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 1 A IMPORTÂNCIA DA CONDIÇÃO DE ENTRADA *  Este livro analisa o caráter o e significado da “condição de entrada” para os ramos de atividade manufatureiros; baseia-se numa investigação sobre a força da concorrência latente de  potenciais novos vendedores em vinte ra mos de atividade nos Estados Unidos. Realizou-se essa investigação em função de duas convicções: (1) de que a maioria das análises sobre a forma de atuação e o que faz atuar tem dado pouca ênfase à concorrência latente ou à ameaça de entrada de possíveis novos competidores, colocando uma ênfase desproporcionada sobre a concorrência entre as formas já estabelecidas em qualquer ramo de atividade; (2) de que tanto quanto os economistas tenham reconhecido a possível importância desta “condição de entrada”, eles não têm uma idéia muito clara de quão importante ela realmente é. Se essas convicções são razoáveis, parece necessário realizar duas tarefas: desenvolver uma teoria sistemática a respeito da possível importância da condição de entrada como uma influência na conduta e no desempenho empresarial; e avaliar, nas formas possíveis, o alcance e a natureza de sua importância efetiva. Estas são as principais metas deste livro. Além disso,  poderemos deduzir uma política pública em r elação ao monopólio e à concorrência. Inicialmente,  porém, façamos um apanhado do s fatos e conceitos que estamos pr estes a explorar. Concorrência efetiva versus ameaça de entrada Quando se fala na concorrência como um regulador dos preços e das quantidades  produzidas pelas empresas, usualmente é a concorrência entr e as fir mas já estabelecidas neste ou naquele ramo da indústria que é enfatizada. Ao nível da conduta do mercado, dá-se uma atenção detalhada à questão de se as políticas de preço das firmas estabelecidas são formuladas independentemente ou à luz de uma “reconhecida interdependência” entre elas, se há ou não conluio entre estas firmas e, caso haja, até que ponto é imperfeito. Ao nível da estrutura de mercado, muita ênfase é dada àquelas características do ramo de atividade que presumivelmente influenciam a conduta competitiva entre rivais estabelecidos e, particularmente, ao número e à distribuição por tamanho destes vendedores rivais e ao modo pelo qual seus produtos diferenciam-se uns dos outros. A maior parte da atenção é dedicada à concorrência entre as firmas estabelecidas. Isto é verdadeiro tanto no que diz respeito à teoria econômica abstrata quanto às investigações empíricas que a implementam, testam ou aplicam. Quando a teoria convencional dos preços trata do funcionamento da concorrência empresarial, devota quase toda a sua minuciosa análise às conseqüências da rivalidade entre as várias conformações alternativas de vendedores estabelecidos, a tal ponto que os efeitos da entrada efetiva ou potencial de novos vendedores geralmente são referidos, quando o são, de forma ambígua e quase como uma reflexão tardia. Da mesma forma, os estudos empíricos sobre a estrutura de mercado centram-se comumente na concentração de vendedores dentro desses grupos e em outras determinantes do caráter da concorrência entre vendedores estabelecidos. A maior parte dos estudos sobre ramos de atividade particulares refere-se, quando discute a concorrência, quase que inteiramente à rivalidade entre as firmas estabelecidas. *  Tradução de Joe S. Bain,  Barriers to New C ompetition. (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1956) cap. 1.

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A IMPORTÂNCIA DA CONDIÇÃO DE ENTRADA* 

Este livro analisa o caráter o e significado da “condição de entrada” para os ramos deatividade manufatureiros; baseia-se numa investigação sobre a força da concorrência latente de potenciais novos vendedores em vinte ramos de atividade nos Estados Unidos.

Realizou-se essa investigação em função de duas convicções: (1) de que a maioria dasanálises sobre a forma de atuação e o que faz atuar tem dado pouca ênfase à concorrência latenteou à ameaça de entrada de possíveis novos competidores, colocando uma ênfasedesproporcionada sobre a concorrência entre as formas já estabelecidas em qualquer ramo deatividade; (2) de que tanto quanto os economistas tenham reconhecido a possível importânciadesta “condição de entrada”, eles não têm uma idéia muito clara de quão importante elarealmente é.

Se essas convicções são razoáveis, parece necessário realizar duas tarefas: desenvolveruma teoria sistemática a respeito da possível importância da condição de entrada como umainfluência na conduta e no desempenho empresarial; e avaliar, nas formas possíveis, o alcance ea natureza de sua importância efetiva. Estas são as principais metas deste livro. Além disso, poderemos deduzir uma política pública em relação ao monopólio e à concorrência. Inicialmente, porém, façamos um apanhado dos fatos e conceitos que estamos prestes a explorar.

Concorrência efetiva versus ameaça de entrada

Quando se fala na concorrência como um regulador dos preços e das quantidades produzidas pelas empresas, usualmente é a concorrência entre as firmas já estabelecidas neste ou

naquele ramo da indústria que é enfatizada. Ao nível da conduta do mercado, dá-se uma atençãodetalhada à questão de se as políticas de preço das firmas estabelecidas são formuladasindependentemente ou à luz de uma “reconhecida interdependência” entre elas, se há ou nãoconluio entre estas firmas e, caso haja, até que ponto é imperfeito. Ao nível da estrutura demercado, muita ênfase é dada àquelas características do ramo de atividade que presumivelmenteinfluenciam a conduta competitiva entre rivais estabelecidos e, particularmente, ao número e àdistribuição por tamanho destes vendedores rivais e ao modo pelo qual seus produtosdiferenciam-se uns dos outros. A maior parte da atenção é dedicada à concorrência entre asfirmas estabelecidas.

Isto é verdadeiro tanto no que diz respeito à teoria econômica abstrata quanto àsinvestigações empíricas que a implementam, testam ou aplicam. Quando a teoria convencional

dos preços trata do funcionamento da concorrência empresarial, devota quase toda a suaminuciosa análise às conseqüências da rivalidade entre as várias conformações alternativas devendedores estabelecidos, a tal ponto que os efeitos da entrada efetiva ou potencial de novosvendedores geralmente são referidos, quando o são, de forma ambígua e quase como umareflexão tardia. Da mesma forma, os estudos empíricos sobre a estrutura de mercado centram-secomumente na concentração de vendedores dentro desses grupos e em outras determinantes docaráter da concorrência entre vendedores estabelecidos. A maior parte dos estudos sobre ramosde atividade particulares refere-se, quando discute a concorrência, quase que inteiramente àrivalidade entre as firmas estabelecidas.

*  Tradução de Joe S. Bain, Barriers to New Competition. (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1956) cap. 1.

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Correspondentemente, a condição de entrada tem recebido geralmente apenas umaatenção nominal como elemento regulador da conduta e do desempenho do mercado. Versõestípicas da teoria abstrata dos preços reconhecem o impacto a longo prazo de uma suposta “livre”

ou “fácil” entrada de novos vendedores em ramos de atividade com muitos pequenosvendedores. Quando se voltam, contudo, para a importantíssima categoria das indústrias oligopo-lizadas, elas usualmente não distinguem numerosas situações alternativas possíveis com respeitoà condição de entrada, como também não identificam nem desenvolvem apropriadamente hipóte-ses relativas aos determinantes estruturais da condição de entrada. Elas são incapazes, portanto,de oferecer quaisquer prognósticos sistemáticos, no que tange aos efeitos de variações nacondição de entrada, sobre a conduta de mercado dos vendedores estabelecidos e o desempenhode longo prazo da indústria. A teoria dos preços em mercados não atomísticos é geralmente pordemais simplificada para poder identificar ou distinguir variações de comportamento potencialmente grandes e significativas dentro do setor oligopolista das indústrias.

Muitas investigações empíricas sobre a estrutura e a concorrência das atividades

empresariais têm seguido a rota da teoria abstrata e encontrado um obstáculo no fato de que ateoria abstrata oferece poucas pistas na área da condição de entrada. Embora investigações sobrea amplitude da concentração existente entre vendedores em várias indústrias sejam hojeabundantes nas agências governamentais e em outros locais, nunca se empreendeusistematicamente uma avaliação da altura e da natureza das barreiras à entrada. Os estudos sobreestrutura e desempenho concorrenciais dedicaram muita atenção a termos como o papel do líderde preços na eliminação ou canalização da concorrência entre vendedores estabelecidos e naforma como isso influencia a relação fundamental entre preço e custo na sua indústria, masusualmente têm dedicado muito menos atenção ao grau em que as firmas estabelecidas moldamsuas políticas de preço à luz de sua antecipação de nova entrada, decidindo tentar ou não impedi-la. Em resumo, nem o significado teoricamente possível, nem efetivo da condição de entrada tem

recebido muita atenção por parte dos economistas.É claro que é apropriada uma forte ênfase na concorrência efetiva entre os vendedores

existentes. Tal concorrência, juntamente com seus determinantes é, muito provavelmente, deimportância primordial como um regulador da atividade empresarial. Negligenciar a condição deentrada, porém, é algo definitivamente inadequado, dado que há considerável evidência daimportância da condição de entrada como co-regulador da conduta e do desempenho dasatividades empresariais.

Entendemos o termo “condição de entrada” em uma indústria, como algo equivalente ao“estado de concorrência potencial” por parte de possíveis novos vendedores. Mais ainda, vamosvisualizá-la como podendo ser avaliada, grosso modo, pelas vantagens dos vendedores

estabelecidos em uma indústria sobre potenciais entrantes, vantagens estas que se refletem no

grau em que os vendedores estabelecidos podem, persistentemente, elevar os seus preços acimade um nível competitivo, sem atrair a entrada de novas empresas na indústria . Como tal, a“condição de entrada” é, antes de tudo, uma condição estrutural, determinando em qualquerindústria os ajustes internos que poderão ou não induzir a entrada. A sua relação com a conduta potencial em vez da efetiva descreve, pois, basicamente, apenas as circunstâncias sob as quais a potencialidade da concorrência representada por novas firmas se efetivará ou não. Seentendermos a condição de entrada desta maneira, ficará clara a sua importância como umdeterminante do comportamento concorrencial.

A teoria convencional dos preços tem sido bastante explícita no que diz respeito aosefeitos de um tipo de condição de entrada – a entrada livre  ou  fácil. Ela deduziu a partir de premissas razoáveis a acertada conclusão de que, em mercados com muitos pequenos

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vendedores, a entrada fácil forçará, a longo prazo, o preço a igualar-se aos custos médiosmínimos e levará a quantidade produzida a um nível suficiente para suprir todas as demandas aeste preço. Ao voltar-se para mercados com poucos vendedores e com condições de entrada

diferentes da fácil, a teoria dos preços tem sido comumente pouco explícita, vaga ou silenciosa.Elaborações relativamente elementares da teoria recebida tornaram claro, contudo, que variaçõesna condição de entrada, à medida que ela se afasta do pólo “fácil”, podem exercer uma influênciasubstancial sobre o desempenho das firmas estabelecidas em qualquer indústria.

Mesmo em indústrias organizadas atomisticamente, as barreiras à entrada podem, sobcertas condições, conduzir, no longo prazo, a uma elevação dos preços e lucros e a uma restriçãoda quantidade produzida. Se as firmas estabelecidas são restritas em número e se se defrontamcom deseconomias de escala, a entrada irá operar no sentido de limitar os preços unicamentequando estes tiverem excedido um certo nível supra-competitivo. Em indústrias oligopolizadas,algo adicional é geralmente verdadeiro. Cada um dos poucos grandes vendedores estabelecidos –agindo coletiva ou separadamente – vai estimar a condição de entrada e, antecipando que a

entrada poderá ocorrer caso o preço exceda um dado nível, regulará sua política de preçosadequadamente. Haverá, então, uma espécie de interdependência reconhecida das ações, nãosomente entre os vendedores estabelecidos, mas entre estes e os potenciais entrantes. Neste caso, pode-se presumir que variações na condição de entrada terão efeitos substanciais sobre ocomportamento dos vendedores estabelecidos, apesar de que no decorrer de longos intervalos a

entrada real raramente ou nunca se efetive. Extensões elementares da lógica dedutiva da teoriaconvencional dos preços sugerem, portanto, um importante papel da condição de entrada eenfatizam o desejo de descobrir o quanto esta varia de fato de indústria para indústria.

Observações empíricas reforçam a impressão de que a condição de entrada é umimportante determinante do comportamento do mercado, especialmente no caso de indústriasoligopolizadas. O exame de um número considerável de indústrias concentradas revela a

existência de grandes diferenças em relação à conduta e desempenho de mercado entre elas,apesar do fato de que em cada uma delas uma interdependência reconhecida entre os vendedoresestabelecidos parece estar definitivamente presente. Variações no grau de concentração ou dediferenciação do produto entre os oligopólios podem explicar uma parte destas diferenças decomportamento, mas não todas elas. A outra variação estrutural mais evidente entre oligopólios éa da condição de entrada e observações casuais indicam que esta variação está de algumamaneira vagamente associada com variações no comportamento. É necessário, portanto, umestudo empírico mais sistemático da importância da condição de entrada.

O significado da condição de entrada

Como foi sugerido acima, a condição de entrada é um conceito estrutural. Como outrosaspectos da estrutura de mercado, pode ser tomada como potencialmente suscetível a umaavaliação quantitativa, nos termos de uma avaliação contínua. Esta variável é o percentual peloqual as firmas estabelecidas podem elevar seus preços acima de determinado nível competitivosem atrair novos entrantes – um percentual que pode variar continuamente de zero até umamedida bastante alta, tornando-se a entrada gradativamente “mais difícil” ao longo destemovimento. À medida que a dificuldade de entrada (assim entendida e avaliada) aumenta, pode-se prever algumas variações sistemáticas no comportamento das firmas estabelecidas.

A descrição anterior é obviamente pouco específica em numerosos detalhes. Baseado nofato de que aqui se trata primeiramente de um estudo empírico lidando com os dados disponíveise de que não temos a intenção de elaborar um instrumento de precisão para captar todas as

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minúcias do fenômeno, não parece proveitoso desenvolver uma definição precisa e detalhada dacondição de entrada. (O autor deu alguns passos nesta direção em um artigo anterior 1, e mesmo omoderado grau de detalhe ali utilizado parece, no presente quadro, fora de propósito.) Seria útil,

contudo, ser algo mais específico e expor de modo simples, sem uma discussão teóricadetalhada, o que deve ser entendido pelos vários termos e noções expressas ou implícitas nadefinição até então apresentada.

Como já foi dito, a condição de entrada pode ser avaliada pela medida em que osvendedores estabelecidos podem elevar persistentemente os seus preços acima de um nívelcompetitivo sem atrair novas firmas a entrarem na indústria. O primeiro termo que precisa serconsiderado é “atrair novas firmas a entrarem na indústria”. Isto implica uma definiçãoespecífica do conceito de entrada, envolvendo tanto a noção de “nova firma” como o significadodo verbo “entrar”. Como uma primeira aproximação, a entrada de uma nova firma pode sertomada como a combinação de dois eventos: (1) o estabelecimento, como produtor, de umaentidade legal independente, nova na indústria; e (2) a concomitante construção ou introdução

 pela nova firma de capacidade produtiva física que não era usada para produção na indústriaantes do estabelecimento desta nova firma. Requer-se, portanto, uma adição à capacidade já emuso na indústria, mais o surgimento de uma firma nova nesta indústria.

Esta definição exclui dois eventos relacionados com a condição de entrada. O primeiro éa aquisição por uma nova entidade legal de capacidade produtiva já existente, seja por meio decompra de uma firma pré-existente, seja por uma reorganização envolvendo uma mudança nonome e na estrutura da corporação, ou quaisquer outros meios. A simples mudança de propriedade ou controle de capacidade operativa existente não é considerada entrada. A segundaexclusão é a expansão de capacidade por uma firma estabelecida. Se, por exemplo, uma pequenafirma estabelecida dobrar sua capacidade, isto deve ser considerado como uma fase daconcorrência entre as firmas estabelecidas e não um ato de entrada. O crescimento de uma firma

rival já estabelecida no ramo de atividade não é considerado, conseqüentemente, como umaentrada neste ramo de atividade. Ambas as exclusões são, em certa medida, arbitrárias, desde quea introdução de um novo dono de antiga capacidade pode constituir uma mudança perceptível nasituação competitiva, e desde que a expansão de um concorrente já estabelecido pode ter, do ponto de vista de outra firma estabelecida, quase o mesmo significado da entrada de uma novafirma com nova capacidade. O presente propósito, não obstante, torna conveniente distinguirconcorrência entre competidores já estabelecidos e entrada de novos concorrentes e traçarmos,então, as fronteiras indicadas. À medida que formos prosseguindo, teremos ocasião de fazerreferência ao significado de eventos estreitamente relacionados com a entrada, na forma em quefoi definida.

Dadas estas exclusões, uma nova firma pode ingressar em uma indústria tanto pela

construção de capacidade produtiva nova, quanto pela conversão, para uso neste ramo, de plantas previamente utilizadas em outros ramos de atividade, ou reativando capacidade previamente emuso naquele ramo mas presentemente ociosa. Qualquer um destes atos realizados por ma novafirma isoladamente ou em associação constituir-se-á, de acordo com a definição, em umaentrada, mesmo que a nova firma tenha também adquirido capacidade operacional de outra jáexistente. A compra de uma empresa já existente por uma nova firma simultaneamente com aexpansão deste negócio constitui, pois, uma entrada, na medida da expansão. Umaimplementação detalhada desta definição requer maiores especificações, como a duração do

1  Ver J. S. Bain, “Conditions of Entry and the Emergence of Monopoly”. Monopoly and Competition and Their Regulation, editado por E. H. Chamberlin (Londres, 1954), pp. 215-241.

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 período de ociosidade, necessária para distinguir uma planta em operação de uma ociosa. Dequalquer modo, já temos o suficiente para tornar clara a nossa definição.

Vimos, portanto, que a condição de entrada pode ser avaliada pelo grau em que as firmas

estabelecidas podem elevar seus preços acima do nível competitivo sem induzir novas firmas aadicionarem capacidade àquela já em uso na indústria. Quantas novas firmas ou de que tamanho?Por ora diremos “uma ou mais” novas firmas de “qualquer tamanho”. Posteriormente trataremosdeste tópico quando considerarmos a diferença entre a condição imediata e a condição geral deentrada.

O segundo conceito crucial é o “nível competitivo de preços”, o qual, por definição, asfirmas estabelecidas podem exceder cada vez mais à medida que a condição de entrada torna-se progressivamente mais difícil. O “nível competitivo de preços” é aqui definido como o customédio mínimo que pode ser conseguido na produção, distribuição e venda do bem em questão,incluindo a taxa de retorno normal do investimento da empresa2.

De fato, esta é equivalente ao nível de preços hipoteticamente atribuído ao equilíbrio de

longo prazo em concorrência pura. Se o equilíbrio fosse do tipo estacionário, freqüentementedescrito nos livros-texto de teoria, no qual cada firma produz regularmente e ininterruptamenteao nível mais eficiente, então este preço competitivo seria igual ao custo médio mínimo atingível(incluído o retorno sobre o investimento) para a escala mais eficiente da firma, quando a suacapacidade é utilizada sempre no ponto ótimo. Nas situações reais, onde a demanda é instável eincerta e o equilíbrio é, necessariamente, um ajustamento a uma média de situações variáveis notempo, o nível competitivo de preços é elevado o suficiente para cobrir, para a escala maiseficiente da firma, os custos adicionais resultantes de desvios periódicos da taxa ótima deutilização, bem como aqueles que resultam de inevitáveis erros na estimativa das demandas,custos futuros e outras coisas do gênero.

Este nível de preço competitivo ou de custo mínimo é uma referência útil para a

avaliação da condição de entrada. A entrada completamente fácil ou desimpedida envolve aincapacidade das firmas estabelecidas de elevarem seu preço acima deste nível – persistentemente ou em média ao longo do tempo – sem atrair novos entrantes. Se o preço podeexceder persistentemente este nível sem induzir a entrada, então a entrada estará, de certa forma,impedida. Quanto maior este percentual de excesso atingido persistentemente sem induzir aentrada, mais difícil pode-se dizer que é a entrada.

Deve ser notado que esta medida da condição de entrada refere-se a um padrão de custodefinido independentemente e não necessariamente ao custo real das firmas estabelecidas naindústria. Portanto não é, simplesmente, uma medida das margens de lucro que elas podemestabelecer sem induzir a entrada, mas, de modo mais específico, da margem entre o preçoindutor de entrada e os custos mínimos competitivos, na forma em que foram definidos. Haverá

uma tendência a uma relação direta entre as duas margens. Porém, é possível que, por exemplo,numa indústria o preço possa ser substancialmente elevado acima do nível competitivo seminduzir a entrada, e os lucros, não obstante, possam estar ausentes, porque as firmas estabelecidas

2  Os custos mínimos, como foram aqui definidos, pressupõem o uso das técnicas ótimas de produção disponíveis.Onde encontrarmos diferenciação de produtos e promoção de vendas, tais custos incluirão também os custos de

 promoção de vendas incorridos, de acordo com o critério de maximização de lucros. A distinção entre o customédio mínimo atingível pela firma (supostamente atingido no equilíbrio de longo prazo em concorrência pura) ea aproximação àquele custo mínimo supostamente atingido em equilíbrio de concorrência monopolística seránegligenciada na definição de custo mínimo ao longo da discussão que se segue. Hipoteticamente, o nível básicode custo mínimo a partir do qual a condição de entrada é medida, deve referir-se simultaneamente aos dois níveis,dependendo se a diferenciação de produto faz-se presente ou não.

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foram construídas com tamanhos ineficientes.Um terceiro termo que precisa ser considerado é “persistentemente”. Utilizamos para

nossa medida o nível de preço que pode ser  persistentemente  atingido pelos vendedores

estabelecidos sem induzir a entrada. Esta condição é inserida deliberadamente para dar umaspecto estrutural e de longo prazo à nossa definição de condição de entrada, evitando assim quereflita meramente as condições transitórias e variáveis a curto prazo de ano a ano. Por umaelevação persistente do preço em relação a um nível competitivo, queremos dizer, portanto, umaelevação montada na média por um período de tempo substancial, longo o bastante para abrangeruma gama típica de condições variáveis de demanda, preço dos fatores e de outros elementos.Pode-se pensar neste período como sendo normalmente de cinco a dez anos. A definição refere-se, pois, sumariamente, à relação média entre o preço efetivo e o preço competitivo que pode sermantida por um certo número de anos sem atrair a entrada. A relação entre a entrada e o nível de preços a curto prazo – mantida apenas por alguns meses ou um ano, por exemplo – édeliberadamente negligenciada como errática e sem muita significação na maior parte dos ramos

de atividade.Voltemos nossa atenção agora para uma elaboração bastante necessária de nossa

definição de condição de entrada, no intuito de levar em conta (1) as diferenças entre as firmasestabelecidas em um ramo de atividade; (2) as diferenças entre as potenciais firmas entrantes.Até agora, temos nos referido a todas as firmas estabelecidas num ramo de atividade como umagregado e, às firmas entrantes, sem fazer referência ao seu número ou identidade. Agindo assim,falamos como se, em geral, todas as firmas estabelecidas em um ramo de atividade cobrassemum preço único e tivessem um único nível competitivo de preço ou um custo mínimo comum.Também não demos conta da existência ou das conseqüências de possíveis diferenças de custos eoutras mais entre as potenciais firmas entrantes. Embora ambas as proposições pudessem seradotadas para propósitos de teorização simplificada, nenhuma das duas encontrará apoio nos

fatos. Faz-se necessário, portanto, elaborar a definição.Com respeito às firmas estabelecidas, as complicações são duas. Pode haver um tipo de

diferenciação entre seus produtos que justifique algum sistema de preços diferenciados, de formaque, na realidade, eles não cobrem em momento algum um único preço comum mas, em vezdisso, mantenham um certo regime de preços diferenciados. Elas podem ter também custosmínimos distintos, os quais são utilizados na definição do nível “competitivo” de preço, uma vezque pode haver diferenças de qualidade entre seus produtos ou vantagens diferenciadas de custo.Tendo em vista estas diferenças de custo e preço, como definiremos o máximo excesso de preçosobre o nível competitivo ao qual a entrada pode ser impedida?

 Não existe uma resposta simples, pois a existência deste tipo de diferenças de custo e preço, verificadas na realidade, torna a condição de entrada a um ramo de atividade um conceito

intrinsecamente mais complicado e que não pode ser plenamente avaliado pela diferença entre preço efetivo e preço competitivo de uma firma em particular. Só poderia ser plenamenteavaliado através de um conjunto de diferenças individuais para todas as firmas individuais – istoé, margens de preços efetivos sobre custos mínimos – que seria encontrado quando todas asfirmas tivessem simultaneamente elevado seus preços até o limite do ponto onde a entrada éinduzida. Como este procedimento teoricamente satisfatório de avaliação não é útil para fins práticos, requer-se uma simplificação arbitrária.

Vamos sugerir os seguintes termos para a avaliação da condição de entrada onde existemdiferenças entre as firmas pertencentes a um ramo de atividade. Em primeiro lugar, o hiatorelevante entre preço e custo mínimo (em cujo limiar a entrada é induzida) será aqueleencontrado quando todas as firmas estabelecidas elevarem seus preços simultaneamente em

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quantias ou proporções similares, mantendo quaisquer diferenciais costumeiros de preços. (Nãose fará referência aos hiatos associados com aumentos hipotéticos por uma ou poucas firmas,uma vez que são relativamente de pouco interesse.) Em segundo lugar, a condição de entrada

 pode, então, ser especificamente medida como o hiato máximo entre preço e custo mínimo como qual a entrada pode ser impedida, para a firma ou firmas mais favorecidas estabelecidas noramo de atividade, supondo elevações simultâneas de preços por parte de todas as firmasestabelecidas. (A “firma mais favorecida” pode ser identificada como aquela com o maior hiato preço-custo mínimo.) Pode-se introduzir uma maior precisão nesta medida através de qualquerinformação que revele um hiato significativamente diferente para outras firmas estabelecidas.Uma aproximação mais precisa ou elaborada parece difícil de ser implementada com os dadosque são ou podem vir a se tornar disponíveis.

O nosso próximo problema refere-se às diferenças entre as potenciais firmas entrantes. Acondição de entrada é medida pelo hiato de longo prazo entre custo mínimo e preço que asfirmas mais favorecidas podem atingir sem atrair entrada – mas a entrada de quem e de quantos?

Assumimos que todas as entrantes são iguais e que haverá uma oferta ilimitada e perfeitamenteelástica de firmas entrantes se o hiato indutor de entrada for excedido? Caso contrário, o queassumimos sobre o número e o tamanho das entrantes atraídas quando o hiato indutor de entradafor excedido?

 Não é realista assumir que todos os entrantes em potencial sejam iguais, tanto em suacapacidade para entrar quanto com respeito ao hiato que as induzirá a entrar. Da mesma forma,não se pode assumir que as firmas estabelecidas se defrontarão com uma oferta indefinidamentegrande de firmas entrantes, se excederem algum hiato preço-custo mínimo crítico. As hipótesesmais plausíveis são (1) que é concebível que as potenciais firmas entrantes possam diferir quantoao hiato que as induzirá a entrar, na medida em que cada entrante em potencial difere dos outrosneste aspecto; e (2) que qualquer hiato indutor de entrada específico pode induzir apenas a

entrada de um número finito de firmas. A condição de entrada em qualquer indústria pode entãoser plenamente medida só como uma sucessão, dentro de qualquer espaço concebivelmenterelevante para o comportamento do mercado, de hiatos preço-custo mínimo indutores de entrada,sucessivamente mais elevados, que atrairão firmas ou grupo de firmas sucessivas a entrarem noramo de atividade.

Podemos, portanto, estabelecer dois conceitos complementares: a condição imediata de

entrada  e a condição geral de entrada. A condição imediata de entrada  refere-se aosimpedimentos à entrada da firma ou firmas que podem mais fácil ou rapidamente sereminduzidas a entrar no ramo de atividade numa dada situação. Esta condição imediata de entrada éavaliada pelo hiato preço-custo mínimo de longo prazo (para as firmas estabelecidas maisfavorecidas) que está no limiar (suficiente exatamente na margem) de induzir a entrada do que

 podemos chamar de entrante ou entrantes potenciais mais favorecidas. Em qualquer estágio doseu desenvolvimento, todo ramo de atividade tem alguma condição imediata de entrada assimdefinida e avaliada, embora o número de potenciais firmas entrantes às quais a medida se refere possa variar bastante de ramo de atividade a ramo de atividade.

A condição geral de entrada refere-se, então, à sucessão de valores da condição imediatade entrada quando se realiza a entrada no ramo de atividade – à distribuição dos hiatos preço-custo mínimo exatamente necessários para induzir firmas ou grupos de firmas sucessivamentemenos favorecidas a entrarem consecutivamente no ramo de atividade, começando com a firmamelhor situada. Em qualquer estágio de seu desenvolvimento, todo ramo de atividade tem umacondição geral de entrada em prospecto (assim como uma passada, ou uma enfrentada por váriasfirmas estabelecidas antes de ingressarem no ramo), refletindo a sucessão de hiatos preço-custo

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mínimo de longo prazo indutores de entrada para os quais sucessivos incrementos à entrada são previstos de ocorrer. Num extremo, esta condição poderia ser representada pela repetiçãosustentada de um valor único de condição de imediata de entrada, refletindo de fato uma oferta

 perfeitamente elástica de entrantes. Em outro extremo, poderia ser representada por uma série devalores distintos, cada um referindo-se à entrada de uma única firma. Na maioria dos casos,deve-se supor que a condição geral de entrada esteja entre estes dois extremos.

Se a condição de entrada refere-se às condições para a indução de entrada de sucessivosnúmeros finitos de firmas, ela deveria logicamente referir-se também ao tamanho  de cadaentrada, visto tanto como realizada ex post  ou antecipada ex ante. Isto é, uma medida plena decondição imediata  de entrada (a sucessão das quais define a condição geral), deve incluir nãoapenas uma medida do hiato preço-custo mínimo de longo prazo para as principais firmasestabelecidas, necessário para induzir algum incremento à entrada, mas também uma medida daescala de longo prazo (atingida ex post  ou esperada de ser atingida ex ante) das firmas incluídasneste incremento. Uma tal medida de escala pode ser expressa como uma porcentagem da

 produção total do ramo de atividade. Se a escala a ser atingida pelos entrantes é uma gama devalores alternativos, dependendo da escolha de políticas alternativas disponíveis às firmasestabelecidas, então a condição de entrada é medida em parte por tal gama de valores.

A última elaboração na medida de condição de entrada representa um refinamento de umtipo não muito útil para ser aplicado aos dados reais. Pode ser possível, contudo, ao avaliar váriascondições de entrada, fazer alguma estimativa geral das escalas comparativas possíveis de serematingidas pelos entrantes em potencial se eles entrarem, e das circunstâncias que, caso existam,limitariam os seus tamanhos.

As elaborações e definições dos termos precedentes devem ter tornado o significadogeral da condição de entrada em um ramo de atividade suficientemente explícito para os nossos propósitos. Refere-se às vantagens que as firmas estabelecidas em um ramo de atividade gozam

sobre potenciais firmas entrantes. É avaliada em geral por medidas dos níveis de preçosindutores de entrada relativos aos níveis competitivos definidos. Um ponto básico que nãorecebeu atenção nesta definição, contudo, refere-se aos retardos de entrada, isto é, os intervalosde tempo necessários para as firmas efetivarem suas entradas.

Dada qualquer condição imediata de entrada particular avaliada por algum excesso de preço sobre o nível competitivo capaz de induzir à entrada, ainda há espaço para variação no período de tempo que uma firma entrante requer para tornar efetiva a sua entrada. Para fins deuma primeira aproximação, podemos dizer que uma entrada é iniciada quando uma nova firmatoma medidas mais ou menos irrevogáveis no sentido de estabelecer e utilizar nova capacidadena indústria, e é completada quando a firma se estabeleceu e apossou-se de todos os meiosnecessários para permitir-lhe produzir de modo rotineiro no seu nível de produção planejado. O

 período de retardo, então, é o intervalo temporal entre essas duas datas e pode variargrandemente entre os ramos de atividade. Na indústria de vestuário feminino pode ser de apenasalguns meses; na indústria de cimento pode ser de um ano ou dois; na indústria de bebidasdestiladas, requer-se mais de quatro anos para desenvolvimento de estoques de uísqueenvelhecido.

Quanto maior for o intervalo de tempo em questão, menor a influência que qualquerameaça de entrada terá sobre os vendedores estabelecidos. O fato de que a fixação do preço a umcerto nível poderá induzir três novas firmas a entrarem na indústria tem mais probabilidade dedissuadir as firmas estabelecidas de chegarem a um preço tão alto se a entrada puder tornar-seefetiva em seis meses do que, digamos, em seis anos. O efeito que qualquer condição de entradatem sobre o comportamento do mercado tenderá, assim, a variar de acordo com o tamanho do

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retardo de entrada que a acompanha.A questão de se o “valor” da condição de entrada deve ser modificado para refletir o

tamanho dos retardos de entrada parece ser principalmente uma questão semântica. Desde que

não existe logicamente nenhum método singular para combinar medidas de um hiato de preçoindutor de entrada com um retardo de entrada, seguiremos aqui a convenção de definir ou avaliara condição de entrada em qualquer ramo de atividade sem fazer referência aos retardos deentrada, isto é, em termos de um excesso de preço indutor de entrada sobre o nível competitivo,seja qual for o período de retardo. Consideraremos, porém, os dados sobre os retardos de entradacomo informação suplementar, útil para prever as conseqüências da condição de entrada, naforma como foi definida. Este procedimento parece colocar os intervalos necessários para aefetivação da entrada no seu papel apropriado em nossa análise.

Os determinantes da condição de entrada

Uma vez que a condição de entrada já foi definida e avaliada, a próxima questão é o quedetermina a condição de entrada em um ramo de atividade. Qual é a natureza das vantagens queas firmas estabelecidas possuem e que circunstâncias tecnológicas ou institucionais dão origem aessas vantagens?

Pode-se buscar a identidade dos determinantes imediatos da condição de entradaconsiderando as características comumente atribuídas à situação teórica de “entrada fácil”. Namoderna teoria dos preços, a “entrada fácil” é concebida como uma situação onde não háimpedimentos à entrada de novas firmas, na qual as firmas estabelecidas não possuem nenhumavantagem sobre potenciais firmas entrantes ou na qual, mais precisamente, as firmasestabelecidas não podem elevar persistentemente os seus preços acima do nível competitivo decusto mínimo sem atrair a entrada de um número suficiente de firmas para provocar a queda do

 preço para o nível competitivo. A condição de entrada, como já vimos, pode ser avaliada pelo percentual que as firmas estabelecidas podem exceder o nível competitivo sem atrair entrada.Com a entrada fácil, pois, a condição imediata de entrada possui um valor  zero  em todos os pontos de qualquer seqüência de entrada possível (cada firma adicional que entra não temnenhuma desvantagem em relação às firmas já estabelecidas) e a condição geral de entrada écorrespondentemente representada por um único valor igual a zero. A entrada, é claro, deixa deser fácil e torna-se mais difícil à medida que os valores da condição de entrada passam a excedero zero ou quando, num ponto ou outro da progressão de entrada, as firmas estabelecidas podemfixar preços acima do nível competitivo sem induzir entrada.

As características essenciais da situação na qual a entrada fácil prevalece devem forneceruma pista direta sobre a identificação dos determinantes da condição de entrada em geral. Para a

entrada fácil, três condições devem em geral ser simultaneamente verificadas. Em qualquerestágio da progressão relevante de entrada tem-se que (1) as firmas estabelecidas não possuem

nenhuma vantagem absoluta de custo  sobre potenciais firmas entrantes; (2) as firmas

estabelecidas não têm nenhuma vantagem de diferenciação de produto  sobre potenciais firmasentrantes; e (3) as economias de uma firma de grande escala são desprezíveis, no sentido de quea produção de uma firma de escala ótima (custo mínimo) é uma fração insignificante do total da produção do ramo de atividade. Vamos ver rapidamente o que cada uma dessas condiçõessignifica e porque é importante.

A condição de que com a entrada fácil as firmas estabelecidas não possuem nenhumavantagem absoluta de custo significa que, para um dado produto, as potenciais firmas entrantes podem trabalhar com o mesmo custo médio mínimo de produção com o qual as firmas

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estabelecidas operavam antes de se dar a entrada. Isto, por sua vez, implica que (a) as firmasestabelecidas não devem dispor de nenhuma vantagem de preço ou de outra natureza sobre asentrantes na aquisição de qualquer fator produtivo (incluindo fundos para investimento); (b) que

a entrada de uma firma adicional não tem nenhum efeito perceptível sobre o nível de preço dequalquer fator; e (c) que as firmas estabelecidas não têm nenhum acesso preferencial às técnicas produtivas. Se essas condições forem preenchidas, então as firmas estabelecidas não poderãoelevar seu preço acima do nível competitivo sem atrair entrada, uma vez que não dispõe denenhuma vantagem absoluta de custo sobre as potenciais firmas entrantes. Se ocorrediferenciação de produtos, então, o equivalente desta condição deve ser preenchido.

A condição de que com entrada fácil não deve haver nenhuma vantagem de diferenciaçãode produto por parte das firmas estabelecidas significa ou que não há nenhuma diferenciação de produto ou que, se a diferenciação de produto se faz presente, as potenciais firmas entrantesdevem ter a capacidade de assegurar uma relação preço-custo tão vantajosa quanto a das firmasestabelecidas. Geralmente, se as diferenças de produto, custos de produção e custos de venda são

reconhecidas, a potencial firma entrante deve sempre ser capaz de assegurar uma relação do preço com o custo unitário de produção acrescido do de venda tão favorável quanto a das firmasestabelecidas, de forma que as firmas estabelecidas nunca possam usufruir de lucro quando asentrantes não puderem, ou mesmo não possam igualar as receitas e custos totais (break even)quando as entrantes estão perdendo dinheiro. Para isto ser verdadeiro, as firmas estabelecidasnão devem dispor de nenhuma vantagem de preço ou custo de venda em função da preferênciados consumidores pelos seus produtos e também nenhuma vantagem de preço na aquisição dosfatores de produção. A condição de inexistência de vantagens de diferenciação de produto éobviamente essencial para a entrada fácil, pois de outro modo, as firmas estabelecidas poderiamelevar seus preços algo acima do nível competitivo sem criar uma situação na qual entrantes potenciais pudessem vender lucrativamente.

A condição de que não haja economias significativas para a firma de grande escalasignifica, é claro, que uma firma entrante, mesmo se entrar com a escala ótima ou de customínimo, acrescentará tão pouco à produção do ramo de atividade que a sua entrada não teránenhum efeito perceptível sobre os preços vigentes no ramo. As firmas entrantes nãonecessitariam aumentar a produção do ramo a ponto de tornar os preços aí praticados menosatrativos, para poder operar ao nível de custo mínimo das firmas estabelecidas. Desta forma, a persecução de economias de escala ao máximo é possível e não constitui um obstáculo à entrada.A importância desta condição é evidente quando consideramos a possibilidade oposta.

Se para ingressar com uma escala ótima a firma tiver que acrescentar uma fraçãosignificativa à produção do ramo de atividade, são vários os cenários possíveis. Se as firmasestabelecidas mantiverem a produção vigente, a entrada com tal escala tenderá, em geral, a

reduzir o preço do ramo. Se elas mantiverem ou aumentarem seus preços, a fatia de mercado passível de ser obtida pelas entrantes pode muito vem ser insuficiente para permitir-lhes operarnuma escala ótima. Mais ainda, pode-se gerar uma fixação de preços retaliativa pelas firmasestabelecidas; e uma escala suficientemente reduzida para não perturbar o mercado irá requereruma escala abaixo da ótima e custos mais elevados.

De uma forma ou de outra, a entrada tende a ser obstaculizada em tal grau que permite àsfirmas estabelecidas elevarem seus preços pelo menos algo acima do nível de custo mínimo seminduzir entrada. O entrante em potencial, caso decida entrar com uma escala significativamentegrande, irá provavelmente esperar ou temer um preço no ramo de atividade, após a entrada, algomenor do que o vigente antes dessa entrada, ou uma fatia de mercado envolvendo custos acima

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dos de escala ótima3. Assim, ela provavelmente não será induzida a entrar por um preço supra-competitivo no ramo. Se ela considerar a entrada com escalas insignificantes, incorrerá emcustos acima do nível competitivo e não será, novamente, induzida a entrar por um preço acima

do competitivo. Economias de escala significativas tendem, assim, a impedir a entrada e suaausência é essencial para a entrada fácil.

As três condições que acabamos de descrever são tanto necessárias quanto suficientes para a existência de entrada fácil. Se isto é verdade, está claro que identificamos porconseqüência as fontes de desvio da entrada fácil e os determinantes imediatos da condição deentrada na forma em que foi definida.

Afastamentos da condição de entrada do “pólo zero” de entrada fácil devem seratribuídos a um ou mais dos seguintes fatores: (1) vantagens absolutas de custo das firmasestabelecidas; (2) vantagens de diferenciação de produtos das firmas estabelecidas; e (3)significativas economias das firmas de grande escala. Correspondentemente, a altura das barreiras à entrada ou os “valores” da condição de entrada (expressos como percentuais pelos

quais as firmas estabelecidas podem fixar seus preços acima do nível competitivo enquanto bloqueiam a entrada) irão claramente depender do grau dessas vantagens absolutas de custo oude diferenciação de produtos e da extensão das economias de escala das grandes firmas. Anatureza específica destes determinantes da condição de entrada é presumivelmente um tantoóbvia, mas um pequeno sumário dos seus caracteres servirá para sugerir o caráter das condiçõesinstitucionais ou de outro gênero das quais eles se originam.

As vantagens absolutas de custo das firmas estabelecidas originam-se, em geral, de umadessas três coisas: (1) a entrada de uma única firma pode elevar perceptivelmente o preço pago por um fator de produção, tanto pelas firmas estabelecidas quanto pela entrante, elevando, assim,o nível de custos; (2) as firmas estabelecidas podem ter assegurado o uso de fatores de produção,incluindo fundos para investir, a preços mais reduzidos do que os pagos pelas entrantes

 potenciais; e (3) as firmas estabelecidas podem ter acesso a técnicas de produção maiseconômicas do que as potenciais entrantes, capacitando-as, assim, a usufruírem custos menores.Tais vantagens absolutas de custos tendem a garantir para as firmas estabelecidas um nível decustos menor do que o das potenciais entrantes, permitindo-lhes, assim, fixarem seus preçosacima de um nível competitivo, ao mesmo tempo em que impedem a entrada.

As vantagens de diferenciação das firmas estabelecidas resultam, é claro, das preferências dos compradores pelos produtos daquelas firmas quando comparados com os produtos das entrantes. O que irá constituir uma vantagem efetiva de diferenciação de produtovai depender da importância das economias de escala de produção e venda no ramo de atividade.Se não há economias de escala, de forma que os custos unitários de produção e venda não sãoaumentados por uma redução da quantidade produzida a quantias bem pequenas, pode-se dizer

que uma entrante em potencial não sofre de nenhuma desvantagem caso obtenha um preço tãoalto, relativo ao custo unitário, quanto o das firmas estabelecidas produzindo no mesmo nível,embora ela só o consiga operando num nível bem mais reduzido do que o das firmasestabelecidas. (A existência de um grande número de tais potenciais entrantes – mesmo que cadaum esteja restrito quanto ao volume de vendas – iria gerar uma entrada fácil.) Contrariamente, a

3  Pode-se conceber logicamente casos nos quais uma fatia de mercado que permite uma escala de custo mínimo pudesse ser assegurada por um entrante – e.g.  onde as firmas estabelecidas operassem numa escala acima daótima antes da entrada, de forma que os vendedores em geral não seriam forçados a escalas sub-ótimas ao teremde repartir o mercado entre um número maior de participantes. Que isso ocorra, porém, bem como a ausência dealgum tipo de retaliação por parte das firmas estabelecidas, parece improvável.

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 posse de uma vantagem pelas firmas estabelecidas no caso de inexistência de economias deescala implicaria a capacidade dessas firmas de assegurarem-se, em algum nível de produção,um preço mais elevado ou um menor custo – ou geralmente uma razão preço/custo de produção e

venda mais alta – do que as entrantes potenciais mais favorecidas poderiam assegurar-se, sejaqual for o nível de sua produção4. A existência de tais vantagens ligadas à diferenciação de produto é possível e confere às firmas estabelecidas a habilidade de elevarem seus preços acimade um nível competitivo e ao mesmo tempo impedirem a entrada.

Se há algumas economias de escala sistemáticas para a firma, de forma que os custosunitários de produção e venda declinam em relação ao preço em alguns níveis de produção, aausência de vantagens por parte das firmas estabelecidas requer a habilidade das entrantes emgeral de obterem não apenas preços comparáveis, mas de consegui-los em um nível comparávelde volume de vendas, assegurando-se, assim, igualmente de custos comparáveis. De outro lado, a posse de vantagens pelas firmas estabelecidas iria requerer apenas que elas fossem capazes devender a um preço mais elevado do que o que as potenciais entrantes podem praticar, em escalas

aproximadamente ótimas, mesmo que as entrantes potenciais pudessem alcançar uma paridadede preços operando em escalas pequenas e ineficientes. De fato, inexistência de desvantagens por parte das entrantes implica que estas obtenham não apenas uma paridade de preços, mas quealcancem esta meta a níveis de venda economicamente grandes.

 Não é preciso dizer muito mais sobre a natureza das vantagens das firmas estabelecidasque são inerentes a substanciais economias para a firma de grande escala. O fato de que asentrantes devam acrescentar uma quantia significativa à produção do ramo de atividade para poderem operar com custos mínimos e que incorreriam em custos perceptivelmente maiselevados se operassem em níveis de produção mais reduzidos garante às firmas estabelecidas acapacidade de elevarem seus preços algo acima do nível competitivo sem atrair entrada. Aseconomias em questão podem ser tanto aquelas de produção e distribuição de grande escala ou,

como foi sugerido na nota 4, aquelas de promoção de vendas em larga escala. As vantagens dasfirmas estabelecidas seriam obviamente aumentadas e a condição de entrada tornar-se-ia maisdifícil tanto se a escala ótima da firma tornar-se maior em relação ao mercado, quanto se oaumento dos custos em escalas menores fizerem-se de forma mais abrupta.

Uma questão relacionada a esses determinantes imediatos da condição de entrada, comoforam definidos, refere-se à identidade das circunstâncias institucionais e tecnológicas básicasque dão origem aos bloqueios imediatos à entrada. Não se requer aqui nenhum tratamentoexaustivo, mas a tabulação seguinte sugere os tipos de circunstâncias que tipicamente dão origema uma entrada impedida e que podem logicamente ser objeto de uma investigação centrada nacondição de entrada.

Essas circunstâncias são, em certo sentido, as determinantes últimas da condição de entrada

em um ramo. Enfatizamos ao longo desta exposição que a condição de entrada é um conceitoestrutural e que é avaliada pela extensão na qual as firmas estabelecidas podem, na média por umlongo período, elevar seus preços acima de um nível competitivo de longo prazo, ao mesmo tempoem que bloqueiam a entrada. Consistentemente, as determinantes últimas da condição de entradarefletem ou se referem diretamente às características estruturais de longo prazo dos mercados; e sãoelas que determinam a condição de entrada como a definimos aqui.

4  Uma variedade disto é que as entrantes em potencial, na ausência de economias de escala diferentes dasvantagens de preço e custo de venda das promoções de vendas em larga escala, poderiam, de modo equivalente,assegurarem-se um preço relativo aos custos unitários apenas a um nível de produção que constituísse uma fraçãosignificativa do mercado. Neste caso, as firmas estabelecidas também gozariam de uma vantagem líquida, emborafossem atribuídas, de certo modo, ao significado das economias de escala per se.

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Circunstâncias que ocasionam impedimento à entrada

 I. Circunstâncias típicas que dão origem a uma vantagem absoluta de custo para as firmas

estabelecidas

A. O controle de técnicas de produção, via patentes ou segredo, pelas firmas estabelecidas.(Tal controle pode inviabilizar o acesso de entrantes à técnica ótima ou, alternativamente,implicar a cobrança de uma royalty discriminatória sobre seu uso.)

B. Imperfeições no mercado de fatores (e.g.  trabalho, matérias-primas, etc.) que implicam preços de compra mais baixos para as firmas estabelecidas. Alternativamente, teríamos ocontrole ou a propriedade da oferta de fatores estratégicos (e.g.  recursos) pelas firmasestabelecidas, o que implica ou a impossibilidade das entrantes terem acesso a essa oferta,levando-as a empregar fatores de qualidade inferior, ou a fixação de preçosdiscriminatórios para a compra destes fatores pelas referidas entrantes.

C. Limitações significativas na oferta de fatores produtivos nos mercados e sub-mercados para eles, relativos à demanda de uma firma entrante eficiente. Um incremento à entradairá, então, aumentar perceptivelmente o preço do fator.

D. Condições no mercado de dinheiro que impõem taxas de juros mas elevadas para asentrantes em potencial do que para as firmas estabelecidas. (Essas condições tendem aconstituir uma fonte de vantagem efetiva para as firmas estabelecidas à medida que anecessidade absoluta de capital para uma entrante eficiente aumente.)

 II. Circunstâncias típicas que dão origem a vantagens de diferenciação de produto para as

 firmas estabelecidas

A. As preferências cumulativas dos compradores pelas marcas e reputação das companhiasestabelecidas, tanto em geral ou apenas com a exceção de um pequeno número decompradores.

B. O controle de desenhos superiores de produto pelas firmas estabelecidas através de patentes, implicando ou o não-acesso das entrantes a esses, ou a cobrança de uma royalty discriminatória.

C. A propriedade ou o controle contratual dos melhores pontos de distribuição pelas firmasestabelecidas, em situações nas quais a oferta desses canais de distribuição não é perfeitamente elástica.

 III. Circunstâncias típicas que desencorajam a entrada pela manutenção de economias

significativas à firma de grande escala

A. Economias reais (isto é, em termos da quantidade de fatores utilizados por unidade produzida) de produção e distribuição de larga escala, de tal forma que uma firma ótimasuprirá uma parcela significativa do mercado.

B. Economias estritamente pecuniárias (isto é, economias apenas monetárias, tais comoaquelas oriundas do maior poder de barganha dos grandes compradores) da produção emlarga escala, tendo um efeito similar.

C. Economias reais ou estritamente pecuniárias de propaganda ou promoção de vendas emlarga escala, tendo um efeito similar.

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Se estes são os determinantes da condição de entrada, deveríamos ter igualmente clarezasobre as coisas que não constituem  seus determinantes. Os verdadeiros determinantes sãoaquelas coisas que determinam para as firmas estabelecidas a possibilidade de relações preço-

custo que induziriam ou não a entrada. Eles não são aquelas coisas que determinam se a entradase efetivará ou não num dado momento. Temos então que, embora a vantagem persistente dediferenciação de produto para as firmas estabelecidas constitua um determinante verdadeiro dacondição de entrada, a relação corrente e transitória entre a demanda do ramo de atividade e acapacidade não constitui um determinante.

É verdade, obviamente, que se um ramo de atividade está correntemente acometido deum pesado excesso de capacidade (causado, por exemplo, por um declínio secular da demandafrente às plantas de longo prazo), os preços podem ficar em média abaixo dos custos e nenhumaentrada terá lugar por muitos anos. Isto, contudo, não significa que a condição de entrada sejaconseqüentemente difícil, pois não elimina o fato de que bastaria um pequeno e persistente ex-cesso de preço acima de um nível médio de custos mínimos de longo prazo (talvez improvável

de acontecer nesta situação) para induzir à entrada. Devemos, pois, em geral, rejeitar movimen-tos correntes seculares ou cíclicos de demanda, capacidade e custos como determinantes dacondição de entrada a um ramo de atividade, da mesma forma que rejeitamos o registro correntedas entradas efetivadas como evidência direta ou conclusiva sobre a condição de entrada. Taiscoisas, como a relação entre demanda e capacidade num ramo de atividade, afetariam a condiçãode entrada como foi definida apenas na medida em que persistissem por algum tempo e, emadição a isso, até o ponto em que afetassem a maneira pela qual os potenciais entrantesreagissem a determinadas diferenças persistentes entre o preço efetivo e o preço competitivo5.

Já fizemos várias vezes referência ao fato de que a condição de entrada a um ramo deatividade é uma condição estrutural e de longo prazo. Isso não significa que ela sejanecessariamente permanente e imutável. As características estruturais básicas de um mercado

 podem mudar e a condição de entrada poderá então se modificar em resposta a isso. Adescoberta de novos depósitos de um determinado recurso natural pode, pois, minar a vantagemabsoluta de custo mantida pelas firmas estabelecidas ligadas ao seu processamento, quecontrolavam todos os depósitos previamente conhecidos; o desenvolvimento de um novo projetode produto por uma firma de fora pode reduzir as vantagens de diferenciação de produto dasfirmas estabelecidas que fabricam produtos similares; mudanças tecnológicas podem tantoaumentar quanto diminuir as vantagens de produzir em grande escala qualquer linha e emqualquer período. Quando tais mudanças ocorrem, a condição de entrada a um ramo de atividadetende a ser alterada.

Isso levanta a questão de se a condição de entrada e os seus determinantes sãosuficientemente estáveis ao longo do tempo, de forma que possam ser tomados provisoriamente

como determinantes quase independentes, de longo prazo, do comportamento do mercado. Se acondição de entrada e os seus determinantes se modificam lentamente ao longo do tempo e nãosão facilmente sujeitos a alterações deliberadas pela ação de potenciais entrantes e se, assim, elesrepresentam, antes de tudo, um arcabouço estrutural para o comportamento do mercado em vezde serem um resultado deste, então essa visão é legítima. Por outro lado, é claro, existe a

5  A principal exceção possível ocorreria se movimentos seculares de demanda ou custo de longo prazo, seguidos por um ajustamento defasado da capacidade do ramo de atividade, levassem os entrantes potenciais a reagiremdiferentemente a dadas diferenças persistentes entre os preços das firmas estabelecidas e seus [dos entrantes]custos mínimos. Que a reação dos entrantes potenciais possa ser afetada desta maneira parece ser algointeiramente possível.

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 possibilidade da condição de entrada ser uma espécie de engodo instável, modificando-serapidamente ao longo do tempo, ou ser prontamente alterada pela ação de potenciais entrantes. Neste caso, dificilmente haveria motivo para estudá-la como determinante estrutural de longo

 prazo do comportamento do mercado.Está postulado de forma definitiva para os propósitos do presente estudo – com base em

ampla observação empírica – que a condição de entrada, como foi definida, e seus determinantesúltimos são usualmente estáveis e se modificam lentamente ao longo do tempo e não sãogeralmente suscetíveis a alterações por entrantes prospectivos a vários mercados. A condição deentrada e as várias vantagens específicas das firmas estabelecidas que fixam o seu valor podementão ser vistos, em geral, como determinantes estruturais de longo prazo da ação empresarial.

Essa generalização, como muitas outras sobre questões econômicas, só é verdadeira, éclaro, sujeita a exceções ou como representação de uma tendência geral. Certamente que acondição de entrada se modificou rapidamente ao longo do tempo em alguns poucos ramos deatividade, assim como potenciais entrantes têm conseguido periodicamente modificá-la a seu

favor em alguns casos. Essas exceções, contudo, parecem ser pouco freqüentes ou incomuns o bastante para justificarem o nosso procedimento com base na hipótese levantada.

Só uma exceção específica pode merecer especial atenção quando estudamos os váriosramos de atividade. Em alguns ramos (embora definitivamente não na sua maioria), a habilidadede entrantes potenciais de desenvolverem inovações eficazes de produto tem periodicamentederrubado as vantagens de produto das firmas estabelecidas e efetivamente facilitado a entrada aesses mercados. Aqui, o papel das preferências pelos produtos existentes como determinantesestruturais da ação deve ser questionado. Será interessante ver se conseguimos identificar algunsdeterminantes mais fundamentais da condição de entrada nessa área, na forma dos elementos quedeterminam se os potenciais entrantes estarão ou não em posição de realizarem inovaçõeseficazes de produto.

Teoria a respeito dos efeitos da condição de entrada

A razão pela qual temos dado tanta atenção à condição de entrada é a nossa crença nasubstancial influência que ela exerce no comportamento ou desempenho do mercado em váriosramos de atividade. A força da concorrência potencial como reguladora dos preços e quantidades produzidas pode ser encarada como de importância comparável aos efeitos exercidos pelaconcorrência real. Mas de que modo? Qual o provável impacto da condição de entrada nodesempenho do mercado em um ramo de atividade? Como a variação da condição de entrada deum ramo a outro faz com que o desempenho do mercado também seja distinto entre eles?

Poderemos abordar estas questões de duas maneiras – através de uma lógica teórica ou

dedutiva, ou através de testes empíricos. Mais tarde empreenderemos alguns testes empíricos para o efeito da condição de entrada na medida em que os dados disponíveis permitirem.Infelizmente, os dados de que se dispõe no momento não permitem muita coisa, de forma quetestes empíricos conclusivos e abrangentes não são possíveis. Somos forçados, pois, a nos basearno memento numa teoria a priori como fonte primaria de nosso conhecimento das conseqüênciasda condição de entrada.

Se abordarmos as previsões das conseqüências da condição de entrada como um problema rigorosamente articulado numa teoria formal, um sistema de hipóteses bastantecomplicado e elaborado pode emergir mediante extensões simples da teoria recebida. A condiçãode entrada é intrinsecamente uma idéia muito complexa e pode assumir uma variada gama de“valores” significativamente distintos, com efeitos prováveis significativamente diferentes. Mais

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ainda, as conseqüências da condição de entrada irão variar com as variações na estrutura dequalquer mercado ou entre vendedores estabelecidos. Assim, uma variedade bastanteconsiderável de modelos teóricos formais poderia ser construída para distinguir: (1) um grande

número de padrões variáveis de “condição geral de entrada”; (2) diferentes fontes deimpedimentos à entrada, na medida em que estas diferenças forem significativas; e (3) diferentessituações estruturais entre vendedores estabelecidos.

Algumas tentativas nesse sentido foram feitas num artigo anterior 6. Não parece desejávelreproduzir aqui ou expor extensamente os argumentos teóricos ou a gama de hipóteses teóricas,relativamente elaborados, aí desenvolvidos. Tais hipóteses são por demais minuciosas, mesmo para testes e verificações experimentais com os dados disponíveis no momento, ou num futuro próximo. Parece desejável, porém, estabelecer, como uma espécie de guia experimental paranossas investigações, algumas hipóteses simplificadas com relação aos efeitos da condição deentrada.

Três coisas parecem ser de importância básica para o desenvolvimento dos prováveis

efeitos da condição de entrada. A primeira é o valor da condição de entrada, medido pelo percentual em que as firmas estabelecidas podem fixar seu preço acima de um nível competitivoenquanto impedem a entrada7. Esta “medida” pode ser traduzida como um valor único para acondição imediata de entrada, quando calculada para o entrante ou entrantes potenciais maisfavorecidos, ou como uma série de valores sucessivos para a condição geral de entrada, quandocalculada com referência a potenciais entrantes ou grupo de entrantes com status progressi-vamente menos favorecido. O segundo elemento é o grau de concentração entre os vendedores jáestabelecidos no mercado, a correspondente existência ou não de uma reconhecida interdepen-dência ou de uma colusão expressa ou tácita entre eles ou o grau de imperfeição de sua colusão,expressa ou tácita. O terceiro elemento é a fonte de afastamento da entrada fácil e, se esse afasta-mento envolve ou não a existência de economias significativas para a firma de grande escala.

A interação dos três determinantes mencionados deve, hipoteticamente, determinar o efeitoda condição de entrada. Um quarto determinante em potencial, aqui negligenciado, diz respeito aofato de as firmas estabelecidas defrontarem-se ou não com deseconomias de grande escala, isto é,custos unitários em elevação em razão de a firma ter excedido um certo tamanho. Consideraremosesta probabilidade improvável e assumiremos custos unitários aproximadamente constantes à medidaque o tamanho da firma excede o mínimo necessário para os custos mais reduzidos.

[Primeiro determinante] O “valor” da condição de entrada – e vamos nos referir aqui basicamente à sucessão de valores individuais englobados na condição de entrada – éobviamente importante, pois coloca potencialmente um limite ao nível em que os preços podemse manter a longo prazo num ramo de atividade. Ligado a isto, podem ser feitas duas distinções

entre as diferentes condições gerais de entrada.A  primeira distinção  refere-se às diferenças entre os potenciais entrantes. Em primeirolugar, existe potencialmente a condição geral de entrada na qual, numa dada situação, ou depoisde se ter atingido certo estágio de desenvolvimento do ramo de atividade, todos os potenciaisentrantes possuem o mesmo status ou enfrentam as mesmas desvantagens em relação às firmasestabelecidas e irão permanecer nesta mesma situação independentemente de quantos delesingressem no ramo de atividade. Temos então, de fato, uma oferta perfeitamente elástica deentrantes para um dado hiato preço-custo mínimo indutor de entrada. A condição imediata de

6  J. S. Bain, “Conditions of Entry and the Emergence of Monopoly”, op. cit. 7  Para os propósitos de teorização, este percentual pode ser identificado como aquele válido para as firmas

estabelecidas melhor colocadas.

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entrada, por sua vez, permanecerá no mesmo valor para cada entrante sucessivo; e a condiçãogeral de entrada será, portanto, representada por um único valor da condição imediata de entrada(representando o excesso de preço do ramo de atividade sobre um dado nível competitivo de

 preço) independentemente de quanta entrada ocorre. Uma tal situação pode ocorrer, porexemplo, se as firmas estabelecidas vendendo um dado produto tivessem uma vantagem de custode dez por cento sobre todas as entrantes potenciais em virtude de direitos de patente (aseconomias de escala sendo desprezíveis) e se um número indefinidamente grande de novasfirmas pudessem entrar somente sujeitas a essa desvantagem de custo de dez por cento.

Em segundo lugar, temos a condição geral de entrada refletindo as vantagens diferenciaisentre sucessivas entrantes potenciais, de forma que as desvantagens das entrantes potenciais,registradas pelo hiato indutor de entrada, são sucessivamente maiores ou assim se tornam àmedida que essas firmas vão ingressando no ramo de atividade. As entrantes potenciais são,assim, classificadas em grupo ou individualmente e à medida que percorremos as classes, o percentual pelo qual os preços efetivos podem exceder um dado nível competitivo sem induzir a

entrada torna-se maior. Isso se dá porque as potenciais entrantes possuem desvantagensdiferenciais ab initio, ou porque a entrada efetiva de uma ou mais firmas torna a condição deentrada mais difícil para as restantes.

A segunda distinção  refere-se à altura das barreiras à entrada. Esta distinção deve serfeita separadamente para os casos da condição geral de entrada “constante”, no qual todas asentrantes potenciais estão e permanecem no mesmo estado de desvantagem em relação às firmasestabelecidas, e para os casos da condição geral de entrada “progressiva”, no qual as sucessivasentrantes potenciais defrontam-se com desvantagens progressivamente maiores.

Vamos supor que haja uma condição geral de entrada constante para um ramo deatividade, representada por um valor único da condição imediata de entrada. Depois do ramoatingir um certo estágio, portanto, há um único percentual pelo qual os preços podem

 persistentemente exceder um dado nível competitivo enquanto impedem a entrada,independentemente de quantas novas firmas venham a ingressar no ramo: se o percentual desteexcesso tornar-se e permanecer maior, todas as entrantes potenciais (até um númeroindefinidamente grande) estarão prontas para ingressar no ramo. Um dado núcleo de firmasestabelecidas tem, pois, uma vantagem mais ou menos mutável sobre qualquer e todas asentrantes potenciais. Como veremos abaixo, uma condição de entrada constante só pode ocorreronde as economias das firmas de grande escala estão ausentes ou são desprezíveis, de modo queos custos das firmas estabelecidas e das potenciais entrantes não serão perceptivelmente elevados por uma redução das suas fatias de mercado à medida que a entrada ocorre8. Nesta situação, acondição de entrada pode assumir qualquer de quatro valores, cada um designado doravante porum termo especial a ser usado apenas com o significado específico que exporemos a seguir:

(1) Pode haver entrada “fácil”, de forma que o preço a longo prazo não possa exceder demodo algum o nível competitivo de custo das firmas estabelecidas sem atrair a entrada.

(2) O valor da condição de entrada pode ser positivo (medido com referência às firmasestabelecidas mais favorecidas), mas tão baixo que decorrem certas conseqüências.Poderá haver o que chamaremos de entrada “ineficazmente impedida”, no seguintesentido: as firmas estabelecidas mais favorecidas podem elevar seus preços (com os pre-ços das outras firmas do ramo movendo-se simultaneamente) algo acima do nível compe-titivo sem atrair entrada, mas elas podem obter um lucro de longo prazo maior fixando os

8  O leitor está lembrado da hipótese de inexistência de deseconomias de grande escala.

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seus preços acima do nível que impede a entrada – e atraindo, assim, algumas entrantes –do que fixando-os em um nível reduzido o bastante para impedir a entrada. Isto implicaque o preço efetivamente impeditivo da entrada garante a essas firmas apenas um lucro

de certa forma pequeno e similarmente apenas um pequeno percentual de excesso sobre ocusto mínimo. Implica, mais ainda, que se a entrada é induzida por preços mais altos, elase dará com uma defasagem suficiente para permitir a essas firmas lucros mais atraentesdurante o intervalo em que as entrantes estão se estabelecendo. Esta situação éapropriadamente caracterizada como tendo uma entrada ineficazmente impedida9.

(3) O valor da condição de entrada pode ser positivo e pode haver entrada “eficazmenteimpedida” no seguinte sentido: as firmas mais favorecidas podem elevar seus preços(com os outros preços do ramo alterando-se simultaneamente) suficientemente acima donível competitivo sem atrair entrada, a ponto de garantir que seus lucros de longo prazo,ao melhor preço impeditivo de entrada, sejam maiores do que se elas cobrassem preçosmais elevados e induzissem à entrada (repartindo assim o mercado com outros

vendedores). Ao mesmo tempo, o melhor preço impeditivo de entrada é inferior àqueleque maximizaria seus lucros se não houvesse ameaça de entrada. Isto implica que o preço impeditivo de entrada está moderadamente acima dos custos, mas não é tão ele-vado como um preço “monopolístico” seria na ausência de qualquer ameaça de entrada.

(4) O valor da condição de entrada pode ser positivo e a entrada pode ser “bloqueada” nosentido de que o nível de preços inibidor de entrada no ramo de atividade está acimadaquele que maximizaria os lucros das firmas mais favorecidas na ausência de qualquerameaça de entrada. Elas não têm, portanto, nenhum virtual incentivo para elevarem seus preços a um nível que induza à entrada.

A situação precedente refere-se a quatro tipos de valores da condição de entrada, se ovalor permanece sempre num único nível para qualquer número de sucessivas entradas. Namedida em que se verifica uma condição geral de entrada constante, o tipo de valor podeinfluenciar o desempenho do mercado dentro de um ramo de atividade. Antes de explorar essasinfluências, vamos considerar os possíveis valores da condição de entrada quando há umacondição geral de entrada “progressiva”.

 Neste caso, há uma vantagem diferencial entre as sucessivas entrantes potenciais – sejaab initio ou que se desenvolve à medida que a entrada vai se efetivando – de forma que a condi-ção imediata de entrada, medida com referência aos custos mínimos iniciais das firmas estabe-lecidas mais favorecidas, torna-se mais elevada à medida que sucessivas firmas ou grupo de fir-mas ingressam no ramo de atividade. Se o percentual pelo qual o preço do ramo de atividade po-de exceder o referido nível competitivo enquanto impede no limiar a entrada da entrante ou en-trantes potenciais mais favorecidas está então em um certo valor, o percentual de excesso atin-gível enquanto impede a entrada dos próximos entrantes potenciais mais favorecidos será maior,e assim por diante. A condição geral de entrada é representada por uma sucessão de valores dacondição imediata de entrada correspondente a entrantes sucessivamente menos favorecidas.

Há geralmente duas fontes possíveis da condição “progressiva” de entrada. Em primeirolugar, potenciais firmas entrantes diferentes podem ter vantagens diferenciais absolutas de custoou de diferenciação do produto. Essas vantagens podem tanto existir previamente à entrada dequalquer firma, quanto se desenvolver à medida que a entrada se processa – por exemplo, as“primeiras” entrantes no ramo asseguram-se de vantagens sobre as subseqüentes. Em qualquer

9  É claro que quanto maior as defasagens temporais encontradas na indução à entrada, maior será o “excesso de preço inibidor de entrada sobre o custo” considerado como aquele que impede ineficazmente a entrada.

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dos casos, algumas entrantes potenciais tenderão a serem capazes de assegurar-se preços maiselevados ou custos mais reduzidos relativamente às outras, levando, assim, a uma progressão novalor da condição imediata de entrada à medida que a entrada se processa.

Em segundo lugar, podem haver significativas economias de escala, no sentido de queuma firma de tamanho ótimo irá suprir uma fração significativa do mercado total e que os custosunitários de uma firma se tornarão progressivamente maiores para escalas progressivamentemenores. Neste caso, uma progressão no valor absoluto da condição de entrada torna-se mais oumenos inevitável à medida que a entrada se processa, mesmo que todas as firmas estabelecidasou entrantes em potencial tenham precisamente as mesmas condições de custo. A razão disto éque as sucessivas entradas irão tender a reduzir sucessivamente de modo significativo a fatia demercado de todas as firmas estabelecidas e ocasionar-lhes, assim, custos significativamente maiselevados; e a confrontar as outras potenciais entrantes com fatias de mercado menores e custosmais elevados. Preços cada vez mais altos (relativos aos custos mínimos atingíveis) serãonecessários para atrair uma subseqüente entrada, à medida que a entrada adicional eleva o nível

vigente de custos, impondo tamanhos cada vez mais não-econômicos às firmas que entram parao ramo de atividade. Onde significativas economias de escala se fazem presentes, uma condição progressiva de entrada é mais ou menos automaticamente encontrada.

E o que podemos dizer dos possíveis valores da condição geral progressiva de entrada? Éneste ponto que a teorização torna-se especialmente difícil, desde que um númeroindefinidamente grande de diferentes padrões de condição de entrada são logicamente possíveis.Para propósitos de uma generalização inicial – grosso modo, contudo – pode ser suficientedistinguir alguns padrões gerais. Eles são sumariamente listados abaixo, em cada caso com asuposição de que a condição imediata de entrada é medida com referência aos custos mínimosdas firmas estabelecidas mais favorecidas.

(5)  A condição imediata de entrada tem inicialmente um valor absoluto pequeno. Com progressivas entradas, assume valores apenas ligeiramente maiores em qualquer ponto

da seqüência relevante; a entrada está ineficazmente impedida do ponto de vista das

 firmas estabelecidas mais favorecidas.  Em outras palavras, a condição de entrada ésempre suficientemente baixa, de modo que um preço mais elevado indutor de entradaseria mais lucrativo para as firmas estabelecidas no longo prazo do que o melhor preçoinibidor de entrada.

(6)  A condição imediata de entrada tem inicialmente um valor absoluto pequeno e

encaminha-se para valores cada vez maiores com as sucessivas entradas; mas ao longo

desta elevação, ela progride de ineficazmente impedida para eficazmente impedida do

 ponto de vista das firmas estabelecidas mais favorecidas  (e possivelmente, mais tarde, para um valor bloqueado). Isto é, a entrada torna-se eficazmente impedida, no sentidoque o maior preço inibidor de entrada seria no longo prazo mais lucrativo para essasfirmas do que um preço mais elevado que induzisse a entrada.

(7)  A condição imediata de entrada encontra-se inicialmente num valor considerado como

de entrada eficazmente impedida pelas firmas estabelecidas, crescendo com as progressivas entradas e permanecendo eficazmente impedida ou tornando-se bloqueada.

(8) A condição imediata de entrada encontra-se inicialmente num valor bloqueado – isto é,o maior preço inibidor de entrada excede aquele que maximiza os lucros das firmasestabelecidas.

(9) A condição imediata de entrada tem inicialmente um valor absoluto relativamente

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 pequeno, mas com as sucessivas entradas ela progride regularmente para valoresabsolutos substancialmente maiores. A condição de entrada, contudo, continua a serconsiderada pelas firmas estabelecidas como ineficazmente impedida ao longo da

seqüência de entrada, nunca atingindo um valor eficazmente impeditivo. Isto se dá porque, com as sucessivas entradas, a elevação do preço inibidor de entrada écontrabalançada por uma elevação dos custos, de modo que preços inibidores de entradacada vez mais elevados não proporcionam lucros adequados. (Este padrão deve serencontrado apenas onde se verificam substanciais economias de escala.) Neste caso, asfirmas estabelecidas nunca consideram mais lucrativo, numa longa seqüência de entrada,fixar o preço em um nível suficientemente baixo para impedir a entrada10. A seqüência devalores ineficazmente impeditivos tenderia a resultar, com a progressão da entrada, numvalor bloqueador, no ponto onde o preço mais lucrativo permitisse às firmasestabelecidas igualarem suas receitas aos seus custos e não atraísse a entrada.

Foram listados, portanto, cinco tipos de condição geral “progressiva” de entrada em

adição aos quatro tipos de condição “constante”. A lista total pode ser encurtada, porém,combinando-se os casos cujos efeitos previstos não diferem significativamente. De fato, o caso(5) acima, no qual o valor da condição de entrada permanece pequeno e é consideradoindefinidamente como ineficazmente impeditivo, não difere significativamente do caso (2).Similarmente, o caso (7), envolvendo progressões de uma condição inicial de entradaeficazmente impedida, funde-se com o caso (3), representando uma condição constante deentrada eficazmente impedida, sem perda de detalhe na análise; o caso (8), da mesma forma,funde-se com o (4). Assim, apenas os casos (6) e (9) precisam ser acrescidos à nossa lista inicialde quatro. A lista combinada pode ser, portanto, assim apresentada:

I. Entrada fácil constante.

II. Entrada continuamente ineficazmente impedida, seja para um único pequeno valorabsoluto constante da condição de entrada, seja para uma sucessão crescente de pequenosvalores absolutos.

III. Entrada inicialmente eficazmente impedida, seguida numa progressão de entradas seja por uma entrada eficazmente impedida, seja por uma entrada bloqueada (o valor absolutoda condição imediata de entrada pode permanecer constante ou aumentar com a entrada progressiva de novas firmas).

IV. Entrada inicialmente ineficazmente impedida  para pequenos valores absolutos dacondição de entrada, progredindo para valores absolutos algo maiores e para a entradaeficazmente impedida.

V. Entrada inicialmente ineficazmente impedida  para pequenos valores absolutos dacondição de entrada, seguida por valores substancialmente mais altos à medida que asentradas se processam, mas com a condição de entrada sendo considerada ineficazmente

impedida ao longo de uma substancial progressão de entradas – e nunca atingindo umvalor eficazmente impeditivo.

VI. Entrada continuamente bloqueada, seja para um valor absoluto único constante dacondição de entrada, seja para uma sucessão crescente de valores absolutos. 

Isto é suficiente no que se refere à classificação das condições de entrada  per se. Comofoi indicado acima, os efeitos da condição de entrada dependem de dois elementos a mais: o grau

10  Quando elas o fazem, os casos de economias de escala revertem aos casos 6, 7 e 8 acima.

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de concentração entre os vendedores estabelecidos em qualquer mercado e a presença ou não deeconomias significativas para a firma de grande escala.

[Segundo determinante] O grau de concentração dos vendedores, é essencialmenteimportante porque se pode esperar que determine se os vendedores estabelecidos em ummercado agirão ou não, e em que extensão, coletivamente na determinação de seus preços. Asações “coletivas” de políticas mercadológicas e fixação de preço podem, no sentido queempregamos o termo aqui, resultarem de uma colusão expressa ou de um consenso entre osvendedores estabelecidos, ou de um entendimento tácito baseado na experiência passada dasfirmas rivais com as políticas dos outros, ou de uma interdependência reconhecida, de tal formaque cada vendedor só altera seu preço significativamente ou faz outras alterações significativasem sua política, na expectativa de alguma ação ou reação concomitante, mais ou menos previsível, por parte de seus rivais.

Independentemente do que resulte, a ação coletiva significa, em geral, que os principais

vendedores num ramo de atividade alterarão seus preços concomitantemente e, além disso, quecada um dos principais vendedores só alterará significativamente seu preço em resposta amudanças dos rivais ou com a antecipação de que haverá, em resposta a uma mudança,alterações concomitantes e similares de outros preços no ramo. As conseqüências para ele, portanto, de suas próprias alterações significativas de preço tornar-se-ão as conseqüências deuma mudança similar geral no nível de preços do ramo de atividade, incluindo o seu próprio. Aemergência de padrões de “ação coletiva” geralmente requer que os principais vendedores nomercado controlem fatias individuais substantivas de mercado, de forma que os ajustamentos de preço de qualquer um deles afetarão claramente os outros e produzirão a requeridainterdependência e seu reconhecimento. Disto se segue que, à medida que a concentração dosvendedores aumenta – e, portanto, as fatias de mercado controladas por vendedores individuais

 –, as ações coletivas entre os vendedores tornam-se mais prováveis.O padrão de conduta de mercado oposto ao das ações coletivas é o das ações estritamente

independentes. Neste caso, o vendedor individual agirá, no que se refere à fixação de preços eoutras atividades de mercado, de modo não-colusivo e com uma substancial negligência das possíveis reações de seus rivais. Ele não seguirá necessariamente os seus rivais nem anteciparáque seus rivais o seguirão e tentarão equiparar-se às suas políticas. Isto acontece tipicamente porque as suas ações não terão nenhum efeito perceptível sobre seus rivais (ou as desses rivaissobre ele) e isto, por sua vez, é decorrência do fato de que os vendedores individuais suprem,cada um, apenas uma fração desprezível do mercado. Temos assim o reverso de nossa última proposição: a ação coletiva torna-se menos provável à medida que a concentração dosvendedores diminui.

A presença ou a ausência do que chamaremos de “ação coletiva” tem sido há muitoreconhecida na teoria econômica como estratégica para o caráter da concorrência entre osvendedores estabelecidos. Mercados onde há uma significativa concentração de vendedoresforam designados como oligopolísticos, em contraposição aos mercados atomísticos, onde osvendedores são muitos e individualmente pequenos. Tem sido argumentado em geral que nosramos oligopolizados há uma indiscutível tendência (via colusões tácitas ou expressas ouinterdependência reconhecida) dos vendedores agirem “coletivamente” ou em uníssono nafixação de preços e quantidades, enquanto nos ramos atomizados qualquer tentativa de colusãofracassará e todos os vendedores agirão independentemente ao ajustar-se ao preço e à quantidadeestabelecida pelo mercado, os quais eles sentem como estando fora de seu controle.Correspondentemente, tem-se afirmado que o padrão de “ação coletiva” em oligopólio tende a

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encaminhar-se em direção a resultados de preço e quantidade monopolísticos ou quase-monopolísticos, embora estes possam ser aproximações moderadas ou fracas, na medida em quea colusão é imperfeita; que não se consegue chegar a acordos tácitos ou expressos, ou que são

empreendidas incursões de ações independentes. O padrão de conduta “independente” nosmercados atomísticos, por outro lado, tende a levar a resultados caracterizados por menores preços e maior produção no ramo de atividade, e são designados como “competitivos”.

A questão adicional que se coloca aqui refere-se à influência, se é que há alguma, da presença ou não de “ação coletiva” sobre o modo pelo qual a condição de entrada a um ramo deatividade afeta o desempenho do mercado naquele ramo. De fato, os vendedores estabelecidosem um ramo de atividade comportar-se-ão de forma diferente, frente a uma dada condição deentrada, se eles forem poucos e tiverem desenvolvido um padrão de conduta de ações coletivas,do que se forem muitos e seguirem um padrão de conduta de ações independentes?

A presença ou não de um padrão de conduta de ação coletiva deve ter um tipo deinfluência importante neste aspecto. Suponha-se que todos os vendedores ou, de qualquer modo,

os principais vendedores em um ramo de atividade ajam coletivamente, no sentido de que cadaum encara suas próprias mudanças de preço como equivalentes a mudanças similares peloconjunto do ramo. Cada um considerará, então, o efeito de suas próprias mudanças de preçosobre a entrada (esteja ele liderando os outros ou seguindo-os e assim avaliando sua liderança)como similares aos efeitos sobre a entrada de uma alteração de preço do ramo como um todo.

Se isto é assim, então duas coisas se seguem. Primeiramente, o vendedor individualsempre fará o seu calculo, ao considerar seus próprios ajustamentos de preço, como se esse seuajustamento tivesse um efeito decisivo (e num sentido máximo) sobre a entrada, desde que seu próprio ajustamento é efetivamente equivalente a um ajustamento de preço, de igual magnitude,do ramo como um todo. Ele será levado, ao fazer seus próprios ajustamentos de preço, aconsiderar o efeito, via entrada, de um ajustamento de preço do ramo como um todo sobre os

lucros desse ramo e sobre sua própria fatia desses lucros.Conseqüentemente, ele será levado a considerar as alternativas de impedir ou atrair

entrada através de seus próprios ajustamentos de preço, e isso primariamente em termos de umefeito antecipado de ajustamentos de preço do ramo como um todo sobre a entrada e de talentrada sobre os lucros do ramo e de sua fatia deles. Isto seria verdadeiro, como uma tendênciageral, estivesse o vendedor operando como o membro de um cartel tentando chegar a um acordosobre preço ou como um vendedor independente em oligopólio, operando sujeito a uma colusãotácita ou a uma interdependência reconhecidamente forte em relação a seus rivais. Por fim, osajustamentos de preço no ramo de atividade tenderão a ser feitos apenas com o plenoreconhecimento dos seus efeitos em termos de induzir à entrada e de tal entrada sobre os lucros esobre a parcela desses lucros que cabe ao vendedor individual.

Suponha-se, alternativamente, que todos os vendedores no ramo de atividade ajamindependentemente, na suposição de que os seus próprios ajustamentos de preço e quantidadenão irão e nem podem influenciar perceptivelmente seus rivais estabelecidos. Isto é, qualquervendedor que toma a iniciativa supõe que cada um de seus rivais não terá por que alterar os seus planos (seja mantendo o seu preço corrente ou fazendo alguns ajustamentos) em face do que ele,o vendedor que agiu primeiro, faz. (Ele aceita, pois, efetivamente, os movimentos dos preços demercado como dados além do seu controle.) Este tipo de atitude resulta geralmente do fato deque cada vendedor controla uma parcela desprezível do mercado total no qual ele vende. Se isto

é assim, será igualmente verdade em geral que nenhum vendedor levará em consideração a

 possível influência dos seus ajustamentos de preço sobre a entrada, desde que ele acredita

corretamente ser tal influência desprezível. Os efeitos indutores ou impeditivos à entrada dos

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ajustamentos de preço não serão, pois, levados em consideração por aqueles que os realizam.Será também verdadeiro, portanto, que os efeitos sobre os lucros do ramo de atividade, dasinduções ou de fatores desencorajadores da entrada atribuídos aos ajustamentos individuais de

 preços, não serão considerados por qualquer vendedor ou vendedores em geral. Movimentos de preços generalizados pelo ramo de atividade – resultado de muitos movimentos individuais eindependentes – emergirão, portanto, sem levar em consideração seus efeitos sobre a entrada e,conseqüentemente, sobre os lucros do ramo, desde que nenhuma unidade precificadora levará emconta esses efeitos. Isso é válido mesmo quando todos os vários preços individuais do ramomovem-se, de fato, simultaneamente (embora independentemente) em resposta a determinaçõeseconômicas de maior amplitude.

Temos, pois, dois tipos de situações. Na primeira, os efeitos de ajustamentos de preço portoda a indústria sobre a entrada e da entrada sobre os lucros do ramo são levados em conta pelosvendedores, individual ou coletivamente. Na segunda, esses efeitos não são levados em conta enão influenciam as decisões de fixação de preços, devido à independência das ações e ao fato de

que cada vendedor é um fator desprezível no mercado.Estas são, é claro, situações típicas ou limite e entre elas podem existir muitas situações

variantes ou modificadas. Temos, portanto, ações coletivas de fixação de preços atenuadas porações independentes esporádicas, de forma que os vendedores usualmente, mas nem sempre,agem como se suas próprias mudanças de preço fossem mais ou menos equivalentes a mudançasno ramo de atividade como um todo. Ou podemos ter ações independentes atenuadas por umligeiro reconhecimento de interdependência. Para efeitos de previsões aproximadas de efeitosgerais da condição de entrada, contudo, é suficiente distinguir os dois padrões gerais de condutaaté agora mencionados – ação coletiva ou ação independente. Correspondentemente, podemosdistinguir: (a) concentração de vendedores suficientemente alta para implementar ou conduzir a padrões de conduta de ação coletiva; (b) concentração de vendedores baixa o bastante para

conduzir a uma substancial independência de ação pelos vendedores individuais. Umaclassificação mais detalhada, reconhecendo os casos modificados e intermediários, pode serdesprezada para os presentes propósitos.

O terceiro determinante  geral do efeito da condição de entrada é a presença ou não designificativas economias da firma de grande escala no ramo de atividade. Como já foi mencionadoacima, o significado básico de economias de escala significativas (de forma que uma firma detamanho ótimo responderá por uma fração apreciável da produção do ramo e que as firmas menoresterão custos mais elevados) é que elas tendem a conduzir mais ou menos automaticamente a barreirasà entrada progressivamente mais altas à medida que entradas progressivas vão ocorrendo. Conduz,assim, a padrões específicos e especialmente problemáticos da condição geral de entrada –

 problemáticos tanto porque o impedimento a entradas consecuti-vas tende a aumentar com a própriaentrada e porque a fonte de impedimento (vantagens de tamanho inerentes às técnicas de produção ecomércio) não pode ser facilmente atacada quando o impedimento à entrada é desejável. Barreiras àentrada baseadas em considerações de diferenciação de produto ou de custos absolutos, por outrolado, não resultam  per se ou necessariamente numa progressiva elevação das barreiras à entrada àmedida que novas entradas se efetivem, ou em padrões “progressivos” de rápida elevação dacondição geral de entrada.

Um segundo significado da existência de economias de escala significativas é que isto tendeordinariamente a estar associado a uma concentração moderada ou alta dos vendedores estabelecidos – um fenômeno cujo possível significado foi sugerido nos parágrafos precedentes. Na previsão dosefeitos da condição de entrada, portanto, é útil estabelecer uma distinção categó-rica entre os casosnos quais economias de escalas significativas fazem-se ou não presentes.

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Dados os três principais determinantes dos efeitos da condição de entrada sobre a condutado mercado – isto é, o valor da condição de entrada, o grau de concentração entre os vendedores e afonte de afastamento da entrada fácil – podemos nos voltar diretamente para esses efeitos, ao menos

até onde eles podem ser previstos por uma teoria econômica a priori. Através da elaboração destasteorias podem ser feitas algumas deduções relativas ao provável efeito da condição de entrada sobreas políticas de preço e sobre outros aspectos da conduta de mercado dos vendedores estabelecidos e,através disso, sobre seu desempenho de mercado até o ponto onde este é refletido em elementos taiscomo o grau de restrição monopolística à produção atingida no ramo, o excesso de preço sobre oscustos reais (medido pelo volume dos lucros), a eficiência de produção e o volume de custos devenda. Apesar de não tentarmos desenvolver aqui uma exposição completa ou formal dosargumentos teóricos relevantes, é útil apresentar e explicar brevemente o conteúdo geral das previsões teóricas disponíveis relativas a tais efeitos da condição de entrada.

Ao fazer isso, uma distinção básica deve ser feita entre os ramos de atividade de alta e baixa concentração. Se existe uma estrutura atomística no ramo, nenhum vendedor ira presumir

 poder influenciar o curso da entrada no ramo de atividade através de seus próprios ajustamentosde mercado. Ele não pode nem atrair nem impedir a entrada por essa via. A condição de entrada(refletindo a relação entre um nível de preço do ramo como um todo bloqueador da entrada e oscustos mínimos) tenderá a ser negligenciada pelos vendedores num ramo atomizado. Suas políticas de mercado não serão influenciadas por ela. Movimentos de preços afetando todo oramo de atividade ocorrerão sem a preocupação de que eles induzam ou não à entrada. Acondição de entrada servirá, portanto, nos ramos de atividade atomísticos, apenas como um tipode regulador automático do desempenho de mercado, colocando limites aos movimentos delongo prazo da relação, para o ramo como um todo, entre preço e custo, impondo os efeitoscorretivos da entrada se os movimentos excederem esses limites. Dada esta regra geral, não édifícil perceber os efeitos dos seis tipos de condição geral de entrada (listados na p. 20) sobre o

desempenho de mercado dos ramos atomísticos. Se houvesse entrada fácil constante a um ramo,de forma que qualquer número de firmas pudesse ingressar sem nenhuma desvantagem de preçoou custo em relação às firmas previamente estabelecidas, o preço nunca poderia exceder, nolongo prazo, os custos mínimos de produção comuns a todas as firmas estabelecidas (comovimos, vantagens diferenciais entre as firmas estabelecidas não são persistentes com a entradacompletamente fácil). Qualquer tendência do preço a elevar-se induziria nova entrada suficiente para conduzi-lo de volta ao seu nível competitivo. Correspondentemente, não poderiam nunca persistir a longo prazo quaisquer restrições monopolísticas à quantidade produzida, ou lucros emexcesso a uma taxa de retorno normal sobre o investimento e nenhum custos que não os custos“competitivos” de venda (resultantes de uma multidão de políticas de venda independentes).

Uma questão mais interessante é se, com estruturas de mercado atomísticas, as condições

de entrada que envolvem algumas vantagens das firmas estabelecidas sobre potenciais entrantes podem conduzir no longo prazo a preços mais elevados do que os verificados com entrada fácil.Uma análise de preços elementar sugere que em estruturas de mercado atomísticas, e na ausênciade deseconomias de escala das grandes firmas, a concorrência entre as firmas estabelecidastenderá a produzir um nível competitivo de preços independentemente das barreiras à entrada, àmedida que elas aumentem suas quantidades produzidas relativamente à demanda do mercado ereduzam seus preços até que seus custos médios e marginais igualem seus preços de venda11. Aentrada não é necessária para um ajuste competitivo completo, desde todas as firmas

11 Com diferenciação de produto, uma boa aproximação seria suficiente. A diferença deste caso daquele onde severifica diferenciação de produto será aqui desprezada como relativamente insignificante.

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expandirem-se indefinidamente sem exceder os custos mínimos (ou incorrer em desvantagensequivalentes) mais a independência na fixação de preços atribuída ao atomismo levam a esteresultado mesmo sem a entrada. Nesse caso, portanto, pode-se afirmar que a existência de vários

graus e tipos de impedimento à entrada (tipos I a IV, na p. 20) não tornará o desempenho a longo prazo do ramo de atividade significativamente diferente do que seria no caso de entradacompletamente fácil.

Acabamos de dizer que nas situações atomísticas delineadas e na ausência dedeseconomias às firmas de grande escala, a concorrência deverá conduzir o preço a um nível decusto mínimo, com ou sem entrada. Mas os custos mínimos de quem, se há significativasvantagens diferenciais entre as firmas estabelecidas? Formalmente, esta não é uma questãoapropriada, desde que as significativas vantagens diferenciais entre as firmas estabelecidas queela supõe existir poderiam não sobreviver a longo prazo com a concorrência atomística, se nãohouver deseconomias ou desvantagens equivalentes para as firmas de grande escala. Em vezdisso, a concorrência forçaria os preços ao nível de custos médios mínimos para um grupo de

firmas mais avantajadas e expulsaria todas as outras firmas do ramo, infringindo-lhes perdas.Todas as firmas sobreviventes gozariam, então, um nível de custos mínimos equivalente, e os preços igualariam esse nível de custos para todas as firmas simultaneamente. Segue do expostoque a coexistência de (a) atomismo, (b) ausência de desvantagens para as firmas de grande escalae (c) vantagens diferenciais significativas entre os vendedores estabelecidos implica umaestrutura de mercado instável. Com ou sem entrada esta estrutura evoluirá em direção àeliminação das vantagens diferenciais entre as firmas sobreviventes e, possivelmente, em direçãoà eliminação da estrutura atomística. Nesse último, caso, é claro, as previsões desenvolvidas aqui para estruturas atomísticas com a entrada impedida não se aplicariam mais.

Estruturas de mercado atomísticas, dentro das quais vantagens diferenciais entre asfirmas estabelecidas existem, devem, caso não sejam instáveis ou em transição para algo

diferente, ser atribuídas à existência de deseconomias ou outras desvantagens para as firmas degrande escala. Argumentamos que tais deseconomias são provavelmente sem importância e podem em geral ser esquecidas para um argumento teórico simplificado. Mas se significativasdeseconomias à expansão das firmas estabelecidas são encontradas nos mercados atomísticos,então um curso competitivo de conduta de mercado envolvendo ajustamentos independentes porcada vendedor pode levar a resultados algo distintos daqueles que acabamos de prever. Cadafirma individual é, então, incapaz de estender a produção indefinidamente ao nível de custosmínimos e defronta-se com custos médios e marginais progressivamente crescentes à medida quea produção se estende para além de uma escala “ótima”. Logo que a demanda pela produção doramo de atividade, a preços equivalentes aos custos mínimos das firmas mais favorecidas, excedea soma correspondente à escala ótima de produção para essas firmas, esse excesso levará a uma

extensão competitiva de suas produções com custos médios e marginais e preços crescentes. Talelevação dos preços será acompanhada, de acordo com a condição de entrada, por uma entradade novos vendedores à medida que os preços se elevam suficientemente para induzi-los a entrar,apesar de suas desvantagens. O aumento da quantidade produzida provocado pela entrada e pelocrescimento da produção das firmas estabelecidas prosseguirá até que uma oferta determinadacompetitivamente iguale a demanda a um preço em excesso relativamente aos custos médiosmínimos dos vendedores estabelecidos mais favorecidos, e talvez aos dos outros vendedores. Nesta situação, os vendedores mais favorecidos tenderão a obter lucros excessivos e a operar emescala superior à ótima. O volume destes excessos tenderá a tornar-se maior à medida que suasvantagens sobre as outras firmas estabelecidas ou entrantes em potencial se tornam maiores, ou àmedida que a condição geral de entrada se encaminha rapidamente com a progressão de entrada,

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 para valores mais altos. O preço de longo prazo finalmente atingido, por outro lado, nãoexcederá, em geral, o custo médio mínimo do entrante excluído mais favorecido. O fato dacondição de entrada ser considerada bloqueada, eficazmente impedida ou ineficazmente

impedida não é relevante, pois os vendedores individuais não levam em conta, de qualquermodo, a condição de entrada. A progressão dos valores absolutos de condição imediata deentrada representada na condição geral de entrada será, porém, estratégico para o ajustamentofinal preço-custo.

Uma maior ênfase poderia ser dada, contudo, às possibilidades lógicas que acabamos dedescrever. A observação sugere que a existência de estruturas de mercado atomísticas estaráintima-mente relacionada com a existência de entrada fácil, e que as estruturas atomísticas nãoemergem comumente, devido principalmente às deseconomias de escala e apesar de substanciais barreiras à entrada. Se isto é assim, as variações da condição de entrada provavelmente serão de pouca importância, como influência no desempenho de mercado, em ramos de atividade deestrutura atomística12.

Contrariamente, a condição de entrada tenderá a exercer seu efeito principal sobre ramosde atividade concentrados ou oligopolizados, Nestes, (1) a fixação de preços colusiva ouinterdependente tende a permitir a deliberada elevação dos preços na extensão consentida pelacondição de entrada, a altura da qual torna-se, então, estratégica; (2) as firmas calcularãoindividual ou coletivamente os efeitos de suas políticas quanto à indução ou impedimento àentrada; e (3) pode-se esperar que a concentração, diferentemente do atomismo, sejaacompanhada por numerosos padrões alternativos de condição de entrada.

12  Duas questões relacionadas à condição de entrada para mercados atomísticos podem ser brevementemencionadas. Em primeiro lugar, é preciso estabelecer-se uma distinção quanto à fonte das barreiras à entrada?

Geralmente não, pois significativas economias de escala não serão persistentemente encontradas em combinaçãocom estruturas de mercado atomísticas. Exceção feita às estruturas de mercado instáveis em transição, apenasvantagens de diferenciação de produto ou vantagens absolutas de custo das firmas estabelecidas constituirão

 barreiras à entrada em mercados atomísticos. E não existem distinções teóricas importantes a serem feitas quantoaos efeitos das vantagens absolutas de custo ou de diferenciação de produto como barreiras à entrada.

Em segundo lugar, terá a condição de entrada alguma influência a curto prazo  no comportamento demercados atomísticos – isto é, sobre o modo pelo qual eles se adaptam a flutuações ou a movimentos seculares dedemanda, tecnologia, e assim por diante? As previsões discutidas acima se referem inteiramente a tendências deequilíbrio a longo prazo em mercados atomísticos, ou à destinação ou ponto final de acomodação que osajustamentos de mercado no ramo de atividade procuram atingir em resposta a um dado conjunto de condiçõeseconômicas importantes. Já afirmamos que não se deve esperar que as variações na condição de entrada de ummercado atomístico para outro fossem, a priori, determinantes importantes de variações em tais tendências delongo prazo entre ramos de atividade atomísticos. Tem-se levantado freqüentemente, porém, que qualquer entradafácil a ramos atomísticos é uma fonte primária de dificuldades correntes ou mesmo crônicas de adaptações amudanças ao longo do tempo na demanda, custos e semelhantes. O teor geral do argumento é que uma tal entradafácil permite que um número grande e excessivo de pequenas firmas aglomere-se em tais ramos em tempos de

 pico de demanda e prosperidade geral, não sendo capazes de antecipar subseqüentes declínios na demanda,aumentos na produtividade, e assim por diante; e que, então, mudanças deste tipo acabam por gerar excesso decapacidade e concorrência destrutiva, que não são facilmente elimináveis devido à longa vida das plantas fixas e àrelutância das firmas de saírem do ramo.

O fato de desajustes periódicos ou crônicos terem sido encontrados em ramos de atividade atomísticos comentrada fácil e demanda historicamente declinante é bastante conhecido. É concebível que barreiras à entradamais substanciais – quase nunca encontradas em outros ramos de atividade atomísticos – teriam algumainfluência no sentido de retardar o desenvolvimento periódico de sobre-capacidade. A não ser que desejássemoselaborar uma teoria especial para racionalizar certos eventos observáveis, não se pode deduzir diretamente quevariações na condição de entrada são as responsáveis principais, neste aspecto, por variações no desempenho emramos de atividade atomísticos. Deixaremos, portanto, o assunto em aberto por enquanto.

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Dadas estas tendências, a condição de entrada pode ter uma influência decisiva sobre a conduta eo desempenho de mercado em ramos de atividade oligopolizados, embora previsões detalhadas e precisasde seus efeitos sejam arriscadas por uma série de motivos. Um desses é que a colusão oligopolística, seja

do tipo expresso ou tácito, pode ser imperfeita em graus variados, especialmente por causa de defecçõessecretas dos preços comuns ou acordados ou devido a desentendimentos quanto ao preço mais desejável.Um segundo [motivo] é que pode haver vantagens diferenciais entre os vendedores estabelecidos oudiferenças nas suas visões das variáveis estratégicas de mercado, que as conduzem a diferentes opiniõesem relação a oportunidade ou não de atrair ou impedir a entrada via fixação de preço, ou em relação aquais preços irão ou não impedir a entrada. Deve haver alguma margem para a incerteza nas teoriasreferentes às políticas que os vendedores estabelecidos irão seguir e se elas serão ou não bem-sucedidas.Previsões de tendências gerais inerentes às situações oligopolísticas podem, contudo, ser desenvolvidasadotando-se alguns pressupostos simplificadores.

Com este propósito, assumiremos que há geralmente uma efetiva simultaneidade de ação de mer-cado pelos vendedores estabelecidos ao definirem alguma aproximação de um preço conjunto maximi-zador de lucros, referente qualificadamente aos efeitos de possíveis imperfeições de colusões tácitas ou

expressas. Assumiremos também que, desde que existem vantagens diferenciais entre as firmas estabele-cidas e que estas levam a diferentes opiniões quanto à oportunidade de impedir ou não a entrada, as maio-res ou principais firmas efetivamente determinarão a política do ramo de atividade. Presumiremos, alémdisso, que elas serão em geral as firmas estabelecidas mais favorecidas. Assumiremos, por fim, que asfirmas estabelecidas dominantes estarão geralmente corretas em sua avaliação do que atrairá ou impediráa entrada e, portanto, não farão inadvertidamente uma coisa quando quiserem fazer outra. Exceções a essaregra podem ser reconhecidas parenteticamente. Nesse ponto podemos também reiterar nosso pontoanterior de que deseconomias para as firmas de grande escala são geralmente desprezíveis ou ausentes.

Dados esses pressupostos, vamos considerar o efeito dos seis tipos de condição de entradalistados na página 20 sobre os ramos de atividade oligopolizados, reconhecendo em cada caso qualquerdistinção significativa que depende da fonte da barreira à entrada.

[1] Com a entrada fácil constante, com a qual nenhuma firma estabelecida pode jamais gozar dequalquer vantagem a longo prazo sobre as entrantes potenciais, o preço não tenderá, no longo prazo, aexceder persistentemente o nível de custo mínimo das firmas estabelecidas. A pressão da entrada sempreforçará o preço de volta a este nível. Várias complicações, porém, merecem referência.

Primeiramente, a consecução da concentração oligopolística de vendedores é, contudo, possível – por exemplo, via fusão. Em segundo lugar, o desenvolvimento da concentração pode parecer vantajosoaos vendedores estabelecidos se existirem defasagens temporais na entrada que lhes permita elevar preçose obter lucros supra-normais durante o período em que a entrada, atraída por tais preços, vai seefetivando. Em terceiro lugar, se tais ramos de atividade tornarem-se concentrados, eles podem tender aexperimentar períodos de fixação de preço em níveis supra-competitivos seguidos pela atração à entrada,

 por uma resultante aproximação das estruturas atomísticas e, assim, da fixação de preço a um nívelcompetitivo. A instabilidade da estrutura de mercado que está assim implícita na combinação da

concentração oligopolística com entrada muito fácil pode ocorrer periodicamente em ciclos (embora nãonecessariamente); ela o fará, por exemplo, se o atomismo produzido pela atração à entrada for posteriormente remediado por novas fusões.

Em quarto lugar, se a instabilidade estrutural do mercado é induzida pela fixação mono-polísticade preços em intervalos curtos, não haverá apenas preços mais altos em alguns períodos, mas tambémdemasiado excesso de capacidade das plantas, persistindo mesmo com o retorno à fixação de preçoscompetitiva, até que algumas plantas se desgastem. Se essas plantas são de longa vida, o ramo deatividade concentrado com entrada fácil pode ser cronicamente acometido de excesso de capacidade de“curto prazo”, que é atraída e retraída por episódios recorrentes de fixação monopolística de preços. Isto

 pode ser verdadeiro, como é necessariamente verdadeiro com a entrada fácil, mesmo quando não hásignificativas economias para as firmas de grande escala a longo prazo.

Em quinto lugar, nossas tendências podem ser aproximadas às inerentes aos cartéis impostos ou

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 patrocinados pelo governo, como aqueles freqüentemente encontrados na agricultura. A principaldiferença é que uma agência governamental pode ter o poder (onde um acordo privado não tem) deelevar preço e atrair capacidade redundante indefinidamente ou de bloquear arbitrariamente a entrada

de firmas e preservar o funcionamento do cartel. Finalmente, grandes vendedores em mercadosconcentrados confrontados com a entrada fácil tenderão, é claro, a erguer barreiras à entrada devárias maneiras, tentando, por exemplo, diferenciar o produto. É difícil prever com que freqüência aconcentração de vendedores estará efetivamente combinada com entrada completamente fácil, mas a possibilidade lógica está claramente aberta especialmente se os intervalos para a efetivação daentrada são longos.

[2]  Uma condição de entrada estreitamente relacionada (tipo II) surge onde, em qualquer progressão relevante de entrada potencial há sempre um pequeno valor absoluto de condiçãoimediata de entrada e onde a entrada é sempre “ineficazmente impedida”. O preço pode exceder um pouco o custo mínimo das firmas estabelecidas mais favorecidas, mas nunca muito sem atrair maisentrada13; e essas firmas, mediante qualquer seqüência de entrada, anteciparão continuamente lucros

de longo prazo maiores estabelecendo um elevado preço indutor de entrada, obtendo lucros extrasdurante o intervalo de efetivação da entrada, e atraindo mais entrada, do que estabelecendo um preço bloqueador de entrada mais baixo. Isto ocorre, presumivelmente, porque as defasagens na indução deentrada são apreciáveis e porque a margem de lucro de longo prazo obtida com o melhor preço bloqueador de entrada não é grande.

Essa condição de entrada será efetivamente restrita aos casos onde as economias das firmasde grande escala estão ausentes ou são desprezíveis pois, de outro modo, a progressiva atração daentrada forçaria um progressivo e em última instância substancial crescimento na barreira absoluta àentrada na medida em que as firmas tivessem que operar com distintas escalas pequenas anti-econômicas. As únicas barreiras à entrada importantes são, portanto, aquelas provenientes devantagens absolutas de custos ou de diferenciação de produto das firmas estabelecidas sobre as potenciais entrantes. A diferenciação de produto não se reflete, contudo, em significativas economias

de propaganda em grande escala, por exemplo14. O prospecto da conduta e desempenho do mercadoé quase o mesmo do que quando a entrada é fácil. O preço não pode a longo prazo exceder

13  O valor absoluto pode ou não aumentar um pouco à medida que ocorre mais entrada.14 Poder-se-ia mencionar que as economias de grande escala devem ser significativas no tipo II no sentido usual,

mas não em outro sentido. Isto é, a produção de uma firma de escala ótima ou de menor custo deve ser umafração pequena ou desprezível da produção total do ramo de atividade (mesmo que a firma possa experimentarcustos unitários mais elevados a escalas ainda maiores), de forma que a atração de uma unidade de entrada nãoafetará significativamente as fatias de mercado nem os custos unitários das firmas estabelecidas ou das potenciaisfirmas entrantes que vêm a seguir. (Se o fizesse, a barreira à entrada tornar-se-ia progressiva e significativamentemaior à medida que cada unidade excessiva de entrada fosse atraída.)

As economias de escala podem, porém, ser significativas no seguinte caso e ainda permitir uma condiçãode entrada que permanece em pequenos valores absolutos (potencialmente mesmo um valor constante) medianteuma progressão de entradas. De fato, podemos ter a situação onde (1) embora a produção de uma firma de escalaótima seja uma fração desprezível da produção total do ramo de atividade, existem substanciais economias deescala (custos decrescentes) à medida que a produção da firma aumenta em direção a este ótimo; (2) neste mesmo

intervalo de produção, as desvantagens absolutas de custos ou de diferenciação de produto das entrantes em

 potencial aumenta. Então, para tentar minimizar uma desvantagem absoluta de custo ou de diferenciação de produto teriam de entrar numa escala sub-ótima, onde os custos fossem elevados devido ao pequeno tamanho,enquanto que para evitar as deseconomias de uma escala indevidamente pequena ela teria que suportar umamenor desvantagem absoluta de custo ou de diferenciação de produto. Neste caso, as economias de escala de umlado, e as desvantagens absolutas de custo ou de diferenciação de produto, que estão relacionadas com a escala,de outro lado, combinam-se para fixar uma desvantagem mínima inevitável, mesmo que a escala ótima

 propriamente dita possa ser de uma desprezível ou relativamente pouco importante consideração. Este caso podeser devidamente incluído nos tipos de entrada II, III, IV ou VI, em nenhum dos quais as economias de escala

 precisam ser significativas no sentido usual.

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 persistentemente de muito os custos mínimos das firmas estabelecidas, embora possa fazê-lo porum percentual absoluto relativamente pequeno e, possivelmente, por um que aumenta um poucoà medida que a indução à entrada vai progredindo. Desde que a possibilidade de impedir a

entrada através de preços relativamente baixos será, contudo, menos atrativa para as firmasestabelecidas, mais favorecidas ou não, do que a possibilidade de obter maiores lucros tempo-rários a preços mais elevados (os quais induzirão à entrada), os mercados concentrados nestacategoria tenderão a ser afligidos, como aqueles do primeiro tipo, pela emergência periódica de preços substancialmente acima do nível competitivo, com a conseqüente instabilidade estrutural,tendendo ao atomismo e com excesso de capacidade, periódica ou crônica.

Como no primeiro caso, a atração de entrada pode, em última instância, levar àestabilidade com estrutura atomística e fixação competitiva de preço. Qualquer atomismoinduzido, porém, é igalmente suscetível de ser seguido por um reagrupamento da estruturaatravés de fusões ou de outros meios e pelo começo de um outro ciclo de fixação de preçoselevados e entrada excessiva. Esta última possibilidade é provavelmente mais forte neste

segundo caso, uma vez que aqui relativamente poucas firmas estabelecidas podem usufruir dealgumas pequenas vantagens diferenciais absolutas de custo ou de diferenciação de produtosobre todas as outras. A emergência de uma fixação competitiva de preço seguindo a entradatenderá, então, a resultar numa recuperação da dominância do mercado por essas firmas,restabelecendo uma alta concentração e, desta maneira, dando inicio a um outro ciclo de fixaçãode preços indutores de entrada elevados.

A principal fuga possível dessas tendências é que, em algum ponto, o mercado atingirá,mediante a indução à entrada, um nível de concentração suficientemente baixo para que aindependência na fixação de preço ou a imperfeição da colusão mantenham o preço abaixo donível indutor de entrada, enquanto ao mesmo tempo (1) as vantagens diferenciais das firmasagora estabelecidas são suficientemente pequenas para que uma estrutura estável possa persistir;

e (2) a propensão dessas firmas estabelecidas a se reconcentrarem mediante fusões seja obstada por um fracasso na tentativa de se chegar a acordo ou pela lei.

[3] O terceiro tipo de condição de entrada a ser considerado é aquele no qual, com ummercado concentrado, a condição de entrada é “eficazmente impedida” inicialmente (e depoisdisso permanece a mesma ou venha a ser “bloqueada”) a valores absolutos moderados. Nestecaso, as firmas estabelecidas mais favorecidas podem estabelecer um preço que estejamoderadamente acima do nível maximizador de lucro conjunto do ramo de atividade e que iráimpedir uma posterior entrada a este ramo. Mais ainda, ao não excederem o melhor preçoinibidor da entrada, e assim restringirem o número de concorrentes, essas firmas esperammaiores lucros de longo prazo do que poderiam obter estabelecendo um preço mais alto econseqüentemente atraindo novas entrantes para partilharem de seu mercado. Isto ocorre

evidentemente porque os lucros de longo prazo, enquanto impedem as entradas, são apreciáveisquando comparados com os lucros temporários mais elevados que as defasagens temporais paraa concretização da entrada permitiram a preços mais altos.

O curso de ação aqui previsto é distintamente diferente dos casos de entrada fácil ouineficazmente impedida. Uma posterior entrada não tenderá a ser atraída, pois os preços serãomantidos suficientemente baixos para desencorajá-la. Haverá, pois, uma estrutura de mercadorelativamente estável, exceto por possíveis mudanças nas fatias de mercado dos vendedoresestabelecidos. O preço tenderá a exceder consideravelmente o nível mínimo de custo a não serque as imperfeições na colusão ou a negação da interdependência na fixação de preço omantenham baixo. Ele estará, porém, apenas moderadamente acima do nível competitivo eclaramente abaixo do preço de um monopolista protegido contra entrada. É bastante concebível,

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 por exemplo, que algumas poucas firmas estabelecidas dominantes posam estar dispostas aimpedir a entrada a um preço, apenas por um percentual bem diminuto acima dos custos, se asdefasagens para a concretização da entrada forem curtos e se uma substancial quantidade de

entrada puder ser atraída por preços mais elevados.Isto basta sobre as tendências relativas à estabilidade estrutural e à relação entre preços e

custos mínimos. E quanto às tendências na eficiência, nos lucros e nos custos de venda que asacompanham? Para prever tais desempenhos nesta categoria é preciso distinguir entre as barrei-ras à entrada que envolvem ou não economias significativas para as firmas de grande escala.

Se significativas economias de escala estão ausentes ou são desprezíveis, de forma que aentrada eficazmente impedida resulta unicamente das vantagens absolutas de custo ou dediferenciação de produto das firmas estabelecidas, essas mesmas firmas podem em geral atingircustos mínimos a uma variada gama de escalas. Duas coisas tendem, então, a ocorrer. Quandotais firmas tiverem se estabelecido numa posição de fixar preços para impedir a entrada, todasoperarão em geral a escalas consistentes com custos mínimos. O excesso de preço sobre os

custos mínimos atingido no equilíbrio impeditivo da entrada será igual ao excesso de preço sobreos custos efetivo, ou seja, a margem de lucro. Lucros extraordinários equivalentes, por unidade,ao hiato preço-custo mínimo serão obtidos no longo prazo. Desde que, nesse caso, não haveránenhuma indução periódica a uma entrada excessiva, como poderia ocorrer nos casos I e II, nãohaverá nenhuma tendência correspondente em direção a perdas crônicas ou periódicas resultantesda presença de excesso de capacidade.

Se as preferências dos compradores pelos produtos das firmas estabelecidascomparativamente aos das novas firmas entrantes forem as bases primárias da entrada“eficazmente impedida” – como pode muito bem ser o caso em numerosos ramos de atividadeconcentrados, produtores de bens de consumo – então incorre-se em substanciais custos de propaganda e outros custos de venda para sustentar a posição preferencial dos produtos dos

vendedores estabelecidos. Esta tendência pode também fazer-se presente em ramos de atividadessimilares sob o caso II, onde o impedimento à entrada é inerente à diferenciação de produto, maso incentivo a manutenção de barreiras através de contínua propaganda e promoção de vendas parece provavelmente ser maior quando as barreiras oferecem uma proteção mais valiosa do quea do caso presente.

Se as barreiras à entrada originam-se de vantagens absolutas de custo das firmasestabelecidas, tais como o controle de recursos ou técnicas via patentes, nenhuma tendênciasimilar a custos de venda excessivos é percebida, embora possa haver um estímulo paralelo amaiores gastos em pesquisa industrial e desenvolvimento tecnológico.

Se significativas economias de escala se fizerem presentes como uma fonte deimpedimento à entrada, deve-se ainda esperar uma estabilidade de mercado junto com uma

fixação de preços orientada à impedir a entrada. Um moderado excesso de preços sobre os custosmínimos tenderá a persistir se a colusão é eficaz ou se a interdependência é forte. Conclusões arespeito da eficiência ou dos lucros são, porém, potencialmente diferentes. O número de firmasque podem operar com máxima eficiência é distintamente limitado. Se uma firma eficiente suprir pelo menos um quarto do mercado total aos preços prováveis de serem estabelecidos, não maisdo que quatro firmas poderão operar com uma eficiência ótima de escala. Se a entrada atraídaaumentar o número de firmas para além deste limite, algumas ou todas as firmas vão operar aescalas sub-ótimas e com custos efetivos mais elevados. Isso geralmente irá, por sua vez, elevarum pouco a barreira a uma posterior entrada (com os entrantes potenciais seguintes antecipandocustos efetivos mais altos), mas de qualquer modo a eficiência entre as firmas estabelecidas será prejudicada.

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Dado isso, a questão é qual será o grau de concentração ou o número de vendedores emrelação à eficiência ideal quando os vendedores estabelecidos vierem a reconhecer a condiçãoimediata de entrada como “eficazmente impedida”. Será ótimo o número de firmas, permitindo

assim operações aos menores custos, ou será este número excessivo, elevando o nível geral decustos através das ineficiências de uma escala insuficiente? Qualquer um dos dois pode vir a sero caso. A estrutura do ramo de atividade pode ser acidentalmente tal que as firmas estabelecidassejam geralmente de escala ótima e a barreira à entrada pode ser então suficientemente grande para encoraja-las a impedir uma posterior entrada a um preço moderadamente acima do customínimo. Ou a estrutura do ramo de atividade pode ser inicialmente tal que as firmas sejammenores que o tamanho mais econômico, seja por “acidente” ou porque a entrada foideliberadamente atraída por preços elevados quando as firmas forem em menor número. Nestecaso, dada uma entrada atualmente eficazmente impedida, os custos efetivos irão permanecer persistentemente acima do custo mínimo e a margem de lucro será menor que o excesso de preçosobre os custos mínimos. Alguns lucros extraordinários, porém, serão ainda presumivelmente

obtidos se o preço inibidor de entrada for considerado atrativo. Neste último caso grandes hiatosabsolutos entre preço e custo mínimo podem ser necessários para garantir uma entradaeficazmente impedida e afastamentos razoáveis da escala ótima são teoricamente possíveis. Aeliminação dessas ineficiências não se dá através da entrada (que privaria a situação se fosseatraída) e não se dará necessariamente através de uma “racionalização” por fusões ou outrosmecanismos destinados a reduzir o número de firmas. Uma demanda em expansão secular para oramo de atividade seria, é claro, um corretivo bem-vindo.

A exploração do caso III permitiu-nos descobrir duas tendências no preço e nocomportamento de mercado que podem ser extensivamente encontradas em mercadosconcentrados. Em primeiro lugar, com as barreiras à entrada em um nível moderado, de tal formaque as firmas estabelecidas possam impedir a entrada a um preço que lhes permita alguns lucros

extraordinários, mas que está bem abaixo de um teórico nível de monopólio, políticas de preçode longo prazo destinadas a impedir a entrada podem emergir. Como resultado teríamos umaestabilidade estrutural do mercado, preços apenas moderadamente supra-competitivos e lucrosextraordinários moderados. A segunda tendência está associada com a existência designificativas economias para a firma de grande escala. Diz respeito a ser possível que respostasoligopolísticas à condição de entrada, quando esta inclui barreiras resultantes de economias deescala, conduzam a uma estrutura de mercado estável, onde uma entrada posterior está impedidae na qual algumas ineficiências de escala insuficiente são crônicas. Por outro lado, é pelo menosigualmente possível que a estrada esteja impedida num ponto onde as firmas estabelecidas sejam,em geral, de escala eficiente. Essas tendências que acabamos de descrever transportam-nos aoscasos restantes (IV, V e VI), que podem ser analisados muito mais rapidamente por simples

extensões dos argumentos já desenvolvidos.[4]  Suponha (caso IV) que em mercados concentrados haja inicialmente entrada

“ineficazmente impedida”, calculada com referências aos preços que induzem uma ou poucasfirmas a ingressarem no ramo de atividade. Mas suponha também que, após a entrada de uma ou poucas unidades, a barreira à entrada absolutamente mais elevada para entrantes posteriores eseja eficazmente impeditiva do ponto de vista das firmas estabelecidas mais favorecidas. Asestruturas de mercado serão, então, inicialmente instáveis na medida em que a entrada for atraída preços acima do nível impeditivo à entrada. Resultará, porém, na entrada de um número finito elimitado de entrantes, junto com uma elevação do preços apenas suficiente para impedir uma posterior entrada, de forma que ele será suficientemente mais elevado que os custos mínimos eefetivos para tornar mais lucrativo o impedimento de uma posterior entrada. Neste ponto, a

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estrutura de mercado se tornará estável e os resultados serão semelhantes àqueles previstos parao caso III acima, valendo as mesmas distinções baseadas nas fontes de impedimento à entrada. Odesenvolvimento de ramos de atividade “caso IV” em ramos “caso III” mediante mudança

estrutural só não ocorrerá se a imperfeição da colusão ou algum fenômeno semelhante inibir aatração à entrada inicialmente desejada pelas firmas estabelecidas.

[5]  O caso V é aquele no qual o preço inibidor de entrada eleva-se progressivamenteacima dos custos mínimos à medida que a entrada ocorre, mas nunca excede um valor“ineficazmente impeditivo” – isto é, nunca excede os custos efetivos em um montante suficiente para tornar atrativo o impedimento à entrada – até que finalmente é atingido um ponto na progressão de entrada onde o preço mais lucrativo permite às firmas estabelecidas apenasigualarem suas receitas aos seus custos (break even point ), inibindo assim um posterior indução àentrada. Isto só pode ocorrer quando existem significativas economias de escala (que elevam oscustos efetivos à medida que a entrada se processa) e onde a relação do custo com a escala é talque dá origem a uma peculiar sucessão de valores de condição imediata de entrada. O

comportamento previsto para este caso leva, obviamente, à progressiva atração de um grandeexcesso de entrada, que termina num ponto, ou próximo a ele, onde o preço está muito acima docusto mínimo mas igual ao custo efetivo das firmas estabelecidas, e onde grandes deseconomiasde pequena escala (ou de um excessivo número de firmas) são encontradas. Este parece ser, tantodo ponto de vista da lógica quanto da observação, um caso extremo, limite e improvável, emborailustre a pólo em direção do qual a tendência observada no caso IV pode conduzir quando aseconomias de escala são importantes. Merece talvez uma referência especial, no sentido deenfatizar que ele ilustra um caso algo bizarro em vez de uma característica geral do oligopólio,como o Professor Chamberlin poderia ter colocado15.

[6] No sexto caso, as firmas estabelecidas estão desde o começo protegidas pela condiçãode entrada bloqueada, no sentido de que o nível de preços do ramo de atividade que maximizaria

seus lucros, se elas estivessem completamente protegidas da entrada, é menor do que aquele queatrairia uma entrada posterior. As firmas estabelecidas podem seguir uma política demaximização conjunta de lucros enquanto negligenciam inteiramente a possibilidade de umaentrada induzida. Neste caso, tenderemos a ter (1) uma estrutura de mercado estável e (2) umgrande excesso de preço sobre o custo mínimo. Se significativas economias de escala estãoausentes, tenderemos a ter também uma eficiência máxima na escala das firmas e a obter lucrosextraordinários. Se significativas economias de escala se fazem presentes, os mesmos resultadosquanto à eficiência e aos lucros podem ocorrer, assim como é igualmente possível que ocorramineficiências de escala insuficiente e lucros reduzidos. Se as vantagens de diferenciação de produto das firmas estabelecidas forem estratégicas para o impedimento da entrada, pode-seantecipar em geral grandes custos de vendas para assegurar essas vantagens.

Em mercados onde há uma concentração oligopolística dos vendedores deve-se esperarque a condição de entrada tenha um impacto distinto sobre a conduta de mercado dos vendedoresestabelecidos e sobre o desempenho de mercado resultante que emerge. Pode-se estabelecer umadistinção primária entre três tipos de casos: (a) aqueles onde não há barreiras à entrada ou onde aentrada está ineficazmente impedida ao longo de qualquer progressão relevante de entrada (casosI e II); (b) aqueles onde a entrada está eficazmente impedida ou torna-se assim após a atração deuma quantidade limitada de entradas (casos III e IV); e (c)  aqueles onde a entrada ou estáinicialmente bloqueada ou aproxima-se de um limite bloqueado mediante uma sucessão regularde valores ineficazmente impeditivos (casos V e VI).

15  E. H. Chamberlin, Theory of Monopolistic Competition (Cambridge: Harvard University Press, 1933), pp. 92ss.

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 Na situação (a), a fixação oligopolística de preço levará provavelmente a umainstabilidade crônica da estrutura de mercado, desperdícios de excesso de capacidade – crônicosou periódicos – e a episódios periódicos de fixação monopolística de preços intercalados por

retornos do preço a um nível competitivo. Estabilidade a um nível de preços razoavelmentecompetitivos ocorrerá apenas se a colusão oligopolística ou o reconhecimento dainterdependência entre os vendedores forem bastante imperfeitos, ou se a atração de entradaconduzir a uma estrutura atomística que acabe permanecendo. A emergência do oligopólionesses casos (que não admitem economias de escala importantes) é potencialmente inoportuna deum ponto de vista social, mas de modo algum improvável de acontecer.

 Na situação (b), a perspectiva é de uma estrutura de mercado estável com a entradaimpedida, inicialmente ou após uma curta progressão de entrada. Encaminhar-se-ia também paraum preço de longo prazo moderadamente em excesso sobre um nível competitivo, mas menor doque seriam os preços monopolísticos na ausência de uma ameaça de entrada, e para lucrosextraordinários moderados. Se significativas economias para as firmas de grande escala não

estão envolvidas, pode-se prever a eficiência de longo prazo à escala ótima e uma ausência dedesperdício por excesso de capacidade. Se tais economias estão envolvidas, podem ou nãoocorrer afastamentos leves ou moderados da eficiência ótima, devido a escalas sub-ótimas,dependendo do caráter da condição geral de entrada.

 Na situação (c), a perspectiva é de extremos excessos monopolísticos de preço sobre ocusto mínimo com uma estrutura de mercado estável. Se as economias de escala não foremsignificativas, resultarão, do mesmo modo, lucros extraordinários e eficiência de escala ótima. Seelas forem significativas, é possível, embora não seja necessariamente provável, que desperdíciosentre moderados e severos de escala insuficiente sejam encontrados, junto com uma redução oueliminação dos lucros extraordinários.

Pode-se acrescentar a isso que a existência de barreiras à entrada baseadas na preferência

dos consumidores pelos produtos dos vendedores estabelecidos pode freqüentemente viracompanhada por gastos excessivos de venda pelas firmas estabelecidas, destinados a manteressas barreiras à entrada. Por outro lado, parece improvável que variações na condição de entradasejam a priori  determinantes importantes das variações de comportamento em mercados nãoconcentrados ou atomísticos, embora isso se deva em parte a que a entrada relativamente fácil écomum a tais mercados.

Esta previsão, e a previsão mais complexa referente aos efeitos da condição de entradaem oligopólio, merece ser testada ou verificada mediante os dados empíricos disponíveis.Mesmo que elas não possam ser plenamente testadas no presente, o arcabouço de hipótesesfornece uma base lógica para investigar quais são as reais condições de entrada em nossos ramosde atividade.

Voltemo-nos agora aos resultados empíricos de nosso estudo.