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Aula sobre Propriedade Intelectual IME-USP 24/03/2020
EDUARDO ARIENTE
Mestre e Doutor em Direito (USP)
Professor da Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie;
Coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT-UPM);
Pesquisador do Núcleo Jurídico do
Observatório da Inovação e Competitividade
Instituto de Estudo Avançados (IEA-USP)
Contato: [email protected]
Art. 2º, IV Inovação é a introdução de novidade
ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo e
social que resulte em novos produtos, serviços
ou processos ou que compreenda a agregação
de novas funcionalidades ou características a
produto, serviço ou processo já existente que
possa resultar em melhorias e em efetivo ganho
de qualidade ou desempenho (Lei n. 13.243/16)
CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL
Definição sobre PI: Direito de exclusividade
temporária sobre a exploração econômica de
criações de natureza técnica (patentes,
softwares), artísticas (direitos autorais) ou de
indicações de procedência de produtos ou
serviços (marcas)
PI repercute no desenvolvimento científico,
tecnológico, industrial, além nos direitos sociais
da educação, saúde e cultura
Posições sobre o papel da PI (patentes e
direitos de autor) para a inovação/criação
1 – PI colabora para o surgimento de novas criações; sem PI não há novos investimentos nem novas tecnologias : Big Pharma, MPAA, RCAA, ABDR, Robert Sherwood, Bruno Hammes, Carlos Alberto Bittar, ECAD
2- Sistema de PI precisa ser reformulado para poder colaborar com o surgimento de novas criações: PI precisa ser reformulada; Lawrence Lessig, Mariana Mazzucato, Maristela Basso, Calixto Salomão Filho, James Boyle, Electronic Frontier Foundation, Denis Borges Barbosa
3 – PI configura obstáculo à inovação : The Economist, Joost Smiers, Joseph Stiglitz, Boldrin & Levine, Open Knowledge Foundation, Richard Stallman, Peter Drahos
Classificação de Newton Silveira
PI CRIAÇÕES (patentes, direitos autorais)
SINAIS DISTINTIVOS (marcas)
Classificação de Newton Silveira
DIREITOS DE AUTOR (DA)
CRIAÇÕES SOFTWARES
PATENTES E DESENHOS
INDUSTRIAIS (LPI)
Classificação de Newton Silveira
INVENÇÕES
PATENTES
MODELOS
CRIAÇÕES NA DE UTILIDADE
LEI DE PROPRIEDADE
INDUSTRIAL
(Lei n.º 9.279/96)
DESENHOS INDUSTRIAIS
art. 7º da LDA (9.610/98) e art. 2º da
Lei do Software (9.609/98)
Obras literárias, artísticas e científicas
Coreografias
Traduções
Obras musicais
Obras audiovisuais
Direitos autorais Projetos de engenharia civil e arquitetura
Ilustrações e desenhos
Adaptações e traduções
Conferências
Enciclopédias, compilações de dados,
Dicionários, Bases de dados
Programas de Computador
PI: Abordagem proprietária x não proprietária
Conhecimento: patrimônio da humanidade x patrimônio individual
Homebrew Computer Club (1975-1986): ética comunitária (Wozniak) x lógica comercial (Jobs, Gates)
2011: Apple x Google
Computador : Atanasoff x Mauchly ; Eckert e Mauchly x Von Neumann
Software livre x proprietário
Wikipedia x Encarta, Britannica, Barsa
Patentes em questão
Vantagens
Mais recorrente medida de apoio
Vantagens competitivas
Possibilidade de comercialização desde o pedido
Atestado de qualidade da invenção
Desvantagens
Custos
Manutenção complexa
Proteção precária
Novidade global
Externalidades
Patentes “defensivas”/
“trollagem”
Trollagem de Patentes
Patentes empregadas como instrumento de
bloqueio de concorrência e concentração de
mercado ;
Ameaças de processos milionários; patentes
vagas, sem atividade inventiva ou novidade
Setor de alta tecnologia : 90% dos litígios movidos
por empresas não ligadas à produção
RIM v NTP case (2005) – Patente de e-mail sem
fio : Proposta de acordo de $612.5 milhões (USD)
Lodsys v. Combay, Apple et al (2011) - Aplicativos
Estímulos à inovação:
a) Estímulos fiscais (públicos)
b) Prêmios estatais (compras públicas e
encomendas tecnológicas)
c) Exclusividade artificial (PI)
d) Segredo Industrial (privado)
e) Trabalho profissional (salário – público
ou privado)
f) Competição e diferenciação de produtos
g) Reputação, cooperação, altruísmo
Visões da revista The Economist, Joseph
Stiglitz e Ha-Joon Chang sobre a relação
entre Propriedade Intelectual e Inovação
Revista The Economist (08/08/2015)
Editorial de 1851 : “a concessão de patentes
“estimula fraudes, incita a elaboração de
estratagemas que possibilitem impor taxas à
sociedade, gera conflitos e disputas entre
inventores, dá margem a infindáveis processos
judiciais, além de premiar as pessoas erradas”.
“o livre comércio e a concorrência faziam bem
à economia; as patentes restringiam ambas as
coisas; e que, em vista disso, elas não
deveriam reformuladas, e sim abolidas”
The Economist : Questão de Utilidade (08/08/2015)
Argumentos centrais
Patentes atrapalham a inovação e o livre comércio
Não basta melhorar ou remendar o sistema de patentes; é preciso aboli-lo
Se a Revolução Industrial não precisou delas, qual sua serventia?
No século XIX, países sem patentes era tão inovadores quando os com patentes
Os indícios de que o fortalecimento dos regimes de patentes impulsiona a inovação são pouco consistentes, quando não completamente inexistentes
The Economist : Questão de Utilidade (08/08/2015)
Argumentos centrais
Controle excessivo sobre a PI no software é
contraproducente – ex. Android x Windows
Patentes são descritas de forma genérica para
não permitir a transferência de conhecimento
Patentes registradas como autodefesa: a
depender do setor, entre 40 a 90% das
patentes registradas nunca serão licenciadas
Até 1967, não havia proteção às patentes na
Alemanha
Joseph Stiglitz : Economic
Foundations of Intellectual
Property Rights
Tese: Impactos econômicos da assimetria da informação
Países norte-sul: Disparidade não somente de recursos, mas de conhecimento
TRIPS: Restringiu o acesso de países pobres a medicamentos genéricos
Conhecimento é um bem público (E.Ostrom)
Benefícios privados não recompensam os custos sociais da PI. Ex. genoma, basmati
Patentes geraram aumento do custo do acesso ao conhecimento
Geração de monopólios distorcem o direito da concorrência e são ruins para mercado e consumidores – ex. Windows
Ha-Joon Chang :
“Chutando a Escada”
Inglaterra adotou o livre comércio apenas nos período em que dominava o comércio mundial (1860-1932)
EUA foram protecionistas até o momento em que a conjuntura internacional proporcionou uma situação favorável às suas exportações (1816-1944)
Ha-Joon Chang :
“Chutando a Escada”
Países desenvolvidos bloqueiam o acesso ao
desenvolvimento àqueles que ainda em processo
de industrialização
Proibição de exportação de máquinas e de mão
de obra especializada – Séc. XVIII e XIX
Reconhecimento tardio de PI estrangeira
Espionagem industrial com apoio dos governos
Instrumentos fiscais de incentivo aos empresários
nacionais
Patentes e desenvolvimento
industrial
Denis Borges Barbosa: “Por muitos anos, os
próprios EUA não protegiam os direitos
autorais estrangeiros; a Suíça não reconhecia
patentes a nenhum inventor; a Holanda
considerava imoral conceder privilégios na
indústria...até que a massa de invenções e
criações de seus próprios nacionais
tornassem mais interessante dar proteção em
termos gerais”
Recados Finais
Nunca tratar PI de forma apartada das
políticas industriais do país
PI é um dos instrumentos de apoio à inovação
Inovação é feita por pessoas e empresas
dispostas e necessitadas a fazê-la
80% das patentes depositadas no Brasil são
de estrangeiros
A cada dólar recebido a título de PI pelo
Brasil, saem 06.
Para saber mais
•Eduardo Ariente: Função Social da
Propriedade Intelectual. Ed. Lumen Juris, 2015
•Ha-Joon Chang : Chutando a Escada
•Mariana Mazzucato : O Estado Empreendedor
•Joseph Stiglitz : Economic Foundations of
Intellectual Property Rights
•Lawrence Lessig : Future of Ideas, Remix e
Free Culture