8
 26 n  julho DE 2011 n  PESQUISA FAPESP 185 O panorama da ciência, da tecno- logia e da inovação no estado de São Paulo sofreu transforma- ções nos anos recentes, com a ampliação, por exemplo, do es- forço das empresas em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Em 2008 o se- tor privado paulista empregava 53% dos pesquisadores em atividade no estado, ante 45% em 1995. A contribuição de São Paulo para a produção mundial de ciên- cia também avançou, passando de 0,82% em 2002 para 0,94% em 2006, resultado de um crescimento de 41,4% do núme- ro de artigos cientícos publicados em revistas indexadas no período. A taxa de analfabetismo caiu de 6,6% para 5% no estado entre 1998 e 2006, embora os ín- dices que medem a qualidade do ensino básico tenham evoluído pouco. Nas uni- versidade s nunca houve tantas vagas ofe- recidas, sobretudo no setor privado, onde faltam candidatos para preenchê-las. O resultado é um elevado aproveitamento de egressos do ensino médio pelas uni- versidades, maior que o de muitas nações desenv olvidas: de 81% em São Paulo e de 71% no Brasil, além de uma inesperada taxa de concluintes do ensino superior que, no Brasil, é maior que a de países como Argentina, México e Chile, e, em São Paulo, é maior que a da Espan ha. T ais índices são alguns dos destaques da nova edição dos Indicadores de ciência, tecnolo- empresas atraem pesquisadOres Evolução do número de pesquisadores no estado de São Paulo - em equivalente em jornada integral    F    o    n    t    E    s    :    i    n    E    p  ,    C    n    p    q  ,    C    a    p    E    s  ,    F    a    p    E    s    p    E    i    b    g    E [  inDiCaDorEs  ] Fí M AvAnços análise Mostra que são paulo teM Mais pesquisadores eM eMpresas e taxa de conclusão no ensino superior Maior que a da espanha 1995 2000 2005 2010 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0  tOtal institutOs de pesquisa instituições de ensinO superiOr empresas e desAfios

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26  n julho DE 2011 n  PESQUISA FAPESP 185

O panorama da ciência, da tecno-logia e da inovação no estado deSão Paulo soreu transorma-ções nos anos recentes, com aampliação, por exemplo, do es-orço das empresas em pesquisa

e desenvolvimento (P&D). Em 2008 o se-tor privado paulista empregava 53% dospesquisadores em atividade no estado,ante 45% em 1995. A contribuição de SãoPaulo para a produção mundial de ciên-cia também avançou, passando de 0,82%em 2002 para 0,94% em 2006, resultadode um crescimento de 41,4% do núme-ro de artigos científcos publicados emrevistas indexadas no período. A taxa deanalabetismo caiu de 6,6% para 5% noestado entre 1998 e 2006, embora os ín-dices que medem a qualidade do ensinobásico tenham evoluído pouco. Nas uni-versidades nunca houve tantas vagas oe-

recidas, sobretudo no setor privado, ondealtam candidatos para preenchê-las. Oresultado é um elevado aproveitamentode egressos do ensino médio pelas uni-versidades, maior que o de muitas naçõesdesenvolvidas: de 81% em São Paulo e de71% no Brasil, além de uma inesperadataxa de concluintes do ensino superiorque, no Brasil, é maior que a de paísescomo Argentina, México e Chile, e, emSão Paulo, é maior que a da Espanha. Taisíndices são alguns dos destaques da novaedição dos Indicadores de ciência, tecnolo-

empresas atraem pesquisadOresEvolução do número de pesquisadores no estado de São Paulo -em equivalente em jornada integral

[ inDiCaDorEs ]

Fí M

AvAnços

análise Mostra que são paulo teM Maispesquisadores eM eMpresas e taxade conclusão no ensino superior Maiorque a da espanha

1995 2000 2005 2010

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

0

 

tOtal

institutOsde pesquisa

instituiçõesde ensinOsuperiOr

empresas

e desAfios

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PESQUISA FAPESP 185  n julho DE 2011 n 27

política científica e tecnológica

gia e inovação em São Paulo - 2010 , que aFAPESP lança neste mês, uma radiografadetalhada do avanço de P&D no estadode São Paulo nos últimos anos.

Composta por 12 capítulos, a obratem quase 900 páginas. É a terceira vezque a FAPESP lança os Indicadores , umprograma que responde a um dos obje-tivos da Fundação que é o de “promoverperiodicamente estudos sobre o estadogeral da pesquisa em São Paulo e no Bra-sil, identifcando os campos que devamreceber prioridade de omento”, comoestá descrito nos seus estatutos. “É nessecontexto que se insere a publicação destesIndicadores , que se constituem instrumen-to de grande valia para ormular e ava-liar as políticas públicas relativas à ciên-cia e à pesquisa tecnológica”, escreveu opresidente da FAPESP, Celso Laer, naapresentação da obra. “Uma equipe de

69 especialistas, entre coordenadores,pesquisadores e auxiliares de pesquisa,ez um trabalho excepcional, levantandoe qualifcando cuidadosamente os dadosusados a partir de ontes requentementeheterogêneas, e realizando um trabalhoanalítico detalhado e preciso”, diz o dire-tor científco da FAPESP, Carlos Henriquede Brito Cruz. “Cada capítulo oi lido ecriticado pelos 36 assessores técnicos e de-batido em sucessivas versões com a equipede coordenação executiva, liderada peloproessor Wilson Suzigan”, completa.

O investimentO cOmparadO

0 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00

O esfOrçO de cada setOr nO estadODispêndios em pesquisa e desenvolvimento (P&D)no estado de São Paulo - em R$ milhões de 2008

Dispêndio total em P&D em relação ao PIB 2008 - em %

IsraelsuécIaFInlândIaJapãocoreIa do sulestados unIdosIslândIataIwanalemanhaocde totalFrançareIno unIdocanadáholanda

estado de são pauloportugalchInaIrlandaespanhaItálIaBrasIlFederação russaáFrIca do sulÍndIachIle

romênIagrécIaargentInaméxIco

2.540

3.3783.733

7.119 7.278

9.756

   F   o   n   t   E   s   :   o   C   D   E   E   F   a   p   E   s   p

   F   o   n   t   E   s   :   C   n   p   q ,   C   a   p   E   s ,   F   i   n   E   p ,   F   a   p   E   s   p ,   m   C   t ,   i   b   g   E   E   o   u   t   r   o   s

privadO

estadual

 

federal

1.9721.524

2.035

IndIcadores de cIêncIa, tecnologIae Inovação em são Paulo - 2010

coordenação executIvaWl suz, jã Edud de m

p Fud, re de C gc

Pessoal de aPoIomle Yu r, mld sl texe

be, Fláv guve

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28  n julho DE 2011 n  PESQUISA FAPESP 185

Cálculos eitos pelos pesquisadoresmostram, no capítulo 3, que o dispên-dio total em P&D em São Paulo atingiu,em 2008, R$ 15,5 bilhões, o equivalentea 1,52% do PIB estadual. Esse percen-tual é superior ao de países como Es-panha, Portugal, Itália, Irlanda, Chinae Índia, e de todos os países da América

Latina, mas inerior ao de Canadá, Rei-no Unido, França, Taiwan, e à médiados países da Organização para Coo-peração e Desenvolvimento Econômico(OCDE), que é de 2,3% do PIB regional(ver quadro na página 27 ). O dispên-dio total do Brasil chegou a R$ 34,2bilhões em 2008, com intensidade de1,14% do PIB. A maior parte (63%) dosinvestimentos no estado de São Paulooi realizada pelo setor privado. “Esse émais um traço marcante da economiapaulista, mais industrializada do que a

de outras unidades da ederação, tendoas empresas na liderança do esorço deinvestimento em P&D”, inorma o ca-pítulo 3, escrito sob a coordenação deCarlos Henrique de Brito Cruz e doseconomistas José Roberto RodriguesAonso, do BNDES, e Sinésio Pires Fer-reira, da Fundação Seade. A composi-ção dos gastos em P&D em São Paulose distingue da de outros estados e damédia brasileira. Apenas 13% dessesdispêndios em São Paulo têm origemederal, enquanto nos demais estados aparcela chega a 53%. Já o dispêndio dogoverno estadual em São Paulo chega a24%, ante 8,4% no conjunto das demaisunidades da ederação. Por fm, o gastoprivado equivale a 63% do total em SãoPaulo, ante 38% nos outros estados. Atendência vem se acentuando. O dis-pêndio empresarial paulista cresceu37% em 2008 em comparação a 1995,em valor real (corrigido pelo IGP-DI).No mesmo período, o dispêndio do go-verno estadual cresceu 47%, enquanto

o ederal avançou apenas 3%.

Indicador de mudança - O estado deSão Paulo contava com quase 63 milpesquisadores em 2008, contingente66% maior do que o estimado para1995. Uma novidade é a ampliação dasoportunidades de trabalho no setor pri-vado. Embora as instituições de ensinosuperior abriguem grande parte dessecontingente (42%), oi o número depesquisadores empregados em empre-sas que mais cresceu no período (96%),

azendo sua participação no total pas-sar de 45% em 1995 (com 17.133 pes-quisadores) para 53% em 2008 (com

33.528). “A constatação de que as pró-prias empresas estão ampliando seuscontingentes de pesquisadores é, em si,indicador de mudança importante docomportamento empresarial, que, aoque tudo indica, começa a considerarinovação tecnológica como elementoimportante de suas estratégias de con-corrência e crescimento”, inorma otexto. Considerando o número de pes-quisadores por milhão de habitantes,a situação de São Paulo é ligeiramentesuperior à da China, Argentina, México

e do total do Brasil, mas é inerior à denações com ss quais o país precisa com-petir, caso da Espanha, Rússia e Coreiado Sul. “É undamental uma estratégiapara que o número de pesquisadoresno estado de São Paulo aumente subs-tancialmente nos próximos anos. (...)Para o caso do Brasil, o desafo é maiorainda”, conclui.

Em 2006, 28% dos 21,4 milhões debrasileiros com elevado nível de qua-lifcação residiam em São Paulo. Osnúmeros, embora respeitáveis, perdemparte do brilho quando são relaciona-dos à população economicamente ativa:20,4% para o Brasil e 25,2% para SãoPaulo. Na Espanha, por exemplo, essaparcela chega a 37,6%. Curiosamente,tanto no Brasil quanto no estado de SãoPaulo o número de pessoas em ocupa-ções com elevada qualifcação era bemmaior que o de pessoas com nível supe-

rior, o que indica um défcit educacio-nal da orça de trabalho mais qualif-cada. “Ao mesmo tempo, notou-se queparcela expressiva dos indivíduos comnível de escolaridade superior insere--se em ocupações com exigências dequalifcação aparentemente inerioresà adquirida em sua ormação escolar.Ou seja, está-se diante de um aparen-te paradoxo: há cada vez mais pessoastituladas no ensino superior, mas, emsimultâneo, há carência de profssionaisqualifcados”, observa o estudo.

recursOs para pesquisae desenvOlvimentO em sãO paulO

ToTal

eMpresas

inst. ensino superior estaduais

agências Federais

institutos de pesquisa Federais

agência estadual

institutos de pesquisa estaduais

inst. ensino superior Federais

inst. ensino superior privadas

(Milhões de r$)

15.523,6

9.553,3

2.646,0

819,9

789,2

637,9

449,3

425,6

202,5

A contribuição de empresas, agências, universidades e institutos de pesquisa - 2008

% do pibinvestido eM p&d

1,52%

0,94%

0,26%

0,08%

0,08%

0,06%

0,04%

0,04%

0,02%

100%

62%

17%

5%

5%

4%

3%

3%

1%

O dispêndiO emp&d em sãO paulOatingiu em 2008 Oequivalente a 1,52%dO pib estadual,

índice superiOr aOda china, da índiae da espanha

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PESQUISA FAPESP 185  n julho DE 2011 n 29

Os destaques no capítulo sobrea educação básica, coordenado pelaeconomista Vera Lúcia Cabral Costa,

diretora da Escola de Formação de Pro-essores da Secretaria da Educação doEstado de São Paulo (Seesp), oram aconsolidação da inclusão da populaçãomais pobre nos sistemas escolares doestado e do país e a persistência dosbaixos resultados de aprendizagem. Nadécada passada, as matrículas do ensinoundamental se estabilizaram em tornode 6 milhões de alunos no estado de SãoPaulo. A escolarização de crianças comidade entre 7 e 14 anos alcançou índicede 98,8% em São Paulo e de 97,6% no

Brasil em 2006. Entre os que requentama pré-escola (5 e 6 anos) oi de 90,8%em São Paulo e de 84,6% no Brasil. A

taxa de analabetismo brasileira, que em1998 era de 13,8%, passou a 10,4% em2006. No estado de São Paulo reduziu-sede 6,6% para 5% no período.

Os resultados de aprendizagem noensino básico evoluíram pouco, commelhora nas primeiras séries do ensi-no undamental. Na 4ª série do ensinoundamental, por exemplo, o estado deSão Paulo apresentou o terceiro melhorvalor do Índice de Desenvolvimento daEducação Básica (Ideb) na ederação,ampliando-o de 4,7 em 2005 para 4,9

em 2007. Os progressos são atribuídos auma combinação de resultados positivosnas taxas de aprovação e no desempenhodos alunos nas avaliações. Já no âmbitointernacional esse movimento não é per-ceptível. Desde 2000, o Brasil participade uma das mais importantes avaliaçõesinternacionais, o Pisa (Programme or

International Students Assessment),conduzido pela OCDE. As provas sãorealizadas a cada três anos e abrangem osdomínios de leitura, matemática e ciên-cias. Nas avaliações de 2000, 2003 e 2006,o Brasil amargou as últimas colocações e,na maioria dos anos, abaixo até de outrospaíses da América Latina, como Chile,México e Uruguai. O país se destaca emrelação aos demais participantes do Pisapor apresentar as maiores dierenças dedesempenho dos alunos da rede privadae os da rede pública, de cerca de 30% aavor da escola particular em todas asáreas avaliadas.

No acesso à universidade, eviden-cia-se um grande gargalo. O númerode vagas em universidades públicas eprivadas é, hoje, maior do que o nú-mero de pessoas concluindo o ensi-no médio. Isso produz um paradoxo,registrado no capítulo sobre o ensinosuperior, coordenado pela antropólogaEunice Durham, proessora da USP. Deum lado, a taxa bruta de matrículas noensino superior ainda é inerior à doconjunto dos países da América Latina.Essa taxa, que expressa a relação entreo número total de matrículas e a popu-lação entre 18 e 24 anos, era em 2006de 19,3% no Brasil e de 24,4% em SãoPaulo. Segundo dados da Unesco, a taxabruta de matrículas no mesmo ano erade 92,6% na Coreia do Sul, 67,4% naEspanha, 63,8% na Argentina, 46,6%no Chile ou 26,1% no México. Mas oBrasil apresenta altíssimo percentualde absorção de concluintes do ensino

médio no ensino superior, maior doque muitas nações desenvolvidas: 81%em São Paulo e 71% no Brasil. Quandose analisam as matrículas, parece havermuito menos gente no ensino supe-rior no Brasil em comparação a ou-tros países. Mas o panorama é dierentequando se analisam os dados dos con-cluintes do ensino superior, tomandocomo reerência a população na aixade 25 a 29 anos. O Brasil, com poucomais de 20%, está à rente da Argenti-na, Chile e México. E São Paulo, com

usp

unicaMp

unesp

uFrJ

uFMg

uFrgspuc/sp

uFsc

2 252

803

717

698

510

448318

285

sucessO na graduaçãO

grandes pOlOs da pós-graduaçãO

austrália

reino unido

França

estados unidos

canadá

coreia do sul

são paulo

espanha

brasil

México

chile

argentina

0 20 40 60 80%   F   o   n   t   E   s   :   i   b   g   E ,   p   n   a   D

   F   o   n   t   E   :   C   a   p   E   s

Taxa de conclusão no ensino superior – Brasil, estado de São Paulo e países selecionados – 2006

As universidades que formaram 75% dos doutores titulados no Brasil em 2007

uniFesp

unb

uFpe

uFpr

uerJ

uFbauFscar

236

235

221

193

176

176174 75 % » 7.442 dOutOres

brasil: 9.919 dOutOres

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30  n julho DE 2011 n  PESQUISA FAPESP 185

tempo, é preciso que a política educa-cional para a educação ederal superiornão abandone setores da população queobtiveram as credenciais acadêmicas ne-cessárias e que pagam parcela expressivados impostos ederais.”

Na pós-graduação, um dos proble-mas é a saturação da capacidade de ins-

tituições estaduais, como a USP e a Uni-camp, de ampliar o número de alunos.Em 2008, a USP ormou 2.265 doutores.Como tem 5,4 mil proessores, a relaçãoentre doutorandos e docentes é de 0,42.Na Unicamp esse coefciente é de 0,43,com 748 doutores titulados em 2008e 1.743 proessores. Em universidadesnorte-americanas, o índice é menor. EmStanord e no Massachusetts Institute o Technology, chega a 0,34. Na Universi-dade da Caliórnia, Berkeley, a 0,40. Aexpansão da ormação de doutores emSão Paulo, observa o capítulo, dependeprincipalmente das instituições priva-das e ederais.

A série histórica da Pesquisa deInovação Tecnológica (Pintec), eita acada três anos pelo Instituto Brasileirode Geografa e Estatística, dá lastro aocapítulo sobre a situação da inovaçãoem São Paulo produzida no livro soba coordenação do economista AndréTosi Furtado, proessor da Unicamp. Aanálise dos dados mostra que as empre-sas multinacionais eram responsáveisem 2005 por mais de 44% da P&D in-dustrial brasileira, uma das mais altasproporções do mundo. Essa participa-ção era ainda maior no estado de SãoPaulo, onde ultrapassava os 56%. Amaioria das empresas industriais bra-sileiras, observa Furtado, mantém umapostura relativamente passiva, dandoimportância ainda restrita à adoçãode inovações. “Poucas empresas esta-belecem vínculos de cooperação comoutras empresas ou com universidades

e institutos de pesquisa”, inorma. Aaquisição de máquinas é ainda o prin-cipal esorço inovativo das empresasbrasileiras e paulistas, ao contrário dasempresas dos países europeus, em queesses recursos se concentram em ati-vidades internas de P&D, capazes deresultar em inovações originais.

Um indicador que ilustra as ragili-dades estruturais da indústria brasileiraé a intensidade da P&D interna, medidaa partir da razão do dispêndio da P&Dinterna sobre o valor adicionado. Essa

mais de 30%, supera a Espanha, com28%, e está próximo à Coreia do Sul,com 39% (ver quadro na página 29 ).“Um elemento que aeta a quantidadede matrículas é o sistema de acesso aoensino superior: certos países, comoo Brasil, realizam uma seleção ao fnaldo ensino médio. Outros admitem noensino superior todos os concluintesdo ensino médio e, em muitos casos,convivem com altas taxas de evasão edesistência”, inorma o texto.

Entre 1999 e 2006, a taxa bruta dematrículas no ensino superior no Brasilaumentou de 11,2% para 19,3%, o querepresentou crescimento de 72%. No es-

tado de São Paulo, as taxas oram maiselevadas, passando de 15,4% em 1999para 24,4% em 2006, mas o aumentooi menor (58%). No Brasil, o númerode egressos do ensino médio em relaçãoao total de vagas oerecidas no ensinosuperior passou de 1,72 concluinte porvaga em 1999 para 0,8 em 2006, com onúmero de oportunidades passando a sermaior do que o de candidatos. O excessode vagas se deve ao crescimento do se-tor privado, no qual a relação, que era de2,27 em 1999, passou a 0,91 em 2006. São

Paulo, no ensino superior público, oe-recia uma vaga para cada grupo de 14,2concluintes do ensino médio em 1999 euma vaga para cada 8,54 em 2006.

Chances - O apoio restrito do governoederal ao ensino superior público noestado de São Paulo é destacado. En-quanto no Acre um jovem que concluiuo ensino médio tem 70% de chance deser matriculado em uma instituiçãoederal, alguém com a mesma escolari-dade morando em São Paulo tem ape-nas 1% de chance de requentar umainstituição ederal de ensino superior.No conjunto do país, o governo ederal

respondia, em 2006, por 12,2% do totaldas matrículas e era o maior provedordo ensino superior público. Tomando-seSão Paulo isoladamente, as instituiçõesederais respondiam por apenas 0,7% dototal das matrículas, enquanto o estadorespondia por 7,8%, quase 12 vezes maisdo que a União. “É pereitamente legíti-mo que a União adote políticas visandoà redução de desigualdades regionais”,afrma a obra. “Mais do que legítimas,tais políticas são necessárias para o de-senvolvimento do Brasil. Ao mesmo

instituições que mais publicam

usp

unicaMp

uFrJ

unesp

uFrgs

uFMg

uniFesp

Fiocruz

uFscar

uFsc

uFpreMbrapa

uFpe

unb

uerJ

Publicações indexadas nas bases SCIE e SCI – 2002 a 2006

0 20 40 60 80

0 5.000 10.000 15.000 20.000

núMero depublicações

% decresciMento

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PESQUISA FAPESP 185  n julho DE 2011 n 31

taxa fcou em 2005 em 1,5% para o con- junto da indústria brasileira e em 2,1%para o estado de São Paulo, muito abaixodos 7,7% da média dos países da OCDE.Uma comparação das intensidades poráreas da indústria mostra que nos setoresde alta tecnologia as dierenças são aindamais acentuadas em relação aos países

desenvolvidos. A exceção é o setor aero-náutico, no qual a intensidade brasileirase equipara à dos países desse bloco. Osetor automobilístico é o responsável porquase um quarto da P&D industrial bra-sileira e mais de 30% do indicador emSão Paulo. Quase a metade da pesquisaindustrial brasileira se concentra em trêssetores: veículos automotores, coque erefno de petróleo e álcool e construçãode aeronaves. Cinco empresas brasileirasaparecem no ranking das empresas quemais investem na P&D eita pelo Depar-tamento de Inovação, Universidades eHabilidades do Reino Unido em 2008:Petrobras, Vale, Embraer, Braskem eWEG. As duas últimas não constavam nalista da edição de 2007. Entre os quatropaíses do bloco dos BRICs, o Brasil su-perou apenas a Rússia, com 3 empresas,no ranking , no qual a Índia aparece com15 empresas e a China com 9.

Um campo em que pouca coisa mu-dou é o das patentes. A posição do Brasil

a liderança dOestadO de sãO paulO

em depósitOs depatentes nO inpimanteve-se nOperíOdO de 1980 a2005, cOm 49,5%das sOlicitações

no ranking de patentes depositadas noescritório dos Estados Unidos (Uspto)permanece no mesmo patamar há trêsdécadas. Em 1974, o Brasil ocupava a 28ªposição. Passou ao 25º lugar em 1982,caiu para o 27º em 1990 e regrediu à 29ªposição em 1998, na qual permaneciaem 2006. Em números absolutos, oram

depositadas 44 patentes com primeiroinventor residente no Brasil em 1974,ante 341 em 2006. O capítulo 5 dos In-dicadores , coordenado por Eduardo daMotta e Albuquerque, proessor de eco-nomia da Universidade Federal de MinasGerais, observa que a estabilidade dosúltimos anos exigiu um esorço do paísque não deve ser menosprezado, umavez que países como a Rússia, o Méxicoe a Árica do Sul perderam posições noperíodo. Mas ressalta que a mera manu-tenção da posição no ranking mundialde patentes “não deve ser uma meta depolítica pública para um país que ain-da não superou a barreira histórica dosubdesenvolvimento”. A liderança deSão Paulo em depósitos de patentes noInstituto Nacional de Propriedade In-dustrial (INPI) manteve-se no períodode 1980-2005, com 49,5% do total bra-sileiro. Nesse período, a liderança coubeà Petrobras, com 804 depósitos, seguidapela Unicamp, com 408. Na década de

   F   o   n   t   E   :   i   n   p   i

  consuMo das FaMlias e construção civil

eletrônicos e eletricidade

instruMentação

Máquinas, Mecânica e transportes

procediMentos, quMica de base e Metalurgia

quMica Fina e FarMácia

vOcações tecnOlógicas

Índice de especialização tecnológica dasmicrorregiões paulistas, calculado com baseem concentração de patentes

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32  n julho DE 2011 n  PESQUISA FAPESP 185

1990 cresceu bastante o peso das insti-tuições de ensino e pesquisa no esorçode proteção à propriedade intelectual – aUSP, a UFMG e o Instituto de PesquisasTecnológicas (IPT) também aparecementre os líderes. Essa característica reve-la imaturidade do sistema de inovaçãobrasileiro – em países desenvolvidos,

patentes são obtidas majoritariamentepor empresas, não por universidadespúblicas. “Inelizmente, o papel dasinstituições de ensino e pesquisa nopatenteamento é ampliado pela timidezdo patenteamento de empresas. (...) Atimidez deve servir como um alerta paraa necessidade de políticas industriais etecnológicas mais audazes, dada a ne-cessidade de ampliação expressiva doenvolvimento de empresas com ativida-des inovativas”, afrma o estudo.

O balanço de pagamentos tecnoló-gico, que retrata as relações comerciaisenvolvendo insumos e produtos tecno-lógicos, oi tema de um capítulo coor-denado pelo economista João Furtado,proessor da Poli-USP. O destaque nessecampo está no aumento das exporta-ções de produtos de média tecnologia(US$ 37,3 bilhões, de 2002 e 2005) anteas importações (US$ 10,6 bilhões). Issoindica a importância dessa categoria tec-nológica, que incorpora produtos pri-mários agrícolas e agroindustriais, parao aumento das exportações brasileirasnos últimos anos. O estudo ressalta,

porém, que o sucesso das commodities  brasileiras dependeu, ao contrário doque prega o senso comum, de uma or-te articulação para o desenvolvimentotecnológico, caso do petróleo extraídoem alto-mar e de diversos produtosagrícolas – o melhoramento da cana--de-açúcar é um entre vários exemplos.“A agricultura brasileira produz e ex-porta produtos que são classifcados nacategoria commodities (invariavelmenteassociadas à baixa tecnologia), mas issonão quer dizer que eles não contenham

ou não mobilizem tecnologias, conhe-cimentos e ciência. Aliás, esse conteúdocientífco e tecnológico possui origensantigas e conteúdos locais e externos”,escreveu Furtado, que é coordenadorde inovação tecnológica da FAPESP.Enquanto as exportações dos demaisestados concentram-se em produtos

agrícolas, agroindustriais, minerais eenergéticos, São Paulo desempenha umpapel relevante nas vendas para o exte-rior de produtos com maior densidadetecnológica. Um dos principais exem-plos é o da Embraer. Segundo Furtado,isso mostra que é possível produzir itensde alta tecnologia de orma competitivamesmo quando é necessário importaros insumos necessários. “A Embraer, osempre citado exemplo brasileiro de in-dústria de alta tecnologia, exporta aviõesque concebe e abrica, mas utiliza, paraisso, componentes, partes, módulos esistemas importados. Suas exportaçõesem 2007 de US$ 4,7 bilhões superam assuas importações, de US$ 2,9 bilhões.”

Ocupações tecnológicas - O capítulosobre a dimensão regional das ativida-des de CT&I no estado de São Paulomostra uma concentração de ocupa-ções tecnológicas (80,7% do total) etécnicas (74,8%) em 10 microrregiões:capital, Campinas, Osasco, São José dosCampos, Sorocaba, Guarulhos, San-tos, Ribeirão Preto, Mogi das Cruzese Itapecerica da Serra. A Região Me-tropolitana de São Paulo tem partici-pação relativa reduzida nas chamadasocupações operacionais, indicador datranserência de ábricas para o inte-rior e outras regiões do país, enquantoconcentra laboratórios de pesquisa eas estruturas gerais de gestão das em-presas. Dados regionalizados da Pintecmostram que a Região Metropolitanaresponde por mais de 50% das empre-

sas inovadoras no estado e quase 20%das do Brasil. O mapeamento revelaoutros dois enômenos. Um deles é aimportância de regiões no interior doestado, como Campinas e São José dosCampos, que se localizam próximas àRegião Metropolitana e também apre-sentam atividade destacada de CT&I,com a presença de empresas locais ino-vadoras e boas universidades. O outroestá relacionado com regiões no inte-rior do estado de São Paulo que apre-sentam indicadores de CT&I menos

O sucessOdas cOmmOdities  agrícOlas

brasileirasdependeu de intensOdesenvOlvimentOtecnOlógicO

mãO de Obra qualificada

pós-graduados    o    c

    u    p    a    ç      õ    e

    s 

     t    e    c    n

    o    l    ó    g

    i    c    a    s

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    i    c    a    s

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    o    p    e    r    a

    c    i    o    n    a

    i    s

58,137,9

6,72,2 3,5

4,1

87,7

21,3 52,8 25,9

0 20 40 60 80 100%

Distribuição do emprego em atividades de ciência, tecnologia e inovação, por categoriaocupacional, segundo grau de escolaridade – Brasil e estado de São Paulo – 2006

ForMaçãobásica

ForMaçãoMédia

ForMaçãosuperior

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5/12/2018 Avanços e Desafios - Fabrício Marques - slidepdf.com

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PESQUISA FAPESP 185  n julho DE 2011 n 33

expressivos. Ao comparar os dados re-centes com os de edições anteriores dosIndicadores , observou-se crescimentoda qualifcação da mão de obra e donúmero de instituições de ormaçãode mão de obra de nível tecnológico,técnico e de aprendizagem industrial.“Essa evolução pode criar oportunida-des para a criação e a diusão de novosconhecimentos em apoio aos proces-sos inovativos nas empresas”, inormao capítulo, coordenado por Renato deCastro Garcia, proessor da Poli-USP.

A contribuição de São Paulo paraa produção científca mundial cres-ceu de 0,81% em 2002 para 0,94%em 2006. O estado oi responsávelpor 51% da produção brasileira in-dexada entre 2002 e 2006, patamarligeiramente superior ao do período1998-2002, de 49,9%. Esse aumentoestá associado a um crescimento de41,4% da produção paulista de 2002até 2006, mostra o capítulo 4, que

analisa a produção científca a partirde publicações em periódicos espe-cializados, coordenado por LeandroInnocentini Lopes de Faria, proessordo Departamento de Ciência da In-ormação da Universidade Federal deSão Carlos (UFSCar). A contribuiçãobrasileira para a produção mundialindexada passou de 1,6% em 2002para 1,9% em 2006. O aumento de43,5% no número de publicaçõesbrasileiras no período oi superior aocrescimento mundial, de 22,7%. As

instituições de maior produção no paísentre 2002 e 2006 oram a USP, com25,5% dos artigos, a Unicamp, com10,1%, a Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), com 8,7%, a Estadual Paulista(Unesp), com 7,3%, a Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), com 5,8%,a UFMG, com 5,2%, a Federal de SãoPaulo (Uniesp), com 4%, a Fiocruz,com 3,1%, e a UFSCar, com 3%.

A colaboração científca interna-cional brasileira no período cresceu30,4%, quando se contabilizam aspublicações em coautoria com es-trangeiros, mas contribuiu de maneiradecrescente para o total da publicaçãobrasileira, de 33,1% em 2002 para 30%em 2006. Já a colaboração entre esta-dos cresceu 79,4% no período. Emborao número de citações recebidas pelaprodução brasileira indexada ainda se-

  ja relativamente pequeno, houve umcrescimento expressivo entre 1990 e2003, passando de 0,16% para 0,55%

do total das citações mundiais. No gru-po de países com produção científcaentre 2% e 5% do total mundial, aspublicações do Canadá apresentaramelevado patamar de citações desde1990 até 2003, mas elas oram decres-centes no período (de 4,2% a 3,7% dascitações mundiais). As publicações daEspanha, Austrália e Índia tiveram ci-tações crescentes, assim como a Coreiado Sul, que em 1990 recebeu citaçõespara suas publicações bem ineriores àsdo Brasil (0,06% ante 0,16%), mas em

2003 alcançou o valor 0,94%, quase odobro do alcançado pelo Brasil.

O último capítulo dos Indicadores traz os resultados de uma pesquisa so-bre percepção pública da ciência e datecnologia no estado de São Paulo, co-ordenada pelo linguista Carlos Vogt, queoi presidente da FAPESP entre 2002 e2007. O estudo mostra que o interessedeclarado pelos paulistas sobre temasde caráter científco-tecnológico não ébaixo e pode ser comparado, na capital,ao de muitos países europeus. Mas háum grande desafo a vencer, relaciona-do às desigualdades sociais e o acesso àeducação. Do ponto de vista da condiçãoeconômica, os que se declararam Nada interessados em C&T tendem a perten-cer às classes C e D, enquanto os que sedeclararam Muito interessados são umaração importante de indivíduos perten-centes às classes A e B.

Uma novidade é que a oerta dedados sobre ciência e tecnologia em

São Paulo organizados pela FAPESPvai aumentar. “A partir do segundosemestre de 2011 a FAPESP passaráa acompanhar os indicadores de dis-pêndio, de pessoal, de publicações ede patentes de orma muito mais re-quente, incluindo a publicação de umboletim mensal destacando os pontosde maior impacto para as estratégiaspara C&T em São Paulo. Além dis-so, anualmente será publicada umasinopse dos dados”, diz Carlos Hen-rique de Brito Cruz. n

estratégias da indústriaPercentual de empresas da indústria de transformação que utilizaram pelo menosum método de proteção das inovações, por tipo – 2003-2005

Marcas

segredo industrial

patente

Modelo de utilidade

registro de desenho

teMpo de liderança

direitos do autor

outros Métodos

coMplexidade do desenho

0 5 10 15 20 25

estadode são paulo

brasil

   F   o   n   t   E   :   p   i   n   t   E   C   2   0   0   5