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Profa. Letícia Sangaletti

Aula Sobre Genero Dramatico

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Profa. Letícia Sangaletti

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Para Anatol Rosenfeld: “Pertencerá à Dramática toda obra dialogada em que atuarem os próprios personagens sem serem, em geral, apresentados por um narrador”. (ROSENFELD, 2006, p. 17)

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O beijo no asfalto (Nelson Rodrigues)

Primeiro ato (Distrito Policial, corresponde à praça da

Bandeira. Sala do delegado Cunha. Este, em mangas de camisa, os suspensórios arriados, com um escândalos o revólver na cintura. Entra o detetive Aruba.)

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ARUBA (sôfrego e exultante) — O Amado Ribeiro está lá embaixo! (Cunha, que estava sentado, dá um pulo. Faz a volta da mesa.)

CUNHA— Lá embaixo?ARUBA— Com o comissário. Disse que.CUNHA (agarrando o detetive) — Arubinha,

olha. Você vai dizer a esse moleque!ARUBA — Está com fotógrafo e tudo!

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CUNHA — Diz a ele, ouviu? Que se ele. Porque ele não me conhece, esse cachorro! (Amado Ribeiro aparece. Chapéu na cabeça. Tem toda a aparência de um cafajeste dionisíaco.)

AMADO (abrindo o gesto) — O famoso Cunha!

CUNHA (quase chorando de ódio, e, ainda assim, deslumbrado com o descaro do outro) — Você?

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AMADO — Eu. CUNHA (furioso) — Retire-se! AMADO — Cunha, um momento! Escuta! CUNHA (apoplético) — Saia! AMADO — Tenho uma bomba pra ti! Uma bomba! ARUBA (quer puxar Amado pelo braço) — Vem,

Amado! AMADO (desprendendo-se num repelão) — Tira a

mão! CUNHA (arquejante de indignação) — Escuta aqui. Ou

será que você. (fala aos arrancos) Então, você me espinafra!

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AMADO (com cínico bom humor) — Ouve, Cunha! CUNHA — Me espinafra pelo jornal. E ainda tem a

coragem! AMADO — Com licença! CUNHA (num berro) — Não dou licença nenhuma!

(muda de tom) Estou besta, besta! Com o teu caradurismo! Tem a coragem de pôr os pés no meu gabinete! Eu devia, escuta. Devia, bom! (quase chorando) Por tua causa, o chefe me chamou!

AMADO — Cunha, deixe eu falar!

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CUNHA — O chefe me disse o que não se diz a um cachorro! Na mesa dele, na mesa, estava a tua reportagem. O recorte da tua reportagem!

AMADO — Cunha, tenho uma bomba! CUNHA (sem ouvi-lo) — De mais a mais,

você sabe, Amado. O Aruba também sabe. Aquilo que você escreveu é mentira!

AMADO — Ó Cunha, sossega! O que é que há?

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sim, senhor! mentira! Eu não dei um chute na barriga da mulher! Mentira! É mentira! Dei um tapa! Um tabefe! Assim. O Aruba viu. Não foi um tapa?

ARUBA (gravemente) — Um tapa! CUNHA (triunfante) — Um tapa. Ela abortou,

não sei por quê. Azar. Agora o que eu não admito. Não admito, fica sabendo. Que eu seja esculachado, que receba um esculacho por causa de um moleque, de um patife como você! Patife!

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AMADO (com triunfal descaso) — Eu não me ofendo!

CUNHA (desesperado com o cinismo) — Pois se ofenda!

AMADO — Acabou? CUNHA (num derradeiro espasmo) —

Amado Ribeiro, escuta. Eu tenho uma filha. Uma filha noiva.

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Agradeça à minha filha, eu não te dar um tiro na cara.

AMADO (pela primeira vez violento) — Deixa de ser burro, Cunha! (Cunha desmorona-se em cima da cadeira. Passa o lenço no suor abundante. Arqueja.)

CUNHA (ofegante, quase sem voz) — Suma! AMADO (subitamente dono da situação) —

Quem vai sair é o Aruba! ARUBA (pulando) — Você é besta!

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CUNHA (resmungando) — Não admito... AMADO (para o Cunha) — Manda ele cair

fora! (para o detetive) Vai, vai! Desinfeta! ARUBA (para o cara) — Quem é você, seu! CUNHA (incoerente, berrando) — Desinfeta! ARUBA (desorientado) — Mas doutor! CUNHA (histérico) — Fora, daqui! (Aruba sai.)

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AMADO (exultante, puxando a cadeira) — Vamos nós.

CUNHA — Não quero conversa. AMADO — Senta... (Cunha obedece, sem consciência da própria

docilidade.) AMADO (na sua euforia profissional) — Cunha, escuta. Vi um caso agora. AIi, na

Bandeira. Um caso que. Cunha, ouve. Esse caso pode ser a tua salvação!

CUNHA (num lamento) — Estou mais sujo do que pau de galinheiro!

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AMADO (incisivo e jocundo) — Porque você é uma besta, Cunha. Você é o delegado mais burro do Rio de Janeiro.

(Cunha ergue-se.) CUNHA (entre ameaçador e suplicante) — Não pense

que. Você não se ofende, mas eu me ofendo. AMADO (jocundo) — Senta! (Cunha obedece novamente.) CUNHA (com um esgar de choro) — Te dou um tiro! AMADO — Você não é de nada. Então, dá. Dá! Quedê? CUNHA — Qual é o caso?

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O texto dramático é escrito para ser representado.

Dramático = ação (vem do verbo grego dráo= fazer)

Sem interferência de narrador Diálogos = pathos e o problema Pathos: tom de linguagem que comove,

provoca paixão, envolve o expectador que passa a vivenciar a dor ou o prazer com o ator.

Problema: a proposição, o que o autor do texto dramático se propõe a resolver.

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Diálogo: ação sem mediação. Impressão de que tudo acontece pela primeira vez.

Dramático reúne pathos e o problema Pathos: tom de linguagem que comove,

provoca paixão, envolve o expectador que passa a vivenciar a dor ou o prazer com o ator.

Problema: a proposição, o que o autor do texto dramático se propõe a resolver.

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O mundo nele representado (pois o texto dramático se completa na representação) apresenta-se como se existisse por si mesmo, sem a interferência de um narrador”.

(SOARES, 1999, p. 59)

Projeção para o final – expectativa – desfecho ou solução

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Cada parte de uma peça se interliga a outras: consequência da anterior e causa da seguinte.

Para Aristóteles, Unidade de ação: “Essa interdependência das partes é

responsável pela tensão que, por sua vez, exige a concentração no essencial e a aceleração do tempo, para que nada se perca, nem se veja prejudicado o sentido do todo”. (SOARES, 1999, p. 59)

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TRAGÉDIA: É a representação de ações dolorosas da condição humana, no caso são  pessoas comuns. A ação visa provocar no espectador piedade e terror, terminando em geral de forma fatal. O objetivo era provocar a "catarse" ou purificação. Ex." Édipo Rei“ de Sófocles

DRAMA: COMÉDIA:

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Tragos (bode) + oide (canto) = tragédia Surgiu no mundo grego, século V a.C. De

acordo com Aristóteles, sua origem está no ditirambo (canto dionisíaco)

“No capítulo VI de sua Poética, Aristóteles conceitua a tragédia como a mímesis de uma ação de caráter elevado (importante e completa), num estilo agradável, executada por atores que representam os homens de mais forte psique, tendo por finalidade suscitar terror e piedade e obter a catarse (libertação) dessas emoções) (SOARES, 1999, p. 60-61)

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O herói trágico se vê entre duas forças opostas: o ethos (seu próprio caráter) e o dáimon (destino)

Hybris: coloca o herói em falha trágica e o conduz à destruição de seu mundo.

Aristóteles distinguiu seis partes da tragédia: a fábula (ou mito), os caracteres, a evolução, o pensamento, o espetáculo e o canto.

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A fábula (ou mito), se estrutura pela subordinação entre as partes, criando a unidade de ação. Antes de chegar ao desfecho, o autor de tragédias deve construir o nó, o reconhecimento, a peripécia e o clímax.

O Édipo Rei, por exemplo, decorre de uma peripécia e possui todos os elementos citados acima.

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"Édipo era filho de Laio, rei de Tebas, e de Jocasta. Laio e Jocasta, pouco antes de se unirem, consultaram o oráculo de Delfos sobre sua descenciência e o destino de seus filhos. Ouviram do oráculo uma terrível profecia: 'O filho que tivessem viria a ser o assassino de seu pai e o marido de sua mãe.‘

Laio, então, ao nascer o seu primeiro filho, temeroso dos ditames do oráculo, tomou a drástica decisão de matá-lo. Para evitar a terrível profecia, encarregou um de seus servos da morte da criança.

O servo, porém, lutando entre o horror da sua tarefa e a fidelidade ao seu rei, se limitou a perfurar os pés da criança e suspendê-la com uma corda nos galhos de uma árvore do monte Cíteron.

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O pastor Forbas, que nas redondezas tomava conta dos rebanhos de Políbio, rei de Corinto, atraído pelo choro do menino se comoveu, tomou-o a seus cuidados e o entregou a Políbio. Sua esposa, a rainha, acolheu amorosamente a criança e a adotou como filho. Em virtude de seus pés inchados, deu-lhe o nome de Édipo (em grego Oidipous, que significa 'pé inchado').

E cresceu forte a criança. Mal contava quatorze anos e já destacava-se perante a oficialidade da corte sendo admirado por sua força, destreza e sagacidade. Em jogos, lutas e corridas, Édipo era muito superior a seus companheiros, o que o dignificava ainda mais perante toda a corte. A tal ponto ele era um vencedor, que despertava mesmo um forte sentimento de inveja entre os outros. Certa vez, um deles, humilhado pela superioridade de Édipo, disse-lhe com raiva que ele não era nada senão umenjeitado, um filho adotivo dos reis.

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Atormentado por esta dúvida em seu espírito e cheio de ansiedade, começou a inquirir sobre seu nascimento. Sempre que perguntava à rainha, a quem ele julgava ser sua mãe, esta esforçava-se por persuadi-lo de que ele era de fato seu filho. Não satisfeito, no entanto, Édipo busca socorro na consulta ao oráculo de Delfos. Dele recebe um terrível conselho: 'Não retornar jamais a sua terra natal para não vir a ser o assassino de seu pai e o marido de sua mãe, pois dele nasceria uma raça odiosa.'

Impressionado por esta violenta predição e para que ela nunca se realizasse, não volta mais a Corinto julgando que ali se encontravam seus pais. Regulando-se pelos astros no céu, Édipo toma o caminho da Fócida.

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Numa estrada estreita encontra um velho escoltado por alguns guardas. Este ordena-lhe com arrogância e altivez que saísse do caminho. Ameaçadoramente, toma a espada e tenta obrigá-lo a deixar a passagem livre. Mas, não se humilha impunemente um príncipe. Édipo reage e com sua enorme destreza e treino militar acaba matando tanto o ancião quanto os guardas, é desnecessário dizer que a trágica profecia começa a tecer sua rede sobre o destino de Édipo. ancião era Laio.

Chegando nas cercanias de Tebas, Édipo encontra a cidade desolada por uma calamidade inaudita. Como se não bastasse a morte de seu rei, a esfinge, monstro nascido de Equidna e Tifon, fora enviada pela deusa Juno contra os tebanos. Com sua cabeça, face e mãos de mulher, cauda de dragão, voz de homem, corpo de cão, asas de pássaro e garras de leão este monstro propunha um enigma a todos os viajantes dizendo-lhes: 'Decifra-me ou te devoro.’

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No monte Ficeu, às portas de Tebas, exercia sua devastidão, estraçalhando aqueles incapazes de adivinhá-la. O enigma que propunha às suas vítimas era usualmente este: 'Qual é o animal que, de manhã, tem quatro pés, dois ao meio-dia e três pés ao entardecer?' A morte da esfinge, que livraria os caminhos do monstro e salvaria Tebas, dependia da explicação do enigma. Era decifrá-lo; e muitos haviam morrido tentando.

Creon, irmão de Jocasta e agora o rei de Tebas, em desespero oferece sua irmã em casamento e, conseqüentemente, a coroa do reino àquele que; destruindo a esfinge, salvasse Tebas. Espalha-se a notícia em toda a Grécia. O repto está lançado. A mão do vaticínio fecha-se implacavelmente sobre o destino de Édipo. Ele aceita enfrentar a esfinge.

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Neste momento, é bem-sucedido em sua tarefa. Demonstrando a sagacidade que lhe é peculiar, ousa desvendar o mistério da esfinge. Diante do enigma que lhe é posto, Édipo aponta para si próprio e responde que o animal é o homem, pois este engatinha na infância, o amanhecer da vida, e se utiliza de quatro pés, anda sobre duas pernas ao meio-dia, na plena idade, e, finalmente, ao entardecer da existência, na velhice, usa uma bengala, andando, então, com três pés.

Ao monstro adivinhado nada resta. Joga-se do penhasco e mata-se quebrando a cabeça contra as pedras. Édipo é o novo rei de Tebas. É, também, o marido de Jocasta. Na cama nupcial, como mulher apaixonada, está, agora, sua própria mãe. Mas de nada ninguém ainda sabe, e eles seguem governando Tebas e gerando quatro filhos. Dois são homens: Etéocles e Polinice. Duas são mulheres: Antígona e Ismênia.

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Passam-se os anos e o reino é acometido de uma nova desgraça. Uma peste sem precedentes devasta igualmente homens e animais. Desafia a ciência, as preces, os sacrifícios e destrói implacavelmente toda a região. O oráculo, como refúgio de todos os desgraçados, é, ainda uma vez, consultado. Dele se obtêm as armas para derrotar a peste. O oráculo diz que os tebanos dela se livrariam quando descobrissem e expulsassem do reino o assassino do antigo rei Laio. A peste, dizia o oráculo, era uma punição aos tebanos por não terem procurado vingar o seu rei.

Édipo, ele próprio, como mandatário ordena um minucioso inquérito, uma investigação exaustiva, sobre a morte de Laio. Pouco a pouco, juntando depoimentos de antigos servos, as profecias dos oráculos, conversas com Jocasta e suas próprias lembranças, a dura verdade vai-se desenhando.

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Pedaço por pedaço, face por face, passo a passo vai recaindo sobre Édipo a impossível verdade do seu destino marcado. Ele era aquele assinalado pelo oráculo como causador da peste. O matador de seupróprio pai. O marido de sua mãe.

Jocasta mata-se imediatamente. Édipo se pune arrancando os próprios olhos, pois não se julga mais merecedor de contemplar a luz do Sol. É expulso do reino por seus filhos, que assumem o comando de Tebas. Apenas Antígona não o abandona e, no exílio, acompanha seu desgraçado pai.

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Os dois juntos acabam por se deter perto de uma pequena localidade, Colona, nas vizinhanças de Atenas. Ali entram num bosque consagrado aos Eumênidas cujo acesso era proibido a todo e qualquer profano. Alguns habitantes da área, horrorizados pelo sacrilégio, querem matá-lo. Antígona implora por seu pai e consegue que ambos sejam levados à presença de Teseu. Este os recebe com hospitalidade. Dá a Édipo seu poder como apoio e seus estados como refúgio. Teseu o protege. Édipo lembra que um oráculo de Apoio predisse sua morte em Colona e que seu túmulo seria o penhor da vitória dos atenienses sobre todos os povos seus inimigos.

Édipo, tempos depois, ao ouvir um trovão crê que é hora de sua morte. Dirige-se com Teseu à beira de um penhasco, troca sua roupa de guerra por vestes especiais, recomenda suas filhas ao seu protetor e espera a morte. Em seguida. como o solitário testemunho de Teseu, a terra treme. Se entreabre suavemente. Sem violência e sem dor Édipo é recebido, agora finalmente em paz, para a morte.”

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ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. 4ª e. – 1ª reimpressão. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

SOARES, A. Gêneros Literários. 5ª e. São Paulo: Editora Ática, 1999.

SÓFOCLES. Édipo Rei Trad. Domingos Paschoal Cegalla.3ª edição. Rio de Janeiro:

DIFEL, 2005