiendoser, porque nicamente somos en el presente (MURENA, junho-julho de 1948, p. 82). Adefesa de um engajamento na realidade circundante latente. Borges tomado como omelhor exemplo do grupo. Segundo Murena, os primeiros trabalhos de Borges demonstramque era capaz de descrever alguns elementos do nacional, mas no de senti-lo.

    Quatro nmeros depois, o 169, publicado em novembro de 1948, Mastronardiresponde a Murena afirmando que, ao desprezar o passado, se mostra favorvel a umapoesia de circunstncia. Essa uma crtica comum de Victoria Ocampo e outroscolaboradores daSur arte engajada, que seria efmera e no teria uma dimensouniversal. Mastronardi concorda que o grupo Martn Fierro e Borges em particularrealmente tinham preocupaes estticas e metafsicas, mas considera que isto no terialhes impedido de falar do e com o nacional. No es forzoso ser homicida, autor de msica

    tpica o bailarn de la periferia para escribir con autoridad sobre el chulo rioplatense

    15 Nesse nmero, como em inmeros outros, a seo no est assinada. A informao da autoria de Weis dada por Oscar Hermes Villordo em El grupo Sur: una biografa colectiva .16 Na juventude, Carlos Mastronardi (1901-1976) se dedicou ao desenho e pintura e escrevia textoshumorsticos em jornais da Provncia argentina de Entre Ros. Quando se mudou para Buenos Aires, ainda jovem, passou a se destacar como crtico literrio e tradutor. Tambm escreveu poesias. Foi um doscolaboradores da revista Martn Fierro , assim como Borges. 17 A revista Martn Fierro lanada em 1924 com uma crtica contundente ao que consideravamconvencional e vulgar nas artes. Com a revista, teve incio a lendria polmica entre os grupos que setornariam conhecidos como Boedo e Florida: enquanto o primeiro defenderia uma arte engajada, o segundo,ao qual pertenceria a revista, seguiria a arte pela arte.

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    (MASTRONARDI, 1948, p. 55). Em suma, ao contrrio do que defenderiam oscolaboradores daContorno , Mastronardi considera que no preciso pertencer, se envolver

    direta e demasiadamente para sentir e escrever o nacional.Uma outra polmica entre o cosmopolitismo e o nacional ocorre entre Victoria

    Ocampo e, mais uma vez, Murena, nos nmeros 175 e 176 daSur , de maio e junho de1949, respectivamente. A respeito do desejo de Victoria Ocampo, expresso naSur , depublicar um livro sobre T. E. Lawrence18, Murena se pergunta no nmero 175 por que noescreveria sobre Sarmiento. Nos ignoramos tanto a los argentinos, los americanos.

    Necesitamos con tanta urgencia directas palabras sobre nosotros mismos

    (MURENA, maio de 1949, p. 65). No nmero seguinte, Victoria Ocampo coloca que asugesto de escrever sobre Sarmiento muito boa, mas que a recusa de Murena ao nome deLawrence era um exemplo do nacionalismo sempre combatido pelaSur . Alm disso, comoMastronardi, Victoria Ocampo defende que no existem regras para escrever e sentir onacional. Em outras palavras, acredita que o cosmopolitismo e o nacional no soincompatveis.Poco importa para un argentino por muy argentino que sea que un T. E.o un Mahatmaji 19 no sean argentinos. Entramos, con ellos, en un orden ecumnico (OCAMPO, 1949, p. 99). No nmero 178, publicado em agosto de 1949, Murena continuaa polmica: argumenta que props Sarmiento em termos de pertinncia, no de grandeza ecoloca que Victoria Ocampo se irrita, pois veria a Amrica como um continente ignorante einculto. Frisa que no nacionalista e alerta que o cosmopolitismo pode ser to perigosoquanto o nacionalismo, pois tambm provocaria a ignorncia da realidade:

    (...) el decidido nacionalismo y el decidido internacionalismo son la caray la nuca de un mismo animal: el avestruz, el animal que ante el peligrooculta la cabeza e ignora la realidad. El uno consiste en hundirse en la

    realidad, el otro en huir de ella: ambos coinciden en ignorarla(MURENA, agosto de 1949, p. 90).

    Enfim, os exemplos demonstram como o rompimento entre as duas geraesintelectuais nasce e se desenvolve dentro da prpriaSur e no naContorno . A revista da

    18 Militar e escritor britnico, T. E. Lawrence (1888-1935) se encantou pelo Oriente e, na Primeira GuerraMundial (1914-1919), foi um dos lderes dos rabes contra os turcos.19 Refere-se a Gandhi, um dos principais lderes da independncia da ndia. Victoria Ocampo admirava suapoltica pacifista.

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    jovem intelectualidade de esquerda muito mais conseqncia do que causa do seurompimento com Victoria Ocampo e os principais colaboradores daSur .

    De qualquer maneira, o rompimento da jovem intelectualidade com VictoriaOcampo e aSur se torna mais evidente e se radicaliza no nmero 7-8 daContorno ,publicado em julho de 1956, dedicado a uma reviso positiva do governo de Pern. Onmero a base da historiografia que frisa a ruptura entre as publicaes, porquecontrastaria com o nmero 237 daSur publicado no final de 1955 logo aps a queda dePern em setembro. Nesse nmero especial, sugestivamente intituladoPor lareconstruccin nacional , a Sur comemora o ocorrido, lamenta e critica o peronismo das

    massas e inicialmente apia o golpe de Estado que derruba Pern, ainda que com reservas.O nmero 7-8 daContorno , por sua vez, lanado aps o fuzilamento de militantesperonistas liderados pelo general Valle, que organizaram um levante contra o governo dogeneral Pedro Eugenio Aramburu (1955-1958), marcado pela desperonizao da sociedadeargentina20. Com o ttuloPeronismo... y lo otro? , a Contorno antecipa a tentativa de secompreender o apoio das massas a Pern, o que, somado ao silncio daSur sobre oassassinato dos peronistas, teria rompido definitivamente as duas geraes intelectuais.

    interessante notar como Victoria Ocampo e aSur so cobradas pelo silncio,interpretado como apoio. Seguindo o raciocnio, por que aContorno no se pronuncia, nonmero 5-6, de setembro de 1955, a respeito da intensa crise poltica que j atinge ogoverno de Pern? Por que no saiu em sua defesa? Por que aContorno demora novemeses, depois do golpe de 1955, para destacar as medidas sociais e trabalhistas doperonismo? Trs textos publicados naSur , dois de Murena e o outro de Juan Jos Sebreli,que se tornaria colaborador daContorno , demonstram como a jovem intelectualidadetambm era antiperonista.

    No nmero 169 daSur , de novembro de 1948, Murena faz uma pardia daArgentina peronista, comparando-a a uma violenta partida de futebol. EmFragmento de losanales secretos , o futebol uma fora incontrolvel que dominaria tudo e todos. Ao final

    20 Dentre as medidas desperonizadoras, destacam-se a expulso dos peronistas de instituies como auniversidade, a proibio de smbolos e hinos peronistas, a decretao da ilegalidade do peronismo, ofechamento da Fundao Eva Pern de assistncia social. Vale acrescentar que, logo aps o golpe de 1955,Pern partiu para um exlio de quase vinte anos pela Amrica e Europa. Somente retornaria Argentina em1973.

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    da partida, essa fora se manifesta com violncia na torcida, que avana contra o juiz, que enforcado pela multido. Em uma leitura possvel, o juiz representaria os intelectuais

    perseguidos pelo governo de Pern, o intelectual em confronto com as massas, acuado comseu avano descontrolado. El juez, detenido en el centro de la liza, los mira. (...). Entonceshuye. Hacia cualquier parte, como un ciervo cogido en la trampa del bosque, despavorido,

    como un cristiano entre los leones (MURENA, novembro de 1948, p. 50). Murena parecerepresentar as massas como naturalmente irracionais, violentas, irrecuperveis.Y elloshuyeron hacia el laberinto de piedra para reanudar al otro da el trote circular, al parecer

    perpetuo, irredimible (MURENA, novembro de 1948, p. 51). Para escrever o conto,

    Murena possivelmente se inspirou em La cabeza de Goliat (1940) de Martnez Estrada. El pueblo de la metrpoli tiene sus pasiones hondas e irrefrenables. Una de ellas, la ms

    tpica y vehemente, toma el aspecto externo del ftbol (MARTNEZ ESTRADA, p. 251).O outro texto de Murena que indica o antiperonismo da jovem intelectualidade

    publicado na seo Los penltimos das do nmero 176, de junho de 1949. Murenacomemora o sucesso de uma greve de trabalhadores dos frigorficos, sucesso colocadocomo incomum nos ltimos meses. A notcia parece ser um estmulo aos demaistrabalhadores. O sucesso dependeria de organizao e de esperar o momento certo paraagir. A notcia, transcrita abaixo, contrastava com a tendncia do governo de Pern emcoibir as greves:

    MAYO 13. Mientras se celebraban las negociaciones con Gran Bretaa para laventa de la carne, los obreros de los frigorficos decretaron la huelga en demandade mejores salarios. La huelga triunf, y el aumento de los sueldos justific laelevacin de los precios exigidos por el gobierno a Gran Bretaa para la carne.Entre muchas, esta huelga fue la nica que logr xito en los ltimos meses. Ellodemuestra que cuando los sindicatos estn bien disciplinados saben inclusocuando deben esforzarse hasta el mximo para vencer (MURENA, junho de1949, p. 96).

    Em Celeste y colorado , publicado no nmero 217-218 daSur , denovembro-dezembro de 1952, Juan Jos Sebreli lamenta que o atual momento polticomantivesse a desunio nacional e parece comunicar a Pern quetodo el que quiereconstruir en el terreno de lo poltico y lo social debe empezar por aceptar a conciencia el

    escndalo y el fracaso de la dictadura y la violencia (SEBRELI, 1952, p. 79).

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    Como aconteceu esse movimento? Por que jovens, com tendncia de esquerda, aolado dos liberais contra o peronismo, passaram a valoriz-lo aps a queda de Pern? A

    aproximao da esquerda com os liberais na oposio ao peronismo foi uma situaoherdada da Segunda Guerra Mundial, quando tanto a Unio Sovitica como os EstadosUnidos lutaram contra os pases nazi-fascistas. Ora, Pern aparece no cenrio polticoargentino identificado com os setores pr-Eixo, pertenceu ao alto escalo do Grupo deOficiais Unidos, formado pelos militares antiliberais, autoritrios e nacionalistas. Essesmilitares lideram o golpe de Estado de 1943 e, no governo de Edelmiro Farrell(1944-1946), terceiro presidente a assumir aps o golpe, Pern torna-se vice-presidente,

    Ministro da Guerra e Secretrio do Trabalho, cargo com o qual conquista as massaspopulares ao implantar uma srie de medidas trabalhistas e sociais, favorecido pelo vultosoacmulo de divisas pela Argentina durante a guerra. Logo, na Argentina, ao contrrio doque aconteceu na maioria dos pases latino-americanos, a derrota do Eixo em 1945 noenfraquece seus simpatizantes com a mesma intensidade. Realmente, a ditadura cai em1946, mas Pern eleito presidente. Assim, o clima da Segunda Guerra Mundialpermanece na Argentina, com liberais e a esquerda na oposio a um governo compostopor nomes, a comear pelo presidente, que tinham manifestado simpatia pelonazi-fascismo.

    E o outro movimento? Da oposio para a reviso positiva do legado de Pern?Nesse ponto, Juan Carlos Marin, em uma entrevista a Alberto No, apresenta umaexplicao plausvel. O modelo econmico nacionalista de Pern comea a apresentarsinais de esgotamento no seu segundo mandato (1952-1955), principalmente pelareorganizao da economia internacional aps o impacto da guerra. Com isso, as grevesretornaram e, segundo Marin, 60% dos trabalhadores urbanos chegaram a paralisar as

    atividades em 1954. A represso foi muito violenta e os estudantes, perseguidos desde ocomeo do governo, passaram a entrar em contato com os trabalhadores, inclusive nasprises. Muchos obreros estn en las crceles del pas, pero con un elemento original,

    junto con los obreros encarcelados, tambin estn en la misma situacin, los estudiantes,

    esto es muy interesante (MARN, p. 7). Um dos aspectos mais valorizados porcolaboradores daContorno , justamente, a politizao dos trabalhadores que teria sidodesencadeada pelo peronismo. Como coloca Tern, na universidade, sob interveno

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    durante e depois do governo de Pern, os jovens intelectuais no encontravam espao parao deseo de una filosofia comprometida y eficaz en su relacin con la poltica (1993, p. 17).

    Emir Rodriguez Monegal, citado por Tern, destaca que esses jovens encontraram ocaminho para revelar, pensar e transformar a realidade na Literatura. Ao contrrio deVictoria Ocampo e dos principais colaboradores daSur , recusavam a autonomia daLiteratura, com qual a acreditavam conciliar a atividade intelectual e a ao poltica.

    Retornando ao nmero daContorno sobre o peronismo, existem indcios dessepassado antiperonista dos colaboradores. Ainda no editorial, sem assinatura, logo, umaposio a princpio conjunta, reconhecem que no foram peronistas, mas afirmam que

    tambm no foram antiperonistas. Apresentam-se como peronistas de hoje, de modo queno compactuariam com Pern, j exilado. O ex-presidente continua sendo visto comoautoritrio, corrupto e demagogo, o que os colaboradores daContorno mudam a visosobre os efeitos do seu governo, que teria desencadeado uma conscientizao dosoprimidos. (...)esto del peronismo, s; esto del peronismo, no (CONTORNO , 1956, p. 2),distinguem. Alm da conscientizao, destacam o avano econmico e social das classespopulares, o nacionalismo e a industrializao. Nesse sentido, no mesmo nmero, LeonRozitchner coloca o peronismo como uma louca, mas necessria aventura21. De um modoparecido, Osiris Troiani considera o peronismo como nacional e popular, mas tambmcomo uma cegueira, uma peste totalitria. Ainda no mesmo nmero, essa reviso doperonismo faz com que Tulio Halpern Donghi no o coloque como uma forma defascismo, uma cpia idntica, mas comouna tentativa de reforma fascista de la vida

    poltica argentina (HALPERN DONGHI, 1956, p. 15), em uma distino incomum naSur , que tendia a aproxim-los mais. De qualquer modo, ainda que em graus diferentes, ainfluncia do fascismo, do totalitarismo de direita sobre o peronismo destacada tanto pela

    Sur como pela Contorno . Assim, os jovens intelectuais no superam totalmente aassociao do peronismo com o nazi-fascismo, frisada pela oposio para enfraquecerPern politicamente e que marcou, sobretudo, a campanha eleitoral de 1946.

    Tambm se nota naContorno o sentimento de culpa manifestado por VictoriaOcampo e colaboradores daSur no nmero 237. Naquela ocasio, aSur afirma mais de

    21 Argentino, Rozitchner nasceu em Chivilcoy. Doutora-se em Filosofia em Paris. Atualmente professor devrias universidades, na Argentina e no exterior. Antes de colaborar com aContorno , tinha participado dadireo deVerbum .

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    uma vez que as massas somente apoiaram Pern e seu governo porque os intelectuaisteriam, em alguma medida, falhado na sua tarefa de preservao da cultura e

    desenvolvimento espiritual da humanidade. Nesse ponto, se percebe a tentativa dointelectual se legitimar como nico e, portanto, privilegiado portador de cultura e daverdade. Alm disso, os intelectuais aparecem como guias das massas, conhecedores domelhor caminho para elas:

    ltimamente Martnez Estrada me deca que habamos sido casi todoscobardes (se refera, creo, a nosotros, los escritores), pues hubiramosdebido hacernos matar gritando la verdad. Es cierto; desde el punto de vista dehroes o de santos de la grandeza de un Gandhi, pocos de entre nosotros hanllegado al lmite de extremo coraje que se necesita, en tiempos de dictadura (...)(OCAMPO, 1955, p. 7).

    Conforme mencionado, naContorno no substancialmente diferente. Se operonismo apresenta traos fascistas, totalitrios, de cegueira e loucura, de alguma maneiraos intelectuais teriam falhado, pois no teriam impedido a consolidao destes traos nocenrio poltico argentino. Isso aparece bem nos textos de Rozitchner e Troiani publicadosno nmero 7-8, nos quais lamentam o distanciamento das massas. Debamos renunciar a

    toda conquista que no lo fuera tambin de nuestro pueblo (TROIANI, 1956, p. 9), clamaTroiani. Entre el proletariado y nosotros hay un abismo (ROZITCHNER, 1956, p. 4),lamenta Rozitchner. A culpa daContorno , tipicamente sartriana, o pretexto da suaaproximao das massas.

    Em ambos os casos, o sentimento de culpa est profundamente relacionado ainteresses polticos. No caso de Victoria Ocampo e daSur , frisar sua oposio a Pernperante a poltica e as instituies antiperonistas que se seguiriam.22 J no caso da

    Contorno , se aproximar das massas disponveis aps a queda e o exlio de Pern.Enquanto no primeiro caso predomina a defesa de se combater o peronismo atravs dasinstituies, desperonizando-as, no segundo destaca-se uma posio reformista a partir dasmassas, mostrando o que deveria ser mantido do legado de Pern e o que deveria ser

    22 Borges, por exemplo, foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional, cargo que ocupou por mais de quinzeanos. Antes desse convite, foi sugerido como embaixador da Argentina nos Estados Unidos, cargo recusadopor Borges.

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    eliminado. De qualquer maneira, tanto em uma gerao intelectual como na outra, asuperao do peronismo tradicional aparece como uma necessidade.

    Rozitchner coloca naContorno que o proletariado tem uma conscincia vaga econtida. Sem a experincia da liberdade burguesa, o proletariado estaria habituado dependncia, de maneira que no sairia imediatamente da sugesto paternalista doperonismo. J que as massas no conheciam a liberdade, Rozitchner frisa que suairracionalidade durante o governo de Pern era compreensvel. No entanto, defende queessa irracionalidade deveria ser superada. Prope uma aproximao dos intelectuais com asmassas, para formar tambin el hombre para poder solicitar de el algo ms que la

    rendicin, la sumisin (ROZITCHNER, 1956, p. 8). De um modo semelhante, Troianiescreve que o povo argentino deveria cumprir sua tarefa histrica e aponta o caminho paraisto na Literatura. La literatura era vida o era una farsa (TROIANI, 1956, p. 9). IsmaelVias coloca que esse esclarecimento das massas deveria ser feito por intelectuaisdesapaixonados. Considerando-se que no editorial no se colocam como peronistas, nemcomo antiperonistas, esses intelectuais poderiam ser, obviamente, eles prprios.

    Victoria Ocampo e aSur , ento, no poderiam participar do esclarecimento dasmassas pelo seu antiperonismo arraigado e porque no possuiriam a linguagem nacional epopular necessria. Seu cosmopolitismo no ajudaria na resoluo dos problemasargentinos, pelo contrrio, seria um sintoma da dependncia, submisso do pas. Nessesentido, Oscar Masotta define o pensamento de Victoria Ocampo e daSur comocolonialista, imperialista.23

    No entanto, chama a ateno como aContorno toma outros pases como modelos deconscientizao e despreza a politizao apresentada pelas massas durante o governo dePern.Alguna vez un obrero con conciencia de clase, un obrero de Francia, por ejemplo,

    poda dejarse sugestionar? (ROZITCHNER, 1956, p. 4), se pergunta Rozitchner. Nomesmo sentido escreve Ismael Vias:

    En Francia, por ejemplo, Francisco I o Enrique IV son hroesnacionales. Pero nadie se engaa creyendo en ellos como en adalides delas ideas democrticas. En Estados Unidos, Washington es igualmenteun hroe. Pero los intelectuales la inteligencia han sealado que sus

    23 Nascido em Buenos Aires em 1930, Masotta se destacou como um dos principais nomes da psicanlise naArgentina.

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    afanes coincidieron asombrosamente bien con sus intereses financieros(VIAS, 1956, p. 13).

    A respeito de uma das formas mais comuns de manifestao popular durante operonismo, as paralisaes e greves determinadas pelo prprio governo, Rozitchnerconsidera que eramms goce de la falta de esfuerzo que superacin de la pasividad (ROZITCHNER, 1956, p. 4). Masotta defende um ponto de vista semelhante. (...)a aquel

    proletariado que quera vencer saliendo a la calle haba que decirle que as no se venca (MASOTTA, 1956). Essa uma caracterstica da esquerda. Por mais nacional ounacionalista que se coloque, as referncias, os modelos da esquerda so sempreestrangeiros. Trata-se de uma ideologia originalmente europia que no encontra, naAmrica, as mesmas condies de militncia. A idia de nacional, ou mesmo denacionalismo, tambm estrangeira e outros pases ou povos tambm costumam serconsiderados exemplos de nacionalismo ou de preservao do nacional. Com isso, nota-se aidealizao da conscincia poltica de outros pases. Se por um lado o cosmopolitismo deVictoria Ocampo e daSur levou, algumas vezes, idealizao da cultura europia, os jovens daContorno idealizaram a politizao apresentada por outras naes.

    claro que os colaboradores daSur e da Contorno no tm projetos polticos

    idnticos para as massas. Nesse sentido, importante lembrar de Nicos Poulantzas emObservaes sobre o totalitarismo . Ao discorrer sobre a poltica europia durante onazi-fascismo, Poulantzas conclui, de um modo geral, que discursos iguais, na boca depessoas e grupos diferentes, no so discursos iguais. NaSur , sob a influncia dopensamento de Ortega y Gasset, predominava a defesa de uma integrao das massasatravs da cultura, desde que fosse (re)construda a chamada meritocracia, ou seja, asociedade deveria ser governada pelos melhores, pelos mais capazes. O nazi-fascismo e o

    peronismo eram considerados como uma inverso de valores por perseguirem osintelectuais e se colocarem como representantes das massas. J naContorno , a tendnciaera a superao da meritocracia atravs de uma conscientizao poltica que gerasse umaautntica justia social. No entanto, pelo menos em um primeiro momento, aconscientizao poltica e a justia social no estariam ao alcance das massas, que deveriamser ensinadas. Logo, as caractersticas, os rumos do processo no seriam definidos pelasmassas, tampouco pelo modelo peronista, que deveria ser corrigido, mas sim pelos

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    intelectuais desapaixonados mencionados por Ismael Vias. Como coloca FedericoNeiburg, emtoda vanguarda de esquerda encontra-se a idia de que ela capaz de

    indicar ao proletariado o caminho de sua vitria, elaborando uma ttica justa e, ao mesmo

    tempo, mostrando qual o contedo verdadeiro dessa vitria e de seus interesses (NEIBURG, 1997, p. 75). Dessa maneira, nota-se naContorno uma tentativa delegitimao do intelectual que, apesar das diferenas, mantm em comum com VictoriaOcampo e os colaboradores daContorno a eterna necessidade de educar, preparar asmassas, representadas como desinformadas, ignorantes, para o mundo da cultura e dapoltica. De um certo modo, o elitismo em relao s massas permanece.

    Vale destacar que o nascimento de uma nova gerao intelectual no foi,certamente, a inteno de Victoria Ocampo ao abrir espao para os jovens intelectuais, aSur no planejou a prpria superao, que aconteceria a partir da dcada de sessenta. Pelocontrrio, as discusses so tensas desde o comeo e, principalmente depois do nmero 7-8da Contorno , assumem um certo tom de ressentimento por parte de alguns colaboradores daSur . Nesse sentido, ao comentar Mundo, mi casa (1965), livro de memrias da amiga emilitante feminista e comunista Mara Rosa Oliver, Victoria Ocampo coloca que refrescante leer, en una poca en que est de moda (en literatura) la indiferencia o cierto

    desprecio hacia los padres, este libro que no se avergenza de proclamar lo contrario (OCAMPO, 2000, p. 74).

    possvel que a crescente marginalizao de Victoria Ocampo e daSur na culturaargentina o contrrio acontecia no exterior tenha ocorrido em virtude de uma leituramuito literal do seu discurso apoltico, cultural e cosmopolita, assim como da Literaturafantstica que marca a produo de alguns dos seus principais colaboradores. Para essaleitura colaborou, bastante, o posicionamento rgido de Victoria Ocampo e daSur em

    relao ao peronismo e, desta forma, a ruptura foi definitivamente privilegiada emdetrimento dos pontos em comum entre as duas geraes intelectuais. No que sejaincorreto falar em uma nova gerao intelectual, as diferenas polticas e literrias existem.No entanto, como destaca Neiburg, a ruptura deve ser olhada, tambm, como umaconstruo imprescindvel na legitimao daContorno . O primeiro mecanismo deautopromoo utilizado por essa nova gerao literria foi reconhecer esses autores

    como seus pais; o segundo, foi por em prtica formas de distino que lhes permitissem

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    diferenciar-se deles (NEIBURG, 1997, p. 77). Ao se filiarem aos pais, garantem autoridadeintelectual e, ao romperem com o antiperonismo deles, se redimem politicamente perante as

    massas.O discurso apoltico, cultural e cosmopolita de Victoria Ocampo e daSur , que se

    consolida durante o governo de Pern, no representa uma negao da poltica. Pelocontrrio, aparece como um contraponto s presses sofridas pelos intelectuais para aproduo de uma arte e de um pensamento profundamente nacionalistas, como existiam,com as devidas diferenas, na Alemanha de Hitler, na Itlia de Mussolini e na Argentina dePern. Em um momento marcado por autoritarismo e censura, a simples abertura daSur

    para as discusses trazidas pelos jovens intelectuais, ou de qualquer outro tema, jrepresenta uma atitude poltica, opositora, democrtica.24 Ainda que o termo peronismo, ouqualquer outro relacionado, praticamente no aparea naSur antes do nmero 237, no hcomo ler as discusses e os inmeros textos defensores da democracia, crticos s ditadurasou insatisfeitos com a vida cultural argentina, sem considerar a presena de Pern na CasaRosada. O alvo do cosmopolitismo de Victoria Ocampo e daSur , por sua vez, nunca foiignorar, negar o nacional, a Argentina, mas o nacionalismo autoritrio e sectrio. Passadasalgumas dcadas, os contatos de Victoria Ocampo com intelectuais estrangeiros parecemter conseguido divulgar muito mais os autores argentinos e latino-americanos no exterior doque propriamente os europeus na Amrica, como demonstram as tradues feitas porCaillois. Dessa maneira, a associao entre o pensamento de Victoria Ocampo e daSur como imperialismo, destacada por Masotta, no se sustenta.

    Alm disso, os jovens intelectuais praticamente no tocam no apoio dado porVictoria Ocampo e outros colaboradores daSur aos Aliados durante a Segunda GuerraMundial, ao lado dos quais tambm estavam.25 Tampouco tocam na perseguio sofrida por

    Borges, nem nas prises da sua me Leonor e da sua irm, a desenhista Norah Borges,durante o governo de Pern. A prpria Victoria Ocampo foi presa em 1953. Outros

    24 A oposio tinha dificuldades para se manifestar. O governo tinha maioria no Legislativo e controlava aCorte Suprema de Justia. A sindicalizao em massa dos trabalhadores foi comandada pela ConfederaoGeral do Trabalho (CGT), aliada de Pern. Vrios meios de comunicao foram tomados e fechados. Nasuniversidades, os opositores foram afastados ou se afastaram devido s presses.25 Alm do financiamento de Lettres Franaises , Victoria Ocampo e colaboradores daSur como Borges,Mallea e Adolfo Bioy Casares, dentre outros, formaram o grupo Ao Argentina, com o objetivo de defenderos valores democrticos e denunciar a presena nazi-fascista no pas.

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    colaboradores daSur presos naqueles anos foram os filsofos Carlos A. Herro, VicenteFatone e Francisco Romero. O discurso apoltico, cultural e cosmopolita tanto no

    representa uma negao da poltica, que no passou despercebido pelo governo de Pern,como demonstram as perseguies. Se o antiperonismo arraigado de Victoria Ocampo e daSur se revelaria um erro que colaborou para a implantao de governos ainda maisautoritrios do que o de Pern, defender seu governo, aps tantas perseguies, era umaopo inimaginvel para esses intelectuais.

    Evidentemente que a complexa relao entre as revistasSur e Contorno no seesgota neste artigo. Ao chamar a ateno para o nascimento do conflito entre as duas

    geraes intelectuais naSur e no naContorno , assim como para as semelhanas entre asduas publicaes, pretendi discorrer sobre os riscos de uma leitura maniquesta que existeem alguns textos sobre o meio intelectual do perodo. Em seu texto de abril de 1967,Angela B. Dellepiane chama a jovem intelectualidade de enojada, o que leva a deduzir queos pais intelectuais seriam conformados ou at mesmo cmplices perante os problemas dasociedade. Uma variante dessa definio pode ser encontrada mais recentemente em maiode 2001, no nmero 406 da revistaTodo es Historia , no qual Oscar L. Arias Gonzalezintitula seu texto da seguinte maneira:Contorno: la coherencia de los hombres honestos .Espero, com este artigo, ter demonstrado alguns limites das boas intenes desses jovens e,principalmente, algumas intenes por detrs das suas boas intenes.

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