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NELSON EWERT DE OLIVEIRA Avaliação do uso de completação inteligente em um reservatório carbonático Área de concentração: Engenharia de reservatórios Orientador: Prof. Dr. Marcio Augusto Sampaio Pinto Santos 2019

Avaliação do uso de completação inteligente em um

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Page 1: Avaliação do uso de completação inteligente em um

NELSON EWERT DE OLIVEIRA

Avaliação do uso de completação inteligente em um

reservatório carbonático

Área de concentração: Engenharia de reservatórios

Orientador: Prof. Dr. Marcio Augusto Sampaio Pinto

Santos

2019

Page 2: Avaliação do uso de completação inteligente em um

NELSON EWERT DE OLIVEIRA

Avaliação do uso de completação inteligente em um

reservatório carbonático

Trabalho de Formatura em Engenharia

de Petróleo do curso de graduação do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Área de concentração: Engenharia de reservatórios

Orientador: Prof. Dr. Marcio Augusto Sampaio Pinto

Santos 2019

Page 3: Avaliação do uso de completação inteligente em um

Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador.

Assinatura do autor ____________________________

Assinatura do orientador _______________________

Catalogação-na-Publicação

Page 4: Avaliação do uso de completação inteligente em um

Para minha mãe, Elaine, e minha irmã, Beatriz

Page 5: Avaliação do uso de completação inteligente em um

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço ao professor Marcio Sampaio pelas orientações ao

longo da elaboração deste trabalho. Agradeço também à Escola Politécnica e à

Universidade de São Paulo por me proporcionarem a possibilidade de me graduar

em engenharia de petróleo após todos esses anos de dedicação.

Agradeço também à Computer Modelling Group - CMG pelas licenças do

simulador usado na elaboração deste trabalho, e ao Instituto Superior Técnico de

Lisboa que disponibilizou o modelo Cerena para estudo.

Além disso, não posso deixar de agradecer nominalmente aos engenheiros de

reservatório do Ativo IASA da Petrobras: Bruno Cunha, Bruno Sartori, Bruno

Tabarelli e Felipe Volponi, além do Renato Poli, por todos os ensinamentos

valorosos e (muita) paciência com o estagiário. Sem as orientações precisas de

vocês, esse trabalho não seria o que é. Obrigado!

Page 6: Avaliação do uso de completação inteligente em um

A vida escapa e se vai minuto a

minuto e não podem ir ao supermercado

comprar a vida. Então lutem para vivê-la,

para dar conteúdo a ela.

José Mujica

Page 7: Avaliação do uso de completação inteligente em um

RESUMO

Os projetos de exploração e produção petrolífera demandam altos investimentos,

relacionados ao alto grau de incerteza associada. A tecnologia de completação

inteligente atua de forma a monitorar e fechar zonas de fluxo dos poços, garantindo

assim maior flexibilidade operacional e, assim, diminuindo o impacto das incertezas.

Este trabalho tem como objetivo avaliar o uso de completações inteligentes em um

modelo de reservatório carbonático. Através de um modelo five-spot com

características similares às de um reservatório carbonático, foram simulados quatro

casos possíveis para comparar o efeito do uso de completação inteligente na

produção do campo. Executou-se um processo de otimização variando os parâmetros

correspondentes aos limites operacionais do modelo e critérios de atuação de

válvulas, de forma a obter o maior Valor Presente Líquido (VPL) de cada caso. Esses

valores de VPL otimizados foram comparados entre si, sendo que o maior obtido foi

no caso com completação inteligente tanto no poço produtor quanto no injetor: dez

por cento acima do caso base sem completações inteligentes. Assim, verificou-se a

vantagem econômica no uso da tecnologia para o caso estudado.

Palavras-chave: Reservatórios, Completação inteligente, Poços, Simulação,

Carbonato.

Page 8: Avaliação do uso de completação inteligente em um

ABSTRACT

Oil exploration and production projects demand high investments, related to the high

degree of associated uncertainty. Intelligent completion technology is used to monitor

and close inflow zones on wells, ensuring greater operational flexibility and thereby

reducing the impact of uncertainties. This work intends to evaluate the use of intelligent

completions in a carbonate reservoir model. Using a five-spot model that emulates a

carbonatic reservoir, four possible cases were simulated to compare the effect of the

use of intelligent completion on field production. An optimization has been performed

in a range of parameters corresponding to the operational limits of the model and valve

actuation criteria, in order to obtain the highest net present value of each case. These

optimized NPV values were compared with each other, and the highest obtained was

in the case of intelligent completion in both the producing well and the injector well: ten

percent above the base case without intelligent completion. Thus, the economic

advantage in the use of technology has been verified in this case of study.

Keywords: Reservoirs. Intelligent completion. Wells. Simulation. Carbonates.

Page 9: Avaliação do uso de completação inteligente em um

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ICV

PSO

Inflow Control Valve

Particle Swarm Optimization

TLD Teste de longa duração

VPL Valor presente líquido

WAG Water-Alternating-Gas

Page 10: Avaliação do uso de completação inteligente em um

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................3

1.1 OBJETIVO............................................................................................................. 4

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.........................................................................................5

3 METODOLOGIA ..........................................................................................................9

3.1 RODADAS DE AJUSTE .............................................................................................. 9

3.2 MODELOS COM COMPLETAÇÃO INTELIGENTE ................................................................. 9

3.3 OTIMIZAÇÃO DOS PARÂMETROS ............................................................................... 10

3.3.1 O método PSO ........................................................................................ 11

3.4 PREMISSAS DO ESTUDO ......................................................................................... 11

4 ESTUDO DE CASO ...................................................................................................13

5 RESULTADOS...........................................................................................................16

5.1 RODADAS DE AJUSTE COM COMPLETAÇÕES CONVENCIONAIS .......................................... 16

5.2 COMPLETAÇÕES INTELIGENTES ............................................................................... 17

5.3 OTIMIZAÇÃO DE PARÂMETROS ................................................................................. 18

6 DISCUSSÕES ............................................................................................................21

6.1 CONVERGÊNCIA DA OTIMIZAÇÃO .............................................................................. 23

7 CONCLUSÕES ..........................................................................................................25

8 REFERÊNCIAS..........................................................................................................26

ANEXO A – ARTIGO SÍNTESE ........................................................................................... 28

Page 11: Avaliação do uso de completação inteligente em um

3

1 INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios da indústria petrolífera nos dias de hoje está

associado aos altos custos. Projetos em águas ultra profundas, como é o caso do pré-

sal brasileiro, demandam alto investimento inicial, e com um tempo de payback

relativamente longo (Rodrigues et al., 2017). Além disso, são altas as incertezas

associadas. Isso faz com que a equipe de gerenciamento tenha pouca margem para

erros, e demanda certa flexibilidade dos projetos para poder contornar eventuais

percalços.

É neste contexto que a completação inteligente surge como uma proposta

interessante. As válvulas de completação inteligente funcionam de forma a propiciar

controle remoto de vazão por zonas, abrindo ou fechando determinada zona do poço

para produção ou injeção (Rahman et al., 2013). A completação inteligente permite

evitar intervenções em poços tais quais: alterações nos canhoneios, acidificação,

fraturamento, teste de formação para coleta de dados, entre outras operações.

Operações estas que acarretam em altos custos operacionais (Almeida et al., 2010).

Os poços inteligentes funcionam de forma a prevenir, ou pelo menos reagir a,

eventos indesejados, como por exemplo alta produção de água, e assim maximizar a

produção de óleo (Sampaio et al., 2012).

Isso foi endossado por Aggrey (2014). O autor estudou, para o caso específico

de reservatórios com capa de gás, a formação de cones de gás, invasão do gás da

capa na zona canhoneada. Assim como a água, a produção do gás em excesso é

indesejada em campos de óleo. Simulando o uso de válvulas de controle de influxo

(ICVs), concluiu que a completação inteligente pode atrasar a produção tanto de gás

como de água no campo. Adicionalmente, não é desejável produzir gás da capa, pois

a expansão da mesma promove a manutenção da pressão do reservatório, agindo

como mecanismo de produção primário (Rosa et al., 2006).

Tendo dito tudo isso, é importante ressaltar que existem barreiras a serem

superadas. Um desafio enfrentado no estudo de caso descrito por Rodrigues et al.

(2017) foi a falta de expertise das operadoras do Brasil em reservatórios carbonáticos,

que eram, até a descoberta do pré-sal, pouco estudados pelo fato de serem pouco

comuns nos campos brasileiros.

Page 12: Avaliação do uso de completação inteligente em um

4

A tecnologia de poços inteligentes vem sendo utilizada, como mostra o artigo

de Pizarro et al. (2017), que demonstra que foi efetiva em maximizar a produção de

óleo em um campo do pré-sal através da diminuição do percentual de água no fluido

produzido. Contudo, os históricos de produção ainda são recentes. É através de

simulações numéricas que podemos projetar as curvas de produção de um campo

nas décadas futuras. E, para o caso do pré-sal, ainda são poucos os trabalhos que

comparam os poços convencionais e inteligentes simulando as condições deste tipo

de reservatório.

1.1 OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é realizar a comparação entre os resultados obtidos

com cada um dos dois tipos de completação, a partir de um modelo de reservatório

carbonático com configuração de poços do tipo five-spot, com um quarto de injetor em

cada vértice e um produtor no centro, e que reproduz as características das rochas

carbonáticas. É importante destacar que o modelo é simplificado e não engloba todas

as características de um campo do pré-sal. Portanto, os resultados obtidos não podem

ser generalizados, mas servem para adquirir embasamento para discutir quais os

ganhos obtidos com o uso de ICVs em reservatórios carbonáticos.

Page 13: Avaliação do uso de completação inteligente em um

5

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A completação inteligente é estratégica devido à flexibilidade que proporciona

no gerenciamento de reservatórios: podendo fechar ou abrir zonas de fluxo, pode-se

reduzir a produção de água e de gás, e maximizar a de óleo. Para as condições do

pré-sal brasileiro, isso se mostrou de grande valor. Quando o uso da tecnologia foi

feito pela primeira vez na região, cuidados adicionais tiveram que ser tomados.

Diversos desafios e incertezas estavam associados, como o risco de incrustações,

corrosão, problemas por vibração, dentre outros. Nos dias de hoje já se tem resultados

consolidados de mais de cinquenta poços utilizando a completação inteligente, desde

a fase de testes à plena produção. O sucesso desses empreendimentos provou que

se trata de uma tecnologia confiável, estratégica e demanda investimentos pouco

maiores que poços convencionais (Rodrigues et al., 2017).

Um desses casos de sucesso foi exposto por Pizarro et al. (2017). No artigo,

podemos ver o incremento na produção de óleo em um poço no pré-sal a partir do

acionamento da válvula de completação inteligente inferior, que barra a chegada de

água no poço. Este tipo de trabalho é importante para mostrar a real aplicação da

tecnologia, o que estimula a contínua realização de estudos acadêmicos.

Outro que segue a mesma linha é o artigo de Emerick e Portella (2007), que

apresenta um algoritmo de otimização simples aplicado a dois campos Offshore

brasileiros reais. Avaliando o ganho de óleo acumulado a partir do uso de ICVs, os

autores pontuam as vantagens obtidas como uso da tecnologia. A metodologia

consiste em variar cada parâmetro separadamente, baseado em avaliação de funções

objetivos, e pode servir de inspiração para o trabalho aqui apresentado. Entretanto, é

um artigo já bastante antigo, e não trata de campos do pré-sal.

Seguindo outra linha, há o artigo de Chen e Reynolds (2017), que se baseia no

uso da técnica WAG, que também é empregada no pré-sal segundo Pizarro et al.

(2017). Esta consiste na injeção alternada de gás e água em um mesmo poço. Sabe-

se que pode melhorar a produção de óleo quando aplicada em um campo com alta

produção de gás natural ou CO2. Entretanto, para reservatórios com propriedades

petrofísicas heterogêneas entre as camadas, esse método pode levar à antecipação

da produção dos fluidos injetados, o que é indesejável, podendo inclusive piorar o fator

de recuperação do campo. Os autores destacam que os trabalhos anteriores focam

Page 14: Avaliação do uso de completação inteligente em um

6

no controle de poço ou de válvulas de controle de influxo. Este trabalho aborda o uso

de injeção WAG combinado ao de válvulas de completação inteligente tanto nos poços

produtores como nos injetores, demonstrando através de simulações que tanto o

varrido dos fluidos quanto a recuperação do campo são otimizadas dessa maneira,

propondo a otimização do controle de poço combinado à de ICVs.

O artigo de Costa et al. (2017) trata de um caso onde a completação inteligente

foi utilizada durante um Teste de Longa Duração (TLD) em um campo no pré-sal

brasileiro. Trata-se de um reservatório extenso, com estimados oito bilhões de barris

recuperáveis. É descrita a importância dos TLDs na análise de reservatórios. Neste

caso em particular, foram testados três poços exploratórios ao mesmo tempo: dois

poços produtores e um injetor. O uso das ICVs durante o teste permitiu que se

avaliassem zonas diferentes do reservatório com maior precisão, o que é altamente

interessante na busca de uma compreensão mais completa do reservatório.

O uso de poços inteligentes ajuda a superar três grandes desafios presentes

na produção petrolífera em campos de água profunda: o grande volume de água

comumente produzido, o alto custo associado a intervenções frequentes nos poços e

elevado grau de incertezas. O artigo de Sampaio et al. (2012) compara primeiro os

poços convencionais e inteligentes, em seguida o uso das válvulas com controles

reativo e proativo, que servem para responder e prevenir os problemas no poço,

respectivamente. Usando simulações de um modelo com configuração five-spot

invertido com otimização de operação de ICVs e baseados em fatores de incerteza

econômica, os autores concluem que os poços inteligentes são mais vantajosos que

os convencionais, e os controles proativos são melhores que os reativos.

Os sistemas de poços inteligentes oferecem vantagens em relação aos

convencionais no gerenciamento de reservatórios: produção acelerada, maior

recuperação, diminuição ou eliminação da necessidade de intervenção e maior

desempenho de poços. Porém muitas questões ainda permanecem sobre o assunto,

envolvendo ganhos menores que o previsto e risco de falha nas válvulas afetando a

integridade dos poços. Assim, o artigo de Yadav e Surya (2012) revisa sistemas de

ICVs com poços dos mais variados tipos, caso a caso, e descreve um método semi-

analítico para análise de desempenho dos mesmos, com resultados concordantes

com os obtidos em simulações. Conclui-se que a completação inteligente já

Page 15: Avaliação do uso de completação inteligente em um

7

demonstrou a habilidade de aumentar a produção e é muito vantajosa em áreas

críticas onde intervenções em poços seriam muito caras.

Em poços cujo mecanismo de produção principal é a capa de gás, um dos

maiores problemas encontrados é a invasão do gás da capa na zona canhoneada.

Esse fenômeno é conhecido como cone de gás. Evitar completamente os cones

requereria produzir em uma vazão muito baixa, o que seria antieconômico. O objetivo

primário do trabalho de Aggrey (2014) é formular uma estratégia de produção usando

ICVs de forma a controlar os cones de gás e maximizar a produção de óleo. A

metodologia empregou simulação de um modelo black-oil de reservatório trifásico com

um único produtor, com capa de gás como principal mecanismo de produção e ICVs

de controle reativo, comparando com um modelo de completação convencional.

Parâmetros como permeabilidades relativas e altura dos contatos também foram

variados. Concluiu-se que o uso de completação inteligente atrasou a chegada (do

inglês, breakthrough) tanto da água quanto do gás no poço e aumentou a recuperação

de óleo em todos os casos.

Uma das maiores dificuldades no uso de poços inteligentes é encontrar a

configuração de poços que traz os melhores resultados técnicos e econômicos, que

pode ser com o uso de ICVs nos poços produtores, injetores ou ambos. Existem

muitas varáveis envolvidas nessa decisão. O outro trabalho de Sampaio et al. (2012b)

propõe tratar do problema com um algoritmo genético para otimização dos resultados

das simulações de reservatórios. Em seguida, realizou análise de incerteza

econômica buscando maximizar o VPL. A partir de um modelo com configuração five-

spot com poços verticais, criaram-se quatro casos, e cada um avaliado em três

cenários econômicos (otimista, provável e pessimista). Concluiu-se que o uso de

controles proativos é vantajoso, e o caso que rendeu melhor retorno econômico foi

com produtor inteligente e injetores convencionais.

O artigo de Almeida et al. (2010) diz que intervenções em poços são muito

custosas, e apresenta os poços inteligentes como uma ferramenta estratégica para

evitar que precisem ser realizadas. Em seguida, discute os processos de otimização

dos controles desses poços. A proposta foi utilizar algoritmos genéticos, que imitam o

processo de evolução das formas de vida através de mutações aleatórias, para

realizar tais otimizações. A partir desses algoritmos combinados a simulações de

Monte Carlo, uma estratégia ótima de controle proativo foi definida, de forma a

Page 16: Avaliação do uso de completação inteligente em um

8

maximizar o VPL em três modelos de reservatórios: um sem incertezas, outro com

incertezas no funcionamento das válvulas, e outro com incertezas geológicas

incorporadas. É importante lembrar que essas duas incertezas sempre estão

presentes nos casos reais. Os resultados mostraram a lucratividade do uso de

completações inteligentes, bem como a efetividade do algoritmo genético como uma

ferramenta de otimização do controle de poços inteligentes.

Page 17: Avaliação do uso de completação inteligente em um

9

3 METODOLOGIA

O método de trabalho escolhido se baseia na realização de um estudo de caso,

melhor descrito na seção seguinte. Foi feita uma simulação numérica de reservatórios

como forma de obtenção de resultados.

As etapas de trabalho estão ilustradas na Figura 1, e serão explicadas

detalhadamente a seguir.

3.1 RODADAS DE AJUSTE

O primeiro passo consiste em executar rodadas preliminares de simulação para

adequação do modelo ao estudo. Nesta etapa, são ajustadas as zonas de

completação dos poços e as vazões de injeção de água, conforme descrito na seção

5.1, e definem-se os valores iniciais e limites de cada variável operacional, ainda

utilizando o modelo com completações convencionais.

3.2 MODELOS COM COMPLETAÇÃO INTELIGENTE

Ao chegar em um modelo considerado bem ajustado, são construídos os

modelos com completação inteligente. Isso é feito dividindo-se os poços em dois

segmentos, superior e inferior, e implementando um sistema lógico que funciona tal

Figura 1 – Metodologia do trabalho

Page 18: Avaliação do uso de completação inteligente em um

10

qual as ICVs, monitorando o corte de água no poço produtor e fechando as zonas dos

poços ao atingir uma determinada porcentagem. A definição das zonas superior e

inferior de cada poço se baseia em zonas geológicas do reservatório. Rodadas de

ajuste podem ser feitas, variando as zonas do poço controladas por cada válvula, de

forma a encontrar a melhor disposição de ICVs no modelo.

3.3 OTIMIZAÇÃO DOS PARÂMETROS

Após a construção de cada um dos quatro modelos base conforme explicado

na seção 4, é realizada uma otimização utilizando o CMOST, software da CMG usada

para estudos desse tipo. Isso é feito variando os limites de produção de gás e líquido,

bem como o de injeção de água, tratados aqui para otimizar os parâmetros

operacionais. Todos os quatro casos são otimizados, considerando cada um dos

valores dos parâmetros dentro de uma faixa como equiprováveis, e tendo o VPL como

variável a ser maximizada no processo. Os limites da otimização são escolhidos a

partir dos resultados das rodadas preliminares, sendo selecionados valores que

condizem com a capacidade de vazão dos poços. O VPL é a soma dos fluxos de caixa

futuros descontados a uma taxa de juros estipulada, subtraindo o custo do

investimento inicial. A Figura 2 ilustra o cálculo do VPL para T períodos, a uma taxa r.

No caso deste estudo, o investimento inicial é o custo de instalação das ICVs, nas

simulações em que se aplica.

Figura 2 - Cálculo do VPL para T períodos a uma taxa de desconto r

Page 19: Avaliação do uso de completação inteligente em um

11

A mesma lógica é aplicada para a definição das condições de atuação das

ICVs: inicialmente é definido um valor arbitrário de corte de água (corte de água limite)

no poço produtor que provoque fechamento de zonas, e este valor deve ser otimizado

de forma a maximizar o VPL caso a caso, dentro das faixas de variação dos

parâmetros definidos.

3.3.1 O método PSO

O método de otimização utilizado é o Particle Swarm Optimization (PSO),

desenvolvido por Kennedy e Eberhart (1995). Consiste em gerar uma população de

candidatos à solução ótima e “movê-los” dentro de um espaço n-dimensional (sendo

n o número de parâmetros) com fórmulas matemáticas que imitam posição e

velocidade. Cada candidato, tratado como uma partícula em movimento, tende a se

mover na direção da solução ótima local, bem como dos valores máximos encontrados

pelas outras partículas. Isso cria um movimento de enxame que tende a concentrar

todas as partículas ao redor da solução ótima, ou do máximo global. Após concentrar

as partículas em torno de um valor máximo, o método prevê a criação de perturbações

aleatórias em suas posições, para garantir que não se estagnou em um máximo local.

Isso é feito enquanto não se atingir o número máximo de tentativas previamente

definido.

3.4 PREMISSAS DO ESTUDO

A partir dos valores da Tabela 1 apresentada na seção 4 e dos resultados das

rodadas de otimização, comparamos o VPL para cada caso descrito no estudo.

Algumas premissas devem ser observadas:

O VPL é a função objetivo a ser otimizada, em detrimento da produção bruta

de óleo. Isso porque um alto incremento na produção de óleo pode estar

associado a alta produção de água, o que acarreta em maior custo e, em

situações reais, possível perda de óleo por limitação da capacidade de

processamento da planta.

As válvulas de completação inteligente consideradas são do tipo abre/fecha,

não havendo posições intermediárias. Isso é feito para limitar o espaço de

soluções. Uma vez fechadas, as válvulas não voltam a abrir.

Também devido à alta complexidade envolvida, os casos de falha de válvulas

não são considerados. As falhas são eventos aleatórios que implicaria em uma

Page 20: Avaliação do uso de completação inteligente em um

12

análise probabilística com diversos novos cenários, fugindo assim do escopo

deste trabalho.

As válvulas dos poços são operadas por controle reativo, ou seja, as condições

de fechamento estão atreladas ao valor limite de corte de água.

Não há incertezas geológicas no modelo. Isso implica em porosidade e

permeabilidades fixas em cada célula do modelo.

Page 21: Avaliação do uso de completação inteligente em um

13

4 ESTUDO DE CASO

Para simular o comportamento de um reservatório carbonático, foi usado o

modelo Cerena, desenvolvido por Madeira e Pereira (2014) com as seguintes

características: modelo composicional, com configuração de poços do tipo five-spot

(quadrado, um produtor no centro e um quarto de injetor em cada vértice); pressão

inicial de 49,3 MPa; malha de 21x21 blocos de 50m2, com 50 camadas de espessura

1,854m cada; valores de porosidade definidos célula a célula, tal qual a

permeabilidade horizontal, cuja distribuição é igual nos dois eixos, e a permeabilidade

vertical possui valores dez vezes menores do que a horizontal em cada um dos

elementos. O contato óleo-água está a 82m de profundidade, a partir da profundidade

de referência (zero) na superfície. O simulador usado foi o GEM da CMG, software

comercial para modelos composicionais.

Esse modelo com as completações convencionais ótimas (chamado de caso

A) foi usado no seguinte passo, que consistiu em obter mais três modelos

determinísticos:

• Caso B: injetores com completações convencionais tais quais o caso A;

produtor com ICVs;

• Caso C: produtor com completação convencional tal qual o caso A; injetores

com ICVs;

• Caso D: todos os poços com ICVs.

Além disso, para a análise econômica, a taxa de desconto considerada foi de

10% ao ano. A Tabela 1 apresenta os valores que foram usados nos cálculos.

Tabela 1 - Dados econômicos utilizados no estudo de caso

Preço do óleo

(US$/barril)

Custo de produção do

óleo

(US$/barril)

Custo de produção da

água

(US$/barril)

Custo de injeção da

água

(US$/barril)

ICV - Valor base

ICV - adicional

por válvula

60,00 10,00 1,50 1,00 200.000,00 200.000,00

Page 22: Avaliação do uso de completação inteligente em um

14

Na Tabela 1 temos os custos embutidos nos custos de produção e injeção. O

custo de instalação de um poço inteligente é calculado como o valor base somado ao

adicional por cada válvula; assim, um poço com duas zonas completadas com ICV

custaria US$ (200.000 + 2 × 200.000) = US$ 600.000 a mais do que um poço simples.

Lembrando que, por se tratar de uma análise comparativa, os investimentos que não

variam de um caso para o outro foram desconsiderados, como por exemplo o custo

de instalação da planta produtora.

O custo de produção de cada unidade de volume de gás é considerado, por

premissa, como igual ao seu valor de mercado. Desta forma, podemos eliminar as

duas variáveis da análise econômica.

Para realização da otimização dos parâmetros, os limites operacionais foram

variados de acordo com a Tabela 2.

Tabela 2 – Faixas de variações dos parâmetros otimizados

Parâmetro Limite inferior Limite superior Unidade

Produção de gás 3 milhões 8 milhões metros cúbicos/dia

Produção de líquido 3 mil 8 mil metros cúbicos/dia

Injeção de água 8 mil 20 mil metros cúbicos/dia

Corte de água limite

(atuação das ICVs) 5% 100%

Essas faixas de variação foram escolhidas a partir das rodadas de ajuste do

modelo, de forma a não causar distorções que comprometessem o estudo.

As atuações de ICV dos quatro quartos de injetor ocorrem em conjunto nos

Casos C e D, porém são independentes da atuação de ICV do produtor no Caso

D.

Para todos os casos, foi inserido também um parâmetro de corte de água,

chamado de corte de água crítico, que provoca o fechamento de todos os poços.

Page 23: Avaliação do uso de completação inteligente em um

15

Na otimização, este parâmetro também sofreu variações entre 5 e 100%, assim

como o corte de água limite das ICVs. Este serve para parar a produção caso se

torne antieconômica.

Além disso, foi definido como critério de parada do algoritmo o número máximo

de 200 candidatos a solução ideal para cada caso, conforme discutido na seção 6.1.

A Figura 3 apresenta a malha do modelo utilizado, com o esquema de cores

indicando saturação de fluidos: podemos ver a capa de gás em rosa, a zona de óleo

em verde e o aquífero em azul.

Figura 3 – Malha do modelo Cerena mostrando a saturação inicial de fluidos

Page 24: Avaliação do uso de completação inteligente em um

16

5 RESULTADOS

5.1 RODADAS DE AJUSTE COM COMPLETAÇÕES CONVENCIONAIS

O primeiro passo foi simular o modelo Cerena com a configuração original de

poços. Ao analisar os resultados, alguns problemas foram identificados: as zonas de

completação dos poços estavam muito amplas, havendo produção e injeção na capa

de gás e no aquífero. Conforme já discutido na introdução, Rosa et al. (2006)

destacam que em reservatórios com capa de gás, não se deve produzir o gás da capa,

pois isso “rouba” energia primária do reservatório. A injeção de água na capa de gás

também não é efetiva, pois a água apenas comprime a capa, sem deslocar o óleo.

Desta maneira, a primeira coisa a ser feita foi descer as completações para as zonas

de óleo (para o produtor) e água e óleo (para os injetores).

Também através das rodadas de ajuste, foram definidos os valores iniciais e os

limites superiores e inferiores das variáveis a serem otimizadas. Chegou-se a uma

configuração inicial que limita a produção total de líquido a 7000 m³/dia e a de gás em

5 milhões m³/dia; além disso, a injeção de água foi limitada a 12000 m³/dia. Esses

valores, em princípio arbitrários, representam a limitação operacional do projeto; estes

foram variados de forma a encontrar a solução ótima dentro da faixa de valores

apresentada na Tabela 2.

A curva de permeabilidade relativa do modelo também precisou sofrer

alterações para se adequar ao esperado para um modelo carbonático. A saturação de

óleo residual, definida como razão representativa da quantidade de óleo não removido

da rocha-reservatório após a produção, estava em cerca de 10%. Segundo o artigo

de Pizarro e Branco (2012), os campos do pré-sal apresentam valores relativamente

superiores para esse parâmetro. Da forma como estava, havia muito óleo móvel no

modelo, e pouca água era produzida (menos de 25% de corte de água) mesmo após

30 anos de simulação. Por conta disso, foram importadas as curvas de permeabilidade

relativa a água do modelo Unisim-II de Correia et al. (2015), que possui uma saturação

de óleo residual mais alta (em torno de 40%), e, portanto, mais adequada para o

estudo. Essas alterações deixaram os resultados preliminares condizentes com o que

foi apresentado na revisão bibliográfica, com o corte de água total do modelo

alcançando valores superiores a 80% no fim da vida do campo sem otimização. A

comparação entre as curvas original e adaptada está na Figura 4.

Page 25: Avaliação do uso de completação inteligente em um

17

O modelo com essa configuração é a base para o Caso A, que se após ser

otimizado, foi comparado com os casos que utilizam poços inteligentes, conforme

explicado nas seções mais adiante.

5.2 COMPLETAÇÕES INTELIGENTES

As rodadas de ajuste também serviram para análise das zonas geológicas do

modelo, e assim foi possível definir onde posicionar as ICVs de cada poço para os

casos seguintes.

Para o Caso B, o poço produtor foi dividido em dois segmentos de igual

comprimento, superior e inferior. Com os mesmos limites de produção do Caso A, foi

estabelecido inicialmente que a zona inferior do poço fecha quando o corte de água

atinge 30%.

O Caso C, também com os mesmos limites do caso A, foi definido com os

quartos de injetor divididos em duas seções cada um, de igual comprimento caso o

poço não atravesse nenhuma falha, ou, caso haja falha, as seções do poço são

separadas por ela; as zonas superiores são fechadas inicialmente quando o corte de

água no óleo produzido atinge 30%.

Por fim, o caso D é a combinação dos dois anteriores: todos os poços divididos

em duas zonas, com os mesmos critérios de atuação de válvulas e limites

operacionais.

Figura 4 - Comparação entre as curvas de permeabilidade relativa. A 4.1 é a configuração original do modelo Cerena e a 4.2 foi retirada do modelo Unisim-II de Correia et al. (2015)

Page 26: Avaliação do uso de completação inteligente em um

18

Assim como esses limites operacionais, o valor de corte de água que provoca

o fechamento das válvulas também foi otimizado de forma a eliminar a arbitrariedade

da escolha e obter o maior VPL possível.

Os três casos com completação inteligente foram simulados com as

configurações acima de forma a buscar possíveis desajustes, tanto na lógica de

funcionamento das válvulas quanto no posicionamento das mesmas. Feito isso,

prosseguiu-se para a etapa de otimização.

5.3 OTIMIZAÇÃO DE PARÂMETROS

Os parâmetros inicialmente arbitrários (vazões máximas de gás e de líquido,

além do valor de corte de água limite, que provoca fechamento do poço no Caso A ou

acionamento das ICVs nos outros casos) foram otimizados usando o método PSO. O

CMOST gerou 200 combinações dos mesmos para cada caso estudado, dentro das

faixas de variação descritas na Tabela 2.

Os resultados confirmam que o VPL tende a ser maior conforme aumentamos

a capacidade de processamento da planta. Os casos ótimos operam com o limite de

injeção de água em 20 mil m3, valor que é o máximo possível na otimização, e injetam

a cota máxima permitida em algum momento da vida do campo, conforme exposto na

Figura 6. O mesmo vale para os limites de produção: em algum momento, todos os

poços produzem os valores máximos permitidos para cada fluido.

Os valores acumulados de produção de óleo e de injeção e produção de água,

em metros cúbicos, obtidos na otimização de cada caso estão contidos na Tabela 3.

Além disso, as Figuras 5, 6 e 7 ilustram os gráficos dessas vazões ao longo do tempo.

O VPL do Caso A ótimo ficou muito próximo de US$ 5 bilhões (4,995717

bilhões, para ser exato). A Tabela 4 mostra o VPL de cada caso ótimo, além do

incremento percentual dos casos ótimos com o uso de ICVs em relação ao Caso A

ótimo.

Tabela 3 – Volumes produzidos e injetados em cada caso ótimo

Caso A Caso B Caso C Caso D

Prod. óleo (1E6 m3) 3,060 3,209 3,086 3,009

Prod. água (1E6 m3) 0,941 1,157 1,299 0,837

Inj. água (1E6 m3) 12,928 14,715 12,676 12,697

Page 27: Avaliação do uso de completação inteligente em um

19

Tabela 4 – VPL obtido na otimização de cada caso e incremento percentual no VPL de cada caso ótimo em relação ao Caso A ótimo

Caso A Caso B Caso C Caso D

VPL (Bilhões US$) 4,996 5,231 5,359 5,493

Incremento em relação ao caso A - 4,7% 7,3% 10,0%

Figura 5 – Vazões de óleo dos casos, mostrando as soluções ótimas encontradas

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

2014 2019 2024 2030 2035 2041

Va

zão

de

óle

o (m

3 )

Ano

Caso A Caso B Caso C Caso D

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

2014 2019 2024 2030 2035 2041

Va

zão

de

águ

a (m

3 )

Ano

Caso A Caso B Caso C Caso D

Figura 6 – Vazões de produção de água dos casos, mostrando as soluções ótimas encontradas

Page 28: Avaliação do uso de completação inteligente em um

20

Figura 7 – Vazões de injeção de água dos casos, mostrando as soluções ótimas encontradas

0

5000

10000

15000

20000

25000

2014 2019 2024 2030 2035 2041

Va

zão

de

águ

a (m

3)

Ano

Caso A Caso B Caso C Caso D

Page 29: Avaliação do uso de completação inteligente em um

21

6 DISCUSSÕES

Sobre a adequação do modelo para o estudo, pode-se considerar que os

pontos principais foram atingidos. O modelo Cerena apresenta características permo-

-porosas heterogêneas similares às descritas na bibliografia sobre reservatórios

carbonáticos, por exemplo por Rodrigues et al. (2017). Eventuais ajustes, como a troca

das curvas de porosidade relativa (ou seja, a modelagem de interação rocha-fluido)

foram executados com cuidado para não afetar as características mais importantes

do modelo. A escolha por um modelo five-spot pode levantar questões sobre a

aplicabilidade dos resultados da simulação em um caso real. Porém, esse formato é

amplamente utilizado em estudos desse tipo por representar satisfatoriamente um

recorte do reservatório com um poço produtor e um injetor, sendo o injetor dividido em

quatro. Assim, este pode ser posicionado em todos os vértices da malha quadrada, e

os fluidos do reservatório sofrem arrasto de todas as direções, diferentemente do que

ocorreria se o modelo contivesse um injetor “inteiro”. Neste caso, poderia haver

acúmulo de óleo no lado oposto ao injetor. Ou seja, o uso do five-spot é uma boa

estratégia para extrair um recorte quadrado de um modelo.

Em relação à necessidade de otimizar cada caso com base nos parâmetros

operacionais, cabe uma discussão. Todo projeto de produção de petróleo deve levar

em conta suas próprias limitações operacionais ao ser executado. A planta de

processamento deve ser dimensionada para receber uma certa vazão de líquido e de

gás, bem como o sistema de injeção de água também tem uma vazão máxima de

operação. A simulação de reservatórios em estágios iniciais do desenvolvimento do

campo serve também para dimensionar as limitações do projeto em questão, a partir

de informações obtidas em testes de longa duração (Costa et al., 2017). Daí a

necessidade de otimizar esses parâmetros. Ao fazer isso, os resultados comparativos

são validados para toda a faixa de variação dos mesmos.

Outras variáveis que poderiam ser trabalhadas de outra forma, possivelmente

alterando os resultados, são a taxa de juros e o preço do barril do óleo. A taxa de

juros, apesar de parecer arbitrária, é muitas vezes alinhada com o posicionamento

estratégico da empresa que executa o projeto de explotação do campo petrolífero.

Diferentes empresas trabalham com diferentes taxas a depender de sua propensão

ao risco. Julgou-se que a taxa de 10% era adequada ao estudo por estar dentro da

faixa de valores normalmente observados em outros estudos. Já o preço do barril foi

Page 30: Avaliação do uso de completação inteligente em um

22

simplificado para um valor fixo, porém no mundo real sofre oscilações difíceis (para

não dizer impossíveis) de prever, de acordo com eventos geopolíticos diversos. Para

se ter uma ideia, entre 2016 e 2019, o preço do barril do Brent (um tipo de óleo usado

como Benchmark para precificação) esteve em menos de 30 e mais de 80 dólares.

Uma sugestão para aprimoramento seria realizar análises de sensibilidade dos

resultados em relação a essas variáveis.

Analisando os casos otimizados, as ICVs atuaram de forma a aumentar o VPL

do estudo, aumentando inclusive a o tempo total de produção. Nos casos C e D, elas

atuaram fechando o intervalo superior do poço injetor. Instantaneamente, notou-se

diminuição na vazão de injeção, e pouco tempo depois, nas vazões de produção de

óleo e água. Nos Casos B e D, as válvulas atuaram fechando o intervalo inferior do

poço produtor. Pela diferença de densidade entre os fluidos, isso foi eficiente em

barrar a produção de água, que tende a ficar posicionada abaixo do óleo em um

reservatório. Isso pode ser visto na Figura 6; a vazão de produção de água diminuiu

bruscamente após atuação da ICV no poço produtor.

O Caso D, ao combinar as duas atuações de ICVs, foi o que obteve o maior

VPL entre os quatro casos estudados, mesmo tendo o maior investimento inic ial com

instalação de poços inteligentes. Comparativamente, este caso se destaca por uma

menor produção acumulada de água em relação aos outros; as ICVs em ambos os

poços permitiram a este caso produzir e injetar menos água, em volume acumulado,

do que o Caso A. O Caso B, por sua vez, foi o que obteve maior produção acumulada

de óleo, porém às custas de ter injetado mais água do que todos os outros.

A escolha por controles reativos explica porque o caso B ótimo demorou para

atuar a ICV inferior do poço produtor. Sistemas proativos toleram perda de produção

em certa data, desde que haja ganho futuro para compensá-la. No presente estudo, a

atuação se dá a partir do momento em que se constata incremento na função objetivo

(VPL), e não antes, mesmo que o resultado final fosse ser melhor. Observamos que

a ICV inferior do poço produtor fecha no momento em que a produção se tornaria anti-

econômica, diminuindo a vazão de produção de água e assim dando sobrevida ao

poço. Possivelmente, uma lógica de controles proativos de válvulas poderia otimizar

ainda mais os resultados, conforme concluíram os artigos de Sampaio et al. (2012) e

Sampaio et al. (2012b).

Page 31: Avaliação do uso de completação inteligente em um

23

6.1 CONVERGÊNCIA DA OTIMIZAÇÃO

Um parâmetro do método PSO é número de partículas (candidatos à solução

ótima) necessárias para garantir a otimização. No CMOST, esse valor é uma entrada

que precisa ser definida pelo usuário. Neste trabalho, foram definidas 200 partículas

para cada caso, podendo haver posterior acréscimo. A Figura 8 ilustra a distribuição

de valores de VPL ao longo dos experimentos executados pelo software na otimização

do caso D (justamente o que possui maior número de parâmetros, e, portanto, o que

teoricamente precisaria de mais experimentos para convergir à solução ótima). Neste

gráfico, podemos ver que após cerca de 60 experimentos, o valor do VPL já havia

convergido, diferindo da solução ótima na casa dos milhares de dólares, o que pode

ser considerado residual, dadas as dimensões dos valores. Assim, temos suficiente

garantia de que as soluções apresentadas pelo programa são de fato os casos ótimos.

Figura 8 – Distribuição de resultados de VPL (Caso D)

Da análise da Figura 8, infere-se que é provável que o processo possa ser feito

com um número menor de candidatos a solução ótima; isso reduziria

consideravelmente o tempo gasto na otimização. Além disso, sabe-se que os modelos

de simulação de reservatórios, inclusive o utilizado neste estudo, são obtidos após

upscaling de um modelo geológico de malha muito fina, o que garante maior fidelidade

a um reservatório real. Uma possibilidade para testar a validade do estudo seria

Page 32: Avaliação do uso de completação inteligente em um

24

refazê-lo com um modelo de características parecidas com as atuais, porém com a

malha mais fina. O custo de otimizar um modelo com tais características é justamente

o maior tempo gasto no processo. Assim, seria importante buscar métodos para

melhorar a estimativa de candidatos a solução ótima necessários para garantir a

convergência do processo. Por ora, ter essa convergência garantida é suficiente para

validar os resultados aqui apresentados.

Page 33: Avaliação do uso de completação inteligente em um

25

7 CONCLUSÕES

Analisando os resultados, concluiu-se que o uso de completação inteligente no

modelo estudado acarretou em considerável ganho de flexibilidade operacional para

o projeto. Mesmo com os custos de instalação, a atuação da tecnologia resultou em

ganhos financeiros.

Nos casos onde o poço injetor é inteligente, a atuação das ICVs ocorreu de

forma a fechar o intervalo superior do poço. Já nos casos onde o poço produtor é

inteligente, a atuação das ICVs fechou o intervalo inferior do poço.

Ambas as atuações, isoladamente, proporcionaram valores de VPL maiores

que o caso base. Porém foi a combinação das duas que obteve o maior VPL de todos,

10% maior do que o caso base, que foi construído apenas com poços convencionais.

Em relação ao modelo escolhido para o estudo e aos valores especificados

para as variáveis, foram julgados adequados após avaliação dos resultados. Como

sugestões para aprimoramento, pode-se refazer o estudo com um modelo com malha

mais fina, ou analisar a sensibilidade dos resultados à variação da taxa de desconto

e do preço do óleo. Além disso, a própria lógica de atuação dos poços inteligentes

pode ser revista de forma a contemplar controles proativos em vez de reativos.

Adicionalmente, concluiu-se que, para o número de parâmetros utilizados na

otimização do modelo e para as faixas de variação dos mesmos, o total de 250

experimentos para cada caso se mostrou mais do que suficiente para obter

convergência para a solução ótima. Tal valor pode ser melhor avaliado em trabalhos

futuros para evitar desperdício de tempo no processo de otimização.

Page 34: Avaliação do uso de completação inteligente em um

26

8 REFERÊNCIAS

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Page 35: Avaliação do uso de completação inteligente em um

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Page 36: Avaliação do uso de completação inteligente em um

28

ANEXO A – ARTIGO SÍNTESE

Universidade de São Paulo

Engenharia de Petróleo – Escola Politécnica

Número: 8585540USP Data: 31/10/2019

Avaliação do uso de completação inteligente em um reservatório

carbonático

Nelson Ewert de Oliveira

Orientador: Prof. Dr. Marcio Augusto Sampaio Pinto

Artigo Sumário referente à disciplina PMI1096 – Trabalho de Formatura para Engenharia de Petróleo II

Este artigo foi preparado como requisito para completar o curso de Engenharia de Petróleo na Escola Politécnica da USP. Template versão 2018v11.

Resumo

Os projetos de exploração e produção petrolífera demandam altos investimentos, relacionados ao alto grau de incerteza associada. A tecnologia de completação inteligente atua de forma a monitorar e

fechar zonas de fluxo dos poços, garantindo assim maior flexibilidade operacional e, assim, diminuindo o

impacto das incertezas. Este trabalho tem como objetivo avaliar o uso de completações inteligentes em

um modelo de reservatório carbonático. Através de um modelo five-spot com características similares às

de um reservatório carbonático, foram simulados quatro casos possíveis para comparar o efeito do uso de completação inteligente na produção do campo. Executou-se um processo de otimização variando os

parâmetros correspondentes aos limites operacionais do modelo e critérios de atuação de válvulas, de

forma a obter o maior Valor Presente Líquido (VPL) de cada caso. Esses valores de VPL otimizados foram

comparados entre si, sendo que o maior obtido foi no caso com completação inteligente tanto no poço

produtor quanto no injetor: dez por cento acima do caso base sem completações inteligentes. Assim, verificou-se a vantagem econômica no uso da tecnologia para o caso estudado.

Abstract

Oil exploration and production projects demand high investments, related to the high degree of

associated uncertainty. Intelligent completion technology is used to monitor and close inflow zones on

wells, ensuring greater operational flexibility and thereby reducing the impact of uncertainties. This work

intends to evaluate the use of intelligent completions in a carbonate reservoir model. Using a five-spot model that emulates a carbonatic reservoir, four possible cases were simulated to compare the effect of

the use of intelligent completion on field production. An optimization has been performed in a range of

parameters corresponding to the operational limits of the model and valve actuation criteria, in order to

obtain the highest net present value of each case. These optimized NPV values were compared with each

other, and the highest obtained was in the case of intelligent completion in both the producing well and the injector well: ten percent above the base case without intelligent completion. Thus, the economic

advantage in the use of technology has been verified in this case of study.

1. Introdução

Um dos grandes desafios da indústria petrolífera nos dias de hoje está associado aos altos custos.

Projetos em águas ultra profundas, como é o caso do pré-sal brasileiro, demandam alto investimento

inicial, e com um tempo de payback relativamente longo (Rodrigues et al., 2017). Além disso, são altas

as incertezas associadas. Isso faz com que a equipe de gerenciamento tenha pouca margem para erros, e demanda certa flexibilidade dos projetos para poder contornar eventuais percalços.

Page 37: Avaliação do uso de completação inteligente em um

29

É neste contexto que a completação inteligente surge como uma proposta interessante. As válvulas de completação inteligente funcionam de forma a propiciar controle remoto de vazão por zonas, abrindo ou fechando determinada zona do poço para produção ou injeção (Rahman et al., 2013). A completação

inteligente permite evitar intervenções em poços tais quais: alterações nos canhoneios, acidificação, fraturamento, teste de formação para coleta de dados, entre outras operações. Operações estas que acarretam em altos custos operacionais (Almeida et al., 2010).

Os poços inteligentes funcionam de forma a prevenir, ou pelo menos reagir a, eventos indesejados,

como por exemplo alta produção de água, e assim maximizar a produção de óleo (Sampaio et al., 2012). Tendo dito isso, é importante ressaltar que existem barreiras a serem superadas. Um desafio

enfrentado no estudo de caso descrito por Rodrigues et al. (2017) foi a falta de expertise das operadoras do Brasil em reservatórios carbonáticos, que eram, até a descoberta do pré-sal, pouco estudados pelo fato

de serem pouco comuns nos campos brasileiros. A tecnologia de poços inteligentes vem sendo utilizada, como mostra o artigo de Pizarro et al.

(2017), que demonstra que foi efetiva em maximizar a produção de óleo em um campo do pré-sal através da diminuição do percentual de água no fluido produzido. Contudo, os históricos de produção ainda são

recentes. É através de simulações numéricas que podemos projetar as curvas de produção de um campo nas décadas futuras. E, para o caso do pré-sal, ainda são poucos os trabalhos que comparam os poços convencionais e inteligentes simulando as condições deste tipo de reservatório.

É esse o objetivo deste trabalho; a comparação será feita a partir de um modelo de reservatório

carbonático com configuração de poços do tipo five-spot, com um quarto de injetor em cada vértice e um produtor no centro, e que reproduz as características das rochas carbonáticas. É importante destacar que o modelo é simplificado e não engloba todas as características de um campo do pré-sal. Portanto, os resultados obtidos não podem ser generalizados, mas servem para adquirir embasamento para discutir

quais os ganhos obtidos com o uso de ICVs em reservatórios carbonáticos.

2. Metodologia

O método de trabalho escolhido se baseia na realização de um estudo de caso. Foi feita uma simulação numérica de reservatórios como forma de obtenção de resultados. As etapas de trabalho estão

ilustradas na Figura 1, e serão explicadas detalhadamente a seguir.

Figura 1 - metodologia do trabalho

Page 38: Avaliação do uso de completação inteligente em um

30

2.1. Rodadas de ajuste

O primeiro passo consiste em executar rodadas preliminares de simulação para adequação do

modelo ao estudo. Nesta etapa, são ajustadas as zonas de completação dos poços e as vazões de injeção

de água, conforme descrito na seção 3.1, e definem-se os valores iniciais e limites de cada variável

operacional, ainda utilizando o modelo com completações convencionais.

2.2. Modelos com completação inteligente

Ao chegar em um modelo considerado bem ajustado, são construídos os modelos com completação

inteligente. Isso é feito dividindo-se os poços em dois segmentos, superior e inferior, e implementando

um sistema lógico que funciona tal qual as ICVs, monitorando o corte de água no poço produtor e fechando

as zonas dos poços ao atingir uma determinada porcentagem. A definição das zonas superior e inferior de

cada poço se baseia em zonas geológicas do reservatório. Rodadas de ajuste podem ser feitas, variando as zonas do poço controladas por cada válvula, de forma a encontrar a melhor disposição de ICVs no modelo.

2.3. Otimização dos parâmetros

Após a construção de cada um dos quatro modelos base conforme explicado na seção 2.4, é realizada

uma otimização utilizando o CMOST, software da CMG usada para estudos desse tipo. Isso é feito

variando os limites de produção de gás e líquido, bem como o de injeção de água, tratados aqui para

otimizar os parâmetros operacionais. Todos os quatro casos são otimizados, considerando cada um dos

valores dos parâmetros dentro de uma faixa como equiprováveis, e tendo o VPL como variável a ser maximizada no processo. Os limites da otimização são escolhidos a partir dos resultados das rodadas

preliminares, sendo selecionados valores que condizem com a capacidade de vazão dos poços. O VPL é

a soma dos fluxos de caixa futuros descontados a uma taxa de juros estipulada, subtraindo o custo do

investimento inicial. No caso deste estudo, o investimento inicial é o custo de instalação das ICVs, nas

simulações em que se aplica. A mesma lógica é aplicada para a definição das condições de atuação das ICVs: inicialmente é

definido um valor arbitrário de corte de água (corte de água limite) no poço produtor que provoque

fechamento de zonas, e este valor deve ser otimizado de forma a maximizar o VPL caso a caso, dentro

das faixas de variação dos parâmetros definidos. O método de otimização utilizado é o Particle Swarm

Optimization (PSO), desenvolvido por Kennedy e Eberhart (1995).

2.4. Estudo de Caso

Para simular o comportamento de um reservatório carbonático, foi usado o modelo Cerena,

desenvolvido por Madeira e Pereira (2014) com as seguintes características: modelo composicional, com

configuração de poços do tipo five-spot (quadrado, um produtor no centro e um quarto de injetor em cada

vértice); pressão inicial de 49,3 MPa; malha de 21x21 blocos de 50m2, com 50 camadas de espessura

1,854m cada; valores de porosidade definidos célula a célula, tal qual a permeabilidade horizontal, cuja distribuição é igual nos dois eixos, e a permeabilidade vertical possui valores dez vezes menores do que a

horizontal em cada um dos elementos. O contato óleo-água está a 82m de profundidade, a partir da

profundidade de referência (zero) na superfície. O simulador usado foi o GEM da CMG, software

comercial para modelos composicionais.

Esse modelo com as completações convencionais ótimas (chamado de caso A) foi usado no seguinte passo, que consistiu em obter mais três modelos determinísticos:

• Caso B: injetores com completações convencionais tais quais o caso A; produtor com ICVs; • Caso C: produtor com completação convencional tal qual o caso A; injetores com ICVs; • Caso D: todos os poços com ICVs.

Page 39: Avaliação do uso de completação inteligente em um

31

Além disso, para a análise econômica, a taxa de desconto considerada foi de 10% ao ano. A Tabela

1 apresenta os valores que foram usados nos cálculos (preços e custos de produção e injeção em US$/barril, custos das ICVs em US$).

Preço

do óleo

Custo de

produção do

óleo

Custo de

produção da

água

Custo de

injeção da água

ICV - Valor

base

ICV -

adicional por

válvula

60 10 1,5 1 200.000,00 200.000,00

Tabela 1 - Dados econômicos utilizados no estudo de caso

O custo de produção de cada unidade de volume de gás é considerado, por premissa, como igual

ao seu valor de mercado. Desta forma, podemos eliminar as duas variáveis da análise econômica.

Para realização da otimização dos parâmetros, os limites operacionais foram variados de acordo com a

Tabela 2.

Parâmetro Limite inferior Limite superior Unidade

Produção de gás 3 milhões 8 milhões metros cúbicos/dia

Produção de líquido 3 mil 8 mil metros cúbicos/dia

Injeção de água 8 mil 20 mil metros cúbicos/dia

Corte de água limite 5% 100%

Tabela 2 – Faixas de variações dos parâmetros otimizados

Essas faixas de variação foram escolhidas a partir das rodadas de ajuste do modelo, de forma a não causar distorções que comprometessem o estudo.

Para todos os casos, foi inserido também um parâmetro de corte de água, chamado de corte de água

crítico, que provoca o fechamento de todos os poços. Na otimização, este parâmetro também sofreu

variações entre 5 e 100%, assim como o corte de água limite das ICVs. Este serve para parar a produção

caso se torne antieconômica.

3. Resultados

As rodadas de ajuste serviram para análise das zonas geológicas do modelo, e assim foi possível definir onde posicionar as ICVs de cada poço para os casos seguintes.

Para o Caso B, o poço produtor foi dividido em dois segmentos, superior e inferior. Com os mesmos

limites de produção do Caso A, foi estabelecido inicialmente que a zona inferior do poço fecha quando o

corte de água atinge 30%.

O Caso C, também com os mesmos limites do caso A, foi definido com os injetores divididos em duas seções cada um, sendo que as zonas superiores são fechadas inicialmente quando o corte de água no

óleo produzido atinge 30%.

Por fim, o caso D é a combinação dos dois anteriores: todos os poços divididos em duas zonas,

com os mesmos critérios de atuação de válvulas e limites operacionais.

Assim como esses limites operacionais, o valor de corte de água que provoca o fechamento das válvulas também foi otimizado de forma a eliminar a arbitrariedade da escolha e obter o maior VPL

possível.

Os três casos com completação inteligente foram simulados com as configurações acima de forma

a buscar possíveis desajustes, tanto na lógica de funcionamento das válvulas quanto no posicionamento

das mesmas. Feito isso, prosseguiu-se para a etapa de otimização.

Page 40: Avaliação do uso de completação inteligente em um

32

3.1. Otimização de parâmetros

Os parâmetros inicialmente arbitrários (vazões máximas de gás e de líquido, além do valor de corte

de água limite, que provoca fechamento do poço no Caso A ou acionamento das ICVs nos outros casos) foram otimizados usando o método PSO. O CMOST gerou 200 combinações dos mesmos para cada caso

estudado, dentro das faixas de variação descritas na Tabela 2.

Os resultados confirmam que o VPL tende a ser maior conforme aumentamos a capacidade de

processamento da planta. Os casos ótimos operam com o limite de injeção de água em 20 mil m3, valor

que é o máximo possível na otimização, e injetam a cota máxima permitida em algum momento da vida do campo, conforme exposto na Figura 5. O mesmo vale para os limites de produção: em algum momento,

todos os poços produzem os valores máximos permitidos para cada fluido.

Os valores acumulados de produção de óleo e de injeção e produção de água, em metros cúbicos,

obtidos na otimização de cada caso estão contidos na Tabela 3. Além disso, as Figuras 2, 3 e 4 ilustram

os gráficos dessas vazões ao longo do tempo. O VPL do Caso A ótimo ficou muito próximo de US$ 5 bilhões (4,995717 bilhões, para ser exato).

A Tabela 4 mostra o VPL de cada caso ótimo, além do incremento percentual dos casos ótimos com o uso

de ICVs em relação ao Caso A ótimo.

Caso A Caso B Caso C Caso D

Prod. óleo (1E6 m3) 3,060 3,209 3,086 3,009

Prod. água (1E6 m3) 0,941 1,157 1,299 0,837

Inj. água (1E6 m3) 12,928 14,715 12,676 12,697

Tabela 3 – Volumes produzidos e injetados em cada caso ótimo

Caso A Caso B Caso C Caso D

VPL (Bilhões US$) 4,996 5,231 5,359 5,493

Incremento em relação ao caso A - 4,7% 7,3% 10,0%

Tabela 4 – VPL obtido na otimização de cada caso e incremento percentual no VPL de cada caso ótimo em relação ao Caso A

Figura 2 – Vazões de óleo dos casos, mostrando as soluções ótimas encontradas

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

2014 2019 2024 2030 2035 2041

Vaz

ão d

e óle

o (

m3)

Ano

Caso A Caso B Caso C Caso D

Page 41: Avaliação do uso de completação inteligente em um

33

4. Conclusão

Analisando os resultados, concluiu-se que o uso de completação inteligente no modelo estudado

acarretou em considerável ganho de flexibilidade operacional para o projeto. Mesmo com os custos de instalação, a atuação da tecnologia resultou em ganhos financeiros.

Nos casos onde o poço injetor é inteligente, a atuação das ICVs ocorreu de forma a fechar o intervalo

superior do poço. Já nos casos onde o poço produtor é inteligente, a atuação das ICVs fechou o intervalo

inferior do poço.

Ambas as atuações, isoladamente, proporcionaram valores de VPL maiores que o caso base. Porém foi a combinação das duas que obteve o maior VPL de todos, 10% maior do que o caso base, que foi

construído apenas com poços convencionais.

Em relação ao modelo escolhido para o estudo e aos valores especificados para as variáveis, foram

julgados adequados após avaliação dos resultados. Como sugestões para aprimoramento, pode-se refazer

o estudo com um modelo com malha mais fina, ou analisar a sensibilidade dos resultados à variação da taxa de desconto e do preço do óleo. Além disso, a própria lógica de atuação dos poços inteligentes pode

ser revista de forma a contemplar controles proativos em vez de reativos.

5. Referências

AGGREY, W. N. (2014). Intelligent well Technology- Dealing with Gas Coning Problems in Production wells, 4(5), 121–135.

ALMEIDA, L. F.; VELLASCO, M. M. B. R.; PACHECO, M. A. C. (2010). Optimization system for valve control in intelligent wells under uncertainties. Journal of Petroleum Science and Engineering, 73(1–2), 129–140.

https://doi.org/10.1016/j.petrol.2010.05.013 CORREIA, M.; HOHENDORFF, J.; GASPAR, A. T. F. S.; SCHIOZER, D. (2015). UNISIM-II-D: Benchmark Case Proposal

Based on a Carbonate Reservoir. Society of Petroleum Engineers. doi:10.2118/177140-MS KENNEDY, J.; EBERHART, R. (1995). "Particle Swarm Optimization". Proceedings of IEEE International Conference on

Neural Networks. IV. pp. 1942–1948. doi:10.1109/ICNN.1995.488968 MADEIRA, P. T.; PEREIRA L. A. G. R. (2014). Dynamic simulation on the synthetic reservoir CERENA I. Compositional

fluid flow simulation with 4D seismic monitoring on a reservoir with a large content of CO2. Tese (Mestrado em Engenharia de Petróleo) – Instituto Técnico de Lisboa, Portugal

PIZARRO, J. O. D. S.; BRANCO, C. C. M. (2012). Challenges in Implementing an EOR Project in the Pre-Salt Province in Deep Offshore Brasil. Society of Petroleum Engineers. doi:10.2118/155665-MS

PIZARRO, J. O. D. S.; POLI, R. E. B.; ROSA, M. B.; COSTA, V., M, C. C.; CUNHA, B. M.; PINTO, A. C. C. (2017). Optimizing Production of Santos Basin Pre-Salt Fields through Sound Reservoir Management Practices The Santos Basin

Pre-salt Context. Offshore Technology Conference.

Figura 4 – Vazões de injeção de água dos casos, mostrando as

soluções ótimas encontradas

Figura 3 – Vazões de produção de água dos casos, mostrando

as soluções ótimas encontradas

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

2014 2019 2024 2030 2035 2041

Vaz

ão d

e ág

ua

(m3)

Caso A Caso B Caso C Caso D

0

5000

10000

15000

20000

25000

2014 2019 2024 2030 2035 2041

Caso A Caso B Caso C Caso D