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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO EM UM SHOPPING CENTER NA CIDADE DE JOÃO PESSOA – PARAÍBA - BRASIL MARROQUIM, Flávia Maria Guimarães Arquiteta, Profª. Msc. da Universidade Federal da Paraíba, e-mail: [email protected] RESUMO Neste trabalho realizou-se uma Avaliação Pós-Ocupação (APO) em um Shopping Center da cidade de João Pessoa-Paraíba, identificando o perfil e características comportamentais dos usuários, além da sua satisfação em aspectos diversos. A metodologia fundamenta-se na Avaliação Pós-Ocupação, obtendo informações através de visitas e observações in loco, levantamentos físicos e aplicação de questionários com clientes e funcionários em horários diversos. Verificou-se que o shopping vem sendo mais utilizado para realização de ‘atividades imediatas’, como uma refeição ou lanche, serviços de impressão, lavanderia, salão de beleza entre outros. A própria localização do shopping, na mais importante artéria comercial da capital, corrobora com o caráter do estabelecimento referente a serviços imediatos. De maneira geral, os resultados dos questionários evidenciarem uma boa satisfação dos usuários com relação ao funcionamento e aspectos gerais do shopping. Ressalta-se a importância de se identificar a satisfação das pessoas com relação a um determinado ambiente, especialmente quando este se propõe a atender uma grande quantidade e diversidade de pessoas, como um shopping. Além disso, os dados obtidos referentes às preferências e sugestões dos respondentes devem sempre ser considerados nas reformas e em projetos futuros de edificações deste tipo, no intuito de fornecer melhor qualidade dos serviços e condições de uso para seus usuários. ABSTRACT In this work a Post-Occupancy Evaluation (POE) was carried out at a Shopping Mall in the city of João Pessoa, Paraíba. The profile and behavior characteristics of the site users were identified, as well as their level of satisfaction concerning several aspects. Methodology was based on Post-Occupancy Evaluation. Information was obtained through visits and on-site observations, physical risings support and application of a questionnaire to clients and workers in different times of the day. It was observed that the mall has been used more for “immediate activities”, such as a meal or quick snack, printing jobs, laundry or going to the beauty salon. The location of the mall itself, at the most important commercial artery of this capital city, corroborates the place’s character in relation to immediate services. As a whole, the answers to the questionnaires show a good level of user satisfaction in relation to the work and general aspects of the mall. The importance of identifying people’s satisfaction towards a site must be highlighted, especially when it is supposed to serve a large number of people of different walks of life, such as a mall. Besides, data obtained concerning preferences and suggestions of the respondents must all be considered for future renovations and other projects for buildings of this sort, as a way to supply the best quality service and conditions of use.

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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO EM UM SHOPPING CENTER NA CIDADE DE JOÃO PESSOA – PARAÍBA - BRASIL

MARROQUIM, Flávia Maria Guimarães

Arquiteta, Profª. Msc. da Universidade Federal da Paraíba, e-mail: [email protected]

RESUMO

Neste trabalho realizou-se uma Avaliação Pós-Ocupação (APO) em um Shopping Center da cidade de João

Pessoa-Paraíba, identificando o perfil e características comportamentais dos usuários, além da sua

satisfação em aspectos diversos. A metodologia fundamenta-se na Avaliação Pós-Ocupação, obtendo

informações através de visitas e observações in loco, levantamentos físicos e aplicação de questionários

com clientes e funcionários em horários diversos. Verificou-se que o shopping vem sendo mais utilizado

para realização de ‘atividades imediatas’, como uma refeição ou lanche, serviços de impressão, lavanderia,

salão de beleza entre outros. A própria localização do shopping, na mais importante artéria comercial da

capital, corrobora com o caráter do estabelecimento referente a serviços imediatos. De maneira geral, os

resultados dos questionários evidenciarem uma boa satisfação dos usuários com relação ao funcionamento

e aspectos gerais do shopping. Ressalta-se a importância de se identificar a satisfação das pessoas com

relação a um determinado ambiente, especialmente quando este se propõe a atender uma grande

quantidade e diversidade de pessoas, como um shopping. Além disso, os dados obtidos referentes às

preferências e sugestões dos respondentes devem sempre ser considerados nas reformas e em projetos

futuros de edificações deste tipo, no intuito de fornecer melhor qualidade dos serviços e condições de uso

para seus usuários.

ABSTRACT

In this work a Post-Occupancy Evaluation (POE) was carried out at a Shopping Mall in the city of João

Pessoa, Paraíba. The profile and behavior characteristics of the site users were identified, as well as their

level of satisfaction concerning several aspects. Methodology was based on Post-Occupancy Evaluation.

Information was obtained through visits and on-site observations, physical risings support and application of

a questionnaire to clients and workers in different times of the day. It was observed that the mall has been

used more for “immediate activities”, such as a meal or quick snack, printing jobs, laundry or going to the

beauty salon. The location of the mall itself, at the most important commercial artery of this capital city,

corroborates the place’s character in relation to immediate services. As a whole, the answers to the

questionnaires show a good level of user satisfaction in relation to the work and general aspects of the mall.

The importance of identifying people’s satisfaction towards a site must be highlighted, especially when it is

supposed to serve a large number of people of different walks of life, such as a mall. Besides, data obtained

concerning preferences and suggestions of the respondents must all be considered for future renovations

and other projects for buildings of this sort, as a way to supply the best quality service and conditions of use.

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1. INTRODUÇÃO

Os Shoppings Centers, como são conhecidos atualmente, surgiram nos Estados Unidos na década de

1950, dado o aumento do poder aquisitivo da população, o desenvolvimento da indústria automobilística e a

descentralização da população para as zonas periféricas, fatores estes determinados pela vitoriosa

participação americana na Segunda Guerra Mundial.

Desde então, as mudanças de hábitos e comportamentos da sociedade capitalista vêm a cada dia

favorecendo o crescimento e a expansão dos shoppings centers nas cidades de todo o mundo. Aliado

principalmente aos conceitos de segurança, conforto e comodidade, os shoppings se tornaram um espaço

onde são agrupados diversos segmentos como comércio, serviços e lazer, passando a fazer parte do

cotidiano de milhares de pessoas nas mais diferentes cidades.

A proposta dos shoppings, em oferecer segurança e a facilidade de encontrar tudo no mesmo lugar,

aliada a idéia de modernidade e progresso, foram os maiores atrativos para os brasileiros elegerem esses

empreendimentos como lugar privilegiado para compras e lazer.

Apesar dessa boa aceitação dos shoppings, é fundamental que modificações1 que venham a ocorrer

nesse ambiente sejam feitas em prol de sua população usuária, que é composta por um variado número de

pessoas, hábitos de consumo e outras variáveis culturais, pois, a não aceitação da população usuária, de

uma eventual modificação nesse tipo de ambiente construído, pode trazer prejuízos consideráveis

(ORNSTEIN; BRUNA; ROMÉRO, 1995).

Desta forma, a Avaliação Pós-Ocupação (APO) poderá fundamentar com pesquisas, eventuais

intervenções necessárias, de modo a trazer resultados importantes para as decisões empresariais, além de

atender as expectativas de um mercado cada vez mais competitivo.

Tendo em vista o grande número de empreendimentos comerciais localizados na cidade de João

Pessoa e a crescente especulação imobiliária por parte dos construtores e empreendedores, faz-se

necessário analisar a qualidade do que vem sendo construído e disponibilizado à população local.

Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo a aplicação de uma Avaliação Pós-Ocupação (APO)

em um Shopping Center da cidade de João Pessoa-PB, identificando o perfil e características

comportamentais dos usuários, além da sua satisfação em aspectos diversos. Desta forma, pretende-se

conhecer o desempenho da edificação comercial, possibilitando, a partir de então, melhorias em suas

instalações ou até subsidiando empreendimentos semelhantes na cidade.

2. MORIAH SHOPPING

O Moriah Shopping, inaugurado em novembro de 2006, está situado na mais importante via da cidade

de João Pessoa, a Avenida Presidente Epitácio Pessoa, em Tambauzinho, bairro predominantemente

residencial, que abriga classes médias e médias alta da cidade. A localização do shopping é um ponto

estratégico no sentido comercial, visto que a Avenida apresenta predominantemente imóveis com esse tipo

de uso (Figura 1).

1 Segundo a ABRASCE (Associação Brasileira de Shopping Centers), desde o final dos anos 1990, os shoppings no Brasil vêm

passando por uma readequação de layout, além de novas configurações que auxiliaram na demanda para o consumo. Uma dessas

modificações são os novos conceitos de empreendimentos empregados no Brasil, como o open mall, que tem luz natural e lojas

abertas para ruas e jardins.

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Figura 1 – Localização do Moriah Shopping na cidade de João Pessoa. O shopping foi implantado em lote com aproximadamente 2.000m² de área, o qual abrigava uma

residência moderna cujo projeto foi idealizado pelo arquiteto modernista Gil Acácio Borsoi, no ano de 1966.

Interessante ressaltar esse fato, pois demonstra a forte especulação imobiliária naquele trecho em

detrimento do patrimônio arquitetônico ali edificado.

O shopping de 2.377m² de área construída distribui-se em três pavimentos, sendo o térreo e o primeiro

pavimento formados por lojas e serviços (totalizando 34 espaços comerciais, com áreas variando entre 15 e

235m²), além da administração e sanitários, e o segundo pavimento formado por salas de aula para abrigar

uma universidade particular. O shopping conta ainda com uma pequena área de convívio no térreo, onde

estão localizados um café e uma lanchonete, além de 48 vagas de estacionamento (sendo 2 para pessoas

com necessidades especais). (Figuras 2, 3 e 4).

Figura 2 – Planta baixa do pavimento térreo do Moriah Shopping.

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Figura 3 – Planta baixa do1º pavimento do Moriah Shopping.

Figura 4 – Planta baixa do 2º pavimento do Moriah Shopping.

LEGENDA:

SALAS

ÁREA DE CIRCULAÇÃO

ÁREA ADMINISTRATIVA

ÁREA MOLHADA

O acesso ao interior do shopping pode ser feito através de uma das três entradas distintas, localizadas

em cada uma de suas três fachadas, estando o principal acesso voltado a Av. Presidente Epitácio Pessoa

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(fachada norte). Já o acesso aos pavimentos superiores é realizado através de escadas, além de uma

plataforma de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais. Apenas as lojas são climatizadas

artificialmente; nas áreas comuns do shopping, a iluminação natural e ventilação natural são garantidas

através de um pátio interno com cobertura em estrutura metálica e abertura para a fachada leste e norte

(Figuras 5, 6, 7 e 8).

Figura 5 – Fachadas laterais do shopping (Sul e Leste).

Figura 6 – Fachada principal do shopping (Norte).

Figura 7 – Interior do shopping e escada de acesso

ao primeiro pavimento e cobertura metálica.

Figura 8 – Plataforma de acessibilidade.

O shopping é caracterizado como um shopping de bairro, possuindo apenas lojas comerciais e

serviços, sem nenhum equipamento de lazer como atrativo. A maioria das lojas é voltada para uma das

ruas, possibilitando vitrines externas. Seu horário de funcionamento ocorre de segunda à sexta das 9 às

18h e aos sábados das 9 às 15h (algumas lojas praticam seu próprio horário de funcionamento).

3. METODOLOGIA

A metodologia fundamentou-se na Avaliação Pós-Ocupação através de visitas e observações in loco,

levantamentos físicos e aplicação de questionários com clientes e funcionários em dias e horários diversos.

Foi analisada uma amostra de 90 questionários, que foram aplicados entre os dias 28/11 e 15/12 de 2009.

O questionário foi subdividido em 2 partes: Características gerais do usuário e Avaliação do shopping

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(estacionamento, segurança, limpeza/manutenção, sinalização, acesso a deficientes, sanitários, iluminação

natural, iluminação artificial, conforto térmico e nível de ruído); esta última parte com as seguintes escalas

de satisfação: ruim, regular, bom e ótimo.

Apenas o pavimento térreo e o primeiro piso do shopping foram analisados. O trabalho contou com a

participação dos alunos da disciplina Técnicas de Avaliação Pós-Ocupação (TOP-32) do curso de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO USUÁRIO

A partir do resultado dos questionários aplicados, constatou-se que 61,1% dos respondentes são do

sexo feminino. A grande maioria é solteira (56,7%), seguidos de casados (33,3%), divorciados (5,5%) e

viúvos (4,5%).

Quanto à faixa etária, a maioria, 45,6%, pertence à faixa etária dos 21 aos 30 anos (fato justificado pela

presença da universidade no segundo pavimento do shopping), 20% corresponde à faixa etária dos 31 aos

40 anos, 15,6% corresponde até os 20 anos, 12,2% estão entre os 41 e 50 anos, e apenas 6,6% são

indivíduos com mais de 51 anos de idade (Gráfico 1).

16%

45%

20%

12%7%

Até 20 anos

21 aos 30 anos

31 aos 40 anos

41 aos 50 anos

mais de 51 anos

Gráfico 1 – Faixa etária das pessoas questionadas no shopping.

Quanto à escolaridade, 40% possuem nível superior completo, 28,9% possuem o ensino médio

completo, 25,5% possuem superior incompleto, 3,4% ensino médio incompleto, 1,1% possuem o ensino

fundamental completo e outros 1,1%, o incompleto.

Uma grande variedade na ocupação dos respondentes foi encontrada, sendo que quase metade é

composta por estudantes (23,9%) e por pessoas da área de vendas (23,9%), como vendedores, lojistas,

comerciantes; seguidos por profissionais graduados (17,1%), serviços gerais (11,4%), empresários (4,5%),

dona de casa (3,4%), funcionário público e aposentados (2,2% cada) e outras ocupações (11,4%).

Essa heterogeneidade nas ocupações, muitas vezes está relacionada à diversidade comercial da área

próxima ao shopping, já que a avenida na qual se localiza a edificação é a mais importante via comercial da

cidade.

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Com relação à utilização do centro comercial pelos respondentes, verificou-se que a maioria, 44,4%,

freqüenta o shopping diariamente, 18,9% semanalmente, 16,7% mensalmente e 10% quinzenalmente e

outros 10% raramente. A proximidade do shopping com outros estabelecimentos comerciais ao longo da Av.

Presidente Epitácio Pessoa e a existência da universidade no segundo pavimento, além de funcionários do

local ter sido respondentes de alguns questionários, justificam a utilização do shopping por uma grande

quantidade de pessoas que o freqüentam diariamente.

O principal motivo que leva as pessoas ao Moriah Shopping é para a realização de compras e serviços

(27,8%) seguido do trabalho (26,7%), por aula (20%), por passeio (13,3%) e para alimentação (12,2%).

Desta forma, constata-se que o shopping vem sendo mais utilizado (53,3% dos respondentes) para

realização de ‘atividades imediatas’, como uma refeição ou lanche, serviços de impressão, lavanderia, salão

de beleza entre outros, justificando a rápida permanência das pessoas no estabelecimento e sua maior

freqüência durante o período do almoço (12h-14h).

Quanto à forma de deslocamento para o Moriah, a maioria, 44,4% utiliza o carro, 35,5% vêm de ônibus,

8,9% a pé, 6,7% de moto e 4,5% de bicicleta.

4.2 AVALIAÇÃO DO SHOPPING

Para avaliação do shopping, os respondentes foram questionados a respeito do funcionamento e

alguns aspectos gerais da edificação. Constatou-se que mais de 40% dos respondentes considera bom

todos os aspectos avaliados, sendo que a iluminação artificial, a iluminação natural e a segurança, foram os

aspectos que obtiveram os maiores índices de satisfação entre os respondentes (mais de 60%

consideraram bom). (Tabela 1)

Tabela 1 - Avaliação da satisfação dos respondentes para o Moriah Shopping.

ASPECTO AVALIAÇÃO (%)

Ruim Regular Bom Ótimo SR

Estacionamento 14,5 41,1 41,1 3,3 -

Segurança 7,8 25,5 61,2 5,5 -

Limpeza/manutenção 2,2 15,6 55,5 26,7 -

Sinalização 10 25,5 51,1 13,4 -

Acessos aos deficientes

15,6 28,9 43,3 12,2 -

Sanitários 14,5 18,9 52,2 13,3 1,1

Iluminação natural - 6,7 62,2 30 1,1

Iluminação artificial 2,2 12,2 66,7 17,8 1,1

Conforto térmico (área comum)

5,6 28,9 55,5 10 -

Nível de ruído 14,5 36,6 41,1 7,8 -

Apesar da boa satisfação dos usuários em quase todos os aspectos, observa-se que em quatro

aspectos avaliados no questionário, os níveis de satisfação registraram um alto valor percentual variando

entre ruim e regular: estacionamento (55,6%), acessos a deficientes (44,5%), sanitários (33,4%) e nível de

ruído (51,1%).

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Quanto aos aspectos dos acessos aos deficientes e sanitários, foi possível identificar a partir dos

levantamentos e comparações realizados entre o projeto original e o executado, tanto no pavimento térreo

quanto no primeiro andar, o motivo que levou os respondentes a declararem uma maior insatisfação nesses

aspectos. Nas quatro baterias de sanitários do shopping, verificam-se problemas para as cabines

destinadas às pessoas com necessidades especiais: não possui barras de apoio, porta abre para o interior

da cabine e espaços exíguos destinado à área de transferência e à própria cabine. Além disso, não foram

executadas bancadas de lavatórios na altura adequada aos PNE, que devem estar entre 78 e 80cm de

altura, além da ausência das barras de apoio. (Figuras 9, 10 e 11)

PROJETO ORIGINAL DO BANHEIRO FEMININO PAVIMENTO TÉRREO

PROJETO EXECUTADO DO BANHEIRO FEMININO - PAVIMENTO TÉRREO

PROJETO ORIGINAL DO BANHEIRO MASCULINO – PRIMEIRO PAVIMENTO

PROJETO EXECUTADO DO BANHEIRO MASCULINO – PRIMEIRO PAVIMENTO

Figura 9 – Problemas identificados nos banheiros do shopping.

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Figura 10 e 11 – Ausência de lavatórios adaptados às pessoas com necessidades especiais.

Algumas melhorias foram sugeridas, sendo as mais relatadas: um maior número de vagas no

estacionamento, adequação dos equipamentos sanitários às pessoas com necessidades especiais

(corroborando com maiores níveis de insatisfação registrado na Tabela 1), melhores serviço de limpeza e

manutenção dos equipamentos sanitários, maior diversidade de lojas e serviços (como por exemplo:

alimentação, multibank, casa lotérica, caixas eletrônicos e entretenimento, reafirmando o caráter imediatista

do shopping), além de uma melhor segurança do estabelecimento.

Este último fator é contraditório, já que a segurança foi um dos aspectos mais bem avaliados entre os

respondentes; porém, isso talvez se justifique se considerar que esse aspecto foi relatado pelas pessoas

mais como uma medida preventiva que deveria fazer parte da melhoria de qualquer estabelecimento de

compras, visto que a violência tem aumentado nos últimos anos em diversas cidades.

Outras melhorias ao shopping também foram relatadas pelos respondentes, porém em menor

quantidade, como uma maior publicidade e propaganda do shopping, melhorar a sinalização/comunicação

visual do shopping (inclusive no exterior - apesar de estar localizado numa esquina o prédio não apresenta

grande imponência arquitetônica), melhorar conforto térmico, proporcionar eventos culturais no

estabelecimento, como cinemas e outros entretenimentos, melhorar a acústica e organização administrativa

do centro comercial.

A iluminação natural e artificial foram os aspectos mais adequados de acordo com os respondentes,

que não relataram nenhum ponto negativo, porém a partir das visitas ao local, o que se verificam são

corredores internos escuros, no segundo pavimento do shopping, mesmo durante o dia.

Ressalta-se que os aspectos mais enfocados pelos respondentes lojistas e funcionários do shopping

estão relacionados a melhorias de vendas e melhores condições de permanência dentro da própria

edificação, como maior publicidade e propaganda (o empreendimento é relativamente novo e muitas

pessoas ainda não o conhecem), praça de alimentação mais diversificada e caixas eletrônicos,

respectivamente. Enquanto que os respondentes que eram apenas clientes do shopping, reforçavam mais

na questão das poucas vagas de estacionamento, além do conforto térmico (apenas as lojas são

climatizadas artificialmente) e acústico (devido à proximidade com uma via de intenso fluxo de tráfego).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como resultado da avaliação feita pelos usuários, verifica-se que o shopping apresenta uma boa

aceitação pelo público, apesar da identificação de alguns aspectos negativos, como a pouca disponibilidade

de vagas no estacionamento, visto que a maioria se desloca ao estabelecimento de carro (este fato não foi

relatado pelos funcionários, que utilizam mais o transporte coletivo para se deslocar ao shopping), a pouca

variedade na praça de alimentação, a falta de atividades de lazer e entretenimento, e a segurança.

Apesar da maior parte dos usuários mostrar-se satisfeita com as lojas e/ou serviços oferecidos pelo

shopping e aspectos gerais verificam-se que alguns itens necessitam ser reajustados pela parte

administrativa do estabelecimento, principalmente no que se refere às pessoas com necessidades especiais

(acessos, equipamentos sanitários, barreiras físicas, ausência de elevadores aos pisos superiores – existe

apenas plataforma de acessibilidade).

Ressalta-se a importância de se identificar a satisfação das pessoas com relação a um determinado

ambiente, especialmente quando este se propõe a atender uma grande quantidade e diversidade de

pessoas, como um shopping. Além disso, os dados obtidos referentes às preferências e sugestões dos

respondentes devem sempre ser considerados nas reformas e em projetos futuros de edificações deste tipo,

no intuito de fornecer melhor qualidade dos serviços e condições de uso para seus usuários.

Desta forma, esta APO vem a contribuir no sentido de dar subsídios ao shopping, para a descoberta do

perfil de seu consumidor, visando o oferecimento de atividades adequadas a ele e a encontrar ainda, o

melhor caminho para realizar suas transformações na busca do atendimento das reais aspirações desse

consumidor.

6. REFERÊNCIAS

GALVÃO, Walter J. Ferreira; ORNSTEIN, Sheila W. Mapeamento comportamental como instrumento para a gestão do processo de projeto. O caso da galeria comercial do COPAN/SP. In: NUTAU, 6., 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: FUPAM, 2006. GRASSIOTTO, Maria Luiza Fava. O perfil do consumidor em dois shopping centers, um vertical no centro urbano tradicional e outro horizontal periférico: o caso de Londrina. In: NUTAU, 4., 2002, São Paulo. Anais... São Paulo: FUPAM, 2002. ORNSTEIN, Sheila W.; BRUNA, Gilda; ROMERO, Marcelo. Ambiente construído e comportamento – A avaliação pós-ocupação e a qualidade ambiental. São Paulo: Studio Nobel, FAU/USP, FUPAM, 1995. ORNSTEIN, Sheila W.; ROMERO, Marcelo (colaborador). Avaliação pós-ocupação do ambiente construído. São Paulo: Studio Nobel, Edusp, 1992, 223 p. PAULA, Maria Inês L.; PACHECO, Daniela Coppede; ORANGE, Alessandra G. Avaliação Pós-Ocupação aplicação no Shopping Center Raposo-SP. In: NUTAU, 4., 2002, São Paulo. Anais... São Paulo: FUPAM, 2002.