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AVALIAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS LOCO-REGIONAIS DE ARTICULAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE: O CASO PÓLO-BASE RONDONÓPOLIS (DSEI CUIABÁ) Karem Dall”Acqua Vargas Maria Clara Vieira Weiss Maria Ceci Misoczky

Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

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AVALIAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS LOCO-REGIONAIS

DE ARTICULAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE ATENÇÃO À

SAÚDE: O CASO PÓLO-BASE RONDONÓPOLIS

(DSEI CUIABÁ)

Karem Dall”Acqua Vargas Maria Clara Vieira Weiss

Maria Ceci Misoczky

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II Congresso Consad de Gestão Pública – Painel 35: Experiências de gestão compartilhada

AVALIAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS LOCO-REGIONAIS DE ARTICULAÇÃO ENTRE OS

NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE: O CASO PÓLO-BASE RONDONÓPOLIS (DSEI CUIABÁ)

Karem Dall”Acqua Vargas Maria Clara Vieira Weiss

Maria Ceci Misoczky

RESUMO A partir de uma abordagem construtivista do processo de pesquisa pergunta-se sobre a articulação da atenção básica com os demais níveis do sistema de saúde, avaliando a adequação às normas existentes e explorando os desenvolvimentos criativos realizados no Pólo-Base Rondonópolis (DSEI Cuiabá/MT). Este trabalho é uma avaliação qualitativa cuja estratégia metodológica foi o estudo de caso, instrumental e exploratório. Os procedimentos realizados partiram do levantamento bibliográfico, seguindo para a análise de documentos legais que estabelecem os fluxos de referência e contra-referência planejados. Através de dados secundários oficiais e de entrevistas semi-estruturadas realizadas com gestores e profissionais de saúde foram identificados os fluxos formalmente indicados pelos profissionais da CASAI Rondonópolis a todos os usuários indígenas a ela referenciados. Com os usuários em trânsito foram realizadas entrevistas abertas para identificar a satisfação dos mesmos frente aos serviços de saúde, assim como a existência de outros caminhos utilizados pelos próprios usuários na busca pelo cuidado. A análise do material empírico registrado foi feita considerando fortemente sua relação com o contexto. Os resultados indicaram que a Política Nacional de Saúde Indígena está aquém de garantir de fato o acesso dos usuários indígenas aos serviços de saúde com qualidade e não atende aos critérios de territorialidade e acessibilidade, fortemente defendidos pelo modelo do Distrito Sanitário. Os fluxos formalmente indicados pelos profissionais de saúde são resultantes da associação dos elementos planejados no Plano Diretor Regionalizado e no Plano Distrital de Saúde Indígena constituindo, desta maneira, uma estratégia criativa loco-regional para garantir o acesso e continuidade em todos os níveis de atenção à saúde. Não foram identificados fluxos por conta dos usuários ressaltando a sua dependência frente às estratégias criativas desenvolvidas pelos profissionais de saúde. Por fim, os princípios da universalidade do acesso, integralidade, eqüidade e participação social não são contemplados tendo em vista o impasse real entre o município e a Fundação Nacional de Saúde. Palavras-chave: Palavras-chave: Atenção básica. Estratégias locais. Descentralização. Saúde indígena.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 03

METODOLOGIA........................................................................................................ 04

RONDONÓPOLIS: MUNICÍPIO PÓLO DA REGIÃO SUL MATO-GROSSENSE..... 06

O SISTEMA MUNICIPAL DE SAÚDE DE RONDONÓPOLIS................................... 08

O DSEI CUIABÁ......................................................................................................... 11

O FLUXO PLANEJADO PELO PDSI PARA O ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS INDÍGENAS............................................................................................ 14

T.I. TADARIMANA: ALDEIAS JURIGUE, POBORE, PRAIÃO E TADARIMANA...... 15

O FLUXO FORMAL DO DSEI CUIABÁ NAS TERRAS INDÍGENAS E AS SUAS RELAÇÕES COM O MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS............................... 16

OS ÍNDIOS E O ACESSO À REDE MUNICIPAL DE SAÚDE DE RONDONÓPOLIS...................................................................................................... 17

COMPARAÇÃO ENTRE OS FLUXOS PLANEJADOS E O FLUXO FORMAL PARA AS T.I. TADARIMANA..................................................................................... 20

AVALIAÇÃO DO FLUXO PLANEJADO PELO PDSI 2005-2007 DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO SUS................................................... 23

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 27

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 28

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INTRODUÇÃO

O processo de descentralização que caracteriza o Sistema Único de

Saúde (SUS), expresso primeiramente na Constituição de 1988 (BRASIL, 1988),

segue as diretrizes preconizadas nas leis que regulamentam a Política Nacional de

Saúde: a Lei 8.080/90 (BRASIL, 1990a) e 8.142/90 (BRASIL, 1990b). Ao longo da

década de 90 e início do novo século a descentralização foi regulamentada através

de Normas Operacionais que visaram a sua implantação, repassando aos estados e

municípios gradativamente as responsabilidades de gestão da atenção à saúde.

Desde as Normas Operacionais Básicas – NOB SUS 91, 93 e 96 – e,

mais recentemente, a Norma Operacional de Assistência à Saúde do SUS 01/02

(NOAS SUS 01/02) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002a) o Estado de Mato Grosso

busca atribuir aos municípios maior autonomia na gestão do sistema de saúde

municipal. Esta norma expressou uma nova proposta na qual os municípios devem

atender às suas especificidades loco-regionais, buscando por meio da Programação

Pactuada e Integrada (PPI) parcerias intermunicipais que atendam aos princípios do

SUS, garantindo o acesso com qualidade aos serviços pela população residente nas

Regiões de Saúde.

Atualmente, Mato Grosso compreende cinco regiões de saúde, que

agrupam 14 microrregiões ocupando uma área de 903.357,908 Km², com uma

população de 2.854.642 habitantes, o que representa uma densidade demográfica

de 2,8 habitantes por Km² (IBGE, 2007).

Neste contexto a Política Nacional de Saúde Indígena vem sendo

implementada como um subsistema de saúde com a finalidade de garantir o

cumprimento dos princípios fundamentais do SUS tendo como modelo o Distrito

Sanitário Especial Indígena (DSEI).

As informações analisadas neste trabalho expressam o contexto loco-

regional de atenção à saúde na Região Sul, onde se localiza o território do Pólo-

Base Rondonópolis (PB Rondonópolis), estrutura integrante da rede de atenção do

Distrito Sanitário Especial Indígena Cuiabá (DSEI Cuiabá).

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METODOLOGIA

Este estudo é parte integrante do relatório final do projeto de pesquisa

intitulado “Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os níveis de

cuidado à saúde: estudo de múltiplos casos nos estados do Rio Grande do Sul, Mato

Grosso e Pernambuco” financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq). Apresenta-se como uma avaliação da política de

saúde voltada para a inclusão dos usuários indígenas referenciados ao Pólo-Base

Rondonópolis e que dele necessitam para dar continuidade no acesso aos serviços

de saúde em todos os níveis de atenção à saúde. O tipo de pesquisa escolhido para

contemplar o objeto e os objetivos propostos foi a avaliação qualitativa delineada

pelo estudo de caso instrumental e exploratório.

Denzin e Lincoln (2006) destacam que todos os processos de pesquisa

qualitativa devem estar fundamentados em um dos paradigmas interpretativos que

os subsidiam. Dentre eles utilizou-se o paradigma construtivista que expressa uma

epistemologia subjetivista onde o pesquisador e o entrevistado trabalham juntos

para compreender a realidade observada e vivida conhecendo e refletindo sobre as

diversas práticas do cotidiano. Nesta postura paradigmática as categorias para

análise e interpretação dos achados são construídas ao longo do processo de

investigação e representam uma construção coletiva levando em consideração as

experiências vividas pelos atores envolvidos.

Para Ayres (2004) a avaliação compreende um conjunto de

procedimentos sistemáticos que tem por objetivo fornecer maior visibilidade ao “que

é feito” tendo como referência o “que se pode e/ou se quer fazer” respeitando o

interesse, a efetividade, a operacionalidade e a qualidade de ações, tecnologias,

serviços ou programas de saúde.

Fazendo uso da abordagem qualitativa foi escolhido o estudo de caso

como estratégia metodológica, uma vez que ele é indicado quando se colocam

questões do tipo “como” e “por quê” em situações onde o pesquisador tem pouco

controle sobre os acontecimentos e quando o objeto de estudo se encontra nos

fenômenos contemporâneos inseridos num contexto de vida real (YIN, 2005).

Dentre os tipos de estudo de caso identificados por Stake (1995) destaca-se o tipo

instrumental onde o caso em particular é um instrumento utilizado na busca de

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informações sobre um tema específico e o próprio caso é de interesse secundário

embora tenha um papel de suporte.

Ainda segundo Yin (2005) os estudos de caso assumem um lugar de

destaque na pesquisa avaliativa porque pode ser utilizado para explorar situações

nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto simples

e claro de resultados.

Este trabalho caracteriza-se por um “estudo do caso do tipo instrumental”

porque buscou informações sobre o processo de descentralização e hierarquização

do SUS na Região Sul Mato-grossense com ênfase no município de Rondonópolis,

sobre a formulação e implementação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena e

sobre a garantia do acesso aos serviços quando os usuários são indígenas, sendo o

Pólo-Base Rondonópolis de importância secundária, embora necessária para dar

suporte aos achados. Além de instrumental, este estudo também pode ser

caracterizado de “exploratório” devido ao fato das informações previamente

conhecidas serem incipientes e demasiadamente complexas para o entendimento

comum.

A coleta de dados se deu por meio de levantamento bibliográfico, análise

documental, observação não-participante, diário de campo e entrevistas, estas do

tipo semi-estruturada e aberta (FLICK, 2004; MINAYO, 2006). A primeira foi

realizada com os gestores, coordenadores, profissionais de serviço de saúde e

conselheiros municipais; a segunda com os usuários em trânsito.

A análise e a interpretação do material empírico registrado foi feita

considerando fortemente sua relação com o contexto.

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RONDONÓPOLIS: MUNICÍPIO PÓLO DA REGIÃO SUL MATO-GROSSENSE

O município de Rondonópolis está localizado a Sudeste do Estado de

Mato Grosso e assume a posição de líder na Região Sul.

Imbricado no Vale de São Lourenço apresenta uma grande quantidade de

recursos hídricos e extensa área de cerrados e cerradões, com algumas manchas

florestais onde predominam terras de cultura.

Rico em barro para a fabricação de telhas e tijolos, areia, cascalho e

pedra para a construção já apresentou grande quantidade de madeira de lei,

principalmente a peroba, o bálsamo e o cedro. Localizado em posição estratégica

Rondonópolis é via de acesso obrigatória entre o Norte e Sul do país. Tesouro

(1993) relata que foi a partir de 1947 que Rondonópolis entrou numa fase na qual o

objetivo dos governos federal e estadual foi de instalar e desenvolver o sistema

capitalista na região com os seus elementos já conhecidos: o mercado interno

deveria ser consumidor dos produtos industrializados à medida que aumentasse o

seu poder de consumo.

O sistema adotado para povoar suas terras foi o de colônias onde o

colono tinha a responsabilidade de reproduzir a sua força de trabalho, desmatar as

terras e abastecer o mercado com as suas roças de milho, feijão, mandioca e

algodão. No período de 1947 a 1950 os emigrantes vinham requerer do governo

estadual os lotes gratuitos. Para os colonos, a conquista de um pedaço de terra em

que pudessem plantar representava a conquista de um sonho, por isto houve grande

fluxo migratório para Rondonópolis recortando-a em pequenas propriedades de 20 a

50 hectares, as agrovilas.

O processo de ocupação ocorrido entre os anos de 1947 e 1950

demonstra que estes pequenos produtores eram antigos garimpeiros ou oriundos da

região nordestina. Todos desenvolveram culturas tradicionais, bem como a cria e

recria de gado para o consumo de carne e leite. A produção era do tipo familiar, com

baixa produtividade e pequeno comércio quando havia produção de excedentes.

Com o passar do tempo a doação das terras devolutas foi interrompida e

os seus títulos definitivos foram concedidos. No entanto, um pedaço de terra e

algum maquinário não foram suficientes para manter grande parte da população

instalada, pois lhes faltavam escola, saúde e preço justo pelas suas mercadorias;

por isto, muitos venderam as suas propriedades para novos ocupantes, fazendeiros

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mato-grossenses ou de outras regiões que foram comprando as pequenas

propriedades vizinhas e formando os grandes latifúndios encontrados na atualidade.

Com a chegada dos fazendeiros na década de 50, Rondonópolis passou

a comercializar com grandes indústrias o algodão e o arroz produzido. Entretanto,

ainda nesta época a preferência dos investimentos era na pecuária, pois ela não

apresentava as incertezas da agricultura.

Assim, Rondonópolis deu o seu salto para o desenvolvimento na década

de 60 quando chegaram os primeiros postes e fios de energia elétrica.

Foi nas décadas de 70 e 80 que ocorreu intenso aporte migratório de

sulistas entusiasmados com os baixos preços das terras do cerrado. Estes

incrementaram os latifúndios com o plantio de arroz e, principalmente, de soja.

Atualmente, a área de Rondonópolis é de 4.165,23 km² representando

0.4611% do estado, 0.2602 % da região e 0.049 % de todo o território brasileiro.

No ranking dos municípios mais populosos do estado, Rondonópolis

assumiu em 2000 o terceiro lugar com 150.227 habitantes e se manteve no último

censo demográfico na terceira colocação com 172.783 habitantes (IBGE, 2007).

Também está na 15ª colocação na lista dos municípios com melhor Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) do estado (ABUTAKKA e LIMA, 2006).

No seu território está localizada a Terra Indígena Tadarimana da etnia

Bororo, homologada no ano de 1991 (BRASIL, 1991) apresentando uma extensão

de 9.785ha (ISA, 2007). A administração regional é responsabilidade da instância

FUNAI/Rondonópolis e a saúde dos Bororo nela residentes está sob a

responsabilidade do DSEI Cuiabá, PB Rondonópolis.

Nesta Terra Indígena existem quatro aldeias: aldeia Tadarimana com

aproximadamente 235 pessoas, aldeia Pobore com 35, aldeia Praião com 29

integrantes e aldeia Jurigue, com nove componentes (FUNDAÇÃO NACIONAL DE

SAÚDE, 2005). Contudo faz-se necessário considerar que a população indígena

Bororo está distribuída em mais cinco Terras Indígenas: Jarudore, Merure,

Sangradouro e Tereza Cristina (ISA, 2007).

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O SISTEMA MUNICIPAL DE SAÚDE DE RONDONÓPOLIS

No início do século XX os cuidados em saúde eram realizados conforme o

conhecimento tradicional das famílias recém-chegadas e dos índios que conheciam

os segredos das plantas nativas. Em 1925 chegou o primeiro grupo de estrangeiros

formado por 40 americanos, dentre eles um casal de médicos que, além de dar

assistência médica à população, atendia os vilarejos vizinhos e as aldeias indígenas.

Com o decorrer do tempo e com o aumento da incidência de doenças

tropicais, entre elas a difteria, a febre amarela, o impaludismo e o “fogo selvagem”,

sendo esta até hoje diagnosticada na região, surgiu a necessidade da atenção

clínica especializada. Nestes tempos, décadas de 40 e 50, os colonos recebiam

assistência médica e farmacológica com a vinda periódica de médicos da capital.

Em 1953 foi fundado o primeiro hospital que recebeu o nome de “Hospital

Samaritano” contando com 22 aposentos, 21 leitos, sala de cirurgia e laboratório.

Os investimentos no setor do agronegócio levaram a um significativo

incremento dos serviços de saúde da rede pública e privada, atraindo profissionais

das diversas regiões do país, os quais, semelhante ao período de colonização,

vieram em busca do “El Dorado”, como nos conta o relato a seguir:

Rondonópolis era uma cidade que tinha um único hospital que era a Santa Casa [...] por muito tempo os médicos que chegavam eventualmente não podiam entrar naquele lugar [...]. No governo do Blairo que foi o prima do governo [...] então eles tinham muito dinheiro [...] o que aconteceu? Expansão de serviços na regional fizeram o Hospital Regional que estava aí parado e expandiu serviços em todos os lugares [...]. Então era esta a realidade aqui, sobrava dinheiro [...]. Quando expandiu os serviços, que fizeram o Hospital Regional, o Samu, o PA, começou a vir médicos novos e aí a qualidade começou a aumentar um pouco porque essas pessoas [...] vieram pra trabalhar no Hospital Regional e foram absorvidos pela Santa Casa [...] (Entrevistado 3, maio, 2007).

Portanto, com a implantação do SUS no final da década de 1980 e o

processo de descentralização e regionalização validado através das NOBs e das

NOAS fizeram de Rondonópolis a principal referência para atenção à saúde de seus

habitantes e dos munícipes vizinhos.

A capacidade física instalada para atender as necessidades ambulatoriais

de saúde da população regional conta com as unidades de serviço apresentadas na

Tabela 1 e 2, as quais são complementadas pela rede hospitalar (Tabela 3).

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Tabela 1 – Unidades prestadoras de serviço ambulatorial em Rondonópolis

Rede Ambulatorial Unidades Fed

eral Estadual

Municipal

Filantrópica

Privada

Outros

Total

Posto de Saúde - - 03 - - - 03 Centro de Saúde - - 05 - - - 05 Policlínica - - 01 - - - 01 Ambulatório de Hospital Geral - 01 01 01 - - 03 Centro de Especialidades - - 01 - - - 01 Clínica de Fisioterapia e Reabilitação

- - 01 - - - 01

Centro Odontológico - - 03 - - - 03 Unidade de Coleta e Transfusão (UCT)

- 01 - - - - 01

Banco de Sangue - 01 - - 01 - 02 Agência Transfusional (AT) - 01 - - - - 01 Unidade de Terapia Renal Substitutiva

- - 01 - - - 01

Unid. De Saúde da Família – Z. Urbana

- - 27 - - - 27

Unid. Saúde Família – Z. Rural - - 02 - - - 02 Lab. Central Análise Clínica - 01 01 - - - 02 Farmácia Básica - - 08 - - - 08 Central de Regulação - 01 01 - - - 02 Central de Ambulância - - 01 - - - 01 CAPS - - 02 01 - - 03 Farmácia de Manipulação - - 01 - - - 01 Centro de Dermatologia - - 01 - - - 01

Fonte: MATO GROSSO, 2006b.

Tabela 2 – Demais unidades e serviços que compõem a rede do SUS em Rondonópolis

Unidades Federal Estadual Municipal Filantrópica Privada Total Centro de Zoonoses

- - 01 - - 01

Serviço de Vigilância Sanitária

-

01

01

-

-

02

Laboratório de Análises Clínicas

-

01

01

01

10

13

Serviço de Radiodiagnóstico Médico

-

01

02

01

02

06

Serviço de Radiodiagnóstico Odontológico

-

-

02

-

02

04

Unidade Móvel - 02 08 - - 10 Outros (odontomóvel)

-

-

01

-

-

01

Samu - - 01 - -

Fonte: MATO GROSSO, 2006b.

A rede hospitalar é composta pelo Hospital Regional Irmã Elza Giovanela,

pelo Hospital e Pronto-Socorro de Rondonópolis, pelo Hospital Paulo de Tarso, pela

Santa Casa de Misericórdia e o pelo Hospital São José. O Hospital Regional Irmã

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Elza Giovanella oferece serviços em traumato-ortopedia, oftalmologia,

otorrinolaringologia, neurologia e cardiologia, além de dispor de uma unidade de

pronto-socorro que é referência para internações em urgência e emergência a toda a

população da região através do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS) Sul Mato-

grossense constituído em 1998 e que conta com a adesão dos 19 municípios da

Região Sul, conforme é mostrado na Tabela 4.

Tabela 3 – Hospitais que compõem a rede do SUS de Rondonópolis

REDE HOSPITALAR Unidades Federal Estadua

l Municipal Filantrópica Privada Outro

s Total

Hospital Geral - 01 01 01 02 - 05 Hospital Psiquiátrico

- - - 01 - - 01

Pronto Socorro Geral

- 01 01 - - - 02

Outros - - - - - - -

Fonte: MATO GROSSO, 2006b.

Tabela 4 – Municípios que compõem o CIS Sul Mato-grossense

Ano e no total de habitantes por município Município 2002 2003 2004 2005 2006

Extensão Km2222

Alto Araguaia 11.545 11.607 11.738 11.811 11.884 5.538 Alto Garças 8.341 8.344 8.350 8.353 8.348 3.660 Alto Taquari 4.784 4.926 5.226 5.392 5.556 1.395 Araguainha 1.339 1.332 1.319 1.312 1.304 689 Campo Verde

19.587 20.685 22.991 24.267 25.532 4.795

Dom Aquino 8.346 8.313 8.243 8.204 8.168 2.205 Guiratinga 12.201 11.995 11.562 11.323 11.084 5.358 Itiquira 9.451 9.568 9.813 9.949 10.083 8.634 Jaciara 24.849 25.337 26.363 26.930 27.494 1.659 Juscimeira 12.298 12.406 12.635 12.762 12.889 2.205 Paranatinga 15.481 15.545 15.681 15.755 15.830 24.178 Pedra Preta 14.113 14.346 14.835 15.106 15.375 4.193 Poxoréo 19.220 18.845 18.056 17.619 17.186 6.923 Primavera de Leste

45.608 48.278 53.881 56.982 60.059 5.472

Rondonópolis 155.803 158.391 163.824 166.830 169.811 4.165 Santo A. Leste

1.975 2.020 2.113 2.165 2.216 3.597

São José do Povo

3.080 3.091 3.113 3.126 3.142 444

São Pedro da Cipa

3.536 3.556 3.596 3.618 3.639 344

Tesouro 2.832 2.693 2.402 2.242 2.084 4.017 TOTAL 374.389 381.278 395.741 403.746 411.684 ----

Fonte: MATO GROSSO, 2006b.

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O DSEI CUIABÁ

A principal atribuição do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) é

proporcionar ao usuário indígena ações de nível primário em saúde, seja de forma

direta ou indireta, quando a execução das atividades é atribuída a Organizações

Não-Governamentais (ONGs), Fundações Universitárias ou por Organizações da

Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs). Além disso, é também

responsabilidade do DSEI garantir o acesso do paciente indígena a toda rede

hierarquizada de serviços do SUS.

O Plano Distrital de Saúde Indígena (PDSI) é o instrumento utilizado por

todos os DSEI para a gestão dos serviços e das ações em saúde para os povos sob

a sua jurisdição. Este instrumento deve ser elaborado com a participação das

populações indígenas, através dos seus Conselhos Locais e Distritais, sendo

conduzido pelo DSEI e homologado pela FUNASA para posterior execução.

No DSEI Cuiabá (Figura 1) a atenção básica é realizada por intermédio de

dez Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), sendo que a elas estão

integrados os 45 Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e os 28 Agentes Indígenas de

Saneamento (AISAN) (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2005). Todos estes

profissionais são contratados pelas seguintes conveniadas: Operação Amazônia

Nativa (OPAN), Halitinã e UNISELVA/UFMT, e atuam em 31 Postos de Saúde (PS)

localizados nas aldeias.

Disponível em: www.funasa.gov.br Disponível em: www.funasa.org.br Figura 1 – Localização do Distrito Sanitário Especial Indígena Cuiabá – MT Disponível em: www.funasa.org.br

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Dos PS os usuários são encaminhados a um dos cinco Pólos-Base de

Saúde (PB): Cuiabá, Rondonópolis, Tangará da Serra, Brasnorte e Chiquitano.

Ainda constituem parte da organização do DSEI Cuiabá-MT, três Casas de Saúde

do Índio (CASAI), localizadas nos municípios de Cuiabá, Rondonópolis e Tangará da

Serra, que contribuem com o acolhimento, alojamento e alimentação dos pacientes

e acompanhantes, prestam serviços de enfermagem, além de providenciar a

regulação dos mesmos na rede do SUS.

Como mostra a Figura 1, este é um distrito bastante complexo devido à

atenção à saúde de vários povos indígenas diferenciados quanto à cultura e à

localização dos seus territórios em regiões econômica, social e ambiental diversas,

cujas características influenciam diretamente o processo saúde-doença e o acesso

aos serviços de saúde.

Os programas de saúde priorizados no PDSI 2005-2007 estão voltados para

os programas descritos no Quadro 1 (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2007).

ÁREA PROGRAMÁTICA RESULTADOS (METAS) SETOR RESPONSÁVEL Vigilância Nutricional Implementar o Programa de

Vigilância Nutricional Halitinã, OPAN e UNISELVA

Saúde da Mulher Implantação do Programa de Saúde da Mulher PCCU

DSEI e Instituições Parceiras

Saúde da Criança Redução de incidência de infecções respiratórias agudas Redução de Incidência de Diarréia

Halitinã, OPAN e UNISELVA

Controle das Doenças Imunopreviníveis

Coberturas vacinais nos níveis preconizados pelo Programa Nacional de Imunização

Halitinã, OPAN e UNISELVA

Controle das DSTs/AIDS Garantir a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das DSTs/AIDS nas aldeias Uso abusivo de álcool e drogas

DSEI, Instituições parceiras e EMSI

Controle das Doenças Transmitidas por Vetores

Garantir o controle da prevalência de malária, leishmaniose tegumentar e doença de Chagas

DSEI e EMSI

Saúde Bucal Programa de Saúde Bucal Profissionais, equipamentos e material permanente. Confecção de próteses Prevenção

DSEI, Instituições parceiras e EMSI

Doenças Crônico-Degenerativas

Garantir o controle e acompanhamento de portadores de hipertensão arterial e de Diabetes

Halitinã, OPAN e UNISELVA

Assistência Farmacêutica Aumentar o acesso e a satisfação do usuário em relação aos medicamentos Diminuir a perda de medicamentos e adequação do local de armazenamento

DSEI

Quadro 1 – Áreas programáticas, resultados previstos e setor responsável conforme o PDSI Fonte: FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2005.

Page 14: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

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Além das morbidades comuns a todos os PB existem as especificidades

de cada um, influenciadas pela localização geográfica das aldeias e o contato dos

seus habitantes com a sociedade envolvente. Como exemplo das implicações das

relações ambientais com a saúde se nota, no PB Rondonópolis, problemas

relacionados ao alcoolismo, fator responsável pela morbidade e mortalidade da sua

população adstrita.

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O FLUXO PLANEJADO PELO PDSI PARA O ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS INDÍGENAS

O fluxo planejado é o fluxo estabelecido no Plano Diretor Regionalizado

(PDR) (MATO GROSSO, 2006a) e no PDSI 2005-2007. O primeiro, foi coordenado

pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Mato Grosso (SES/MT) e consiste,

desde a NOAS SUS 01/02, na organização das Regiões de Saúde, assim como na

apresentação dos fluxos de referência e contra-referência. O segundo foi

coordenado pelo DSEI Cuiabá e apresenta, entre outras informações, o fluxo de

referência e contra-referência planejado para atender a todos os povos indígenas,

cujas Terras Indígenas estejam localizadas no território da sua abrangência, o qual

se sobrepõe aos limites geográficos municipais previamente estabelecidos.

Segundo o PDSI 2005-2007 o PB Rondonópolis é oficialmente

responsável pela atenção à saúde dos Bororo, e para o atendimento destes usuários

conta com duas EMSI assim distribuídas:

� EMSI 1: composta por um médico, um enfermeiro, um odontólogo, três

técnicos de enfermagem, três agentes indígenas de saúde (AIS) e

quatro agentes indígenas de saneamento (AISAN). Esta EMSI é

responsável pelas aldeias Gomes Carneiro, Tadarimana, Jurigue,

Pobore, Praião e Piebaga.

� EMSI 2: composta por um médico, um enfermeiro, um odontólogo, três

técnicos de enfermagem, quatro AIS e dois AISAN. Esta EMSI é

responsável pelas aldeias Merure, Morada Bororo, Garças, Perigara e

Aterradinho.

A seguir são descritos os fluxos planejados para a T.I. Tadarimana,

localizada em Rondonópolis.

Page 16: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

15

T.I. TADARIMANA: ALDEIAS JURIGUE, POBORE, PRAIÃO E TADARIMANA

As aldeias Jurigue, Pobore e Praião são consideradas aldeias satélites da

aldeia Tadarimana, tendo em vista que nelas residem poucas pessoas e que estas

utilizam o PS da aldeia Tadarimana quando necessitam de cuidados em saúde.

Essas aldeias distam da aldeia Tadarimana cerca de 30 minutos.

Já a aldeia Tadarimana apresenta um PS, mas não dispõe de PB como

preconizado pela Portaria n0 479/2001, devendo fazer uso dos centros de saúde

municipais de Rondonópolis em situações que exigem cuidados não garantidos em

terra indígena. Como todas as aldeias já mencionadas os seus habitantes utilizam a

CASAI Rondonópolis localizada na área urbana de Rondonópolis e os serviços de

média e alta complexidade devem ser referenciados para Cuiabá, distando quatro

horas de viagem. Todos os trajetos percorridos, desde as aldeias até Cuiabá, são

feitos por via terrestre. Assim, todos os usuários atendidos nesta aldeia devem

seguir o fluxo planejado demonstrado na Figura 2.

Aldeias Jurigue, Pobore ePraião (Rondonópolis/MT)

Aldeia Tadarimana

PS

CASAI

(Rondonópolis)Rede do SUS

(Cuiabá/MT)

Posto de Saúde Municipal (Rondonópolis/MT)

Legenda

As setas representam o fluxo de referência para os usuários das aldeiasJurigue, Pobore e Praião.

Figura 2 – Fluxos planejados para os usuários das aldeias Jurigue, Pobore, Praião e Tadarimana Fonte: FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2005.

Page 17: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

16

O FLUXO FORMAL DO DSEI CUIABÁ NAS TERRAS INDÍGENAS E AS SUAS RELAÇÕES COM O MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS

Conceitua-se “fluxo formal” como o fluxo formalmente indicado aos

usuários pelos profissionais de saúde das instituições envolvidas e que não segue

os fluxos de referência já estabelecidos no PDR (MATO GROSSO, 2006a) e no

PDSI 2005-2007. Esse fluxo é resultante da elaboração de estratégias criativas loco-

regionais de articulação entre os níveis de atenção, construídas pelos profissionais

de saúde da CASAI Rondonópolis e os profissionais da rede municipal de serviços

de saúde, e tem como principal artifício as relações pessoais.

A Figura 3 mostra esquematicamente essa reorganização que expressa o

fluxo formal estabelecido pelos profissionais de saúde para dar aos usuários a

garantia do acesso aos serviços de saúde.

Aldeia Praião

Aldeia Pobore

Aldeia Tadarimana

CASAI /Rondonópolis

Aldeia Gomes Carneiro e Piebaga

Pólo Base deRondonópolis

Rede Municipalde Saúde(Rondonópolis/MT)

Aldeias Pakuera, Alto Ramalho e Paikun

Aldeia Sangradouro

Figura 3 – Fluxo formal do Pólo-Base Rondonópolis, DSEI Cuiabá, MT Fonte: Ilustração com base nos depoimentos dos entrevistados, colhidas no período de maio à outubro, 2007.

Na T.I Tadarimana, as aldeias Pobore e Praião estão sob os cuidados dos

Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e de Saneamento (AISAN). Estes referenciam os

pacientes para a aldeia Tadarimana onde fica lotado um técnico de enfermagem,

que tem ligação direta com a CASAI Rondonópolis através de rádio ou telefone. A

CASAI Rondonópolis é quem se responsabiliza por inserir este usuário nos serviços

de saúde municipal, respeitando as necessidades dos pacientes. Este fluxo

formalizado entre os profissionais foi relatado por um usuário indígena da seguinte

forma: “Aí a gente liga de lá [...] o postinho de saúde lá da aldeia tem enfermeiro aí

se tem problema eles pedem lá pelo rádio se pode ser marcada a consulta, aí a

pessoa vem no carro. [...] precisando aquele paciente ele só entrega aí na CASAI,

né! “(Usuário 1, junho, 2007).

Page 18: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

17

OS ÍNDIOS E O ACESSO À REDE MUNICIPAL DE SAÚDE DE RONDONÓPOLIS

O fluxo formal pode ocorrer de três maneiras: a primeira diz respeito ao

acesso do usuário aos serviços de atenção básica de saúde (Figura 4). De acordo

com os registros e relatos, o usuário sai da aldeia em busca de tratamento de saúde,

se hospeda na CASAI e é acompanhado pelos seus profissionais até as Unidades

Básicas de Saúde, entre as quais a mais utilizada, devido à proximidade é o Posto

de Saúde da COHAB. Este oferece atendimento médico em três especialidades

básicas: ginecologia/obstetrícia, pediatria e clínica médica, consulta de enfermagem

pré-natal e curativos em geral.

Após a consulta médica o usuário retorna para a CASAI. Caso tenham

sido solicitados exames laboratoriais o usuário é encaminhado para outro centro de

saúde denominado Centro de Saúde Jardim Guanabara (ou FUSMAT) para agendar

e/ou realizar o procedimento solicitado. Dali voltará para a CASAI, onde aguardará o

resultado ou voltará para a aldeia e aguardará contato via rádio ou telefone para

retornar a Rondonópolis para nova consulta.

Posto de SaúdeAldeia

CASAICASAI Posto de Saúde da Coab

As setas verdes identificam o fluxo de referência

As setas amarelas identificam a contra-referência

Centro de Saúde Jardim Guanabara

Figura 4 – Fluxo formal para a atenção básica realizado pelos usuários indígenas na rede municipal de saúde em Rondonópolis Fonte: Informações obtidas na CASAI Rondonópolis durante o período de coleta de dados.

A segunda maneira está relacionada às necessidades de urgência e

emergência tendo o Hospital e Pronto-Socorro Municipal e a Unidade de

Atendimento de Urgência e Emergência do Hospital Regional Irmã Elza Giovanella

como locais de primeiro atendimento. Neste caso, os usuários indígenas, quando

dispõem de carro na aldeia, se deslocam para a unidade hospitalar entrando em

contato com a CASAI durante o percurso ou ao chegar na unidade. Se não tiverem

meio de transporte imediato e à sua disposição, a CASAI Rondonópolis providencia

Page 19: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

18

um carro para buscar o paciente e seus familiares. Somente em situações de

emergência os usuários se dirigem às unidades de saúde sem o acompanhamento

dos profissionais de enfermagem da CASAI; contudo os mesmos são avisados

durante o trajeto da aldeia até o município ou no momento da chegada. A Figura 5

mostra graficamente o fluxo formal para a urgência e emergência.

Posto de Saúdeda Aldeia

CASAI

Hospital e Pronto Socorro Municipal deRondonópolis

Hospital RegionalIrmã Elza Giovanela

Hospital São José

Santa Casa deMisericórdia

Legenda

Setas VerdesIndicam o fluxo dereferência para procedimentos de urgência e emergência.

Figura 5 – Fluxo formal para urgência e emergência Fonte: Informações obtidas na CASAI Rondonópolis durante o período de coleta de dados.

A terceira maneira expressa o acesso aos procedimentos especializados.

Nestes, o paciente sai do PS da aldeia e busca, através da CASAI a rede

especializada a qual é amplamente utilizada pelos índios por intermédio da Central

de Regulação (CER) ou, em casos de urgência e emergência, através do Pronto-

Socorro Municipal ou Unidade de Atendimento de Urgência e Emergência do

Hospital Regional Irmã Elza Giovanella (Figura 6).

Para procedimentos ambulatoriais de média complexidade os pacientes

Bororo, independente da unidade de referência, seja ela o PS ou a rede hospitalar

do SUS, passam pela CASAI para que esta os inclua na rede. Esta inclusão se dá

da seguinte forma: se os procedimentos solicitados são oferecidos pelo Centro de

Especialidades (CEADAS), Policlínica e Hospital Paulo de Tarso, os profissionais de

enfermagem da CASAI Rondonópolis garantem por meio da Central de Regulação

(CER) as consultas e/ou exames necessários; mas, se o procedimento solicitado for

fisioterapia a própria CASAI referencia o paciente diretamente ao Centro de

Reabilitação do Deficiente Físico Nilmo Junior, unidade de reabilitação sob gestão

municipal ou à Clínica de Fisioterapia Dr. Alcides, conveniada à rede do SUS; se a

necessidade for odontológica os pacientes são encaminhados para a APAE. Se

Page 20: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

19

necessário, os pacientes permanecem hospedados na CASAI até o término do

tratamento ou então retornam para as aldeias. A Figura 6 mostra esses fluxos.

Posto de Saúde da Aldeia

CASAI

Central de Regulação

Centro de Reabilitaçãodo Deficiente FísicoNilmo Junior ou ClínicaDe Fisioterapia Dr. Alcides eAPAE

CEADAS, Policlínicas eHospital Paulode Tarso

Hospitais SUS

Centros de Saúde

Legenda

Setas VerdesIndicam o fluxo de referência para procedimentos M1, M2 e M3.Setas LaranjasIndicam a contra-referência para os procedimentos M1, M2E M3.

Figura 6 – Fluxo formal para procedimentos de média complexidade para os usuários indígenas Fonte: Informações obtidas na CASAI Rondonópolis durante a coleta de dados.

Page 21: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

20

COMPARAÇÃO ENTRE OS FLUXOS PLANEJADOS E O FLUXO FORMAL PARA AS T.I. TADARIMANA

Utilizando o modelo de Bech (2002) para compreender melhor o disposto

no PDSI 2005-2007, todas as ações caracterizadas como de nível primário sub-nível

1 devem ser garantidas pela Fundação UNISELVA em caráter permanente a todos

os moradores desta Terra Indígena e as demais necessidades devem ser resolutivas

nos níveis de atenção da rede municipal de saúde. Porém, no Livro de Registros de

Atendimentos Ambulatoriais da CASAI Rondonópolis, há informações relativas aos

procedimentos garantidos aos usuários indígenas nos postos de saúde de

Rondonópolis que vão desde consultas médicas até procedimentos individuais

preventivos e educação em saúde, demonstrando claramente a ineficiência do

planejamento destas ações pela conveniada e pelo DSEI.

Conforme mostram os depoimentos a seguir, a maioria dos

procedimentos utilizados pelos Bororo na rede básica de saúde municipal são os

ginecológicos, os obstétricos e os pediátricos:

A maioria são os ginecologistas com os pré-natais e as crianças com problemas respiratórios (Entrevistado 1, maio, 2007).

São as doenças respiratórias, né. A parte da diarréia não é muito porque eles usam muito o leite materno, agora bronquite, bronquiolite, pneumonia, viroses (Entrevistado 10, junho, 2007).

Tem muita criança, muita gestante e também casos de DSTs; e os demais é clínico mesmo, machuca ali, ou uma picada de cobra; também aparece muito, casos de ortopedia porque lá na aldeia eles jogam muita bola (Entrevistado 14, maio, 2007)

O acompanhamento pré-natal é feito nos postos de saúde da rede

municipal, inclusive quando a EMSI esteve na terra indígena.

[...] Existe um médico que ele é contratado pelos índios e eu acho que é o estado que paga ele. [...] Eu estou falando pra você porque eu recebo muitas cartinhas dele com as gestantes índias e elas já passaram por ele, né. [...] Mas não sei te explicar o motivo que já é uma prática de algum tempo das gestantes índias virem a este posto de saúde quando eu trabalho aqui, então eu tenho um grande movimento de atendimento destas índias aqui. Eu tenho feito, ou tento fazer, com maior carinho. Acho que elas têm ficado satisfeitas com o nosso atendimento, e até também porque eu dou plantão na Santa Casa, porque aqui é o atendimento do pré-natal, e na Santa Casa é o hospital aqui do município que é conveniado com o SUS que quando elas vão ganhar nenê elas vêm pra cá. Então como eu faço plantão lá, eventualmente acontece de os pré-natais que eu tenho feito acabar nascendo comigo também. Então talvez por estes atendimentos acabou criando um certo vínculo (Entrevistado 10, junho, 2007).

Page 22: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

21

Comparando o fluxo de referência apresentado no PDSI 2005-2007 com o

fluxo de referência formalmente indicado pelos profissionais da CASAI Rondonópolis

é possível verificar que a estratégia deliberada e conceituada por Mintzberg et al.

(2006) como a estratégia estabelecida pelo plano só se faz real para os usuários

indígenas devido as práticas criativas de articulação desenvolvidas pelos

profissionais envolvidos na perspectiva de garantir a inserção dos Bororo na rede

municipal de saúde.

É preciso destacar que nem a Coordenação Regional da FUNASA/MS

(CORE/FUNASA/MS) e nem tão pouco o DSEI Cuiabá, participam da Programação

Pactuada e Integrada (PPI) atribuindo esta função aos profissionais da CASAI

Rondonópolis que, embora vinculados à FUNASA/MS, devem responder pela

regulação dos usuários, acolhimento e acompanhamento dos pacientes e dos seus

familiares aos serviços de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). A atividade de

regulação deveria ser precedida pela pactuação na PPI além de ser homologada na

Comissão Intergestora Bipartite. Talvez seja a dificuldade para definir de quem é a

responsabilidade pela saúde dos usuários indígenas que residem nos limites

geográficos municipais, se do gestor municipal ou se do Chefe do Distrito, que

dificulte a comunicação entre estas instituições, contribuindo para a exclusão desses

usuários da rede de atenção à saúde.

Nos fluxos de referência para o atendimento em média complexidade foi

observado um descompasso entre o planejado deliberado no PDSI 2005-2007 e o

fluxo formal. O PDSI 2005-2007 estabelece a rede municipal de Cuiabá como

referência para procedimentos de maior densidade tecnológica, no entanto as

experiências vividas pelos profissionais e pelos usuários consolidam a estratégia

emergente, ou seja, a rede de fato referenciada para os usuários Bororo é a do

município de Rondonópolis.

Na hipótese de se pôr em prática o fluxo planejado pelo PDSI 2005-2007

para nível secundário e/ou terciário de atenção seria necessário um transporte diário

de Rondonópolis à Cuiabá a fim de garantir o acesso aos serviços de saúde na

capital. Ainda nestes termos, a implementação do PDSI 2005-2007 se mostra um

movimento contrário à descentralização dos serviços e a qualificação das regiões de

saúde para níveis de atenção crescentes em densidade tecnológica com o intuito de

desafogar as unidades de saúde de Cuiabá, referência para a maioria dos

municípios mato-grossenses.

Page 23: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

22

Ao se comparar o fluxo planejado no PDSI 2005-2007 com o fluxo formal,

o que se verifica é que o planejado negligencia determinados aspectos, tais como

transporte, custo-benefício e bem-estar, assim como os conceitos de acesso

geográfico, econômico e funcional considerados por Ramos e Lima (2003),

propondo um longo percurso a ser percorrido até a unidade de atendimento em

Cuiabá. Isto coloca em risco os princípios fundamentais do SUS uma vez que estes

só são contemplados mediante uma rede de serviços organizada em níveis

crescentes de atenção à saúde.

No fluxo formal aparecem elementos do fluxo planejado tanto no PDSI

quanto no PDR. Na atenção secundária o fluxo formal consolida a teoria de

Mintzberg et al. (2006) na qual a estratégia realizada é uma associação de

elementos deliberados e emergentes, mas com predomínio de um deles, neste caso

o da estratégia emergente.

Page 24: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

23

AVALIAÇÃO DO FLUXO PLANEJADO PELO PDSI 2005-2007 DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO SUS

A Carta Magna (BRASIL, 1988) brasileira traz artigos pertinentes para a

reflexão sobre um dos direitos fundamentais que atribui dignidade humana a todos

os cidadãos brasileiros: a saúde.

De acordo com os conceitos da palavra “direito”, discutidos por Dallari e

Fortes (1997) e Nogueira e Pires (2004)), o direito universal à saúde não só garante

aos Bororo o acesso a todos os serviços públicos, municipais e estaduais, como

também garante, na forma da lei, um atendimento diferenciado, não entendo esta

diferenciação como privilégio, mas respeitando as escolhas dos pacientes frente as

ações de saúde pautadas nas práticas modernas de cuidado. Se o princípio da

universalidade do acesso garante o direito à saúde a todos os cidadãos brasileiros e

a FUNASA, por meio da Lei 9.836/99 (BRASIL, 1999) foi responsabilizada por torná-

lo legítimo aos povos indígenas, a garantia da integralidade como princípio

fundamental também cabe à FUNASA. É através do DSEI que a FUNASA deve

garantir a organização hierarquizada dos serviços de saúde na área indígena

garantindo também as ações de atenção básica a todos os seus habitantes, seja de

forma direta, seja através de parcerias com ONGs ou municípios. Acrescenta-se

aqui a complementaridade por parte dos estados e municípios com relação às ações

não garantidas em território indígena prevista nas portarias ministeriais.

O princípio da universalidade integral deve ser garantido através da

pactuação e cooperação entre as organizações envolvidas, porém, com algumas

exceções, este compromisso não é firmado e, freqüentemente, ocorrem conflitos

relacionados à responsabilidade pelas ações e pelo recebimento de incentivos para

o atendimento.

Além disso, o acesso aos serviços de saúde pode ser classificado em três

subcategorias: acesso geográfico, acesso econômico e acesso funcional (RAMOS e

LIMA, 2003). Sendo o acesso geográfico caracterizado pela forma, tempo de

deslocamento e distância entre a residência do usuário e o serviço de saúde, o

tempo ideal considerado pelos autores é de 30 minutos, quando a forma de

deslocamento é terrestre.

Conforme evidenciado nos depoimentos o deslocamento dos moradores

da aldeia Tadarimana até Rondonópolis é de aproximadamente 30 minutos, sendo

Page 25: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

24

importante destacar que nela os usuários de Pobore, Jurigue e Praião devem

receber o atendimento da EMSI e quando houver necessidade de procedimentos de

maior densidade devem buscar a rede municipal de saúde. A busca pelos serviços

de saúde neste município não está somente ligado ao fato da aldeia estar próxima

da área urbana municipal, mas sim pelo acolhimento dos profissionais da CASAI

Rondonópolis e pelas experiências vividas por todos. Aqui observa-se que não só

são utilizados os serviços de saúde no nível primário de atenção como preconizado

pelo PDSI 2005-2007, mas também nos demais níveis de atenção consolidando a

estratégia emergente elaborada a partir das experiências vividas entre os

profissionais da CASAI Rondonópolis e do município e, também tornando evidente o

descompasso entre o fluxo planejado e o formal.

O acesso funcional à rede de serviços de saúde se define quanto à

necessidade dos serviços serem resolutivos, contínuos, atenderem a demanda real

e serem capazes de assegurar o acesso a todos os níveis de atenção do sistema.

Nos depoimentos também fica evidente a articulação existente entre os profissionais

envolvidos para a garantia não só do acesso ao nível primário, mas da continuidade

na linha do cuidado.

O acesso econômico está associado à facilidade, ou dificuldade, de o

usuário ser atendido, considerando a forma de deslocamento, os procedimentos

necessários, a obtenção de medicamentos e o custo do deslocamento (RAMOS e

LIMA, 2003). Para os usuários indígenas, a maioria dos procedimentos é realizada

na rede pública de saúde e, eventualmente, são encaminhados para a rede privada.

Entretanto, o acesso também depende da articulação dos profissionais tendo em

vista a grande demanda dos munícipes aos serviços de saúde.

Outro princípio fundamental do SUS considerado na avaliação do fluxo de

referência apresentado pelo PDSI 2005-2007 é a integralidade das ações de saúde.

Mattos (2004) identifica pelo menos três sentidos para o princípio da integralidade: o

primeiro diz respeito à articulação das ações preventivas com as assistenciais; o

segundo se refere à organização dos serviços de saúde; e o terceiro está voltado

para as práticas de saúde.

Machado et al. (2007) defendem a integralidade como eixo norteador da

educação em saúde visando o exercício do trabalho em equipe desde a formação do

profissional. Estes autores defendem também, a existência de estratégias que

favoreçam o diálogo, a troca, a transdisciplinaridade entre os diversos saberes,

Page 26: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

25

formais e não-formais, que possam contribuir com as ações de promoção à saúde,

tanto a nível individual quanto coletivo. Então, se é para ser assim, os depoimentos

transcritos apontam que alguns profissionais envolvidos com o atendimento ao índio

não estão preparados para fazê-lo. A preparação profissional é precária e seletiva

tanto para a condução das estratégias de atuação que poderiam associar a

prevenção e a assistência, quanto na prática do acolhimento, na compreensão dos

saberes culturais que conduzem às ações de aceitação ou de negação do

procedimento estabelecido.

A Portaria 070/04 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004) dispõe sobre as

responsabilidades dos envolvidos em garantir o acesso aos níveis de atenção à

saúde quando o usuário é indígena e, além disso, estabelece as atribuições dos

Conselhos Locais e Distritais de Saúde Indígena (CONDISI) no controle das ações

do DSEI e dos parceiros.

Tendo em vista os achados ressaltamos as considerações de Sposati e

Lobo (1992) na análise do controle social e das faces que os atores podem dar a

este instrumento de controle e participação nas decisões relacionadas à gestão dos

serviços públicos, em especial os da saúde. O controle social tem como pressuposto

maior a alteridade, o reconhecimento da existência e da importância do outro nas

arenas de discussão.

Para os autores a alteridade poderá ser distorcida e dar ao controle social

pelo menos três formas: alteridade cooptada, que tem na desinformação a

fragilidade da representação, facilitando a cumplicidade para interesses restritos; a

alteridade subalternizada, onde o outro é considerado uma visita no espaço

supostamente social e para que o assunto não tome proporções não

compreendidas, a sua importância é amenizada podendo ter informações ocultadas

com o intuito de não constranger a “visita”; e, a terceira, denominada de alteridade

tutelada, é o espaço onde os técnicos, supostamente detentores do conhecimento,

têm o poder popular de advogar a causa.

No âmbito do DSEI Cuiabá/PB Rondonópolis e do município de

Rondonópolis existem as três formas de “alteridade” quando o outro é o índio

usuário da rede de serviços de saúde. A alteridade cooptada é identificada pelo

desconhecimento por parte da população indígena sobre a organização do SUS e a

garantia do acesso universal a todos os habitantes deste país ficando dependentes

da articulação e da presença dos profissionais da CASAI Rondonópolis para a sua

Page 27: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

26

inclusão na rede de assistência; sem conhecimento não há opinião e isto fragiliza o

sujeito como ser democrático e participante. A alteridade subalternizada está

claramente identificada na ausência dos Bororo na composição do Conselho

Municipal de Saúde (embora não seja obrigatória em virtude de lei) ou a sua

presença em situações pontuais. E enfim, a alteridade tutelada subsidia a FUNASA

e a conveniada na advocacia do índio, mesmo que não se admita oficialmente está

ele sendo considerado relativamente incapaz, ou por desconhecer, ou por ser

reduzido a um caso particular no qual a manutenção da sua cultura termina por ser

um argumento para forças institucionais se manterem no poder. Esta última

consideração não tem por objetivo desmerecer o papel dos grupos socialmente

organizados nos quais alguns indivíduos assumem a defesa dos excluídos, como

por exemplo, o movimento indígena, mas ressaltar a importância da autonomia e da

autodeterminação de todos os cidadãos brasileiros, e neste caso os índios Bororo.

Page 28: Avaliação das estratégias loco-regionais de articulação entre os

27

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo proporcionou a identificação das estratégias locais criadas pelos

profissionais envolvidos a fim de garantir o acesso dos usuários Bororo aos serviços

de saúde de forma integral e equânime, além de avaliar a estratégia deliberada

tendo em vista os princípios fundamentais do SUS.

Ainda que a rede municipal de saúde do município de Rondonópolis se

mostre insuficiente no que diz respeito à cobertura da Estratégia Saúde da Família é

evidente a preferência e a ampla utilização pelos usuários indígenas de toda a sua

rede de atenção contrapondo, especialmente, o fluxo planejado pela FUNASA para

a atenção secundária à saúde.

Evidenciou-se por meio dos instrumentos de pesquisa que o fluxo

planejado para a atenção básica só atende às necessidades da população indígena

residente na TI. Tadarimana por meio das relações estabelecidas entre os

profissionais da CASAI Rondonópolis e os da rede municipal de saúde, estas

pautadas no princípio da solidariedade e compromisso com o bem-estar dos

usuários do SUS. Além disso, o acesso a atenção secundária depende de forma

exclusiva das estratégias emergentes fundamentadas na busca pelo cuidado integral

à saúde considerando os princípios da universalidade do acesso, integralidade e

equidade do SUS.

Também foi possível evidenciar que o princípio da participação social tem

sido contemplado de forma frágil tendo em vista o real propósito de aproximar os

usuários da gestão e execução das ações de saúde. Assim, mesmo que a Política

Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2002b) garanta a participação social através dos Conselhos Locais e do CONDISI, é

clara a sua verticalidade na elaboração do PDSI no âmbito do DSEI Cuiabá, assim

como a falta de articulação entre os espaços de discussão com os seus equivalentes

na comunidade envolvente.

É necessário que esta situação avance para se compor um espaço de

fato democrático, onde em respeito às diferenças se permita e reconheça a

presença do diferente, e assim se conceba o processo de construção do direito à

saúde de forma coletiva.

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REFERÊNCIAS

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AUTORIA

Karem Dall”Acqua Vargas – Mestre em Saúde Coletiva, Servidora Pública Estadual responsável técnica pela Área Estratégica Saúde Indígena da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso.

Endereço eletrônico: [email protected] Maria Clara Vieira Weiss – Professora Pós-Doutora do Instituo de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso.

Endereço eletrônico: [email protected] Maria Ceci Misoczky – Professora Doutora da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Endereço eletrônico: [email protected] Colaborador Professora Dra. Wildce da Graça Araujo, do Instituo de Saúde Coletiva/UFMT, contribuiu com a discussão teórica do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena e o processo de descentralização no Estado de Mato Grosso.