Aula 7 - Esquema e Fichamento

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    Objetivos

    Ao final desta unidade, voc dever ser capaz de:

    apreender o conceito, a natureza e as

    caractersticas do esquema e do fichamento;

    reconhecer a importncia da prtica de

    fichamentos na vida do estudante e do

    pesquisador;

    identificar as estratgias para elaborao de

    esquemas e fichamentos;

    produzir esquemas e fichamentos de resumo

    e citao - de textos.

    Apresentar os mecanismos para elaborao

    de esquemas e fichamentos de textos.

    7 aulaESQUEMA E FICHAMENTO:TCNICAS DE ESTUDO

  • Aul

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    173Letras VernculasUESC

    AULA VII

    O homem aprende a ver o mundo

    pelos discursos que assimila e, na

    maior parte das vezes, reproduz esses

    discursos em sua fala.

    Jos Luiz Fiorin

    Fonte: banco de imagens COREL

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

    174 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    1. INTRODUO

    So muitos os textos com os quais voc se depara no

    dia a dia da academia para poder ler e estudar. preciso,

    portanto, que voc, para acentuar os propsitos da leitura, para

    melhor captar, assimilar, discernir, facilitar a evocao futura

    dos contedos (e at mesmo memorizar), aprenda a utilizar

    diversas tcnicas de estudo, como a elaborao de esquemas,

    fichamentos, resumos...

    Portanto, anotar tudo o que lemos o primeiro passo

    para a sistematizao dos nossos conhecimentos e dos muitos

    dados e informaes com que temos contato no dia a dia. Se

    assim no fizermos, teremos dificuldades futuras de recuperar

    informaes importantes com as quais contamos e tambm

    de elaborar nossos textos (sejam orais ou escritos). Afinal,

    quem no l com discernimento, ou quem no sublinha ou

    esquematiza o que l com inteligncia, acabar por compreender

    mal os textos lidos, acabar por fazer resumos falhos, snteses

    mutiladas que, com certeza, mais atrapalharo nos estudos e

    confundiro nas revises do que ajudaro.

    Dessa forma, voc j sabe que tudo comea com a leitura.

    Alis, como afirma Nascimento (2002, p. 29), fazer pesquisa

    pressupe leitura, leitura, leitura. Ou seja, o trabalho cientfico

    depende de leituras, de fontes de informaes. Essas leituras,

    como forma de organizao do conhecimento adquirido,

    devem ser acompanhadas de anotaes. Se no organizarmos

    e sistematizarmos o nosso conhecimento e os nossos dados,

    no teremos sobre o que e do que falar posteriormente.

    Para assegurar o registro das informaes obtidas ao

    longo das diversas pesquisas realizadas, faz-se necessrio

    dominar algumas tcnicas de como registrar, sistematizar e

    organizar o conhecimento. Esses registros sero utilizados em

    funo de objetivos especficos desejados.

    Nesta aula, voc aprender a utilizar duas teis e

    necessrias tcnicas de estudo vida acadmica: a elaborao

    de esquemas e fichamentos. Vamos l!

    2. ESQUEMA: O QUE

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    175Letras VernculasUESC

    Segundo Kche, Boff e Pavani (2006, p. 87), esquema

    a reelaborao do plano de um texto, e pode ser definido com

    um resumo no redigido. Ou seja, o plano, a linha diretriz,

    seguida pelo autor no desenvolvimento do seu escrito. Esse

    plano delimita um tema e estabelece a trajetria bsica de sua

    apresentao, com as ideias subordinadas, selecionando fatos

    e argumentos.

    O esquema pode ser compreendido como uma radiografia

    do texto, uma espcie de esqueleto. Formular um esquema,

    portanto, significa traar o esqueleto da obra; organizar o texto

    com lgica, colocando em destaque a inter-relao das ideias.

    No momento de leitura/estudo de um texto, utilizar a

    tcnica de esquematizar uma forma ativa de se tomar contato

    com o assunto, obrigando o estudioso a retirar do texto as ideias

    principais, os detalhes importantes e as ideias secundrias que

    subsidiam as ideias principais.

    Portanto, elaborar esquemas ajuda voc, estudante,

    a assimilar a matria e apontar as ideias do texto (anlise),

    ordenando-as (sntese). Por essas e outras razes,

    aconselhvel que domine a tcnica de esquematizar.

    2.1 Natureza, funo e regras do esquema

    Como j dito, a funo do esquema, pois, definir o

    tema e hierarquizar as partes de um todo numa linha diretriz,

    para torn-lo possvel a uma viso global. Pelo esquema, pode-

    se atingir o todo numa nica mirada.

    Para a maioria das matrias que estudamos, o mais

    indicado tomar notas em forma de esquemas ou resumos,

    por vrias razes, dentre elas podemos citar:

    a) a tcnica do esquema nos obriga a participar mais ativamente da aprendizagem, proporcionando-nos a

    captao da ideia principal, dos detalhes importantes,

    das definies, das classificaes e dos termos tcnicos.

    Ajuda-nos, por conseguinte, a assimilar a matria;

    b) por meio de um esquema, conseguimos reduzir, em poucas linhas ou em poucas pginas, um captulo e at

    uma obra inteira;

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    176 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    c) pelo esquema, conseguimos mais facilmente o inter-relacionamento dos fatos e das ideias. Tal tcnica nos

    ajuda a estabelecer o plano lgico, pois para esquematizar

    preciso compreender e estabelecer a subordinao das

    ideias, as relaes entre as afirmaes.

    O esquema deve ser elaborado conforme as necessidades

    de cada pessoa, atravs de grficos, smbolos, cdigos e

    palavras. No h receita de bolo para elaborao de esquemas,

    no entanto, a elaborao ou levantamento do esquema deve

    obedecer algumas regras. Por isso, oferecemos aqui a voc

    algumas dicas necessrias para sua elaborao, com base em

    Andrade (2005), Barros e Lehfeld (1986) e Ruiz (1986). A vo

    elas:

    a) captar a estrutura da exposio do autor, quer se trate de

    um livro, de uma seo, de um captulo;

    b) manter-se fiel s ideias do autor;

    c) sublinhar as ideias principais e os detalhes importantes;

    d) colocar os ttulos mais gerais numa margem e os subttulos

    e as subdivises nas colunas subsequentes e assim

    sucessivamente, caminhando da esquerda para a direita;

    e) apanhar o tema do autor, destacar os ttulos, os subttulos

    que guiaram a introduo, o desenvolvimento e as concluses

    do texto;

    f) ser simples, claro e distribudo organicamente, de maneira a

    apresentar lmpida imagem concentrada do todo;

    g) subordinar ideias e fatos, no os reunir apenas;

    h) manter um sistema uniforme de observaes, grficos e

    smbolos para as divises e subordinaes que caracterizam

    a estrutura do texto;

    i) utilizar, no esquema, linhas retas ou curvas, setas, chaves,

    desenhos, colchetes etc.;

    j) separar as divises sucessivas com colchetes, chaves e

    colunas. O sistema de numerao progressiva (1, 1.1, 1.2,

    2, 2.1 etc.) cabe para a identificao dos ttulos e subttulos,

    e as letras minsculas, ou alneas [a), b), c)], para indicar as

    divises sucessivas;

    k) usar alguns smbolos convencionais e convencionar

    abreviaturas para poupar tempo e facilitar a captao rpida

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    177Letras VernculasUESC

    das ideias. Assim, por exemplo:

    para indicar: produz, decorre, por conseguinte, conduz a, resulta etc. Ex.: grupo minoritrio marginalizao;

    para indicar sexo masculino homem; para indicar sexo feminino mulher;

    para indicar sujeito indivduo, homem etc. Vi = varivel independente;

    Vd = varivel dependente;

    l) usar grfico do tipo-organograma para indicar estruturas,

    conjunto de ideias derivadas, relaes etc. Exemplo:

    m) manter um sistema uniforme de observaes, grficos e

    smbolos para as divises e subordinaes que caracterizam

    a estrutura do texto.

    ESQUEMA

    FIDELIDADE LOGICIDADE ADEQUAO

    ATE

    N

    O

    SAIB

    A M

    AIS

    R

    AAC

    a FU V

    MK

    Esquematizar um texto provar que se compreendeu o texto em anlise. Assim, em sntese, se voc perguntar O que deve oferecer um bom esquema?, uma resposta breve seria:

    Um bom esquema deve apresentar:

    y as ideias centrais do texto; y a estrutura ou a sequncia lgica do texto com subordinao das idias

    secundrias s ideias principais, mostrando claramente que se compreendem as relaes entre as partes do texto;

    y as divises e subdivises do texto, tornando clara a hierarquia das prprias partes;

    y uma apresentao grfica cuidada para facilitar a legibilidade.

    importante lem-brar que esquema no o mesmo que resumo!

    Voc deve se expressar, pre-ferencialmente, atravs de frases curtas e no em perodos que jun-tos comporo um pequeno texto.

    Vamos ver como podemos esquematizar as informaes

    destacadas dos textos que se seguem? Veja o primeiro texto:

    So quatro as atividades principais dos especialistas em comunicao: deteco prvia do meio ambiente, correlao das partes da sociedade na reao a esse meio, transmisso da herana social de uma gerao para a seguinte e entretenimento. A deteco prvia consiste na coleta e distribuio de informaes sobre acontecimentos do meio ambiente, tanto fora como

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    178 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    dentro de qualquer sociedade particular. At certo ponto, isso corresponde ao que conhecido como manipulao das notcias. Os atos de correlao, aqui, incluem a interpretao das informaes sobre o meio ambiente e orientao da conduta em reao a esses acontecimentos. Em geral, essa atividade popularmente classificada como editorial, ou propaganda. A transmisso de cultura se faz atravs da comunicao das informaes, dos valores e normas sociais de uma gerao a outra ou de membros de um grupo a outros recm-chegados. Comumente, identificado como atividade educacional. Por fim, o entretenimento compreende os atos comunicativos com inteno de distrao, sem qualquer preocupao com os efeitos instrumentais que eles possam ter (SOARES; CAMPOS).

    Um possvel esquema pode ser:

    As quatro atividades do especialista em comunicao so:

    1. Deteco prvia do meio ambiente: coleta e distribuio da informao, manipulao da notcia.

    2. Correlao das partes da sociedade na reao do meio: interpretao da informao, editorial ou propaganda.

    3. Transmisso da herana social: transmisso da cultura, comunicao das informaes: valores e normas sociais, educao.

    4. Entretenimento: atos comunicativos com inteno de distrao.

    Agora, considere um texto maior com o seu respectivo

    esquema:

    Viciados em F7

    A tecla F7, para quem (ainda) no conhece, o atalho para ativar o corretor ortogrfico do Microsoft Word, o programa de edio de textos mais usado no mundo. Para quem se garante nos quesitos ortografia e gramtica, o corretor automtico um chato que fica sublinhando, em verde ou vermelho (conforme o caso), nomes de pessoas, palavras que no esto no dicionrio e erros que no existem - como segue regras rgidas, muitas vezes ele aponta como erro formas que na verdade so opcionais ou licenas poticas. Mas, para os usurios no to craques em portugus, o corretor a salvao, aquele que impede

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    que se entregue ao chefe um relatrio cheio de erros ortogrficos constrangedores. Basta apertar F7 e abre-se uma janelinha mgica, que vai apontando possveis erros e oferecendo solues. Assim, formou-se uma verdadeira legio de viciados em F7. Indiferentes discusso sobre qual o melhor dicionrio, eles dispensam cuidados ao digitar e no se preocupam com a ortografia. O relaxamento pode chegar ao ponto de a pessoa repetir o mesmo erro diversas vezes, ignorando a possibilidade de aprender a grafia correta. Foi o que percebeu, h trs anos, a av do ento adolescente Leandro de Almeida Camargo. Dona Elza ditava um texto e alertava quando o rapaz cometia um erro. Mas ele reagia: Tudo bem, v, o computador corrige depois. Com esse argumento, o rapaz se permitiu digitar os mesmos erros vrias vezes. Ento, criou juzo e hoje um ex-dependente. Estudante de administrao e estagirio do Banespa de Petrpolis, Leandro conta que tira suas dvidas no dicionrio e matriculou-se num curso de digitao. O mercado de trabalho exige que se escreva corretamente, e eu pretendo acompanhar o mercado, explica.

    Jornal do Brasil Quinta-feira, 27 de setembro de 2001.

    Viciados em F7

    1. Corretor Ortogrfico e Gramatical do Microsoft Word1.1 Basta apertar a tecla F7.1.2 Chato para os que se garantem em ortografia e

    gramtica.1.3 Segue regras bsicas e ridculas;1.4 Salvao dos que no possuem bom conhecimento

    do portugus.1.5 Aponta possveis erros e sugere diversas

    solues. 2. O vcio da tecla F7

    2.1 Legio de viciados em F7.2.2 Dispensa cuidados ao digitar.2.3 O usurio repete o mesmo erro diversas vezes.2.4 No possibilita aprender a ortografia correta.2.5 O computador passa a corrigir os erros para

    voc. 3. Estudante viu a importncia do escrever correto

    3.1 Utiliza o dicionrio para tirar dvidas;3.2 Faz um curso de digitao para no escrever

    errado;

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    180 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    3.3 O mercado de trabalho exige que escreva de forma correta.

    Fonte: Jornal do Brasil - Quinta feira 27 de setembro de 2001.

    Voc notou que o esquema mantm a hierarquia das

    informaes no texto?

    interessante mencionar que a elaborao de esquema

    de cunho pessoal, ou seja, cada um faz o esquema de acordo

    com suas tendncias, hbitos, recursos, experincias pessoais e,

    especialmente, de acordo com o seu objetivo. Da um esquema

    de uma pessoa raramente ser til para outra. Observe como ficou

    interessante um outro esquema desse segundo texto!

    A tecla F7

    1. Definio: tecla que ativa o corretor ortogrfico do Microsoft Word.

    2. Funo: sublinhar palavras que no esto no dicionrio e erros.

    3. Vantagens: prtico, aponta possveis erros e oferece solues.

    4. Desvantagens: viciados em F7 ao digitar no se preocupam com a ortografia. 4.4.1 Exemplo: Leandro de Almeida Camargo, que se

    permitia digitar os mesmos erros vrias vezes, hoje tira suas dvidas no dicionrio.

    Agora que voc j sabe quais so os passos para elaborao de um bom esquema e como pode faz-lo, hora de praticar.

    1. Abaixo, so apresentados alguns textos para que voc possa esquematiz-los. A vo algumas dicas que voc no deve esquecer:

    1. Marque as ideias principais do texto.2. Organize-as em tpicos (item e sub-item).3. Procure reduzir ao mximo o tamanho das frases dos tpicos (tire todas as

    gordurinhas).4. Veja se a partir do seu esquema voc capaz de reproduzir o que considera

    relevante nesse texto.a. Em caso de resposta afirmativa, parabns! Voc conseguiu fazer um

    bom esquema.

    ATIVIDADE

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    b. Em caso de resposta negativa, tente novamente.

    Texto 1:

    Naturalmente, a educao tem de ser tanto formativa quanto diretiva. No podemos simplesmente ministrar informao sem ao mesmo tempo transmitir aos estudantes algumas aspiraes, ideais e objetivos, a fim de que eles saibam o que fazer com a informao que receberem. Lembremo-nos, porm, que tambm muito importante apresentar-lhes no apenas ideais destitudos de alguma informao real sobre a qual agir; falta dessa informao, nolhes ser nem ao menos possvel usufruir desses ideais. A informao sem as diretivas, insistem corretamente os estudantes, seca como p. Mas as diretivas, sem a informao, gravadas na memria merc de frequentes repeties, s produzem orientaes intencionais que os incapacitam para as realidades da vida, deixando-os indefesos contra o choque e o cinismo dos anos subsequentes (HAYAKAWA).

    Texto 2:

    Como se sabe, cada texto abre a perspectiva de uma multiplicidade de interpretaes ou leituras: se, conforme se disse, as intenes do emissor podem ser as mais variadas, no teria sentido a pretenso de se lhe atribuir apenas uma interpretao, nica e verdadeira a inteleco de um texto consiste na apreenso de suas significaes possveis, as quais se representam nele, em grande parte, por meio de marcas lingsticas. Tais marcas funcionam como pistas dadas ao leitor para permitir-lhe uma decodificao adequada: a estrutura da significao, em lngua natural, pode ser definida como o conjunto de relaes que se instituem na atividade da linguagem entre os indivduos que a utilizam, ativiade esta que se inscreve sistematicamente no interior da prpria lngua (KOCH, Ingedore).

    Texto 3:

    O Brasil est saindo da situao hiperinflao e, hoje, com o Plano Real j consegue uma estabilidade econmica. Mas h necessidade de mudanas na Constituio para a instituio de uma reforma fiscal e da previdncia, principalmente, para a melhoria da sade e da educao do povo. No plano social, infelizmente, aumenta o nmero de casais que se separam e a mulher passa a arcar sozinha com os encargos econmicos e sociais de toda a famlia. uma situao mais difcil para a mulher sozinha: o homem sozinho com os filhos mais raro pois suporta a situao por menos tempo. A famlia bem constituda um antdoto contra a marginalidade. (Informe publicitrio)

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    Texto 4:

    Os homens brasileiros confirmam as teorias biolgicas: no primeiro encontro, o que conta mesmo a beleza, segundo eles prprios e especialistas em relaes amorosas. Na agncia Happy End, especializada em encontrar o parceiro ideal, a qualidade essencial da futura cara-metade, para 80% dos homens, a boa aparncia. Eles esto mais preocupados com a embalagem do que com o contedo, diz a proprietria, Mrcia Goldschmidt. Ao contrrio das mulheres, que valorizam o carter e o sucesso, acrescenta. Apenas 10% delas exigem que o parceiro tambm seja belo. No mundo inteiro, a beleza pesa muito mais para os homens do que para as mulheres, afirma Ailton Amlio da Silva, professor de ps-graduao em Relacionamento Amoroso da Faculdade de Psicologia da Universidade de So Paulo. (O Estado de So Paulo, 9-6-1996)

    Texto 5:

    BOBAGENS SOBRE O ACORDO ORTOGRFICO E deixe os Portugais morrerem mngua...

    - Caetano Veloso

    Quando o assunto lngua, praticamente tudo o que aparece na mdia equivocado, distorcido. Pululam atualmente, por exemplo, bobagens a respeito do acordo de unificao ortogrfica que entrar em vigor nos pases de lngua oficial portuguesa. Vamos ver as mais graves. Bobagem n 1: falar de unificao da lngua. O acordo prev apenas uniformizao da ortografia, isto , do modo de escrever em portugus. Quem fala mzmu, mjmu, mijmu, mhmu etc. vai continuar falando como sempre falou, mas s pode escrever mesmo. Nenhuma ortografia de nenhuma lngua do mundo d conta do fenmeno da variao, que da prpria natureza das lnguas humanas. Por isso mesmo os Estados sentiram a necessidade poltica de fixar, por lei, um modo nico de escrever. Mas no existe lei que uniformize os modos de falar, porque isso impossvel, tanto quanto impossvel uniformizar a cor da pele, dos cabelos ou dos olhos das pessoas - falar faz parte da nossa configurao biolgica. S nazistas podem pensar em uniformizar as pessoas em suas caractersticas fsicas. E tambm um quase nazismo querer que todas as pessoas falem de um modo uniforme, considerado o nico certo, s porque a classe alta, minoritria e branca fala assim. Bobagem n 2: falar de reforma ortogrfica. O acordo prev apenas a unificao das duas ortografias atualmente em vigor (a brasileira e a portuguesa), eliminando os poucos aspectos que diferenciam as duas normas. So tantas as discrepncias entre o que se fala e o que se escreve que, para criar uma ortografia minimamente prxima da fala, mesmo incorporando s o que comum a todos os falantes de portugus no mundo, a reforma teria que ser to radical que

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    183Letras VernculasUESC

    desfiguraria a tradio escrita da lngua e perturbaria a transmisso do patrimnio cultural escrito em portugus. Por isso o ingls e o francs se escrevem do mesmo jeito h 500 anos. A escrita no , de jeito nenhum, um retrato fiel da lngua falada, nem tem como ser. Ela uma mera conveno para registrar a lngua, conveno baseada em critrios histricos, polticos, culturais, de classe social, muito mais do que em consideraes propriamente lingsticas. Bobagem n 3, decorrente da n 2: dizer que a reforma tmida ou meia-sola (como disse um professor de portugus que brilha na mdia, s para confirmar seu despreparo para tratar do que quer exija uma anlise um pouco mais bem fundada). Se no existe reforma nenhuma, como que ela pode ser tmida? Bobagem n 4: achar que o acordo no tem importncia. Tem importncia, sim, e muita, porque o que interessa no acordo no a ortografia em si, mas o papel poltico que o Brasil tem a desempenhar na comunidade lusfona. Portugal, infinitamente menos importante que o Brasil no cenrio poltico e econmico mundial, se recusa a ver que quem lidera a lusofonia, hoje, somos ns. O PIB brasileiro o 8 maior do mundo; o de Portugal o 41. S na metrpole de So Paulo tem mais falantes de portugus do que em toda a Europa! Defender o acordo de uniformizao ortogrfica defender essa liderana, exigir que Portugal pare de se arvorar como fonte original e pura de irradiao do portugus e de decises internacionais acerca da lngua. O portugus que conta hoje, no mundo, o nosso. E os portugueses que enfiem sua viola no saco e parem de ter saudades de um imprio que comeou a ruir em 1808, seno antes... (BAGNO, Marcos)

    3 FICHAMENTO: O QUE

    O fichamento uma forma de investigar caracterizado

    pelo ato de fichar (registrar) todo o material necessrio

    compreenso de um texto ou tema. uma parte importante na

    organizao da pesquisa de documentos, permitindo um fcil

    acesso aos dados fundamentais para a elaborao e concluso

    de um trabalho.

    O ato de fichar o material de estudo e pesquisa de

    suma importncia, pois facilita a procura do pesquisador, que

    ter ao seu alcance as informaes coletadas nas bibliotecas

    pblicas ou privadas, na Internet, ou mesmo em seu acervo

    particular, evitando que consulte mais de uma vez a respeito

    de um determinado tema, por no conseguir guardar em sua

    memria todos os dados aos quais teve acesso.

    Dessa forma, para o pesquisador, a ficha um

    instrumento de trabalho imprescindvel. Como o pesquisador,

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

    184 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    ou o estudante, como o seu caso, durante o

    processo de construo do conhecimento, manipula

    muito material bibliogrfico, que em sua maior parte

    no lhe pertence, as fichas so teis, pois permitem:

    identificar as obras, conhecer seu contedo, fazer

    citaes, analisar o material, elaborar crticas, bem

    como auxiliar e embasar a produo de textos. A

    utilizao das fichas apresenta vantagens como: fcil

    manipulao, permite ordenao, ocupa pouco espao,

    fcil de transportar, possibilita obter a informao

    exata, na hora necessria, dentre outras.

    As fichas compreendem cabealho, referncias

    bibliogrficas, corpo da ficha e local onde se encontra

    a obra. Abaixo, encontra-se o exemplo de uma ficha

    com todos os elementos que devem constar no momento da

    elaborao de um fichamento (sejam elas fichas propriamente

    ditas, sejam elaboradas no caderno, ou no computador):

    UM

    CO

    NSE

    LHO

    A indicao das referncias bibliogrficas deve ser feita segundo normas da ABNT (Associao Brasileira de Normas Tcnicas). Sugiro a voc que compre ou consulte na biblioteca da UESC o Manual para elaborao de trabalhos tcnico-cientficos (Editora Editus), organizado pela professora Mnica de Moura Pires. Nele voc encontrar, alm de normas para elaborao das referncias, alguns instrumentos para a elaborao de trabalhos cientficos.

    3.1Tipologia

    Nesta aula, voc aprender a fazer os seguintes

    fichamentos, com base em Eco (1989):

    1) fichamento bibliogrfico por autor;

  • Aul

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    185Letras VernculasUESC

    2) fichamento bibliogrfico por assunto;

    3) fichamento de transcrio ou de citao;

    4) fichamento de resumo;

    5) fichamento de comentrio.

    3.1.1 Fichamento bibliogrfico por autor

    Conforme voc vai tomando contato com o material

    impresso, deve organiz-lo. Poder faz-lo atravs do fichamento

    bibliogrfico por autor, onde ficaro anotados o nome do autor

    (na chamada), o ttulo da obra, edio, local de publicao,

    editora, ano da publicao, nmero do volume, se houver mais

    de um, e nmero de pginas. Constitui-se num grande auxlio

    no momento de colocar as obras em ordem alfabtica de um

    trabalho. Veja o exemplo:

    3.1.2 Fichamento bibliogrfico por assunto

    Esse tipo de fichamento mais fcil de trabalhar. As

    instrues indicadas no item anterior repetem-se aqui, sendo

    que desta vez o assunto deve estar encabeando a ficha (na

    chamada):

    3.1.3 Fichamento de transcrio (ou de citao)

    Neste tipo de fichamento, voc deve selecionar as

    passagens que julga mais interessantes no decorrer da leitura

    da obra. necessrio que seja reproduzido fielmente o texto do

    autor (cpia literal). Aps a transcrio, deve constar o nmero

    GARCIA, Othon M. Comunicao em prosa moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1980. 214 p.

    ESTRUTURA SINTTICA DA FRASE

    GARCIA, Othon M. Comunicao em prosa moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1980. 214 p

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    186 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    da(s) pgina(s) de onde foi extrada. Veja o exemplo:

    SCARPARO, Monica Sartori. Fertilizao assistida: questo aberta: aspectos cientficos e legais. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1991. 189 p.

    Eis o posicionamento importante, citado pela autora, sobre o incio da vida e sua proteo jurdica: A personalidade comea com o nascimento com vida, que se verifica quando o feto se separa completamente do corpo materno. Neste momento que pode ser objeto de uma proteo jurdica independente da que concerne me (p. 40-41).

    SAIB

    A M

    AIS

    R

    AAC

    a FU V

    MK

    A propsito do fichamento de transcrio, Medeiros (2008) ensina:

    1) Em trabalho cientfico, as citaes com at trs linhas so includas no pargrafo em que se faz a referncia a seu autor, e so contidas entre aspas duplas. Observe:

    2) J as transcries com mais de trs linhas devem ser destacadas, ocupando pargrafo prprio e observando-se recuo de 04 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem aspas. Veja um exemplo:

    3) Se houver erros de grafia ou gramaticais, copia-se como est no original e escreve-se entre parnteses (sic). Por exemplo:

    Com base nisso, corroboramos o pensamento de que o atrativo passa a existir, via comunicao, ou seja, a mdia (...) o principal instrumento de mediao entre os agentes humanos e comerciais do Turismo (DROGUETT; CUNHA, 2004, p. 150).

    Nesse sentido, advoga Wainberg (2003) que o turismo , antes de tudo, um fenmeno comunicacional e reivindica a necessidade de criao de uma teoria comunicacional do turismo, buscando compreender outras dimenses do tema, ou seja, postulando a necessidade de estud-lo sob esse prisma:

    Considerado um dos mais impressionantes fenmenos humanos do sculo XX, o turismo tem sido estudado de vrias formas, em especial na sua dimenso econmica. [...] Tais reflexes no tm contemplado, no entanto, com profundidade, o fundamento comunicacional da experincia turstica (WAINBERG , 2003, p. 07).

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    187Letras VernculasUESC

    SAIB

    A M

    AIS Os autores deve (sic) conhecer...

    4) A supresso de palavras indicada com trs pontos entre colchetes. Exemplo:

    Completude, referncia, tematizao, coeso, unidade so conceitos que definem o texto como tal. [...] Assim, o autor apresenta critrios que orientam o processo da escrita.

    5) Supresses iniciais e finais no precisam ser indicadas:

    [...] Completude, referncia, tematizao, coeso, unidade so conceitos que definem o texto como tal [...]

    Prefira:

    Completude, referncia, tematizao, coeso, unidade so conceitos que definem o texto como tal.

    3.1.4 Fichamento de resumo

    Neste voc deve apresentar uma sntese bem clara e

    concisa das ideias principais do autor ou um resumo dos

    aspectos essenciais da obra.

    Voc deve lembrar que esta ficha se caracteriza por:

    a) no ser transcrio, como na ficha de citaes, mas ser

    elaborada pelo leitor, com suas prprias palavras, sendo

    mais uma interpretao do autor;

    Resumo IMPRESSIONISMO

    SERULLAZ, Maurice. O impressionismo. So Paulo: Difel, 1965, p. 8.

    Define o Impressionismo como movimento ocupado com o fugaz. O artista capta as transformaes impostas pela luz. Esta caracterstica espontnea inicialmente torna-se regra, fazendo o movimento posterior diferente do inicial.

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

    188 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    b) no ser longa, apresentar mais informaes do que a

    ficha bibliogrfica;

    c) no obedecer estritamente estrutura da obra. Lendo a

    obra, voc vai fazendo anotaes dos pontos principais.

    Ao final, redige um resumo, contendo a essncia do

    texto.

    3.1.5 Fichamento de comentrio

    Neste fichamento, devem ser analisados os aspectos

    quantitativos (cabe responder pela extenso do texto, sobre

    sua constituio ilustraes, exemplos, bibliografias, citaes

    -, conceitos abordados) e depois os qualitativos (anlise

    e deteco da hiptese do autor, objetivo, motivo pelo qual

    escreveu o texto, as ideias que fundamentam o texto). Segundo

    Medeiros (2008, p. 116),

    (...) deve o comentarista verificar se a exemplificao genrica ou especfica, se a organizao do texto clara, lgica, consistente, e o tom utilizado na exposio formal ou informal, se h pontos fortes ou fracos na argumentao do autor, se a terminologia precisa. E ainda dizer se a concluso convincente e quem ser beneficiado pela leitura do texto. Finalmente, deve fazer uma avaliao da obra.

    Veja um exemplo:

    Comentrio RELAO LEITOR/OBRA

    TACCA, Oscar. As vozes do romance. Coimbra: Almedina, 1983. p. 152-153.

    Notam-se no texto de Tacca as seguidas transformaes por que passa o leitor: inicialmente convidado; depois, participante da famlia e, por fim, transfigurado. A comparao explicita o comportamento do leitor com a obra e a impossibilidade de permanecer distante, amorfo, inerme. A leitura possibilita a transfigurao, a transformao radical que leva a atingir um estado glorioso. E, neste caso, leva o leitor a um contato como realidades estranhas ao mundo sensvel. Talvez se possa ver a um resqucio da filosofia de Plotino que dizia que a arte d acesso realidade. E a arte transforma-se numa atividade espiritual.

    Agora, chegou a vez de voc praticar. Vamos l!

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    189Letras VernculasUESC

    1. Elabore um fichamento de comentrio e um fichamento bibliogrfico por autor do texto constante do Anexo 1. Trata-se de uma entrevista intitulada Salvem o portugus, concedida por Srgio Nogueira revista Isto, publicada em 23/08/2006.

    2. Elabore um fichamento de citao do texto intitulado Produo de texto, constante do Anexo 2.

    ATIVIDADES

    Nesta aula voc aprendeu que:

    Esquema e fichamento constituem duas teis e necessrias

    tcnicas de estudo vida acadmica

    Esquema a reelaborao do plano de um texto, uma espcie

    de radiografia, esqueleto de um texto.

    A elaborao do esquema de carter pessoal, isto , cada um

    o elabora de acordo com seus objetivos.

    O fichamento uma tcnica de estudo e um dos principais

    produtos de leitura. Ele facilita a execuo dos trabalhos

    acadmicos, bem como a assimilao dos contedos estudados,

    pois, medida que voc vai fichando o material estudado, no

    precisar, posteriormente, perder tempo com o estudo de novo

    da obra. Basta buscar no fichamento os elementos necessrios

    para a execuo do seu trabalho.

    Uma ficha se estrutura com os seguintes elementos: cabealho,

    referncias bibliogrficas, corpo da ficha e local onde se

    encontra a obra.

    Existem vrios tipos de fichamento, como fichamento

    bibliogrfico por autor, fichamento bibliogrfico por assunto,

    fichamento de transcrio ou de citao, fichamento de resumo,

    fichamento de comentrio. A escolha pela feitura de um ou outro

    depender dos objetivos do estudante e/ou pesquisador.

    A ABNT apresenta normas que devem ser levadas em considerao

    quando da elaborao das referncias bibliogrficas das obras

    que lemos, estudamos ou pesquisamos.

    RESUMINDO

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

    190 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    RE

    FE

    R

    NC

    IAS

    ANDRADE, Maria Margarida. Introduo Metodologia

    do Trabalho Cientfico. So Paulo: Atlas, 2005.

    BARROS, A. J.; LEHFELD, N. A. de S. Um guia para

    inicializao cientfica. So Paulo: McGraw-Hill, 1986.

    ECO, Umberto. Como se faz uma tese. So Paulo:

    Perspectiva, 1989.

    KCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odete Maria Benetti; PAVANI,

    Cnara Ferreira. Prtica textual: atividades de leitura e

    escrita. Petrpolis: Vozes, 2006.

    MEDEIROS, Joo Bosco. Redao cientfica: a prtica de

    fichamentos, resumos, resenhas. 10. ed. So Paulo: Atlas,

    2008.

    NASCIMENTO, Dinalva Melo do. Metodologia do trabalho

    cientfico: teoria e prtica. Rio de Janeiro: Forense,

    2002.

    PIRES, Mnica de Moura (Org.). Manual para elaborao

    de trabalhos tcnico-cientficos. 4. ed. Ilhus: Editus,

    2006.

    RUIZ, J. A. Metodologia Cientfica: guia para eficincia

    nos estudos. 2. ed. So Paulo: Atlas, 1986.

  • Aul

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    191Letras VernculasUESC

    ANEXO 1

    Salvem o portugusSrgio Nogueira

    O consultor Srgio Nogueira, autor de oito livros sobre a lngua portuguesa, d suas dicas para preservar o idioma

    Por Francisco Alves Filho(*)

    O professor Srgio Nogueira usa os meios que pode para disseminar o uso correto da lngua portuguesa. autor de oito livros sobre o assunto, discute o tema em um programa na TV Senac e numa coluna de jornal, consultor de empresas e atua como supervisor de linguagem em vrios veculos de comunicao. Crtico feroz do uso de estrangeirismos desnecessrios, mora num condomnio carioca chamado, por ironia, de Greenwood Park. Levo isso na esportiva, fazer o qu?, resigna-se. Com humor, ele consegue explicar os mistrios da lngua de forma surpreendentemente clara. Seus principais alvos so os modismos e os estrangeirismos. E existem tambm os bobismos, diz, para identificar a utilizao de palavras oriundas da informtica para substituir termos existentes no vocabulrio. De uma maneira geral, o professor um gacho de 56 anos que se formou em letras pela UFRGS e fez mestrado na PUC do Rio de Janeiro prega a liberdade no uso da lngua. Mas no v apenas prejuzos no internets, o dialeto usado na rede, que as escolas tanto condenam. Ele trouxe ensinamentos que seria interessante os professores perceberem.

    ISTO Qual a principal praga que ataca a lngua portuguesa nos nossos dias?Srgio Nogueira Temos problemas de construo de frases, de vocabulrio, de falta de conhecimento, de modismos e, obviamente, problemas gramaticais. Mas isso tem menor importncia. Prefiro um texto com erro, um acento mal posto, do que aquela frase incompreensvel. Na comunicao, a qualidade maior fazer-se entender.

    ISTO Qual dessas pragas prejudica mais?Nogueira Fatos lingsticos que empobrecem nosso vocabulrio. Qual foi o maior modismo dos ltimos 20, 30 anos? O a nvel de foi, sem dvida nenhuma, o campeo. Eu tinha esperana de que j estivesse morto e enterrado, mas impressionante como ele se revitaliza, vai e volta. O a nvel de tem um problema srio: no nasceu nas classes menos privilegiadas, no nasceu no morro, nasceu na sala de executivos.

    ISTO Como assim?Nogueira Quem usa a nvel de no fala de cabea baixa. Faz pose, como se usasse uma lngua superior. Na verdade, no h uma situao sequer em que essa expresso seja adequada. O a nvel de no se refere a nvel de coisa nenhuma.

    ISTO Os dicionrios conseguem acompanhar a mudana da lngua?Nogueira Veja a palavra multagem. Quem trafega pela Linha Amarela, uma via

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

    192 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    expressa do Rio de Janeiro, viu uma placa que incomoda muita gente: Multagem eletrnica. Eu j recebi vrias cartas de pessoas que querem saber se a palavra existe. Na cabea das pessoas existir estar no dicionrio. Como se o dicionrio decidisse quem nasceu ou no nasceu. preciso lembrar que os dicionrios nunca esto atualizados.

    ISTO Quem d vida s palavras a sociedade?Nogueira Exatamente. Voc no encontra seqestro-relmpago nos dicionrios, mas ningum vai me dizer que no existem seqestros-relmpago. o caso de potencializar, agilizar, disponibilizar, criaes bem brasileiras. Gostamos desses verbos em izar. Se a maioria dos falantes usar, o dicionarista registra.

    ISTO O sr. se incomoda muito com os estrangeirismos?Nogueira O problema que o brasileiro gosta tanto de estrangeirismo que usa at quando no precisa. Se voc traz um estrangeirismo novo que enriquece o vocbulo, nada demais. O problema do ingls nos ltimos tempos que ele entrou como uma praga, devido ao poderio econmico e tecnolgico e no beleza da lngua inglesa. Sou moderado. No tenho nada contra estrangeirismo, mas acho que h muito exagero. Se posso falar futebol de areia, no falo beach soccer.

    ISTO Modismos no servem para encobrir o pequeno domnio da lngua?Nogueira Em grande parte sim. H palavras de sentido genrico usadas para substituir tudo. Hoje ningum muda, altera ou inverte. Tudo se reverte. Se voc vai mudar alguma coisa, vai reverter a situao. E geralmente se diz reverter o quadro, seja poltico, econmico, de sade. Todo mundo reverte, seja o placar ou a deciso na Justia, o que absurdo, porque reverter voltar deciso anterior. Uma deciso judicial anulada e no revertida. No momento, o pior de todos definir. Hoje em dia ningum estabelece, ningum determina, ningum prev. Tudo se define.

    ISTO Isso ruim?Nogueira antes de tudo um empobrecimento, porque a certa altura esse processo faz com que palavras conhecidas adormeam. Ns temos um vocabulrio ativo e um passivo. Vocabulrio passivo aquele que voc entende quando l, mas que no usa ao falar ou escrever. No jornalismo, por exemplo, se diz muito que o PT definiu candidato, o PMDB definiu candidato, o PP definiu candidato. Gente, um escolheu, outro elegeu e o outro indicou. H tambm o famigerado colocar. Uma vez, um aluno levantou o dedo e me perguntou: Professor, posso colocar uma coisa? Eu disse: Opa... Colocar em mim no.

    ISTO O sr. j se referiu tambm ao termo diferenciado...Nogueira Esse modismo surgiu no meio esportivo. Jogador diferenciado seria melhor que os outros. Depois, passou a ser usado para tudo. Diferenciado no obrigatoriamente positivo, mas a palavra usada de forma desmedida com essa carga. Uma pessoa ou algo pode ser diferenciado tambm pelo lado negativo. o atributo de ser diferente, no necessariamente para melhor.

    ISTO E o gerundismo?

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    193Letras VernculasUESC

    Nogueira O gerundismo nasceu no telemarketing, provavelmente de uma traduo literal do ingls, onde existe, por exemplo, o well be sending, ou vamos estar enviando. Em portugus o gerndio diferente, porque as lnguas no so iguais. Na nossa lngua, o gerndio sempre d idia de continuidade de ao. Outro dia, dei uma palestra em So Paulo e dois dias depois me ligou a secretria do evento: Professor, tarde vamos estar depositando o seu dinheiro. Vamos estar depositando? No resisti: perguntei se o depsito ia ser feito em moedinhas. Entendi que ela ia passar a tarde toda depositando o meu cach.

    ISTO O gerundismo talvez tenha nascido para que as empresas evitassem fixar um prazo de atendimento ao cliente...Nogueira Isso, uma prova do descomprometimento. Se algum me disser que vai estar resolvendo, posso ter certeza de que no vai resolver coisa nenhuma. A soluo para isso usar o futuro. Se algum disser resolverei o seu problema ou vamos resolver o seu problema mais incisivo.

    ISTO O que acha do internets, esse vocabulrio virtual da rede? Nogueira Muita gente critica, mas ele tem um ensinamento que interessante os professores perceberem. Primeiro, bom lembrar que uma linguagem puramente escrita, ningum fala daquela forma. Nem a garotada. Eles no saem por a falando pq, vc, tc... S escrevem para agilizar a digitao. Segunda coisa: uma conveno que no precisa de gramtica. No precisa ter um livro para dizer que pq porque e vc voc. Todo mundo usa e eles no combinaram isso. Olha que coisa interessante. Como ns no combinamos que foto ia abreviar fotografia e no fotossntese. Ningum combinou que moto ia abreviar motocicleta em vez de motosserra. A imagem que alguns alunos levam da escola que a lngua tem que seguir a gramtica, quando na verdade ela que tem que descrever o fato.

    ISTO E o lado negativo?Nogueira Quando a pessoa foge do sistema formal de escrita, no est dando a si um dos elementos para aprender ortografia, que a memria visual. Voc no sabe ortografia por regra, mas por memria. O perigo a garotada criar uma memria irreversvel. A gente no deve se escandalizar com o internets. O professor deve aproveitar essa realidade que encanta a garotada e trazer para a sala de aula. No para que o aluno faa a redao assim, mas para ensin-lo a traduzir o internets para a lngua padro.

    ISTO Os termos vindos da informtica j esto incorporados lngua?Nogueira Acessar, por exemplo, no tem pecado nenhum, at porque temos a palavra acesso h muito tempo. A restrio quanto ao uso. Se voc diz que vai acessar um programa ou acessar dados, tudo bem. Mas acho totalmente inadequado o uso que ouvi de um motorista de txi. Ele disse que iria acessar a avenida, no sentido de entrar. Na verdade, ele vai ter acesso. Ningum diz que um time vai acessar o campo. O time entra. O presidente no acessou a tribuna de honra. Teve acesso.

    ISTO E deletar?Nogueira Acho que est incorporado. Mas, na minha opinio, deve ser usado em textos de informtica. Deletar um tipo especial de apagar. Se eu uso uma

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

    194 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    borracha, eu apago, como sempre fiz. Agora, se estou usando o computador e pressiono a tecla del, eu deleto. Me incomoda o uso em sentido figurado. Imagine uma manchete de jornal: Policial deleta marginal. S os sensacionalistas. Mas h tambm o que eu chamo de bobismo. Printar, por exemplo. Eu imprimi a vida inteira, porque vou printar agora? Para que startar, se eu comecei a vida toda?

    ISTO O que acha dos ativistas que defendem parmetros politicamente corretos para a lngua?Nogueira discutvel. Alguns casos so ridculos, como usar prejudicado vertical para pessoas de baixa estatura. No caso de aidtico, trocar por soropositivo razovel. Evita-se tambm o leproso.

    ISTO O sr. costuma destacar tambm os termos judiar e denegrir...Nogueira Essas substituies so para atender a comunidade judaica e o movimento negro. Nesse caso, fazemos porque fcil trocar judiar por maltratar e denegrir por manchar. Mas tenho a forte impresso de que a maior parte dos leitores no tem noo de que denegrir vem de negro e judiar vem de judeu. Acho que os ativistas algumas vezes exageram. O que pesa para a palavra ou a frase ser racista a entonao, o contexto, a inteno.

    ISTO Os brasileiros continuam lendo pouco?Nogueira No lem nem jornal. O estudante de comunicao inclusive. Uma amiga que professora de medicina me mostrou a prova de um aluno de segundo ou terceiro perodo que escrevia paciente com sc. Fico imaginando o que esse rapaz est lendo para ser mdico. No consegue nem escrever uma palavra da sua rea. Isso inadmissvel.

    ISTO Quais as conseqncias desse dficit de leitura?Nogueira Primeiro, falta de contedo. Depois, o vocabulrio fica pequeno. A pessoa no consegue ver todas as possibilidades. H tambm o problema da construo das frases. A garotada acredita que pontuar um problema respiratrio, no sabe pontuar e por isso cria frases que ningum entende. Alguns professores passam essa idia, que no correta. Voc respirar onde tem a vrgula na hora da leitura uma coisa; agora voc pr a vrgula onde respira mentira. Se fosse assim, o cara que sofresse de dispnia colocaria uma vrgula atrs da outra e o mergulhador no poria nenhuma. No uma questo de capacidade respiratria.

    (*) Entrevista publicada nas pginas vermelhas iniciais da revista Isto, que circulou em 23 de agosto de 2006.

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    195Letras VernculasUESC

    ANEXO 2

    PRODUO DE TEXTO

    Para produzir textos de qualidade, seus alunos tm de saber o que querem dizer, para quem escrevem e qual o gnero que melhor exprime essas ideias. A chave ler muito e revisar continuamente

    Narrao, descrio e dissertao. Por muito tempo, esses trs tipos de texto reinaram absolutos nas propostas de escrita. Consenso entre professores, essa maneira de ensinar a escrever foi uma das principais responsveis pela falta de proficincia entre nossos estudantes. O trabalho baseado nas famosas composies e redaes escolares tem uma fragilidade essencial: ele no garante o conhecimento necessrio para produzir os textos que os alunos tero de escrever ao longo da vida. Nessa antiga abordagem, ningum aprendia a considerar quem seriam os leitores. Por isso, no havia a reflexo sobre a melhor estratgia para colocar uma ideia no papel, resume Telma Ferraz Leal, da Universidade Federal de Pernambuco. Para aproximar a produo escrita das necessidades enfrentadas no dia-a-dia, o caminho atual enfocar o desenvolvimento dos comportamentos leitores e escritores. Ou seja: levar a criana a participar de forma eficiente de atividades da vida social que envolvam ler e escrever. Noticiar um fato num jornal, ensinar os passos para fazer uma sobremesa ou argumentar para conseguir que um problema seja resolvido por um rgo pblico: cada uma dessas aes envolve um tipo de texto com uma finalidade, um suporte e um meio de veiculao especficos. Conhecer esses aspectos condio mnima para decidir, enfim, o que escrever e de que forma fazer isso. Fica evidente que no so apenas as questes gramaticais ou notacionais (a ortografia, por exemplo) que ocupam o centro das atenes na construo da escrita, mas a maneira de elaborar o discurso (leia o quadro abaixo).

    Expectativas de aprendizagemNo que se refere escrita, importante que, no fim do 5 ano, o aluno saiba:

    - Re-escrever e/ou produzir textos de autoria utilizando procedimentos de escritor: planejar o que vai escrever considerando a intencionalidade, o interlocutor, o portador e as caractersticas do gnero; fazer rascunhos; reler o que est escrevendo, tanto para controlar a progresso temtica como para melhorar outros aspectos - discursivos ou notacionais - do texto. - Revisar escritas (prprias e de outros), em parceria com os colegas, assumindo o ponto de vista do leitor com inteno de evitar repeties desnecessrias (por meio de substituio ou uso de recursos da pontuao); evitar ambiguidades, articular partes do texto, garantir a concordncia verbal e a nominal. - Revisar textos (prprios e de outros) do ponto de vista ortogrfico. Ao concluir o 9 ano, o estudante precisa estar apto tambm a: - Compreender e produzir uma variedade de textos, tendo em conta os padres que os organizam e seus contextos de produo e recepo. - Utilizar todos os conhecimentos gramaticais, normativos e ortogrficos em funo da otimizao de suas prticas sociais de linguagem.

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

    196 Mdulo 1 I Volume 1 EAD

    H outro ponto fundamental nessa transformao das atividades de produo de texto: quem vai ler. E, nesse caso, voc no conta. Entregar um texto para o professor cumprir tarefa, argumenta Fernanda Liberali, da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Escrever no fcil. Para que o aluno fique estimulado com a proposta, preciso que veja sentido nisso. O objetivo fazer com que um leitor ausente no momento da produo compreenda o que se quis comunicar - e esse desafio requer diferentes aprendizagens. O primeiro passo conhecer os diversos gneros. Mas preciso ateno: isso no significa que os recursos discursivos, textuais e lingusticos dos contos de fadas e da reportagem, por exemplo, sejam contedos a apresentar aos alunos sem que eles os tenham identificado pela leitura, como ressalta Delia Lerner no livro Ler e Escrever na Escola. Um primeiro risco o de cair na tentao de transmitir verbalmente as diferentes estruturas textuais. De acordo com a pesquisadora em didtica, cabe a todo professor permitir que as crianas adquiram os comportamentos do leitor e do escritor pela participao em situaes prticas e no por meras verbalizaes. Ensinar a produzir textos nessa perspectiva prev abordar trs aspectos principais: a construo das condies didticas, a reviso e a criao de um percurso de autoria, como se pode ver a seguir. Os textos redigidos em classe precisam de um destinatrio

    Escreva um texto sobre a primavera. Quem se depara com uma proposta como essa imediatamente deveria se fazer algumas perguntas. Para qu? Que tipo de escrita ser essa? Quem vai l-la? Certas informaes precisam estar claras para que se saiba por onde comear um texto e se possa avaliar se ele condiz com o que foi pedido. Nas pesquisas didticas de prticas de linguagem, essas delimitaes denominam-se condies didticas de produo textual. No que se refere ao exemplo citado, fica difcil responder s perguntas, j que esse tipo de redao no existe fora da escola, ou seja, no faz parte de nenhum gnero. De acordo com Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz, o trabalho com um gnero em sala de aula o resultado de uma deciso didtica que visa proporcionar ao aluno conhec-lo melhor, apreci-lo ou compreend-lo para que ele se torne capaz de produzi-lo na escola ou fora dela. No artigo Os Gneros Escolares - Das Prticas de Linguagem aos Objetos de Ensino, os pesquisadores suos citam ainda como objetivo desse trabalho desenvolver capacidades transferveis para outros gneros. Para que a criana possa encontrar solues para sua produo, ela precisa ter um amplo repertrio de leituras. Essa possibilidade foi dada turma de 9 ano da professora Maria Teresa Tedesco, do Centro de Educao e Humanidades Instituto de Aplicao Fernando Rodrigues da Silveira - conhecido como Colgio de

    - Exercer sobre suas produes e interpretaes uma tarefa de monitoramento e controle constantes. - Interpretar e produzir textos para responder s demandas da vida social enquanto cidado.

    Fonte: Secretaria de Estado de Educao de So Paulo e Diseo Curricular de la Educacin Secundaria da Provncia de Buenos Aires, Argentina

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    197Letras VernculasUESC

    Aplicao da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Procurando desenvolver a leitura crtica de textos jornalsticos e o conhecimento das estruturas argumentativas na produo textual, ela props uma atividade permanente: a cada semana, um grupo elegia uma notcia e expunha turma a forma como ela tinha sido tratada nos jornais. Depois, seguia-se um debate sobre o tema ou a maneira como as reportagens tinham sido veiculadas. Paralelamente, os estudantes tiveram contato com textos de finalidades comunicativas diversas no jornal, como cartas de leitores, editoriais, artigos opinativos e horscopo. O objetivo era que eles analisassem os materiais, refletissem sobre os propsitos de cada um e adquirissem um repertrio discursivo e lingustico, conta Maria Teresa, que lanou um desafio: produzir um jornal mural. Na hora de iniciar uma produo escrita, todo estudante precisa saber o qu, para qu e para quem vai escrever. S ento se define a forma do texto, que precisa ser entendido pelo leitor A proposta era trabalhar com textos opinativos, como os editoriais. Para que a escrita ganhasse sentido, ela avisou que o jornal seria afixado no corredor e que toda a comunidade escolar teria acesso a ele. Os assuntos escolhidos tratavam das principais notcias do momento, como o surto de dengue no Rio de Janeiro e a discusso sobre a maioridade penal. Com as caractersticas do gnero j discutidas e frescas na memria, todos passaram produo individual. A primeira verso foi lida pela professora. Sempre havia observaes a fazer, mas eu deixava que os prprios meninos ajudassem a identificar as fragilidades, diz Maria Teresa. Divididos em pequenos grupos, os alunos revisaram a produo de um colega, escrevendo um bilhete para o autor com sugestes e avaliando se ela estava adequada para publicao. Eram comuns comentrios como argumento fraco, pouco claro e falta concluso, demonstrando o repertrio adquirido com a leitura dos modelos. Envolver estudantes de 6 a 9 ano na produo textual um grande desafio, ressalta Roxane Rojo, da Universidade Estadual de Campinas. Muitas vezes, eles tiveram de produzir textos sem funo comunicativa durante a escolaridade inicial e, por acreditarem que escrever uma chatice, so mais resistentes. Atenta, Maria Teresa soube driblar esse problema. Percebendo que a turma andava inquieta com a proibio por parte da direo do uso de short entre as meninas, a professora fez disso tema de um editorial do jornal mural - a produo foi uma das melhores propostas do projeto. Para que algum se coloque na posio de escritor, preciso que sua produo tenha circulao garantida e leitores de verdade, diz Roxane. E todos saberiam a opinio do aluno sobre a questo, inclusive a diretoria. S assim ele assume responsabilidade pela comunicao de seu pensamento e se coloca na posio do leitor, antecipando como ele vai interpret-lo. A argumentao da garotada foi to bem estruturada que a diretoria resolveu voltar atrs e liberar mais uma vez o uso da roupa entre as garotas. A criao de condies didticas nas propostas para as turmas de 1 a 5 ano segue os mesmos preceitos utilizados pela professora Maria Teresa. Em qualquer srie, como na vida, produzir um texto resolver um problema, ensina Telma Ferraz Leal. Mas para isso preciso compreender quais so os elementos principais desse problema. Reviso vai alm da ortografia e foca os propsitos do texto

  • Prticas Educativas IOficina de Leitura e Produo Textual na Prtica Escolar I Esquema e Fichamento: tcnicas de estudo

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    Produzir textos um processo que envolve diferentes etapas: planejar, escrever, revisar e re-escrever. Esses comportamentos escritores so os contedos fundamentais da produo escrita. A reviso no consiste em corrigir apenas erros ortogrficos e gramaticais, como se fazia antes, mas cuidar para que o texto cumpra sua finalidade comunicativa. Deve-se olhar para a produo dos estudantes e identificar o que provoca estranhamento no leitor dentro dos usos sociais que ela ter, explica Fernanda Liberali. Com a ajuda do professor, as turmas aprendem a analisar se ideias e recursos utilizados foram eficazes e de que forma o material pode ser melhorado. A sala de 3 ano de Ana Clara Bin, na Escola da Vila, em So Paulo, avanou muito com um trabalho sistemtico de reviso. Por um semestre, todos se dedicaram a um projeto sobre a histria das famlias, que culminou na publicao de um livro, distribudo tambm para os pais. Dentro desse contexto, Ana Clara props a leitura de contos em que escritores narram histrias da prpria infncia. Os estudantes se envolveram na reescrita de um dos contos, narrado em primeira pessoa. Eles tiveram de re-escrev-lo na perspectiva de um observador - ou seja, em terceira pessoa. A segunda misso foi ainda mais desafiadora: contar uma histria da infncia dos pais. Para isso, cada um entrevistou familiares, anotou as informaes colhidas em forma de tpicos e colocou tudo no papel. Ana Clara leu os trabalhos e elegeu alguns pontos para discutir. O mais comum era encontrar s o relato de um fato, diz. Recorremos, ento, aos contos lidos para saber que informaes e detalhes tornavam a histria interessante e como organiz-los para dar emoo. Cada um releu seu conto, realizou outra entrevista com o parente-personagem e produziu uma segunda verso. Tiveram incio a diferentes formas de reviso - anlise coletiva de uma produo no quadro-negro, reviso individual com base em discusses com o grupo e revises em duplas realizadas dias depois para que houvesse distanciamento em relao ao trabalho. A primeira proposta foi a reviso de ouvido. Para realiz-la, Ana Clara leu em voz alta um dos contos para a turma, que identificou a omisso de palavras e informaes. A professora selecionou alguns aspectos a enfocar na reviso: ortografia, gramtica e pontuao. No possvel abordar de uma s vez todos os problemas que surgem, completa Telma. O objetivo do aluno ao fazer a reviso de texto conseguir que ele comunique bem suas ideias e se ajuste ao gnero. Isso tem de ser feito tanto durante a produo como ao fim dela Quando a classe de Ana Clara se dividiu em duplas, um de seus propsitos era que uns dessem sugestes aos outros. A pesquisadora argentina em didtica Mirta Castedo defensora desse tipo de proposta. Para ela, as situaes de reviso em grupo desenvolvem a reflexo sobre o que foi produzido por meio justamente da troca de opinies e crticas. Revisar o que os colegas fazem interessante, pois o aluno se coloca no lugar de leitor, emenda Telma. Quando volta para a prpria produo e faz a reviso, a criana tem mais condies de criar distanciamento dela e enxergar fragilidades. Um escritor proficiente, no entanto, no faz a reviso s no fim do trabalho. Durante a escrita, comum reler o trecho j produzido e verificar se ele est adequado aos objetivos e s ideias que tinha inteno de comunicar - s ento planeja- se a continuao. E isso feito por todo escritor profissional. A reviso em processo e a final so passos fundamentais para conseguir de fato

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    uma boa escrita. Nesse sentido, a maneira como voc escreve e revisa no quadro-negro, por exemplo, pode colaborar para que a criana o tome como modelo e se familiarize com o procedimento. Sobre o assunto, Mirta Castedo escreve em sua tese de doutorado: Os bons escritores adultos (...) so pessoas que pensam sobre o que vo escrever, colocam em palavras e voltam sobre o j produzido para julgar sua adequao. Mas, acima de tudo, no realizam as trs aes (planejar, escrever e revisar) de maneira sucessiva: vo e voltam de umas a outras, desenvolvendo um complexo processo de transformao de seus conhecimentos em um texto. Ser autor exige pensar no enredo e na estrutura O terceiro aspecto fundamental no trabalho de produo textual garantir que a criana ganhe condies de pensar no todo. Do enredo forma de estruturar os elementos no papel: preciso aprender a dar conta de tudo para atingir o leitor. Esse processo denomina-se construo de um percurso de autoria e se adquire com tempo, prtica e reflexo. Os estudos em didtica das prticas de linguagem fizeram cair por terra o pensamento de que a redao com tema livre estimula a criatividade. Hoje sabe-se que depois da alfabetizao h ainda uma longa lista de aprendizagens. Foi considerando a complexidade desse processo que Edileuza Gomes dos Santos, professora da EM de Santo Amaro, no Recife, desenvolveu um projeto de produo de fbulas com a 3 srie. Ela deu incio ao trabalho investindo na ampliao do repertrio dentro desse gnero literrio. S assim foi possvel observar regularidades na estrutura discursiva e lingustica, como o fato de que os animais so os protagonistas. Escolhi esse gnero porque ele tem comeo, meio e fim bem marcados, algo que eu queria desenvolver na produo da garotada. Para que o jovem seja capaz de elaborar um texto com as prprias ideias e dentro das caractersticas de um gnero, preciso que desenvolva um percurso de autoria A primeira proposta foi o reconto oral de uma fbula conhecida. Isso envolve organizar ideias e pode ser uma forma de planejar a escrita, endossa Patricia Corsino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quando j dominamos todas as informaes de uma narrativa, podemos focar apenas na forma de expor os elementos mas esse um grande desafio no incio da escolaridade. Na turma de Edileuza, as propostas seguintes foram a re-escrita individual e a produo de verses de fbulas conhecidas com modificaes dos personagens ou do cenrio. Aos poucos, todos ganharam condies de inventar situaes. A professora percebeu que a turma no entendia bem o sentido da moral da histria. Pediu, ento, uma pesquisa sobre provrbios e seu uso cotidiano. Com essa compreenso e um repertrio de ditados populares, Edileuza sugeriu a criao de uma fbula individual. Ela discutiu com o grupo que elas geralmente tm como protagonistas inimigos tradicionais (co e gato ou gato e rato, por exemplo). Estava colocada a primeira restrio para a produo. Em seguida, a classe relembrou alguns provrbios que poderiam ser escolhidos como moral nas histrias criadas. Desde o incio, todos sabiam que as produes seriam lidas por estudantes de outra escola, o que serviu de estmulo para bolar tramas envolventes. H uma diferena entre escrever textos com autonomia - obedecendo estrutura do gnero, sem problemas ortogrficos ou de coerncia - e se tornar autor, diz Patrcia Corsino.

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    No primeiro caso, basta aprender as caractersticas do gnero e conhecer o enredo, por exemplo. No segundo, preciso desenvolver ideias. Para chegar l, a interao com professores e colegas e o acesso a um repertrio literrio so fundamentais. Do 6 ao 9 ano, o processo de construo da autoria pode exigir desafios que sejam cada vez mais complexos: a elaborao de tenses na narrativa ou a participao em debates para desenvolver a argumentao, como fez a professora Maria Teresa, do Rio de Janeiro. A re-escrita, primeiro passo para a construo da autoria, pode vir com propostas de produo de pardias, no caso dos maiores, que exigem mais elaborao por parte das turmas, diz Roxane Rojo. Uma boa forma de fazer circular textos nessa fase so os meios digitais, como blogs e a prpria pgina do colgio na internet. Os jovens podem se responsabilizar por todas as etapas de produo, inclusive pela publicao, o que os estimula a aprimorar a escrita. Levar os estudantes a se expressar cada vez melhor, afinal, deve ser o objetivo de todo professor.

    Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/escrever-

    verdade-427139.shtm

  • Suas anotaes

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