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XII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA
DAS ARGAMASSAS São Paulo, 22 a 24 de agosto de 2017
AVALIAÇÃO DO USO DE FINOS EM SUBSTITUIÇÃO AO CIMENTO NO DESEMPENHO MECÂNICO DE ARGAMASSAS
RHANNA BERTON (1); CARLOS HENRIQUE R. MAGRI (2); ELIANE BETÂNIA C. COSTA (3) (1) DACOC – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – [email protected]
(2) DACOC– Universidade Tecnológica Federal do Paraná – [email protected] (3) DACOC – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – [email protected]
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da substituição parcial do cimento por
finos não reativos e/reativos no desempenho de argamassas. Foram produzidas
argamassas com teores de substituição de 0%; 5%; 25%; 45% e 65% do cimento por
calcário e 2% de nanossílica, sendo essa com uso isolado e combinado com 25% de
calcário. O teor de água foi obtido pelo modelo de Powers e para minimizar a
aglomeração das partículas foi utilizado aditivo dispersante a base de policarboxilatos.
No estado fresco, as argamassas foram avaliadas pela densidade de massa, teor de ar
incorporado e espalhamento e no endurecido, pela resistência à compressão e pela
resistência de aderência à tração em argamassas aplicadas sobre substratos graníticos,
ambos aos 28 dias. Nos sistemas argamassa-substrato estudados, os resultados
mostraram que é possível obter uma resistência de aderência de 0,30 MPa com uma
substituição de até 51% do cimento por calcário. O uso de nanossílica em combinação
com 25% de fino calcário não reduziu significativamente os valores de aderência em
comparação à argamassa de referência (0%).
Palavras-chave: cimento, finos, calcário, nanossílica, desempenho.
EVALUATION OF THE USE OF FINES IN REPLACEMENT OF CEMENT ON THE MECHANICAL PERFORMANCE OF MORTARS
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the effect of partial replacement of cement by
non-reactive and/or reactive fines on mortar performance. It was produced mortars
with 0%; 5%; 25%; 45% and 65% of replacement contents of cement by limestone and
by 2% of nanosilica, with this one being used alone and combined with 25% limestone.
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The water content was obtained by the Powers’model and to minimize the
agglomeration of the particles, it was used polycarboxylate-based dispersing admixture.
Mortars were evaluated in the fresh state by the density of mass, entrained air and by
spreading and in the hardened state by the compressive strength and tensile bond
strength in mortar applied on granite substrate, both at 28 days. In the mortar-substrate
systems studied, the results showed that it is possible to obtain a bond strength of
0.30 MPa with a replacement of up to 51% cement by limestone fine. The use of
nanosilica in combination with 25% fine limestone did not significantly reduce bond
strength values compared to reference mortar (0%).
Key-words: cement, fines, limestone, nanossílica, performance.
1. INTRODUÇÃO
O cimento é um dos produtos mais consumidos no planeta, cuja produção mundial no
ano de 2014 foi de 4,3 bilhões de toneladas, o que corresponde a mais de 500 kg per
capita(1). Nesse mesmo ano, no Brasil, a produção atingiu a marca de 71,3 milhões de
toneladas(2). Até 2050, estima-se um aumento de aproximadamente 4 milhões de
toneladas por ano, principalmente nos países em desenvolvimento que carecem de
maior demanda por infraestrutura e habitação(3;4). O processo de produção do cimento
emite cerca de 1000 kg de CO2 por tonelada de clínquer moído, gerado pela
decomposição do calcário e pela queima do combustível fóssil. Para cada tonelada de
cimento produzido são necessárias 1,65 t de matéria prima e 5,5 GJ de energia(5).
A substituição do cimento por materiais alternativos é uma prática favorável a indústria,
pois proporciona materiais com custo mais baixo e menor impacto ambiental,
constituindo-se numa estratégia para mitigação do CO2. Quantidades crescentes de
substituição do cimento tornam-se cada vez mais necessárias. Na Europa, há vários tipos
de cimento com até 35% de calcário, entretanto o teor médio empregado
mundialmente ainda é inferior a 5%(6), como por exemplo, o CPV no Brasil. Como uma
alternativa para a redução de cimento, pode-se citar a substituição parcial por partículas
reativas e/ou não reativas durante a produção de argamassas e concretos.
Os materiais não reativos, tal como o carbonato de cálcio, quando utilizados têm como
principal função o efeito físico, atuando no preenchimento de vazios – denominado
“efeito fíler” – e como agentes de nucleação acelerando as reações de hidratação(7).
Estudos mostram que a substituição de 15% a 20% do cimento por carbonato de cálcio
não altera significativamente a resistência à compressão do concreto, mesmo quando
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não é feito o controle da área superficial e da distribuição granulométrica. Em teores
superiores, há uma redução das propriedades mecânicas devido ao efeito de
diluição(8- 10). Além dos efeitos físicos, as partículas reativas que apresentam
pozolanicidade, como a sílica, quando finamente moídas e na presença de umidade
reagem com o hidróxido de cálcio liberado na reação de hidratação do cimento
formando compostos com propriedades cimentícias (C-S-H)(11).
A nanossílica pode apresentar diversos tamanhos e diferentes aplicações em função do
processo de obtenção. No processo sol-gel, o pH da mistura entre os materiais que dão
origem à sílica é alterado por uma base ou ácido formando o gel da sílica. Esse gel é
filtrado e tratado de modo a produzir uma dispersão concentrada. O desempenho
dessas nanopartículas depende das condições dos reagentes, do meio da reação (básico
ou ácido) e da temperatura do tratamento térmico(12; 13). A principal diferença entre a
sílica ativa e a nanossílica é a granulometria que apresentam, visto que o tamanho típico
das partículas de sílica ativa fica entre 200 e 1000 nm, enquanto que o da nanossílica
encontra-se entre 3 e 150 nm(14).
Nili et al. avaliaram concretos com nanossílica em teores de 0%, 1,5%, 3% e 4,5%, e
concluíram que o uso de grandes quantidades da adição não é favorável ao aumento da
resistência à compressão devido a aglomeração das partículas, uma vez que o melhor
resultado foi observado no concreto com 1,5% de nanossílica em relação à massa de
cimento(15). Após ampla revisão bibliográfica, Aggarwal et al. constataram que o uso de
nanossílica em teores de até 2% proporcionam melhorias significativas nas propriedades
mecânicas das matrizes cimentícias (16).
Pesquisas têm apresentado resultados satisfatórios com o uso de misturas binárias de
calcário e sílica em pastas, em argamassas e concretos(17-19). Segundo Bentz et al. para
teores de substituição de até 40% do cimento por combinações de calcário e sílica
podem ser uma solução atraente para aplicações em grautes, argamassas colantes e
para revestimentos que não carecem de uma resistência tão elevada(19).
Ambos os tipos de partículas, reativas e não reativas, podem melhorar o desempenho
de matrizes cimentícias pela diminuição da porosidade do sistema. A incorporação de
partículas com granulometria menor ou equivalente ao cimento, cerca de 10 µm e
15 µm(20), desde que dispersas, diminui a porosidade do sistema e melhora a aderência
na interface matriz-substrato (zona de transição) pelo aumento da área de contato(21;22).
Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo analisar o efeito da substituição
parcial do cimento por teores de finos, reativos e/ou não reativos, com granulometria e
dispersão controlada, no desempenho mecânico da argamassa e da interface
argamassa-substrato.
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2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para avaliação do efeito da redução do cimento no desempenho mecânico de
argamassas foram produzidas argamassas com teores de substituição de 0%; 5%; 25%;
45% e 65% do cimento por calcário e 2% de nanossílica, sendo essa com uso isolado e
combinado com 25% de calcário. A seguir, serão apresentados os materiais utilizados,
as etapas da produção, bem como os ensaios realizados.
2.1. Particulados
As argamassas foram produzidas utilizando um cimento Portland tipo CPV, massa
específica igual a 3,14 g/cm³ conforme ABNT NBR NM 23: 2001(23). Apesar de não ser
usual na produção de revestimentos argamassados, o CPV foi escolhido por apresentar
menor quantidade de adições minerais dentre os tipos disponíveis no mercado nacional;
um fino calcário (PROVALE – PROCARB 5) com massa específica igual a 2,64 g/cm³,
constituído essencialmente de carbonato de cálcio(24) e uma areia natural quartzosa com
massa específica de 2,75 g/cm³(25). A granulometria da areia foi determinada por
peneiramento mecânico, conforme ABNT NBR NM 248: 2003(26) e dos materiais finos
por difração a laser, cujos resultados estão apresentados na Figura 1.
Figura 1 – Distribuição granulométrica do cimento, calcário e areia utilizadas na produção de argamassas.
(1)Ensaio realizado em equipamento Malvern Mastersizer200, com acessório Scirocco 2000 via seca;
(2) Dados obtidos de Costa(24).
Fonte: autoria própria.
Na Figura 1 verifica-se que o calcário apresenta diâmetro médio igual a 11 µm similar ao
cimento 14 µm, porém com maior volume de partículas menores: 90% das partículas
são inferiores a 33 µm enquanto que no cimento esse valor corresponde a 42 µm.
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A nanossílica utilizada (AkzoNobel – Cembinder 30) constitui-se uma solução aquosa
coloidal, 30% de partículas sólidas de sílica amorfa, com dispersão estabilizada em meio
óxido de sódio (Na2O). De acordo com os dados do fabricante, a nanossílica utilizada
apresenta área superficial de 300 m²/g; diâmetro médio de 9 nm; pH igual a 10,5;
densidade de 1,2 g/cm3.
Para minimizar o efeito de aglomeração das partículas foi utilizado um aditivo
dispersante em pó a base de policarboxilato de éter (Melflux® 2651 F – BASF) num teor
de 0,02% em relação à massa de cimento estabelecido com base nos resultados obtidos
por Costa(24).
2.2. Substrato
Afim de avaliar o desempenho mecânico da interface, as argamassas foram aplicadas
em substratos graníticos, com porosidade de 0,88% e absorção de água nula
(0,0 g/cm².min) determinadas conforme procedimentos descritos pela ABNT NBR 9778:
2009(27) e por Reda Taha et al. (28), respectivamente. Esse substrato foi utilizado para
evitar o efeito da absorção de água na movimentação das partículas.
2.3. Produção das argamassas
As argamassas foram preparadas na proporção 1:3 (finos: areia) em massa. Foram
produzidas sete argamassas sendo essas: uma de referência constituída por cimento e
areia (0%); quatro substituindo o cimento em teores de 5%, 25%, 45% e 65% por fino
calcário; uma com substituição de 2% de cimento por nanossílica; e uma blenda com 2%
de nanossílica e 25% de fino calcário. O teor de substituição de nanossílica foi adotado
com base no levantamento bibliográfico realizado por AGGARWAL et al. (16).
A quantidade de água foi obtida com base no modelo de Powers(29), considerando a
porosidade teórica do sistema constante e igual a 21%. Esse valor foi adotado com base
nos resultados obtidos por Costa(24) para argamassas similares. A massa de água foi
calculada pela Equação 1:
𝑚á𝑔𝑢𝑎 =0,17. 𝑚𝑐. ℎ + 𝑉𝑠. 𝑝
(1 − 𝑝) (A)
em que p é o percentual da porosidade total do sistema; 𝑚𝑐 é a massa de cimento da
mistura; 𝑉𝑠 é o volume total de sólidos presente na argamassa e ℎ é o grau de hidratação
do cimento. Para este trabalho adotou-se ℎ = 1.
As argamassas foram misturadas em misturador de bancada HOBART N 50 conforme
procedimentos estabelecidos pela NBR 7215(30), com total de sólidos igual a 3 kg. O
aditivo dispersante foi inserido junto aos sólidos antes da mistura.
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Após a mistura, as argamassas foram avaliadas no estado fresco por ensaios de
densidade de massa(31), teor de ar incorporado(31) e do índice de consistência(32).
2.4. Moldagem e cura dos corpos de prova
Para avaliação da porosidade e resistência mecânica, foram moldados seis corpos de
prova cilíndricos com diâmetro igual a 50 mm e altura de 10 mm para cada tipo de
argamassa estudada. Os corpos de prova foram produzidos em quatro camadas e
adensados em mesa de queda com aplicação de 30 golpes por camada. Após o
adensamento, as superfícies dos corpos de prova foram niveladas com auxílio de
espátula. Depois de 24 h, os moldes metálicos eram retirados e as amostras imersas em
água saturada de cal por 27 dias. Os corpos de prova foram colocados em estufa numa
temperatura igual a 50ºC durante 24 h previamente a realização dos ensaios.
Os ensaios de resistência de aderência à tração foram realizados nas argamassas
aplicadas sobre substratos graníticos. Para cada situação avaliada, foram moldados
trinta corpos de prova cilíndricos de diâmetro igual a 50 mm e espessura de 20 mm. Os
corpos de prova foram moldados em camada única, aplicando-se quinze golpes com
auxílio de soquete metálico. Os corpos de prova foram submetidos à cura úmida por um
período de 28 dias, data de realização do ensaio.
2.5. Ensaios realizados
A porosidade das argamassas foi determinada pelo método de absorção de água por
imersão proposto pela ABNT NBR 9778: 2009(27) e o desempenho mecânico das
argamassas por ensaios de resistência à compressão conforme procedimentos
recomendados pela ABNT NBR 7215: 2003(30). Esse último, foi realizado em máquina de
ensaios universal – EMIC DL 3000 N NS5919.
Para determinação da resistência da interface foram realizados ensaios de resistência
de aderência à tração, conforme os procedimentos desenvolvidos por Costa(24)
adaptados da NBR 13528(33). As pastilhas foram coladas com massa de poliéster curadas
ao ar por no mínimo 2 horas. O ensaio de arrancamento foi realizado com auxílio de um
dinamômetro de tração (CONTENCO 3003 N, com velocidade controlada de 250 N/s.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na tabela 1 estão apresentadas as propriedades das argamassas no estado fresco.
Observa-se que houve um aumento da densidade de massa em função da substituição
do cimento por finos em teores de 45% e 65% comparada a argamassa de referência
(0%), consequentemente, reduzindo o teor de ar incorporado. Esse permaneceu na faixa
de 8 a 13%. A consistência das argamassas também aumentou com o acréscimo do teor
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de substituição do cimento pelos finos. Isso ocorre devido a maior área específica das
partículas finas que proporcionam um aumento da densidade de empacotamento do
sistema. Em relação a substituição do cimento por nanossílica (N2; FN), devido ao teor
reduzido de substituição, 2% em relação à massa de cimento, não houve alteração da
consistência em relação às argamassas REF e F25, respectivamente.
Tabela 1 – Propriedades das argamassas estudadas no estado fresco.
Argamassa
Teor de substituição do cimento
(%)
Finos
adicionados
Relação a/c
Relação
a/f
Densidade de massa (kg/m³)
Teor de ar (%)
Índice de consistência
(mm)
REF 0 - 0,58 0,58 2060 11 284
F5 5 Calcário 0,61 0,58 1995 13 278
F25 25 Calcário 0,73 0,54 2087 10 272
F45 45 Calcário 0,94 0,52 2117 8 242
F65 45 Calcário 1,62 0,51 2106 9 198
N2 2 Nanossílica 0,58 0,58 1998 13 284
FN 25+2 Calcário +
Nanossilica 0,73 0,55 2057 11 275
O desempenho mecânico das argamassas e da interface argamassa-granito bem como
os resultados de eficiência do uso de ligante com base no índice de ligante (IL) proposto
por Damineli et al.(34) estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Propriedades das argamassas estudadas no estado endurecido aos 28 dias.
Argamassa
Cc (kg/m³)
Argamassa Interface argamassa-granito
Porosidade (%)
Rc (MPa) ILRc
(kg/m³.MPa) n Rad (MPa)
ILRad (kg/m³.MPa)
REF 502,5 15,6 ± 0,5 38,4 ± 1,4 13,09 30 0,50 ± 0,11 999,4
F5 478,2 17,2 ± 0,8 37,6 ± 0,9 12,72 31 0,44 ± 0,11 1096,9
F25 380,7 17,1 ± 0,8 30,7 ± 0,8 12,40 33 0,40 ± 0,10 948,7
F45 281,7 21,2 ± 0,5 24,2 ± 1,0 11,64 29 0,36 ± 0,10 776,8
F65 156,3 21,8 ± 0,2 7,0 ± 0,5 22,32 22 0,22 ± 0,05 707,4
N2 498,3 13,4 ± 1,1 33,3 ± 1,6 14,96 29 0,49 ± 0,11 1011,6
FN 378,3 16,6 ± 2,1 28,2 ± 2,9 13,42 29 0,48 ± 0,12 795,7
Os resultados de resistência à compressão mostram que todas as argamassas estudadas
apresentaram valores bem superiores ao especificado pela classe III da NBR 13281
(ABNT, 2001) (37) devido ao elevado consumo de cimento do traço adotado. De um modo
geral, verificou-se que a resistência à compressão das argamassas diminuiu com o
aumento do teor de substituição do cimento pelas partículas finas. Os resultados
obtidos corroboram com outros pesquisadores que avaliaram a influência do teor de
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substituição do cimento por finos calcários na resistência à compressão de concretos(8-
10) e na resistência à tração por compressão diametral de argamassas(24). Essa tendência
de redução das propriedades mecânicas, quando o teor de finos não reativos, é
aumentado ocorre devido ao efeito de diluição, uma vez que a adição de finos reduz o
volume de produtos hidratados e aumenta a relação água/cimento.
De um modo geral o aumento da relação água/cimento tende a aumentar a porosidade
das matrizes cimentícias. No entanto, verificou-se que algumas argamassas, F5 e F25,
com relações a/c diferentes (0,61 e 0,73 – respectivamente) apresentaram mesmo valor
de porosidade. E, argamassas com mesma relação a/c (REF e N2; F25 e F25N2)
apresentaram porosidade diferentes. Por exemplo, o uso de 2% de nanossilica
proporcionou uma redução de 14% da porosidade em relação à argamassa de
referência. Nestes casos, a granulometria das partículas também pode ter contribuído
para a redução da porosidade do sistema, visto que houve a redução da porosidade com
o incremento de partículas finas no sistema (efeito fíler).
Houve um decréscimo da resistência de aderência à tração com o aumento da
substituição do cimento pelos finos calcários, como mostra a Figura 2. Esses resultados
estão de acordo com os resultados obtidos por Costa(24) ao analisar o efeito da
substituição de cimento por finos calcários em argamassas aplicadas em substratos
cerâmicos hidrofugados.
Figura 2 – Resistência de aderência à tração das argamassas aplicadas em substrato granítico. Todos os corpos de prova apresentaram ruptura na interface argamassa-substrato.
Fonte: autoria própria
Apesar da redução da aderência com o incremento do teor de calcário, os resultados
são extremamente satisfatórios, visto que atende os valores de resistência de aderência
à tração recomendados pela NBR 13749(35) para aplicação em revestimentos externos e
internos. No modelo estudado, é possível obter uma resistência de aderência de
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0,30 MPa com uma substituição de até 51% do cimento por calcário. Todas as
argamassas estudadas atingiram o valor mínimo recomendado de 0,20 MPa para
aplicação como revestimento interno, mesmo para teores de substituição de 65% por
fino calcário. Isso porque essas argamassas apresentam consumo de cimento da ordem
de 155 kg/m³ típico para aplicação em revestimentos.
Na tabela 2, observa-se que os índices de eficiência do uso do ligante para a resistência
à compressão, manteve-se praticamente constante até o teor de 45% de substituição,
decrescendo em média 6% para um aumento de 20% da substituição de cimento por
calcário. Este fato representa algo positivo, visto que até o teor de 45% de substituição,
menos ligante (cimento) foi necessário para obtenção de 1 MPa de resistência à
compressão. Para o teor de substituição de 65%, constatou-se que o excesso de finos
foi prejudicial para garantir a eficiência do sistema, não houve quantidade de ligante
suficiente para garantir a coesão entre as partículas(36), reduzindo à resistência à
compressão.
Ainda no que diz respeito à eficiência verificada na resistência à compressão, quando
trata-se da inserção de nanossílica, a argamassa FN (25% de calcário + 2% de nanossílica)
apresentou resultados satisfatórios, porém menos eficientes se comparados a F25. A
composição com substituição de cimento exclusivamente por nanossílica, a eficiência
do sistema foi reduzida em 14% devido à presença do material. Isto pode ter ocorrido
porque a contribuição química da nanossílica para a resistência mecânica devido as
reações pozolânicas ocorre em idades mais avançadas(11).
Em relação à resistência de aderência, verificou-se um aumento da eficiência do uso do
ligante com o acréscimo de finos calcários no sistema. A substituição de 65% do cimento
propiciou uma redução de 29% do índice de ligante para obtenção de um mesmo valor
de aderência. Isso indica que pode ser vantajoso a substituição do cimento por partículas
finas em teores de até 65%, porém deve ser verificado os limites de resistência de
aderência estabelecidos por norma para que não haja comprometimento do sistema de
revestimento. A argamassa FN apresentou maior eficiência em comparação à F25 (17%)
e menor eficiência em relação a referência, 17% e 2%, respectivamente.
4. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos mostram que a substituição do cimento por finos tem mais
impacto para a resistência à compressão do que para a resistência de aderência à tração.
No caso da aderência, o aumento do teor de substituição do cimento pelos finos
calcários propiciou resultados satisfatórios enquanto que na resistência à compressão o
impacto foi negativo. No entanto, verificou-se que mesmo para argamassas com
consumo de cimento próximo a 155 kg/m³, obtidas com teor de substituição de 65% de
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cimento por fino calcário, apresentam valores de resistência à compressão superior a
8 MPa e resistência de aderência de 0,20 MPa conforme requisitos normativos para
aplicação em argamassas de revestimento interno. Para a aplicação da argamassa em
revestimentos externos é possível substituir até 51% do ligante pelo material garantindo
uma resistência de aderência satisfatória (consumo de cimento próximo a 190 kg/m³).
O uso combinado de 25% de calcário e 2% de nanossílica não reduziu a resistência de
aderência das argamassas aplicadas sobre os substratos graníticos apesar da redução de
aproximadamente 125 kg/m³ de cimento. Isso mostra o enorme potencial do uso de
misturas desses dois materiais para aplicação em matrizes cimentícias. Estudos
adicionais devem ser realizados para verificação do potencial de substituição do cimento
por finos calcários e nanossílica em argamassas com traços mais pobres de cimento e
com maiores proporções de agregado miúdo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Cimento Itambé, a AkzoNobel e ao laboratório de Microestru-
tura e Ecoeficiência da USP pela doação dos materiais utilizados na pesquisa.
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