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1 As Sociedades de Profissionais Oliveira, Gamboa & Associados, Sociedade de Advogados, R.L. As Sociedades de Profissionais Por aplicação do Artigo 6.º do CIRC, alterado pela Lei n.º 2/2014, de 16 de Janeiro (Reforma do IRC) A. Conceito O Artigo 6.º do Código do IRC (doravante “CIRC”) vem explicitar o conceito de aplicação do regime da transparência fiscal às denominadas “sociedade de profissionais”. Significa isto que é imputada aos sócios 1 - integrando-se no seu rendimento tributável para efeitos de IRS ou IRC (consoante o sócio seja pessoa singular ou colectiva) - a matéria colectável determinada por aplicação dos princípios do IRC, de determinadas sociedades, mesmo que não se tenha verificado qualquer tipo de distribuição de lucros. Ou seja, imputa-se directamente aos sócios os resultados obtidos pelas suas sociedades, mesmo que aqueles não tenham recebido lucros. O legislador, com a aplicação deste regime, visou alcançar determinados objectivos: (i.) combater a evasão fiscal, de modo a que não fossem constituídas sociedades por profissionais com o único intuito de evitar serem tributados em sede de IRS, com uma taxa superior à do IRC; (ii.) aplicar o princípio da neutralidade fiscal, tendo em consideração a desconsideração da forma jurídica ou tipo societário utilizados; e (iii.) eliminar a dupla tributação, já que a única tributação imputada aos rendimentos será aquela que tem origem no rendimento gerado nos sócios. Noe-se, no entanto, que as entidades que se encontram sujeitas ao regime da transparência fiscal, das quais, para efeito de análise, apenas destacaremos as sociedades de profissionais, apesar de não serem tributadas em sede de IRC, são sujeitos passivos deste imposto, o que significa que a matéria colectável - ou prejuízo - apurados no final do exercício fiscal são calculados de acordo com as normas, princípios e regras do CIRC e não do CIRS. Quer isto dizer que tais entidades, não obstante -reitere-se - não serem tributadas em sede de IRC, se encontram obrigadas ao 1 Latu sensu, isto é, detentores de participações sociais em sociedade por quotas e anónimas: sócios e accionistas. As Sociedades de Profissionais Bruno Morgado Oliveira 3 de Abril de 2014

As Sociedades de Profissionais Por aplicação do Artigo 6 ... · 4 As Sociedades de Profissionais Oliveira, Gamboa & Associados, Sociedade de Advogados, R.L. A resposta não é certa,

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1 As Sociedades de Profissionais

Oliveira, Gamboa & Associados, Sociedade de Advogados, R.L.

As Sociedades de Profissionais

Por aplicação do Artigo 6.º do CIRC, alterado pela Lei n.º 2/2014, de 16 de Janeiro

(Reforma do IRC)

A. Conceito O Artigo 6.º do Código do IRC (doravante “CIRC”) vem explicitar o conceito de aplicação do

regime da transparência fiscal às denominadas “sociedade de profissionais”. Significa isto que é

imputada aos sócios1 - integrando-se no seu rendimento tributável para efeitos de IRS ou IRC

(consoante o sócio seja pessoa singular ou colectiva) - a matéria colectável determinada por

aplicação dos princípios do IRC, de determinadas sociedades, mesmo que não se tenha verificado

qualquer tipo de distribuição de lucros. Ou seja, imputa-se directamente aos sócios os resultados

obtidos pelas suas sociedades, mesmo que aqueles não tenham recebido lucros.

O legislador, com a aplicação deste regime, visou alcançar determinados objectivos: (i.) combater

a evasão fiscal, de modo a que não fossem constituídas sociedades por profissionais com o único

intuito de evitar serem tributados em sede de IRS, com uma taxa superior à do IRC; (ii.) aplicar o

princípio da neutralidade fiscal, tendo em consideração a desconsideração da forma jurídica ou

tipo societário utilizados; e (iii.) eliminar a dupla tributação, já que a única tributação imputada aos

rendimentos será aquela que tem origem no rendimento gerado nos sócios.

Noe-se, no entanto, que as entidades que se encontram sujeitas ao regime da transparência fiscal,

das quais, para efeito de análise, apenas destacaremos as sociedades de profissionais, apesar de

não serem tributadas em sede de IRC, são sujeitos passivos deste imposto, o que significa que a

matéria colectável - ou prejuízo - apurados no final do exercício fiscal são calculados de acordo

com as normas, princípios e regras do CIRC e não do CIRS. Quer isto dizer que tais entidades, não

obstante -reitere-se - não serem tributadas em sede de IRC, se encontram obrigadas ao

1 Latu sensu, isto é, detentores de participações sociais em sociedade por quotas e anónimas: sócios e accionistas.

As Sociedades de Profissionais

Bruno Morgado Oliveira

3 de Abril de 2014

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cumprimento de todas as regras declarativas, acessórias e contabilísticas que as restantes

entidades sujeitas à tributação em IRC.

B. As sociedades de profissionais objecto do regime da transparência fiscal Nos termos da nova redação do Artigo 6.º, n.º 4, a) do CIRC são:

a) Sociedade de profissionais:

1) A sociedade constituída para o exercício de uma atividade profissional especificamente

prevista na lista de atividades a que se refere o artigo 151.º do Código do IRS2, na qual

todos os sócios pessoas singulares sejam profissionais dessa atividade; ou,

2) A sociedade cujos rendimentos provenham, em mais de 75%, do exercício conjunto ou

isolado de atividades profissionais especificamente previstas na lista constante do artigo

151.º do Código do IRS, desde que, cumulativamente, em qualquer dia do período de

tributação, o número de sócios não seja superior a cinco, nenhum deles seja pessoa

coletiva de direito público e, pelo menos, 75% do capital social seja detido por

profissionais que exercem as referidas atividades, total ou parcialmente, através da

sociedade;

O conceito previsto em 1) supra não sofreu qualquer alteração, pelo que nos escusamos a

explicações adicionais. No entanto, o aditamento efectuado em 2) é um conceito

inteiramente novo, mais abrangente, que urge decompor. Estamos na presença de uma

sociedade de profissionais - logo abrangida pelo regime da transparência fiscal - quando:

(A) [os seus rendimentos provenham, em mais de 75%, do exercício conjunto ou isolado

de atividades profissionais especificamente previstas na lista constante do artigo 151.º do

Código do IRS] + (A1) [em qualquer dia do período de tributação, o número de sócios

não seja superior a cinco] + (A2) [nenhum deles seja pessoa coletiva de direito público] +

(A3) [pelo menos, 75% do capital social seja detido por profissionais que exercem as

referidas atividades, total ou parcialmente, através da sociedade].

2 Vide Anexo 1.

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Ou seja, como estamos na presença de requisitos cumulativos, todos os requisitos têm de

se encontrar preenchidos para que este conceito se aplique, o que significa, a contrario

sensu, que basta que um dos requisitos não se encontre preenchido para que o conceito

não se aplique. Exemplificando:

Basta que:

(A) [os rendimentos da sociedade provenham, em menos de 75% (74,99%), do exercício

conjunto ou isolado de atividades profissionais especificamente previstas na lista

constante do artigo 151.º do Código do IRS] ou [os rendimentos da sociedade provenham

do exercício conjunto ou isolado de atividades profissionais que não se encontrem

especificamente previstas na lista constante do artigo 151.º do Código do IRS];

(A1) [em qualquer dia do período de tributação, o número de sócios seja superior a

cinco];

(A2) [pelo menos um dos sócios seja pessoa coletiva de direito público]; ou

(A3) [menos de 75% (74,99%) do capital social seja detido por profissionais que exercem

as referidas atividades, total ou parcialmente, através da sociedade] ou

[independentemente da percentagem de capital social, este seja detido por profissionais

que não exerçam as referidas atividades, total ou parcialmente, através da sociedade],

para não estarmos na presença de uma sociedade de profissionais abrangida pelo regime

da transparência fiscal.

C. Interpretação A propósito da interpretação dos requisitos deste conceito, é apenas natural que surja

com frequência a seguinte pergunta: A minha sociedade tem cinco (ou menos) sócios.

Basta que se encontrem preenchidos os demais requisitos mencionados em 2) supra na

data de entrada em vigor desta Lei 2/2014 para que seja considerada sujeita à

transparência fiscal durante o ano fiscal de 2014?

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A resposta não é certa, depende da interpretação que se faça da expressão do requisito

(A1) “em qualquer dia do período de tributação, o número de sócios não seja superior a

cinco”.

Dever-se-á entender que basta que a sociedade tenha cinco sócios ou menos em qualquer

dia do período de tributação para que esteja sujeita à transparência fiscal durante tal

período, numa interpretação literal do conceito ou, como afirma Abílio Sousa por analogia

às sociedades de simples administração de bens3, basta que num qualquer dia do período

de tributação o número de sócios seja superior a cinco para não estarmos na presença de

uma sociedade de transparência fiscal?

Parece-nos que apenas o tempo o dirá. Enquanto não existirem pareceres da Autoridade

Tributária, respostas a Pedidos de Informações Vinculativas e a subsequente doutrina e

jurisprudência associada a esta matéria, a resposta será, pela sua falta de rigor

terminológico, no mínimo, debatível.

Não obstante o exposto, quer-nos parecer, por uma questão de salvaguarda, que quem

não pretenda que a sociedade de que é sócio, seja abrangida pela extensão do conceito

de sociedades de profissionais tal como mencionado no ponto 2) do Artigo 6.º, n.º 4, a)

do CIRC e, como tal, objecto de aplicação do regime da transparência fiscal, deve

promover os actos necessários para que os requisitos cumulativos não se preencham,

desde que, naturalmente, tais actos sejam efectuados em cumprimentos com todas as

regras e princípios fiscais e legais aplicáveis.

3 Mencionadas na alínea b) do n.º 1 do Artigo 6.º do CIRC.

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Contactos

Advogado:

Bruno Morgado Oliveira

Telemóvel: +351 966 769 856

E-mail: [email protected]

Oliveira, Gamboa & Associados, Sociedade de Advogados, R.L.

Sociedade inscrita na Ordem dos Advogados sob o n.º 38/09

NIPC: 509069355

Estrada da Outurela, n.º 121

Edifício Strapex

2794-051 Carnaxide, Portugal

Telefone: (+351) 214 16 18 29

Fax: (+351) 210 43 58 94

E-mail: [email protected]

Sítio de Internet: www.oga.pt

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Anexo 1

Tabela de actividades do artigo 151.º do CIRS

1 - Arquitectos, engenheiros e técnicos similares:

1000 Agentes técnicos de engenharia e arquitectura;

1001 Arquitectos;

1002 Desenhadores;

1003 Engenheiros;

1004 Engenheiros técnicos;

1005 Geólogos;

1006 Topógrafos.

2 - Artistas plásticos e assimilados, actores e músicos:

2010 Artistas de teatro, bailado, cinema, rádio e televisão;

2011 Artistas de circo;

2019 Cantores;

2012 Escultores;

2013 Músicos;

2014 Pintores;

2015 Outros artistas.

3 - Artistas tauromáquicos:

3010 Toureiros;

3019 Outros artistas tauromáquicos.

4 - Economistas, contabilistas, actuários e técnicos similares:

4010 Actuários;

4011 Auditores;

4012 Consultores fiscais;

4013 Contabilistas;

4014 Economistas;

4015 Técnicos oficiais de contas;

4016 Técnicos similares.

5 - Enfermeiros, parteiras e outros técnicos paramédicos:

5010 Enfermeiros;

5012 Fisioterapeutas;

5013 Nutricionistas;

5014 Parteiras;

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5015 Terapeutas da fala;

5016 Terapeutas ocupacionais;

5019 Outros técnicos paramédicos.

6 - Juristas e solicitadores:

6010 Advogados;

6011 Jurisconsultos;

6012 Solicitadores.

7 - Médicos e dentistas:

7010 Dentistas;

7011 Médicos analistas;

7012 Médicos cirurgiões;

7013 Médicos de bordo em navios;

7014 Médicos de clínica geral;

7015 Médicos dentistas;

7016 Médicos estomatologistas;

7017 Médicos fisiatras;

7018 Médicos gastroenterologistas;

7019 Médicos oftalmologistas;

7020 Médicos ortopedistas;

7021 Médicos otorrinolaringologistas;

7022 Médicos pediatras;

7023 Médicos radiologistas;

7024 Médicos de outras especialidades.

8 - Professores e técnicos similares:

8010 Explicadores;

8011 Formadores;

8012 Professores.

9 - Profissionais dependentes de nomeação oficial:

9010 Revisores oficiais de contas;

9011 Notários.

10 - Psicólogos e sociólogos:

1010 Psicólogos;

1011 Sociólogos.

11 - Químicos:

1110 Analistas.

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12 - Sacerdotes:

1210 Sacerdotes de qualquer religião.

13 - Outras pessoas exercendo profissões liberais, técnicos e assimilados:

1310 Administradores de bens;

1311 Ajudantes familiares;

1312 Amas;

1313 Analistas de sistemas;

1314 Arqueólogos;

1315 Assistentes sociais;

1316 Astrólogos;

1317 Parapsicólogos;

1318 Biólogos;

1319 Comissionistas;

1320 Consultores;

1321 Dactilógrafos;

1322 Decoradores;

1323 Desportistas;

1324 Engomadores;

1325 Esteticistas, manicuras e pedicuras;

1326 Guias-intérpretes;

1327 Jornalistas e repórteres;

1328 Louvados;

1329 Massagistas;

1330 Mediadores imobiliários;

1331 Peritos-avaliadores;

1332 Programadores informáticos;

1333 Publicitários;

1334 Tradutores;

1335 Farmacêuticos.

14 - Veterinários:

1410 Veterinários.

15 - Outras actividades exclusivamente de prestação de serviços:

1519 Outros prestadores de serviços.