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FESUDEPERJ 21 AGOSTO 2004 DIREITO CONSTITUCIONAL Prof. Ruy Walter D’Almeida Junior QUESTÕES : É lícito afirmarmos que os direitos fundamentais são típicos? R: Primeiramente, o que são direitos típicos? São os direitos escritos, positivados. São aqueles direitos que estão taxativamente previstos em determinado diploma. Direito objetivo = norma agendi (norma de agir) Direito positivo = direito escrito A constituição do Reino Unido é norma consuetudinária ( baseada nos costumes), no entanto, ela não deixa de ser norma de agir, é direito objetivo. Muitas vezes o direit o é objetivo, mas a norma não está positivada. Os direitos fundamentais podem estar escritos no art.5º ou fora dele. Os direitos fundamentais encontram-se espalhados por toda a constituição. Há direitos fundamentais no art.6º e no art7º, por exemplo. Mesmo fora da constituição há direitos fundamentais. O § 2º, art.5º CR/88 autoriza a existência de direitos fundamentais em tratados internacionais, como, por exemplo, no Pacto de São José da Costa Rica. Como esta norma de direito fundamental, constante em um tratado, ingressaria no ord enam ento jur ídico bra sil eir o? Ela ingressaria como nor ma cons tit uci onal ou como norma infraconstit ucional? R : Pel a redação do § 2º, art. 5º, CR 88 não resta dúvida que se  pode existir norma de direito fundamental em outro diploma, esta norma ingressará no

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FESUDEPERJ

21 AGOSTO 2004

DIREITO CONSTITUCIONAL

Prof. Ruy Walter D’Almeida Junior

QUESTÕES :

É lícito afirmarmos que os direitos fundamentais são típicos?

R: Primeiramente, o que são direitos típicos? São os direitos escritos, positivados. São

aqueles direitos que estão taxativamente previstos em determinado diploma.

Direito objetivo = norma agendi (norma de agir)

Direito positivo = direito escrito

A constituição do Reino Unido é norma consuetudinária ( baseada nos costumes),

no entanto, ela não deixa de ser norma de agir, é direito objetivo.

Muitas vezes o direito é objetivo, mas a norma não está positivada.

Os direitos fundamentais podem estar escritos no art.5º ou fora dele. Os direitos

fundamentais encontram-se espalhados por toda a constituição. Há direitos fundamentais no

art.6º e no art7º, por exemplo. Mesmo fora da constituição há direitos fundamentais. O § 2º,

art.5º CR/88 autoriza a existência de direitos fundamentais em tratados internacionais,

como, por exemplo, no Pacto de São José da Costa Rica.

Como esta norma de direito fundamental, constante em um tratado, ingressaria no

ordenamento jurídico brasileiro? Ela ingressaria como norma constitucional ou como

norma infraconstitucional? R : Pela redação do § 2º, art. 5º, CR 88 não resta dúvida que se

 pode existir norma de direito fundamental em outro diploma, esta norma ingressará no

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ordenamento como norma constitucional. Todavia, este não é o entendimento do STF. O

STF entende que o tratado internacional, mesmo quando declara direitos

fundamentais(humanos), ingressa no ordenamento jurídico como lei ordinária. E como

ingressa como norma infraconstitucional, é passível de controle de constitucionalidade. A

doutrina discorda deste posicionamento (Flávia Piovesan). O STF fundamenta o seu

 posicionamento através da soberania nacional e da soberania das normas constitucionais,

não admitindo, portanto, que um tratado ingresse com o mesmo status de lei constitucional,

nem que possa ser considerado lei constitucional.

A doutrina rebate dizendo que como esta norma é materialmente constitucional, ela

deve ingressar no ordenamento com status de constituição, por força do § 2º, art. 5º CF/88.

Pode-se ter direitos fundamentais fora do art. 5º ? Sim. Inclusive o supremo já

decidiu que o salário maternidade, que consta do art.7º, CR/88, é direito fundamental.

O Ministro Carlos ... já disse, em palestra, que nem todos os direitos que estão no

art.5 º são de natureza fundamental. O inciso que fala que o civilmente identificado não

fica obrigado à identificação datiloscópica, por exemplo, não é tido como direito

fundamental, pelo referido ministro.

Os direitos fundamentais são atípicos ( não precisam estar positivados em nenhum

diploma ).

Os direitos fundamentais espalham-se por toda a CRFB, e, na forma do § 2º art. 5º,

CR/88, podem estar, inclusive, fora dela. Ex: tratado internacional.Para o STF, tratado, mesmo quando declara direitos fundamentais (humanos),

ingressa no ordenamento jurídico como lei ordinária. Doutrina discorda do posicionamento.

O STF já se manifestou entendendo que o salário maternidade é direito fundamental

(rol do art7º CR/88)

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Obs : Tramitou na Câmara uma emenda tentado suprimir o 13º salário. O 13º salário é

direito fundamental? R: Sim, é direito fundamental de segunda geração e, portanto, não

 pode ser suprimido por emenda.

Pode existir conflito de constitucionalidade entre normas constitucionais

originárias(ambas promulgadas em 5 out. 88) ? Em outras palavras, pode ocorrer situação

em que uma norma constitucional originária possa ser tida como inconstitucional face a

outra norma constitucional originária ? Não, pq o STF já entendeu pelo PRINCÍPIO DA

UNIDADE HIERÁRQUICO NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO , isto é, a constituição

não pode entrar em contradição consigo mesma.

Há que se fazer distinção entre hierarquia normativa e hierarquia axiológica.

Hierarquia normativa é quando uma norma é superior a outra. Assim, se ambas as normas

são constitucionais, não há hierarquia normativa entre elas. Isto não significa, por outro

lado, que não possa haver entre elas uma hierarquia axiológica, ou seja, que uma norma não

 possa ter um peso maior que a outra. O princípio da ponderação de valores só pode ser 

exercido entre normas sem hierarquia normativa, entre normas originárias, pq entre norma

derivada e originária há a supremacia de uma sobre a outra.

As emendas constitucionais podem ter sua inconstitucionalidade declarada pq

advêm do poder constituinte derivado.

Existe hierarquia entre as gerações(ou dimensões?) de direitos fundamentais ?

R: Existe diferença entre geração e dimensão de direitos. Esta distinção foi feita por 

Jorge Canotilho, constitucionalista português. Diz ele que esta expressão “gerações de

direitos”deve ser evitada para que não se entenda existir hierarquia entre eles, preferindo-se

utilizar a expressão dimensões.

Para o prof. tal purismo não traz maiores implicações na prática.

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DIREITOS FUNDAMENTAIS DE 1ª GERAÇÃO são aqueles que vão limitar o

 poder estatal, impondo limites ao poder estatal. Direitos individuais: direito de liberdade,

direito à saúde, direito à propriedade, direito à propriedade.

 

Os direitos fundamentais tb são chamados de direitos de defesa pq o indivíduo vai

se defender do poder estatal.

Só que estes direitos não são absolutos.Todos estes direitos são relativizados. Vide

direito à vida que é limitado em caso de guerra, direito à propriedade, limitado pelas

desapropriações estatais etc...

DIREITOS DE 2ª GERAÇÃO são os direitos sociais. São também direitos

individuais. São os direitos do trabalhador : direito a um salário mínimo, férias

remuneradas, 13º salário(vide emenda constitucional que almeja retirar o 13ºsalário).

DIREITOS DE 3ª GERAÇÃO. Pós – 45. DIREITOS COLETIVOS : direito à

fraternidade, paz social, meio ambiente, equilíbrio sustentável.

# obs : diferença entre direitos coletivos e direitos individuais homogêneos. Os

direitos coletivos se referem a grupo indeterminado de pessoas, enquanto os individuais

homogêneos dizem respeito a grupo determinado de pessoas.

# Os direitos sociais são direitos fundamentais? Observe que o título onde está

inserido o capítulo dos direitos sociais é o “TÍTULO II - DOS DIREITOS E

GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVOS”

# O STF entende que a emenda constitucional pode suprimir direito adquirido

 porque a norma contida no art 5º, XXXVI, CR/88 é dirigida ao legislador ordinário porque

em seu texto diz : “ A LEI ...”, e interpretando esta palavra lei em sentido estrito, aplica-se

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apenas àquelas leis que advêm do poder legislativo ordinário (lei complementar, lei

ordinária, medida provisória e decreto legislativo). Como a emenda não é poder legislativo

ordinário, é poder constituinte derivado, ela pode suprimir direito adquirido. Agora, se

interpretarmos a palavra lei, constante no inciso XXXVI do art.5 º, como lei no sentido

amplo, concluiremos que emenda constitucional também não poderá suprimir direito

adquirido.

Há outro entendimento que se fundamenta no fato de que a emenda não advém do

 poder legislativo ordinário. Ela advém de uma emanação do poder constituinte originário

que é o poder constituinte derivado reformador, e, portanto, como é poder constituinte,

estaria dispensada desta regra do art.5º, XXXVI, CR/88

# Direito de greve para servidor público. Segundo o STF, o servidor público não

tem direito à greve. Observa-se, no entanto, que a redação do art 9 º § 1º, CR, estabelece

que a lei definirá os serviços e atividades essenciais para necessidades inadiáveis da

comunidade, e não que a lei seja necessária para o exercício do direito de greve! Desta

forma, não é necessário lei para que o servidor exerça o direito de greve. Mas o supremo

 pegou o art 9º, § 1º e entendeu que para que o servidor público possa realizar greve, é

necessário o advento de uma regulamentação posterior, isto é, trata-se de norma de eficácia

limitada. Enquanto não advier esta norma, o servidor público seja de serviço essencial ou

não fica impedido de exercer este direito.

 Na prova da defensoria pública, a melhor forma de se responder questão que verse

sobre este assunto é dizer que embora seja norma de eficácia limitada, há remédios que

 podem sanar esta omissão legislativa, quais sejam, ação direta de inconstitucionalidade por 

omissão( impetrada pelos legitimados, que são os mesmos legitimados para Adin) e o

mandado de injunção.

# Diferença entre o mandado de injunção e a ação direta de inconstitucionalidade

 por omissão. Na Adin por omissão somente as partes legitimadas podem propor, enquanto

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o mandado de injunção pode ser impetrado por qualquer indivíduo, é um remédio

individual.

Vale ressaltar, no entanto, que o STF tem entendido que quando do mandado de

injunção, o judiciário não pode obrigar o legislativo a legislar, sob pena de afronta o

 princípio da independência dos poderes insculpido no art. 2º CR/88. Lembre-se tb que o

 judiciário não pode legislar no lugar do legislativo. O judiciário não pode funcionar como

legislador positivo. O máximo que o STF pode fazer é funcionar como legislador negativo.

A atividade legislativa negativa do supremo consiste em retirar do ordenamento as normas

incompatíveis com a constituição.

# Diferença entre norma de eficácia limitada e norma de eficácia contida. Norma de

eficácia limitada – a constituição diz que vc tem aquele direito mas para que vc possaexercê-lo é preciso que advenha uma regulamentação posterior de um órgão executivo ou

de um órgão legislativo. A norma de eficácia contida tem a princípio uma eficácia plena,

ela produz feitos desde logo, tem aplicabilidade imediata. Só que ela pode ser restringida

 por uma norma infraconstitucional, exemplo: art 5º, XIII.

DIREITOS DE 4ª GERAÇÃO. Direito à manipulação genética, BIOGENÉTICA.

DIREITOS DE 5ª GERAÇÃO. Direitos de realidade virtual, direitos de internet.

O Estado está obrigado a prestar saúde curativa? O que é “núcleo essencial”?

Os direitos fundamentais podem ser interpretados através de dois princípios: o

 princípio da máxima efetividade e o princípio da reserva do possível. O princípio da

máxima efetividade implica em retirar o máximo de efeitos possíveis da norma. Exemplo :

art 196, direito à saúde. Vai-se retirar o máximo de eficácia possível desta norma para

entender que o indivíduo tem direito público subjetivo à prestação de saúde preventiva e

curativa. Da mesma forma, a norma do art 208 § 1º , que diz o acesso ao ensino obrigatório

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e gratuito é direito público subjetivo, será interpretada no sentido de se entender que isto

abrange o ensino fundamental, médio e universitário.

Já o princípio da reserva do possível é um principio de natureza econômica.

Significa que o Estado reconhece os direitos fundamentais mais está limitado à sua reserva

de caixa, reserva de disponibilidade. A doutrina argumenta (Ricardo Lobo Torres) dizendo

que os direitos fundamentais existem mas que há um núcleo, um coração dos direitos

fundamentais, e este núcleo sim, deve ser respeitado. Este núcleo é o mínimo existencial

dos direitos fundamentais. O que está em volta deste núcleo pode ser retirado, inclusive de

acordo com a reserva do que é possível prestar. Há momentos em que se tem que fazer as

chamadas “escolhas trágicas”, escolhas entre um e outro doente, p. ex, (deixa de prestar 

fisioterapia para um doente, para prestar medicamentos para alguém que tem AIDS)

PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE : o intérprete vai retirar o máximo de eficácia

 possível da norma que concede direitos fundamentais (humanos)

PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL : o intérprete vai respeitar e não

modificar o núcleo, o coração dos direitos fundamentais, este núcleo é não modificável.Trata-se de princípio interpretativo de dir. econômico ( Ricardo Lobo Torres e Ana Paula

Barcellos). Os serviços prestacionais devem ser prestados de acordo com a possibilidade

que o estado possui. “Escolhas Trágicas”.

Art. 196, CF/88 pode ser interpretado de duas maneiras: saúde preventiva e saúde

curativa (máxima efetividade) ou somente saúde preventiva ( reserva do possível ).

Art. 208, CF/88 quando fala em ensino obrigatório está se referindo a ensino

fundamental, médio e universitário ou pode se entender que o ensino obrigatório se refere

apenas ao ensino fundamental.