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ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE MÉDICOS VETERINÁRIOS DE PEQUENOS ANIMAIS
DIRETRIZES DE VACINAÇÃO PARA TUTORES E CRIADORES DE CÃES E GATOS – 2015
Grupo para as Diretrizes de Vacinação da WSAVA
M. J. Day (Presidente)
School of Veterinary Sciences
Universidade de Bristol, Reino Unido
M. C. Horzinek
(Antigo) Departamento de Microbiologia, Secção de Virologia
Universidade de Utrecht, Países Baixos
R. D. Schultz
Departamento de Ciências Patobiológicas
Universidade de Wisconsin-Madison, Estados Unidos da América
R. A. Squires
Universidade James Cook, Queensland, Austrália
2
Conteúdo INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 3
PRINCIPAIS DOENÇAS INFECIOSAS DO CÃO E DO GATO ..................................................................... 5
RESPOSTA IMUNE .............................................................................................................................. 15
PRINCÍPIOS DA VACINAÇÃO .............................................................................................................. 19
TIPOS DE VACINA .............................................................................................................................. 21
MOTIVOS PARA ALTERAÇÃO NOS PROTOCOLOS VACINAIS ............................................................. 22
DIRETRIZES DE VACINAÇÃO PARA CÃES ............................................................................................ 24
DIRETRIZES DE VACINAÇÃO FELINA .................................................................................................. 29
REPORTAR REAÇÕES ADVERSAS ....................................................................................................... 32
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................................ 36
3
INTRODUÇÃO A vacinação dos cães e gatos protege-os contra infeções, que podem ser letais ou causar doença
grave. A vacinação constitui um procedimento seguro e eficaz, que em muitos países tem vindo a
ter um impacto importante na melhoria da qualidade de vida dos pequenos animais de
companhia. O sucesso dos programas de vacinação em pequenos animais ao longo das últimas
cinco décadas, reflete o sucesso da vacinação no controlo da doença na população humana.
Os tutores e criadores de cães e gatos estão muito conscientes da exposição mediática que tem
sido atribuída à vacinação nas populações humana e animal ao longo das duas últimas décadas.
Esta atenção do público tem-se concentrado na ocorrência rara de reações adversas, que podem
verificar-se após a administração de vacinas a pessoas e a animais. As profissões médica e
veterinária têm dedicado tempo e esforço consideráveis às questões relacionadas com a vacinação
e ao desenvolvimento de protocolos para administração destes produtos, de forma a maximizar a
segurança e minimizar os riscos, já baixos, associados com a vacinação. Muitos tutores e criadores
estão ao corrente da existência de grupos de peritos dedicados a proporcionar orientação a
médicos e a veterinários para otimizar as metodologias de vacinação dos seus pacientes. Em
medicina veterinária, um destes grupos de trabalho é o Grupo para as Diretrizes de Vacinação da
Associação Mundial de Médicos Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA), que proporcionou
um documento de recomendações, baseado em evidência científica, originalmente publicado em
2007 e revisto em 2010, e novamente em 2015.
O Grupo para as Diretrizes de Vacinação está, no entanto, muito consciente que a informação de
elevada qualidade científica relacionada com a vacinação de pequenos animais não está
facilmente acessível à população leiga de forma facilmente compreensível. Infelizmente, existe um
grande volume de informação errada a circular na internet, veiculada por pessoas individuais e
grupos que carecem de credibilidade científica. Tal tem aumentado a preocupação pública e
conduzido à recusa, desinformada, da vacinação proposta pelo médico veterinário. A falha em
vacinar, adequadamente, os seus cães e gatos torna-os suscetíveis a doenças infeciosas letais, e o
benefício da vacinação ultrapassa largamente o risco de ocorrência de uma reação vacinal
adversa.
Com o objetivo de ir ao encontro das preocupações da população, o Grupo para as Diretrizes de
Vacinação compilou o documento seguinte. Proporciona um resumo conciso desta temática, em
termos generalistas que serão facilmente compreendidos por tutores e criadores de animais de
companhia. A informação proporcionada baseia-se no conhecimento científico atual, e foi
preparada por peritos, reconhecidos internacionalmente, em microbiologia, imunologia e
vacinologia de pequenos animais. Inicialmente, o documento oferece um resumo das principais
doenças infeciosas passíveis de prevenção mediante a vacinação em pequenos animais de
companhia, após o que são debatidos os fundamentos da resposta imune e os princípios
imunológicos da vacinação. Abordamos o debate público relacionado com a vacinação, que tem
conduzido ao desenvolvimento de diretrizes de vacinação, e explica as diretrizes que tem
incentivado a profissão veterinária a adotar. Por fim, debatemos também os eventos adversos e o
que pode fazer caso suspeite que uma vacina aplicada ao seu animal de companhia possa ser
responsável por um evento dessa natureza. Compreendemos que a terminologia científica pode,
ocasionalmente, parecer incompreensível, pelo que também proporcionamos um glossário de
4
termos que visam ajudá-lo a compreender a temática. Uma grande parte do documento escrito
inclui um conjunto de imagens, que lhe apresentam de uma forma gráfica as consequências de
falhar a proteção do seu animal de companhia mediante a vacinação. Estas doenças infeciosas não
desapareceram e continuam a ocorrer surtos localizados de infeção e doença, mesmo em países
desenvolvidos, onde existem programas de vacinação adequados. Recomendamos a leitura
cuidada deste documento, a fim de maximizar o bem-estar dos nossos animais de companhia.
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PRINCIPAIS DOENÇAS INFECIOSAS DO CÃO E DO GATO
Esgana Canina
Esta doença viral do cão é observada frequentemente nos países em desenvolvimento, onde a
vacinação dos cães não é efetuada por rotina, e nos países ocidentais, sempre que a negligência
ou convicções filosóficas/ religiosas deixem os animais sem vacinação e desprotegidos. O uso de
vacinas infeciosas (ou vivas atenuadas) tem mantido a esgana canina geralmente bem controlada
em todo o Mundo, mas são reportados casos de doença regularmente em países da Europa, nos
Estados Unidos da América e Japão. A erradicação da esgana canina não é possível, porque o vírus
ocorre em animais silvestres (ex. texugos, raposas, martas, toirões, mangustos, guaxinins, visões,
focas, doninhas, e outros animais), a partir dos quais o vírus pode ser reintroduzido na população
de cães domésticos.
O vírus da esgana canina é semelhante ao vírus do sarampo humano, e é possível (algo que já foi
efetuado no passado) proteger os cães contra a esgana mediante a administração da vacina contra
o sarampo. Só existe um tipo principal de vírus da esgana canina em todo o Mundo, mas têm sido
descritas variantes genéticas em laboratório, bem como novas estirpes que evoluíram no terreno
e são capazes de infetar grandes felinos (ex. leões), focas e leões marinhos. Estas novas estirpes
também infetam tecidos diferentes do animal, quando comparadas com a estirpe original do vírus
da esgana canina. Também é importante notar que os períodos de incubação também mudaram, e
é possível que se observem poucos ou nenhuns sinais de doença durante até 6 semanas após a
infeção, após as quais o animal pode desenvolver sinais clássicos de infeção. A existência de
variantes causadoras de doença grave, contra as quais as vacinas atuais não conferem proteção
nunca foi comprovada. O vírus é frágil e os detergentes contendo desinfetantes destroem-no
rapidamente.
A esgana canina é uma doença de animais jovens e os cachorros com idade compreendida entre 3
e 6 meses são particularmente suscetíveis. O vírus dissemina-se através de gotículas de aerossol
produzidas durante a tosse, bem como através do contacto com secreções nasais e oculares, fezes
e urina. Os períodos de incubação variam entre 2 e 6 semanas, embora o primeiro pico de febre
possa ser detetado 3 a 6 dias após a infeção. Como indicado anteriormente, o período de
incubação das novas estirpes pode ser mais prolongado. Após inalação, o vírus multiplica-se
inicialmente no tecido linfoide do trato respiratório, após o que entra na corrente sanguínea
(produzindo uma viremia) e, posteriormente, multiplica-se noutros tecidos linfoides e epiteliais. A
preferência do vírus por tecidos linfoides, epiteliais e nervoso conduz ao desenvolvimento de
sinais respiratórios, gastrointestinais e de sistema nervoso central. Na sequência da depleção
linfoide, ocorre imunossupressão, que favorece a ocorrência de infeções secundárias. As
apresentações patológicas características incluem pneumonia intersticial e inflamação cerebral
(encefalite) com desmielinização. A hiperqueratose das almofadas plantares (“doença das patas
rijas”) era muito frequente com os tipos originais de vírus, mas os biótipos subagudos que afetam
habitualmente os cães nos dias de hoje são menos prováveis de causar esta alteração.
As taxas de mortalidade mais elevadas (muitas vezes superiores a 50%) são observadas nos
cachorros, sobretudo como consequência de complicações como sejam anorexia, pneumonia e
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encefalite. Em cães suscetíveis (não imunizados) mais velhos, a infeção pelo vírus da esgana pode
causar doença respiratória, que é idêntica ao complexo de doença respiratória infeciosa canina
(coloquialmente conhecida como “tosse de canil”), e alguns cães desenvolvem encefalite
(neurológico) ou síndrome vestibular, associada a distúrbios do equilíbrio e da coordenação
motora. Os cães mais velhos, não imunizados, podem desenvolver doença grave e morrer de
esgana.
Os sinais mais comuns de doença incluem corrimento nasal amarelado, vómito e diarreia,
desidratação, salivação excessiva, tosse, dificuldades respiratórias, crostas em redor dos olhos,
perda de apetite e perda de peso.
Os sinais de sistema nervoso central incluem tremores musculares localizados, convulsões com
salivação, e movimentos da mandíbula, muitas vezes descritos como “acessos de mastigar pastilha
elástica”. Esta mioclonia de esgana pode progredir e agravar-se, evoluindo para a ocorrência de
convulsões, podendo ser seguida da morte do paciente. Uma vez desenvolvida a doença sistémica,
o tempo de sobrevivência pode ser de apenas 10 dias.
A lesão neurológica pode ser devida à ação direta do vírus (aguda) ou secundária à resposta do
sistema imunitário à presença do vírus. Os sinais de doença neurológica podem não surgir até
várias semanas (encefalite aguda), meses (encefalite subaguda) ou mesmo anos após a infeção
(“encefalite do cão idoso”). Os animais que sobrevivam continuam a manifestar tremores
(“tiques”), com gravidade e duração variáveis.
Corrimento ocular e nasal num cão com esgana (Cortesia de LE Carmichael, MJ Appel)
Sinais neurológicos (pressão com a cabeça) num cão com esgana (Cortesia de LE Carmichael, MJ Appel).
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Hepatite infeciosa canina
A hepatite infeciosa canina é provocada pelo adenovírus canino de tipo 1 (CAV-1). A doença tem
sido observada raramente, nas últimas décadas, nos países onde estão estabelecidos programas
de vacinação eficazes. No entanto, o agente causal ainda é prevalente nos países em
desenvolvimento, nos quais apenas uma pequena percentagem dos cães são vacinados, bem
como nas populações de cães ferais de todo o Mundo. Consecutivamente, a vacinação tem de
continuar a ser realizada, a fim de prevenir a ocorrência de surtos desta doença devastadora. O
mesmo vírus também provoca encefalite em raposas e outros canídeos silvestres.
Os cães com idade < 1 ano são mais frequentemente afetados. Este vírus resistente no ambiente
dissemina-se por contacto direto e indireto, e entra no organismo por inalação e ingestão.
Replica-se, inicialmente, a nível das tonsilas, sendo depois distribuído pela corrente sanguínea,
ocorrendo infeção secundária e replicação a nível do fígado e dos rins. A taxa de mortalidade
pode atingir 50% nos cães jovens.
Os sinais clínicos incluem depressão, febre, vómito, diarreia e corrimento nasal e ocular.
Sinais neurológicos (convulsão) num cão com esgana (Cortesia de LE Carmichael, MJ Appel)
Hemorragia na cavidade torácica de um cão com infeção por CAV-1 (Cortesia de RD Schultz, LJ Larson)
Cachorro com infeção por CAV-1, apresentando icterícia (pigmento amarelo) e hemorragias cutâneas, associadas a doença hepática (Cortesia de RD Schultz, LJ Larson).
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Os complexos imunes (associações de antigénios e anticorpos) podem afetar os rins e os olhos,
conduzindo ao desenvolvimento de uma opacidade transitória da córnea (“olho azul”).
O adenovírus canino de tipo 2 (CAV-2) provoca, geralmente, infeção inaparente, ou ligeira a
moderada, do trato respiratório, embora tenham sido observados casos de pneumonia grave,
conduzindo à morte, em cães não submetidos a tratamento. O vírus é um dos agentes do
complexo de doença respiratória canina (ou “tosse de canil”). Este complexo envolve, também, a
infeção pelo vírus parainfluenza canino tipo 2, Bordetella bronchiseptia e outras bactérias (ex.
espécies de Streptococcus e Mycoplasma). Existem, adicionalmente, outros fatores ambientais,
como sejam a ventilação, humidade, poeiras, falta de condições de higiene e, especialmente, o
stress, que são importantes no desenvolvimento deste complexo de doença.
Parvovirose canina
O parvovírus canino de tipo 2 (CPV-2) tem uma relação próxima com o parvovírus felino (FPV,
também conhecido por vírus da panleucopenia felina), do qual difere apenas em dois aminoácidos
de uma proteína. É provável que o CPV-2 tenha evoluído a partir do vírus felino, através que
mutações que ocorreram no final da década de 1970, altura em que surgiu no cão e se espalhou
rapidamente por todo o Mundo. Emboras as variantes iniciais se limitassem a infetar o cão e
fossem incapazes de infetar o gato, a evolução do vírus (mutação) progrediu e as variantes mais
recentes podem causar doença gastrointestinal em gatos que não estejam vacinados contra
parvovírus felino.
A parvovirose canina é uma infeção entérica frequente em todo o Mundo, que afeta os cães
domésticos e silvestres de todo o Mundo e de todas as idades (geralmente entre as 6 semanas e
os 6 meses). Os cachorros com idade < 6 semanas são os mais gravemente afetados. As infeções
subclínicas ou inaparentes são comuns, especialmente em cães mais velhos (com idade > 1 ano).
O vírus é eliminado com as fezes e, caso seja ingerido ou inalado por cães jovens suscetíveis (com
idade < 1 ano), infeta-lo-á e causará doença grave. A mortalidade pode atingir 50%, em especial se
não for instituído tratamento de imediato. Os cães adultos suscetíveis não desenvolvem,
necessariamente, doença; no entanto, podem excretar o vírus nas fezes o qual, se for inalado ou
ingerido por cachorros suscetíveis (com idade < 6 meses), conduzirá ao desenvolvimento de
doença grave e à morte, se não for instituído tratamento intensivo. É importante notar que a
transmissão não ocorre apenas por contacto direto, mas também se verifica indiretamente,
através de sapatos, vestuário ou outros materiais contaminados (fomites). Após infeção oronasal,
Opacidade da córnea ("olho azul"), como consequência da reação imune sistémica à infeção por CAV-1 (Cortesia LE Carmichael).
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o vírus sofre replicação a nível das tonsilas e linfonodos, atingindo o intestino ao fim de 4 a 6
dias. Aí, provoca destruição das células epiteliais do intestino, conduzindo ao desenvolvimento de
diarreia ao fim de 2 a 3 dias. A infeção de cadelas gestantes suscetíveis (não vacinadas) pode
conduzir a infeção dos fetos, levando ao desenvolvimento de doença cardíaca (miocardite). A
miocardite também pode ocorrer em cachorros infetados por CPV-2 com idade compreendida
entre 1 e 2 semanas. Consecutivamente, é muito importante garantir que as cadelas estão
vacinadas antes de se reproduzirem.
A infeção por CPV-2 constitui uma das infeções mais letais para o cão. A doença pode ter início
súbito, conduzindo à morte em apenas 1 a 2 dias após o aparecimento dos primeiros sinais
clínicos. É, no entanto, mais frequente que a doença evolua mais lentamente, embora apresente
uma taxa de mortalidade de até 50% na ausência de tratamento. Os sinais clínicos incluem
inapetência, depressão, febre, vómito e diarreia (frequentemente com sangue). Os cães afetados
com maior gravidade ficam, rapidamente, desidratados, e morrem rapidamente se não for
instituída terapêutica de reposição de eletrólitos, 1 a 3 dias após o início dos sinais clínicos.
Vómito num cão infetado por CPV-2 (Cortesia LE Carmichael).
Intestino de um cão com infeção por CPV-2. A cor vermelha indica inflamação grave (Cortesia LE Carmichael).
Diarreia hemorrágica grave num cão com infeção por CPV-2 (Cortesia RD Schultz, LJ Larson)
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Os cães doentes devem ser isolados imediatamente de outros cães. Todos os parvovírus caninos e
felinos podem permanecer infetantes durante pelo menos um ano, em jaulas e canis
contaminados, bem como em mantas, toalhas, relva ou solo, etc. É necessário proceder a uma
desinfeção cuidadosa (ex. usando solução de hipoclorito de sódio [lixívia]; 1 parte de lixívia
doméstica com 30 partes de água), antes de reintroduzir animais novos nas instalações. Nas
situações em que haja contaminação de solo, vegetação, mantas, etc., a desinfeção é,
frequentemente ineficaz ou impossível de realizar. Consecutivamente, o ambiente permanece
contaminado durante meses, possivelmente durante mais de um ano. Vários estudos
demonstraram que o parvovírus canino tipo 2 infetante pode persistir no solo durante até um ano,
onde continua a ser capaz de causar infeção a cães suscetíveis. A solução para a introdução de
cães novos consiste em garantir que estão vacinados e produziram anticorpos. Se não estiverem
protegidos pela vacinação, é provável que fiquem infetados e morram. Com recurso a tratamento
intensivo (que pode ser muito dispendioso), podem ser salvos até 90% dos cachorros; no entanto,
a prevenção é preferível à cura!
Parvovírus felino (panleucopenia felina)
Constitui a doença viral clássica, e muito grave, dos gatos. Também tem sido conhecida pela
designação enterite infeciosa felina, e erradamente designada “esgana felina”, “gripe felina” ou
“febre felina”. É causada pelo parvovírus felino (FPV), que se pensa constituir o ancestral dos vírus
da parvovirose do cão, visão e guaxinim. O parvovírus felino infeta gatos domésticos e silvestres,
mas também guaxinins, visões, raposas e outras espécies silvestres. Algumas variantes de
parvovírus canino também podem infetar o gato. Quando o parvovírus felino é introduzido numa
comunidade de gatos não vacinados, pode causar doença e morte numa percentagem muito
elevada (> 50%) de gatos, especialmente se tiverem idade inferior a um ano.
Tal como explicado anteriormente para o parvovírus canino, este vírus constitui um dos agentes
infeciosos mais resistentes que conhecemos – pode sobreviver durante anos no ambiente e é
altamente resistente à maioria dos desinfetantes de uso corrente. É necessário recorrer a
desinfetantes à base de peroxigénio ou de lixívia (1 parte de lixívia doméstica com 30 partes de
água) para eliminar o vírus das instalações contaminadas, e a desinfeção só é eficaz após a
realização de uma limpeza exaustiva. Obviamente que tal é impossível numa habitação normal, na
qual – uma vez contaminada – o vírus permanecerá durante anos. A solução consiste em
introduzir apenas gatos corretamente vacinados nesses ambientes.
Os gatos doentes eliminam o vírus em elevada concentração nas fezes, que constituem a
principal fonte de transmissão para contaminação oral ou nasal. O contacto indireto é a via de
infeção mais frequente, e o parvovírus felino pode ser transportado mesmo para apartamentos de
prédios elevados, através dos sapatos e vestuário contaminados dos visitantes. Isto indica que os
gatos de interior também se encontram em risco de infeção. Em gatas gestantes, o vírus pode
passar para os fetos através do útero, podendo ocorrer infeção dos recém-nascidos. Nem todos
esses gatinhos morrem necessariamente, alguns nascem vivos, mas desenvolvem sinais
neurológicos – movimentos descoordenados (síndrome de ataxia cerebelar).
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Podem adoecer gatos de quaisquer idades, mas os gatinhos são mais suscetíveis. Esta doença é
muito grave e as taxas de mortalidade podem ultrapassar 90% em alguns surtos, especialmente
quando há infeção de gatinhos jovens suscetíveis. Dependendo dos órgãos infetados, os sinais de
doença podem incluir diarreia e alterações hematológicas (linfopenia, neutropenia, seguidas de
trombocitopenia e anemia). O termo científico “panleucopenia” indica que há diminuição do
número de todos os tipos de glóbulos brancos. Uma vez que estas células são muito importantes
para a defesa imunitária, a infeção conduz a imunossupressão e torna os gatos infetados
suscetíveis a outras infeções (muitas vezes de natureza bacteriana).
O médico veterinário recorrerá a um teste para detetar a presença de parvovírus felino em fezes
diarreicas. Podem ser usados testes para parvovírus felino ou canino, porque os dois vírus são
relacionados. Podem surgir resultados falso negativos, em particular se o teste não for realizado
numa fase suficientemente precoce do curso da doença. Em alguns países, os laboratórios
efetuam testes reação em cadeia de polimerase (PCR) em sague total ou nas fezes. O teste PCR é
Um gatinho debilitado e deprimido. Muitos destes gatinhos permanecem com o queixo no bebedouro, sem chegarem a beber água (Cortesia FW Scott).
Intestinos de um gatinho com infeção por parvovírus felino. A cor avermelhada indica inflamação grave (Cortesia FW Scott).
Evidência de vómito e diarreia profusos, num gatinho gravemente doente com infeção por parvovírus felino (Cortesia de RD Schultz, LJ Larson).
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muito sensível e menos passível de conduzir a resultados falso negativos. É possível a ocorrência
de um resultado falso positivo, se o gato tiver sido vacinado recentemente,
O tratamento de suporte e bons cuidados de enfermagem reduzem, significativamente, as taxas
de mortalidade. Por regra, é necessário internamento hospitalar. Nos casos de doença intestinal
(diarreia), é habitual a administração de antibióticos de largo espetro, para prevenir o
desenvolvimento de sepsis. Os casos confirmados e suspeitos devem ser mantidos em
quarentena. Os desinfetantes contendo hipoclorito de sódio (lixivia) e os mais novos
desinfetantes à base de peróxidos (ex. Virkon™ ou Virkon-S™) são eficazes, mas as superfícies têm
de ser criteriosamente limpas antes da aplicação dos desinfetantes. Superfícies que não possam
ser limpas exaustivamente (ex. aquelas que apresentem fissuras ou ranhuras), permanecerão
contaminadas após a desinfeção.
Doença de trato respiratório superior felino (Rinotraqueíte viral felina – infeção por Herpesvírus)
A doença do trato respiratório superior felino pode ser causada por vários vírus, entre os quais o
herpesvírus felino de tipo 1 (FHV-1) e o calicivírus felino (FCV) são os mais importantes e com
possibilidade de ser fatais. A bactéria Bordetella bronchiseptica constitui outro elemento do
complexo de doença do trato respiratório superior felino. Herpesvírus felino de tipo 1 é
encontrado em todo o Mundo, podendo ocorrer também em felinos não domésticos. Ocorre,
frequentemente, em associação com infeção por calicivírus felino e bactérias. Herpesvírus felino
permanece latente após recuperação (ou seja, escondido, mas presente), e a maioria dos gatos
torna-se portador para toda a vida. O stress ou o tratamento com doses imunossupressoras de
corticoides pode conduzir à reativação e excreção do vírus, levando à ocorrência de infeção e
doença em gatos não vacinados, em especial nos gatinhos jovens.
Os gatos doentes podem eliminar herpesvírus durante até 3 semanas, nas secreções orais, nasais e
oculares. Ao contrário da infeção por parvovírus felino, a infeção por herpesvírus exige contacto
direto com um gato em período de excreção. Tal deve-se ao facto de se tratar de um vírus frágil
no ambiente. A infeção por herpesvírus felino é frequente em situações envolvendo vários gatos,
como alfândegas e criadores, abrigos e habitações com vários gatos. Os gatinhos podem contrair
infeção subclínica a partir das progenitoras com infeção latente.
Os sinais clínicos incluem rinite e conjuntivite agudas, geralmente acompanhadas de febre,
depressão e anorexia, que são particularmente graves em gatinhos jovens. Pode ocorrer
pneumonia fatal, bem como queratite ulcerativa (inflamação da córnea). Por regra, há resolução
dos sinais clínicos em 1-2 semanas.
Corrimento nasal num gato com infeção por herpesvírus felino de tipo 1 (Cortesia FW Scott)
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É essencial instituir (fluido)terapia de suporte e bons cuidados de enfermagem. Os gatos
anoréticos devem ser alimentados com um alimento húmido, altamente palatável e aromático,
fornecido aquecido. O recurso à nebulização com soro fisiológico pode ser útil. São administrados
antibióticos de largo espectro para prevenir a ocorrência de infeções bacterianas secundárias e
podem ser utilizados fármacos antivirais tópicos para o tratamento de doença ocular aguda. Os
antibióticos e antivirais só devem ser utilizados mediante as indicações do médico veterinário.
Em abrigos, os gatos novos devem ser submetidos a uma quarentena com a duração de 2
semanas. Em gatis de criação, as gatas devem ter os bebés em isolamento e os gatinhos não
devem ser misturados com outros gatos até terem completado a vacinação. O herpesvírus felino
de tipo 1 é suscetível à maioria dos desinfetantes, antissépticos e detergentes.
Doença do trato respiratório superior felino (infeção por calicivírus felino)
Os calicivírus felinos (FCVs) constituem os outros agentes principais, responsáveis dela doença do
trato respiratório superior felino. São agentes patogénicos altamente contagiosos, disseminados
na população felina (incluindo em gatos exóticos), com uma prevalência mais elevada em grandes
grupos de gatos alojados conjuntamente. Embora pertençam todos a uma única espécie, os
calicivírus felinos são altamente variáveis e sofrem mutação constante: existem inúmeras
variantes, com um vasto espectro de virulência, propriedades antigénicas e imunidade induzida.
Em alguns países, têm sido observadas formas sistémicas graves de infeção, originando doença
hemorrágica fatal. Ocorre frequentemente, infeção simultânea com herpesvírus felino de tipo 1,
Chlamydia e/ou Bordetella.
Os gatos doentes, com infeção aguda, e portadores excretam calicivírus felino nas secreções
oronasais e oculares. A infeção ocorre, sobretudo, por contacto direto, mas a transmissão
Corrimento ocular num gato com infeção por herpesvírus felino tipo 1 (Cortesia FW Scott).
Eritema e edema graves da conjuntiva (conjuntivite) num gato com infeção por herpesvírus felino de tipo 1 (Cortesia FW Scott).
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indireta também é frequente, uma vez que o vírus pode permanecer infecioso em superfícies
secas durante cerca de um mês. Os comedouros, bebedouros, brinquedos e outros objetos ficam,
muitas vezes, contaminados e podem disseminar o vírus entre gatos que vivam em casas com
vários animais.
Os sinais clínicos principais incluem úlceras orais (afetando sobretudo a língua), mas os calicivírus
também contribuem para o desenvolvimento de sinais de trato respiratório superior; também
pode ser observada febre, que indica a passagem do vírus na corrente sanguínea, e claudicação
como consequência de uma artrite transitória. A pneumonia ocorre particularmente em gatinhos
jovens. A apresentação clínica depende da virulência do vírus envolvido e da idade do gato.
Uma apresentação mais recentemente reconhecida desta infeção consiste na calicivirose
sistémica hemorrágica, que é mais grave em gatos adultos, sendo fatal em cerca de 70% dos
casos. Os pacientes desenvolvem febre, edema cutâneo, lesões ulceradas na cabeça e nos
membros, e icterícia.
A terapêutica de suporte (incluindo administração de fluidos) e bons cuidados de enfermagem são
essenciais. O maneio dos gatos doentes é idêntico ao descrito para os casos de infeção por
herpesvírus.
Ulceração grave e formação de crostas no nariz de um gato com infeção por calicivírus felino (Cortesia de FW Scott).
Mancha vermelha na superfície dorsal da língua de um gato, que corresponde a uma úlcera profunda, causada pela infeção por calicivírus felino (Cortesia FW Scott).
Neste gatinho, a infeção grave por calicivírus felino espalhou-se pelos pulmões, conduzindo à morte por pneumonia. Os pulmões estão profundamente vermelhos e deverão ter consolidação. Os pulmões normais são macios e de cor rosada (Cortesia FW Scott).
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Os calicivírus podem persistir no ambiente durante cerca de um mês e são resistentes a muitos
dos desinfetantes comuns. Os desinfetantes à base de peróxido e hipoclorito de sódio (lixívia
doméstica, diluída em água na proporção de 1 em 30) são eficazes. Em abrigos, as novas chegadas
devem ser mantidas em quarentena durante 2 semanas; em gatis de reprodução infetados, as
gatas devem ter os bebés em isolamento e a ninhada não se deve misturar com os outros gatos
até terem concluído a vacinação.
RESPOSTA IMUNE O sistema imunitário constitui uma parte extraordinária e complexa do organismo, que evoluiu
para proteger os indivíduos de doenças infeciosas. O sistema imunitário co-evoluiu com os agentes
infeciosos, tais como os descritos anteriormente. Consecutivamente, para conseguir lidar
eficazmente com a diversidade de agentes infeciosos que existem hoje em dia, o sistema
imunitário tornou-se muito complexo e especializado nos mamíferos. O sistema imunitário tem de
ser capaz de responder de forma adequada ao desafio apresentado por todo o espectro de
bactérias, vírus, fungos, protozoários, endo e ectoparasitas. Muitos destes agentes infeciosos
desenvolveram estratégias para tentar evitar a resposta imune, de modo a sobreviverem,
causando doença clínica ou mortalidade nos hospedeiros que colonizam. Essas estratégias podem
ser tão simples como uma mera “fuga sob o radar” do sistema imunitário, ou ser mais sofisticadas,
com alguns agentes infeciosos capazes de subverter especificamente o sistema imunitário do
hospedeiro em benefício próprio. É necessário algum conhecimento sobre o sistema imune para
compreender porque nos vacinamos e aos animais domésticos.
Existem duas metades essências do sistema imunitário – designam-se imunidade inata e
adaptativa. O sistema imunitário inato inclui um conjunto de glóbulos brancos (leucócitos) e
várias moléculas proteicas com ação imediata e não específica. O sistema imunitário inato é,
muitas vezes, considerado relativamente primitivo e, em termos evolutivos, mais antigo que a
imunidade adaptativa – mas não obstante a presença de uma imunidade inata eficaz é essencial
para a sobrevivência de qualquer animal. Os componentes do sistema imune inato encontram-se
mais fortemente representados nas regiões exteriores do corpo, que têm maior contacto direto
com o ambiente exterior. Incluem a pele, mucosas dos tratos respiratório, intestinal e génito-
urinário, conjuntiva ocular e glândula mamária. Para qualquer agente infecioso que tente entrar
no organismo por uma destas vias – por exemplo, por inalação (ex. vírus influenza) ou ingestão
(bactérias do género Salmonella), a imunidade inata constitui a primeira linha de defesa, que
ajuda a eliminar estes agentes e prevenir a sua entrada e, por vezes, disseminação no organismo.
A imunidade inata é fundamental para a defesa, mas a maioria das vacinas não atua mediante a
estimulação da imunidade inata. Na verdade, exercem o seu efeito sobre o sistema imune
adaptativo.
Olho
Pele
Trato génito-
urinário
Glândula
mamária LOCAIS DA IMUNIDADE INATA
16
A imunidade adaptativa constitui a segunda força de defesa do hospedeiro. O sistema imune
adaptativo é muito mais potente que o inato e baseia-se em dois conjuntos distintos de leucócitos
e proteínas. Uma característica importante da imunidade adaptativa reside no facto de estas
células e proteínas agirem de forma específica, direcionada para o agente infecioso particular que
os ativou. Os componentes chave do sistema imune adaptativo incluem os linfócitos (células) e os
anticorpos (moléculas). Alguns linfócitos (de tipo B) são responsáveis pela produção de anticorpos,
enquanto outros (de tipo T) controlam, ou “regulam” a resposta imune adaptativa, ou estão
envolvidos num processo designado imunidade celular. Os linfócitos do sistema imune adaptativo
encontram-se em todo o organismo. Algumas destas células situam-se nas superfícies corporais,
mas a maioria está presente em órgãos do sistema imunitário (baço e linfonodos), circulando
também na corrente sanguínea.
PRINCIPAIS COMPONENTES DA
IMUNIDADE ADAPTATIVA
Quando um agente infecioso entra no organismo pela primeira vez, é retido pelo sistema imune
inato, que está sempre funcional nas superfícies corporais. Alguns dias depois, o sistema imune
adaptativo é ativado, com a produção de células e anticorpos especificamente desenhados para
interagir com esse organismo. Estes jogadores extremamente potentes do sistema imunitário,
proporcionam “reforços” para o sistema imune inato, a fim de ajudar a controlar ou a eliminar a
A pequenas células alaranjadas observadas na imagem são glóbulos vermelhos. A maioria das células maiores, arroxeadas, são linfócitos - responsáveis pela resposta imune adaptativa (Cortesia MJ Day).
Célula helper
Célula citotóxica
Célula reguladora
ANTICORPOS
LINFÓCITOS
17
infeção. Em muitas infeções, existe um papel tanto para os anticorpos como para a imunidade
celular nesta resposta imune protetora. Os anticorpos ligam-se e neutralizam ou destroem os
agentes infeciosos, prevenindo a sua entrada ou disseminação no organismo. Determinados
linfócitos T específicos, designados “linfócitos T citotóxicos”, podem trabalhar em conjunto com
células “natural killer” do sistema imune inato, para promover a morte das células infetadas,
prevenindo, assim, a disseminação da infeção.
Para além de ser mais potente e específico, o sistema imune adaptativo possui outra característica
chave – a memória imunitária. No final de qualquer resposta imune, alguns linfócitos de longa
duração retêm a memória da infeção, de modo que se o mesmo organismo tentar infetar o corpo
novamente no futuro, estas células são ativadas rapidamente, promovendo uma “resposta imune
de memória (ou anamnésica)” ainda mais forte.
Deste modo, a vacinação consiste na exposição a uma forma benigna de um agente infecioso
(agente “atenuado” ou “morto”), com o objetivo de produzir uma resposta imune adaptativa e,
mais importante, a criação de uma resposta imune de memória. Este processo será debatido mais
aprofundadamente na próxima secção.
Nesta fase, é importante considerar outros dos aspetos da resposta imune com impacto na
vacinação. Temos, cada vez mais, a perceção que a eficácia do sistema imunitário de um indivíduo
está sob controlo genético. Somos, atualmente, capazes de dissecar o genoma completo (código
genético) de humanos, cães e, mas recentemente, de gatos e começamos a compreender quais os
genes que são importantes no controlo da função imune. De facto, há muitos anos que foi
reconhecido um grupo de genes responsáveis pela “resposta imune”, capazes de controlar as
respostas do sistema imune adaptativo. Humanos e animais herdam diferentes formas (alelos)
desses genes, o que significa que cada indivíduo pode responder de maneira diferente a uma
infeção ou vacinação. Para o cão, o controlo genético da imunidade é melhor demonstrado
através da comparação de raças diferentes. Compreendemos, atualmente, a forma como a criação
das raças modernas de cães através da reprodução seletiva também conduziu a um leque genético
relativamente limitado nessas mesmas raças. Raças particulares podem ter perpetuado genes
relacionados com respostas imunes (ou vacinais) mais fracas, por terem sido selecionados genes
ligados a determinadas conformações corporais. É bem conhecido, por exemplo, que algumas
populações de Rottweiler transportam genes que os tornam incapazes de estabelecer respostas
imunes protetoras (ou respostas vacinais) à infeção por parvovírus canino, e alguns Rottweiler
também estabelecem respostas imunes sub-ótimas à vacinação antirrábica.
A segunda característica chave do sistema imunitário dos cães e gatos que tem impacto na
vacinação reside no processo, mediante o qual os animais recém-nascidos estão protegidos da
doença infeciosa. Ao contrário do Homem, cujo recém-nascido recebe anticorpos protetores pré
formados por transferência a partir da mãe, através da placenta, os cachorros e gatinhos recém-
nascidos (que possuem uma barreira placentária mais complexa que a humana) têm de receber os
anticorpos maternais por ingestão do “primeiro leite”, ou colostro, da mãe. Estes anticorpos
maternais são absorvidos durante as primeiras 24 horas de vida e proporcionam proteção imune
sistémica para o neonato durante as primeiras semanas de vida, enquanto o seu próprio sistema
imunitário está em desenvolvimento. Na ausência destes anticorpos de origem maternal (MDA) o
animal recém-nascido sucumbirá rapidamente a infeção, podendo morrer.
18
Embora sejam essenciais para a sobrevivência, a presença dos anticorpos maternais também
impede o animal jovem de estabelecer a sua própria resposta imune - e, em particular, de
responder às vacinas convencionais. Estes anticorpos maternais têm uma duração determinada
(designada “semi-vida”), acabando por se degradar e permitir ao animal jovem substituir os
anticorpos maternais por aqueles que ele próprio produza. Os cachorros e gatinhos só conseguem
produzir a sua própria resposta imune adaptativa de memória à vacinação quando os anticorpos
de origem maternal tiverem sofrido um grau de degradação suficiente. Este é um dos motivos
pelos quais não vacinamos cachorros nem gatinhos nas primeiras semanas de vida.
Este gráfico simples explica o declínio no nível de anticorpos de origem maternal no sangue de um cachorro
recém-nascido, ao longo das primeiras semanas de vida. Só depois destes anticorpos terem descido para um
nível muito baixo é que o cachorro consegue produzir os seus próprios anticorpos. Neste exemplo, o cachorro
não consegue produzir anticorpos (ou seja, não consegue responder à vacinação) às 8 semanas de idade, por
existirem demasiados anticorpos maternais presentes. No entanto, às 12 e 16 semanas já não está presente
uma concentração inibidora de anticorpos maternais e este cachorro conseguirá responder à vacinação.
A situação torna-se ligeiramente mais complexa, se considerarmos que numa ninhada de
cachorros ou gatinhos, indivíduos diferentes absorverão, provavelmente, quantidades diferentes
de colostro. Os animais mais fortes receberão relativamente mais anticorpos de origem maternal
que um irmão de ninhada mais pequeno ou mais fraco, que é empurrado para o “fim da linha”
para ingestão do colostro. Isto significa, essencialmente, que animais pertencentes à mesma
ninhada se tornam capazes de responder à vacinação em momentos diferentes – conforme os
seus anticorpos maternais sofreram eliminação suficiente para lhes permitir produzir os seus
próprios anticorpos. O cachorro mais pequeno da ninhada, que recebeu menos colostro, pode ser
capaz de responder à vacinação às 8 semanas de idade, enquanto o animal mais robusto pode ter
anticorpos maternais persistentes que bloqueiem a sua própria imunidade até às 12 semanas de
idade. É por esta razão que recomendamos que a última dose de vacinas essenciais para cachorros
e gatinhos seja administrada às 16 semanas de idade, ou posteriormente (ver a próxima secção).
Os calendários de vacinação desenvolvidos para cachorros e gatinhos tomam em consideração
esta diferença potencial entre irmãos de ninhadas e entre ninhadas diferentes (porque o nível de
anticorpos pode variar dramaticamente de uma progenitora para outra). Considerando que não
medimos, por rotina, os níveis de anticorpos das progenitoras, nem os títulos de anticorpos
maternais de cada cachorro ou gatinho individual, aplicam-se vacinas repetidas (referir à secção
ANTICORPOS
DE ORIGEM
MATERNAL
ANTICORPOS
PRODUZIDOS
PELO CACHORRO
Semanas após o nascimento
19
abaixo, mas em geral a vacinação inicia-se às 8-9 semanas, com uma segunda administração 2 a 4
semanas depois, e uma terceira aplicação às 16 semanas de idade, ou mais tarde). O cachorro
mais pequeno da ninhada pode responder bem à vacinação às 8 semanas (e não é prejudicado por
receber vacinas adicionais às 12 e 16 semanas), mas o irmão mais robusto, que recebeu mais
anticorpos maternais, pode ser incapaz de responder à vacinação até às 16 semanas de idade.
Além disso, em algumas ninhadas inteiras, cujas progenitoras apresentem títulos de anticorpos
muito elevados (ex. contra parvovírus), não existe nenhum cachorro capaz de desenvolver uma
resposta imune até receberem uma dose de vacina às 16 semanas, ou até mais tarde. As doses
administradas às 8 e às 12 semanas serão completamente bloqueadas (ver a secção relativa às
diretrizes de vacinação). O calendário de vacinação consiste nesta série inicial de injeções, com a
resposta imune a ocorrer às 8, 12 ou 16 semanas em qualquer indivíduo, mas também inclui uma,
muitíssimo importante, revacinação aos 6 ou aos 12 meses de idade, para “resgatar” o ocasional
cachorro ou gatinho que não tenha respondido à vacinação, mesmo às 16 semanas de idade. Os
cachorros e gatinhos beneficiarão desta revacinação aos 6 ou 12 meses, que constitui uma
importante “medida de segurança”.
PRINCÍPIOS DA VACINAÇÃO A introdução da vacinação no Mundo ocidental é, amplamente, atribuída ao trabalho pioneiro de
Edward Jenner, que em 1796, demonstrou que a exposição de humanos ao vírus da varíola bovina
protegia contra um desafio posterior com o vírus relacionado da varíola humana. Nos dois séculos
que se seguiram, a vacinação tornou-se um pilar essencial em medicina humana e veterinária. A
importância da vacinação para a humanidade pode ser exemplificada pelo facto de a varíola já não
existir como doença, na sequência dos programas de vacinação. Um feito semelhante da
vacinação verificou-se em medicina veterinária, quando em 2011, devido à vacinação, o Mundo
ter sido declarado livre de peste bovina. O vírus da peste bovina é semelhante ao do sarampo
humano e da esgana canina.
As principais doenças infeciosas dos cães e gatos (descritas anteriormente) também têm sido
controladas eficazmente (mas não foram eliminadas) mediante programas de vacinação ao longo
das últimas décadas. Se a vacinação for praticada extensivamente numa população, doenças fatais
como a esgana canina, adenovirose canina, parvovirose canina e felina, tornam-se relativamente
raras. Para que seja possível obter um controlo eficaz deste tipo de doença, é necessário que >70%
da população seja vacinada, pelo menos uma vez com idade superior a 16 semanas, com uma
vacina infeciosa (vírus vivo modificado). A vacinação também previne o sofrimento animal, através
do controlo de agentes infeciosos que não matam, necessariamente, o animal, mas causam sinais
clínicos importantes (ex. doença do trato respiratório superior felino em gatos adultos).
Evidentemente que, em países onde a vacinação não for praticada muito amplamente (ou seja,
em < 10% da população), estas doenças permanecerão tão prevalentes como sempre o foram.
Como tal, o objetivo da vacinação, tal como a efetuamos hoje em dia, consiste em proteger
animais individuais e populações de animais contra agentes infeciosos letais ou causadores de
doença. Embora a vacinação seja, geralmente, efetuada para o benefício do animal, para algumas
infeções partilhadas com o Homem (ex. raiva), o controlo da doença na população animal constitui
uma estratégia importante de prevenção da infeção humana. Neste contexto, no que diz respeito
à vacinação antirrábica, existem frequentemente requisitos legais associados com a vacinação dos
20
animais de companhia – por exemplo em países onde a doença permaneça ativa (“regiões
endémicas”) ou em caso de viagens internacionais com animais de companhia.
À semelhança do que verifica em medicina humana, a vacinação não promove apenas proteção
para o animal individual, mas para a população como um todo. O debate recente relativo à
vacinação de crianças com vacinas associadas contra sarampo, papeira e rubéola (em alguns
países) levou uma fração sub-ótima da população humana vacinada contra estas doenças
infeciosas. Quando o nível populacional de imunidade (a “imunidade de grupo”) desce abaixo de
65%, existe risco de ocorrência de surtos dessa doença infeciosa. Esse facto foi, claramente,
observado no Reino Unido, com o aparecimento recente de surtos de sarampo em crianças.
Observa-se o mesmo problema nos animais de companhia, nos quais, por exemplo, surtos de
esgana e parvovirose têm sido relacionados com uma diminuição na vacinação. A vacinação do seu
animal de companhia não o protege só a ele da infeção, mas beneficia toda a população animal
(ver o debate anterior relativo à percentagem aproximada de animais que necessitam ser
vacinados para obter uma imunidade populacional efetiva).
Como debatido anteriormente, a vacinação permite atingir o objetivo de controlar as doenças
infeciosas, mediante a indução de uma resposta imunitária de memória no sistema imune
adaptativo. A eficácia desta resposta de memória é determinada por vários fatores, tais como o
perfil genético do animal, a eficácia (força ou “potência”) da vacina, a persistência da imunidade
induzida pela vacina (a “duração da imunidade” ou DOI) e o programa segundo o qual a vacina é
administrada. Algumas vacinas têm sido muito bem-sucedidas no cumprimento do objetivo de
induzir proteção e uma resposta de memória imune de longa duração (ex. vacinas contra esgana
canina, adenovirose canina, parvovirose canina e felina), enquanto outras vacinas, devido à sua
natureza, só são capazes de produzir uma imunidade de curta duração ou permitem, apenas,
reduzir a gravidade dos sinais clínicos de doença, em lugar de prevenir a ocorrência de infeção (ex.
vacinas contra leptospirose canina, bem como as vacinas contra doença de trato respiratório
superior canino e felino, a maioria das quais não é capaz de induzir “imunidade estéril”). De modo
mais simples, estas vacinas menos eficazes têm de ser administradas com maior frequência nos
animais adultos (na forma de “reforços vacinais”), para manter a resposta imune, uma vez que a
memória só persiste durante meses, em vez de anos.
O estabelecimento de um programa de vacinação para um animal de estimação individual é um
ato médico, que deve ser efetuado pelo seu médico veterinário. Embora seja apresentado, neste
documento, um resumo das diretrizes internacionais para a vacinação de cães e gatos, na prática
as vacinas que o seu cão ou gato recebe, e a frequência com que são administradas, são
determinadas por fatores como o risco de doença infeciosa no seu país, região ou ambiente local,
o estilo de vida do seu animal, a idade e por vezes a raça do animal, e a natureza da vacina que
foi selecionada. Estes fatores, e a abordagem ao programa de vacinação para o seu animal de
companhia, são discutidos sem seguida. O programa de vacinação ao longo da vida de um animal
deverá tomar em consideração a indução de proteção numa fase precoce da vida, e a manutenção
de uma imunidade protetora e memória imunitária eficazes entre revacinações, na idade adulta
(reforços vacinais).
21
TIPOS DE VACINA Existem dois tipos principais de vacinas para cães e gatos:
1. Vacinas infetantes
2. Vacinas não-infetantes
Por definição, as vacinas infetantes têm de infetar o animal para promover uma resposta imune.
Por outro lado, as vacinas não infetantes não são capazes de infetar e multiplicar-se no
organismo, pelo que precisam de conter uma quantidade suficiente de antigénio para promover
uma resposta imune. É frequente que as vacinas não infetantes contenham um adjuvante, ou
seja, uma substância que aumente, de forma inespecífica, a resposta imune.
As vacinas infetantes são, frequentemente, designadas vacinas vivas modificadas, ou vacinas
vivas atenuadas. Estas vacinas estimulam todos os aspetos da imunidade, incluindo a imunidade
celular e humoral (com produção de anticorpos), a nível sistémico e local. Isto significa que as
vacinas infetantes são, frequentemente, mais eficazes. Também são capazes de promover uma
mais longa duração de imunidade (DOI), variando desde alguns anos, até toda a vida do animal. É
frequente que as vacinas infetantes necessitem de apenas uma dose para imunizar o animal, uma
vez que os anticorpos de origem maternal (MDA) não estejam presentes para impedir a infeção e
bloquear a imunização. As vacinas infetantes são as que mais se assemelham à imunização que
ocorre após a infeção natural. A principal diferença reside no facto de a infeção natural causar,
muitas vezes, doença e ocasionalmente a morte, enquanto as vacinas infetantes não o fazem,
porque os agentes infeciosos são atenuados (enfraquecidos) e, como tal, são de aplicação segura
a animais de determinada espécie, que tenham um sistema imunitário funcional. As vacinas de
ADN, também referidas por vacinas de ADN nu, vacinas genéticas, vacinas de ADN recombinante
ou vacinas virais vetoriais recombinantes, são semelhantes às vacinas infeciosas, uma vez que as
proteínas do antigénio que veiculam podem ser expressas por células apresentadoras de
antigénios, que irão promover todas as formas de imunidade adquirida, à semelhança das vacinas
infetantes. As formas mais importantes de imunidade adquirida incluem a imunidade humoral
(com produção de anticorpos) e imunidade celular (ver a secção relativa a imunidade, acima). A
única forma de imunidade que não é rapidamente induzida pela inoculação parentérica (sistémica)
de uma vacina de ADN, e que frequentemente estimulada pelas vacinas infetantes, consiste na
imunidade mucosa local.
As vacinas não infetantes também são referidas como vacinas inativadas, mortas, idiotípicas,
peptídicas, de subunidades, sintéticas, de toxoides, de antiveneno ou bacterinas. As vacinas não
infetantes têm de conter uma quantidade suficiente de antigénio para imunizar, porque não
infetam nem produzem novo antigénio. Também têm, frequentemente, de conter um adjuvante,
para aumentar a resposta imune de forma não específica. Ao contrário das vacinas infetantes, as
não infetantes, frequentemente:
• Necessitam de doses múltiplas para produzir uma resposta imune protetora
• Proporcionam uma imunidade de duração mais curta que as vacinas infetantes
22
• Estimulam, principalmente, uma imunidade sistémica humoral, uma imunidade celular
limitada e pouca a nenhuma imunidade mucosa
• Tem sido sugerido que são mais prováveis de causar uma reação imune adversa,
especialmente se incluírem adjuvantes ou contiverem bactérias mortas completas
(bacterinas). No gato, as vacinas não infetantes, em especial as que contêm adjuvantes,
têm sido relacionadas com a possibilidade de estar na origem de uma forma letal de
tumor designado “fibrossarcoma felino no local de injeção”. As vacinas mortas mais
frequentemente associadas com este tumor têm sido as vacinas antirrábicas mortas
adjuvadas e as vacinas mortas adjuvadas contra o vírus da leucemia felina. Outras vacinas
e produtos injetáveis têm sido, igualmente, relacionadas com o desenvolvimento de
fibrossarcoma felino no local de injeção.
Existem variados tipos de vacinas incluídos nos programas de vacinação para a maioria dos
animais, e existem até vacinas essenciais que podem ser não infetantes (ex. contra a raiva).
A imunidade vacinal persiste durante a atividade das células de memória imunitária e, com
determinados tipos de vacina (geralmente, com vacinas infetantes), a imunidade pode persistir
durante anos, e até para toda a vida. Um bom exemplo deste tipo de imunidade é a promovida
pela vacina contra o sarampo nos humanos. A vacinação na infância com vacinas vivas modificadas
contra o sarampo proporciona imunidade para toda a vida. O vírus da esgana canina é muito
próximo do vírus do sarampo, e a vacina contra a esgana canina também pode proporcionar
imunidade para toda a vida do cão (considerando uma longevidade média de 12 a 14 anos). As
vacinas de vírus vivo modificado contra parvovírus canino e felino também podem proporcionar
imunidade para toda a vida. É importante notar que não existe nenhuma vacina capaz de
proporcionar uma imunidade com duração mais prolongada que aquela que ocorre na sequência
da infeção natural (ou seja, a imunidade conferida após um animal recuperar da infeção natural,
tenha ou não desenvolvido doença clínica), embora algumas vacinas possam aproximar-se
bastante da imunidade associada a infeção natural.
Algumas, mas não todas, as vacinas infetantes são excretadas após administração ao animal. Por
exemplo, são eliminadas partículas virais de parvovírus canino e felino vacinal nas fezes de
cachorros ou gatinhos vacinados recentemente. É seguro administrar vacinas essenciais a partir
das 4 semanas de idade, mas salvo se os cachorros ou gatinhos tiverem sido privados da ingestão
de colostro e/ou viverem num ambiente de risco muito elevado, não recomendamos iniciar o
programa de vacinação de animais de companhia antes das 6 semanas de idade. As razões para
esta recomendação incluem: (1) as vacinas podem ser bloqueadas pelos anticorpos maternais, (2)
os cachorros e gatinhos estão protegidos passivamente e não necessitam de ser vacinados e (3) o
seu sistema imunitário está mais amadurecido e é mais provável que produzam uma resposta
imune protetora melhor a partir das 6 semanas de idade.
MOTIVOS PARA ALTERAÇÃO NOS PROTOCOLOS VACINAIS Quais são os fatores importantes que têm levado os profissionais veterinários a desenvolver
diretrizes de vacinação para o gato e o cão? As diretrizes de vacinação para felinos foram
desenvolvidas, pela primeira vez, pela Associação Americana de Clínicos de Felinos (AAFP) em
1998, tendo sido atualizadas em 2000, 2006 e 2013. Também foram elaboradas diretrizes pelo
23
Painel Europeu de Recomendação sobre Doenças Felinas (ABCD) em 2006, 2013 e 2015. As
diretrizes de vacinação canina foram desenvolvidas pelo Grupo de Trabalho para a Vacinação
Canina, da Associação Americana de Hospitais Animais (AAHA) e publicadas em 2003, 2006 e 2011.
Foram, ainda, desenvolvidas diretrizes de vacinação para cães e gatos pelo Grupo para as
Diretrizes de Vacinação (VGG) da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais
(WSAVA) em 2007, atualizadas em 2010 e 2015.
A AAPF foi, inicialmente, estimulada a desenvolver diretrizes de vacinação, porque começou a
sugerir-se que as vacinas pudessem estar relacionadas com o desenvolvimento de tumores no
local da injeção. Até essa data, era aceitável que os cães e gatos fossem vacinados com todas as
vacinas disponíveis, pelo menos uma vez por ano, de preferência com uma vacina combinada.
Também era, globalmente, aceite que as vacinas não causavam nenhum efeito adverso. Os
tumores, inicialmente referidos por sarcomas associados à vacinação (VAS), são atualmente
designados sarcomas felinos no local de injeção (FISS). O termo “vacina” foi removido da
designação, uma vez que se reconheceu que a administração de outras substâncias injetáveis
também pode estar na origem de sarcomas, em gatos altamente predispostos. O sarcoma no local
da injeção é principal, mas não exclusivamente, um problema no gato. Outras espécies (ex. furão,
cão e cavalo) podem desenvolver este tipo de tumor, mas com uma frequência muito mais baixa
em relação ao gato. O perfil genético tem, provavelmente, um papel importante no
desenvolvimento de sarcomas no local de injeção, mas os fatores genéticos ainda não estão bem
definidos.
As duas vacinas mais frequentemente sugeridas como tendo relação com fibrossarcoma no local
de injeção incluem as vacinas adjuvadas, não infeciosas (mortas) contra o vírus da leucemia felina
(FeLV) e da raiva. Nos Estados Unidos da América, a prevalência de fibrossarcoma no local da
injeção é estimada em 1 para cada 10.000 gatos vacinados. No Reino Unido, os gatos só são
vacinados contra a raiva no caso de viagem internacional, mas a vacinação contra FeLV continua a
ser amplamente utilizada.
No caso das diretrizes de vacinação canina, não houve nenhum evento adverso único, como o
fibrossarcoma no local da injeção, que motivasse a sua elaboração. Tratou-se da consciência
crescente que muitas vacinas proporcionam imunidade de longa duração e, como tal, não
necessitam ser administradas anualmente. Evidentemente que ocorrem, ocasionalmente, reações
adversas após a vacinação em cães. As reações adversas caninas incluem eventos alérgicos
relativamente ligeiros, como o aparecimento de pápulas e angioedema, que ocorrem minutos a
horas após a vacinação. Enquanto estas reações são fáceis de relacionar com a administração da
vacina, pode ser mais difícil estabelecer essa relação para reações adversas que se verifiquem um
dia, uma semana ou mesmo alguns meses após a vacinação. As reações adversas serão
apresentadas numa secção posterior deste documento.
As diretrizes de vacinação baseiam-se na análise do conhecimento científico atual sobre doenças
infeciosas e imunologia, juntamente com as recomendações constantes em diretrizes relacionadas
com classes genéricas de vacinas. As recomendações descritas nas diretrizes podem,
ocasionalmente, diferir das que são propostas pelos fabricantes de vacinas (as recomendações dos
fabricantes para produtos específicos são fundamentadas pelos estudos que foram realizados para
licenciar a venda desse produto). O seu médico veterinário pode optar por seguir o conselho
24
proporcionado pelas diretrizes, mesmo que entre em conflito com as recomendações do
fabricante, mas deve pedir o seu consentimento para proceder dessa forma.
DIRETRIZES DE VACINAÇÃO PARA CÃES Os criadores de cães têm um papel especial na garantia que os cachorros que criam e vendem são
corretamente vacinados. A série inicial de vacinas administradas pelo criador (situação que só é
permitida em alguns países) ou o respetivo médico veterinário exige, quase sempre, que o novo
tutor prossiga com a série de vacinação, para garantir que o cachorro fica protegido contra
doenças importantes, quer numa idade precoce, quer ao longo da vida. É criticamente importante
que o criador disponibilize informação, preferivelmente na forma de registos veterinários, das
vacinas que o cachorro recebeu. Devem ser fornecidas cópias desses registos ao novo tutor, para
que possa mostrá-los ao médico veterinário. Ao proceder desta forma, garante que a série de
vacinação prossegue e o programa de vacinação é adequado para proporcionar a proteção
necessária.
As doenças caninas mais importantes, relativamente à morbilidade potencial (gravidade dos sinais
clínicos) e mortalidade incluem três doenças “essenciais”: (1) esgana canina, causada pelo vírus da
esgana canina (CDV), (2) parvovirose canina, causada pelo parvovírus canino de tipo 2 (CPV-2) e
(3) hepatite infeciosa canina, causada pelo adenovírus canino de tipo 1 (CAV-1). A vacina utilizada
para prevenir a hepatite infeciosa canina contém adenovírus canino de tipo 2 (CAV-2). Para além
destas três doenças essenciais, que são encontradas em todo o Mundo, os cães de muitos, embora
não de todos, os países também devem ser vacinados contra a raiva, com o objetivo de prevenir a
infeção, não só no cão, mas também nos seres humanos e noutras espécies de animais,
domésticos e silvestres. As vacinas que protegem contra estas quatro doenças devastadoras, são
designadas vacinas essenciais. O tipo de vacina essencial que deve ser administrada aos cachorros
para prevenir a doença provocada pelos vírus da esgana canina, parvovírus canino de tipo 2 e
adenovírus canino de tipo 1 são vacinas infetantes, também designadas vacinas vivas modificadas
(ver a secção anterior, relativa aos Tipos de Vacinas). Em alguns países, está disponível uma vacina
vetorial recombinante contra o vírus da esgana canina, que pode ser administrada em vez da
vacina viva modificada contra a esgana canina. Deve ser administrada uma vacina viva modificada
contendo adenovírus canino de tipo 2 em vez do tipo 1, para prevenir a hepatite infeciosa canina
causada por CAV-1. A vacina contento adenovírus canino de tipo 2 é tão eficaz como a de tipo 1,
mas não provoca a reação adversa conhecida pelo nome de olho azul (uveíte alérgica), que pode
ser provocada pelas vacinas contendo CAV-1. Nunca, em caso algum, devem ser administradas
vacinas não infetantes (mortas ou inativadas) durante a série inicial de vacinas de cachorro, como
substitutos das vacinas vivas modificadas ou de vacinas recombinantes, se estas estiverem
disponíveis. Pelo contrário, as vacinas antirrábicas administradas a cães são sempre produtos não
infetantes (vacinas de vírus morto, ou inativadas).
A vacinação com estas três vacinas essenciais caninas (esgana, parvovirose e adenovirose) não
deve ter início antes das 6 semanas de idade e, caso os cachorros permaneçam com o criador até
às 8-10 semanas de idade ou mais tarde, recomenda-se geralmente que a vacinação tenha início
às 8-9 semanas de idade, em vez de às 6 semanas. Deve ser efetuada uma revacinação 2 a 4
semanas depois e é administrada uma última vacina quando os cachorros têm 16 ou mais semanas
de idade. A capacidade para promover a imunização dos cachorros depende do título de
25
anticorpos da progenitora e da quantidade de anticorpos maternais (MDA) que foram absorvidos
através de células epiteliais especializadas do trato intestinal do cachorro, nas primeiras 24 horas
de vida (ver as secções anteriores). Os anticorpos do leite, das classes IgA e IgG, continuarão a
proporcionar proteção mucosa local a nível do trato gastrointestinal até o cachorro ser
desmamado. Embora a imunidade passiva a nível do trato gastrointestinal seja importante contra
agentes patogénicos entéricos, a proteção passiva (materna) mais importante contra as doenças
consiste nos anticorpos de tipo IgG existentes no sangue do cachorro.
A imunidade adquirida passivamente (anticorpos maternais) proporciona proteção contra muitos
dos agentes infeciosos contra os quais a progenitora foi exposta (por vacinação ou por infeção
natural) e para os quais desenvolveu anticorpos (ex. vírus da esgana canina, parvovírus canino de
tipo 2, adenovírus canino de tipo 1 e tipo 2, raiva, outras doenças sistémicas, como herpesvírus
canino). Infelizmente, os anticorpos IgG passivos que proporcionam proteção temporária aos
cachorros, também impedem a imunização ativa (ver secções anteriores), quando as vacinas
essenciais são administradas aos cachorros pela via subcutânea.
Os anticorpos IgG passivos têm um tempo de semi-vida médio de 10 dias (entre 8 e 12 dias) no
sangue do cachorro. Isto significa que, dependendo do cachorro, a cada 8 – 12 dias, degradam-se
(desaparecem) metade dos anticorpos que foram transferidos passivamente a partir da mãe, para
ajudar os seus cachorros a prevenir a infeção pelos vírus da esgana canina, parvovírus canino de
tipo 2, adenovírus canino tipo 1, raiva ou outros agentes patogénicos. Assim, dependendo do
título de anticorpos da progenitora, toda ou a maioria da proteção passiva terá, geralmente,
desaparecido entre as 6 e as 16 semanas de idade. O momento em que tal se verifica varia entre
ninhadas, e entre indivíduos da mesma ninhada. A proteção contra cada agente patogénico (vírus,
bactérias) depende da quantidade de anticorpos maternais contra esse agente. Assim, meramente
a título de exemplo, num cachorro a proteção contra o vírus da esgana canina pode durar 8
semanas, enquanto a proteção contra parvovírus canino de tipo 2 pode durar 12 semanas e contra
adenovírus canino de tipo 1, pode atingir as 14 semanas.
Pelo exemplo acima, a progenitora teria um título baixo de anticorpos contra o vírus da esgana
canina, e títulos elevados contra parvovírus canino de tipo 2 e adenovírus canino de tipo 1.
Consecutivamente, os cachorros também terão títulos baixos de anticorpos contra o vírus da
esgana canina, e títulos elevados contra parvovírus canino de tipo 2 e adenovírus canino de tipo 1.
Isso significa, relativamente à proteção passiva dos cachorros, que serão suscetíveis à infeção pelo
vírus da esgana canina numa idade jovem (ex. 8 semanas), e apenas numa idade posterior à
infeção por parvovírus canino de tipo 2 e adenovírus canino de tipo 1 (ex. 12-14 semanas). Isto
também significa que estes cachorros em particular podem ser imunizados precocemente contra a
esgana canina (ex. às 8 semanas), mas não podem ser imunizados contra parvovírus canino de tipo
2 e adenovírus canino de tipo 1 até às 14 semanas de idade, ou até mais tarde. Caso estes
cachorros sejam vacinados às 6 semanas de idade, não desenvolverão imunidade contra nenhum
dos três vírus. Se forem vacinados às 8 ou 10 semanas, deverão desenvolver imunidade contra o
vírus da esgana canina. No entanto, a vacinação contra parvovírus canino tipo 2 e adenovírus
canino tipo 1 não proporcionará nenhuma imunidade, nem o fará uma vacina administrada
novamente às 11-12 semanas de idade. Neste exemplo, a dose de vacina aplicada às 16 semanas
de idade, ou mais tarde, deverá imunizar contra parvovírus canino de tipo 2 e adenovírus canino
de tipo 1, deixando-os imunizados contra as três doenças essenciais.
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Consecutivamente, são administradas múltiplas doses de vacinas, não por as vacinas de vírus vivo
modificado necessitarem de múltiplas doses para promover imunização. Em vez disso, são
administradas várias vezes para garantir que são aplicadas quando o título de anticorpos passivos
contra essa vacina específica desceu para um nível suficientemente baixo, que não neutralize
(inative) o vírus vacinal. O vírus vacinal tem de infetar o cão para proporcionar imunidade.
Quando o título de anticorpos maternais é suficientemente elevado para bloquear a vacinação
com vacinas infetantes (de vírus vivo modificado), é necessário esperar pelo menos 2 semanas
para voltar a administrar a vacina. Considerando que metade dos anticorpos passivos decairá
(desaparecerá) durante esse período de tempo, o nível poderá tornar-se suficientemente baixo
para não bloquear a imunização ativa e o cachorro ficará imunizado. Quando o título de anticorpos
da progenitora é conhecido para cada uma das doenças essenciais, é possível prever as idades
para as quais a ninhada de cachorros pode ser ativamente imunizada com vacinas essenciais
específicas. Nos anos 1960 e 70, a idade para imunização era, muitas vezes, determinada por um
nomográfico. No entanto, isto raramente se procede hoje-em-dia, devido aos custos elevados
envolvidos na testagem. É mais prático administrar, simplesmente, uma série de vacinas. A
recomendação consiste em iniciar a vacinação às 6-8 semanas de idade, e efetuar revacinações
com intervalos de 2 a 4 semanas, com a última vacina administrada às 16 semanas de idade, ou
mais tarde. Em algumas regiões do Mundo, onde as doenças infeciosas caninas são mais
prevalentes e os padrões de criação possam não ser excelentes, o médico veterinário pode optar
por revacinar os cachorros com maior frequência (ou seja, a intervalos de 2 semanas) até às 16
semanas, ou mais, de idade.
Sob uma perspetiva meramente profilática, o ideal seria manter os cachorros isolados de outros
cães com história de doença desconhecida até estarem ativamente imunizados (ex. terem
completado o programa de vacinação), mas tal raramente é possível. Este procedimento também
é indesejável sob muitas outras perspetivas, como sejam a sociabilização, treino, comercialização,
etc. Independentemente do tipo de vacina utilizada, a revacinação não deve ocorrer com
intervalos inferiores a 2 semanas, durante o período compreendido entre as 6 e as 16 semanas de
idade. Na maioria das circunstâncias, não deve haver necessidade de administrar mais do que três
doses de vacinas essenciais aos cachorros durante este período neonatal precoce, por exemplo às
8, 12 e 16 semanas de idade. Mas podem ser apresentados programas de vacinação alternativos
para cachorros, às 6, 9, 12 e 16 semanas, ou às 7, 11, 15 e 19 semanas de idade, por exemplo.
Quando a primeira dose de vacina é administrada com uma idade igual ou superior a 16 semanas,
só é, geralmente, necessário administrar uma dose de vacina, porque existe uma probabilidade
extremamente baixa de haver anticorpos maternais suficientes para impedir uma imunização
ativa. No entanto, mesmo nas situações em que a vacinação se inicia às 16 semanas de idade, ou
mais tarde, os fabricantes recomendam muitas vezes a administração de duas doses, realizadas
com intervalo de 2 – 4 semanas, por haver uma pequena percentagem de cachorros que não
desenvolve, por qualquer motivo, resposta a uma vacina viva modificada específica com uma dose
única. Deve compreender-se que só as vacinas infetantes vivas modificadas e as vacinas virais
recombinantes vetoriais (contra o vírus da esgana canina) são capazes de promover imunização
mediante o uso de uma dose única.
As vacinas não infetantes/ mortas/ inativadas exigem sempre a administração de duas ou mais
doses, que são geralmente administradas com intervalo de 2-4 semanas, para promover
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imunidade. Se passarem mais de 4 semanas sobre a primeira dose, o protocolo vacinal deve ser
repetido, garantindo que a segunda dose é aplicada não mais de 4 semanas após a primeira. Uma
exceção a esta regra consiste na vacina contra a raiva, com a qual uma dose única é capaz de
promover imunização, devido à presença de um antigénio fortemente protetor (glicoproteína G) e
de um adjuvante potente. No entanto, mesmo no caso da raiva, alguns protocolos vacinais podem
exigir a administração de uma segunda dose, aplicada um ano após a primeira vacinação.
Pergunta-se, frequentemente, porque não esperamos simplesmente que os cachorros atinjam a
idade de 16 semanas, ou posterior, para vacinar contra as doenças essenciais? Tal seria possível,
se os cachorros permanecessem isolados; no entanto, como alguns cachorros ficam suscetíveis
logo a partir das 6 semanas de idade, se a progenitora tiver níveis de anticorpos muito baixos, o
facto de esperar até às 16 semanas de idade abre uma grande janela de suscetibilidade (de até 8-
10 semanas) e, caso sejam infetados com vírus da esgana canina, parvovírus canino de tipo 2 ou
adenovírus canino de tipo 1, ficarão doentes e, muito provavelmente, morrerão. No entanto, se
for possível manter os cachorros num ambiente garantidamente livre da infeção pelos vírus da
esgana canina, parvovírus canino de tipo 2 e adenovírus canino de tipo 1, então poderia aguardar
até às 16 semanas de idade, ou mais tarde, para vacinar os cachorros com uma ou duas doses de
vacinas essenciais (incluindo uma dose de vacina contra a raiva, que pode ser administrada a partir
das 12 semanas de idade). Quando são exigidas, as vacinas contra a raiva devem ser
administradas em conformidade com a legislação local, da cidade, município, estado ou país. A
duração de imunidade mais prolongada para qualquer vacina antirrábica licenciada é, atualmente,
de 3 anos.
As vacinas de vírus vivo modificado ou recombinantes vetoriais contra o vírus da esgana canina,
bem como as vacinas de vírus vivo modificado contra parvovírus canino de tipo 2 e adenovírus
canino de tipo 2 podem proporcionar imunidade durante até toda a vida, quando é administrada
uma, ou preferivelmente, duas doses na ausência de anticorpos maternais. Para as vacinas
essenciais (esgana canina, parvovírus canino tipo 2 e adenovírus canino tipo 2), o Grupo para as
Diretrizes de Vacinação recomenda a revacinação aos 6 meses ou com 1 ano de idade e,
posteriormente, com uma frequência não inferior a 3 anos. Para a raiva, deve ser efetuada uma
revacinação ao final de 1 ano e, posteriormente, cada 3 anos ou menos, em conformidade com as
regulamentações locais e a duração licenciada para a duração de imunidade (DOI) da vacina
utilizada. Contrastando com a longa duração de imunidade das vacinas essenciais, as vacinas
opcionais (não essenciais) proporcionam, geralmente, imunidade com duração igual ou inferior a 1
ano. Além disso, ao contrário das vacinas essenciais, que são extremamente eficazes quando o
animal é corretamente imunizado, muitas das vacinas não essenciais têm uma eficácia menor.
Números crescentes de centros de atendimento médico veterinário oferecem, atualmente, uma
alternativa ao protocolo automático de vacinação trianual para cães adultos, contra as doenças
essenciais (vírus da esgana canina, adenovírus canino e parvovírus canino de tipo 2). Um teste
sanguíneo simples (testagem serológica) pode determinar se um cão adulto tem proteção
imunológica contra estas três doenças e, se for esse o caso, a revacinação será desnecessária.
A questão é colocada frequentemente: quanto tempo demora a estabelecer-se imunidade após a
vacinação, se não houver interferência dos anticorpos maternais? Felizmente, as vacinas
essenciais caninas encontram-se entre as melhores vacinas disponíveis para qualquer espécie. Na
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ausência de anticorpos maternais, cerca de uma semana após a vacinação, podemos esperar que
haja proteção contra das doenças provocadas pelo vírus da esgana canina, parvovírus canino de
tipo 2 e adenovírus canino tipo 1. A imunidade desenvolvida após uma aplicação de vacina
antirrábica demora pelo menos 2 semanas, e a maioria dos cães não se consideram protegidos até
4 semanas após a vacinação.
Para além de iniciar a primeira série de vacinas essenciais às 6-10 semanas de idade, o médico
veterinário (ou o criador, em alguns países) pode, se assim o desejar, administrar também uma
vacina não essencial para promover proteção contra alguns elementos do complexo de doença do
trato respiratório superior canino (“tosse de canil”). Estão disponíveis vacinas intranasais que
incluem Bordetella bronchiseptica e vírus parainfluenza canino vivo modificado, com ou sem
adenovírus canino tipo 2 e, em alguns países, foi recentemente introduzida uma vacina oral contra
Bordetella. As vacinas intranasais só devem ser administradas pela via intranasal; a administração
injetável provoca uma reação local ou sistémica grave, podendo causar a morte, e a administração
de uma vacina intranasal pela via oral pode ser ineficaz. Considerando que os cachorros recebem,
frequentemente, apenas a primeira e, possivelmente, a segunda vacina essencial antes de ser
vendidos, é importante que o criador garanta que o novo tutor compreende que é indispensável
que o seu veterinário assistente complete a série de vacinações, com a última aplicação
administrada numa idade igual ou superior a 16 semanas. Também cabe ao tutor debater as
vacinas não-essenciais (opcionais) com o veterinário assistente, para determinar os riscos e
benefícios das vacinas não essenciais disponíveis.
As vacinas não essenciais podem ser iniciadas antes ou após a série de vacinas essenciais ficar
completa. Muitas, mas não todas, as vacinas não essenciais (ex. as que protegem contra
leptospirose ou borreliose [doença de Lyme]) exigem a aplicação de duas doses de vacina,
administradas com intervalo de 2 – 4 semanas, por serem vacinas não infeciosas (mortas/
inativadas). Ao contrário das vacinas essenciais, que têm uma duração de imunidade prolongada, a
maioria das vacinas não essenciais tem de ser administrada anualmente.
Assim, como criador, um dos papeis mais importantes que pode ter para garantir a saúde de todos
os cães, consiste em cumprir estas diretrizes na vacinação dos cachorros, garantindo que todos os
cachorros recebem vacinas essenciais numa idade em que são capazes de desenvolver imunidade.
Todos os criadores devem ter como objetivo, não apenas produzir os melhores cães, mas também
de produzir os cães mais saudáveis.
No que diz respeito aos cães adultos reprodutores, machos e fêmeas, é importante garantir que
são vacinados, corretamente, com vacinas essenciais, e que não sejam sobre-vacinados nem
recebam vacinas não essenciais desnecessárias. Todos os cães adultos precisam de receber
vacinas essenciais, mas não necessitam de ser vacinados mais do que uma vez a cada três anos.
Recomendamos, sempre que possível, que as vacinas não sejam administradas durante a
gestação, porque algumas podem estar na origem de problemas (ex. nado-mortos, abortos,
cachorros debilitados). A exceção a esta regra consiste nas situações cuja vacina tenha sido
especificamente licenciada para aplicação durante a gestação. Se for necessária, a vacinação deve,
idealmente, ser efetuada antes ou depois da gestação. Embora tenha sido assumido que a
revacinação antes da gestação aumente o nível de anticorpos na cadela, permitindo que ela
transfira um nível mais elevado de anticorpos maternais aos cachorros, sabe-se que a revacinação,
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em especial com vacinas infeciosas/ de vírus vivo modificado não proporciona, muitas vezes,
nenhum aumento no título de anticorpos da progenitora, devido à pré-existência de anticorpos,
que neutralizam a vacina na altura da administração. Assim, não ocorre infeção nem resposta
imune, que são necessárias para providenciar imunidade e aumentar os títulos de anticorpos.
Quase todas as cadelas, geralmente revacinadas com 3 ou mais anos de idade, terão desenvolvido
um nível de manutenção de anticorpos ótimo para o vírus essencial específico. Existe sempre uma
pequena percentagem de cadelas que apresenta um título de anticorpos muito baixo para um ou
mais vírus essenciais, do mesmo modo que uma pequena percentagem de cadelas desenvolve
títulos muito elevados de anticorpos contra determinado agente patogénico, independentemente
da frequência com que foram vacinadas (o que se deve às características genéticas do seu sistema
imunitário). Uma vez que as respostas são específicas para cada vírus (antigénio), um animal com
um título de anticorpos elevado contra parvovírus canino de tipo 2 pode ter um nível médio ou
baixo de anticorpos contra o vírus da esgana canina.
O nível de resposta também é controlado pela genética de cada animal. De facto, existem poucos
animais que não respondam à vacinação – ou seja, que sejam incapazes de produzir anticorpos
contra o vírus, independentemente do número de vezes que forem vacinados. Estima-se que o
número de animais que não respondem a parvovírus canino tipo 2 seja de 1 por cada 1.000 cães, e
para o vírus da esgana canina seja de 1 para cada 5.000 cães na população geral, mas este número
pode aumentar numa raça ou família de cães em particular. Não foram descritos animais que não
respondessem aos adenovírus caninos de tipo 1 e 2; assim, estima-se que este número se situe
entre 1 por cada 50.000 e 1 para 100.000 ou mais cães para adenovírus. Desconhecemos a
percentagem de animais que não respondem ao vírus da raiva, embora saibamos que existem. Os
animais que não respondem à vacinação, caso sejam infetados, morrem geralmente da doença
provocada pelo agente patogénico contra o qual são incapazes de montar uma resposta imune
com produção de anticorpos (ex. esgana, parvovirose). Alguns criadores recomendam que os seus
cachorros não sejam vacinados com determinadas vacinas. Caso essas vacinas sejam não
essenciais (opcionais), esse tipo de recomendação pode ser aceitável. No entanto, se se tratar de
vacinas essenciais, é inaceitável não proceder à vacinação. Não deve haver cão nenhum que não
seja vacinado contra as doenças essenciais (esgana canina, parvovírus canino tipo 2 e adenovírus
canino tipo 1 ou 2) e contra a raiva, nas situações em que tal seja exigido.
DIRETRIZES DE VACINAÇÃO FELINA Os criadores de gatos têm um papel fundamental para garantir que os gatinhos que criam e
vendem são vacinados corretamente e permanecem saudáveis. Existem vacinas essenciais, que
todos os criadores e tutores de gatos devem aplicar aos seus gatinhos, começando por vezes às 6
semanas de idade, embora geralmente se aguarde até à idade de 8-10 semanas para iniciar a
vacinação. As vacinas essenciais incluem as vacinas contra parvovírus felino (vírus da
panleucopenia) (FPV), calicivírus felino (FCV), herpesvírus felino de tipo 1 (FHV-1) e, em alguns
países, a vacina contra o vírus da raiva (RV). A revacinação dos gatinhos deve decorrer de forma
que a última dose de vacina seja administrada com uma idade igual ou superior a 16 semanas. É,
geralmente, necessário um programa que inclua três administrações, usando vacinas de vírus vivo
modificado (MLV), por exemplo às 8, 12 e 16 semanas, ou às 6, 9, 12 e 16 semanas. Embora as
vacinas de vírus vivo modificado sejam, geralmente, eficazes quando é administrada uma dose
30
única na ausência de anticorpos de origem maternal (MDA), alguns gatos que recebem uma
vacina essencial combinada necessitam de receber duas doses para poder estabelecer uma
resposta imune com produção de anticorpos contra calicivírus felino e herpesvírus felino de tipo 1.
Assim, recomenda-se sempre um número mínimo de duas doses de vacina, mesmo se os gatos
forem vacinados pela primeira vez com idade igual ou superior a 16 semanas, altura em que os
gatinhos já não deverão ter anticorpos de origem maternal.
As vacinas contra parvovírus felino, em especial as vacinas infetantes (de vírus vivo modificado),
são extremamente eficazes sempre que a última dose for administrada com idade igual ou
superior a 16 semanas. Pelo contrário, a eficácia é muito menor para as vacinas contra calicivírus
felino e herpesvírus felino de tipo 1, na sequência da natureza destes vírus e das doenças que
provocam. As doenças respiratórias e sediadas noutras superfícies mucosas, como o complexo de
doença de trato respiratório superior felino (coriza) são muito mais difíceis de prevenir que as
doenças sistémicas, como é o caso da panleucopenia felina. A outra vacina essencial que está
recomendada para administração em gatos de determinados, mas não todos, os países é a vacina
antirrábica. A maioria das vacinas antirrábicas são vacinas mortas adjuvadas ou, em determinados
países, há uma vacina vetorial recombinante disponível para administração a gatos. Quando é
administrada uma vacina antirrábica, é necessário cumprir a legislação do seu país, relativamente
ao modo e frequência da vacinação. A revacinação dos gatos com vacinas essenciais contra
parvovírus felino, calicivírus felino e herpesvírus felino de tipo 1 é recomendada aos 6 meses ou 1
ano de idade e, posteriormente, contra parvovírus felino, com frequência não superior a uma
aplicação de 3 em 3 anos. O médico veterinário pode recorrer à realização de uma análise
sanguínea (teste serológico) para determinar se o seu gato precisa, ou não, de ser vacinado contra
parvovírus felino a cada 3 anos. Os gatos com teste positivo encontram-se protegidos, pelo que
não necessitam ser revacinados. A revacinação dos gatos adultos contra calicivírus felino e
herpesvírus felino de tipo 1 depende do estilo de vida do animal. O médico veterinário avaliará os
fatores relacionados com o estilo de vida e fundamentará neles as suas recomendações. Os gatos
considerados em risco elevado destas doenças respiratórias podem ser revacinados anualmente,
enquanto os gatos de baixo risco só necessitam ser vacinados de 3 em 3 anos (à semelhança da
vacina contra parvovírus felino).
Há mais duas doenças infeciosas muito importantes para o gato, cuja prevalência pode ser
significativamente reduzida, embora não sejam eliminadas, através de um programa de
identificação e eliminação ou isolamento dos gatos portadores e vacinação dos gatos suscetíveis.
São elas a imunodeficiência ou linfoma/ leucemia associadas a infeção pelo vírus da leucemia
felina (FeLV) e a imunodeficiência felina, causada pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV).
Ambas as doenças são causadas por retrovírus que se encontram apenas nas espécies felinas.
Estão disponíveis testes de diagnóstico excelentes para a deteção de gatos portadores, que
servem como fonte principal de infeção para gatos suscetíveis. Se os gatos portadores fossem
eliminados, estas doenças desapareceriam da população felina. Consecutivamente, é essencial
que todos os gatos usados em reprodução sejam testados contra FeLV, usando um teste de
antigénio fidedigno, e contra FIV, usando um teste de anticorpo ou um teste de reação em cadeia
da polimerase (PCR). Não deve ser usado como reprodutor um gato persistentemente infetado
com FeLV (teste positivo), nem infetado com FIV (teste positivo). Além disso, os gatinhos nascidos
de progenitoras negativas para FIV e FeLV não devem ser alojados em instalações habitadas nem
31
visitadas por gatos FeLV ou FIV positivos. O motivo reside no facto de os gatinhos serem
extremamente suscetíveis à infeção por ambos os vírus. Quando os gatinhos jovens são infetados
com FeLV, têm uma elevada probabilidade de se tornarem persistentemente virémicos (gatos
portadores) para toda a vida, servindo assim como reservatório para novas infeções virais, bem
como de morrerem jovens. Além disso, os machos infetados com FeLV e/ou FIV não devem ser
usados como reprodutores, por poderem infetar as gatas e, na presença de machos infetados em
casa, eles servirem como uma fonte importante de infeção para os gatinhos recém-nascidos.
Apesar de haver vacinas contra Felv disponíveis na maioria dos países, e uma vacina contra FIV
disponível em alguns países, a eliminação ou isolamento dos gatos portadores positivos tem maior
impacto na prevenção destas doenças na população que as vacinas por si. Estas vacinas não são
consideradas essenciais (ou seja, vacinas que todos os gatinhos devam receber); no entanto, a
vacinação, em especial contra FeLV é altamente recomendada para gatinhos, exceto em regiões
onde a infeção por FeLV é reconhecidamente rara ou pouco frequente. A vacinação deve ter início
às 8-9 semanas, seguida de uma segunda dose (necessária para todas as vacinas contra FeLV) 2 a 4
semanas depois. Se não for administrada uma segunda dose de vacina no espaço de 4 semanas
após a primeira aplicação, devem ser administradas novamente duas doses de vacinas, garantindo
que a segunda é aplicada 2-4 semanas após a primeira. A vacina contra FeLV deve ser repetida,
novamente, com um ano de idade e depois a intervalos não inferiores a 2-3 anos, nos gatos
considerados em risco de exposição à infeção. A vacina contra FIV é administrada em três
aplicações (com intervalos de 2-3 semanas), a partir das 8 semanas de idade, com uma
revacinação aos 12 meses de idade e revacinações anuais para os gatos considerados em risco de
exposição.
Com a testagem do vírus e o protocolo de vacinação essencial descrito acima, é expectável que o
seu gato permaneça livre de doenças preveníeis pela vacinação durante toda a vida. No entanto, é
importante compreender que a doença do trato respiratório superior felino é um processo muito
complexo, com muitos fatores a contribuir para a ocorrência de doença clínica. Neste sentido, a
doença do trato respiratório superior felino não é passível de prevenção através da vacinação e
o melhor que pode ser esperado mediante o uso das vacinas disponíveis atualmente (contra
calicivírus felino, herpesvírus felino de tipo 1, e outras como Chlamydia e Bordetella) é uma
diminuição na gravidade dos sinais de doença. No entanto, um programa de vacinação que inclua
vacinas essenciais, controlo e eliminação de gatos portadores de FeLV e FIV, permitira obter um
gato muito mais saudável, bem como uma população felina muito mais saudável.
As reações adversas associadas com o uso de vacinas essenciais felinas são, por regra, raras. Na
maior revisão de efeitos adversos verificados nos primeiros 30 dias após a vacinação de gatos, foi
registado um valor de 51,6 eventos em 10.000 gatos vacinados. As duas reações adversas mais
graves que foram reportadas no gato incluem anafilaxia a qual, se não for tratada de imediato
com adrenalina, pode ser letal, e os sarcomas felinos no local de injeção, que são geralmente
fatais, sejam ou não tratados. Um gato com história de anafilaxia não deve ser revacinado com a
vacina aplicada anteriormente (caso seja conhecida). Os gatos afetados, com história de reação
adversa, devem ser testados para a presença de anticorpos contra parvovírus felino. Caso haja
anticorpos presentes, independentemente do título, provavelmente será melhor não revacinar
esse gato, com nenhuma vacina. Considerando a elevada taxa de mortalidade associada à
32
panleucopenia felina, é importantíssimo que o gato esteja imunizado (ou seja, com título de
anticorpos positivo) contra parvovírus felino.
Há muitos tipos de vacinas felinas disponíveis para a prevenção das doenças essenciais. Incluem
vacinas infeciosas (de vírus vivo modificado/ atenuadas) e não infetantes (mortas, inativadas).
Algumas vacinas infeciosas podem ser administradas pela via intranasal, enquanto outras
destinam-se a administração exclusivamente pela via sistémica (subcutânea). É extremamente
importante que a vacina seja aplicada em conformidade com as recomendações do fabricante.
Caso uma vacina de vírus vivo modificado destinada a administração sistémica for aplicada
localmente (ex. via intranasal ou intra-conjuntival), poderá causar doença. Por outro lado, uma
vacina morta tem de ser administrada por via sistémica e necessita sempre de ser administrada
em duas doses; caso seja administrada localmente, não proporcionará proteção. Tanto as vacinas
infeciosas (de vírus vivo modificado) como as não infeciosas (vírus morto) podem ser eficazes para
prevenir doença e ambos os tipos de vacina são usados, frequentemente, nos programas vacinais.
Por regra, as vacinas essenciais infeciosas são as mais eficazes.
O médico veterinário oferecerá o programa de prevenção mais seguro e mais eficaz para os seus
gatos, que incluirá a vacinação com vacinas infetantes e não infetantes, bem como testes de
diagnóstico para infeções para vírus como FeLV e FIV, com o objetivo de ajudar a eliminar estas
doenças.
REPORTAR REAÇÕES ADVERSAS Como foi apresentado anteriormente, um dos motores mais importantes para a modificação da
vacinologia animal ao longo da última década tem sido o desejo de melhorar o já muito elevado
nível de segurança da vacinação. Nunca poderá haver garantia, nem em medicina humana nem
veterinária, que cada administração em particular de uma vacina será perfeitamente segura e
isenta de consequências adversas. Reconhece-se que, em raras ocasiões, a vacinação de um cão
ou um gato pode estar na origem de uma reação clínica inesperada. Este tipo de reação é, na
maioria das situações, ligeira e inconsequente, e uma simples análise de risco-benefício sugerirá
sempre que o benefício obtido com o desenvolvimento de uma imunidade sólida contra doenças
potencialmente fatais ultrapassa, largamente, o pequeno risco de ocorrer um evento adverso
associado com a vacinação.
Não existem dados científicos de elevada qualidade relativamente à prevalência de reações
vacinais no Homem, nem nos animais. O principal motivo reside no facto de nem todos estes
eventos serem reportados e, consecutivamente, a prevalência real só pode, quanto muito, ser
estimada. A melhor informação recente resultou da análise dos registos médicos informatizados
do Banfield Hospital Group Norte Americano, que proporcionou registos médicos padronizados de
centenas de clínicas veterinárias do continente. Os dados obtidos conduziram à publicação de dois
artigos. No primeiro, foram revistas as reações que ocorreram nos primeiros 3 dias após a
vacinação, em 1.2 milhões de cães, aos quais foram aplicadas 3,4 milhões de doses de vacina
(alguns cães receberam doses múltiplas no decurso do programa de vacinação de cachorro). A
prevalência de qualquer tipo de reação documentada foi de 38 cães por cada 10.000 cães
vacinados – mas é necessário verificar eu a maioria destas reações foram de consequência clínica
ligeira a inexistente. Um estudo paralelo examinou as reações que ocorreram no intervalo de 30
dias após a vacinação de 496.000 gatos, com 1.2 milhões de doses de vacina. Neste estudo, a
33
prevalência de reações foi de 51 por cada 10.000 gatos vacinados – mas mais de metade destas
reações foram apenas letargia ligeira e febre após a vacinação – um efeito secundário expectável,
relacionado com a estimulação do sistema imunitário. Assim, tomando como base estes dois
trabalhos, as reações adversas são, maioritariamente ligeiras e relativamente raras, situando-se
geralmente na ordem dos 38-51 eventos por cada 10.000 vacinações. Este estudo poderá ter
subestimado o número de reações adversas imediatas graves, porque estes animais teriam sido
redirecionados para uma clínica de emergência, que poderia não ter reportado o caso para as
Clínicas Banfield.
Existe um vasto leque de eventos adversos que têm sido relacionados com a vacinação, como se
encontra resumido na Tabela 1. Muitos eventos adversos correspondem a reações ligeiras e
transitórias (1-2 dias após a vacinação), tais como letargia, febre baixa, dor, rigidez muscular,
recusa do alimento e espirro/ tosse após a vacinação intranasal. As reações moderadas a graves
incluem urticária, edema da face e anafilaxia (na qual o animal pode morrer, se não for tratado
com adrenalina), sarcoma felino no local de injeção e doença autoimune (auto-alergia).
Tabela 1 - Reações Adversas Associadas com a Vacinação em Animais
Reações Graves (raras a muito raras)
Reações Moderadas (pouco frequentes a raras)
Reações Ligeiras (pouco frequentes)
Sarcoma no local da injeção Imunossupressão Letargia
Anafilaxia Alterações comportamentais Queda de pelagem
Poliartrite, osteodistrofia hipertrófica (HOD)
Vitiligo Alteração da cor da pelagem no local da injeção
Anemia hemolítica imunomediada (AHIM)
Perda de peso Febre
Trombocitopenia imunomediada
Diminuição da produção de leite
Dor
Glomerulonefrite Claudicação Rigidez muscular
Doença ou exacerbação da doença contra a qual a vacina foi concebida
Granuloma/ abcesso no local da injeção
Recusa do alimento (transitória)
Miocardite Urticária Conjuntivite
Encefalite ou polineurite pós-vacinal
Edema da face Espirro
Convulsões Atopia Tosse
Aborto, malformações congénitas, morte embrionária/fetal, falha na conceção
Doença respiratória Ulceração oral
Uveíte alérgica (olho azul) Diarreia
Alterações dermatológicas Vómito Reações frequentes: >1 mas < 10 por cada 100 animais; reações pouco frequentes: >1 mas < 10 por cada 1.000 animais;
reações raras: >1 mas <10 por cada 10.000 animais; reações muito raras: <1 por cada 10.000 animais
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São, geralmente, apenas as reações adversas que ocorrem nas primeiras horas, até um dia após a
vacinação que são consideradas associadas à vacina pela maioria dos médicos veterinários e
tutores de animais. Mesmo que a reação adversa ocorra pouco tempo após a vacinação, muitos
não reconhecem que a vacina possa ter estado na origem da reação. Há determinadas reações
vacinais que não se observam dias, semanas, ou até meses e anos após a vacinação ou
revacinação. Os processos autoimunes e os sarcomas no local de injeção, que se encontram entre
as reações vacinais raras, podem demorar anos a desenvolver, após terem sido ativados pela
vacinação.
Considerando que a maioria das reações adversas são controladas geneticamente, determinadas
raças de cães (especialmente algumas raças de porte pequeno), bem como algumas famílias de
cães e gatos, têm maior probabilidade de desenvolver reações adversas que os animais da
população geral. Por este motivo, é extremamente importante que os criadores de cães e gatos
registem quaisquer eventos adversos que possam ter ocorrido como resultado da vacinação dos
seus cães e gatos. Se um determinado cruzamento for reconhecido por produzir crias com uma
elevada percentagem de reações adversas a determinadas vacinas (ex. edema da face, anafilaxia,
convulsões, atopia, anemia hemolítica, encefalite, artrite), seria desejável esterilizar um ou ambos
os progenitores, ou garantir que esses animais não são cruzados novamente um com o outro.
Algumas raças de cães de porte pequeno apresentam uma maior probabilidade de desenvolver
reações de hipersensibilidade imediata (uma reação imunológica adversa) após a vacinação, que
a maioria dos cães de grande porte. No entanto, existem indivíduos de todas as raças que podem
desenvolver este tipo de reações pós-vacinais. Tem sido sugerido que as vacinas contendo
bactérias mortas (bacterinas), tais como Leptospira, Bordetella ou Borrelia, ou vacinas de vírus
morto adjuvadas, como a antirrábica, possam ser mais prováveis de desencadear uma resposta de
hipersensibilidade imediata que as vacinas de vírus vivo modificado; no entanto, todas as vacinas
podem ter, e têm, a capacidade de desencadear uma reação imunológica em animais de risco
elevado. Os criadores devem monitorizar, cuidadosamente, o desenvolvimento deste tipo de
reações nos cachorros que vendem, e ponderar não voltar a cruzar os mesmos progenitores no
futuro. Alguns criadores de cães de porte pequeno tentam reduzir a probabilidade de ocorrerem
reações adversas solicitando que o médico veterinário administre metade da dose de vacina aos
seus animais. O Grupo para as Diretrizes de Vacinação desaconselha, vivamente, esta prática. As
vacinas são formuladas com uma dose imunizante específica e, salvo se for administrado todo o
conteúdo de vacina, o cão pode ser incapaz de estabelecer uma resposta imune protetora.
Infelizmente, em tempos as vacinas e atos vacinais foram erradamente acusadas de causar, ou
despoletar, diversas doenças e processos, pelos quais não são efetivamente responsáveis. Na
verdade, sabemos que outros fatores (ex. fármacos, contaminantes ambientais, toxinas, químicos,
infeção ou, meramente, fatores hereditários) constituem a causa real do problema. Em muitas
reações ou distúrbios adversos, é difícil, se não mesmo impossível, determinar se foi a vacina ou
outro fator que originou o problema, porque existem frequentemente múltiplas causas
envolvidas. Como descrito anteriormente, o criador ou tutor de um animal de companhia NUNCA
deve, sob nenhuma circunstância, optar por não vacinar o seu animal pelo menos uma vez, numa
idade igual ou superior a 16 semanas, com vacinas essenciais, por estar preocupado com a
possibilidade de uma reação vacinal.
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A adoção das diretrizes de vacinação atuais, descritas anteriormente, minimizará o risco de
ocorrerem reações adversas no seu animal de companhia, após a vacinação. As decisões tomadas
em consulta com o médico veterinário, relacionadas com vacinas essenciais versus não essenciais,
a frequência da administração e a fuga ao uso de produtos adjuvados (sempre que possível), são
passos a tomar no sentido da redução do risco. Deve enfatizar-se que não deve ser opção não
vacinar – os riscos de contrair doenças infeciosas provavelmente fatais permanece potencialmente
elevado, mesmo nos países desenvolvidos.
O seu médico veterinário debaterá a análise de risco-benefício consigo durante uma consulta, que
versará sobre o programa de vacinação do seu animal de companhia ou reprodutor e respetivos
descendentes. Deve ser informado que qualquer vacinação pode provocar um período transitório
de letargia ligeira, inapetência ou febre. As reações adversas relacionadas com a vacinação
ocorrem, frequentemente, nas primeiras horas após a administração da vacina, mas algumas
podem demorar 2 – 4 semanas a desencadear-se, e o sarcoma felino no local da injeção pode
demorar meses a anos a tornar-se clinicamente aparente. Outro tipo de evento adverso ocorre
quando a vacina não consegue proteger o animal de uma infeção. Por exemplo, se um cachorro
completamente vacinado contrair infeção por parvovírus canino, deve considerar-se uma “falha
vacinal”, que deve ser investigada. Nesta situação, o animal pode não conseguir responder à
vacinação, ou a última dose de vacina poderá ter sido administrada numa idade cujos anticorpos
maternais impediram o estabelecimento de imunidade ativa ou, alternativamente, a vacina pode
ter sofrido problemas durante a manipulação.
Caso considere que a vacinação induziu uma reação adversa, deve comunicar ao médico
veterinário em primeiro lugar – especialmente se for necessário diagnóstico ou terapêutica
adicionais. Caso suspeite da ocorrência de uma reação adversa, é importante que o evento seja
registado no historial médico do animal. A reação também deve ser reportada ao fabricante da
vacina, pelo que é extremamente importante que os detalhes específicos das vacinas
administradas (incluindo o número do lote) sejam documentados. Este tipo de registo já é um
requisito em alguns países, e essa informação deve ser colocada no boletim de vacinação do
animal.
Alguns países também têm vias próprias para reportar reações adversas a um organismo
regulador oficial, que reúne, analisa e publica periodicamente esta informação. Sempre que esse
sistema esteja implementado, também é necessário que o fabricante reporte os eventos adversos
que lhe tenham sido relatados diretamente. Estes programas, no entanto, não estão amplamente
disponíveis, e não existem em muitos países. O seu médico veterinário deve, geralmente, reportar
ao fabricante ou autoridade legal competente em seu nome, embora haja situações nas quais o
tutor dos animais de companhia necessite de fazer o registo. Os pormenores importantes a notar
quando se efetua um registo desta natureza incluem:
• Idade, raça e género do animal
• História prévia de vacinação
• Vacinas administradas neste evento (incluindo componentes, fabricante e número do lote)
• Tratamentos adicionais, como sejam fármacos, suplementos, incluindo nutricêuticos e
medicamentos holísticos
• Via de administração e local de injeção no corpo (se for relevante)
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• Natureza da reação
• Intervalo de tempo, após a vacinação, que demorou o desenvolvimento da reação
• Se foi necessário diagnóstico ou tratamento adicional, ou a reação resolveu
espontaneamente.
GLOSSÁRIO Abcesso Tumefação preenchida com pus, observada sob a pele
Adjuvante Substância que é adicionada aos fragmentos microbianos de uma vacina para aumentar a resposta imune de forma não específica
Agente patogénico Agente causador de doença (ex. prião, vírus, bactéria, parasita)
Alelo Sequência de nucleótidos alternativa no mesmo locus do genoma de ADN
Anafilaxia Reação alérgica grave, com risco de vida
Análise de risco-benefício Comparação entre o risco de uma situação, relativamente aos respetivos benefícios
Anemia Diminuição no número normal de glóbulos vermelhos ou na concentração de hemoglobina, substância do sangue responsável pelo transporte de oxigénio
Anemia hemolítica imunomediada Anemia provocada por um ataque inadequado do sistema imunitário, com destruição dos glóbulos vermelhos (constitui um exemplo de doença autoimune)
Animal que não responde (à vacinação)
Animal que não consegue montar uma resposta imune protetora (produção de anticorpos) após a vacinação. É, geralmente, um problema relacionado com a raça em cães, com provável determinação genética
Anorexia Diminuição do apetite, que pode conduzir a perda de peso
Antibiótico de largo espectro Tem atividade contra um vasto leque de bactérias causadoras de doença
Anticorpo Proteínas (imunoglobulinas) existentes no sangue, que são usadas pelo sistema imunitário para identificar e neutralizar objetos estranhos, como bactérias e vírus
Anticorpos de origem maternal Anticorpos, absorvidos pelos cachorros e gatinhos, através do trato intestinal, a partir do colostro e leite da progenitora nos primeiros dias após o nascimento
Anticorpo induzido pela vacinação Anticorpos encontrados após a vacinação
Antigénio Substância que é reconhecida pelo sistema imunitário, induzindo a síntese de anticorpos e/ou de células T
Antissoro Soro sanguíneo contendo anticorpos; quando é injetado, o antissoro proporciona proteção (imunidade passiva) ao recetor
Apresentação (priming) Primeira fase de um processo, que ocorre quando um antigénio é apresentado aos linfócitos, conduzindo à sua diferenciação em células efetoras e células de memória. A primeira dose de uma vacina não infeciosa faz, geralmente, a apresentação à resposta imunitária, sendo necessária uma segunda dose para promover imunidade. Pelo contrário, a primeira dose de uma vacina infeciosa promove a apresentação, imuniza e até reforça a resposta imune, porque é produzido novo antigénio como resultado da infeção. É por este motivo que uma dose de uma vacina infeciosa consegue imunizar, enquanto são necessárias duas doses de uma vacina não
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infeciosa, administradas com intervalo de 2 a 4 semanas, para imunizar, sendo necessárias doses posteriores para reforço
Artrite Inflamação das articulações
Ataxia cerebelar Movimentos erráticos num gatinho, devido a lesão do cerebelo (porção “pequena” do cérebro, que controla o movimento), associada a infeção por parvovírus nas progenitoras durante a gestação
Baço Órgão encontrado nos vertebrados, com papéis importantes em termos de armazenamento e produção de glóbulos vermelhos, bem como a nível do sistema imunitário
Célula apresentadora de antigénio Célula que recebe um antigénio complexo e o transforma numa forma capaz de estimular uma resposta imune
Célula Natural killer (NK) Tipo de linfócito citotóxico e importante componente do sistema imune inato; têm um papel importante na rejeição de tumores e de células infetadas por vírus
Colostro Leite especial, produzido pelas glândulas mamárias desde uma fase precoce da gestação, até um dia após o parto. O colostro é rico em anticorpos e proporciona imunidade passiva aos animais recém-nascidos até que sejam capazes de estabelecer as suas próprias respostas imunes.
Complexo de doença do trato respiratório superior canino
Conhecido, no cão, pela designação corrente de “tosse de canil”. Doença do trato respiratório superior dos cães, conduzindo a tosse crónica – provocada por uma combinação de fatores, incluindo infeções mistas com organismos, tais como vírus parainfluenza canino, adenovírus canino de tipo 2, outros vírus, Bordetella e outras bactérias, Mycoplasma, fatores ambientais (ex. poeiras, humidade), e stress.
Complexo de doença do trato respiratório superior felino
Doença do trato respiratório superior provocada por uma combinação de fatores subjacentes (ex. fatores ambientais [poeiras, humidade], stress) e vários agentes infeciosos, incluindo calicivírus felino, herpesvírus felino de tipo 1, bactérias e Mycoplasma
Complexos imunes circulantes Agregados antigénio-anticorpo presentes na corrente sanguínea, que se podem ligar a pequenos vasos sanguíneos e causar doença
Conjuntivite Inflamação das membranas mucosas do olho
Contagioso Infecioso, comunicável, transmissível, disseminável
Depleção linfoide Exaustão, ou diminuição do número de células do sistema linfoide
Depressão Diminuição da função de um órgão, em termos mais generalizados: perda de energia
Desmielinização Doença do sistema nervoso central na qual há lesão ou perda das “bainhas de mielina” isolantes, que envolvem os nervos
Doença autoimune (auto-alérgica) Doença provocada por uma resposta imune a antigénios próprios (ex. anemia hemolítica autoimune, lupus eritematoso sistémico)
Doença das almofadas plantares espessadas
Apresentação específica de esgana, caracterizada pela presença de crostas espessas nas almofadas plantares (hiperqueratose)
Duração da imunidade Tempo de validade da proteção imunológica ex. após a infeção natural ou após a vacinação
Doença imunomediada Doença provocada por uma resposta imune anormal. Inclui doenças autoimunes e de hipersensibilidade
Edema Acumulação anormal de líquido sob a pele ou numa ou mais cavidades do organismo
Encefalite Inflamação do cérebro
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Encefalomielite Inflamação do cérebro e da medula espinhal
Evento adverso (após a vacinação) Qualquer alteração no estado de saúde ou “efeito secundário” que ocorra num indivíduo após a administração de uma vacina
Evolução (vírus) Processo que combina mutação e seleção de vírus, originando agentes de doença com propriedades novas (ou alteradas). O vírus Influenza constitui um exemplo excelente
Excreção (vírus) Partículas virais libertadas para o ambiente por um organismo infetado
Fomite Qualquer objeto inanimado ou substância capaz de transportar organismos infeciosos (tais como germes ou parasitas) e, deste modo, transferi-los de um indivíduo para outro
Gene Unidade da hereditariedade num organismo vivo, sequência de ADN que codifica para uma proteína
Glomerulonefrite Inflamação de uma porção do rim
Gotículas de aerossol Suspensão de partículas ou gotículas no ar
Granuloma Conjunto de células inflamatórias. Podem formar-se pequenos granulomas no local da vacinação, em particular nas situações em que se administram vacinas adjuvadas
Hiperqueratose Espessamento da camada superficial da pele; frequentemente associada a uma anomalia qualitativa na queratina
Hipersensibilidade imediata Reação alérgica que ocorre minutos a horas após a exposição ao fator que a desencadeou.
Icterícia Coloração amarelada da pele e membranas mucosas. Indica, geralmente, doença hepática ou um tipo específico de anemia
Imunidade adaptativa Reação do organismo, que modela a resposta imune a um agente de doença específico (ex. vírus, bactérias)
Imunidade celular Efetuada por células (T) especializadas – o outro tipo de imunidade é proporcionado por anticorpos (imunidade humoral)
Imunidade de grupo (populacional) Ocorre quando a vacinação de uma fração da população (ou de um grupo) proporciona proteção aos indivíduos desprotegidos. É difícil que uma infeção se estabeleça quando está vacinada mais de 75% da população.
Imunidade estéril Resposta imune potente, que elimina completamente uma infeção, ou torna os animais capazes de resistir à infeção. São poucas as vacinas capazes de induzir uma imunidade estéril, mas esta constitui a forma de proteção vacinal extrema
Imunidade humoral Imunidade proporcionada por anticorpos
Imunidade inata Proteção pela ação de células e mecanismos que defendem imediatamente o hospedeiro da infeção de forma inespecífica. As células do sistema imune inato reconhecem e respondem aos agentes patogénicos de forma genérica e não proporcionam imunidade de longa duração
Imunização Indução de uma resposta protetora após infeção natural ou após a administração de uma vacina
Imunossupressão/imunodepressão Diminuição ou ausência de ativação ou eficácia da resposta imune. Pode ser provocada por um conjunto de fatores diferentes, incluindo a genética, infeções, fármacos (imunossupressão médica) ou doença crónica, como o cancro
Inapetência Falta de apetite
Infeção entérica Infeção do intestino. Pode provocar vómito e diarreia
Infeção latente/ vírus latente Infeção subclínica, sem sinais observáveis de doença. A latência viral constitui uma forma de dormência, durante a qual o vírus não
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sofre replicação. Observada, principalmente, nas infeções por herpesvírus e por retrovírus.
Infeção oronasal Infeção da boca e nariz
Infeção secundária Os termos infeção primária e infeção secundária podem referir-se ou a infeções que se sucedem (primeiro viral, seguida de uma bacteriana) ou a etapas diferentes de uma mesma infeção
Infeção subclínica Infeção sem manifestação de sinais clínicos
Infeciosidade Capacidade de ser infecioso
Intervalo de revacinação Período de tempo entre revacinações
Intramuscular Administração da vacina por injeção no músculo
Intranasal Administração de uma vacina no nariz, através da narina
Laringotraqueíte infeciosa canina Sinónimo de “tosse de canil”. Ver também Complexo de Doença do Trato Respiratório Superior Canino
Leucócitos Designação coletiva dos glóbulos brancos do sistema imunitário, responsáveis pela defesa do organismo contra agentes infeciosos, células neoplásicas e qualquer agente estranho que invada o corpo
Linfócito Tipo especializado de glóbulo branco do sistema imunitário, que defende o organismo contra agentes infeciosos, células neoplásicas e qualquer agente estranho que entre no organismo
Linfócito B Glóbulo branco responsável pela produção de anticorpos
Linfócito T Grupo de glóbulos brancos que têm um papel central na imunidade celular; a abreviatura T indica timo, uma vez que este constitui o principal órgão responsável pela produção das formas maduras destas células
Linfonodo Órgãos do sistema imunitário, distribuídos por todo o corpo, e unidos entre si por meio de vasos linfáticos; encontrados em todo o corpo, atuam como filtros, ou armadilhas para partículas estranhas. São importantes para o funcionamento adequado do sistema imunitário e na criação de uma resposta imune à vacinação
Linfopenia Carência de linfócitos no sangue
Memória imunológica Ao longo da vida, glóbulos brancos especializados, “de memória”, ir-se-ão “lembrar” de cada agente patogénico específico que encontraram, e são capazes de montar uma resposta forte e rápida, caso voltem a encontrar esse agente. A imunidade deste tipo é ativa e adaptativa, porque o sistema imunitário do organismo fica preparado para desafios no futuro.
Miocardite Inflamação da parede do coração
Mioclonias de esgana Movimento de tremor rápido, involuntário, de um músculo ou grupo de músculos, que ocorre na fase tardia de esgana
Morbilidade Doença. Taxa de doença numa população
Mortalidade Morte após a doença. Taxa de morte numa população após ocorrência da doença
Mutação (vírus) Alterações na sequência de nucleótidos (informação genética) de um genoma viral, causadas por, ex., radiação ou químicos, bem como na sequência de erros que ocorrem durante a replicação. A mutação pode, ou não, conduzir a alterações antigénicas no organismo
Neutropenia Carência de granulócitos neutrófilos (tipo especializado de glóbulos brancos) no sangue
Olho azul Opacidade da córnea (porção transparente da parte da frente do olho, que recobre a íris, pupila e câmara anterior do globo ocular), provocada por adenovírus no cão
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Opacidade da córnea Ver “olho azul”
Organismo atenuado Organismo que ainda está vivo, mas perdeu a capacidade de causar doença ou lesão tecidular. Os organismos podem ser atenuados para ser incluídos em vacinas infetantes
Organismo inativado Organismo morto, encontrado em vacinas não infeciosas
Panleucopenia Literalmente: carência em todos os tipos de glóbulos brancos; na doença felina, é causada pela infeção por um parvovírus
Período de incubação Tempo que medeia entre a exposição a um organismo patogénico e o aparecimento dos primeiros sinais de doença
Pneumonia Inflamação dos pulmões
Poliartrite Inflamação de várias articulações
Polineurite Infeção de vários nervos
Portador (de um vírus) Animal que contém o vírus sem manifestar sinais de doença (portador inaparente), e que pode transmitir o vírus a outros animais
Potência de uma vacina Medida da atividade de uma vacina em determinado hospedeiro
Pressão de infeção Risco continuado de infeção, num ambiente com elevada carga de agentes infeciosos (ex. num abrigo de animais abandonados)
Programa de imunização básico Série de injeções vacinais administradas aos cachorros/ gatinhos mais a administração de reforço administrada no segundo ano de vida
Proteção de longa duração Proteção imune proporcionada por algumas infeções virais e vacinações
Quarentena Isolamento compulsivo, com o objetivo de conter a disseminação de uma doença infeciosa
Queratite Inflamação da córnea, porção transparente da parte da frente do olho, que reveste a íris, pupila e câmara anterior do globo ocular
Reação em cadeia da polimerase (PCR)
Método laboratorial para detetar a presença de um agente microbiano num animal, através da demonstração da presença de material genético (ADN ou ARN) desse agente na amostra (ex. sangue). Um teste de PCR positivo não indica que o agente esteja vivo
Reativação (vírus) Término da latência de um vírus, passando a ocorrer replicação e excreção (como ocorre na infeção por herpesvírus felino)
Reforço vacinal Processo que permite relembrar o sistema imunitário, mediante a exposição a um antigénio que ele já conhece; pode conduzir a aumento na concentração de anticorpos e/ou na atividade das células T
Replicação (vírus) Multiplicação no interior de uma célula
Resistência (vírus) Vírus que deixou de responder ao tratamento antiviral, ou vírus que resiste à descontaminação ambiental e consegue permanecer presente e capaz de causar infeção a hospedeiros suscetíveis
Rinite Inflamação nas cavidades nasais
Sarcoma felino no local de injeção Tumor maligno que ocorre em gatos no local onde a administração de injetáveis pode ter provocado uma inflamação crónica – frequentemente meses ou anos antes do aparecimento do tumor
Semi-vida (de um anticorpo) Tempo que demora para que metade dos anticorpos maternais, ingeridos com o colostro, e presentes no sangue do recém-nascido, a degradar e desaparecer. Uma semi-vida de 10 dias indica que, se um animal tiver 100 unidades de anticorpos no sangue, 10 dias depois sobrarão apenas 50 unidades.
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Serotipo (vírus) Um serotipo corresponde a um grupo de vírus, classificados conjuntamente com base nos respetivos antigénios. Também distingue diferenças serológicas entre vírus, que podem ser importantes na proteção vacinal (ex. o serotipo A pode, ou não, conferir proteção contra o serotipo B)
Síndrome vestibular Doença que afeta o sistema vestibular, que é responsável pelo equilíbrio, orientação espacial e coordenação dos movimentos
Sistema nervoso central Cérebro e medula espinhal
Subcutâneo Administração de uma vacina sob a pele, no tecido (subcutâneo) subjacente
Taxa de mortalidade Medida do número de mortes numa população após a doença
Tecido linfoide Tecido associado com o sistema linfoide e envolvido nas funções imunes de defesa do organismo contra agentes infeciosos e disseminação de tumores. Consiste em tecido conjuntivo e vários tipos de glóbulos brancos a ele associados, muitos deles correspondentes a linfócitos
Teste de anticorpos (ou teste serológico)
Método analítico que permite demonstrar que um animal esteve exposto a um agente infecioso ou vacina em particular, através da demonstração da presença de anticorpos contra esse agente no sangue do animal. Um teste de anticorpos positivo indica que o sistema imunitário do animal esteve exposto a um antigénio particular e montou uma resposta contra ele
Tonsila Tecido linfoide presente na boca
Tosse de canil Laringotraqueíte infeciosa canina; também designada de complexo de doença do trato respiratório superior canino
Trombocitopenia Carência em plaquetas (pequenas células, parcialmente responsáveis pela coagulação) no sangue
Trombocitopenia imunomediada Doença hemorrágica, devida à falta de plaquetas no sangue. As plaquetas são inadequadamente destruídas pelo sistema imunitário
Úlcera oral Ferida aberta no interior da boca
Vacinação Ato de administrar uma vacina. A vacinação não significa, necessariamente, que o animal tenha ficado imunizado. Por exemplo, em animais jovens, têm de ser aplicadas múltiplas vacinas para garantir que uma dose não seja bloqueada pelos anticorpos de origem maternal
Vacina de ADN Vacina que não contém um agente infecioso, mas apenas um gene que codifica para uma parte desse agente, capaz de desencadear uma resposta imune forte. Após a administração, a vacina de ADN entra nas células e há produção de uma proteína, que induz a resposta imune desejável
Vacina essencial Contém antigénios de agentes infeciosos contra os quais todos os cães e gatos devem estar protegidos, por serem agentes causais de doença letal
Vacina infeciosa Vacina que contém um agente infecioso vivo modificado, ou atenuado. Também inclui as vacinas virais vetoriais recombinantes (ex. contra a esgana). Constituem o tipo de vacina mais eficaz. Ver Vacina Viva Modificada
Vacina morta (não infeciosa) Contém agentes infeciosos mortos ou antigénios selecionados (proteínas, polissacáridos), mas não vírus ou bactérias vivos, com capacidade de replicação. Também designada “vacina não infeciosa”
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Vacina não essencial Destinadas a conferir proteção contra agentes infeciosos aos quais nem todos os cães ou gatos têm risco de exposição. O uso destas vacinas deve ser considerado cuidadosamente, só devendo ser administradas a animais com risco de exposição bem definido
Vacina não infeciosa Ver vacina morta
Vacina não recomendada Produtos licenciados sem uma indicação real; produtos destinados a proteger contra doença moderada, auto-limitante ou tratável; ou vacinas com eficácia duvidosa
Vacina viva atenuada Sinónimo: vacina infeciosa ou vacina viva modificada. São desenvolvidas mediante a redução das capacidades causadoras de doença de um agente patogénico, mantendo o vírus viável (ou “vivo”). A atenuação modifica um agente vivo, tornando-o inócuo ou menos virulento. Estas vacinas contrastam com as que são produzidas através da morte do agente de doença (vacinas inativadas)
Vacina viva modificada Sinónimos: vacina viva atenuada ou vacina infeciosa. São desenvolvidas mediante a redução das capacidades causadoras de doença de um agente patogénico, mantendo o vírus viável (ou “vivo”). A atenuação modifica um agente vivo, tornando-o inócuo ou menos virulento. Estas vacinas contrastam com as que são produzidas através da morte do agente de doença (vacinas inativadas)
Variante virulenta Mutação de um agente causador de doença, cuja potência causadora de doença é superior ou inferior à do agente relacionado
Viremia Vírus circulante na corrente sanguínea
Virulência Potência de um organismo causador de doença