4
7/21/2019 Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1) http://slidepdf.com/reader/full/aula8-estudossocioantropologicos-1 1/4

Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

socioantropológico

Citation preview

Page 1: Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

7/21/2019 Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

http://slidepdf.com/reader/full/aula8-estudossocioantropologicos-1 1/4

Page 2: Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

7/21/2019 Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

http://slidepdf.com/reader/full/aula8-estudossocioantropologicos-1 2/4

mesmo calafrio, esta mesma repulsa, em presença de maneiras de viver, de crer ou

de pensar que nos são estranhas.

O resultado é que nos recusamos a admitir a própria diversidade cultural,

preferindo repetir da cultura tudo o que esteja conforme à norma sob a qual se vive.

Mas a partir do texto da aula passada, devemos nos olhar, ou seja, pensar a nossa

sociedade a partir da ideia de diversidade cultural. Pois o texto sobre os Sonacirema

é na verdade um texto sobre nós mesmos, só que descrito a partir de um olhar de

estranhamento, o mesmo que atribuímos aos povos diferentes de “nós”. Sonacirema

é americano escrito de trás para frente e todos os rituais descritos no textos são

nossas formas de viver o cotidiano descritos por alguém que supostamente nada

conhecia da nossa cultura. A percepção de que nossa forma de vida tem muito o

que ser estranhado também nos ajuda a entender o relativismo, que estamos

discutindo.

Essa nova abordagem se tornou possível em razão da institucionalização do

trabalho de campo  como método de pesquisa antropológica pelo polonês

Malinowski, em 1922. Até então era prática comum a existência dos “antropólogos

de gabinete”. Estudiosos que não visitavam as sociedades estudadas, mas

contavam com os dados obtidos por viajantes, missionários, funcionários do estado.

Essas pessoas visitavam as “sociedades exóticas”, recolhiam informações, objetos,

produziam descrições e era a partir desse material que o antropólogo trabalhava.

Tal método não poderia ter sido considerado eficaz em razão de dois motivos,

primeiro porque essas pessoas não tinham formação antropológica, segundo,

porque o antropólogo não poderia atestar a veracidade desses dados, uma vez que

não os recolheu. A partir do método do trabalho de campo como prática

imprescindível da antropologia, os estudiosos passaram a ter que viver por um

período longo com as sociedades estudadas, aprendendo sua língua, observando

diariamente seus costumes, suas regras sociais. Tal condição permitiu ao

antropólogo compreender mais profundamente a sociedade estudada e deixar de

focar a Europa como foco comparativo, a partir de onde a “sociedade exótica” era

pensada.

Com isso, trata-se de pensar que antropologia deixou de perceber, como

fizera no início, que as sociedades passariam por etapas sucessivas de um estágio

civilizatório. A partir de uma perspectiva relativista, as sociedades estudadas se

tornaram o seu próprio centro, e a Europa, ou seja, a sociedade do pesquisador,

Page 3: Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

7/21/2019 Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

http://slidepdf.com/reader/full/aula8-estudossocioantropologicos-1 3/4

deixou de ser um ponto de referência comparativo para se pensar

antropologicamente a respeito das sociedades estudadas. E o evolucionismo como

disse o antropólogo Lévi-Strauss foi entendido como uma tentativa de suprimir a

diversidade das culturas fingindo reconhecê-las plenamente. Desde então o

antropólogo cunhou uma célebre frase para desqualificar o pensamento

evolucionista e aqueles que defendem essa posição teórica: Bárbaro é antes de

tudo aquele que acredita na barbárie. Portanto, a partir dessa revolução na teoria

antropológica, como salienta DaMatta (1987),

 A comparação deixou de ser uma vitrine de museu, através da qual

o observador “civilizado” via e classificava todos os primitivos, para

transformar-se num espelho, onde o primeiro rosto a ser visto é o

seu próprio. Foi graças a essa perspectiva que a antropologia pôde

contribuir para a enorme renovação apresentada, sobretudo a partir

da mudança de atitude que aproximou o observador do nativo e

assim permitiu um conhecimento muito mais aprofundado das

diversas lógicas que certamente são imperativas em cada sociedade

humana. A síntese (...) não poderia mais realizar-se no plano da

história determinada pelo progresso, mas com a posição relativizada

que permite cada vez mais estudar outras sociedades sem os

prismas dogmáticos de teorias que jamais permitem sua própria

relativização. (...)

Na história da antropologia social existem, portanto, como que

duas vertentes analíticas claramente visíveis. A primeira está

representada pelo evolucionismo, onde existe uma perspectiva

totalizadora, uma sociedade tomada sempre como ponto de

referência indiscutível e uma teoria histórica que permite alinhavar

todos os costumes em termos de valores muito importantes ao

sistema ocidental. O segundo paradigma, relativista, mostra uma

tendência oposta. Aqui, trata-se de desenvolver uma visão parcial,

mas extremamente acurada da operação das sociedades humanas.

Se o evolucionismo tem por um lado a vantagem de possuir uma

posição globalizadora, não perdendo de vista os costumes de toda a

humanidade, por outro ele tem a desvantagem de não poder

Page 4: Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

7/21/2019 Aula_8_-_Estudos_Socioantropológicos (1)

http://slidepdf.com/reader/full/aula8-estudossocioantropologicos-1 4/4

perceber as forças concretas que movem os sistemas sociais não-

familiares ao observador o qual tende a interpretá-los projetando

neles os seus próprios valores.

Conclusão 

Nesse sentido, o que deve ficar claro é que se a antropologia teve início tendo

como perspectiva um linha evolucionista através das quais as sociedades

necessariamente passariam, esse paradigma rapidamente foi considerado

equivocado. A teoria antropológica superou esse paradigma ao adotar uma

perspectiva teórica relativista, isto é, que observa os “nativos” a partir do ponto de

vista do “nativo” e não do ponto de vista do pesquisador, que classificava a

sociedade estudada a partir de seus próprios valores. As sociedades passaram a ser

consideradas como tendo uma racionalidade própria, ou seja, suas crenças, seus

valores, seus costumes, se colocam ao lado da cultura do colonizador, e não abaixo

dela.

O relativismo se torna, portanto, um fundamento antropológico na medida em

que reconhece que cada ser humano vê o mundo sob a perspectiva em que nasceu.

E na medida em que reconhece que as civilizações coexistem com sistemas

próprios de crenças que não podem ser considerados superiores ou inferiores,

avançados ou atrasados, a cultura deixa de ser vista como Cultura com C maiúscula,

e passa a ser entendida como culturas, com c minúsculo e no plural. Isso ocorre

porque a antropologia não defende mais existência de uma cultura única pela qual

todas as sociedades passariam, atingindo as diferentes escalas de evolução, e

passou a defender a existências de diferentes culturas com suas especificidades.