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SINAL DOS TEMPOS Assoreamentos um risco para o litoral Hoje nas políticas ambientais devemos investir mais na prevenção e gastar menos na recuperação e utilizar os métodos mais adequados Renato Sampaio O assoreamento dos portos iscató rios a norte está a causar sérios pre juízos no cada vez mais frágil sector das pescas pondo em risco não a segurança dos pescadores mas tam bém a sustentabilidade da nossa orla costeira Este problema tem origem no facto de o governo não ter fornecido qual quer indicação ao IPTM para proce der às dragagens na orla costeira a norte nem lhe ter atribuído dotação orçamental para as operações de desas soreamento o que cria fortes cons trangimentos ao funcionamento do IPTM e às funções que lhe estão atri buídas de preservação das estruturas marítimo portuárias Se é verdade estas operações de desas soreamento se revestem de grande importância para a actividade pisca tória e a segurança dos pescadores não são menos fundamentais para a protecção da orla costeira A preservação da nossa costa e a valo rização do litoral devem constituir uma prioridade política não por ques tões que se prendem com a necessida de imperiosa de defesa do património natural e ambiental mas também pelo impacto que tem nas actividades eco nómicas que se desenvolvem ou das perspectivas que se abrem a novos seg mentos da economia razão suficien te para ser protegida sem hesitações e com determinação A opção Protecção num sentido glo bal para que seja ambientalmente cor recta e economicamente comportável deverá na perspectiva que se defen de incluir a conservação a reabili tação e a valorização contemplan do acções de desassoreamento e recar ga das praias e garantindo a sua manutenção permanente A nossa costa é sem dúvida um dos bens mais preciosos de que Portugal dispõe sobretudo um recurso natu ral do ponto de vista ambiental eco nómico e social mas que comporta hoje um conjunto de problemas e cons trangimentos que urge resolver A erosão é uma evidência hoje pela destruição do cordão dunar e pelo défice de areias nas praias A destruição do cordão dunar pri meira barreira de protecção tem ori gem na exploração desenfreada de areias e nas correntes do Atlântico que se desenvolvem de norte para sul e no sentido da costa criando dinâmi cas de arrastamento e o défice de areias é sobretudo motivado pelo aproveita mento hidroeléctrico dos nossos rios Conjugados estes dois fenómenos associados à alterações climáticas veri fica se nas faixas costeiras portugue sas um recuo generalizado da linha de costa que assume proporções deve ras preocupantes em alguns pontos do nosso litoral A solução deste pro blema não pode passar pela constru ção de esporões num sistema em que uns acabam por ser feitos para prote ger os outros e assim se acaba enre dado num processo que protege o mal em vez de debelar a doença transfor mando a nossa costa num pente A experiência acumulada mostra que esta medida não é a mais adequada para refazer o cordão dunar resolve os problemas a norte dessas estrutu ras mas agrava os a sul É necessário tomar medidas a mon tante que passam essencialmente por garantir areias suficientes para a ali mentação artificial das praias a pro moção da renaturalização do cordão dunar e o desenvolvimento de um cor recto ordenamento do território na fai xa costeira Daí a importância do desas soreamento para estes fins que do pon to de vista económico se revestem de capital importância em que o cus to benefício é francamente positivo Hoje nas políticas ambientais deve mos investir mais na prevenção para gastar menos na recuperação e utili zar os métodos mais adequados Existe ainda outra razão para que as intervenções no meio hídrico sejam mais cuidadas e permanentes e os seus impactos mais bem avaliados para sal vaguarda do meio marinho O litoral é a linha de contacto entre o meio terrestre e marinho constituí do por um espaço muito diversifica do quer quanto à sua constituição mor fológica quer quanto à geológica alta mente densificado e profundamente vulnerável à acção do mar Ignorar estas ocorrências constitui uma situação de risco quer para o ocea no quer para a faixa terrestre Os oceanos concentram recursos enormes para a sustentabilidade do planeta recursos económicos como fonte alimentar recursos ener géticos e ainda porque desempe nham um papel fundamental no ciclo do carbono A expansão descontrolada das edi ficações em zonas como o cordão dunar e arribas contribui para a degradação do litoral pondo em ris co as populações e o património natu ral desses territórios Assim qualquer intervenção na orla costeira deverá ter em conta estas fragilidades As medidas de protec ção não poderão provocar efeitos cola terais e consequentes alterações na linha de costa Ficar indiferente a estas questões e fragilizar estruturas como o IPTM pode ter consequências que nenhum de nós quer sequer imaginar Deputado do PS pelo Porto Escreve às terças feiras i 14 S/Cor 358 80000 Nacional Informação Geral Diária Página (s): Imagem: Dimensão: Temática: Periodicidade: Classe: Âmbito: Tiragem: 07022012 Ambiente

Assoreamentos - Um risco para o litoral

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Hoje, nas políticas ambientais, devemos investir mais na prevenção e gastar menos na recuperação e utilizar os métodos mais adequados

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Page 1: Assoreamentos - Um risco para o litoral

SINAL DOSTEMPOS

Assoreamentosum risco para o litoralHoje nas políticas ambientais devemos investir mais na prevençãoe gastar menos na recuperação e utilizar os métodos mais adequados

Renato Sampaio

Oassoreamento dos portospiscatórios a norte está a causar sérios prejuízos no cada vez mais frágil sectordas pescas pondo em risco não só asegurança dos pescadores mas também a sustentabilidade da nossa orlacosteira

Este problema tem origem no factode o governo não ter fornecido qualquer indicação ao IPTM para proceder às dragagens na orla costeira anorte nem lhe ter atribuído dotaçãoorçamental para as operações de desassoreamento o que cria fortes constrangimentos ao funcionamento doIPTM e às funções que lhe estão atribuídas de preservação das estruturasmarítimo portuáriasSe é verdade estas operações de desassoreamento se revestem de grandeimportância para a actividade piscatória e a segurança dos pescadoresnão são menos fundamentais para aprotecção da orla costeiraA preservação da nossa costa e a valo

rização do litoral devem constituir umaprioridade política não só por questões que se prendem com a necessidade imperiosa de defesa do patrimónionatural e ambiental mas também peloimpacto que tem nas actividades económicas que aí se desenvolvem ou dasperspectivas que se abrem a novos segmentos da economia razão suficiente para ser protegida sem hesitaçõese com determinaçãoA opção Protecção num sentido glo

bal para que seja ambientalmente correcta e economicamente comportáveldeverá na perspectiva que se defende incluir a conservação a reabilitação e a valorização contemplando acções de desassoreamento e recarga das praias e garantindo a suamanutenção permanenteA nossa costa é sem dúvida um dosbens mais preciosos de que Portugaldispõe e é sobretudo um recurso natu

ral do ponto de vista ambiental económico e social mas que comportahoje um conjunto de problemas e constrangimentos que urge resolverA erosão é uma evidência já hoje

pela destruição do cordão dunar e pelodéfice de areias nas praiasA destruição do cordão dunar primeira barreira de protecção tem origem na exploração desenfreada deareias e nas correntes do Atlânticoque se desenvolvem de norte para sule no sentido da costa criando dinâmicas de arrastamento e o défice de areiasé sobretudo motivado pelo aproveitamento hidroeléctrico dos nossos riosConjugados estes dois fenómenos

associados à alterações climáticas verifica se nas faixas costeiras portuguesas um recuo generalizado da linhade costa que assume proporções deveras preocupantes em alguns pontosdo nosso litoral A solução deste problema não pode passar pela construção de esporões num sistema em queuns acabam por ser feitos para proteger os outros e assim se acaba enredado num processo que protege o malem vez de debelar a doença transformando a nossa costa num pente Aexperiência acumulada mostra queesta medida não é a mais adequada

para refazer o cordão dunar resolveos problemas a norte dessas estruturas mas agrava os a sulÉ necessário tomar medidas a mon

tante que passam essencialmente porgarantir areias suficientes para a alimentação artificial das praias a promoção da renaturalização do cordãodunar e o desenvolvimento de um correcto ordenamento do território na faixa costeira Daí a importância do desassoreamento para estes fins que do ponto de vista económico se revestem decapital importância em que o custo benefício é francamente positivoHoje nas políticas ambientais deve

mos investir mais na prevenção paragastar menos na recuperação e utilizar os métodos mais adequadosExiste ainda outra razão para que as

intervenções no meio hídrico sejammais cuidadas e permanentes e os seusimpactos mais bem avaliados para salvaguarda do meio marinhoO litoral é a linha de contacto entre

o meio terrestre e marinho constituído por um espaço muito diversificado quer quanto à sua constituição morfológica quer quanto à geológica altamente densificado e profundamentevulnerável à acção do marIgnorar estas ocorrências constitui

uma situação de risco quer para o oceano quer para a faixa terrestreOs oceanos concentram recursosenormes para a sustentabilidadedo planeta recursos económicoscomo fonte alimentar recursos energéticos e ainda porque desempenham um papel fundamental nociclo do carbonoA expansão descontrolada das edificações em zonas como o cordãodunar e arribas contribui para adegradação do litoral pondo em risco as populações e o património natural desses territórios

Assim qualquer intervenção na orlacosteira deverá ter em conta estasfragilidades As medidas de protecção não poderão provocar efeitos colaterais e consequentes alterações nalinha de costa

Ficar indiferente a estas questões efragilizar estruturas como o IPTM podeter consequências que nenhum de nósquer sequer imaginarDeputado do PSpelo Porto Escreve às

terças feiras

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