ASPECTOS PRÁTICOS DO PROCESSO DE USUCAPIÃO

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ASPECTOS PRTICOS DO PROCESSO DE USUCAPIO NA ILHA DE SANTA CATARINA APS A EMENDA CONSTITUCIONAL 46/2005 Jos Isaac Pilati Professor de Direito Civil da Universidade Federal de Santa Catarina e Professor Convidado da ESA/OAB-SC1 Palestra ministrada na OAB/SC em 25/10/2005 Introduo Na polmica em torno das Medidas Provisrias2 que antecederam a lei n. 9636/98, sempre me coloquei do lado daqueles que repudiaram a pretenso federal de se apossar da Ilha de Santa Catarina, vendo no episdio um desrespeito ao pacto federativo e aos mais comezinhos princpios da hermenutica jurdica. Nunca comunguei do entendimento de que o art. 20 da CRFB/88 operaria automaticamente e ex tunc no caso da Ilha Capital, ao arrepio do pacto originrio de 1891, e sem letra expressa que desconstitusse situao constitucional consolidada: a Ilha integra o territrio de um Estadomembro, e como tal deve ser considerada e respeitada. Na verdade, entendia, era um golpe contra a segurana jurdica, encastelado na afirmao simplria e simplista de que no h direito adquirido contra a Constituio. O problema deveria terminar em face da Emenda Constitucional n. 46/2005, que afastou da pretenso federal as ilhas sedes de municpio, como a Ilha de Santa Catarina, de Vitria no Esprito Santo, So Luiz no Maranho e So Francisco do Sul em Santa Catarina3. Mas tudo indica que no. Isso refora minha convico, em todo o episdio, que o problema no reside na Constituio e sim na interpretao (sistemtica) da Constituio. De qualquer modo, uma das conseqncias dessa EC 46/05 (salvo as situaes pertinentes Smula 150 STJ), a imediata excluso da Unio em1

Agradecimentos especiais s instituies e autoridades que facilitaram o acesso e a investigao do signatrio: Juzes Federais Jurandi Borges Pinheiro e Ricardo Teixeira do Valle Pereira e Diretora de Secretaria Maritza dos Santos R. Thom (Vara Ambiental, Agrria e Residual/Florianpolis); Desembargador Luiz Cezar Medeiros (Tribunal de Justia de Santa Catarina); Valcyr Melo e Jordan Martins (2 e 3 Ofcio do Registro de Imveis da Capital, respectivamente); Advogado Mrcio Luiz Fogaa Vicari, Diretor Geral, e Ladja Sell, Secretria da ESA/OAB-SC (precioso arquivo sobre a polmicaem torno da titularidade das terras da Ilha de Santa Catarina). 2 A primeira MP foi a de n. 1567/97, e a aprovao da lei 9.636/98 convalidou os efeitos da n. 1.647-14. A lei seria regulamentada pelo Decreto n. 3.725/2001. 3 O autor da emenda, e grande arauto de sua aprovao, foi o Deputado Federal catarinense Edison Andrio Andrino de Oliveira. O texto da Emenda est reproduzido no n. 4, infra. A referncia a sede de Municpio foi apenas uma tcnica de redao, pois o que se pretendia mesmo era preservar o regime jurdico consolidado das ilhas que j integram Estados e Municpios, como o caso da de Santa Catarina, em Florianpolis. 1

todas as aes, atuais e futuras de usucapio em tais ilhas, revertendo a competncia Justia Estadual. Perante isso, como ficam os processos em andamento? Os que j foram julgados? As aes que esto para ser ajuizadas? o tema que se pretende abordar, no caso especfico das aes de usucapio da Capital barriga-verde, que durante muitos anos pairaram no limbo, entre a Justia Federal e a Justia Estadual. No se olvide, por outro lado, que a Unio parece no se conformar, agitando a tese de que a Emenda Constitucional s teria alcanado os terrenos alodiais urbanos, no os rurais. O argumento no convence. Os Parlamentares catarinenses, ao redigir a EC tiveram a preocupao de afastar justamente esse tipo de interpretao4. A abordagem ser orientada soluo prtica dos processos em andamento. Fao uma breve introduo terica, para depois me deter nos aspectos da petio inicial, das fases e incidentes processuais, adicionando a teoria e o entendimento pessoal nas questes controvertidas. Concluirei com algumas recomendaes especficas aos casos de usucapio da Ilha de Santa Catarina. 1. Usucapio: noo introdutria A usucapio um modo originrio de aquisio da propriedade (mvel ou imvel) ou de qualquer outro direito real de gozo (como usufruto, superfcie, uso, habitao, enfiteuse), decorrente da posse do objeto (bem corpreo) com animus domini, mansa, pacfica e ininterrupta, pelo prazo da lei. Alm de modo de aquisio, a usucapio serve para confirmar a propriedade, consolidar as aquisies, e funciona como meio de prova. Sua finalidade, alerta Arajo5 com apoio em Savigny, encerrar as incertezas dentro de um certo lapso de tempo. A isso se acrescenta que, sendo o registro iuris tantum no sistema brasileiro, a usucapio que confere estabilidade e certeza propriedade, motivo pelo qual se exigem, comumente, as to conhecidas certides vintenrias6.

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A verso final da EC foi sugesto do Instituto Histrico e Geogrfico de Santa Catarina, por iniciativa de Osvaldo Ferreira de Melo, que chamou a ateno do Deputado Edison Andrino para o risco de a Unio alegar exatamente isso, que a Emenda se limitaria aos imveis urbanos. 5 ARAJO, Fbio Caldas de. O usucapio no mbito material e processual. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 6. A obra de Savigny citada em edio espanhola Sistema del derecho romano atual. Madrid: Gongora, 1875, v. 4, p. 175. 6 Certides vintenrias que continuaro vintenrias perante o novo Cdigo Civil, em face do pargrafo nico do art. 1.379, que mantm em 20 anos o prazo da usucapio extraordinria de servido. 2

1.2 O fundamento da usucapio a utilidade social. Serve para consolidar a aquisio, conforme dito, dar segurana e estabilidade propriedade e facilitar como meio de prova; pode tambm ser alegado como matria de defesa (smula 237 do STF, art. 7 da lei 6.969/81 e art. 13 do Estatuto da Cidade7). 1.3 Os Requisitos da ao dependem da espcie de usucapio, sendo comuns a posse, o tempo, o animus domini8 e objeto hbil9. H algumas classificaes corriqueiras na doutrina. Vejamos. 1.3.1 Pessoais: ser o autor pessoa capaz e que tenha qualidade para adquirir por esse meio (1244 e 197-198)10. 1.3.2 Reais: ser o objeto suscetvel de posse e que no esteja fora do comrcio. Os bens pblicos, como os terrenos de marinha, por exemplo, em princpio no podem ser usucapidos11. 1.3.3 No plano formal, os requisitos so: comuns (posse e prazo legal) e especiais (justo ttulo e boa-f). Os requisitos formais especiais, quando presentes, tm o condo de diminuir o prazo de aquisio; a usucapio ordinria. Todavia, alm da usucapio tradicional (ordinria e extraordinria), h os casos de usucapio especial, rural ou urbana, e de concesso de uso especial para fins de moradia; nesses necessrio, ainda, posse trabalho, extenso compatvel do imvel e ausncia de outra propriedade urbana ou rural em nome do usucapiente. A usucapio coletiva do Estatuto da Cidade7

Art. 13 da lei 10.257/2001: A usucapio especial de imvel urbano poder ser invocada como matria de defesa, valendo a sentena que a reconhecer como ttulo para registro no cartrio de registro de imveis. 8 A jurisprudncia tem amainado o princpio da inalterabilidade do carter da posse: Resp 154733/DF 1997/081019-4. 4 T. Ministro CESAR ASFOR ROCHA. CIVIL. USUCAPIO EXTRAORDINRIO. COMPROVAO DOS REQUISITOS.MUTAO DA NATUREZA JURDICA DA POSSE ORIGINRIA. POSSIBILIDADE. O usucapio extraordinrio - art. 55, CC - reclama, to-somente: a) posse mansa e pacfica, ininterrupta, exercida com animus domini; b)o decurso do prazo de vinte anos; c) presuno juris et de jure de boa-f e justo ttulo, "que no s dispensa a exibio desse documento como tambm probe que se demonstre sua inexistncia". E, segundo o ensinamento da melhor doutrina, "nada impede que o carter originrio da posse se modifique", motivo pelo qual o fato de ter havido no incio da posse da autora um vnculo locatcio, no embarao ao reconhecimento de que, a partir de um determinado momento, essa mesma mudou de natureza e assumiu a feio de posse em nome prprio, sem subordinao ao antigo dono e, por isso mesmo, com fora ad usucapionem. Precedentes. Ao de usucapio procedente. Recurso especial conhecido, com base na letra "c" do permissivo constitucional, e provido. Fonte: DJ 19.03.2001, p. 111. 9 ARAJO, Fbio Caldas de. O usucapio no mbito material e processual. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 6 et seq, a respeito dos requisitos da usucapio. 10 O art. 1.244 do CC: Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrio, as quais tambm se aplicam usucapio. Assim, o tutor no pode adquirir por usucapio os bens do tutelado (art. 197,III); a esposa contra o marido (197,I); assim como no corre prazo contra quem est servindo as foras armadas em tempo de guerra (198,III) ou incapaz (inciso I). 11 SALLES, Jos Carlos de Moraes. Usucapio de bens imveis e mveis. 6 ed. So Paulo: RT, 2005, p.8788, chama ateno para a smula 340 do STF, editada aob a gide do CC/16: Desde a vigncia do Cdigo Civil, os bens dominicais, como os demais bens pblicos, no podem ser adquiridos por usucapio. Antes disso, j o Dec. 22.785/33, art. 2, dispusera nesse sentido, at que a lei n. 6969/81 permitiu usucapio de terra devoluta no registrada, sem falar, acrescenta-se, agora, da MP 2.220/01, que permite concesso de uso para fins de moradia em terras pblicas. 3

(Lei 10.257/01, art. 10) e a concesso de uso coletiva da MP 2220/01 (art. 2) so concedidas, unicamente, a pessoas de baixa renda, mediante requisitos especficos, que se acrescentam queles da espcie comum extraordinria. 1.4 As espcies de usucapio, de interesse nesta exposio so: usucapio tradicional, ordinria e extraordinria, e usucapio especial rural, urbana (singular e coletiva), alm da concesso especial de uso para fins de moradia (singular e coletiva). Essa distino entre especial e tradicional importante, embora os manuais no faam referncia, porque, conforme j dito, o procedimento, alm dos requisitos, num e noutro grupo, so muito diferentes. No primeiro caso, a usucapio se processa pelo rito do CPC, art. 941; j a usucapio especial, nas diversas espcies, pauta-se pelo rito sumrio, com menor rigor formal, e em alguns casos, permitindo a concesso pela via administrativa. 1.4.1 Extraordinria: Art. 1238: em 15 e 10 anos (a posse trabalho12, do pargrafo nico, pode reduzir o prazo de 15 para 10 anos). 1.4.2 Ordinria: art. 1242: em 10 anos, ou em cinco anos havendo possetrabalho13; 1.4.3 Especial urbana: art. 1240 do CC, art. 9 do Estatuto da Cidade e 183 da CRFB/88: quem possui como sua, por cinco anos ininterruptos e sem oposio, imvel em zona rural ou urbana, com rea no superior a 250m2, utilizando-a para sua moradia ou de sua famlia e desde que no seja proprietrio de outro imvel urbano ou rural, adquire o imvel por usucapio e faz jus declarao do direito, mediante sentena. E se tiver outra posse? No ser obstculo, a menos que se prove j ter tempo e requisitos de usucapio sobre a referida rea, pois a usucapio especial, de qualquer espcie, s se concede uma nica vez e a quem no seja proprietrio de outra rea, urbana ou rural.

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Pargrafo nico do art. 1.238 do Cdigo Civil: O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se- a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imvel sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou servios de carter produtivo. 13 Art. 1242, pargrafo nico do Cdigo Civil: Ser de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imvl houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartrio, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econmico. 4

1.4.4 Especial rural: art.1239 do CC, 191 da CRFB e art. 1 da lei 6969/81 14: obtm-se mediante cinco anos de posse, sobre rea de terra em zona rural, com at 50 ha, tornando-a produtiva pelo prprio trabalho ou da famlia, tendo nela sua moradia, e desde que no seja proprietrio de outra rea rural ou urbana. A simples alegao de que as terras so devolutas no afasta a usucapio, devendo o Poder Pblico, se tiver tal pretenso, discrimin-las previamente, como reza a lei 6383/76. O entendimento jurisprudencial, embora haja decises em sentido contrrio, nessa linha15:"Ilhas martimas (ilhas costeiras ou continentais e ilhas ocenicas ou pelgicas). Santa Catarina. Ilha costeira. Usucapio de reas de terceiros nela existentes. Domnio insular da Unio Federal (CF, art. 20, IV). Possibilidade jurdico-constitucional de existirem, nas ilhas martimas, reas sujeitas titularidade dominial de terceiros (CF, art. 26, II, in fine). A questo das terras devolutas. Inexistncia de presuno juris tantum do carter devoluto dos imveis pelo s fato de no se acharem inscritos no registro imobilirio. Insuficincia da mera alegao estatal de tratar-se de imvel pertencente ao domnio pblico. Afirmao que no obsta a posse ad usucapionem. Necessidade de efetiva comprovao, pelo poder pblico, de seu domnio. (RE 285.615, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 23/02/05)

1.4.5 Coletiva urbana: art. 10 Estatuto da Cidade, lei 10.257/01. usucapio que exige rea total de mais de 250m2, ocupada por pessoas de baixa renda que no tenham outra propriedade, utilizada para moradia, e em condies em que no seja possvel identificar os terrenos ocupados individualmente pelos postulantes. So pressupostos: 1) rea urbana maior de 250m2, em que os litisconsortes no pleiteiam frao superior a este mnimo; 2) pessoas de baixa renda; 3) posse a ttulo de moradia; 4) prazo legal de cinco anos; 5) impossibilidade de localizao da posse de cada usucapiente; 6) no terem os14

Reza o art. 1 da lei 6969/81: Todo aquele que no sendo proprietrio rural nem urbano, possuir como sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposio, rea rural contnua, no excedente de 25 (vinte e cinco) hectares, e a houver tornado produtiva com seu trabalho e nela tiver sua mordia, adquirir-lhe- o domnio, independentemente de justo ttulo e boa-f, podendo requerer ao juiz eu assim o declare por sentena, a qual servir de ttulo para transcrio no Registro de Imveis. Por essa lei, a usucapio especial abrange terras devolutas em geral (art. 2) excetuando-se reas indispensveis segurana nacional, terras habitadas por silvcolas, ares de interesse ecolgico consideradas como tais as reservas e parques assim declarados, assegurada aos atuais ocupantes a preferncia para assentamento em outras regies, pelo rgo competente (art. 3). No caso de terras devolutas pode ser reconhecida administrativamente (art. 4, 2). Esta modalidade de usucapio foi introduzida pelo art. 125 da CF/34, para imveis rurais e urbanos (at 10 ha), mantido na CF/37 (art. 151, 3, 125 ha), passando para o Estatuto da Terra, lei 4.504/64, art. 98, e depois para a lei 6969/81. 15 Assim tambm decidiu o TRF da 4 Regio, na Ap. Cvel 149518, DJU de 06 jun. 2002, p. 1627, Rel. Des. Slvia Goraieb: - A condio de terra devoluta no se presume, deve ser comprovada por quem a alega, como decidido pelo Supremo Tribunal Federal. nus da prova que incumbe Unio. 5

possuidores outro imvel urbano ou rural; 7) possibilidade de Accessio possessionis por prova testemunhal (na usucapio tradicional exige-se cesso da posse por documento escrito). A aquisio se d em regime de condomnio (conforme art. 2, 3 e 4), sendo que os condminos podem ajuizar a ao mediante substituto processual (associao de moradores regularmente constituda, art. 12, III). Obs.: interessante observar que se trata de condomnio cuja administrao possui peculiaridades em relao ao prprio condomnio edilcio (a teor 5 e demais dispositivos do art. 10 do EC). Vale dizer, aplica-se o regime do art. 1.331-1.358 do CC, observadas as especificidades do regime de aquisio coletiva. Obs.: outro aspecto o pertinente ao inciso II do art. 4 da lei 6766/79: a usucapio pode ser concedida sobre rea menor do que a mnima prevista na legislao municipal para cada lote da quadra? No caso do imvel rural, a lei 6969/81 dispunha antes de a CF fixar o limite mximo em 50 ha em seu pargrafo nico do art. 1: prevalecer a rea do mdulo rural aplicvel espcie, na forma da legislao especfica, se aquele for superior a 25 (vinte e cinco) hectares.No caso do imvel urbano, creio que mais prtico considerar o seguinte: se a rea j loteada, e a parcela usucapida for menor que a unidade, haver condomnio com a parte restante do lote; se no foi parcelada no haver problema, pois no se tratar de loteamento. 1.4.6 Concesso de uso especial para fins de moradia (individual ou coletiva): art. 183, 1 da CRFB e MP 2220/01. Aquele que tiver possudo por cinco anos ininterruptos e sem oposio, rea de at 250 m2 de imvel pblico16 situado em rea urbana, utilizando-a para sua moradia ou de sua famlia, tem direito concesso de uso especial para fins de moradia em relao ao bem objeto da posse, por via judicial ou administrativa (e registro no lbum imobilirio) desde que no seja proprietrio ou concessionrio, a qualquer ttulo, de outro imvel urbano ou rural. O direito concedido, gratuitamente (art. 1, 1), ao homem ou mulher ou ambos, uma nica vez ao mesmo concessionrio, assim como o filho que reside no imvel tem preferncia sobre os demais herdeiros (art. 1, ). Trata-se de direito que admite a forma coletiva (art. 2 da MP), sendo que a frao ideal de cada possuidor no poder ser superior a 250 m2. Os ocupantes regularmente inscritos em imveis pblicos, que preencham os requisitos da MP, art. 1 e 2, podero optar pelo regime da concesso especial (art. 3), assim como Poder Pblico, em caso de risco vida e sade dos ocupantes, pode garantir o16

O DL 271/67 trata de concesso de uso de terreno pblico e particular; porm, sua aplicao diferente da concesso de uso da MP 2.220/01, pois se presta a oferecer instrumento jurdico de assentamento de pessoal (massa de trabalhadores) ligado a investimentos econmicos de vulto. 6

direito em outro local (art. 4); a mesma coisa pode ser feita no caso de a rea situar-se em imvel de uso comum do povo, destinado a projeto de urbanizao, de interesse da defesa nacional, preservao ambiental e de ecossistemas, reservado construo de represas, ou situado em via de comunicao (art. 5). O referido direito pode extinguir-se, cancelando o registro, se o concessionrio der destinao diversa da moradia ao imvel ou se adquirir a propriedade ou a concesso de uso de outro imvel urbano ou rural (art. 8). Nesse caso, a simples existncia de outra posse j inviabiliza a pretenso. O art. 9 da MP tambm faculta ao Poder Pblico a autorizao de uso para fins comerciais, nas mesmas condies da concesso de uso para fins de moradia, mutatis mutandis. 1.4.7 Desapropriao judicial: art. 1228, 4 e 5: em autos de ao reivindicatria, tendo por objeto extensa rea, ocupada por mais de cinco anos por considervel nmero de pessoas, de forma ininterrupta e de boa-f, com realizao, em conjunto ou separadamente, de obras e servios considerados pelo juiz de interesse social e econmico relevante, o juiz pode fixar o valor da justa indenizao devida ao proprietrio, e os rus, pagando tal preo, obtero, pela sentena, o ttulo de propriedade para registro. O autor da ao, em vencendo, receber o dinheiro e no o imvel. Essa figura um misto de desapropriao judicial e usucapio, pois na verdade os rus acabam adquirindo, judicialmente, o imvel, por fora de um direito potestativo assegurado pelo Cdigo Civil. De qualquer forma, a aquisio ser originria e no derivada, o que aproxima a espcie, por este e pelos demais aspectos, da usucapio.17 Obs.: Usucapio de linha telefnica (STJ, smula 193). Trata-se de um caso anmalo de usucapio, porque a linha telefnica um servio, no um bem corpreo, suscetvel de posse. 2 Petio Inicial A ao de usucapio uma ao declaratria. Ante a propositura da ao, deve-se tomar alguns cuidados especficos. 2.1 Competncia17

Entre ns caso tpico de aplicao do princpio da funo social da propriedade. No direito romano, em todo o perodo clssico, era a regra dominante: o ru poderia optar por no entregar a coisa, pagando a indenizao fixada no processo. PETIT, Eugne. Tratado elemental de derecho romano. Trad. Jos Ferrndez Gonzlez. Madrid: Saturnino Calleja, 1926, p. 645.

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Ser da comarca da situao do imvel a competncia para a ao de usucapio, em geral, da justia comum estadual; mas h casos de competncia da Justia Federal, conforme a Smula 150 do STJ: Compete Justia Federal decidir sobre a existncia de interesse jurdico que justifique a presena, no processo, da Unio, suas autarquias ou empresas pblicas. A Smula 11 do mesmo STJ refere-se usucapio especial da Lei 6.969/81: A presena da Unio ou de qualquer de seus entes, na ao de usucapio especial, no afasta a competncia do foro da situao do imvel. No se pode esquecer, tambm, os casos de usucapio administrativa (Lei 6969/81, art. 4 , 2 e MP 2220/01, art. 6). No caso de ao que envolva sociedade de economia mista18, o entendimento, quanto competncia, o seguinte: Apelao Cvel n. 2003.003403-0, de Tubaro.Relator: Des. Luiz Czar Medeiros: Nos termos da Smula n. 42 do Superior Tribunal de Justia, compete Justia Comum Estadual processar e julgar as causas cveis em que parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento. 2.2 Qualificao Seja qual for a espcie de usucapio cabvel, o advogado ao elaborar a petio inicial deve qualificar precisamente os requerentes, indicando identidade, CPF, profisso, endereo completo, estado civil, e se casado for, o nome da mulher, com identidade, CPF, regime de bens e ano da celebrao do casamento se realizado anteriormente ou na vigncia da lei 6.515/77, que alterou o regime de universal para comunho parcial. Esses dados so importantes para o futuro da pretenso, se julgado procedente o feito, por ocasio do registro da sentena no lbum imobilirio. A falta de uma informao dessas pode embaraar o registro final e atrasar o deslinde da questo. 2.3 Descrio do objeto da usucapio Deve o autor informar a origem e o carter da posse (posse prpria, com animus domini), os atos de senhoria (afinal, se a posse fato, cumpre descrever os atos de posse), o tempo de exerccio, a unio de posses anteriores18

SALLES, Jos Carlos de Moraes. Usucapio de bens imveis e mveis. 6 ed. So Paulo: RT, 2005, p. 88, alerta para o fato de que bens imveis de Sociedade de Economia Mista podem ser usucapidos. 8

(accessio possessionis ou successio possessionis), juntando os respectivos comprovantes, e individualizar a coisa (orientando-se pela L. 6.015/73, art. 225-6 e 167, n. 28 e na planta de situao e locao elaborada por profissional habilitado). Deve constar da inicial, tambm, o nmero do cadastro do imvel perante a Prefeitura ou perante o INCRA (se rural), pois sem esse dado o Registro de Imveis no abre a matrcula. importante incluir, na narrao dos fatos, aluso a todos os requisitos da espcie de usucapio pretendida. Assim, se for o caso de usucapio especial rural, deve o autor fazer referncia posse trabalho, no existncia de outra propriedade em seu nome (comprovada por certido negativa do registro de imveis) e extenso compatvel do terreno com a exigncia legal (no superior a 50 ha, no caso de usucapio especial rural). Deve o advogado, ao demais, juntar: 2.4 Documentos especficos Alm de procurao, comprovante do recolhimento de custas, enfim, dos documentos rotineiros de qualquer petio inicial, no caso de usucapio deve o autor juntar19: a) Instrumento de cesso de posse, pelo qual adquiriu o direito, documento que deve indicar origem e carter da posse, descrio do imvel, identificao do cedente (e cnjuge), cadeia de accessio ou successio possessionis. Pode ser pblico ou particular.Convm juntar tambm cpia dos instrumentos dos antecessores e respectivas cesses, provando a cadeia sucessria at o princpio. b) Planta do imvel com levantamento topogrfico, constante de locao20 do imvel (situando-o no local) de situao (entre os confrontantes), e bem assim, memorial descritivo (medidas, confrontaes, vegetao, acesses) feito por profissional inscrito no CREA, acompanhado da ART Anotao de Responsabilidade Tcnica (CREA). No existe regra fixando a escala, que pode ser 1/250, 1/500, ou outra, dependendo do imvel, da situao e da comodidade consulta nos autos. A lei 6969/81, 1 do art. 5, no caso de usucapio especial rural, dispensa, expressamente, a necessidade de juntada da respectiva planta com a petio inicial, dado o cunho social dessa espcie de19

Interessante observar que na Ilha de Santa Catarina, em funo dos problemas com a Unio Federal, a tramitao dos processos em massa pelas esferas da Justia Federal e da Justia Estadual, acabou definindo um perfil de exigncias, quanto prova documental, que antes no se notava no foro. Da a necessidade de apontar o rol de documentos normalmente exigidos pelos juzes, a fim de evitar as delongas que a sua falta pode provocar. 20 Locao aqui est no sentido de conjunto de operaes com que se marcam, num terreno, os pontos de uma obra. FERREIRA, Aurlio B. de H. Novo Aurlio sculo XXI: o dicionrio da lngua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 1220. 9

usucapio. Transfere ao magistrado e aos rgos pblicos envolvidos na rea a responsabilidade. c) Certido atualizada do imvel pelo Registro de Imveis, se houver. Este documento importante para definir o plo passivo da ao (CPC, art.), ou ento: d) Certido negativa do Registro de Imveis, frente ao Indicador Real; e) Certides vintenrias expedidas pelas Justias Federal e Estadual, que atestem a existncia ou no de ao possessria ou qualquer outra envolvendo o imvel, autores e cedentes e respectivos cnjuges; f) Comprovantes de pagamento de impostos relativos ao imvel, se houver (IPTU, ITR); g) Faturas de pagamento de energia eltrica, gua ou telefone, se houver. h) Fotografia do local, acompanhada dos respectivos negativos. Obs.: juntar jogo completo de petio inicial e cpia das plantas do imvel para cada um dos mandados de citao a serem expedidos. 2.5 Requerimento final Alm do pedido de procedncia da ao e registro da sentena no lbum imobilirio, deve o autor requerer: a) citao por mandado (CPC 942 e smulas 263 e 391 STF): a.1 - da pessoa e cnjuge que tiver o imvel em nome (devidamente qualificados); a.2 dos confrontantes com respectivos cnjuges (s vezes a Prefeitura, no caso de confrontao do imvel com rua municipal); b) citao por edital (CPC 942 in fine e 232,IV) b.1 dos rus em lugar incerto21 b.2 dos eventuais interessados c) intimao por via postal (CPC, 943) para que manifestem interesse, dos representantes da Fazenda Pblica da Unio, do Estado e do Municpio. d) intimao por via postal do representante do Ministrio Pblico (CPC, 944). Obs.: assistncia judiciria: a lei 1.060/50 sofreu alterao da lei 7.510/86, pelo que a condio de pobre deve ser provada por declarao do prprio interessado, na inicial ou em documento avulso, ou por procurador com poderes (art. 4, 1)22. No caso especfico de ao de usucapio, interessa21

No caso de ausente, cumpre lembrar a necessidade de nomear curador, a teor do art. 22 et seq. do Cdigo Civil. 22 O art. 4, 1 da lei 1.060/50, com a redao atual diz: Presume-se pobre, at prova em contrrio, quem afirmar essa condio nos termos desta lei, sob pena de pagamento at o dcuplo das custas judiciais. 10

destacar que a assistncia judiciria dispensa a publicao do edital em outro jornal, bastando a publicao do rgo oficial (art. 3, pargrafo nico)23.O art. 6 da lei 6969/81 e o art. 12, 2 do Estatuto da Cidade, lei 10.257/01, incluem no benefcio da assistncia judiciria despesas com o Registro de Imveis.24 Obs: os honorrios advocatcios so devidos, tambm, por entes pblicos, quando sucumbentes.25 Obs.: o valor da causa no ser o valor do terreno em si, porque a sentena meramente declaratria de uma propriedade que j existe; mas, certamente, leva-se em conta o aumento de valor que ter o imvel, com a obteno da sentena. 2.6 Registro da sentena no Registro de Imveis Perante o registro de imveis, com cpia da sentena e da petio inicial, apresenta-se Mandado ou Ofcio contendo todos os requisitos para a abertura da matrcula, previstos no art. 167 da Lei 6.015/73. Junta-se, tambm, cpia do Cadastro Imobilirio Municipal, caso no tenha sido mencionado na petio inicial (s vezes pode ter sido providenciado aps o ajuizamento da ao). E recolhe-se, finalmente, na Recepo do Cartrio, a importncia (atualmente) de R$ 50,70 de emolumentos e selo de autenticao. 3 Procedimento da ao de usucapio Dependendo da espcie de usucapio, o procedimento varia. Alm dos elementos at aqui tratados, convm lembrar outros aspectos. 3.1 Procedimento do CPC: art. 941-945 O CPC estabelece o procedimento da usucapio de terras particulares no art. 941. A lei 8951/94 dispensou a justificao prvia da posse, simplificando e abreviando o procedimento.(Redao dada pela Lei n 7 510, de 04/07/86). 23 a seguinte a redao do dispositivo: Pargrafo nico. A publicao de edital em jornal encarregado de divulgao de atos oficiais, na forma do inciso III, dispensa a publicao em outro jornal. (Includo pela Lei n 7.288, de 18/12/84). 24 Diz o art. 6, caput da lei 6969/81: O autor da ao de usucapio especial ter, se o pedir, o benefcio da assistncia judiciria gratuita,, inclusive para o Registro de Imveis. 25 Apelao Cvel n. 2003.029498-8, de Imbituba.Relator: Des. Luiz Czar Medeiros: Embora os honorrios advocatcios se incluam no conceito de despesas judiciais, no podem ser tidos como custas judiciais, motivo pelo qual so devidos tambm pelos entes pblicos, quando sucumbentes. 11

No caso do procedimento do CPC, previsto para usucapio de terras particulares, nas modalidades ordinria e extraordinria, a argio em defesa no dispensa a propositura da ao prpria. No se admite, por outro lado, reconveno em ao de usucapio.26 3.2 Procedimento especial: Estatuto da Cidade e MP 2220/01 No caso de usucapio especial, a lei 6969/81, alm da via administrativa para o caso de terras devolutas no registradas (art. 4, 2), prescreve o procedimento sumrio, assegurada a preferncia sua instruo e julgamento (art. 5). Tambm estabelece o procedimento sumrio o art. 14 do Estatuto da Cidade (lei 10257/01). O 1 do art. 5 da lei 6969/81 dispensa o autor da juntada da prpria planta do imvel, o que se explica em face do cunho social dessa espcie de usucapio. Da mesma forma, a simples alegao da usucapio como defesa, em caso de procedncia, faz a sentena valer como ttulo para registro no cartrio de imveis (art. 7 da lei 6969/81 e art. 13 do Estatuto da Cidade). Tambm tem peculiaridades no procedimento a usucapio urbana coletiva (art. 10 do EC), e a concesso de uso especial para fins de moradia coletiva ou no (MP 2220/01). Esta ltima tem por objeto bem pblico, pode ser pleiteada pela via administrativa e negada esta pela via judicial, mediante requerimento instrudo por certido expedida pelo Poder Pblico municipal, que ateste a localizao do imvel em rea urbana e a sua destinao para moradia do ocupante ou de sua famlia (art. 6, 2 da MP 2220/01). Cumpre lembrar, tambm, que em face do art. 11 do Estatuto da Cidade, ao ajuizamento de ao de usucapio constitucional urbana acarreta o sobrestamento de quaisquer outras aes, petitrias ou possessrias, excetuando-se, com isso, o disposto no art. 923 do CPC. 4 O conflito com a Unio aps a EC 46/05 Diz a referida Emenda 46/05:Art. 1 O inciso IV do art. 20 da Constituio Federal passa a vigorar com a seguinte redao: "Art. 20. So bens da Unio: IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limtrofes com outros pases; as praias martimas; as ilhas ocenicas e as costeiras, excludas, destas, as26

SALLES, Jos Carlos de Moraes. Usucapio de bens imveis e mveis. 6 ed. So Paulo: RT, 2005, p. 136. 12

que contenham a sede de Municpios, exceto aquelas reas afetadas ao servio pblico e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: I as guas superficiais ou subterrneas, fluentes, emergentes e em depsito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da Unio;

II as reas, nas ilhas ocenicas e costeiras, que estiverem no seu domnio, excludas aquelas sob o domnio da Unio, Municpios ou terceiros;III As ilhas fluviais e lacustres no pertencentes Unio; IV as terras devolutas no compreendidas entre as da Unio.

vista de termos to claros, como ficam os processos em andamento? 4.1 Perante a justia federal A Justia Federal entendia, at a supervenincia da emenda, que a competncia para julgar as aes de usucapio era sua, nos termos da Smula 150 do Superior Tribunal de Justia27. Admitia a usucapio na Ilha em caso de posse vintenria anterior Constituio de 1988, mesmo que o terreno no fosse de particulares. Entendia que ausncia de registro no se presume a converso em bem pblico, assim como no se presume s por s a condio jurdica de terra devoluta, circunstncia que sempre depende de ao discriminatria, nos termos da lei 6.385/76. Alguns juzes federais, perante a clareza dos termos da emenda, logo declinaram da competncia e remeteram os processos Justia estadual, salvo os casos de confrontao com terrenos de marinha. Outros juzes resolveram aguardar o pronunciamento da Unio, encaminhando ou concentrando os processos na Vara Ambiental, Agrria e Residual, conforme Resoluo (n. 55, de 13 de maio de 2005). Ali se manifestou a Unio, em cada processo, alegando que a emenda estaria fazendo referncia apenas s reas alodiais urbanas, permanecendo o problema em relao aos terrenos rurais. As peties fazem aluso a um Parecer da Consultoria Jurdica do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (n. 0486-5-9.9.2005), e pedem, em cada caso, que a parte autora traga certido comprovando tratar-se de rea urbana (providncia, diga-se de passagem, que da sua alada e no da parte28), e27

Smula 150 do STJ: Compete Justia Federal decidir sobre a existncia de interesse jurdico que justifique a presena, no processo, da Unio, suas autarquias ou empresas pblicas. 28 Nesse sentido j decidiu o TJSC: Agravo de Instrumento n. 2003.024458-1, de Itapema.Relator: Des. Luiz Czar Medeiros.PROCESSUAL CIVIL USUCAPIO JUNTADA DE DOCUMENTOS REQUERIDOS PELA 13

bem assim, que o IBAMA seja instado a manifestar-se, em face de interesse ambiental. evidente a fragilidade do argumento, mas os advogados devem ficar atentos, pois a Unio, a toda evidncia, vai tentar protelar o julgamento dos processos. Quanto s aes j sentenciadas, no mrito, pela Justia Federal, no meu modo de ver, a competncia dos tribunais federais, conforme precedente do STJ29, em autos de ao civil pblica, nos quais, como no caso presente, aps sentena condenatria, sobreveio lei (n 10.628/2002), alterando a competncia. At pode ser pleiteada a anulao da sentena, mas a competncia para reapreciar a sentena federal ser de Tribunal federal30. As novas aes, enfim, devem ser propostas perante a Justia estadual, na comarca da situao do imvel, salvo o caso de confrontao do terreno com rea da Unio. Caso a Unio comparea com os argumentos acima referidos, o autor deve denunciar o intuito protelatrio. 4.2 Perante a justia estadual Em princpio, devem ser deslocados Justia estadual os processos no sentenciados em que no h interesse da Unio, assim como as novas aes devem ser ajuizadas perante a mesma justia. Numa primeira deciso, a 2 Cmara de Direito Pblico do Tribunal de Justia de Santa Catarina, nos autos da Apelao Cvel 2004.025374-5, Relator Desembargador Luiz Czar

UNIO FEDERAL AUSNCIA DE PREVISO LEGAL REFORMA DA DECISO1. Para fins de interveno no processo, a Unio Federal no pode obrigar a parte a juntar documento que demonstre ou no o seu interesse na lide. ela quem deve deduzir os argumentos que justifiquem sua participao no feito, demonstrando isso documentalmente, se for o caso (CPC, art. 333). 2. Compete Unio Federal, e no ao autor da ao de usucapio, diligenciar no sentido de verificar a interferncia do imvel usucapiendo com terras integrantes do seu patrimnio e, conseqentemente, o seu interesse no feito. 29 Classe: AGP AGRAVO REGIMENTAL NA PETIO 3395 Processo: 200401330521 UF: AM rgo Julgador: CORTE ESPECIAL Data da deciso: 15/12/2004 Documento: STJ000591957: As alteraes legislativas referentes fixao de competncia devem ser aplicadas de imediato, salvo na hiptese de j haver sido proferida sentena de mrito, hiptese que o processo segue na jurisdio inicialmente estabelecida para apreciao de eventuais recursos. Trata-se da lei 10.628/2002, cuja aplicao imediata, no tocante competncia, foi assim interpretada. 30 No mesmo sentido, a seguinte deciso do TJSC: Apelao Cvel n. 2003.003403-0, de Tubaro.Relator: Des. Luiz Czar Medeiros.CIVIL USUCAPIO RFFSA COMPETNCIA JUSTIA COMUM ESTADUAL STJ, SMULA N. 42 SENTENA PROFERIDA POR JUIZ FEDERAL NULIDADE DECLARAO PELO TRF DA 4 REGIO. 1. Nos termos da Smula n. 42 do Superior Tribunal de Justia, compete Justia Comum Estadual processar e julgar as causas cveis em que parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.2. Conquanto a matria versada nos autos seja de competncia da Justia Estadual, somente o Tribunal Regional Federal pode, em sede de apelao, anular sentena proferida por juiz federal. 14

Medeiros31, esposou este entendimento, afastando a aplicao da Smula 150 do STJ no caso de usucapio na Ilha de Santa Catarina: CIVIL USUCAPIO POSSE VINTENRIA DEMONSTRADA PRESCRIO AQUISITIVA CONFIGURADA TERRAS LOCALIZADAS NA ILHA DE SANTA CATARINA EC N. 46/2005 AUSNCIA DE INTERESSE DA UNIO Com a edio da Emenda Constitucional n. 46/2005 restou inequvoca a ausncia de interesse da Unio nas aes de usucapio em que a alegao de Florianpolis estar sediada em ilha costeira consistia o nico fundamento da interveno. Nessa situao, o atendimento do pleito da Unio Federal, mais de quinze anos depois da edio da sentena hostilizada, quando j sacramentado e devidamente registrado o ato aquisitivo de propriedade, se traduziria num atentado contra o princpio da segurana jurdica. A anulao da sentena e o encaminhamento do processo Justia Federal, alm da iniqidade da medida, no atenderia a qualquer interesse. O nico efeito seria o de incutir no jurisdicionado a descrena na atividade jurisdicional e, repita-se, colocar por terra a segurana jurdica que deve emanar dos provimentos judiciais. Da mesma forma, logo em seguida, a seguinte deciso da lavra do Desembargador Newton Trisotto32, na Ap. Civ. n. 2004.035022-0, da Capital: CONSTITUCIONAL PROCESSUAL CIVIL IMVEL SITUADO NA ILHA DE SANTA CATARINA USUCAPIO COMPETNCIA INTERESSE DA UNIO FATO SUPERVENIENTE EMENDA CONSTITUCIONAL 46/05 1. Compete Justia Federal decidir sobre a existncia de interesse jurdico que justifique a presena, no processo, da Unio, suas autarquias ou empresas pblicas (STJ, Smula 150). Todavia, em direito no h lugar para31 32

Disponvel em: www.tj.sc.gov.br, acesso em 6 de abr. de 2006. A deciso pende de recurso. Disponvel em: www.tj.sc.gov.br, acesso em 6 de abr. de 2006. A deciso pende de recurso. 15

absolutos (Teori A. Zavascki, Antecipao de tutela, Saraiva, 1997, 1 ed., p. 152). 2. Desde a promulgao da Emenda Constitucional 46, em 2005, as ilhas costeiras que contenham a sede de Municpios (CF, art. 20, IV) no mais constituem bens da Unio. Sendo fato superveniente extintivo de eventual direito seu, deve ser conhecido de ofcio (CPC, art. 462). Tendo a Unio ingressado no processo to-somente em razo de o imvel usucapiendo estar situado na Ilha de Santa Catarina, a EC 46/05 autoriza que dele seja excluda independentemente da remessa dos autos Justia Federal, ato que necessariamente conduziria anulao de sentena prolatada h mais de treze anos e, por via reflexa, do ttulo de domnio dela derivado, comprometendo a segurana jurdica que deve emanar das decises judiciais. As peculiaridades do caso recomendam que sejam observadas as advertncias de Ccero summum jus, summa injuria e de Cndido Rangel Dinamarco As exigncias legais ho de ser interpretadas por critrios presididos pela razoabilidade e no se pode perder de mente que a lei feita com vistas a situaes tpicas que prev, merecendo ser modelada, conforme o caso, segundo as peculiaridades de casos atpicos. Quanto aos terrenos de marinha, a situao tranqila, no sentido de acolher o deslocamento da competncia Justia Federal, nos termos do art. 20, incisos I e VII, e 109, I da Constituio Federal e da Smula 150 do STJ.33 4.3 A questo ambiental Uma brilhante sentena do Juiz Federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira34, de poucos meses atrs, em autos de ao civil pblica movida pelo Ministrio Pblico Federal e Unio Federal contra particulares e o Municpio de Florianpolis, oferece um quadro ftico e jurdico muito oportuno para33

A ttulo de ilustrao, Ap. Civ. 2004.016507-2 da Capital, 2 Turma de Direito Pblico, rel. Des. Luiz Csar Medeiros, que inclusive cita diversos julgados do STJ e do STF, e.g. RE 109479, RTJ 121/285, assim como, na Ap. Civ. 8904048915, de So Francisco do Sul, mesmo relator, a seguinte deciso do TRF 4 Regio: Os terrenos de marinha, que pertencem Unio, tero de ser reservados, no podendo integrarem a rea usucapida. 34 BRASIL. Justia Federal. Processo n 98.0000929-9 de Ao Civil Pblica. 16

enfocar como ficar a questo ambiental na Ilha, perante os pedidos de usucapio, sob a gide da nova Emenda Constitucional. O Ministrio Pblico pedia a demolio de imvel construdo em rea de Preservao Permanente na Lagoa do Peri, com recuperao da rea degradada e multa revertida em favor do Parque Municipal da Lagoa do Peri. Defendia a tese de que a ocupao de terreno de marinha autorizada pela Delegacia do Patrimnio da Unio DPU, no poderia ser deferida em face da vegetao de preservao permanente, e que no lugar, ademais, no poderia ser levantada cerca que impea acesso das pessoas em geral Praia da Armao, em desrespeito ao art 10 da lei 7.661/88. 35 Pedia, pois, condenao em multa e demolio sob pena de multa diria, com recuperao da rea degradada. A responsabilidade dos rus estava prevista no art. 4, VII e 14 1 da lei 6.938/8136, responsabilidade que se estendia ao Municpio de Florianpolis, por no ter fiscalizado o Parque, criado pela lei municipal n 1.828/81. Durante a tramitao da ao, sobreveio a MP 2220/2001 37, e os rus, no tendo havido acordo, solicitaram a concesso de uso especial para fins de moradia, em petio nos prprios autos. A sentena entendeu: tratar-se de rea de Lazer do Parque, no podendo ser ocupada com moradia; que a rea de marinha no tinha sido delimitada in casu, no devendo ser considerada; que a rea era da Unio (por se situar na ilha e no por ser de marinha) e no havia prova de posse e usucapio nos vinte anos anteriores Constituio de 1988; ser a rea, ademais, de restinga, e portanto, bem de interesse comum de todos os35

Trata-se da lei federal que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, cujo art. 10 reza o seguinte: Art. 10. As praias so bens pblicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direo e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurana nacional ou includos em reas protegidas por legislao especfica. 1. No ser permitida a urbanizao ou qualquer forma de utilizao do solo na Zona Costeira que impea ou dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo. 2. A regulamentao desta lei determinar as caractersticas e as modalidades de acesso que garantam o uso pblico das praias e do mar. 3. Entende-se por praia a rea coberta e descoberta periodicamente pelas guas, acrescida da faixa subseqente de material detrtico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, at o limite onde se inicie a vegetao natural, ou, em sua ausncia, onde comece um outro ecossistema. 36 Diz o art. 4 da lei 6.938/81: Art 4 - A Poltica Nacional do Meio Ambiente visar: VII - imposio, ao poluidor e ao predador, da obrigao de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usurio, da contribuio pela utilizao de recursos ambientais com fins econmicos. E o 1 do art. 14: Sem obstar a aplicao das penalidades previstas neste artigo, o poluidor obrigado, independentemente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministrio Pblico da Unio e dos Estados ter legitimidade para propor ao de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 37 A Medida Provisria n 2220, de 04 de setembro de 2001 dispe sobre a concesso de uso especial de que trata o 1 do art. 183 da Constituio, cria o Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano CNDU e d outras providncias. 17

habitantes do pas (Cdigo Florestal lei 4.771/65). Condenou os rus e o Municpio, nos termos da inicial, este ltimo por no ter ajuizado a ao civil pblica (art. 5 da lei 7.347/85). E negou a concesso de uso especial para fins de moradia, em face da impossibilidade visualizada no conjunto de normas e de fatos do processo. J em outro contexto, fora da Ilha de Santa Catarina, mais precisamente, na comarca de Imbituba, o TJSC confirmou sentena que concedia usucapio em rea de preservao permanente decretada por legislao municipal, sob o argumento, estampado em primeiro grau, de que as condies da vegetao nativa deveriam ser observadas pela autoridade por ocasio da autorizao para construir, se fosse o caso38. 4.4 A questo dos terrenos de marinha As aes de usucapio na ilha de Santa Catarina esbarram, com freqncia, no problema dos terrenos de marinha. Terreno de Marinha uma instituio lusobrasileira que estabelece propriedade dominical da Unio sobre toda a orla martima, ilhas, rios e lagoas (em que se faa sentir o efeito das mars) na extenso de 33 metros, a partir da posio do preamar-mdio de 1831.39 A Unio explora essas terras, perante particulares, geralmente em regime enfitutico, nos termos de legislao prpria, hoje capitaneada pelo DL 9760/46 e pela Lei 9636/97. Trata-se de um legado da Coroa Portuguesa, que vista das riquezas que costumavam circular na beira do mar sal, pesca, desembarques e segurana houve por bem tributar os salgados ou terras salgadas, mediante a imposio de um regime jurdico diferenciado para o uso das lezrias (reas litorneas e de mangues), que passaram a ser consideradas propriedade dela, da Coroa. Aps se restabelecer por legislao infraconstitucional40, esses bens foram, finalmente, consagrados na CF de 198838

SANTA CATARINA. Tribunal de Justia. Ap. Cvel 2003.003403-0, de Tubaro, Relator Desembargador Luiz Csar Medeiros. Do corpo do acrdo extrai-se o seguinte: A condio dos imveis usucapiendos estarem localizados em rea de preservao permanente com vegetao nativa, onde a condio geolgica desaconselham a desocupao, estando, inclusive, sujeita a deslizamento e inundaes peridicas dever ser levada em considerao quando da autorizao para realizar edificaes nos terrenos. Sempre devendo ser observado que eventual utilizao far-se- na forma da lei, dentro de condies que assegurem a preservao do meio ambiente. 39 Art. 2 do DL 9760 de 5 de setembro de 1946. O dispositivo inclui as margens de rios e lagos e ilhas em que se faam sentir, tambm, as influncias das mars, pelo menos em 5 cm. no nvel das guas. Outra figura, prxima dessa e tambm herdada da tradio lusa (lei 1.507, de 1867, art. 39), a dos Terrenos Reservados: servido pblica ao longo das margens dos rios navegveis, fora do alcance das mars, na extenso de sete braas contadas do ponto mdio das enchentes ordinrias para o interior. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. So Paulo: Atlas, 1999. p.470. 40 Com a Independncia, a Lei Oramentria de 1831 tratou de incorporar receita do Imprio as arrecadaes dos Terrenos de Marinha, definidos pela Instruo 348, de 14 de novembro de 1832: Ho de considerar-se 18

(art. 20, VII). No direito romano, essa rea era de livre circulao; para ns, , alm disso, domnio da Unio, num regime feudal de rendas, e pior: a Unio, ao invs de obedecer linha do preamar mdio de 1831, vai alm, como denuncia Niebuhr41 Vem tomando como marco a linha de jundu, isto , a linha que indica o final das praias e o incio da vegetao que a segue, denominada de jundu, ou, de uns anos para c, apelidada de vegetao de restinga, em razo do acidente geogrfico (restinga) que costuma encobrir. Um dos trabalhos mais importantes na rea, que demonstra, cientificamente, a falta de critrio da Unio quanto localizao geodsica dos terrenos de marinha, uma tese de Doutorado, defendida na Universidade Federal de Santa Catarina em 2002, pelo Engenheiro gacho Obde Pereira de Lima42. Tanto que, recentemente, houve tentativa de mudar essa linha, mediante Projeto de Lei (n 617/99, de autoria do ex-Senador Paulo Hartung), para atualiz-la pela preamar de 1999, e depois, 2000, com o risco de o fazer s custas da rea alodial e do direito dos particulares. O que importa estar alerta e contestar os casos em que a Unio no apresenta prova convincente e cientfica da existncia de terreno de marinha. Com muita freqncia, o interesse federal limita-se a alegar direito, sem provar, invertendo o nus e prejudicando, ao arrepio da garantia constitucional da propriedade, o direito do particular no terreno alodial. De qualquer modo, a existncia de terreno de marinha, seja como objeto de disputa,seja como rea

terrenos de marinha todos os que, banhados pelas guas do mar ou dos rios navegveis, vo at a distncia de 15 braas craveiras para a parte da terra, contadas estas desde os pontos a que chega o preamar mdio. PIRES, op. cit. p. 9 e SANTOS, op. cit., p. 13. O primeiro Regulamento de que se tem notcia, a respeito da matria, de 1557. Hoje a definio a do art. 2 do DL 9.760/46: So terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e trs) metros medidos horizontalmente para a parte da ter, da posio da linha do preamar-mdio de 1831: (a) os situados no continente, na costa martima e nas margens dos rios e lagooas, at onde se faa sentir a influncia das mars; (b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faa sentir a influncia das mars. Pargrafo nico: Para os efeitos deste artigo a influncia das mars caracterizada pela oscilao peridica de 5 (cinco) centmetros pelo menos do nvel das guas, que ocorra em qualquer poca do ano. 41 NIEBUHR, Joel de Menezes. Terrenos de marinha: aspectos destacados. In: WAGNER JNIOR, Luiz Guilherme da Costa (org). Direito pblico: estudos em homenagem ao professor Adilson Abreu Dallari. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 353-372. 42 LIMA, Obde Pereira de. Localizao geodsica da linha da preamar mdia de 1831 LPM 1831, com vistas demarcao dos terrenos de marinha e seus acrescidos. Florianpolis, Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, 2002. Tese de Doutorado. 19

confrontante, leva alterao da competncia, que passa para a Justia Federal.43 4.5 Usucapio como instrumento de re-ordenamento urbano O Ministrio Pblico Federal em Santa Catarina44, pela ACP 2004.72.00.018062-2, toma medida que deve entrar para a histria do urbanismo no Estado. Est exigindo que o Municpio de Florianpolis crie condies urbansticas favorveis aos moradores da Vila Boa Vista, no Bairro do Saco dos Limes. Com fundamento no Estatuto da Cidade, lei 10.257/01 e lanando mo da usucapio coletiva, na forma exposta acima, combinada com os art. 44 e 40 da lei 6766/79, busca meios para retirar de favela oitenta e quatro famlias da localidade; estas, alm de no contar com infra-estrutura adequada, ocupam rea de risco. A FLORAM, a Secretaria Municipal de Habitao, Trabalho e Desenvolvimento Social esto sendo acionadas para elaborar a planta da rea, o projeto de urbanizao com as restries ambientais. Realmente, a ocupao dos espaos nesta Ilha que tanto se elogia pela beleza natural, no pode ser deixada merc da especulao imobiliria, da ocupao catica e de projetos oportunistas perante a Cmara de Vereadores, ao arrepio da urbanstica, das condies de vida e do meio ambiente. O advogado deve engajar-se nessa luta pela funo social da cidade e da propriedade urbana. Na elaborao do respectivo projeto, os moradores devem ser assessorados por bons advogados e assegurar a qualidade de vida nesses espaos, inclusive prevendo servides de vista e outras medidas recprocas entre os lotes, para que a rea, no futuro breve, no se descaracterize. Para isso necessrio ter outra viso do Direito e do Estado, e principalmente, resgatar o direito privado, sob tica do coletivo.O voluntarismo estatal tem revelado limites, e a Sociedade est sendo instada a assumir a defesa da coletividade perante a omisso do poder pblico, ou contra os interesses que s vezes se apoderam do aparelho de Estado. Recomendaes finais

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A ttulo de ilustrao, o TJSC j decidiu: Manifestando a Unio Federal interesse em ao de usucapio por considerar a rea em litgio como 'terras de marinha', desloca-se a competncia para a Justia Federal, nos termos do art. 109 da Constituio Federal."Compete Justia Federal decidir sobre a existncia de interesse jurdico que justifique a presena, no processo, da Unio, suas autarquias ou empresas pblicas" (STJ, Smula 150) (Apelao Cvel n. 2004.016507-2, de Capital. Relator: Desembargador Luiz Czar Medeiros). 44 www.prsc.mpf.gov.br. Acesso em 15 de julho de 2005. 20

A providncia tcnica mais importante para quem vai propor a ao de usucapio de imvel distinguir entre usucapio tradicional, nas modalidades ordinria e extraordinria, cujos requisitos esto no Cdigo Civil e cujo procedimento o do art. 941 et seq do CPC, por um lado; e por outro, a usucapio especial, nas modalidades rural, cujos requisitos e procedimento esto previstos na lei 6969/81 alm do Cdigo Civil e da Constituio , urbana, individual e coletiva, cujos requisitos e procedimentos esto previstos no Estatuto da Cidade, e a concesso de uso especial para fins de moradia, individual e coletiva, cujos requisitos e procedimentos esto previstos na MP 2220/01. Em seguida deve decidir quanto competncia, que ser da Justia Estadual, a menos que tenha aplicao a smula 150 do STJ. Ser o caso de imvel que confronte com terreno de marinha ou qualquer imvel da Unio, inclusive rodovia federal. Deve ter em mente que todas as informaes e todos os documentos relacionados nos itens n2.2, 2.3 e 2.4 so importantes e tm relao direta com a matrcula do imvel a ser inaugurada no Registro de Imveis. Finalmente, em relao aos processos em tramitao, aps a EC n46/05 deve o advogado ser enftico em pedir a remessa dos autos justia comum estadual. Nada justifica os obstculos que as autoridades federais esto tentando levantar contra as usucapies na Ilha de Santa Catarina.

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