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As Revoluções Burguesas no século XVIII A primeira revolução burguesa foi a inglesa -puritana e gloriosa-, do séc. 17, que legou o parlamentarismo, a garantia dos direitos individuais, a liberdade de expressão e a tolerância religiosa asseguradas pela declaração dos direitos ("Bill of Rights"). A herança da Revolução Inglesa, as contradições entre Absolutismo e capitalismo, a sociedade de ordens e privilégios, a intolerância e o fanatismo religioso geraram no século 18 o Iluminismo, movimento filosófico, de caráter racional, antiabsolutista e anticlerical, que defendeu o fim do Absolutismo e sua substituição por governos liberais. O projeto iluminista-liberal influenciou a independência das colônias e as revoluções liberais burguesas dos séculos 18 e 19. Com base no ideário iluminista, a Revolução Francesa substituiu o Absolutismo e o mercantilismo pelo liberalismo político e econômico, a aristocracia pela burguesia no poder. Conquistou a liberdade de imprensa, de expressão e de cultos. Ao estabelecer a igualdade perante a lei, trocou o nascimento pela riqueza como critério de divisão social. A Revolução Industrial implantou a fábrica mecanizada, criou uma nova classe social, o proletariado, submetida à rígida disciplina e à intensa divisão do trabalho, gerando a fragmentação do conhecimento e a perda da criatividade pelo trabalhador. O sistema fabril desenvolveu o corpo em detrimento da mente; estimulou o progresso, mas agravou a exploração; fragmentou o trabalho, mas promoveu a concentração urbana e operária. As revoluções Francesa e Industrial consolidaram o capitalismo e, com ele, produziu-se uma série de contradições. Com a transformação da riqueza, do dinheiro e da propriedade nas bases da nova sociedade, os setores populares foram excluídos. Sob as promessas de autonomia individual, foram impostas a massificação e a disciplina operária; sob os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, impôs-se a propriedade privada, o individualismo, o culto do "ter" em detrimento do "ser". Essas contradições que provocaram greves, protestos dos trabalhadores e o surgimento de novas ideologias como o socialismo e o anarquismo no século 19. As revoluções Burguesas são um momento significativo na história

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As Revoluções Burguesas no século XVIIIA primeira revolução burguesa foi a inglesa -puritana e gloriosa-, do séc. 17, que legou o parlamentarismo, a garantia dos direitos individuais, a liberdade de expressão e a tolerância religiosa asseguradas pela declaração dos direitos ("Bill of Rights").

A herança da Revolução Inglesa, as contradições entre Absolutismo e capitalismo, a sociedade de ordens e privilégios, a intolerância e o fanatismo religioso geraram no século 18 o Iluminismo, movimento filosófico, de caráter racional, antiabsolutista e anticlerical, que defendeu o fim do Absolutismo e sua substituição por governos liberais. O projeto iluminista-liberal influenciou a independência das colônias e as revoluções liberais burguesas dos séculos 18 e 19.

Com base no ideário iluminista, a Revolução Francesa substituiu o Absolutismo e o mercantilismo pelo liberalismo político e econômico, a aristocracia pela burguesia no poder. Conquistou a liberdade de imprensa, de expressão e de cultos. Ao estabelecer a igualdade perante a lei, trocou o nascimento pela riqueza como critério de divisão social.

A Revolução Industrial implantou a fábrica mecanizada, criou uma nova classe social, o proletariado, submetida à rígida disciplina e à intensa divisão do trabalho, gerando a fragmentação do conhecimento e a perda da criatividade pelo trabalhador. O sistema fabril desenvolveu o corpo em detrimento da mente; estimulou o progresso, mas agravou a exploração; fragmentou o trabalho, mas promoveu a concentração urbana e operária.

As revoluções Francesa e Industrial consolidaram o capitalismo e, com ele, produziu-se uma série de contradições. Com a transformação da riqueza, do dinheiro e da propriedade nas bases da nova sociedade, os setores populares foram excluídos. Sob as promessas de autonomia individual, foram impostas a massificação e a disciplina operária; sob os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, impôs-se a propriedade privada, o individualismo, o culto do "ter" em detrimento do "ser". Essas contradições que provocaram greves, protestos dos trabalhadores e o surgimento de novas ideologias como o socialismo e o anarquismo no século 19.

As revoluções Burguesas são um momento significativo na história do capitalismo, na medida em que serão elas que contribuirão para abrir caminho para a superação dos resquícios feudais e, portanto, para tornar possível a consolidação do modo de produção capitalista. Tais revoluções ocorreram em vários países europeus, no entanto, neste capítulo, vai-se dar ênfase especial a duas delas: a Revolução Inglesa, ocorrida no século XVII, e a Revolução Francesa, no final do século XVIII.

Para se compreender a Revolução que ocorreu na Inglaterra, é necessário compreender o quadro social lá existente, além das questões políticas e econômicas derivadas de uma sociedade onde as forças capitalistas avançavam com rapidez, mas esbarravam numa estrutura ainda eminentemente feudal. Nesse sentido, devido à crise que ocorreu no século XVII, na Europa, e em razão do avanço dessas forças capitalistas, a Inglaterra pôde conhecer uma revolução, que boa parte dos autores considera burguesa, pelos efeitos sobre a estrutura econômica inglesa.

As razões que propiciaram a eclosão do movimento revolucionário, sumariamente são:

a) o Estado absolutista inglês (desde 1603 o governo estava nas mãos da dinastia Stuart) era,

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apesar disso, tremendamente frágil: não possuía exército permanente nem uma burocracia organizada, além de possuir rendimentos financeiros pouco expressivos; as tentativas dos reis Jaime I e Carlos I em aumentarem os impostos e terem um exército à sua disposição, eram vistas com desconfiança pelo Parlamento;

b) as condições econômicas da Inglaterra, devido ao período mercantilista. Sob o governo da dinastia Tudor (1485-1603), a Inglaterra tornou-se uma grande potência marítima. Foi também neste período que o sistema de "putting-out" ou indústria doméstica surgiu, determinando mudanças na estrutura da produção;

c) a Reforma religiosa na Inglaterra determinou a perda das terras da Igreja, que foram tomadas pelo Estado e vendidas para a burguesia e para a nova nobreza (gentry) que estavam preocupadas com o cercamento das terras para a criação de ovelhas, cuja lã atendia às manufaturas. Assim, passou a haver uma estreita associação de interesses entre a burguesia mercantil e a gentry;

d) as transformações na estrutura social, derivadas das transformações econômicas citadas acima. A diferenciação social entre cidade e campo era bastante nítida. No campo estavam os Pares (aristocracia, ou alta nobreza, essencialmente feudal); a gentry (nobreza de status); os yeomen (pequenos e médios proprietários rurais); os arrendatários e os jornaleiros. Havia ainda, nas cidades, os elementos ligados 1as corporações de ofícios.

A Revolução Inglesa tem início no governo de Carlos I (1625-1640), devido às tentativas desse rei em aumentar os impostos. Em 1637 ele lançou o "ship money", e a população se rebelou. Paralelamente, a monarquia procurava restringir os cercamentos, afastar a gentry da Corte e reforçar os privilégios dos Pares. Os protestos do Parlamento levaram Carlos I a dissolvê-lo, convocando um outro, que ficou conhecido como Short Parliement (Parlamento Curto), logo dissolvido por se recusar a permitir novos impostos. O parlamento convocado logo a seguir, conhecido como Long Parliament (Parlamento Longo), toma atitudes drásticas: depõe o primeiro-ministro, revoga os impostos que o rei havia decretado e estabelece que apenas o Parlamento poderia se autodissolver; o rei não poderia mais tomar tal atitude.

Em 1640, para vencer os irlandeses, o rei organiza um exército próprio, que será levado a lutar contra o Parlamento. Tem início a Revolução, que passa pelas seguintes etapas:

a) 1640-42 - a Grande Rebelião. O Longo Parlamento toma atitudes (como as citadas acima) francamente hostis ao monarca.

b) 1642-48 - a Guerra Civil. Do lado do rei alinham-se anglicanos e católicos, portanto, essencialmente os Pares e alguns setores da gentry, principalmente os das regiões Norte e Oeste da Inglaterra; aolado do Parlamento encontramos presbiterianos e seitas radicais; os yeomen, a burguesia mercantil e setores dda gentry, especialmente os do Sul e do Leste da Inglaterra. A vitória do Parlamento só se tornou possível pela organização do New Model Army (Novo exército modelo), de Cromwell. Foi graças a esse exército, onde a promoção ao oficialato se fazia pelo mérito, que o Parlamento conseguiu vencer as tropas reais. Após a prisão do rei, surgiram conflitos entre os vencedores, pois alguns defendiam a condenação à morte do rei (radicais), enquanto os moderados insistiam na continuação da monarquia. Os radicais conseguiram se impor e Carlos I foi condenado.

c) 1648-58 - a República de Cromwell. Oliver Cromwell esmagou violentamente os movimentos

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radicais dentro do exército (niveladores e cavadores, cujas ideias serão examinadas no texto de aprofundamento); decretou os Atos de Navegação que consolidaram a marinha inglesa e permitiram, em breve, à Inglaterra dominar os mercados mundiais; seu governo era uma república ditatorial, denominada Protetorado.

d) 1658-60 - o fim da da República.Após a morte de Cromwell, seu filho Richard foi deposto pelo exército, num golpe tramado pelo Parlamento. Optou-se pela restauração da dinastia Stuart.

e) 1660-88 - a restauração Stuart.O Parlamento é depurado dos elementos radicais. Tenta-se a monarquia limitada, mas quando Jaime II tenta restaurar o absolutismo e o catolicismo a situação chega ao limite.

f) 1688-89 - a Revolução Gloriosa. Esta "revolução" nada mais foi do que um golpe do Parlamento contra Jaime II. Colocando no poder Guilherme de Orange, um genro de Jaime II, a gentry e a burguesia, na realidade, estão assumindo o poder, uma vez que pelo "Bill of Rights" (Declaração de Direitos), de 1689, fica definitivamente limitado o poder monárquico na Inglaterra, caminhando-se, portanto, para a instalação do Parlamentarismo.

No inicio do século XIX, os burgueses encontram-se num período ascendente. Observa-se o seu progresso político, econômico e social. Duas idéias acentuadamente defendidas: o liberalismo e o nacionalismo.

Como ideologia burguesa que se opõe ao absolutismo, o liberalismo propõe a valorização individual do homem, a partir do momento em que defende os direitos ou liberdades de pensamento e expressão.

Com a revolução industrial, a burguesia torna-se a classe economicamente dominante. Apesar de o proletariado ter lutado ao seu lado, na Revolução Francesa, contra o regime absolutista e ter desempenhado papel fundamental na transformação da sociedade, é a burguesia que se apodera de todos os privilégios.

Por esta breve síntese, pode-se perceber por que a Revolução Inglesa é considerada uma revolução burguesa. Foi ela, na realidade, que abriu as condições para a instauração do modo de produção capitalista, via Revolução Industrial, na medida em que estabeleceu a plena prosperidade privada sobre a terra, permitiu à marinha inglesa controle sobre os mercados mundiais e, ao intensificar os cercamentos, proletarizou uma grande massa de pessoas.

IluminismoO século XVIII assistiu a uma revolução intelectual de enorme importância na História da Humanidade. A ela foi dado o nome de iluminismo ou filosofia das Luzes (na Península Ibérica, recebeu o nome de Ilustração). Por essa razão, o século XVIII é também conhecido como o Século das Luzes.

O progresso do pensamento filosófico e dos conhecimentos científicos durante o século XVII despertaria, na centúria seguinte, um grande interesse pelos estudos sociais, políticos e econômicos. Mas o fator essencial para o surgimento do iluminismo foi o descontentamento da burguesia com a estrutura vigente.

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A Inglaterra havia superado o Antigo Regime graças à Revolução Gloriosa de 1688. Na Europa Continental, porém, continuava a predominar a estrutura baseada no absolutismo por direito divino, no mercantilismo e na sociedade de ordens. Ora, em países como a França ou a Alemanha (esta última dividida em inúmeros Estados), a mesma burguesia, que antes apoiara o fortalecimento do poder real e a intervenção do governo na economia, voltava-se agora contra essas práticas. A razão principal para tal mudança de atitude foi a riqueza acumulada pelos burgueses, que os fazia almejar uma participação no governo e nas decisões sobre política econômica.

Basicamente, o iluminismo representou as aspirações e interesses da burguesia no século XVIII. A filosofia iluminista direcionava-se para objetivos práticos, visando reformar as instituições políticas, sociais e econômicas para levar a sociedade humana à felicidade. Por isso atacava a intolerância, os privilégios da nobreza e do clero e, sobretudo, a falta de liberdade.

O iluminismo repercutiu em todo o Mundo Ocidental, inclusive nas Américas. Seu centro irradiador foi a França, onde os elementos que embasavam o Antigo Regime passaram a sofrer maior contestação.

Concepções fundamentais do iluminismo

As ideias iluministas caracterizavam-se por alguns princípios fundamentais, a saber: o racionalismo, o naturalismo, o liberalismo, a igualdade perante a lei e o anticlericalismo. Examinemo-los.

O racionalismo consiste na ênfase dada ao uso da razão. Os iluministas rejeitavam o pensamento teológico, buscando para tudo uma explicação racional. Não obstante, afirmavam que a razão somente seria utilizada corretamente se fosse iluminada (ou esclarecida) pelas luzes do conhecimento. Portanto, uma pessoa ignorante não saberia usar a própria razão. Daí a afirmação, recorrente entre os filósofos do período, de que o governo seria exercido pela minoria esclarecida (ou seja, pela burguesia).

O naturalismo dos iluministas refletia sua crença na perfeição da Natureza. Esta deveria ser imitada pela sociedade humana, dentro da interpretação - feita pelos iluministas - do que seria natural. Assim, da mesma forma que os fenômenos da Natureza são regidos por leis determinadas, também as relações entre os homens deveriam ser reguladas por normas naturais. Encaixa-se nessa linha de pensamento a afirmação de que o homem possui direitos naturais, retomando, nos aspectos político e social, o antigo conceito romano de Jus Naturale.

O liberalismo é o reconhecimento da liberdade como um direito natural do homem. Essa liberdade se exerceria nos níveis político, econômico e intelectual, o que levava os iluministas a condenar o absolutismo, o intervencionismo e a intolerância. Mas não se tratava de uma liberdade absoluta, sendo limitada pelos valores morais e pelo respeito aos direitos dos demais integrantes do corpo social.

A igualdade dos homens perante a lei. Dentro desse raciocínio, a lei não poderia privilegiar alguém com base em seu nascimento ou condição social. Todavia, a igualdade defendida pelos iluministas era apenas civil (ou jurídica), não se estendendo ao plano econômico; e também não eliminava o menosprezo que a burguesia sentia em relação às classes populares.

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O anticlericalismo foi também uma característica do iluminismo. Quase todos os filósofos do período eram teístas, isto é, acreditavam em um Deus criador do Universo. Mas voltavam-se contra a Igreja (especialmente a Igreja Católica) por dois motivos principais: um era filosófico (a Igreja colocava a fé acima da razão); o outro, político-ideológico (a Igreja apoiava o absolutismo, justificando-o pela teoria do direito divino). Havia ainda um argumento de ordem racional: se Deus está presente na Natureza, a Igreja torna-se uma instituição dispensável. Para o homem cumprir os desígnios divinos, bastaria ter uma vida virtuosa, sem se ater a crenças e rituais.

Principais filósofos iluministas

O inglês John Locke (1632-1704) é considerado o "Pai do Iluminismo". Em seus dois Tratados sobre o governo civil (1690), posicionou-se frontalmente contra o absolutismo, defendendo a ideia de que o governo deve representar os cidadãos (entendidos como os membros das classes domi-nantes). Foi ele o primeiro pensador moderno a afirmar serem os indivíduos possuidores de certos direitos naturais, que o Estado tem obrigação de respeitar.

Voltaire: um dos principais filósofos do Iluminismo.Voltaire (pseudômino de François-Marie Arouet) celebrizou-se por suas contundentes críticas à tradição e à religião.Os principais filósofos iluministas nasceram na França ou viveram nela. Foram eles Voltaire, Montesquieu, Diderot e Rousseau (este último nascido na Suíça).

Voltaire (1694-1778) foi o mais destacado representante do iluminismo, graças a seus dotes literários, que lhe granjearam grande prestígio entre os leitores. Escreveu numerosas peças teatrais, romances, contos e poemas, e em muitos deles veiculou suas ideias. Em 1734, publicou as Cartas Inglesas ou Filosóficas, nas quais elogiava as liberdades vigentes na Inglaterra e atacava o absolutismo e a intolerância. Obrigado a deixar a França, nunca mais voltou, vindo a falecer na Suíça. Voltaire foi um feroz adversário da Igreja, sobretudo dos jesuítas. Até sua morte, exerceu extraordinária influência, inclusive sobre os setores intelectualizados da aristocracia europeia. Sua obra mais importante é o Dicionário Filosófico (1764).

Diderot (1713-1784), juntamente com o matemático d'Alembert (1717-1783), dirigiu a elaboração da Enciclopédia, obra em 35 volumes, publicados entre 1751 e 1772. Esse trabalho monumental, que contou com cerca de 150 colaboradores, procurou abarcar todos os conhecimentos da época e, ao mesmo tempo, difundir as concepções iluministas. O governo francês chegou a proibir sua divulgação em duas ocasiões, mas em vão.

Retrato de Montesquieu, pensador iluministaMontesquieu, um dos mais brilhantes filósofos do século XVIII.Montesquieu (1689-1755) publicou em 1748 sua obra maior: O espírito das leis. Nela, estudou as diversas formas de governo, destacando a monarquia parlamentar inglesa. Sua grande contribuição para as ideias políticas foi a teoria da tripartição de poderes, segundo a qual o governo deve ser dividido em Executivo, Legislativo e Judiciário. O equilíbrio entre os poderes impediria a tirania e garantiria os direitos e liberdades dos cidadãos.

Rousseau (1712-1778) constitui um caso à parte dentro do iluminismo. Concordava com os pensadores do período na defesa da liberdade e na valorização da Natureza. Mas, ao contrário dos

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outros, que eram monarquistas liberais, foi um partidário ardoroso da democracia. Em seu livro O contrato social, afirmava ser o Estado o representante da vontade geral, isto é, da maioria dos cidadãos (entendidos como o conjunto da sociedade, ou seja, o povo). Portanto, o poder político repousaria sobre o povo, que, em última análise, seria a autoridade suprema (esse raciocínio teria grande influência na fase popular da Revolução Francesa). Contrariando o racionalismo dos demais iluministas, Rousseau defendia o predomínio dos sentimentos, afirmando que o homem no estado da Natureza é bom ("A sociedade o corrompe"); essas ideias colocam-no como precursor do romantismo.

Dois outros livros de Rousseau são também importantes: Emílio, no qual propôs uma nova pedagogia, baseada na liberdade do educando, e Discurso sobre a origem da desigualdade, que antecipou os socialistas na crítica à propriedade privada.

Os economistas

Os pensadores iluministas abordaram sobretudo questões filosóficas ou problemas políticos e sociais. Mas uma parcela deles concentrou-se nos estudos econômicos, ficando por isso conhecida pela designação de os economistas. Estes combatiam o mercantilismo, que vinha a ser a vertente econômica do Antigo Regime, e defendiam a liberdade econômica (em francês: laissez-faire / "deixai fazer"). Consideravam a regulamentação exagerada, as tarifas alfandegárias e o excesso de impostos como entraves ao progresso. Para eles, o Estado não deveria intervir na economia, a não ser para garantir a propriedade privada e o livre curso das atividades produtivas. Criticavam igualmente o metalismo mercantilista, mas dividiam-se a respeito do que deveria substituir o ouro como base da riqueza nacional.

Os franceses Quesnay, Gournay e Turgot afirmavam que a principal atividade produtiva é a agricultura, cabendo à indústria e ao comércio um papel secundário. Segundo eles, a riqueza de cada país dependeria de sua maior ou menor disponibilidade de recursos naturais. Essa posição valeu-lhes a denominação de fisiocratas (partidários do governo da Natureza).

O escocês Adam Smith (1723-1790) concordava com as críticas dos fisiocratas ao mercantilismo e defendia a liberdade econômica. Entretanto, por ter vivenciado a Revolução Industrial na Inglaterra, divergia dos demais economistas sobre qual seria a base da riqueza, em substituição à teoria metalista. Enquanto os fisiocratas valorizavam os recursos naturais, Adam Smith sustentava que o trabalho (entendido como atividade técnica) era a verdadeira fonte da prosperidade. Suas ideias estão expostas em uma obra essencial, intitulada A riqueza das nações (1765).

A economia deveria, pois, fluir livremente e produzir riqueza, guiada apenas por aquilo que Adam Smith chamava de "a mão invisível", isto é, a relação natural existente entre as forças econômicas. Essa formulação teórica propiciou, ao economista escocês, o título de "Pai do Liberalismo Econômico".

Bibliografia: Coleção Os Pensadores, Editora Abril, Livro XXIV.