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ASPECTOS ERGONÔMICOS DO TRABALHO DOS INSTRUTORES DE ACADEMIAS DA CIDADE DE ANGICOS/RN Angledja Nautchelli Cunha de Medeiros [email protected] Fabrícia Nascimento de Oliveira [email protected] Adriana Georgia Borges Soares [email protected] Marcos Antônio Araújo da Costa [email protected] Jefferson Souza Medeiros [email protected] As atividades realizadas nas academias de exercícios físicos pelos instrutores exigem esforços musculares, posturas na realização dos exercícios, repetição, levantamento de peso e precisão dos movimentos, com isso, o profissional fica susceptível a lesões musculares e riscos no local de trabalho. Objetivou-se nessa pesquisa identificar aspectos ergonômicos que envolvem o profissional de educação física nas academias. Para atingir esse objetivo, foi elaborado e aplicado um formulário com doze instrutores de seis academias de Angicos/RN. O formulário constou de 18 perguntas, sendo 12 abordando os aspectos relativos à ergonomia e 6 a cerca dos fatores ocupacionais. Também foram realizadas observações acompanhadas de registros fotográficos para melhor demonstrar as posturas e condições do ambiente de trabalho. Assim, todos os entrevistados afirmaram que o trabalho requer movimentos em um ritmo intenso e repetitivo; 66,7% disseram sentir cansaço físico durante o trabalho; 83,3% relataram que passam muito tempo em pé comandando o funcionamento das aulas, orientando, supervisionando e controlando os alunos; 50% consideram o nível de ruído alto no ambiente de trabalho e acham as academias quentes. Dessa forma, pode-se perceber a ausência de certos conhecimentos por parte dos instrutores em relação aos aspectos ergonômicos e a ausência também, de controle quanto à ação de agentes causadores de danos no ambiente de trabalho, como calor e ruído. Palavras-chave: Educador físico, ergonomia, Fatores ocupacionais, Ambiente de Trabalho XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil” Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

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ASPECTOS ERGONÔMICOS DO

TRABALHO DOS INSTRUTORES DE

ACADEMIAS DA CIDADE DE

ANGICOS/RN

Angledja Nautchelli Cunha de Medeiros

[email protected]

Fabrícia Nascimento de Oliveira

[email protected]

Adriana Georgia Borges Soares

[email protected]

Marcos Antônio Araújo da Costa

[email protected]

Jefferson Souza Medeiros

[email protected]

As atividades realizadas nas academias de exercícios físicos pelos

instrutores exigem esforços musculares, posturas na realização dos

exercícios, repetição, levantamento de peso e precisão dos movimentos,

com isso, o profissional fica susceptível a lesões musculares e riscos no

local de trabalho. Objetivou-se nessa pesquisa identificar aspectos

ergonômicos que envolvem o profissional de educação física nas

academias. Para atingir esse objetivo, foi elaborado e aplicado um

formulário com doze instrutores de seis academias de Angicos/RN. O

formulário constou de 18 perguntas, sendo 12 abordando os aspectos

relativos à ergonomia e 6 a cerca dos fatores ocupacionais. Também

foram realizadas observações acompanhadas de registros fotográficos

para melhor demonstrar as posturas e condições do ambiente de

trabalho. Assim, todos os entrevistados afirmaram que o trabalho

requer movimentos em um ritmo intenso e repetitivo; 66,7% disseram

sentir cansaço físico durante o trabalho; 83,3% relataram que passam

muito tempo em pé comandando o funcionamento das aulas,

orientando, supervisionando e controlando os alunos; 50% consideram

o nível de ruído alto no ambiente de trabalho e acham as academias

quentes. Dessa forma, pode-se perceber a ausência de certos

conhecimentos por parte dos instrutores em relação aos aspectos

ergonômicos e a ausência também, de controle quanto à ação de

agentes causadores de danos no ambiente de trabalho, como calor e

ruído.

Palavras-chave: Educador físico, ergonomia, Fatores ocupacionais,

Ambiente de Trabalho

XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

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1. Introdução

Cada vez mais as pessoas estão procurando as academias para realização de práticas de

atividades físicas com o propósito de melhorar a qualidade de vida e bem estar. O

aluno/usuário busca esses ambientes para ser orientado de forma correta nos exercícios físicos

por profissionais habilitados e assim atingir os objetivos pessoais, mas para o instrutor é o seu

local de trabalho (SIMÕES et al., 2011).

As particularidades do cargo do educador físico expõe esse profissional a diferentes posturas

durante as orientações dos exercícios. Para os treinos livres é utilizada a postura em pé como

o agachamento, avanço, stif, dentre outras; já as atividades com máquinas exigem do treinador

posturas sentada tipo a legpress, flexão e extensão de pernas. Batizet, Galo e Souza (2006)

dizem que, quando o trabalhador manuseia o levantamento de peso durante os exercícios ou

executam o treinamento de forma errada surgem dores na coluna e na lombar.

Além do levantamento de peso, posturas inadequadas, jornada de trabalho prolongada e

movimentos repetitivos que causam prejuízos à saúde e segurança desses trabalhadores,

existem outros fatores, como ruído e calor, que também estão presentes nas academias,

gerando às vezes desconforto aos instrutores e alunos que frequentam esses ambientes

(MEDEIROS, 2014).

A música nos ambientes das academias é fundamental, motivando os alunos nos exercícios

físicos, porém, se os níveis de ruídos, ocasionados pelo aparelho de som ultrapassar os limites

toleráveis podem causar sérios problemas de saúde. Conforme Andrade e Russo (2010) os

profissionais, procurando incentivar melhor atuação dos alunos durante os treinos, não

percebem o ruído elevado do equipamento de som.

Amaral (2010) ressalta que durante uma jornada de trabalho, o empregado pode adquirir

centenas de posturas diferentes, onde vários músculos são acionados. Considerando isso, o

intuito da ergonomia é ajustar o ambiente laboral ao trabalhador, buscando melhorias no local

de trabalho e diminuindo os acidentes.

Há muito que estudar sobre a ergonomia nos ambientes laborais dos profissionais de

academias de atividades físicas, tanto no campo da pesquisa, quanto na aplicação destes

conhecimentos no posto de trabalho, por isso, esse trabalho tem por objetivo apresentar um

estudo referente aos aspectos ergonômicos a serem considerados no ambiente de trabalho dos

instrutores, indagando se esses trabalhadores possuem conhecimento sobre a ergonomia e

demais fatores ambientais analisados nesse trabalho, como calor e ruído.

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2. Fundamentação teórica

2.1. Profissional de educação física

O professor de educação física tem um papel muito importante para incentivar o bem-estar e

hábitos saudáveis a população, mas esse profissional que estimula o exercício físico como um

caminho para uma boa qualidade de vida muitas vezes não pratica qualquer atividade física

por não ter tempo, devido à carga horária prolongada, ou por falta de encorajamento por causa

do cansaço (VALENTE, 2007).

De acordo com Sumariva e Ouriques (2010) para uma boa atuação no trabalho e na vida, o

profissional de educação física precisa ter uma qualidade de vida favorável. Simões et al.

(2011) apontam problemas na qualidade de vida desses trabalhadores devido aos níveis de

ruídos gerados no local de trabalho causando problemas relacionados a saúde auditiva e vocal.

O instrutor de musculação fica mais tempo exposto ao ruído produzido pelo aparelho de som,

esteira e outros barulhos relacionados às aulas grupais, do que o aluno que vai malhar uma ou

duas horas por dia.

Na musculação são utilizados vários tipos de treinamentos, como sistema de séries simples,

séries múltiplas, pirâmides crescente ou decrescente, treino de força, séries alternadas,

exaustão, dentre outros. Mota et al. (2002) relatam que o treino praticado na musculação é

bastante intenso e se esses forem conduzidos até a exaustão surgem variações de tensão no

músculo excitado.

Conforme Toscano (2001) nos locais das academias os profissional da área irão determinar,

orientar e examinar os exercícios. Todavia, esses locais oferecem riscos ocupacionais,

comprometendo a saúde, segurança e conforto do trabalhador (SILVA et al., 2007).

2.2. Ergonomia

Segundo Santos et al. (2008) a ergonomia é uma área de estudo que se preocupa com a saúde

segurança e conforto do ser humano, eficiência na produção e avanço na melhoria do produto.

A ergonomia objetiva estudar, orientar e conduzir um bom relacionamento entre homem,

máquina e ambiente, para que eles possam funcionar em harmonia gerando desempenho

satisfatório (IIDA, 2010).

Assim, existe uma interface entre o profissional de educação física e a ergonomia, uma vez

que os preceitos de eficiência e segurança são comuns entre eles. Alguns estudos ergonômicos

vêm sendo realizados nos ambiente das academias, como os executados por Anaruma e

Casarotto (1996) que verificaram o levantamento de peso, os aspectos biomecânicos dos

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movimentos praticados pelos instrutores durante os exercícios e a duração da postura sentada

e em pé.

De acordo com Brasil (2002) a duração de uma postura tem que ser o mais curto possível,

pois os prejuízos vão depender da duração e da quantidade de vezes que ela foi realizada

durante o dia de serviço. Conforme Dul e Weerdmeester (2004) as posições de longa duração

podem ocasionar danos nos músculos e articulações, daí a necessidade de alternância entre as

posturas em pé e sentado.

Os riscos que fazem parte do dia a dia de um instrutor de musculação estão relacionados a

levantar, carregar, puxar e empurrar pesos, que quando realizados de forma errônea geram

problemas como dores na coluna vertebral, braços, pernas, pescoço e em outras partes do

sistema músculo esquelético (MEDEIROS, 2014).

2.3. Fatores ocupacionais

Para Iida (2010) uma das origens de conflito no trabalho são os fatores ocupacionais

desfavoráveis, como ruído, excesso de calor e má iluminação. Cada fator tem níveis de

nocividades diferentes de acordo com o trabalho, função e atividade. Compete a quem vai

executar o projeto verificar e tomar medidas para que o trabalhador fique o mais distante

possível dessas situações de risco.

Um dos aspectos importantes que devem ser considerados no local de trabalho é o ruído, que

para Dul e Weerdmeester (2004) quando esse está acima dos limites de tolerância pode, com

o tempo, causar perda ou diminuição da audição. Segundo Brasil (2002) para efeito de

conforto no local de trabalho, o nível aceitável de ruído é de até 65 dB (A).

De acordo com Andrade e Russo (2010) a perda auditiva está relacionada a alguns fatores

junto às características individuais da pessoa exposta ao ruído, ao meio ambiente e ao próprio

agente agressivo (som).

Assim como o ruído, o calor e o iluminamento são fatores importantes que precisam ser

analisados nos ambiente de trabalho, devendo o primeiro está em níveis adequados de

temperatura em todos os locais da academia, de forma a proporcionar conforto térmico para

todos os envolvidos. O segundo precisa ser adequada ao tipo de atividade que será

desenvolvida, procurando aproveitar a luz natural e suplementando com a luz artificial sempre

que for preciso (IIDA, 2010).

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3. Metodologia

Foi realizada uma pesquisa de natureza aplicada, apresentando os resultados obtidos de forma

quantitativa e qualitativa, utilizando como procedimento técnico o estudo de multicasos.

Além disso, para estudar o tema foi feita uma pesquisa exploratória tendo em vista que pouco

se sabe sobre os aspectos ergonômicos nos ambientes das academias de exercícios físicos.

O presente trabalho foi desenvolvido em seis academias de exercícios físicos na cidade

Angicos/RN, localizada na região central do semiárido, que segundo o IBGE (2013) sua

população é de 11.549 habitantes e área territorial de 741,578 Km². O estudo analisou os

aspectos ergonômicos do trabalho dos instrutores atuantes em academias de diversos bairros

da cidade, de qualquer idade, de ambos os sexos e com qualquer formação.

Para analisar os aspectos ergonômicos do trabalho dos instrutores elaborou-se um formulário

composto por 18 perguntas, sendo 12 abordando os aspectos relativos à ergonomia e 6 a cerca

dos fatores ocupacionais. Os questionamentos foram sobre a carga horária de trabalho,

posturas, movimentos e possíveis dores ou lesões decorrentes da atividade, como também

fatores ligados ao ruído e calor. Também foram realizadas observações acompanhadas de

registros fotográficos para melhor demonstrar as posturas e condições do ambiente de

trabalho.

O formulário foi aplicado com doze instrutores de academias para avaliar a percepção deles

sobre esses fatores ergonômicos. Após a aplicação do formulário, os resultados foram

apresentados em tabelas e gráficos para melhor explicar os resultados.

4. Resultados

4.1. Aspectos ergonômicos nos ambientes das academias

A ergonomia visa adequar o trabalho ao homem, de modo a proporcionar um máximo de

conforto, saúde, segurança e eficiência. Este tópico abordou questões sobre carga horária de

trabalho, esforço e posturas praticadas pelos instrutores no seu local de trabalho, com o

objetivo de verificar as condições que eles estavam submetidos.

Constatou-se que 8,3% exerciam uma carga horária flexível, 41,7% tinham regime de trabalho

rígido e 50% trabalhavam por turnos (Figura 1).

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Figura 1 - Horário de trabalho praticado nas academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Com relação à quantidade de horas trabalhadas por dia, 33,3% trabalhavam 4 horas diárias,

33,3% de 5 a 8 horas diárias, 16,7% de 9 a 12 horas diárias, 16,7% acima de 12 horas diárias,

sendo que a máxima quantidade de horas foi de 14 horas (Figura 2).

Percebe-se que os resultados desse estudo corroboram com o que Valente (2007) diz em sua

pesquisa, que os profissionais de educação física apontam o exercício físico como o caminho

para uma boa qualidade de vida, porém muitas vezes eles não os praticam por falta de tempo,

causados pela carga horária exaustiva ou até mesmo por falta de estímulo por causa do

cansaço.

Figura 2 – Carga horária diária de trabalho dos instrutores de academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Na Figura 3 são apresentadas algumas imagens de posturas inadequadas dos instrutores

durante as orientações de treinos dos alunos. Quando questionados se a profissão exigia

esforço muscular, posturas inadequadas, movimentos repetitivos e ritmo intenso, 100%

disseram que não. Porém, durante a pesquisa observou-se que quando a academia estava

lotada, o trabalho dos instrutores aumentava, expondo-os a ritmos de trabalho, posturas

inadequadas e movimentos mais intensos e repetitivos.

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Figura 3 - Posturas inadequadas praticadas pelos profissionais de academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Durante a jornada de trabalho, 83,3% dos instrutores responderam que fica em pé

comandando o funcionamento das aulas, orientando, supervisionando e controlando os

alunos; 16,7% revezam a postura sentada e em pé, tendo em vista que em alguns momentos

demonstram aos alunos alguns exercícios em máquinas que requer a postura sentada e em

outros períodos ficam em pé orientando os exercícios (Figura 4).

Figura 4 - Postura em pé ou sentado dos instrutores de academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

As maiorias (75%) dos instrutores que ficam em pé reclamam de cansaço e dores lombares

durante o expediente, essas dores são ocasionadas pelos movimentos repetitivos, de levantar e

transportar pesos de uma máquina para outra, montar e desmontar barras para agachamento e

stiff. Na Figura 5 é possível analisar a porcentagem das reclamações.

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Figura 5 - Reclamações de dores lombares durante o trabalho

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

A respeito da dor lombar após a execução do trabalho, 33,3% disseram que sente dor lombar

após as atividades, mas não impedindo de trabalhar no outro dia. Por outro lado, a maioria,

66,7%, não sente dor lombar após o trabalho. Estes percentuais estão representados na Figura

6.

Figura 6 - Reclamações de dores lombares após o trabalho

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Além dos questionamentos sobre dores lombares durante ou após o trabalho dos instrutores de

academias, foi perguntado também sobre o cansaço durante o trabalho, afastamentos devido à

dor lombar, movimentos e posturas durante a realização das atividades, assim como os

problemas e motivos das lesões (Figura 7).

Figura 7 - Problemas relacionados ao trabalho dos instrutores de academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

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Quando indagados sobre o cansaço durante o trabalho, 66,7% dos instrutores confirmaram

sentir cansaço durante a execução de suas atividades, já 33,3% dizem sentir bastante cansaço

durante o trabalho e o tipo de cansaço relatado por todos eles foi à fadiga física gerada pelo

trabalho intenso e repetitivo. Nenhum instrutor relatou sentir fadiga mental durante a jornada

de trabalho.

Quando perguntado se já haviam se afastado do trabalho devido a problemas relacionados às

dores lombares, todos os instrutores disseram que não, no entanto, com relação aos

movimentos ou posturas no trabalho que provocam a dor ou piora na lombar, 66,7% disseram

que existem atividades que propiciam e piora a dor, como agachar-se e inclinar-se para

montar e desmontar barras, já que esses movimentos são repetidos várias vezes por dia.

Também foi perguntado aos instrutores se os mesmos tinham algum problema de lesão ou

ortopédicos como, bursite, tendinite, dores no joelho entre outros, 41,7% responderam que

sim, mas, 33,3% disseram que não adquiriram a lesão por meio do trabalho, os 8,3%

adquiriram devido o levantamento de peso ocorrido no trabalho e 58,3% respondeu que não

tem nenhum tipo de lesão.

Na Figura 8 são apresentados alguns movimentos durante os treinos e aulas de step.

Figura 8 - Movimentos durante os treinos e aulas de step

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Verifica-se com isso, que a maioria dos instrutores de academias sente cansaço durante o

trabalho, sendo que o cansaço relatado por todos eles foi à fadiga física. Além disso, passam

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mais tempo em pé do que sentado, sentindo dores lombares mais durante o trabalho do que

após a execução do trabalho e que nunca precisaram se afastar da atividade por causa da dor

lombar, mas, relatam que existem movimentos e posturas no local de trabalho que provoca e

piora a dor, como o ato de se agachar para montar e desmontar barras, como pode ser visto na

Figura 9.

Figura 9 - Montagem e desmontagens de barras

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Além dos aspectos ergonômicos o formulário também continha perguntas sobre os fatores

ocupacionais, como ruído e calor, que também podem afetar a saúde e segurança do

profissional de academia.

4.3. Fatores ocupacionais

Com relação ao ruído no ambiente de trabalho foi perguntado aos instrutores que máquinas ou

equipamentos provocam ruído no local da academia, 25% dos instrutores responderam apenas

o aparelho de som usado para reproduzir músicas durante os treinos, e 75% relataram o

aparelho de som, conversas paralelas dos alunos, barulhos dos pesos e das anilhas. A Figura

10 representa estas informações.

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Figura 10 - Máquinas ou equipamentos geradores de ruído nas academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Foi perguntado também, se o ruído provocava alguma reação, as respostas são apresentadas

na Figura 11. A maioria sente alguma reação que vão desde irritação (41,7%), falta de

concentração (25%) e dor de cabeça (25%). Os que sofrem algum tipo de reação dizem muitas

vezes está em casa descansando e ouvir chamar o nome dele e até mesmo fica com aquele

ruído fixado na cabeça.

Figura 11 - Percepção dos instrutores de musculação a cerca das reações provocadas pelo ruído

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

A Figura 12 aborda a percepção dos instrutores de academias quanto ao ruído, onde se

perguntou se os mesmos sentem afetados pelo ruído do local de trabalho e todos disseram que

não, porém, metade (50%) deles considera o ruído alto e a outra metade acha normal,

relatando que já se acostumaram com o barulho. Pedindo para eles classificarem o ruído no

ambiente de trabalho, 16,7% classificaram como excessivo, 33,3% como forte e 50% como

fraco.

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Figura 12 - Ruído que os instrutores de musculação estão expostos nas academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Quando se perguntou sobre a temperatura no ambiente de trabalho, 50% dos instrutores

declaram achar quente, relatando que a cidade já tem a temperatura elevada e outros fatores

como academias com pouco espaço e superlotação nos horários de pico tornam o ambiente

ainda mais quente. No entanto, 50% disseram achar normal por ter se adaptado com a

temperatura elevada (Figura 13).

Figura 13 - Temperatura no ambiente de trabalho dos instrutores de academias

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Os instrutores consideram a temperatura elevada, mas, alguns deles já se habituaram à

temperatura da cidade e com o ritmo de trabalho, que muitas vezes se torna pesado e

repetitivo, proporcionando ainda mais calor. Eles lidam com exercícios físicos que geram

suor, tem contato físico direto com os alunos, além disso, tem a questão do ruído gerado pelo

aparelho de som, das conversas paralelas, dos barulhos dos pesos quando montam barras e

quando abastece as máquinas.

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5. Considerações finais

Com a análise realizada nas academias, verifica-se que os principais aspectos ergonômicos

que envolvem a atividade do profissional de academia de exercícios físicos são: exigência de

postura em pé; demanda de repetição de movimentos, sempre se agachando para fornecer

pesos às máquinas e barras, utilizando também de vários movimentos nas aulas de step,

abdominal e localizada repetindo as mesmas séries mais de uma vez por aula causando um

esforço muscular bastante elevado; levantamento de peso para as atividades livres como,

agachamento, avanço e stif, que podem ser colocados em alters ou barras.

Pode-se perceber que existem poucas ações ergonômicas tanto preventivas como corretivas

nos postos de trabalho dos instrutores das academias pesquisadas. Certas atitudes, como,

utilizar de postura adequada, evitar posturas prolongadas e movimentos repetitivos, alternar

posturas e movimentos, conservar peso próximo do corpo, reduzir a duração do esforço

muscular contínuo, evitar curvar-se para frente com relação ao levantamento de peso, evitar

ficar exposto a ruídos muito elevados e climatizar o ambiente para evitar o excesso de calor

podem ser adotadas como medidas de prevenções nesses ambientes para ajudar o trabalhador

a exercer suas tarefas com mais segurança, tornando o meio de trabalho mais seguro e

confortável.

Também se observa a falta de percepção dos instrutores sobre as questões ergonômicas e

demais fatores ambientais analisados nesse trabalho, como calor e ruído. Assim, é necessária

uma maior efetivação da ergonomia nas academias com o intuito de oferecer aos

trabalhadores um ambiente de trabalho mais seguro e confortável, proporcionando uma

melhor eficiência, evitando os riscos ocupacionais, reduzindo a fadiga e o stress.

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