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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
NO TRABALHO DOCENTE NO CENTRO
DE TECNOLOGIA DE UMA
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR
PÚBLICA
Francis Amim Flores (UENF )
Andre Luis Policani Freitas (UENF )
A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) tem sido objeto de
preocupação entre profissionais de diferentes áreas e muitas vezes é
avaliada como sendo o bem-estar do trabalhador durante a execução
de sua tarefa. Estudos têm apontado a importânciia da mensuração da
satisfação profissional e sugerido a associação da satisfação no
trabalho com melhor Qualidade de Vida e menor índice de estresse
relacionado ao trabalho e com a produtividade. Para serem eficazes,
as empresas dependem da participação e comprometimento de todos os
indivíduos envolvidos com a organização, de forma a alcançar suas
metas. Este cenário não é diferente para o trabalho docente em
Instituições de Ensino Superior (IES), embora a relevância e o impacto
da QVT e do aspecto competitivo neste ambiente organizacional não
seja tão facilmente percebido e compreendido quanto nos ambientes e
setores industriais. Neste sentido, neste artigo buscou-se mensurar a
QVT de docentes por meio do emprego do modelo proposto por Freitas
e Souza (2009), tendo sido incorporados alguns itens de avaliação. Por
meio de um estudo realizado no Centro de Ciências e Tecnologia de
uma IES pública foi possível mensurar a QVT segundo o desempenho
da IES e segundo a frequência de ocorrência de fatores associados à
QVT; identificar os itens mais críticos em termos de QVT (por meio da
Análise dos Quartis); e mensurar a confiabilidade do instrumento, por
meio do uso do alfa de Cronbach. Como resultados, constata-se que
existem evidências de comprometimento da QVT em termos das
dimensões Segurança e saúde nas condições de trabalho, Trabalho e
espaço de vida, Compensação justa e adequada e Oportunidade de
carreira e garantia profissional, mais bem percebidas pela criticidade
da IES à luz dos seguintes aspectos: relação entre o salário e
benefícios recebidos e a contribuição do servidor para com a
organização e o cargo ocupado; impacto das atividades de trabalho na
vida; gratificações por produtividade; condições do ambiente de
trabalho; e, participação dos professores em atividades comunitárias,
confraternizações e lazer.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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Palavras-chave: Qualidade de Vida no Trabalho, Docente, Instituições
de Ensino Superior
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) tem sido objeto de preocupação entre profissionais
de diferentes áreas e muitas vezes é avaliada como sendo o bem-estar do trabalhador durante a
execução de sua tarefa. A satisfação no trabalho tem se tornado um conceito chave dentro das
pesquisas de QVT. Alguns estudos têm apontado a importância da mensuração da satisfação
profissional e sugerido a associação da satisfação no trabalho com melhor Qualidade de Vida
e menor índice de estresse relacionado ao trabalho e com a produtividade.
As empresas, em busca da competitividade e a participação no mercado globalizado, estão
investindo e implantando tecnologias direcionadas para a Qualidade Total. Para serem
eficazes, dependem da participação e comprometimento de todos os indivíduos envolvidos
com a organização de forma a alcançar suas metas.
Este cenário não é diferente para o trabalho docente em Instituições de Ensino Superior (IES),
embora a relevância e o impacto da QVT e do aspecto competitivo neste ambiente
organizacional não seja tão facilmente percebido e compreendido quanto nos ambientes e
setores industriais. Em especial, nas IES, o ambiente competitivo é predominantemente
exercido entre pesquisadores e instituições em busca de melhores indicadores de
produtividade científica, indicadores estes que são utilizados para estabelecer a qualidade de
cursos e instituições. Em geral, em IES caracterizadas por suas ações direcionadas ao trinômio
ensino, pesquisa e extensão, são diversas as atividades exercidas pelos docentes. Agregam-se
ainda, em muitos casos, a realização de atividades administrativas e participação em
conselhos e colegiados nas diversas instâncias universitárias.
Ao longo dos anos, vários pesquisadores têm se dedicado à elaboração de modelos que
buscam avaliar a QVT sob diversos aspectos, dentre esses citam-se: Hackman e Oldham
(1975); Walton (1973); Westley (1979); e, Werther e Davis (1983). Neste contexto, Freitas e
Souza (2009) propuseram um modelo para avaliação da QVT em IES, segundo a percepção
de servidores técnico-administrativos. E, recentemente, Freitas, Souza e Quintella (2013)
apresentaram os resultados do emprego do referido modelo em uma IES.
Visando contribuir para esta questão, este artigo busca investigar o emprego do modelo
proposto por Freitas e Souza (2009) na avaliação da QVT segundo a percepção docente em
uma IES, identificando os aspectos críticos. Neste artigo, a seção 2 aborda concepções sobre
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QVT de docentes em IES, a seção3 descreve os procedimentos metodológicos, a seção 4
apresenta o estudo e os resultados e, por fim, a seção 5 apresenta as considerações finais.
2. QVT de docentes em IES
A qualidade de uma instituição de ensino superior depende da contribuição do corpo docente,
pois estes possuem impacto direto na aprendizagem dos alunos, podendo determinar o sucesso
dos estudantes (Machado et al., 2011). Para que isto ocorra, os professores necessitam estar
saudáveis física e mentalmente.
As condições de trabalho são fatores determinantes da análise da qualidade de vida e saúde
dos trabalhadores, os professores, em especial. A prática docente está suscetível ao desgaste
físico e mental, podendo comprometer o desempenho profissional (Savaris et al.,2011).
A qualidade de vida desses profissionais é afetada diretamente pelo excesso de trabalho
burocrático, problemas de infraestrutura e equipamentos, as relações conflitantes com os
colegas de trabalho ou mesmo com alunos, a competitividade e uma remuneração inadequada
(ROHDE et al., 2013). Segundo Santana et al. (2012), este panorama, através do qual os
professores têm passado ao longo dos anos, tem trazido uma série de problemas de saúde,
incluindo os relacionados à saúde mental. Além disso, a melhoria da saúde por meio de novas
formas de organizar o trabalho tem sido objeto de inúmeros estudos (SAVARIS et. al., 2011).
Dentro deste contexto, Freitas e Souza (2009) apontam que a QVT relaciona-se com a
mobilização, o comprometimento pessoal, a participação com o bem-estar do funcionário no
cumprimento da tarefa na instituição, visando o alcance das metas da Qualidade Total.
Segundo os autores, em um ambiente organizacional em que há uma gestão enérgica e
contingencial de fatores físicos, sociológicos, psicológicos e tecnológicos da organização do
próprio trabalho torna-se saudável e mais favorável ao aumento de produtividade.
No Brasil, as IES, em especial as Universidades Públicas, possuem um importante papel no
sucesso do país, pois são elas as responsáveis pela grande parte da ciência e tecnologia
brasileira, bem como na formação de mestres e doutores. Segundo Amorim (2010), a
aplicação da QVT na administração pública é capaz de preencher uma lacuna verificada, ao
longo dos anos, no nível de tratamento oferecido ao servidor público relativa à valorização do
seu trabalho e preocupação com o seu bem-estar e o de sua família. O gestor público tem
maior dificuldade em desenvolver seu processo de gestão e decisão, pois se encontra
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constantemente preso às amarras legais, como limites de investimentos estabelecidos no
orçamento, licitação, estrutura de cargos e carreira dos servidores, dentre outros.
Na visão de Pizzolato et al. (2013), a avaliação da QVT justifica-se para o indivíduo e para a
empresa pela importância da identificação dos pontos falhos, valorização de fatores essenciais
para uma apropriada qualidade de vida e, a partir de então, traçar estratégias de melhoria na
satisfação dos colaboradores com o trabalho, conduzindo assim a maior produtividade e,
consequentemente, contentamento dos clientes. Segundo Silva e Ferreira (2013), a partir do
momento em que a empresa obtém estas informações, pode melhor direcionar e fundamentar
programas de promoção da QVT, proporcionando aos colaboradores melhores condições de
trabalho, oferecendo-lhes a oportunidade de empregar todo o potencial produtivo.
Com o intuito de contribuir para o tratamento desta questão, Freitas e Souza (2009)
propuseram um modelo híbrido, fundamentado em estudos científicos existentes na área para
avaliar a QVT em IES. Freitas e Souza (2009) consideraram dimensões da QVT estabelecidas
por Walton (1973); Hackman e Oldham (1975); Westley (1979) e Werther e Davis (1983)
para compor um instrumento de avaliação composto de oito dimensões (fatores) e 46
questões. O Quadro 1 apresenta uma breve exposição das dimensões e aspectos abordados.
Quadro 1 - Breve descrição das dimensões e aspectos abordados
Fonte: Freitas e Souza (2009)
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3. Procedimentos metodológicos
O estudo foi realizado no Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) de uma universidade
pública. Atualmente, oito Laboratórios (Departamentos) estão vinculados ao CCT, associados
ao ensino e pesquisa em ciências físicas, ciências químicas, ciências matemáticas, engenharia
civil, engenharia e exploração de petróleo, engenharia de produção, materiais avançados e
meteorologia, além da biblioteca setorial e diversas secretarias e coordenações.
Segundo a Gerência de Recursos Humanos (GRH), na ocasião do estudo 105 docentes
estavam lotados no CCT. O questionário foi encaminhado à chefia de todos os setores e
posteriormente disponibilizado a todos os docentes. Após 20 dias, 43 questionários
respondidos foram contabilizados (aproximadamente 41% da população). O questionário
utilizado neste estudo, adaptado de Freitas e Souza (2009), é composto de três partes:
Parte 1 (Identificação do respondente): setor/departamento em que atua
predominantemente; cargo inicial, quando admitido na IES; cargo atual, ocupado na
ocasião da pesquisa; tempo em que trabalha na IES; tempo em que ocupa o mesmo
cargo na ocasião da pesquisa; nível de instrução inicial, quando admitido pela IES;
nível de instrução atual, na ocasião da pesquisa; carga horária semanal, exceto hora
extra; tempo médio de deslocamento da residência ao local de trabalho; idade; gênero;
número de filhos; atuação em outra atividade profissional; se estuda atualmente; e se
possui algum tipo de necessidade especial;
Parte 2 (Avaliação da QVT): As Dimensões foram decompostas em 52 questões
distribuídas em dois Blocos (Tabelas 2 e 3): Bloco 1, com 28 questões para avaliar a
QVT segundo o desempenho da IES, e Bloco 2, também com 24 questões para avaliar
a QVT segundo a ocorrência de fatores na IES. Para tanto, foram consideradas duas
escalas de mensuração com 5 pontos, não-forçadas e balanceadas (Quadro 2);
Parte 3 (Observações e sugestões): espaço aberto para o respondente apresentar
informações (aspectos positivos, aspectos negativos, observações e sugestões de
melhoria) acerca da QVT na IES.
Quadro 2 – Escalas utilizadas para avaliação da QVT
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Fonte: Adaptado de Freitas, Souza e Quintella (2013)
A Análise dos Quartis (Freitas et al., 2006) foi utilizada para identificar os itens críticos da
IES em termos de QVT. Com o intuito de verificar a confiabilidade do instrumento, utilizou-
se o coeficiente alfa de Cronbach (CRONBACH, 1951).
4. Resultados do estudo
A Tabela 1 revela que 85,71% dos docentes pertencem ao gênero masculino. Apenas 4,65%
dos respondentes possuem outra atividade profissional e 4,76% estudam atualmente. Os
respondentes são predominantemente casados (54,76%) e todos possuem doutorado (65,12%)
ou pós-doutorado (34,88%). É percebido também aperfeiçoamento no nível de instrução dos
servidores. Mais de 50% dos respondentes atua na empresa e estão no cargo atual há mais de
10 anos. A idade média é aproximadamente 49 anos.
Tabela 1 – Caracterização dos respondentes
Fonte: Autoria própria (2015)
A Tabela 2 apresenta o percentual de atribuição dos julgamentos em relação à frequência de
ocorrência de aspectos relacionados à QVT. Não há evidências de que a QVT esteja
comprometida em termos de Integração Social entre docentes, pois entre docentes do mesmo
nível hierárquico (P1), com superiores (P2), com subalternos (P3), e de outros setores (P4), este
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é considerado entre Bom e Muito Bom por, respectivamente, 83%, 88%, 90% e 81% dos
respondentes. A cooperação entre colegas (P5) e a integração no ambiente de trabalho (P6) é
considerada entre Bom e Muito Bom por 66% e 59% dos respondentes, respectivamente; e a
ascensão de um colega a chefe (P7) é bem compreendida por 61% dos respondentes.
A análise da dimensão Utilização da capacidade humana revela que o desempenho da IES é
predominantemente considerado entre Bom e Muito Bom em termos de intervenções dos
superiores nos trabalhos, com observações construtivas (P8) e realizadas de forma a permitir o
desenvolvimento do potencial e da criatividade (P9), respectivamente segundo 80% e 49% dos
respondentes (embora 12% dos respondentes considerem o desenvolvimento do potencial e da
criatividade (P9) entre ruim e muito ruim). O grau de independência para realização do
trabalho (P10) e de participação no planejamento das atividades (P11) é considerado entre bom
e muito bom, respectivamente por 90% e 88% dos respondentes. O nível de complexidade
para realização das atividades em termos de conhecimento, habilidade e talento (P12) é
considerado entre Bom e Muito Bom por 81% dos respondentes. Além disso, a quantidade e a
qualidade das informações disponíveis para realização do trabalho (P13 e P14) são
consideradas entre boas e muito boas por 76% e 80% dos respondentes, respectivamente.
Há evidências de problemas de QVT relacionados à Segurança e saúde nas condições de
trabalho, pois as condições do ambiente de trabalho (P15), o acesso ao local de trabalho (P18),
o espaço para o trabalho (P19) e os recursos materiais para execução da tarefa em termos de
quantidade (P16) e qualidade (P17) foram considerados entre ruim e muito ruim por 43%, 49%
26%, 45% e 47% dos respondentes.
Considerando a dimensão Constitucionalismo, 60% dos respondentes consideraram entre
bom e muito bom o desempenho da IES em termos da preservação da sua privacidade (P20),
19% dos respondentes consideraram entre ruim e muito ruim a possibilidade de recursos em
decisões tomadas na organização (P21), e 32% entre bom e muito bom.
Em relação à dimensão Trabalho e espaço de vida, 38% dos respondentes consideram entre
bom e muito bom, respectivamente, o nível de interferência dos assuntos relacionados ao
trabalho no ambiente familiar (P22), apesar de 26% dos respondentes considerarem ruim e
muito ruim, e 50% dos respondentes considera entre bom e muito bom o grau de impacto
causado pelo trabalho realizado na vida de outras pessoas (P23).
Há evidências de que a QVT esteja comprometida em termos da dimensão Compensação
justa e adequada, pois cerca de 69% e 83% dos respondentes, respectivamente, considera
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entre ruim e muito ruim a relação entre as atividades realizadas e o valor pago pela IES (P24),
e entre o valor pago para o cargo pela IES e por outras organizações do ramo (P26). Também
foi considerado entre ruim e muito ruim por 75% dos respondentes o desempenho da IES em
termos dos benefícios concedidos (P25).
A análise da dimensão Relevância social do trabalho revela que 90% e 71% dos
respondentes, respectivamente, consideram entre Bom e Muito Bom a importância do
trabalho na sua vida (P27) e a imagem da Universidade perante a comunidade local (P28).
Tabela 2 – Resultados da avaliação da QVT segundo o grau de desempenho da IES
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Fonte: Autoria própria (2015)
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A Tabela 3 apresenta o percentual de atribuição dos julgamentos em relação à frequência de
ocorrência de aspectos relacionados à QVT. Segundo Freitas et al. (2013), a interpretação dos
itens (F1, F2, F3, F7, F9, F11 e F18) deve ser realizada de forma inversa pois, quanto maior a
frequência percebida nesses itens, menor a QVT.
É possível que a QVT esteja comprometida em termos das condições psicológicas (F1) e
físicas (F3 e F4) do ambiente de trabalho e também do zelo pela saúde do trabalhador através
de exames médicos (F5 e F6). Segundo respectivamente 34% e 28% dos respondentes, entre
frequentemente e sempre o trabalho traz preocupações e aborrecimentos (F1); e, poeira, ruído
e o calor causam mal estar (F3). 27% dos respondentes afirmaram que nunca são utilizadas
técnicas de proteção e segurança no trabalho (F4) e, segundo 79% deles, nunca são realizados
exames médicos periódicos (F6).
A QVT pode estar comprometida em termos do impacto das atividades de trabalho, pois 69%
dos respondentes afirmaram, respectivamente, que entre frequentemente ou sempre levam
trabalhos para finalizar em casa (F7), 71% que a organização nunca ou raramente realiza
confraternizações ou atividades de lazer com servidores e famílias (F8) e 56% afirmaram que
frequentemente ou sempre fazem horas extras. Ou seja, dado o impacto das atividades de
trabalho na vida dos docentes, atrelados ao tempo disponível para lazer e atividades sociais, é
importante monitorar a intensidade e a frequência de atividades profissionais realizadas fora
do ambiente de trabalho, pois caso estas sejam muito frequentes e/ou intensas, poderão
contribuir para a redução do QVT.
Parece não haver problemas em termos de tratamento e liberdade de expressão, pois segundo
96% dos respondentes, entre frequentemente e sempre o tratamento é igualitário e sem
preconceitos, independente de sexo ou idade ou cargo ocupado (F12) e estes se sentem à
vontade para expressar opinião aos superiores (F13). 83% dos respondentes afirmam que
nunca recebem gratificações ou bonificações de acordo com a produtividade (F14), o que,
infelizmente, é usual no serviço público.
Também há evidências do comprometimento da QVT em termos das Oportunidades de
carreira, pois 35% dos respondentes afirmaram que nunca ocorreram promoções baseadas
em competência e produtividade (F16). Além disso, 57% afirmaram que entre nunca e
raramente há investimento na carreira através de oferecimento de cursos ou estímulo à
continuidade dos estudos por meio de cursos complementares, de graduação, pós-graduação
ou de especialização (F17). Além de comprometer a QVT, a continuidade desses aspectos ao
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longo dos anos poderá impactar negativamente na qualidade dos serviços, pois podem
propiciar acomodação e desinteresse dos docentes pelas atividades que executam.
Tabela 3 - Resultados da avaliação da QVT segundo a frequência de ocorrência de aspectos da QVT
Fonte: Autoria própria (2015)
A tabela 3 também revela que entre frequentemente e sempre as informações e conhecimento
sobre o trabalho são suficientes para decidir o que e como fazer o trabalho (F19); o resultado, a
qualidade e o bom desempenho do trabalho são de responsabilidade do servidor (F20); o
servidor participa da realização de toda a tarefa na sua função (F21), segundo a percepção de
90%, 97% e 89% dos respondentes, respectivamente.
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Em termos da dimensão Relevância Social, 63% dos respondentes consideraram que a IES é
reconhecida e possui prestígio nacional (F22) e que 84% destes sempre sentem orgulho de
dizer onde trabalha (F23). Por outro lado, 70% afirmaram que nunca participaram de projeto
social da IES junto à comunidade local (F24).
As Tabelas 2 e 3 também apresentam a confiabilidade à luz de cada uma das dimensões em
relação aos dois questionários utilizados. É importante notar que, apesar haver dimensões
presentes nos dois questionários, não é recomendado agrupar os itens pertencentes para
mensurar a confiabilidade, pois o significado semântico das escalas é diferente (desempenho e
frequência). Neste sentido, nota-se que na maioria das dimensões o valor do alfa de Cronbach
foi superior a 0,60 ou próximo deste valor, considerado por Hair et al. (2006) e Malhotra
(2006) como o valor mínimo aceitável para estudos exploratórios. Entretanto, os alfas
observados para a dimensão D8 (α = 0,356), em termos da QVT segundo o desempenho da
IES, e D3 (α = -0,077), D2 (α =0,291), D4 (α =0,397), D6 (α = -1,304) e D7 (α = 0,208), em
termos da QVT em função da frequência de fatores merece atenção especial.
Segundo Maroco e Garcia-Marques (2006), valores negativos de alfa ocorrem quando as
correlações inter-itens de uma dada dimensão são, elas próprias, negativas e normalmente
refletem um erro sério na codificação dos pontos dos itens. Adicionalmente, um α muito baixo
pode refletir a codificação errada de itens ou a mistura de itens de dimensões diferentes,
exigindo a reavaliação da base teórica que motivou a construção da escala. Ou seja, na
primeira condição enquadra-se a dimensão D6 e D3 e, na segunda condição, D2, D4, D7 e D8.
É importante ressaltar que, mesmo para as dimensões cujos valores de alfa foram maiores
(mais próximos de 1), é recomendável a realização de outros estudos para verificar a
confiabilidade do instrumento pelo fato de que no presente estudo a amostra foi composta por
43 respondentes. Embora corresponda a 41% da população, esse quantitativo não é muito
grande. Nota-se também que das dimensões problemáticas, várias possuem apenas dois itens.
Os resultados da Análise dos Quartis (Figura 1) revelam que os itens mais críticos estão
relacionados ao salário e benefícios recebidos, quantidade e qualidade de recursos materiais
para a realização do trabalho; ausência de gratificações por produtividade; necessidade de
levar trabalhos para serem concluídos em casa que influenciam na vida familiar; condições do
ambiente de trabalho; inexistência de exames periódicos; e, participação em atividades
comunitárias, confraternizações e lazer.
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Figura 1 – Resultado da Análise dos Quartis
ANÁLISE DOS QUARTIS
Desempenho
Q3 =
4,1
38
Q2 =
3,7
56
Q
1 =
3,0
55
Frequência
Q3 =
4,4
01
Q
2 =
3,4
53
Q
1=
2,4
52
Item QVT Item QVT P26 1,93 F14 1,44
P25 2,12 F6 1,51
P24 2,24 F24 1,98
P17 2,62 F7 2,05
P18 2,65 F8 2,17
P16 2,74 F9 2,38
P15 2,93 F17 2,48
P21 3,10 F11 2,51
P22 3,26 F4 2,95
P19 3,29 F1 2,98
P23 3,53 F16 3,14
P9 3,59 F3 3,23
P20 3,64 F10 3,67
P6 3,76 F22 3,93
P7 3,76 F18 4,02
P5 3,88 F19 4,29
P28 4,00 F23 4,35
P13 4,05 F21 4,40
P14 4,05 F13 4,42
P12 4,07 F5 4,43
P4 4,12 F12 4,58
P8 4,20 F20 4,65
P11 4,31 F2 4,79
P1 4,33 F15 4,81
P10 4,34
P3 4,40
P2 4,43
P27 4,46
Fonte: Autoria própria (2014)
5. Considerações Finais
É inegável a importância dos docentes em IES, cujos esforços se refletem no sucesso da
instituição e também na qualidade das ações de pesquisa, ensino e de extensão. Entretanto,
estudos focados nesta categoria de trabalhadores ainda são incipientes no Brasil e no mundo.
Neste contexto, este artigo buscou mensurar a QVT de docentes por meio do emprego do
modelo proposto por Freitas e Souza (2009), tendo sido incorporados alguns itens de
avaliação. Por meio de um estudo de caso realizado no Centro de Ciências e Tecnologias de
uma IES pública foi possível mensurar a QVT segundo o desempenho da IES e segundo a
frequência de ocorrência de fatores associados à QVT; identificar os itens considerados mais
críticos em termos de QVT (por meio da Análise dos Quartis); e mensurar a confiabilidade do
instrumento, por meio do uso do alfa de Cronbach.
Prioridade Crítica Prioridade Alta Prioridade Moderada Prioridade Baixa
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Como resultados, evidencia-se o comprometimento da QVT em termos das dimensões
Segurança e saúde nas condições de trabalho (D3), Trabalho e espaço de vida (D5) e
Compensação justa e adequada (D6), mais bem percebidas pela criticidade da IES à luz de
aspectos relacionados ao salário e benefícios recebidos, impacto do trabalho na vida familiar;
gratificações por produtividade; condições do ambiente de trabalho; exames periódicos; e,
participação dos docentes em atividades comunitárias, confraternizações e lazer.
No contexto de estudos exploratórios, o questionário para avaliação da QVT segundo o
desempenho da IES mostrou-se confiável em quase todas as dimensões. Entretanto, no
questionário da frequência de aspectos de QVT o valor de alfa se revelou baixo e negativo em
várias dimensões, realçando a necessidade de realização de estudos com amostras com maior
número de respondentes. Espera-se com isso realizar Análises de Fatores para identificar
possíveis associações entre os itens e as Dimensões (Fatores).
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