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SHEILA RANGEL DE SOUZA
AVALIAÇÃO DENTRO E FORA DA ESCOLA
Universidade Cândido Mendes Curso de Pós Graduação em Supervisão Escolar
Rio de Janeiro, 24 de Julho de 2004
2
SHEILA RANGEL DE SOUZA
AVALIAÇÃO DENTRO E FORA DA ESCOLA
Universidade Cândido Mendes Curso de Pós Graduação em Supervisão Escolar
Rio de Janeiro, 24 de Julho de 2004
3 SUMÁRIO
página
Introdução 4
Capítulo I 6
A Escola como Caixa de Ressonância do Contexto Social
Capítulo II 10
Exclusão na Escola e na Sociedade
Capítulo III 14
A Avaliação no Contexto Escolar
Capítulo IV 19
Avaliação, uma forma de Autoritarismo?
Capítulo V 23
A Prova como única forma de Avaliação
Capítulo VI 26
Alternativas para o processo de Avaliação
Conclusão 30
Referências Bibliográficas 33
Anexos 34
Anexo I – Entrevista Realizada com os Alunos 34 Anexo II– Estudo Errado 36
Ficha de Avaliação 39
4
INTRODUÇÃO
O sistema oficial de ensino é proclamado “democraticamente
aberto” para todos. Mas as redes de escolarização da sociedade capitalista
produzem dominantes, que são direcionados a trabalhos de liderança, e
dominados, que são direcionados ao trabalho manual.
Até a alguns anos o universo da educação estava dividido. A elite
ia para a escola destinada ao trabalho intelectual e os trabalhadores
destinados ao trabalho manual, em oficinas.
Houve então o ingresso de crianças pobres nas escolas. Ao
contrário do que se possa pensar, essa “união” de classes só fez reforçar e
aumentar as desigualdades sociais da educação na sociedade capitalista.
Essas desigualdades são reproduzidas dentro da sala de aula
através da avaliação como uma das suas formas mais visíveis. Mas se faz
necessário avaliar, então como avaliar?
Não queremos confundir autoridade com autoritarismo. É
importante se ter como premissa, a criação da consciência dos educandos
de que o processo avaliativo tem origens mais amplas do que meramente
naquele espaço que nos é imposto, que é a sala de aula.
Essa pesquisa busca contribuir para esclarecer que a solução do
problema da exclusão escolar não está apenas dentro da escola, mas
também fora dela. Esta exclusão é conseqüência do sistema capitalista no
qual estamos inseridos. Ao refletirmos sobre isso, pretendemos comprovar
que a escola nos forma e nos conforma com o objetivo de nos adequar ao
5sistema. Para os excluídos, o sistema garante um ensino técnico de
subsistência, e às vezes nem este, negando-lhes o acesso ao ensino
científico e de humanidades.
No nosso modo de ver, acreditamos que não existam crianças
menos capazes ou incapazes de produzir conteúdos. Cada criança tem um
ritmo diferenciado de aprendizagem que deve ser respeitado. Não devemos
nos prender nas “verdades” que classificam, aprovam ou reprovam as
crianças e também seus grupos sociais. Nosso desafio é construir novas
condições que nos permitam romper com tais “verdades”. Verdades estas
que classificam, controlam e regulam os corpos e as almas da população
discente.
Entendendo o processo avaliativo no seu âmbito do real
significado, e como futuras educadoras, esperamos contribuir para o
aprimoramento desse processo, a fim de que a avaliação seja aplicada de
forma mais justa.
6
CAPÍTULO I
A ESCOLA COMO CAIXA DE RESSONÂNCIA DO
CONTEXTO SOCIAL
Ao analisarmos a educação no contexto da sociedade capitalista
de hoje, não há dúvidas de que a sua função tem sido predominantemente a
de reproduzir e consagrar desigualdades. Como diz Durkheim, citado por
(Brandão, 1977: 76):
“[....]. É ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos [....]. Há, pois, a cada momento, um tipo regulador de educação do qual não nos podemos separar sem vivas resistências, e que restringem as velocidades dos dissidentes”.
É ilusório acreditar que a educação funciona visando a igualdade
de todos, como assim foi desejado por alguns socialistas utópicos na era dos
oitocentos. Eles acreditavam que os interesses individuais deveriam coincidir
com os interesses coletivos. Propunham que a classe trabalhadora deveria
produzir sua existência coletivamente e se apropriar dessa riqueza,
Entretanto, sabemos que não foi por esse lado que se encaminhou a
história.
A revolução industrial, trouxe outras formas de se educar o
homem voltada especificamente para o mundo do trabalhado.
Antes da revolução industrial, o trabalho era restrito aos limites do
corpo humano. Porém, como o trabalho vai se separando do corpo do
7homem e se objetivando em máquinas automáticas, surge então uma nova
forma de trabalho
A escola como uma relação humana construída pelos homens, só
aparece porque os próprios homens criaram essa necessidade histórica.
Sendo assim, a escola não é algo que emerge de algumas idéias geniais,
mas sim fruto de muitas transformações no modo de produzir a própria vida
humana.
A partir desse momento tornou-se mais evidente os interesses do
processo educativo. Desta forma, Brandão, (1981: 84) vai dizer que:
“[...] ‘das empresas capitalistas’.’Investimento’, ‘mão de obra’, ‘preparação
para o trabalho’, ‘capacidades técnicas adequadas’ [...] são o nomes que
denunciam o momento em que interesses políticos de emprego de uma
força de trabalho ‘adequadamente qualificada’ misturam a educação antiga
da oficina com a da escola, reduzem o seu compromisso aristocrata com a
pura formação da personalidade e inscrevem o ato de educar entre as
prática político-econômicas das ‘arrancadas’ para o ‘desenvolvimento’.
Arrancadas que, as sociedades capitalistas são de modo geral estratégias
de reorganização da vida social, de acordo com projetos e interesses de
reprodução do capital. De multiplicação dos ganhos”.
No século XVIII a exclusão tornou-se fato marcante. A escola
tornou-se desigual porque construiu duas trajetórias diferentes numa mesma
escola. Uma escola era destinadas para os dominantes e outra para os
dominados. E essa foi a representação de uma classe que defendeu uma
nova idéia de sociedade, a sociedade da liberdade onde a educação não
poderia ser vista mais como um fato isolado e eclesial como propunha o
estado dominante durante a idade Média.
Outro momento da história onde se fala na “escola para todos”
sob a luta pela democratização do ensino, resultou no reconhecimento
político do direito à educação para todas as pessoas, através das escolas
gratuitas e leigas. E esta foi uma guerra travada entre liberais e
8conservadores. Porém, apesar de algumas idéias de alguns liberais bem
intencionados em relação à educação, ainda assim permeavam os
interesses de novos donos do poder e dos meios de produção.
Impulsionados pela idéia de escola para todos, os filhos dos
pobres e dos agricultores ingressavam nas escolas públicas. A partir desse
momento, alguns educadores perceberam que o ensino público oferecido
era inadequado. Brandão, (1981:90) ressalta que:
“Este progressivo ingresso da criança pobre nas salas das escolas, associados a uma redefinição do ensino escolar em direção ao trabalho produtivo, não fez mais do que trazer para dentro dos muros do colégio a divisão anterior entre aprender-na-oficina para o trabalho subalterno e o aprender-na-escola para o trabalho dominante”.
Não é possível pensar sobre a educação atual se iludindo com as
condições reais da forma como ela se apresenta. Afirmando tal fato,
Brandão,(1981:92) coloca que:
“Vivemos aqui, hoje, dentro de uma ordem social regida por um sistema amplo e muito complexo de relações de produção entre tipos de meios produtores, que se costuma chamar de modo de produção capitalista. Conscientes deste contexto, podemos fazer uma análise de como podemos redimensionar a educação”.
Não podemos continuar compartilhando com esse mecanismo
autoritário e desigual. Diante disso, consideramos que o educador deve
assumir uma nova postura diante de seus alunos. Procurando criar
condições para que o aluno participe e exponha suas opiniões, e dessa
forma permitir que o aluno participe ativamente do mundo que o rodeia,
percebendo quem ele é e o que pode vir a ser.
O professor representa para o aluno a principal chave para a
libertação dessa alienação. O docente não pode simplesmente ignorar tal
fato. A sua função é de desafiar o discente para que ele possa participar
conscientemente do cotidiano da nação. É preciso renovar, dar ênfase a
9novas idéias e mudar a postura da pedagogia tradicional, infelizmente
enraizada. É essencial não confundir os sentimentos dos jovens, e sim
ajudá-los na preparação para suas vidas.
A educação deve ser vista como uma força de transformação
social. Sendo assim, ela deverá favorecer o aparecimento de um novo
cidadão, de uma pessoa solidária e preocupada em superar o individualismo
criado pela exploração capitalista, a fim de criar uma nova sociedade, uma
sociedade mais justa e igualitária.
10
CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO – EXCLUSÃO NA ESCOLA E NA
SOCIEDADE
Na escola há um padrão de bom aluno. Aquele que não se
encaixa neste padrão é excluído. Essa exclusão não nasceu dentro da
escola por acaso. A escola é um reflexo da sociedade, mesmo porque, quem
compõe o corpo docente e discente é parte dessa própria sociedade.
Estamos na era da globalização. Há a expansão de idéias,
culturas, modos de pensar e fazer.
O processo de globalização implica necessariamente na maior
concentração de renda já existente na história da humanidade, na exclusão
e marginalização total dos países que não tiverem condições de fazer parte
deste processo, na dependência mundial dos grandes atores do processo
econômico, no maior índice de empobrecimento já existente e no maior
controle mundial já visto no nosso planeta: o controle econômico, social,
jurídico, alimentício e cultural.
E assim como o capitalismo, o processo de globalização também
é excludente como afirma assim:
11
“Sob vários aspectos, a globalizaçăo confere novos significados ao indivíduo e sociedade, modos de vida e formas de cultura, etnia e minoria, reforma e revoluçăo, tirania e democracia” (Ianni, 1992:09).
As revoluções socialistas não tiveram a mesma força de
sobrevivência do capitalismo. Segundo Ianni, o capitalismo se desenvolveu
pelo mundo, se enraizou muito rapidamente, aparecendo como um
“processo civilizatório”. E assim o mundo inteiro está se tornando capitalista,
e este sistema poderá se desenvolver ainda mais em algumas nações e
continentes.
Essa expansão do capitalismo, da sociedade globalizada
emergente, vem coberta de divergências, contradições, antagonismos,
perspectivas e principalmente exclusões.
O capital está criando um novo mundo. Dissolve modos de
pensar, agir, viver, trabalhar e os reconstrói sob seu olhar e tutela.
“Antigamente invadíamos os mercados estrangeiros com mercadorias. Hoje
invadimos culturas inteiras” (Idem: 21).
As transformações pelas quais o mundo vem passando
apresentam-se com tanta rapidez que vem requerendo novas posturas de
educadores e educandos. Os novos processos de comunicação, a
velocidade do avanço tecnológico, a automatização dos meios de produção
e a queda de barreiras políticas atrelada à formação de novos blocos
econômicos promoveram alterações tão radicais, que a era industrial, com
seus valores, suas concepções de habilidades e competências, com seus
conceitos de desenvolvimento e de trabalho sofisticado, estão se diluindo.
Evidentemente, tais mudanças visam a garantir os privilégios
sempre obtidos pelos detentores do poder político-econômico na história do
nosso planeta e, naturalmente, para que estas medidas sejam bem
12recebidas, precisarão encontrar uma educação já pré-manipulada para os
interesses da classe dominante; o que certamente já está ocorrendo.
A exclusão social só não é mais explícita aos que, embora tendo
olhos, não enxergam, embora tendo ouvidos, não ouvem e embora tendo
coração, não sentem mais além de seus mesquinhos e solitários interesses
de vida.
Nossas vidas e nações foram abertas a todos, acabando com as
diferentes barreiras existentes entre povos, culturas, línguas, mercados etc.
Homens e mulheres trocam seus destinos se “desvinculando” da
própria sociedade. O individualismo nesta sociedade globalizada é uma
realidade. A palavra sociedade perde o seu sentido quando posta no mundo
atual. Um mundo em que é anunciada a quebra de fronteiras, mas que por
trás dessa grande “festa” dos povos vem a exclusão.
As pessoas pensam apenas em si mesmas, pois não há outra
saída. As expressões “o mais forte devora o mais fraco”, “é a lei da selva”,
nunca foram tão verdadeiras e atuais como o momento presente.
Neste fim de milênio podemos constatar que a escola retrata
todos esses abusos da sociedade excluindo, globalizando, separando e
discriminando. Há uma sucessão de erros e acertos dentro da escola,
havendo também na própria sociedade. Matematicamente explicando,
diríamos que a escola está para a sociedade assim como a sociedade está
para a escola!
A escola exclui quando deixa que os alunos mais desinibidos se
sobressaiam classificando-os como fortes e inteligentes e anulando os
alunos que não se encaixam neste padrão, rotulando-os de fracos,
preguiçosos ou até mesmo incapazes.
13
A ineficácia do sistema de ensino brasileiro encerra em si algo
gravíssimo:
"Por detrás da repetência e mais grave do que o desperdício material de recursos advindos do trabalho duro da população, está a desilusão de milhares de famílias que valorizam uma escola que expulsa seus filhos, a destruição do sentimento de competência de um sem número de crianças e adolescentes, a formação de gerações que incorporaram, com sofrimento e sem necessidade, a certeza de que são incompetentes". (Internet: http://www.regra.com.br/educação/"Diagnóstico da Educação")
A avaliação entra nesse “drama” todo como um golpe mortal.
Aterrorizando e acabando com qualquer chance de fuga ou vitória.
Vale lembrar que não estamos culpando professores, atribuindo-
lhes o papel de algozes. Os professores também são vítimas desse "drama”
que parece não ter um final feliz! Essa situação se dá, muitas vezes, por não
serem orientados, conscientizados e alertados, paralelamente à necessidade
de eles mesmos se desafiarem.Os professores estão despreparados e
desestimulados.
A avaliação é um processo indispensável em toda e qualquer
atividade humana. Somente através dos resultados de nossas avaliações
somos capazes de acompanhar as mudanças e, quando necessário,
modificar nossas atitudes.
O processo ensino - aprendizagem é uma atividade que provoca
modificações diretas, no aluno e no professor e, em conseqüência, na
comunidade, ou seja, é necessário que exista um sistema de avaliação.
Transmitir conteúdos e cobrar a assimilação é ensinar apenas os
resultados. Para que o aprendizado aconteça e o indivíduo adquira o
conhecimento é necessário mediar o pensamento crítico sobre tais
resultados.
14Quem é o culpado por este sistema de avaliação deficitária?
Não importa quem é o culpado, precisamos é buscar as
possibilidades de transformação dos processos onde todos, em algum
nível, são responsáveis.
Não podemos ficar aguardando que o processo educacional se
transforme para só depois entrarmos em ação. Nossa ação é a mudança.
CAPÍTULO III
A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR
Na escola, a avaliação é representada por uma nota onde o
processo se torna excludente, pois julga a capacidade do indivíduo através
de uma representação numérica, fixando-se apenas em dados apresentados
e não no contexto geral onde o aluno está inserido. O julgamento através
dos dados específicos, muitas vezes, se torna cruel. Não podemos pensar
em avaliar nos submetendo apenas a uma simples representação
quantitativa. O processo avaliativo está permeado por um contexto muito
mais amplo e significativo. Um contexto que possibilita colocar em prática o
que o aluno pode oferecer em quanto sujeito que vive e que pensa sobre a
vida. Todavia, ao invés da escola apresentar-se para nós como uma chave
da liberdade dos processos manipuladores, ela acata o que já existe como
algo pronto, organizado que está estabelecido e que deve ser espelhado.
Dalben,(1997:133) afirma:
“[...] Aprovamos aqueles que na verdade, reproduzem a escola do jeito que ela já é, que persiste há tantos séculos. A escola, através da avaliação, mantém-se a si própria, realimenta seus valores, suas práticas e se fecha ao novo e a mudanças”.
O termo avaliar tem sido associado a fazer prova, fazer exame,
15atribuir notas, repetir ou passar de ano. Nela a educação é imaginada como
simples transmissão e memorização de informações prontas e o educando
é visto como um ser paciente e receptivo.
Porém, nos recusamos a acreditar que a escola é somente um
espaço onde os conteúdos reprodutores de relações dominantes se
manifestam. Ela também é um espaço da apropriação da cultura e da
construção de novos conhecimentos. Sendo assim, reafirmando o que
acabamos de colocar Dalben, (1997:134) diz que, “precisamos conhecer.
Conhecer quem está do outro lado, o que ele traz, o que ele sabe.
Precisamos re-significar o saber escolar”.
Os educandos devem ter cada vez mais consciência do poder que
a escola tem para tentar fazer emergir da população subalterna o
reconhecimento de que os excluídos também são produtores do saber, e
que podem contribuir muito para a construção de uma sociedade igualitária.
“Nesse sentido, avaliar não se refere mais a um processo de julgamento, mas refere-se a um processo de conhecimento, investigação. Avaliamos para produzir o saber. O saber sobre o nosso aluno, sobre o processo de aprendizagem, sobre o processo de ensino. Avaliamos para estabelecer a relação entre o conhecimento que detemos e o conhecimento que o outro detém, sobre as possibilidades de se conhecer mais e criar novas formas para isso” (Idem:134).
Há um quase consenso entre os educadores, formados nas mais
diversas escolas de pensamento, contrário ao modelo tradicional de
avaliação, que seja a avaliação por notas e ou por provas. A avaliação é
um aspecto da prática fundamental no processo ensino-aprendizagem,
tanto no que tange aos professores quanto para os alunos e seus pais, uma
vez que está ela intrinsecamente relacionada à destinação da proposta
político-pedagógica. Para o professor, a avaliação representa um papel
fundamental, visto que é por intermédio da análise reflexiva dos avanços e
dificuldades dos alunos que poderão rever e redefinir sua prática
pedagógica, tanto no aspecto do alinhavo de novas intervenções como na
16proposição de atividades e metodologias mais adequadas ao
desenvolvimento dos alunos.
Toda e qualquer produção por parte dos alunos passa a ser
significativa, uma vez que reflete um determinado estágio de
desenvolvimento dos conhecimentos, desde que haja entendimento por
parte do professor de como o aluno elaborou determinadas respostas ou
soluções, para definir então, quais intervenções e atividades coletivas e ou
individuais deverão ser realizadas visando dar continuidade ao processo de
desenvolvimento. Os problemas da prática mais comum, portanto, poderão
levantar questões de estudo para a formação do professor.
Para o aluno, a avaliação destaca-se como um componente do
seu processo de escolarização porque define a permanência e
continuidade de seu desenvolvimento na escola. É através da avaliação
que o aluno terá a possibilidade de conhecer seu desempenho e
compreender seu processo de aprendizagem e formação, pois, quando
passa ele a ter consciência de seu processo, desenvolve-se intelectual,
social e afetivamente. Quanto aos pais, a avaliação escolar significa um
importante instrumento ou mecanismo de compreensão dos processos
aqueles vividos por seus filhos, e pode, com efeito, informar-lhes do por
quê e como ajudá-los tanto dentro como fora do âmbito escolar.
Embora exista uma gama variada de possibilidades e formas de
avaliação possíveis, os professores e escolas ainda assim parecem estar
acorrentados ao modelo tradicional. O imperativo, considerando ainda, por
extensão, que parte talvez até mesmo de nosso modelo social vigente, é o
da busca a qualquer preço pela pontuação ou nota necessárias a servir de
chave de passagem para o próximo ano letivo, deixando o mais importante,
o ensino em si, o ensinamento profundo ou o aprendizado verdadeiro,
relegados a um constrangedor segundo plano. Nessa linha de pensamento,
nos diz Fleuri (apud Vasconcellos 1994, p.42):
17
"Para que serve a nota na escola? Óbvio responderão muitos – a nota serve para indicar o quanto o aluno aprendeu! Desta forma, promoverá aqueles que estiverem preparados para exercer sua profissão e reterá os que não estiverem aptos. (...) Esta obviedade, porém, é contestada diariamente pela prática escolar em que os alunos aprovados demonstram, a seguir, que não aprenderam o que sua nota faz pressupor."
Mas avaliação e nota não são de forma alguma a mesma coisa.
Isso é algo primário, conceitual, embora muitos, inclusive professores,
pareçam não atentar para o fato. A avaliação não pode andar dissociada da
reflexão e do entendimento de si com relação às possibilidades advindas
desse refletir. Na avaliação devemos atuar com o senso crítico ligado, de
forma a proferir um conceito verdadeiro em cima do fato, da prática. A
questão básica sobre a avaliação, seja talvez o fato de ela estar
demasiadamente arraigada nos mais variados níveis ou mecanismos
presentes no sistema. É necessário pensar uma outra lógica de avaliação,
a qual passaria a considerar como eixo o processo (compreensão dos
aspectos envolvidos na aprendizagem e desenvolvimento humano) e re-
significar o produto (valorização e qualificação dos resultados). A avaliação
está absorvida pelas engrenagens e pelos indivíduos que compõem esse
sistema, tornando tragicamente dificultosa qualquer tentativa que se
pretenda, de transformar o modelo seja em que aspecto for. Nesse sentido,
sobre a avaliação, conceitua Vasconcellos (idem):
"Há que se distinguir, inicialmente, 'Avaliação e Nota'. Avaliação é um processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar os obstáculos. A nota, seja na forma de número, conceito ou menção, é uma exigência formal do sistema educacional. Podemos imaginar um dia em que não haja mais nota na escola – ou qualquer tipo de reprovação - , mas certamente haverá necessidade de continuar existindo avaliação, para poder se acompanhar o desenvolvimento dos educandos e ajudá-los em suas eventuais dificuldades."
É absolutamente necessário que se consiga verificar a extensão
das capacidades aprendidas, de modo que se possa dar uma confirmação
àquilo que realmente aprendeu o estudante. Nos processos de avaliação
18não se pode de forma alguma depositar uma confiança plena, no entanto,
como medir a proporção em que cada indivíduo conseguiu atingir o objetivo
estabelecido no planejamento inicial, levando-se em conta a própria atuação
desse indivíduo e não sua posição com relação ao grupo? A resposta não é
assim tão fácil, ou melhor, a efetiva aplicação dos métodos que se possa
sugerir como solução possível não são de fácil aplicação, não por sua
própria complexidade, mas em função de como vem sendo feito desde há
muito. Trata-se de quebrar, primeiro, para depois poder tratar de construir,
isto é, é preciso romper com os modelos ou padrões antigos de avaliação,
para só então conseguir, com efeito, implantar um método novo e mais
eficiente, capaz de demonstrar com eficácia o rendimento do aluno.
19
CAPÍTULO IV
AVALIAÇÃO, UMA FORMA DE AUTORITARISMO?
Nós bem sabemos que a Educação é mais um dos fatores que
tem o poder de mudar a sociedade e de libertar o homem da dominação que
lhe é imposta. Então, por que não mudamos? Ao refletirmos sobre isso
pensamos porque torna-se tão difícil tal mudança.
Existe um amplo consenso quanto à dificuldade que a avaliação
escolar apresenta e as conseqüências drásticas que pode trazer para a
educação. Uma avaliação, muitas vezes, marcada pelo autoritarismo, pela
posição unilateral do professor. Por conseguinte, uma avaliação que
massacra, oprime, discrimina e exclui.
Muito tem-se discutido diante desta questão crucial e é difícil
encontrar uma resposta satisfatória quando o professor centraliza o
processo ensino-aprendizagem, automatiza o modo de avaliar e se
preocupa apenas em transmitir os conteúdos, utilizando práticas rotineiras
para medir o conhecimento adquirido pelo/a aluno/a.
No entanto, esta reflexão é apenas uma análise superficial. O
ato de avaliar é bem mais amplo. Avaliar faz parte do ato educativo. Porém,
o ato de educar e o ato de avaliar são percebidos como dois momentos
distintos, dissociados um do outro. É na análise do cotidiano do professor,
20em todos os níveis de escolaridade, que nos permite perceber o quanto as
suas próprias idéias, determinações, correções repercutem nos alunos. A
avaliação é tomada como suporte disciplinar, de julgamento, de poder do
professor. Essa prática centralizadora tolhe as possibilidades de discussão,
de contra-argumentação, de opinião dos alunos, apaga idéias, fragiliza
convicções, impede ações, fenece reações. Há professores mais
afetuosos, cordiais, e que, contudo, não oportunizam ao aluno liberdade de
expressão ou ignoram suas condições próprias de desenvolvimento, ou
não percebem, as funções que se apresentam em processo de maturação.
Nesse sentido, uma forma que impede que o aluno seja sujeito,
que pensa e cria, é a prática pela qual o professor cria sutilmente um clima
de medo, tensão e ansiedade. Esse clima é notadamente percebido nas
trocas verbais subordinadas entre professor e aluno: coloca uma pergunta
em evidência e questiona justamente aquele aluno que possui mais
limitações, passando-a para o segundo, terceiro e assim por diante, quando
ainda não manda resolver a questão no quadro. Dessa forma, a classe toda
fica tensa, já que cada um espera ser o próximo. Essa maneira de conduzir
a aula, manifesta o viés autoritário da prática pedagógica do professor,
porque ele na verdade não está interessado em detectar o que foi
ensinado, mas sim surpreender quem não estudou. Aquele que finalmente
sabe, é elogiado e os que não souberam são, muitas vezes, ridicularizados.
O professor ao se dirigir assim ao aluno “Assim não, esta
resposta está errada”, “Faça tudo de novo”, “você não acertou, copie
novamente”, “Sua letra está muito feia, apague isso”, o professor está
reforçando o erro, e mais ainda, reforçando uma compreensão culposa da
vida e fortalece o medo, fator importante no controle social.
O professor ao perceber que os alunos não sabem, muitas
vezes utiliza-se de repressões e ameaças mais graves, tais como: “Vê-se
que não estudaram, vocês vão ver só no dia da prova!”, “Se continuarem
21não estudando vou encaminhá-los para o Serviço de Orientação”, “Acho
até que vou ter que fazer uma reunião com os pais de vocês”.
Nessa visão de avaliação, a classificação do aluno se dá a partir
do processo corretivo, ou seja, nas tarefas escritas conta apenas os erros
e acertos, atribui-se a nota e posteriormente classifica o aluno em “apto” ou
“inapto”. É freqüente a valorização exclusiva da resposta certa, todo o
caminho percorrido pelo aluno para chegar à resposta não é considerado.
Interpretar de forma equivocada o erro, nega todo o processo de
construção de conceitos, constitui-se num entrave no avanço qualitativo
necessário à aprendizagem.
Isto não quer dizer que o erro é necessário ao desenvolvimento
cognitivo da criança. O processo educacional direcionar a uma visão de
ensino fatigante ou sofredora, mas sim enfatizar a importância em
desmistificar o erro e o insucesso como forma de culpa e castigo, tão
comum no cotidiano de nossas escolas. Quando ocorrerem devem servir
de trampolim para o crescimento.
Tanto o sucesso/insucesso quanto o erro/acerto são situações
ricas em informações e devem ser utilizadas como instrumentos para a
mediação do professor na construção de conceitos e significados. Isso
também não significa não corrigir o aluno. Segundo Luckesi (1995:57):
“Os erros de aprendizagem, que emergem a partir de um padrão de conduta cognitivo ou prático já estabelecido pela ciência ou tecnologia, servem positivamente de ponto de partida para o avanço, na medida em que são identificados e compreendidos e sua compreensão é o passo fundamental para a sua superação".
Assim torna-se um desafio respeitar o desenvolvimento cognitivo
das crianças, acompanhá-las em suas produções, ser o auxílio necessário.
Compreender essa dinâmica constitui-se de um imperativo para o trabalho
pedagógico.
22
Em contrapartida, as escolas muitas vezes estão lotadas, os
professores desestimulados, cansados e descontentes com seu salário.
Então seria essa a verdadeira razão de tudo? Na verdade, essa realidade é
apenas parte de todo um processo excludente no qual estamos inseridos.
O autoritarismo em sala de aula manifesta-se também devido ao
descontentamento do professor com a sua prática. Falta recursos, falta
estímulo, falta reconhecimento profissional, muitas vezes falta preparo para
o trabalho.
Torna-se difícil lidar com tantas crianças, cada qual com seu
problema, umas ansiosas por aprender, outras revoltadas por serem
excluídas, outras indiferentes, outras ainda violentas e outras carentes,
como se vivessem num mundo de fantasias, esquivando-se da realidade.
Diante de tudo isso, como um processo de defesa, o professor muitas vezes
adota uma atitude autoritária, como forma de controle, tornando-se mais fácil
lidar com tantas diferenças.
Pensar em interação, analisar teorias pedagógicas que facilitem
seu trabalho, torna-se impossível para o professor. O tempo é o seu maior
inimigo. Para defender o seu sustento é preciso no mínimo que ele trabalhe
em mais de uma, quando não três instituições.
Essa é a cruel realidade das instituições públicas no Brasil, reflexo
de um processo excludente que degrada a vida profissional dos docentes.
Justo eles que deveriam ser os mais respeitados diante da responsabilidade
de sua profissão. Pois, assim como o médico, que é responsável por salvar
vidas, o professor é responsável por salvar futuros. Todavia, a prática
escolar mantém-se dessa forma para garantir o mecanismo de conservação
e de reprodução da sociedade. Ela integra e prepara seus alunos para
manterem a classe dominante em desejáveis níveis de controle e
23manipulação. O autoritarismo é o elemento necessário para garantir este
modelo social, um modelo social dominante que também se apresenta para
nós através da avaliação.
CAPÍTULO V
A PROVA COMO ÚNICA FORMA DE AVALIAÇÃO
Quando se trata de provas, para testar / classificar os alunos,
suas respostas são unânimes: “Não queremos, não gostamos”. Em nossas
entrevistas podemos notar o descontentamento dos alunos em relação à
prova e seu desejo para que fossem outras as formas de avaliar.
Geralmente o aluno estuda antes da prova e depois não se
lembra da maioria dos conteúdos que aprendeu.
O aluno que quer aprender estuda, faz a prova, mas é como se a
escola não o deixasse aprender, pois “obriga” a reproduzir o conteúdo e não
contribui para sua contextualização e nem tampouco o ajuda a relacioná-lo
fazendo assim com que haja a verdadeira apreensão.
Ao aluno, o que realmente acaba interessando é a nota, com isto
ele acaba estudando para ser “promovido”. Procura já de início saber quais
os mecanismos da nota para tentar obtê-la mais facilmente e se enquadra
nos padrões de sucesso de ser um “bom aluno”. Segundo Luckesi,
(1994:23), “as notas são operadas como se nada tivessem a ver com a
aprendizagem”.
24
Como reduzir conhecimentos transmitidos de meses em uma
simples folha de papel?
A prova em si não mostra o quanto o aluno aprendeu. Não mostra
se o aluno tem condições de fazer relações do que ele aprendeu com outras
matérias ou até com a própria vida.
A prova não possibilita ao professor um conhecimento mais
individual do seu aluno. Não permite ao professor “respeitá-lo” de maneira
“correta”. Respeitá-lo no sentido de lembrar que embora esteja lidando com
uma turma, essa turma não é homogênea. A heterogeneidade dos alunos
não pode ser negada.
Cada um tem um modo de aprender. Uns mais lentos, outros mais
rápidos. Esse é o ponto chave da questão que estamos colocando. Entender
de que maneira o aluno construiu o conhecimento. Analisar como foi esse
caminho percorrido por ele. quais as suas dificuldades, suas vitórias.
Compreender o processo.
Esse processo pedagógico deve ser dinâmico, sutil, em
permanente construção. A cultura é seu objetivo fundamental que se traduz
em conhecimento escolar. E a avaliação é a interação entre sujeito / objeto
compreendido aos processos de cognição.
Portanto, a avaliação pode ser entendida como "uma ação
pedagógica importando o meio e não o fim" (Catapan, 1997).
Para esta autora essa pedagogia baseada em números é a
pedagogia da repetência porque não faz o aluno produzir conhecimento.
Sem a produção de conhecimento acontece a reprodução de conhecimento,
o aluno é induzido a decorar para passar de ano.
25
A avaliação, já que necessária deve ser feita constantemente,
torna-se uma rotina dentro da sala de aula. Isso não quer dizer provas todos
os dias, mais sim diferentes formas de avaliação.
A avaliação não pode ser vista como um fim em si mesma, mas
sim como mais um recurso que possibilite o aprendizado (Haydt,1988).
Em nossa entrevistas, as crianças de primeira série afirmaram
que gostam de fazer prova e que não gostariam de ter outro método de
avaliação.
Podemos dizer que as crianças da primeira série gostam de fazer
provas porque ainda estão começando a ser colocadas na fôrma do bolo.
Ainda não sentiram o calor massificador e taxativo do forno onde estão
sendo inseridas gradualmente.
Para elas, tudo ainda é festa, é novidade, é paixão. Aprender a ler
e a escrever é uma mágica possibilitada pela fada madrinha, a professora,
sem saber que estão sendo conduzidos pelo velho conhecido caminho de
dar mais importância à nota e não ao conhecimento produzido.
Segundo Fleuri, (1994) a nota, através da prova poderá ser um
método coercitivo e chantagista por parte de quem avalia, e pode revelar a
sua postura naquele momento em que estará avaliando, como a
disponibilidade, o humor, o cansaço. Isso tudo é muito diferente do que o
aluno realmente expressou na hora da sua avaliação. “Os objetivos a serem
avaliados (conhecimentos, atitudes, habilidades) geralmente têm amplitude e
complexidade difíceis de serem captadas através dos meios de avaliação
convencionais”(Idem:1994).
Pretendemos então salientar que a prova como única forma de
26avaliação, torna-se um instrumento perigoso, que poda ao extremo a
capacidade de apreensão do conhecimento do aluno. Atrofia seu sendo de
direção. O aluno ao invés de estudar para o seu desenvolvimento intelectual,
estuda para ser promovido. Isso tudo na base de ameaças, de exclusões e
de alienação.
CAPÍTULO VI
ALTERNATIVAS PARA O PROCESSO DE
AVALIAÇÃO
No resultado das nossas entrevistas não iremos trabalhar com
porcentagens porque seria como se estivéssemos encerrando, taxando,
enquadrando conceitos e opiniões a respeito da avaliação. Já que
pretendemos a transformação do fenômeno gerando reflexões e não sua
simples constatação, nossa opção foi um comentário das entrevistas.
Entrevistamos alunos de escola pública e particular, alunos do
ensino fundamental com idades entre 7 a 15 anos (Roteiro de entrevista
conforme Anexo I).
A maioria dos alunos estudam na véspera da prova. Eles
responderam que estudam para aprender, mas percebemos que nesta
afirmação há um equívoco, pois se estudassem para aprender estudariam
todos os dias e conseqüentemente se lembrariam de tudo que estudaram e
não apenas de algumas coisas. Isso significa que não estudam pelo prazer
27de construir e se apropriar do conhecimento, e sim para tirar nota boa na
prova, para ganhar uma recompensa.
Na questão que diz respeito à lembrança dos conteúdos
estudados, a resposta predominante foi “de alguns” , como já citamos no
parágrafo anterior. Mas fazendo uma reflexão dessa questão em particular,
notamos que ha um sentimento de vergonha no aluno em admitir que não se
lembra de nada do que estudou (apenas dois alunos admitiram que não se
lembram).
A maioria vence quando afirma que não gostam de fazer provas.
Não acham a prova a melhor forma de avaliar o aluno e gostariam de ser
avaliados de qualquer outra forma menos pela tão famosa e temida por
todos: A PROVA!
Trazendo a tona outros métodos de avaliar os alunos, certamente
não ouviremos mais frases como estas: a avaliação serve para.....
“Para ver o que o aluno sabe e para ver quem vai rodar”.
“Para o aluno se dar mal”.
“É para o professor saber se o aluno aprendeu,
e é um modo mais fácil de saber se o aluno passou de ano”.
“Para dar notas”.
Ouviremos sim sorrisos de contentamento pelos cantos das
escolas onde professores e alunos transformando-se em sujeitos de sua
história, pensando conscientemente e criticamente sobre o mundo.
Diante da reflexão a respeito das entrevistas realizadas,
percebemos que a prova tida até então como um dos únicos instrumentos de
registro do desempenho do aluno, tornou-se limitada.
Fomos, então em busca de algo que fosse mais abrangente, de
28instrumentos que refletissem a idéia de avaliação contínua, visando observar
o desempenho do aluno promovendo maior conscientização nos estilos
individuais de aprendizagem. Percebemos que esta seria uma maneira
bastante produtiva de ajudar tanto o professor como o aluno. Um
compromisso selado pelo acordo de um com o outro em busca do
conhecimento e do desenvolvimento pessoal.
O aluno deve ter clareza desse compromisso, se desprendendo
assim cada vez mais do ato de ser promovido através da nota. Sendo assim,
apresentamos uma proposta com uma conotação diferente daquelas
comumente aplicadas no que diz respeito à avaliação, baseada nos
seguintes objetivos:
A primeira avaliação - Conhecer os seus alunos através de
práticas que os façam falar mais sobre eles. Isso facilitaria a compreensão
do professor sobre alguns problemas de aprendizagem apresentados em
sala. Dessa forma, o professor conseguiria trabalhar com esse(s) aluno(s) de
forma diferenciada sem que houvesse a necessidade de excluí-lo(s) do
processo de aprendizagem.
Avaliação escrita - Proporcionar atividades em sala que
envolvam a escrita, buscando incentivar a criatividade do aluno, e não só
isso, buscando também conscientizá-lo da importância da escrita na prática
escolar.
Avaliação oral - Proporcionar atividades em sala que envolvam
situações de verbalização. O objetivo é garantir ao aluno um espaço para
que ele possa explicitar as suas preocupações, curiosidades e dificuldades,
buscando estabelecer o exercício da espontaneidade, da reflexão e do
pensamento crítico. Sendo assim, aqueles que não conseguissem um bom
desempenho nas atividades escritas, poderiam se desenvolver melhor nessa
atividade.
29
Avaliação por questionamento - O professor deve estabelecer
um questionamento constante com o aluno com relação aos conteúdos
apresentados, levantar dúvidas, despertar curiosidades. Essa atividade teria
como finalidade avaliar as relações estabelecidas pelo aluno acerca do
conteúdo. Um exercício de reflexão.
A prova como avaliação - Eliminar a prática da prova diante da
sociedade competitiva em que vivemos não seria a melhor saída. Nesse
caso, a prova aparece para nós como mais um meio de avaliação e não
apenas como o único.
Sabemos que avaliação é necessária e fundamental para a
melhoria da Educação. Entretanto, as escolas não devem continuar agindo
como meras máquinas de etiquetar (com notas de zero a dez).
O professor precisa estar atento ao seu aluno oferecendo retorno
em função de qualquer produção apresentada pelo mesmo,
independentemente da qualidade dessa produção. Avaliar seu
comportamento, saber como ele interage com o grupo, verificar como esse
aluno vê o mundo e estabelecer intervenções quando necessário.
Acompanhar o aluno não é somente avaliar o que ele já alcançou
como conhecimento, mas também o que ele pode via a alcançar.
É preciso ter consciência de que o sistema de avaliação aplicado
em algumas instituições públicas é falho e que existem outros caminhos que
podem modificar essa situação. Talvez essas considerações ainda não
sejam a melhor forma em relação à prática da avaliação, mas certamente
servirão como reflexão para futuros trabalhos.
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CONCLUSÃO
A partir do material pesquisado acerca do processo de avaliação,
surgiu um espaço de discussão e reflexão sobre as diversas variáveis que
devem ser levadas em consideração quando o assunto é ensino e
aprendizagem.
As reflexões feitas por nós através dessa pesquisa nos fez
entender que a avaliação pode ser trabalhada dentro do espaço escolar de
outra forma.
Ensinar e aprender é acima de tudo, o exercício das
possibilidades, dos erros e dos acertos, das dúvidas eternas e das certezas
temporárias. Portanto, avaliar nada mais é do que olhar para trás, recuperar
de alguma maneira o que foi vivida e projetar mudanças, sempre que
necessário.
31
Concluímos que em parte nossas hipóteses foram confirmadas. A
avaliação quantitativa realmente leva à exclusão, limita a produção do
conhecimento do indivíduo, enquadra-o nos padrões coercitivos da nota.
Essa exclusão é gerada no sistema capitalista. A escola, portanto
se torna um reflexo da sociedade, perpetuando assim a exclusão.
Tudo se torna uma imensa bola de fogo. O conhecimento gira
nesta bola indo parar nas mãos apenas de alguns. A exclusão e a lei do
mais forte tem o mesmo poder de fogo, e atinge a maioria das pessoas.
Junto com o capitalismo vem a globalização, junto com a
globalização vem a exclusão que, como um furacão, arrasa tudo que está
pela frente.
A globalização com seu antagonismo, faz com que esse fogo gire
mais rápido destruindo chances e ilusões.
“A globalização não apaga nem as desigualdades nem as contradições que constituem uma parte importante do tecido da vida social, nacional e mundial. Ao contrário, desenvolve umas e outras, recriando-se em outros níveis, novos ingredientes” (Ianni, 1992:125).
Mas porque elas foram confirmadas apenas em parte?
Inicialmente éramos totalmente contra a avaliação, considerando-a uma
forma de autoritarismo. Finda a pesquisa chegamos a conclusão que a
discussão não deve se desenvolver em torno de avaliar ou não. A questão é
como avaliar. Não tentar eliminar o fenômeno, mas sim transformá-lo,
abordá-lo em perspectiva dialética.
Usar a prova como único método de avaliação induz o aluno à
subordinação! É um método de coação que provoca medo e terror na
maioria dos educandos.
32
Avaliar o aluno por inteiro pensamos ser o mais adequado. Avaliar
seus escritos, suas intervenções verbalizadas na sala de aula, seus erros,
sua atenção, seus êxitos, enfim, sua caminhada. Caminhar junto com ele e
também aprender com ele!
“A educação autêntica [...], não se faz de ‘A’ para ‘B’ ou de ‘A’
sobre ‘B’, mas de ‘A’ com ‘B’, mediatizados pelo mundo.” (Freire, 1983:98)
A escola sendo um espaço de erros e acertos foge muitas vezes
do seu verdadeiro papel que é através dos erros obter os acertos e não
através dos erros obter vergonha, bloqueio e “decoreba”.
Talvez com tudo isso não mudemos a sociedade, não mudemos a
escola, mas certamente estaremos transformando alguma coisa.
A avaliação serve para?
PARA NOS AUXILIAR NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. Coleção Primeiros
Passos: São Paulo: Brasiliense, p.73-97,1981.
CATAPAN, Araci H. Avaliação: mito ou cultura escolar. Revista Dois Pontos.
Belo Horizonte, nº34, p.33-8, set/out.1997.
DALBEN, Ângela I. B. de F. Reprovação / avaliação / escola plural.
Educação em Revista. Belo Horizonte. nº 20/21/22/23/24 p. 135-35, dez/jun
94-97.
FLEURI, Reinaldo Matias. Educar para quê? São Paulo: Cortez, 1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1970.
HAYDT, Regina C. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São
Paulo: Ática, 1988.
IANNI, Octávio. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1992.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. 2 ed. São Paulo:
Cortez, 1994.
34SANTANA, Ilza Martins. Por que avaliar? Como Avaliar? Petrópolis, RJ:
Vozes, 1995.
ANEXO I
ENTREVISTA REALIZADA COM OS ALUNOS
1- Em que escola você estuda?
( ) Pública ( ) Particular
2- Que série você está cursando?
( ) De primeira à quarta série
( ) De quinta à oitava série
( ) Segundo grau
3- Quanto anos você tem?
( ) 7a 9 anos
( ) 10 a 12 anos
( ) 13 a 15 anos
( ) 16 a 18 anos
( ) acima de 18 anos
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4- Quando você estuda?
( ) Na véspera da prova
( ) Todos os dias
( ) Uma vez por semana
5- Por que você estuda?
( ) Por que os pais querem
( ) Para aprender
( ) Para passar de ano
6- Quando você estuda para as provas você se preocupa em:
( ) Decorar os conteúdos
( ) Aprendê-los
7- Depois que você faz as provas você se lembra do conteúdo que
estudou?
( ) Sim ( ) Não ( ) De alguns
8- Você gosta de fazer prova?
( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
9- Você acha que a prova é a melhor forma de avaliar o aluno em sala
de aula?
( ) Sim ( ) Não
10- Como você gostaria de ser avaliado pelo professor?
( ) Prova
( ) Pesquisa
( ) Seminário
( ) Trabalho em grupo
36( ) Outros quais?_______________________________
11- Para que você acha que serve a avaliação?
ANEXO II
Estudo Errado
Composição: Gabriel, O Pensador
Eu to aqui Pra quê?
Será que é pra aprender?
Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer?
Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater
Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever
A professora já tá de marcação porque sempre me pega
Disfarçando espiando colando toda prova dos colegas
E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo
E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo
Eu quero jogar botão, videogame, bola de gude
Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"
Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi
Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde
Ou quem sabe aumentar minha mesada
37Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)
Não. De mulher pelada
A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada
E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)
A rua é perigosa então eu vejo televisão
(Tá lá mais um corpo estendido no chão)
Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação
- Ué não te ensinaram?
- Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil
Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..
Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio
(Vai pro colégio!!)
Então eu fui relendo tudo até a prova começar
Voltei louco pra contar:
Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino
Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato
Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo
Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente
Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente
38E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)
Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu
dormir)
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita
Ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)
Vamos fugir dessa jaula!
"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)
Não. A aula
Matei a aula porque num dava
Eu não agüentava mais
E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais
Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam
(Esse num é o valor que um aluno merecia!)
Íííh... Sujô (Hein?)
O inspetor!
(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)
Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar
E me disseram que a escola era meu segundo lar
E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente
Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!
Então eu vou passar de ano
Não tenho outra saída
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
Discutindo e ensinando os problemas atuais
39E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais
Com matérias das quais eles não lembram mais nada
E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada
Refrão
Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração
e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim cês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...
FOLHA DE AVALIAÇĂO SHEILA RANGEL SOUZA
AVALIAÇÃO DENTRO E FORA DA ESCOLA
Trabalho apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Supervisão Escolar
da Universidade Cândido Mendes
Prof(a):
Este trabalho foi avaliado pelo(s) Professor(es):
40
A nota atribuída foi: ( )
Universidade Cândido Mendes
Curso de Pós-Graduação em Supervisão Escolar
Rio de Janeiro, 24 de Julho de 2004.