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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS POSTOS DE TRABALHO NA EXECUÇÃO DE UMA COBERTURA Bernardo Zanetta Ganzo Pereira (IFSC ) [email protected] Angela Regina Poletto (IFSC ) [email protected] A etapa de cobertura tem importância fundamental para o bom funcionamento de um edifício tendo em vista, que desempenha a proteção da edificação contra intempéries. Durante a sua execução, muitas vezes os trabalhadores desenvolvem suas atividades em locais insalubres e ritmos acelerados estando frequentemente expostos a umidade, sol e risco alto de acidente de trabalho devido ao trabalho em altura. Este estudo teve como objetivo realizar uma análise ergonômica do trabalho na execução da etapa de cobertura de um edifício residencial na grande Florianópolis. Para a coleta das informações seguiu-se o método da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), baseando-se em várias técnicas como: observações, fotografias, entrevistas semiestruturadas, questionários e verbalizações dos trabalhadores. Os resultados da pesquisa foram analisados sob a ótica qualitativa. Observou-se por meio da análise das atividades que os trabalhadores adotam posturas inadequadas durante todo o processo de trabalho, não fazem o uso dos EPI necessários, utilizam EPI não adequados, ficam expostos a umidade devido à ação de intempéries e se comunicam de maneira precária. Recomenda-se a utilização dos EPI adequados, aquisição de equipamento de comunicação eficiente, organização do ambiente de trabalho evitando acúmulo de materiais e treinamento e capacitação de funcionários. Palavras-chaves: cobertura, construção civil, análise ergonômica do trabalho. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS POSTOS DE

TRABALHO NA EXECUÇÃO DE UMA

COBERTURA

Bernardo Zanetta Ganzo Pereira (IFSC )

[email protected]

Angela Regina Poletto (IFSC )

[email protected]

A etapa de cobertura tem importância fundamental para o bom

funcionamento de um edifício tendo em vista, que desempenha a proteção

da edificação contra intempéries. Durante a sua execução, muitas vezes os

trabalhadores desenvolvem suas atividades em locais insalubres e ritmos

acelerados estando frequentemente expostos a umidade, sol e risco alto de

acidente de trabalho devido ao trabalho em altura. Este estudo teve como

objetivo realizar uma análise ergonômica do trabalho na execução da etapa

de cobertura de um edifício residencial na grande Florianópolis. Para a coleta

das informações seguiu-se o método da Análise Ergonômica do Trabalho

(AET), baseando-se em várias técnicas como: observações, fotografias,

entrevistas semiestruturadas, questionários e verbalizações dos

trabalhadores. Os resultados da pesquisa foram analisados sob a ótica

qualitativa. Observou-se por meio da análise das atividades que os

trabalhadores adotam posturas inadequadas durante todo o processo de

trabalho, não fazem o uso dos EPI necessários, utilizam EPI não adequados,

ficam expostos a umidade devido à ação de intempéries e se comunicam de

maneira precária. Recomenda-se a utilização dos EPI adequados, aquisição

de equipamento de comunicação eficiente, organização do ambiente de

trabalho evitando acúmulo de materiais e treinamento e capacitação de

funcionários.

Palavras-chaves: cobertura, construção civil, análise ergonômica do trabalho.

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1. Introdução

Com a expansão da construção civil em todo o território nacional, observa-se a necessidade de

atualização dos processos e práticas dentro desse setor que tem participação significativa tanto

na economia como na geração de empregos. Segundo dados do anuário estatístico de 2010,

22,4% dos acidentes de trabalho no Brasil aconteceram no estado de Santa Catarina. Dos

701.496 acidentes registrados, 47.730 são na construção civil, ou seja, 6,8% de todos os

acidentes do Brasil ocorrem no setor da construção civil dentro de Santa Catarina (BRASIL,

2012).

Os dados revelam que a construção de edifícios é responsável pela maioria dos acidentes de

trabalho dentro da construção civil, devido ao fato de o trabalhador realizar suas atividades ao

ar livre, exposto a intempéries, utilizar muita força física e o descaso com o uso de

equipamentos de proteção individual e coletiva.

A construção de um edifício é constituída por etapas que vão desde a fundação até a

cobertura. A cobertura é uma etapa que exige muito cuidado na sua execução por parte dos

trabalhadores devido à importante função que ela desempenha, recebe água da chuva e

protege o edifício de intempéries. O cuidado na execução da cobertura também se dá visto

que é uma atividade desenvolvida em altura e ao ar livre, condições muito favoráveis a

acidentes de trabalho.

Segundo a NR 17 (BRASIL, 2011), a ergonomia objetiva estabelecer parâmetros que

permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores visando obter o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente, na

execução da etapa.

Na construção de edifícios, subsetor da construção civil, a etapa de cobertura é executada

geralmente após a conclusão da etapa de estrutura com a finalização da última laje do edifício.

A cobertura tem papel fundamental para o bom desempenho da edificação ao logo de sua vida

útil, tendo em vista a função de proteção que exerce contra intempéries, águas pluviais e

temperatura externa. (AZEREDO, 2002; SALGADO, 2010). A execução, quando não feita

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de acordo com as normas e padrões estabelecidos pelos fabricantes das telhas e normas

regulamentadoras, pode vir a apresentar patologias como infiltrações, vazamentos e

desconforto térmico.

Levando em consideração a importância do setor para a economia e desenvolvimento do país,

é necessário buscar melhorias no que diz respeito à eficiência, segurança, conforto e

ergonomia dos trabalhadores que nesta área atuam, evitando assim os riscos de acidente que

são frequentes neste segmento. Também é necessário buscar melhorias nas práticas da

execução na etapa de cobertura que é fundamental para o bom funcionamento do edifício

como um todo. Por ser um espaço externo, a execução exige, por parte dos trabalhadores,

cuidados especiais a fim de evitar acidentes, mas o trabalhador precisa ter condições seguras

e ergonômicas.

Este trabalho tem como objetivo verificar os problemas ergonômicos na etapa de cobertura da

construção de um edifício residencial, localizado na Grande Florianópolis.

2. Procedimentos Metodológicos

Este estudo de natureza exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa será

desenvolvida por meio de um estudo de caso na etapa de cobertura de um edifício residencial

na grande Florianópolis.

Foi utilizado o método da Analise Ergonômica do Trabalho (AET), uma das formas de

intervenção ergonômica que tem como objetivo analisar as atividades de trabalho (GUÉRIN,

et al. 2001; DANIELLOU et al., 2007). O método da AET estrutura-se a partir: da análise da

demanda, análise da tarefa e análise da atividade, diagnóstico e recomendações.

Para o desenvolvimento das etapas da AET, baseou-se em várias técnicas: observações,

entrevistas semiestruturadas, conversas informais, filmagens, fotografias. Os dados foram

analisados qualitativamente. A análise qualitativa dos dados será feita por meio da análise de

conteúdo, em que serão criadas categorias de análise identificadas durante a AET.

2. RESULTADOS

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3.1 Análise das atividades de cobertura

O posto de trabalho analisado foi o da execução da cobertura de um edifício residencial que

compreende um ambiente físico de 421,26 m² de contra piso de concreto. O edifício estudado,

possui 6 pavimentos, cada um com 6 apartamentos por andar e pé direito de 2,70 m, sendo

assim a etapa da cobertura é executada a uma altura de 16,20 m aproximadamente.

A etapa da cobertura se inicia com a finalização da execução da alvenaria, que compreende a

construção de paredes utilizando unidades de tijolo cerâmico ou concreto, unidos entre si por

argamassa. Na finalização da alvenaria do duto de ventilação do edifício, os trabalhadores não

fazem o uso de cinto de segurança trava-quedas, equipamento de segurança indispensável

nesta atividade visto que os trabalhadores se

encontram 4,5 metros de altura do nível da laje,

podendo ocasionar acidentes graves.

Segundo a NR 35, considera-se trabalho em

altura toda atividade executada acima de 2,00

m (dois metros) do nível inferior, onde haja risco

de queda (BRASIL, 2012), portanto observa-

se que o uso de cinto de segurança é obrigatório.

Figura 01 – Confecção de Rufos

Fonte: dados do autor.

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A execução dos rufos, que são estruturas confeccionadas com concreto armado e tem como

finalidade a proteção das paredes expostas, evitando infiltrações nas juntas entre telhado e

parede, no caso a junta entre a cobertura e a parede do duto de ventilação, inicia a etapa da

cobertura. Durante a realização da atividade os movimentos realizados exigem a elevação dos

membros superiores, o que poderá provocar dores e problemas musculares, devido a intensa

atividade (Figura 1).

Na Figura 2, verifica-se que as atividades são desenvolvidas sem as condições adequadas, o

trabalhador improvisa objetos para realizar trabalhos em altura se comunicar com outros

colegas que se encontram no térreo, o que pode gerar acidentes.

Durante todo o processo de trabalho, há a exposição do trabalhador ao sol, sendo que não há

uma preocupação com a sua proteção, podendo ao longo dos anos desenvolver doenças

graves.

Figura 2 – Comunicação com os trabalhadores

Fonte: Dados do Autor.

Na atividade de nivelamento com argamassa da calha que vai ser impermeabilizada com

manta, e receberá águas pluviais. A calha deve ser nivelada de forma que o escoamento da

água seja eficiente. O desconforto postural está presente durante a execução desta atividade e

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a falta do uso de uniforme adequado.

Por guincho motorizado controlado por um operador no térreo, são erguidos os materiais

necessários para a execução de toda a etapa como caibros, terças e telhas. O trabalhador que

recebe os materiais no pavimento da cobertura e deve estar equipado com cinto de segurança

trava quedas, capacete, sapatão e calça de uniforme.

Na montagem da estrutura da cobertura, as terças são fixadas nas platibandas que ficam na

periferia do edifício e em barrotes de eucalipto travados juntos a laje. Os ganchos de ferro tem

como função o travamento dos jaús, e então passam a desempenhar a função de travar toda a

estrutura junta a laje através do passamento de caibros pelos ganchos como também a

amarração de telhas aos mesmos. Observa-se nesta etapa que a água das chuvas fica

acumulada, tornando o ambiente insalubre (Figura 3).

Figura 3- Corte com serra circular

Fonte: Dados do Autor.

As toras de eucalipto que são usadas para terças e caibros, são adquiridas já com as dimensões

que facilitam a execução da cobertura de acordo com o projeto, 4,0 m de comprimento x 0,12

m de diâmetro, porem muitas vezes os trabalhadores necessitam fazer pequenos cortes nas

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toras com serra circular a fim de obter um encaixe completo e dar acabamento a peças que

necessitam ser de menor tamanho.

O trabalhador faz uso da serra circular em ambiente extremamente úmido, a exposição do

mesmo a esta condição de trabalho pode gerar problemas de saúde e riscos de acidentes. A

atividade realizada na umidade também proporciona risco de choque elétrico caso a extensão

utilizada esteja danificada em algum ponto e entre em contato com a água.

Na Figura 3, verifica-se o corte de caibros com o uso de serra circular, é possível perceber que

o trabalho com os membros superiores, a elevação do ombro e a inclinação que se faz

necessária para a execução desta tarefa, causando desconforto e fortes dores devido a intensa

atividade.

A fixação entre as terças e caibros é feito através de pregos, que são confeccionados pelo

corte de barras de aço de diâmetro 8mm, com comprimento de 25 cm cada. O trabalhador faz

a união das duas peças com auxílio de martelo. Verifica-se que o trabalhador em várias

situações desenvolve a atividade em ambiente com água depositada da chuva, ficando exposto

a umidade, sendo indispensável o uso de botas de borracha para se proteger.

Na colocação de ripa, que são de pinus com 0,05 m de largura por 0,05 m de altura por 3,0 m

de comprimento, sobre caibro no encontro com a calha, são nas ripas que as telhas são

fixadas.

Após a regularização das calhas com argamassa é aplicado uma pintura de solução composta

de asfaltos modificados, plastificantes e solventes voláteis para garantir a aderência da manta

asfáltica alumínio, além de impermeabilização da calha a manta também tem como função a

reflexão de raios solares, evitando assim o aquecimento da laje. Devido ao fato da

necessidade do uso de maçarico para a execução desta tarefa e o risco químico na aplicação

da pintura verifica-se que o trabalhador não usa os equipamentos de proteção individual

obrigatórios, encontra-se portando exposto a risco alto de queimadura.

As telhas de fibrocimento com 6 mm de espessura, tem largura de 1,10 m e comprimento de

3,05 m, começam a ser acomodadas em cimas das ripas. A colocação é feita de baixo para

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cima, sempre trabalhando com a sobre posição das mesmas. Neste ponto é observado o

alinhamento das telhas pois logo em seguida elas já serão fixadas nas ripas. O trabalhador

começa a encontrar cada vez mais dificuldades visto que o espaço do ambiente de trabalho é

reduzido e muitas vezes ele é obrigado a andar por cima das telhas em passarelas correndo

riscos de quedas.

As telhas de fibrocimento são fixadas com o auxílio de parafuso zincado com vedação,

dimensões 5/16 x 110 mm, que são introduzidos com o auxílio da furadeira que abre espaço

na telha e na ripa de madeira. Os parafusos são posicionados sempre na 2ª e 5ª onda de cada

telha. O trabalhador deve estar equipado com protetor auricular, devido ao ruído que a

furadeira gera. A elevação do antebraço constante causa dores e desconforto no trabalhador.

Os trabalhadores fazem o uso correto do protetor auricular, amenizando assim a intensidade

do ruído causado pela furadeira.

Após o término de toda a execução da cobertura e limpeza do ambiente de trabalho é

realizado uma inspeção por um profissional experiente para conferir o travamento da estrutura

do telhado, a colocação das telhas e as ligações de recolhimento de águas. O trabalhador

durante a atividade fica exposto em um ambiente com pé direito muito reduzido, cerca de 1,00

m e com pouca ventilação e temperaturas elevadas, conforme a Figura 4.

Figura 4 - Inspeção da cobertura

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Fonte: Dados do autor

Analisando a etapa de maneira geral, podemos perceber que se trata de uma execução

complexa ponto de vista ergonômico. Os trabalhos são desenvolvidos a céu aberto deixando

os trabalhadores expostos aos raios solares e umidade. Toda a atividade é executada a uma

altura de mais de 16 m do nível do solo o que obriga segundo a NR 35 o uso permanente de

cinto de segurança trava-quedas. O transporte de cargas para a laje onde o serviço é executado

não segue as recomendações da NR 11, assim como o uso de EPI também não é adequado.

3.2 Diagnóstico

Durante o desenvolvimento da análise das atividades foram observados os principais

diagnósticos:

observa-se que não há sinalização adequada para o risco de queda e para o uso de EPI;

posturas inadequadas são observadas durante todo o processo de trabalho;

constata-se a falta de uso de EPI e o uso de EPI inadequados;

verifica-se uma comunicação inadequada entre os trabalhadores, visto que os

trabalhadores se debruçam nas platibandas e gritam para se comunicar;

umidade no ambiente de trabalho devido à deposição da água da chuva.

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3.3 Recomendações Ergonômicas

A análise da atividade permitiu realizar um diagnóstico, e seguem as seguintes

recomendações para melhoria da execução da etapa de cobertura:

Nas áreas onde o trabalho em telhado e/ou cobertura é executado é obrigatório a

sinalização de advertência e de isolamento da área, de modo a evitar a ocorrência de

acidentes por queda de equipamentos, materiais ou ferramentas. Segundo a NR 6,

para o transporte de cargas toda área deve ter sinalização adequada por meio de placas

na vertical e no piso, afim de alertar trabalhadores e visitantes (BRASIL, 2012). Além

de identificar as áreas destinadas a transporte de cargas, recomenda-se que a empresa

responsável pela obra sinalize a obrigatoriedade do uso completo de EPIS e o risco do

trabalho em altura, evitando assim possíveis acidentes.

Segundo a NR 35, “cabe aos trabalhadores cumprir as disposições legais e

regulamentares sobre trabalho em altura, inclusive os procedimentos expedido pelo

empregador’’, ao mesmo tempo o “empregador deve promover programa para

capacitação dos trabalhadores à realização de trabalho em altura”.(BRASIL, 2012)

Durante todo o processo de trabalho foi constatado que os trabalhadores são

submetidos a posturas inadequadas, proporcionando desconforto e fadiga física.

Segundo a NR 17, a análise ergonômica do trabalho permite verificar e estabelecer

parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características

psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto

segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 2012). Portando recomenda-se que os

trabalhadores sejam instruídos e incentivados a manter o ambiente de trabalho limpo e

organizado, garantindo assim mais espaço para se movimentar e evitando posições

desconfortáveis, o treinamento por parte de profissional qualificado também se faz

necessário visto que ensina os trabalhadores posições adequadas para as atividades

desenvolvidas.

Os EPIS necessários para a execução da cobertura são: capacete, sapatão (hidro

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fugados), protetor auricular tipo pré-moldado, uniforme completo com calça, cinto

trava quedas, além de luvas e avental de PVC, óculos e máscara com filtro para a

aplicação da manta asfáltica. Segundo a NR 6, os EPIS devem ser fornecidos pelo

empregador em perfeito estado de conservação e somente equipamentos aprovados

pelo órgão nacional competente (BRASIL, 2012). Cabe ao empregador orientar,

treinar e exigir do trabalhador a utilização dos mesmos. Diariamente deve ser

verificado as condições que os equipamentos de proteção individual se encontram para

garantir a integridade física do trabalhador.

Recomenda-se que o empregador, forneça protetor auricular do tipo pré moldado ou

utilizar capacete com protetor auricular acoplado.

A empresa não conta com meio de comunicação eficiente entre os funcionários,

fazendo muitas vezes os mesmos se debruçar na platibanda, conforme Figura 16, para

orientar colegas de trabalho que se encontram no piso térreo. Neste caso é

recomendável que a empresa adquira um equipamento de telecomunicação eficiente,

como rádios de comunicação com alcance moderado, para que os trabalhadores

consigam ter uma comunicação satisfatória e não passem por riscos de acidente.

Toda a etapa da cobertura foi realizada em períodos de instabilidade meteorológica,

intercalando períodos de chuva, sol e ventos deixando assim o ambiente com umidade

elevada. Na ocorrência de ventos fortes, chuvas e/ou superfície escorregadia, a

realização de qualquer atividade no telhado, é proibida. Recomenda-se que os

trabalhadores utilizem EPIS específicos para trabalhos com umidade, calças

impermeáveis e calçados hidro fugados (resistentes à passagem de água).

3. Considerações Finais

O objetivo do estudo foi verificar os problemas ergonômicos na etapa de cobertura da

construção de um edifício residencial, localizado na Grande Florianópolis. Neste estudo

ressalta-se a importância em realizar a análise ergonômica do trabalho na etapa de cobertura

na construção de um edifício, pois é uma das formas de intervenção ergonômica utilizadas nos

estudos que analisam as atividades de trabalho diagnosticando os pontos vulneráveis do

processo de trabalho que prejudicam o conforto, saúde e segurança atingindo o objetivo

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principal deste estudo.

Confrontando as informações coletadas no posto de trabalho observou-se por meio da análise

das atividades da etapa de cobertura que os trabalhadores adotam posturas inadequadas

durante todo o processo de trabalho, não fazem o uso de todos EPI necessários, utilizam EPI

não adequados, ficam expostos a umidade devido à ação de intempéries e se comunicam de

maneira precária.

Como resultado da análise ergonômica do trabalho recomenda-se a utilização obrigatória de

EPI adequado, aquisição por parte da empresa de equipamento de comunicação eficiente,

evitar acumulo de materiais e organização do ambiente de trabalho e treinamento e

capacitação de funcionários.

Levando em consideração a importância da saúde e bem estar do trabalhador da construção

civil propõe-se novos estudos dando continuidade ao tema investigado nas mais variadas

etapas da construção de um edifício, a fim de se obter um diagnóstico completo da situação do

trabalhador como um todo e aperfeiçoar as atividades nos postos de trabalho segundo ponto

de vista ergonômico.

REFERÊNCIAS

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