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ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 20 JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL ASPECTOS GERAIS A introdução de um capítulo dedicado aos aspectos históricos da psicologia social é justificada pela noção de que a qualquer forma de compreensão da verdadeira natureza de uma ciência exige que tenhamos em consideração o contexto histórico em que a mesma aparece e se desenvolve. Assim, daremos neste capítulo uma perspectiva geral da história da psicologia social. A GÉNESE EUROPEIA DA PSICOLOGIA SOCIAL A psicologia social é geralmente considerada uma ciência americana. Esta noção tem o seu fundamento no facto de ter sido nos EUA que esta ciência teve um maior desenvolvimento inicial e foi aí também que adquiriu uma maior relevância tanto em termos científicos como em termos do seu impacto social e cultural. Contudo, também é verdade que, se quisermos encontrar as raízes mais profundas da psicologia social enquanto preocupação científica global temos que recuar em termos temporais à segunda metade do século XIX e em termos contextuais ao mundo científico europeu, ou melhor, anglo-europeu. Com efeito, os primeiros trabalhos onde, no âmbito da psicologia, se começa a colocar o problema do social enquanto tal, apareceram por esta época na Alemanha com um conjunto de autores que desenvolveram trabalhos numa área que ficou conhecida como Völkerpsychologie, ou seja, psicologia dos povos. Esta linha de investigação chegou mesmo a dar origem a uma revista científica entitulada "Zeitschrift für Völkerpsychologie und Sprachwissenschaft 11 " que foi fundada em 1860 por 11 “Jornal de Psicologia dos Povos e Estudo da Língua”.

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ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL

ASPECTOS GERAIS A introdução de um capítulo dedicado aos aspectos históricos da psicologia social é justificada pela noção de que a qualquer forma de compreensão da verdadeira natureza de uma ciência exige que tenhamos em consideração o contexto histórico em que a mesma aparece e se desenvolve.

Assim, daremos neste capítulo uma perspectiva geral da história da psicologia social.

A GÉNESE EUROPEIA DA PSICOLOGIA SOCIAL A psicologia social é geralmente considerada uma ciência americana. Esta noção tem o seu fundamento no facto de ter sido nos EUA que esta ciência teve um maior desenvolvimento inicial e foi aí também que adquiriu uma maior relevância tanto em termos científicos como em termos do seu impacto social e cultural. Contudo, também é verdade que, se quisermos encontrar as raízes mais profundas da psicologia social enquanto preocupação científica global temos que recuar em termos temporais à segunda metade do século XIX e em termos contextuais ao mundo científico europeu, ou melhor, anglo-europeu. Com efeito, os primeiros trabalhos onde, no âmbito da psicologia, se começa a colocar o problema do social enquanto tal, apareceram por esta época na Alemanha com um conjunto de autores que desenvolveram trabalhos numa área que ficou conhecida como Völkerpsychologie, ou seja, psicologia dos povos. Esta linha de investigação chegou mesmo a dar origem a uma revista científica entitulada "Zeitschrift für Völkerpsychologie und Sprachwissenschaft11" que foi fundada em 1860 por 11“Jornal de Psicologia dos Povos e Estudo da Língua”.

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Hermann Steinthal juntamente com o seu cunhado Moritz Lazarus e em que eram publicados tanto trabalhos teóricos como de investigação empírica (Hogg & Vaughan, 1998) . Esta designação é interessante pois, por um lado, assume que entidades supraindividuais de tipo grupal também poderiam ser objecto de estudo psicológico e é esta precisamente a posição de base em psicologia social e, por outro, associa dois aspectos que nos parecem hoje fundamentais, que são a sociabilidade e a comunicação. Assim, alguns anos antes mesmo de Wilhelm Wundt ter fundado em 1875 em Leipzig o primeiro laboratório de psicologia experimental, em que se preocuparia a estudar os conteúdos da mente individual, podemos encontrar outros cientistas adoptando como objecto de estudo várias formas da colectiva. De realçar que o próprio Wundt parecia cavar em ambos os campos, pois publicou um trabalho com o título “Elementos de Psicologia dos Povos”.

Um outro aspecto que nos parece importante salientar é que, como já referimos anteriormente, esta noção de mente colectiva não é uma noção simples, prestando-se a múltiplas interpretações e abordagens. Podemos logo aqui neste ponto da pré-história da psicologia social verificar isso mesmo, pois estes dois autores Steinthal e Lazarus tinham perspectivas conflituantes sobre a mente colectiva (Haines, 1960, cit. In Hogg & Vaughan, 1998), ora sendo entendida como uma forma socializada de pensamento dentro do indivíduo, ora vista como uma espécie de supramentalidade que poderia compreender um todo um grupo de pessoas. Um exemplo da noção de mente grupal pode ser encontrado no trabalho de um autor francês, Gustave Le Bon (1841-1931) que em 1895 publicou uma obra entitulada Psychologie des foules, ou seja, Psicologia das multidões. Nesta obra Le Bon procura explicar a razão pela qual as multidões cometem por vezes actos terríveis recorrendo à hipótese de que o comportamento dos indivíduos fica sujeito ao controlo de uma mente grupal.

AS PRIMEIRAS PUBLICAÇÕES Uma perspectiva histórica sobre qualquer processo social, nomeadamente como é o nosso caso agora ao abordarmos a génese e evolução da psicologia social começa naturalmente com a questão central de saber como e onde tudo começou.

Se adoptarmos um critério operatório para responder a esta questão, podemos definir como critério do nascimento da psicologia social o momento em que se começou a falar e a escrever sobre temáticas nesta área ou a utilizar-se a designação de psicologia social para identificar esses trabalhos. Posto isto, podemos verificar que a psicologia social nasce precisamente no momento da transição do século XIX para o século XX pois a designação "psicologia social" parece ter sido utilizada pela primeira vez por James M. Baldwin em 1987 nos seus trabalhos sobre o desenvolvimento moral e social da criança e retomada por Edward Ross numa conferência em 1899. No que respeita a trabalhos escritos, verifcamos que dois textos (Le Bunge, 1903;

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Orano, 1901) abordaram problemáticas ligadas à psicologia social, mas como não estavam escritos em inglês não foram muito conhecidos no Reino Unido nem nos Estados Unidos.

Com efeito, apesar de a obra de Charles Horton Cooley, Human Nature and the Social Order publicada pela primeira vez em 1902 ser um bom candidato ao lugar de primeiro texto de psicologia social, as primeiras obras científicas que assumiram decisivamente a designação de psicologia social e que abordaram problemas relacionados com o seu objecto de estudo foram curiosamente publicadas ambas no ano de 1908. Referimo-nos ao livro do psicólogo inglês, residente na América, William McDougall, intitulado An Introduction to Social Psychology e à obra do mesmo ano Social Psychology, an Outline and Sourcebook, da autoria do sociólogo americano Edward Alsworth Ross .

A génese da psicologia social ficaria assim logo à partida marcada por esta coincidência curiosa desde logo assinaladora da sua dupla paternidade, a psicologia e a sociologia. Com efeito, embora assumindo ambos a designação de Social Psychology, cada uma delas assume uma orientação específica procurando construir uma psicologia social mais de cariz psicológico ou mais de cariz sociológico.

Com efeito, a obra de McDougall acentua a perspectiva centrada sobre a pessoa, salientando o carácter instintivo do sentido gregário humano, isto é, propõe que o social está inscrito na natureza biológica do indivíduo. Neste sentido os comportamentos sociais eram fundamentalmente influenciados pelas características de personalidade dos seus autores, por exemplo, um comportamento agressivo seria função de uma

personalidade agressiva, enquanto que um comportamento conformista seria o mais natural numa personalidade conformista. Embora se admita a existência de determinantes sociais, esta análise acentua o papel dos factores pessoais na modelagem da sociedade e da interacção social. Esta abordagem estava de tal forma em conflito com a tendência behaviorista emergente na psicologia Americana que acabou por não gerar linhas de investigação significativas. Ironicamente a abordagem de McDougall foi recentemente reabilitada pelas perspectives sociobiologistas.

Por outro lado, a obra do sociólogo Edward A. Ross, propõe como unidade de princípio explicativo a “sugestão-imitação” definindo uma perspectiva de compreensão do comportamento social centrada sobre os factores sociais, isto é, procurando explicar a uniformidade das crenças, dos sentimentos e das acções como sendo desencadeada pela interacção dos seres humanos. Neste contexto o comportamento social é explicado mediante a análise das

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condições ou circunstâncias sociais em que tal comportamento se verifica, podendo mesmo tentar estabelecer-se as condições gerais em que um determinado comportamento é evocado e posto em prática pela maioria das pessoas.

Convém referir que apesar dos respectivos títulos, nenhum destes livros tem alguma semelhança, ainda que remota, com um texto de psicologia social actual, mas também é verdade que a ciência é uma actividade em constante redefinição. Ainda, de acordo com Gouveia Pereira (in Vala & Monteiro, 1993, p. 33), apesar do pioneirismo reconhecido a McDougall e Ross, foi outro autor já anteriormente referido, James M. Baldwin que, com a sua obra The Individual and Society publicada em 1919, de certa forma acabou por definir e legitimar o espaço e a importância que a psicologia social viria a ter no âmbito das ciências sociais. Para além disso a obra de McDougall irá paradoxalmente ter um

efeito retardador no desenvolvimento da própria área que define em título, porque, ao radicar-se na teoria dos instintos, veio provocar a contestação de alguns pensadores importantes da época, tais como C. Wallas e John Dewey, para não falar daqueles psicólogos que poderíamos designar por proto-comportamentalistas, que, pelo contrário davam maior importância a factores externos ao indivíduo como sejam a aprendizagem e a educação. Dewey, nomeadamente defendia que se do ponto de vista biológico o instinto deve ser considerado como factor primário, do ponto de vista sociológico é o hábito que deve ser considerado como determinante fundamental, inaugurando assim um debate entre natura e cultura de que a psicologia social ainda hoje não se libertou completamente. Esta controvérsia teve maior impacto do lado sociológico do que do lado psicológico, podendo até afirmar-se que os psicólogos tiveram pouco a ver com o pensamento e preocupações iniciais em psicologia social. Muitos investigadores em História da psicologia social defendem que os factores decisivos para o arranque final da psicologia social, como campo de estudos científico claramente enquadrado no âmbito da psicologia, ficará a dever-se a Kurt Lewin e continuadores, assim como à emergência do conceito de atitude, em paralelo com o conceito de comportamento da psicologia geral.

O que se segue a estes primórdios é a controvérsia teórica que gira à volta dos instintos e hábitos, as célebres natura e cultura a que já fizemos referência. Mais recentemente, podemos dizer que se bem que até certo ponto a necessidade de clarificar posições parece tornar paralelas as vias da psicologia social e da sociologia, parece assistir-se a uma nova tentativa de convergência baseada nas noções de estrutura, relação e sistema.

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Esta dupla referência do social e do psicológico continua ao longo da história da psicologia social, sendo que vai constituir o objecto de análise dos próximos artigos, tendo em conta, quer a psicologia social americana, que possui uma orientação mais psicológica, quer a psicologia social europeia, que se tem interessado mais pelos fenómenos colectivos.

A PSICOLOGIA SOCIAL NO SEC XX Apesar de a preocupação com os aspectos sociais do comportamento individual e grual ter efectivamente nascido na Europa, foi nos EUA que, na primeira metade do Século XX, a psicologia social social se constitui como uma disciplina científica autónoma. Esta circunstância tem certamente a ver com o facto de ter sido aí que se verificou o contexto social, cultural e até económico favorável ao desenvolvimento de uma área do conhecimento que, ao analisar os mecanismos sociais era claramente desafiadora dos sistemas sociais tradicionais em vigor na maior parte dos países europeus no dealbar do Século XX. A psicologia social efectivamente teve sobretudo tendência a desenvolver-se em ambientes marcados por uma grande efervescência social.

Nos EUA, com efeito, a ciência foi sempre vista numa perspectiva funcionalista, isto é, encarada a partir da sua função na sociedade, isto é, a sua utilização como instrumento de compreensão dos processos ou resolução de problemas em vários domínios como a educação, opinião pública, economia, medicina, etc.. Enfim, a nossa compreensão deste processo pode ser facilitada se utilizarmos uma metáfora agrícola – a América forneceu o solo adequado para o nascimento e crescimento da seara da psicologia social, mas as sementes mais importantes vieram da Europa. Com efeito, como bem nota Gouveia Pereira (in Vala & Monteiro, 1993, p. 32) as principais figuras que impulsionaram o desenvolvimento da psicologia social nos EUA foram um inglês, Frederic Bartlett (1886-1969); um turco emigrado, Muzafer Sherif (1906-1988); um alemão fugido ao nazismo, Kurt Lewin (1890–1947); um austríaco emigrado Fritz Heider (1896-1988); e um polaco também emigrado Solomon E. Asch (1907-1996). Ao mostrarem de que forma o social emergia da interdependência de comportamentos individuais todos eles contribuíram para a construção do objecto específico da psicologia social fazendo-o sair da oposição dicotómica, entre, por um lado, uma posição protagonizada por McDougall centrada sobre a pessoa que explicava os mecanismos sociais através de processos puramente psicológicos, e outra protagonizada por Ross centrada sobre a situuação social que, pelo contrário, fazia do psicológico um mero sucedâneo do social. Com efeito, a afirmação da psicologia social como disciplina autónoma foi desencadeada pela existência de estudos que sustentavam um novo domínio do conhecimento: o da interferência dos outros no comportamento dos indivíduos.

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Anos 20 e 30 do Século XX

Segundo Gouveia Pereira (in Vala & Monteiro, 1993) as atitudes foram de alguma forma o construto central à volta do qual se organizou o nascimento da psicologia social como disciplina científica autónoma. O conceito de atitude é, com efeito um conceito nuclear porque congrega dentro de si uma componente cognitiva envolvendo a percepção e crença sobre uma realidade social, uma componente afectiva que leva o sujeito a sentir-se atraído ou a rejeitar determinados aspectos da realidade social e uma componente comportamental que leva o sujeito a agir sobre essa realidade de uma maneira específica.

Com efeito, é de forma geral aceite que o impulso decisivo para para o desenvolvimento acelerado da psicologia social nos anos 20 e 30 do Século XX nos EUA, foi dado pela necessidade de construção de métodos suficientemente válidos, fiáveis e precisos de medida das atitudes. Esta necessidade de avaliação das atitudes de determinados grupos sociais surge, por outro lado, da intenção de fazer com que a psicologia social deixasse de ser uma ciência puramente teórica e especulativa, e começasse a interessar-se em contribuir para a resolução dos problemas sociais, dentro daquela perspectiva funcionalista a que fizemos referência mais atrás. Exploremos um pouco esta idéia: - A resolução de um problema social, como aliás de qualquer outro problema, tem necessariamente que passar por um processo composto por três etapas fundamentais: em primeiro lugar um momento que poderíamos chamar observação diagnóstica, em que se pretende identificar o problema, a sua natureza e amplitude; um segundo momento, designado por análise, leva-nos a compreender a relação desse problema com o contexto em que aparece; e finalmente, um terceiro momento de intervenção em que adoptamos os procedimentos concretos que nos parecem mais adequados para o resolver. Ora, um problema que se punha, e de certa maneira ainda se põe, com alguma acuidade nos EUA, que é uma sociedade tipicamente multicultural e multiracial era o problema do preconceito de uns grupos sociais face a outros. Ora, o preconceito é uma atitude, e, por isso, não espanta que os primeiros instrumentos de medida das atitudes, normalmente conhecidos como Escalas de Atitudes12, tenham sido precisamente desenvolvidos para medir atitudes como o racismo.

O exemplo mais acabado do que acabamos de afirmar é precisamente a primeira escala de atitudes a aparecer em termos cronológicos, que foi desenvolvida pelo sociólogo Emory S. Bogardus (1882-1973) publicada pela primeira vez em 1925 e que ficou conhecida como Escala de Distância Social de Bogardus. Efectivamente esta escala mede a distância social ou grau de aceitação social que existe entre determinadas pessoas e determinados grupos sociais. Apesar da escala poder ser adaptada para medir a distância 12Neste ponto vamos limitarmo-nos a fazer uma referência breve às Escalas de

Atitudes desenvolvidas nesta época. Mais adiante, quando estudarmos as atitudes, estudaremos estas escalas com mais detalhe.

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sexual, etária, de classe, ocupacional, religiosa, etc., ela foi na sua primeira edição usada para medir a distância racial e é neste campo que efectivamente tem sido mais utilizada.

Outra escala de atitudes desenvolvida mais ou menos por esta altura foi a Escala Intervalar de Thurstone, publicada em 1928 por Louis Leon Thurstone (1987-1955). Curiosamente Thurstone foi um cientista originário de uma área que pouco tinha a ver com as ciências sociais, pois começou por ser um engenheiro electrotécnico que chegou a ser colaborador de Thomas Edison. Segundo as suas próprias palavras o seu interesse pela psicologia resultou do facto de ter assistido a uma série de conferências realizadas por G. H. Mead sobre psicologia social. Com efeito, a sua formação em engenharia levou-o a preocupar-se com o problema do rigor da medida das variáveis psicológicas, tendo centrado a sua atenção especialmente na medida das atitudes e da inteligência, através da aplicação da técnica estatística da análise factorial. Uma escala intervalar é aquela em que os intervalos entre os items dizem quanto as pessoas, objectos ou factos estão distantes entre si em relação a determinada característica. Assim, uma escala intervalar de Thurstone é constituída por um conjunto de afirmações relativas a um determinado objecto. Cada uma dessas afirmações reflecte uma posição que pode variar desde uma atitude extremamente favorável até uma atitude extremamente desfavorável face a esse mesmo objecto, normalmente numa escala de 11 pontos. Os sujeitos que respondem à escala são depois solicitados a exprimir a sua concordância ou discordância com cada uma dessas afirmações. A vantagem de escalas deste tipo é que permite uma série de operações estatísticas e por isso são mais rigorosas do ponto de vista psicométrico.

Um terceiro tipo de escala de medida de atitudes e talvez a mais conhecida e utilizada, é a Escala de Likert, assim designada por ter sido criada por Rensis Likert (1903–81) em 1932. Likert começou por estudar economia e sociologia, mas acabou por se interessar pela psicologia tendo obtido doutoramento nesta área em 1932 na Universidade de Columbia. A popularidade da escala de Likert deriva do facto de ser uma escala ao mesmo tempo fácil de construir, de aplicar e de apurar os resultados. A escala é composta por um número variável de afirmações acerca de um determinado objecto e solicita-se aos sujeitos que respondem à escala que manifestem o seu acordo ou desacordo com cada uma das afirmações numa escala de cinco pontos que tipicamente corresponde às seguintes posições: - 1- Discordo absolutamente; 2- Discordo; 3- Não concordo nem discordo; 4- Concordo; 5- Concordo absolutamente. Assim, um valor numérico total pode ser calculado a partir de todas as respostas. As escalas de Likert são de alguma forma semelhantes às escalas de Thurstone pois incluem uma série de afirmações relacionadas com o objecto pesquisado, porém, ao contrário das escalas de Thurstone, os sujeitos não se limitam a responder se concordam ou não com as afirmações, mas também informam qual seu grau de concordância ou discordância. Uma desvantagem, contudo, associada a essa escala ocorre quando há um problema de interpretação que não existe na escala de Thurstone. Por exemplo, uma pontuação de 9.2 na escala de Thurstone representa uma

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atitude favorável, já na escala de Likert pode, por exemplo, haver confusão para determinar o que significa uma pontuação de 78 pontos numa escala com 20 afirmações. Não é possível afirmar que essa pontuação represente uma atitude favorável, tendo como base a pontuação máxima de 100 (20 x 5).

Anos 40 e 50 do Sec XX

Uma ideia com que podemos ficar da leitura do ponto anterior é que apesar dos primórdios da psicologia social como campo de estudo estarem relacionados com o estudo das atitudes, podemos também constatar que os cientistas que começaram por contribuir para este campo, nomeadamente através da construção de escalas de medida, nenhum deles se identicaria a si próprio como psicólogo social, sendo mesmo dois deles oriundos de áreas científicas muito distantes das ciências sociais. Com efeito, apesar de muitos dos tópicos estudados se enquadrarem já claramente no âmbito do que viria a ser a psicologia social, só em finais dos anos 30 e mais acentuadamente durante os anos 40 e 50 esses trabalhos se começaram a identificar como tal e os seus autores a intitularem-se psicólogos sociais. De acordo com Morales et al. (1994) este desenvolvimento foi sustentado por duas pedras angulares que foram a adopção da perspectiva cognitivista e o início da experimentação em laboratório.

A PERSPECTIVA COGNITIVISTA E A INFLUÊNCIA DA GESTALT

Ainda segundo Morales et al. podemos definir cognição como o termo que

“descreve os processos psicológicos implicados na obtenção, uso, armazenamento e modificação do conhecimento acerca do mundo e das pessoas. […] as pessoas desenvolvem estruturas psicológicas de conhecimento (quer dizer, estruturas cognitivas) tais como crenças, opiniões, expectativas, hipóteses, teorias, esquemas, etc., que usam para interpretar os estímulos de maneira selectiva e que as suas reacções são mediadas por estas interpretações.” (1994, p. 14)

Em nosso entender há aqui dois pontos que importa fazer notar. Em primeiro lugar, muitas das estruturas psicológicas acima referidas estão já subjacentes ao conceito de atitude, como veremos quando estudarmos esta temática mais em pormenor; em segundo lugar, apesar de a psicologia geral ter adoptado uma perspectiva cognitivista somente a partir dos anos 60 do século XX, fugindo assim ao elementarismo da tradição behaviorista, a psicologia social tem sido cognitivista desde o seu início. Porquê, poderão perguntar. Porque só assim a psicologia social poderia impor a sua especificidade dentro do campo das ciências sociais e da própria psicologia. Com efeito, se a psicologia social se tivesse mantido presa à posição behaviorista, isto é, limitando-se a estudar as conexões observáveis entre estímulo e resposta, então seria facilmente confundida com o estudo dos processos de aprendizagem que é tarefa da psicologia geral. Para a psicologia se poder constituir como uma disciplina bem definida dentro da psicologia teria que ser capaz de mostrar

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que os processos interpessoais, isto é, os processos que nos permitem situar face uns aos outros - o mundo das pessoas, são algo de significativamente diferente dos processos que nos permitem situar face ao mundo das coisas.

Seguindo mais uma vez Morales et al. , é hoje claro que os trabalhos pioneiro de Solomon Asch (1946) sobre a formação de impressões e a teoria de Fritz Heider (1958) sobre o equilíbrio cognitivo e a psicologia ingénua de alguma forma aplanaram o caminho para a perspectiva cognitivista em psicologia social que conduziu aos estudos mais recentes sobre percepção interpessoal e cognição social. Contudo, o autor que inaugurou a perspectiva cognitivista em psicologia social e que de alguma forma é considerado o pai da psicologia social moderna é Kurt Lewin que, com a teoria do campo, considera os indivíduos como membros de um sistema social e os seus comportamentos como sendo determinada e regulada pelas propriedades dinâmicas desse sistema, estabelecendo assim os fundamentos teóricos para uma psicologia social com uma identidade verdadeiramente estabelecida. Voltaremos a este autor mais em pormenor nais adiante quando abordarmos os modelos teóricos de base, mais concretamente a perspectiva ecológica em psicologia social.

A perspectiva cogntivista inaugurada por Kurt Lewin conduziu uma linha de investigação continuada pelos seus estudantes e colaboradores que deu os seus frutos e constituem a coluna vertebral do que há de mais interessante na psicologia social actual, como sejam os estudos sobre a atracção interpessoal e outros tipos de relações interpessoais, estrutura grupal, motivação, conformismo, tomada de decisões em grupo e liderança.

A EXPERIMENTAÇÃO EM LABORATÓRIO

Ainda de acordo com Francisco Morales (1994, p.15), os estudos de Kurt Lewin e de outros autores deram ainda outra contribuição fundamental para a história da psicologia social pois “ajudaram a criar um estilo especial de experimentação em laboratórios de psicologia social.” Como veremos mais adiante quando nos referirmos mais em pormenor aos aspectos metodológicos em psicologia social a experimentação em laboratório, ainda que caracterizada por um certo artificialismo, é muito importante, especialmente nos momentos iniciais de fundamentação teórica e metodológica de uma disciplina científica. Vamos desenvolver um pouco mais esta ideia. Com efeito, o laboratório, ao permitir a criação de uma situação experimental simplificada e controlada13, permite ao experimentador pode

13Mais adiante, nos aspectos metodológicos, discutiremos mais detalhadamente a

noção de controlo na metodologia experimental. Para já, e para se compreender o que é aqui dito, diremos que o controlo refere-se aos procedimentos adoptados pelo experimentador para se assegurar que os comportamentos que observa nos sujeitos experimentais (variável dependente) são unicamente um efeito da condição experimental (variável independente) que está a estudar, e não de outras

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estar razoalvelmente seguro de que os comportamentos que observa nos seus sujeitos experimentais efectivamente dependem da condição que pretendeu estudar. A experiência em laboratório é, assim, um método especialmente adequado para encontrar e confirmar relações causais entre o comportamento e as situações em que ocorre.

Como já dissemos as situações laboratoriais acabam por ser altamente artificiais e, por isso, muitas vezes dificilmente generalizáveis para as situações da realidade quotidiana, não sendo por isso um bom método para obter descrições naturalistas sobre o comportamento das pessoas no real social nem para descobrir como se correlacionam e interagem no mundo real as variáveis e processos psicossociológicos. Contudo, o seu rigor científico torna-o um método excelente de investigação teórica, isto é, para estabelecer contrastes entre teorias e para desenvolver as propriedades conceptuais das teorias. A experimentação em laboratório permite assim aos investigadores desenvolver ideias conceptuais rigorosas definindo um conjunto de hipóteses que podem servir de pontos de partida, simplificados, mas seguros importantes no estabelecimento de uma ciência nova. Para concluir, as experiências em laboratório

“não nos dizem directamente o que acontece no mundo real; em vez disso, ajudam-nos a desenvolver boas teorias que poderemos usar mais tarde para fazer inferências verosímeis acerca dos acontecimentos no mundo real. (Morales, 1994, p.15)

São assim geradas hipóteses que poderão depois ser estudadas em estudos de campo mais alargados e mais próximos da realidade social chegando assim à construção de um conhecimento psicossociológico cada vez mais situado.

O papel de Lewin e dos seus colaboradores e seguidores foi demonstrar que era possível fazer experiências em labratório sobre o complexo objecto de estuda da psicologia social e indicar a forma como essas experiências deveriam ser conduzidas. Ora, isto não era de forma alguma evidente para os autores que trabalhavam nesta área até esse momento.

A II GUERRA MUNDIAL E O DESENVOLVIMENTO DA INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

SOCIAL

A II Guerra Mundial, constituiu uma oportunidade histórica para o desenvolvimento da psicologia social, porque, digamos assim, implicou que esta disciplina evoluísse claramente no sentido de uma ciência aplicada. Com efeito, se analisarmos os acontecimentos deste período verificamos que a situação de conflito bélico forneceu os meios e criou as necessidades, que, como se sabe, são as duas condições básicas para que algo se desenvolva. Efectivamente, a II Guerra Mundial, ao mesmo tempo que na Europa provocava a paralisia das ciências sociais, levou ao aparecimento nos EUA o

condicionantes estranhas à situação. Isto é fundamental porque só assim ele poderá dizer que um comportamento X está relacionado com uma situação Y.

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de um conjunto de circunstâncias favoráveis ao desenvolvimento do estudo de alguns tópicos centrais em psicologia social. No que respeita ao fornecimento dos meios, como bem nota Francisco Morales, isso teve a ver com a circunstância de alguns dos cientistas europeus mais brilhantes nesta área trabalharem na Alemanha e serem de origem judaica o que fez com que tivessem que emigrar para a América para fugirem à ameaça nazi, encontrando aí, para além de liberdade pessoal, uma situação social, cultural e económica favorável à investigação e desenvolvimento científico. No que respeita às necessidades, quando os EUA abandonaram a sua posição de neutralidade e decidiram entrar na guerra, esta colocou um certo número de desafios à sociedade americana que por um lado era uma sociedade “nova” sem os mecanismos de controlo social presentes na sociedade europeia, e, por outro, até um certo ponto viveu a guerra como algo exterior a si própria. Isto significou que o estudo do impacto social da guerra fosse considerado relevante para o esforço bélico. Consequentemente, como já dissemos acima, os anos 40 e 50 constituiram um momento de expansão do estudo em algumas áreas centrais em psicologia social, como seja a investigação sobre atitudes, persuasão, dinâmica de grupos, influência e conformismo, relações inter-grupais, percepção social, etc..

Mais concretamente, Carl Hovland juntamente com Irving Janis , e Harold Kelley na Universidade de Yale, conceberam e executaram experiências cuidadosamente controladas em que isolando as ”partes componentes” do processo de comunicação, procuraram testar a eficácia das diferentes variáveis ao nível do emissor, mensagem, canal e receptor. Tal como muitos investgadores nesta área e nesta época, o objectivo fundamental era estudar a influência dos meios de comunicaçao de massas nos processos de persuasão e mudança de atitudes. Este problema estava claramente relacionado com o esforço de guerra americano, pois havia a necessidade de promover vários tipos de campanhas de informação junto da opinião pública americana para, por exemplo, levar as pessoas a compreenderem a razão de ser da entrada dos EUA na guerra, aceitarem as várias restrições ao nível do abastecimento de bens de consumo como os combustíveis, colaborarem em campanhas de recolha de materiais utilizados na indústria bélica como metais, borracha, etc..

Outras áreas da psicologia social que beneficiaram de um notável incremento nesta altura foi a temática da influência social, muito particularmente com os estudos de Solomon Asch (1952) sobre o conformismo e e as teorias da dinâmica de grupos de Leon Festinger que foi um discípulo de Kurt Lewin na Universidade de Iowa, sobre o mesmo tema. Segundo Morales a teoria de Festinger de 1950 explicava o conformismo como resultando das pressões no sentido da uniformidade em grupos pequenos orientados para a tarefa. Contudo Leon Festinger viria a ficar especialmente conhecido por ter proposto o conceito de comparação comparação social em 1954, processo de tal forma relevante que acabou por se tornar o processo de explicação central em psicologia social. Este conceito postula que as pessoas mostram uma necessidade de avaliarem continuamente as suas capacidades, pensamentos,

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opiniões, atitudes, enfim, os vários processos através dos quais nos relacionamos com o mundo social, e que quando isso não pode ser feito através de meios físicos, objectivos e não sociais, recorrem ao estabelecimento de comparações com outras pessoas, procurando assim de alguma forma reduzir a incerteza acerca da adequação dos seus comportamentos, sentimentos e crenças relativas a uma situação particular.

Para concluir esta nossa abordagem dos primeiros passos da psicologia social como ciência autónoma, queremos realçar uma noção já exposta, mas que poderá porventura não ter ficado suficientede clara. Referimo-nos ao facto de que o desenvolvimento da psicologia social, depois de ultrapassado o espartilho inicial do behaviorismo, se orientou no sentido de duas áreas fundamentais, qualquer delas situadas um pouco fora da psciologia tradicional – o problema da medida das atitudes com a construção de diversas escalas para o efeito (Bogardus, 1925; Thurstone, 1928 e Likert, 1932) e os estudos sobre os grupos sociais, correste esta iniciada por Kurt Lewin. Após estas considerações de carácter mais geral parece-nos que será talvez interessante passar a aspectos mais concretos, apontando nomeadadamente aqueles que nos parecem ser alguns marcos importantes na História da psicologia social.

ALGUNS MARCOS IMPORTANTES Como dissemos, neste capítulo iremos ser bastante concretos no sentido em que apontaremos aqueles que consideramos serem alguns marcos importantes na História da psicologia social. Neste conceito de marcos importantes seguiremos a proposta de Hogg & Vaughan (1998) e assim incluiremos referências pontuais organizadas a partir de três categorias que nos parecem ser os melhores indicadores do nível de desenvolvimento de uma área cientifica – Textbooks de referência, experiências marcantes e Programas de Investigação que de alguma forma adquiriam uma notoriedade especial, acabando algumas vezes por fazer escola na psicologia social.

Textbooks de referência

Como já tivemos oportunidade de referir, os anos 30 marcaram o aparecimento de um conjunto de temáticas que posteriormente iriam ser objecto de estudo no campo ad psicologia social, de entre os quais temos que destacar a definição do conceito de atitude e a construção de várias escalas de medida das atitudes.

Contudo, os anos trinta assistiram igualmente ao aparecimento de outro marco importante que foi o aparecimento de um dos primeiros manuais universitários dedicados especificamente à psicologia social, o Handbook of Social Psychology editado por Carl Murchison em 1935 a partir de contribuições de autores importantes neste campo como Gordon Allport, e que, nas palavras de Hogg & Vaughan (1998) consistia num “pesado volume que sugeria que existia um campo de estudo que tinha que ser tomado a

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sério”. Este trabalho não ficou por aqui pois desde a sua primeira edição em 1935 tem sido considerada uma obra de referência oferecendo uma perspectiva história, integradora e aprofundada dos tópicos mais relevantes em psicologia social. Na sua 4ª edição publicada em 1998 esta obra é coordenada por Daniel T. Gilbert da Universidade de Harvard, Susan T. Fiske da Universidade de Princeton e Gardner Lindzey, do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences, mas cada um dos capítulos é escrito pelas maiores autoridades a nível mundial e apresenta um relato circunstanciado do que tem preocupado os psicólogos sociais, que abordagens têm utilizado e que descobertas têm realizado.

Una anos mais tarde Gardner Mrphy e a sua esposa Lois Barclay Murphy editaram em 1937 um volume intitulado Experimental Social Psychology: An Interpretation of Research upon the Socialization of the Individual que viria a ser objecto de várias re-edições. Esta obra acabou por ter alguma importância na História da psicologia social pois apresentava um resumo dos resultados de mais de 1.000 trabalhos de investigação abrangendo tópicos tais como a abordagem genética do comportamento social, estudos qualitativos sobre diferenças individuais e interpretação do processo de socialização. Não podendo ser considerado propriamente um manual universitário esta obra foi usada essencialmente como referência fundamental acerca do estado da arte no que respeita à investigação em psicologia social.

Outros manuais dignis de referência são, por exemplo, a obra Social Psychology publicada por R. T. LaPiere e P. R. Farnsworth em 1936 que foi talvez o manual mais geralmente utilizado na época. Ainda outra obra igualmente intitulada Social Psychology publicada por Otto Klineberg em 1940, para além de ter sido igualmente popular na época tem ainda um interesse especial por incluir contribuições da antropologia cultural, chamando a atenção para o papel crucial que a cultura joga na forma como a personalidade individual se desenvolve. Logo após a II Guerra Mundial uma obra clássica publicada por D. Krech e R. S. Crutchfeld em 1948 enfatiza uma abordagem fenomenológica da Psicologia Social, isto é, uma abordagem centrada na forma como as pessoas efectivamente experienciam o mundo à sua volta e dão conta das suas experiências.

A partir dos anos 50 o número de manuais disponíveis cresceu exponencialmente, especialmente nos EUA de tal forma que se torna irrelevante ou até mesmo impossível referi-los individualmente.

Experiências marcantes

Diversas razões fizeram com que algumas investigações tenham de alguma forma contrariado a erosão do tempo, permanecendo um motivo de interesse e até de fascínio para todos aqueles que se têm interessado pela psicologia social. Com efeito, mais uma vez seguimos a proposta de Hogg & Vaughan (1998) e seleccionámos uma lista de estudos que tiveram um impacto qure ultrapassou largamente os limites da psicologia social acabando por alcançar a

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perspectiva mais geral da psicologia geral e mesmo até outras disciplinas adjacentes.

Obviamente, dado que o seu interesse aqui é meramente de carácter histórico, cada um destes tabalhos será objecto de uma breve referência pontual uma vez que os mesmos serão abordados em detalhe mais à frente nos capítulos em que for tratada a respectiva temática.

Um dos primeiros trabalhos de carácter claramente experimental a merecer referência é a linha de investigação conduzida por Muzafer Sherif a partir de 1935 sobre a influência grupal na formação de normas. Estes trabalhos captaram a atenção dos psicólogos sociais tendo em conta a necessidade sentida nos anos trinta para tentar perceber o que de “social” tinha a psicologia social. Abordaremos mais em detalhe este trabalho mais à frente no capítulo dedicado á influência social.

Outra linha de investigação não menos significativa, igualmente na área da influência social, foi a investigação realizada por Solomon Asch em 1951 a partir da qual demonstrou o efeito surpreendente que a pressão do grupo poderá ter no sentido de presuadir um indivíduo a adoptar um comportamento conformista e a responder de uma forma claramente contrária à evidência perceptiva num problema simples de comparaçaõ do tamanho de várias linhas.

Uns bons anos mais tarde, em 1959, Leon Festinger trabalhando no campo da mudança de atitudes, usou a sua teoria da dissonância cognitiva numa linha de investigação conjunta com James Carlsmith mostrou que, ao contrário do que ingenuamente poderámos pensar, uma pequena recompensa era mais eficaz para induzir uma mudança de atitude numa pessoa que uma grande recompensa. Este resultado teve um significado especial porque de alguma forma desafiava a perspectiva linear defendida pelas teorias do reforço que eram claramente dominantes na psicologia americana até aos anos 60.

Outro estudo que teve um profundo impacto que ultrapassou largamente as fronteiras da psicologia social e até mesmo da psicologia em geral tendo provocando ondas de choque cujos efeitos se fizeram sentir a nível societal, cultural, político e até religioso, foi o trabalho de pesquisa conduzido por Stanley Milgram a partir de 1963 sobre a obediência destrutiva14. O impacto dos resultados deste estudo na sociedade em geral deveu-se ao facto de reproduzir o dilema moral enfrentado por uma pessoa a quem uma figura de autoridade, neste caso o próprio experimentador, dá ordem para cometer um acto imoral, o que nesta experiência concreta significava aplicar supostos choques eléctricos extremamente dolorosos a outro sujeito participante na experiência. De facto esta experiência criava uma siltuação falsa em que o

14O conceito de obediência destrutiva resulta do dispositivo experimental utilizado em

que os sujeitos, para obedecerem às instruções de um experimentador, eram levados a infligir dor e sofrimento a outro sujeito.

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sujeito era enganado pois nem os choques eléctricos eram reais, nem o sujeito “vítima” sofria qualquer tipo de dano. Quem efectivamente acabava por sofrer algum dano era o sujeito “agressor” que poderia ficar afectado psicologicamente por ter sido levado a pensar que tinha provocado sofrimento a outra pessoa. Não é difícil de perceber que as opções metodológicas deste estudo levantam alguns problemas do ponto de vista ético pois podemos questionar-nos se será legítimo induzir os sujeitos experimentais em erro numa questão tão delicada como esta. Naturalmente podem admitir-se várias posições sobre esta matéria, mas o facto é que esta experiência tornou-se involuntariamente o ponto focal de uma crise em o futuro da investigação experimental em psicologia social.

Para terminar, pensamos que é importante fazer referência ao trabalho de Henri Tajfel e colaboradores que já em 1970 desenvolveram uma linha de investigação extremamente relevante no campo da categorização social e discriminação intergrupal em que mostrou que o simples facto de alguém ser categorizado como pertencendo a um grupo tornava essa pessoa automaticamente uma potencial vítima de discriminação.

Programas de investigação famosos

Enquanto que no ponto anterior referimos algumas linhas de investigação normalmente desenvolvidas à volta de uma pesquisa de um autor particular, neste ponto faremos referência a projectos ou programas de investigação de âmbito mais global e ocorrendo durante um período mais alargado de tempo.

Assim, provavelmente o grupo de estudos sobre grupos organizado a partir de 1944 à volta do carismático Kurt LEWIN no célebre e conceituado Massachusetts Institute of Technology (M.I.T.) teve um impacto notável sobre outros psicólogos sociais, primeiramene nos EUA e posteriormente pelo mundo inteiro. Um dos discípulos de Lewin foi Leon Festinger já referido no ponto anterior. Foi este grupo que lançou as bases para o que viria a ser a abordagem cognitivista em psicologia social.

Para além deste, podemos referenciar outros grupos de investigadores cujo impacto foi até mais evidente e imediato dada a natureza dos conceitos que foram derivados dos seus programas de investigação. Dois desses grupos adquiriram uma relevância particular devido a uma circunstância a que já fizemos referência, que foi o conjunto de necessidades relacionadas com a II Guerra Mundial.

Um deles foi o Programa de Estudos sobre a Personalidade Autoritária conduzido por Theodor Adorno e colaboradores no quadro do Institute of Social Research então sediado em New York. Alguns dos colaboradores de Adorno foram E. Frenkel-Brunswik , Daniel J. Levinson e R. Nevitt Sanford. Estimulado pela possibilidade de a explicação para a ascenção e manutenção da autocracia hitleriana na Alemana residir na personalidade e práticas educativas de toda uma nação, embarcou na realização de um ambicioso e monumental estudo intercultural sobre o autoritarismo nos EUA. O resultado

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deste trabalho é publicado sob o título de Estudos Sobre o Preconceito em 1950.

Um outro programa de investigação directamente relacionado com a situação de guerra foi o Programa de Mudança de Atitudes de Yale liderado por Carl Hovland que decorreu durante os anos 40 e 50, tendo os respectivos resultados sido publicados em 1953. O Programa de Yale tinha como objectivo essencial com as temáticas da persuasão e mudança de atitude visando de alguma forma estudar a teoria e técnicas da propaganda. Este grupo de psicólogos, alguns dos quais continuam activos, de alguma forma definiram o rumo do programa através da sua investigação de problemas como a as relações entre frustração e agressão, formação da opinião pública e as bases cognitivas do comportamento social.

Desenvolvimentos posteriores

Como vimos, a II Guerra Mundial representou um momento especialmente marcante do ponto de vista do desenvolvimento da psicologia social nos EUA. Esta noção justifica que faça todo o sentido fazer referência a tabalhos especialmente signicativos do ponto de vista do desenvolvimento da psicologia social realizados posteriormente à guerra. Lembramos mais uma vez que neste ponto cada trabalho será referenciado de forma muito breve, pois o objectivo é somente dar uma ideia global dos caminhos trilhados pela psicologia social ao longo do tempo.

Assim, uma linha de investigação claramente inovadora face ao que tinha sido feito até aí é representada pelo trabalho de John Thibaut e Harold Kelley, que, a partir de 1959 – desenvolveram uma abordagem global e de grande alcance ao estudo das relações interpessoais baseados num modelo económico de troca social. Este modelo inaugurou uma área de investigação que viria a estimular o aparecimento de outras teorias até mesmo meados dos anos 80.

Aquilo a que poderíamos chamar a modernidade da psicologia social foi contudo dominada, pelas abordagens cognitivas, essencialmente a partir dos anos 60. Um dos modelos teóricos mais interessantes nesta área foi provavelmente a teoria da atribuição lançada por Fritz Heider com o seu livro The Psychology of Interpersonal Relationships em finais do anos 50, que jogou um papel central na génese e definição da noção de atribuição causal. Contudo, o impuso decisivo viria ser dado pelo trabalho de Edward Jones e Keith Davis e Horld Kelley, . Nomeadamente Jones & Davis publicaram em 1965 um ensaio intitulado "From Acts to Dispositions.15" que centraram a sua atenção nas ideias das pessoas comuns acerca das causas dos comportamentos dos outros e propuseram um conjunto sistemático de

15Pode ser traduzido por “Das acções às disposições” em que o conceito de disposição

deve ser entendido no sentido de “estar disposto a”, “ter tendência para”, “ter a intenção de”.

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hipóteses acerca da percepção da intenção. Por sua vez, Kelly publicou em 1967 a obra "Attribution in Social Psychology". Estas duas contribuições fizeram com que nos anos 70 o campo da psicologia social fosse dominado pelos investigadores e teóricos da atribuição, rivalizando com a temática da dissonância cognitiva como uma das teorias dominantes em psicologia social.

Outra temática interessante foi a investigação sobre comportamento pró-social desenvolvida a partir de 1968 por John Darley e Bibb Latané ,e que em 1970 publicaram o trabalho intitulado “The Unresponsive Bystander: Why Doesn't He Help16” como resposta a um caso que teve um enorme impacto na opinião pública americana referente à chocante inacção demonstrada por pessoas que assistiram ao assassínio de uma mulher à navalhada numa rua do bairro de Queens em New York em 1968. Estes autores usaram um modelo gognitivo inovador para tentarem lançar alguma luz sobre a forma como as pessoas são levadas a interpretar uma situação de emergência e comoessa interpretação as leva a não fazerem nada para ajudar a vítima dessa situação.

Outro desenvolvimento digno de nota foi uma linha de acção que, partindo de trabalhos anteriores de Fritz Heider (1946) e Solomon Asch (1946) num campo descrito de forma pouco rigorosa como percepção social, reorganizou e sistematizou os dados e conceitos mais relevantes lançando as bases para o que modernamente é conhecido como cognição social. Vários autores deram valiosas contribuições para este desenvolvimento, de entre os quais podemos indicar Walter Mischel e Nancy Cantor (1977) que estudaram a forma como traços de comportamento percepcionados numa pessoa podem funcionar como protótipos para avaliar essa pessoa. Também dignos de nota são Richard Nisbett e Lee Ross que iniciaram o estudo das heurísticas cognitivas (atalhos para o pensamento social). Nisbett & Ross publicaram em 1980 um livro intitulado “Human Inference: Strategies and Shortcomings of Social Judgment”17.

Revistas científicas

Considerando que a ciência é uma actividade pública, a partilha de conhecimentos e resultados de investigações é claramente um outro aspecto pelo qual podemos aferir o desenvolvimento de uma área científica.

Assim, vamos mais uma vez considerar dois períodos distintos, um período até aos anos 50 e outro a partir dessa data.

Até aos anos 50 as revistas científicas mais importantes em psicologia social eram naturalmente publicadas nos EUA e de entre as mesmas podemos destacar:

16Pode ser traduzido por “O observador não reactivo: Porque ele não ajuda?” 17Pode ser traduzido por “A iinferência humana: Estratégias e limitações do

julgamento social”.

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• Journal of Abnormal and Social Psychology. O título desta revista científica é curioso pois, ao ligar os tópicos da psicologai social e da psicologia dos comportamentos anormais, de alguma forma reflecte as dificuldades de relação da psicologia social com a psicologia geral nesta altura;

• Journal of Personality.

Após os anos 50 verificou-se o número crescente de auotres na área da psicologia social o que acabou por implicar um crescimento exponencial dos meios para divulgarem os seus trabalhos. De entre as inúmeras publicações que foram aparecendo parece-nos poder destacar as seguintes:

• Journal of Personality and Social Psychology. Esta revista começou a publiar-se em 1965 e resultou da divisão do Journal of Abnormal and Social Psychology, já referenciado, em duas publicações, sendo a outra o Journal of Abnormal Psychology;

• Journal of Experimental Social Psychology, começou igualmente a ser publicado em 1965;

• Social Psychology Quarterly. Esta revista começou a ser publicada a partir de 1979, tendo resultado da alteração da designação de uma revista já existente, Sociometry, de forma a poder reflectir mais adequadamente o forte peso da psicologia social no seu conteúdo.

• Journal of Applied Social Psychology iniciou a sua publicação em 1971;

• Personality and Social Psychology Bulletin, apareceu em 1975;

• Social Cognition começou a publicar-se em 1982.

O que podemos concluir desta apresentação é que, do ponto de visa dos artigos publicados, se verificou uma explosão do interesse pela psicologia social na década que ligou os anos 60 aos anos 70 do século XX.

A PSICOLOGIA SOCIAL NA EUROPA

O período da influência americana

Como já tivemos ocasião de assinalar mais atrás quando nos referimos àquilo que poderíamos designar pela pré-história da psicologia social, o interesse pelo estudo dos factores sociais e psicossociais do comportamento humano nasceu efectivamente na Europa na última metade do século XIX e princípios do século XX. Contudo, por razões históricas a que também já fizemos referência, os EUA acabaram por assumir a liderança nesta área a partir dos anos 30 de século XX de tal forma que foi aí que nasceu a psicologia social como área científica autónoma. Apesar de a partir dos anos 50 a psicologia social começar igualmente a adquirir relevância na Europa, podemos dizer, que essa liderança se tem mantido até aos dias de hoje tanto em termos de

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investigação empírico como de produção conceptual, número de revistas científicas, livros e monografias e organizações ou instituições.

Uma razão importante para esta deslocação da hegemonia científica teve a ver, como também já dissemos, com um aspecto de fundo que era o tradicionalismo e autoritarismo inerentes às sociedades europeias na altura, incompatíveis com o carácter inovador da actividade científica, e com um aspecto mais imediato que foram as circunstâncias associadas à ascensão do nazismo e do fascismo no final dos anos 30 na Europa. Por exemplo, na Alemanha em 1933 os professores de origem judaica foram expulsos das universidades, e, desde esse momento até ao final da II Guerra os nomes de cientistas judeus foram expurgados dos manuais universitários que eram entendidos como estando ao serviço do nazismo que defendia a supremacia da raça ariana face às outras raças humanas, posição essa que, temos que concordar, muito dificilmente poderá ser compatibilizada com qualquer perspectiva séria que tenhamos do que é ciência. A perseguição aos judeus na Alemanha nazi e, por arrastamento, em alguns outros países da Europa conduziu a um êxodo em massa dos psicólogos sociais europeus, assim como de outros cientistas, para os EUA, de tal forma que por volta dos anos 40 a psicologia social na Europa tinha ficado reduzida quase à insignificância, especialmente se compararmos com o que se passou na América.

Com o fim da Guerra, a partir de 1945, é conhecido de todos que os EUA tiveram um papel importante no apoio aos esforços de recuperação da Europa em vários campos e, por isso, também no campo científico e no que respeita à psicologia social em particular. Efectivamente providenciaram recursos tanto financeiros como insitucionais no sentido de apoiaram a formação de centros de psicologia social na Europa. Parece hoje óbvio que, apesar de haver aqui claramente um sinal de boa vontade e até de solidariedade mundo académico e científico americano para com os seus colegas europeus, pois não nos podemos esquecer que muitos deles eram de origem europeia, também é verdade que muito deste esforço, especialmente no que se refere aos recursos financeiros, teve igualemente a ver com a estratégia global americana face à Guerra Fria no sentido de instalar na Europa ocidental um ambiente intelectual e científico que pudesse contrariar a influência que pudesse ser exercida pelo bloco comunista.

Ora, há qui um aspecto que não queríamos deixar de realçar. Esta circunstância de o ressurgimento da psicologia social na Europa ter acontecido no quadro de uma dependência, ou pelo menos de uma ligação estreita com os EUA, teve obviamente enormes benefícios, mas teve também uma consequência menos positiva, que foi o acto de os centros de psicologia social na Europa terem desenvolvido e mantido ligações mais fortes e funcionais com os seus congéres americanos do que com os seus parceiros europeus. Esta situação iria influenciar decisivamente o rumo da psicologia social europeia e podemos pensar que os seus efeitos ainda hoje se fazem sentir. De facto, sabendo nós que a ciência, para além de uma actividade pública, é também uma activiade colectiva, e que nessa altura não havia ainda esse

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poderoso recurso de comunicação e troca de conteúdos que é a Internet, torna-se evidente que a fragilidade dos laços e das linhas de comunicação entre os psicólogos sociais europeus levou a que muitas vezes não se conhecessem entre si, estando muitas vezes mais a par dos tabalhos desenvolvidos pelos seus colegas americanos do que pelos seus colegas europeus. Em conclusão, a Europa, incluindo a Grã Bretanha era essencialmente um entreposto da psicologia social americana, pois no período que vai do final da guerra até finais do anos 60, a psicologia social na Grã Bretanha, tal como nos Países Baixos, Alemanha (então RFA) França e Bélgica, os trabalhos realizados eram muitas vezes extensãoes das linhas de investigação americanas sendo, por isso, a respectiva produção teórica também muito influenciada pelas ideias americanas.

Contudo, especialmente a partir de finais dos anos 60, os psicólogos sociais europeus foram gradualmente tomando consciência da hegemonia das ideias americanas, e chegando à conclusão que essa situação, se bem que num primeiro momento tivesse gerado o impulso decisivo para o relançamento da psicologia social europeia, poderia tornar-se num factor gravemente limitador e enviesador do seu desenvolvimento, dadas as claras diferenças ao nível intelectual, cultural e até histórico entre a Europa e a América. Por exemplo a experiência recente europeia tinha sido de guerra enquanto que nos EUA o último grande conflito intrafronteiras tinha sido a guerra civil em 1860. Não admira por isso que os psicólogos europeus estivesem particularmente interessados em estudar tópicos tais como relações inter-grupais e grupos sociais, linha de uma psicologia social mais social (sociológica), enquanto que a psicologia social americana estaa nesta época mais proeocupada com a problemática das relações interpessoais, numa linha, se quisermos, mais psicologizante. Daí que começasse a haver consciência da necessidade de mais e melhores canais de comunicação entre os psicólogos sociais europeus assim como um certo grau de independência intelectual e organizacional dos EUA.

Segundo Hogg & Vaughan (1998) um dos primeiros passos a ser dado neste sentido não aconteceu curiosamente num país da Europa central, mas sim na Noruega onde logo no início dos anos 50, Eric Rinde em colaboração com David Crech dos EUA conseguiram juntar alguns psicólogos sociais americanos e mais de 30 psicólogos sociais europeus para constituírem uma rede que levasse à prática um estudo ienvolvendo vérios países sobre a problemática da ameaça e rejeição. Existe a ideia de que o objectivo mais geral deste estudo era o de encorajar a colaboração internacional e fazer aumentar o número de locais de formação para os psicólogos sociais na Europa.

A primeira Conferência Europeia de Psicologia Social Experimental

Apesar de sabermos que em termos históricos os pontos de viragem não acontecerem num momento determinado, contudo, para nos situarmos em

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termos da evolução da psicologia social na Europa, parece-nos importante, ainda que com algum grau de arbitrariedade, definir um marco, um acontecimento pontual que possa assinalar esse ponto de viragem a partir do qual se pode começar a falar de uma psicologia social europeia. Assim, de forma geral considera-se que esse marco é a realização da primeira Conferência Europeia de Psicologia Social Experimental que teve lugar em Sorrento, Itália de 12 a 16 de Dezembro de 1963.. Curiosamente, mesmo neste ponto, a psicologia social americana teve um papel relevante pois este encontro foi organizado por John Lanzetta, um psicólogo social americano, que era então director do Centro de Pesquisas em Comportamento Social, no estado do Delaware, e que calhava estar a passar o seu primeiro ano de licença sabática em Londres como cientista de ligação do Ramo de Psicologia de Grupos do Departamento de Pesquisa Naval da Marinha dos EUA. O chefe do do Escritório de Washington era Luigi Petrullo, o bem conhecido editor da obra de 1958 Person Perception and Interpersonal Behavior. O facto de ambos serem de origem italiana aliado a outro tipo de afinidades científicas esteve provavelmente na origem da realização da conferência em Itália.

Figura 3 –Fac-símile da 2ª página do programa da primeira Conferência Europeia de Psicologia Social Experimental de 12 a 16 de Dezembro de 1963 em Sorrento, Itália.

Numa carta de convite a potenciais participantes na conferência fazia-se referência aos seguintes objectivos gerais da conferência europeia.

a) Criar uma oportunidade para um pequeno grupo de psicólogos sociais europeus partilharem as suas experiências e perspectivas acerca da utilização de métodos experimentais no estudo de problemas sociais importantes;

b) Providenciar trocas de informação acerca de investigação experimental em curso no campo da psicologia social assim como partilha de instalações e

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pessoal entre diferentes centros europeus envolvidos em pesquisa experimental em psicologia social;

c) Permitir a discussão informal de problemas comuns assim como alguma medida de contactos pessoais que facilitem o estabelecimento de uma comissão internacional para encorajar e apoiar o desenvolvimento da psicologia social experimental.

Os temas principais das comunicações, lidas em inglês ou francês, e discutidas durante os cinco dias que durou a conferência fora, por ordem de apresentação:

A. Questões metodológicas e teóricas no desenvolvimento e teste de hipóteses em psicologia social;

B. Estudos experimentais da socialização;

C. Questões metodológicas e teóricas em estudos experimentais interculturais;

D. Modelos matemáticos da interacção social, percepção social e psicolinguística comparativa;

E. Influência e poder nas relações grupais;

F. Processos de comunicação;

G. Conflitos intragrupos e intergrupos;

H. Competição e acção grupal;

Na sessão final os participantes fizeram unanimemente uma avaliação positiva da conferência e expressaram a esperança de que se fizesse algo para continuar a troca de informação e dar oportunidades aos estudantes de psicologia social para receberem aqui na Europa uma formação mais avançada em áreas de pesquisa e métodos especializados. Consequentemente John Lanzetta escreveu um documento intitulado Proposal for Contributions to the Development of Experimental Social Psychology in Europe (Proposta de Contribuição para O Desenvolvimento da Psicologia Social Experimental na Europa). Esta proposta de 1964 incluía as seguintes acções a empreender em que provavelmente a ordem de apresentação corresponde a uma ordem de exequibilidade e proridade:

(1) Uma segunda conferência europeia de psicologia social experimental;

(2) Um curso de Verão de 4-6 semanas a ser realizado numa localização central na Europa, para estudantes de nível médio e avançado que tenham dificuldade em obetr formação em métodos experimentais nas suas universidades de origem;

(3) Um programa de intercâmbio de cientistas dentro da Europa consistindo em curtas visitas para realização de palestras e actividades de consultadoria em investigação;

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(4) Seminário especializados, ajuda na obtenção de apoio para a investigação;

(5) Um Centro Internacional de Pesquisa e Formação em Psicologia Social.

Assim, foi realizada uma segunda Conferência Europeia de Psicologia Social Experimental na localidade de Frascati, perto de Roma, em Itália, de 11 a 15 de Dezembro de 1964. No final da conferência foi decidido eleger uma Comissão Europeia de Planeamento, constituída por Jozef Nuttin, Gustav Jahoda, Serge Moscovici, Henri Tajfel e Mauk Mulder.que ficou encarregada de:

A. planear alguma forma de estrutura organizacional de suporte às actividades subsequentes;

B. planear em detalhe essas actividades;

C. explorar a possibilidade de recolher fundos na Europa;

D. reportar à próxima conferência.

Umas semanas após a conferência de Frascati, esta comissão organizadora reuniu-se pela primeira vez em Lovaina, Bélgica, tendo pouco tempo depois sido adoptada pela primeira vez a designação da nova associação: European Association for the Advancement of Experimental Social Psychology, à qual presidia Serge Moscovici e que no fundo envolvia os participantes europeus nas conferências de Sorrento e Frascati.

Figura 4 –Membros da comissão eleita na Conferência de Frascati, durante a sua primeira reunião em Lovaina (Da esq. Para a direita: - J.M. Nuttin, G. Jahoda, S.

Moscovici, H. Tajfel, M. Mulder)

A terceira Conferência foi realizada desta vez perto de Paris, França nos dias 27 de Março a 1 de Abril de 1966. Esta conferência teve um significado especial pois foi totalmente organizada e financiada por europeus tendo

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participado somente dois cientistas americanos como convidados. Durante esta conferência foi realizada a primeira assembleia geral da nova associação, tendo os membros da anterior comissão sido re-eleitos e juntamente com M. Irle e R. Rommetveit constituído a primeira Comissão Executiva formal da associação que passava a designar-se Associação Europeia de Psicologia Social Experimental que teve S. Moscovici, como seu primeiro presidente e contou à partida com 44 membros.

O curso de Verão acabou por ser realizado em Lovaina, na Bélgica em 1967, tendo como anfitrião uma figura bem conhecida da psicologia social europeia o belga Jozef Nuttin Jr. juntamente com o psicólogo social holandês, Jos Jaspars.

Figura 5 – Grupo de participantes no primeiro Curso de Verão European Research

Training Seminar in Experimental Social Psychology.

A escolha do local de realização do curso deveu-se provavelmente ao facto de, uns anos antes, em 1963, Nuttin ter fundado na Katholieke Universiteit Leuven (Universidade Católica de Lovaina) um laboratório de Pscologia Social Experimental, que era à época um dos mais avanados, mesmo em termos mundiais.

É hoje óbvio que a Associação Europeia de Psicologia Social Experimental teve um enorme sucesso, tendo estado na base do notável renascimento a que a psicologia social europeia tem assistido a partir dos anos 70, contando hoje com mais de mil membros, entre os quais 16 portugueses.

Apesar de do ponto de vista metodológico não terem aparecido grandes novidades, o facto é que, do ponto de vista teórico, a psicologia social europeia, de forma perfeitamente consciente, se definiu em oposição à psicologia social americana caracterizada por uma posição global explicitamente mais crítica face à sociedade, mais política, se quisermos. Contudo, apesar de não ter abandonado totalmente a sua perspectiva crítica inicial, é notório que, pelo menos a partir dos anos 80, a psicologia social europeia atingiu um grau de auto-confiança e reconhecimento internacional

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que tem permitido a sua institucionalização como área científica perffeitamente integrada no mundo académico em geral, podendo hoje dizer-se que a investigação europeia começa já ter um impacto significativo e reconhecido nos próprios EUA e mesmo no resto do mundo. Por exemplo, o recente ressurgimento do interesse pela investigação sobre grupos foi quase que exclusivamente devida às perspectivas e trabalhos de investigação europeus. Para além desta área, o impacto da psicologia social europeia tem-se revelado particularmente em áreas como as representações sociais, identidade social, comportamentos intergrupo e influência de minorias.

Cada uma destas temáticas tem sido tradicionalmente alvo de ênfases diversos nos diversos países europeus onde a psicologia social tem tido um maior destaque. Assim, podemos ver que as representações sociais têm sido particularmente estudadas em França, os processos de grupo apontando para uma psicologia social de carácter mais políico na Alemanha, a cognição social tem sido mais estudada nos Países Baixos, o desenvolvimento social da cognição na Suíça francófona e a acção orientada para objectivos na Suíça alemã. Em termos de autores europeus têm igualmente sido produzidos trabalhos de relevância e certamente ao longo deste manual teremos oportunidade de abordar pormenorizadamente alguns deles. Para já parece-nos importante destacar os trabalhos de Henri Tajfel e Serge Moscovici que numa altura em que a investigação sobre grupos entrava em declínio nos EUA avançaram nesta área abrindo novas perspectivas sobre o comportamento grupal e a influência social, perspectivas essas que asseguraram a continuação de produtiva investigação neste campo importante da psicologia social. Igualmente os trabalhos de Tajfel e colaboradores sobre a identidade social, categorização social e comportamento intergrupal e de Moscovici e coloboradores sobre a polarização de grupo e influência das minorias têm-se constituído como temas fundamentais da psicologia social dos últimos 20 anos, não somente na Europa, mas igalmente em outras partes do mundo. Para mais estes trabalhos têm conduzido a conceptualizações sociocognitivas, por exemplo na analise da formação de impressões e processo de estereotipização.