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www.dpu.gov.br/esdpu Escola Superior 1 De acordo com o Novo Diagnóstico de Pessoas Presas no Brasil, lançado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em junho de 2014, a população carcerária brasileira alcança o número de 567.655 pessoas (não computadas aquelas em pri- são domiciliar), enquanto o número de vagas no sistema é de apenas 357.219, o que denota de pronto a superlotação car- cerária que permeia a média do sistema prisional nacional. E há um agravante: a abertura de novas vagas nem de longe acompanha o número de entradas no sistema. O mes- mo Diagnóstico aponta 373.991 manda- dos de prisão em aberto, sendo certo que, sem o cumprimento desses mandados, já ocupamos o 4º lugar no ranking de países com maior população prisional, exibindo 358 pessoas presas para cada 100.000 ha- bitantes (índice mais de duas vezes supe- rior ao encontrado, por exemplo, na Ar- gentina – onde se tem 149 pessoas presas para cada 100.000 habitantes). O Levantamento Nacional de Infor- mações Penitenciárias, realizado pelo Sis- tema Integrado de Informações Penitenci- árias (INFOPEN), em dezembro de 2014, divulgado no último dia 25/04/2016 pelo Ministério da Justiça, confirma esta situa- ção de calamidade, indicando que nossa população prisional já alcançou o número 622.202. O mesmo Levantamento tam- bém comprova que nunca se prendeu tan- to no Brasil. Nos últimos 14 anos, a popu- lação penitenciária cresceu 267%, sendo de se destacar que 40% desse contingente são presos provisórios. Contraditoriamente, em que pese o elevado número de prisões, a opção pelo encarceramento em massa não está auxi- Os desafios de um superencarceramento PRESOS E PENITENCIÁRIAS Jornal da Escola Superior da Defensoria Pública da União 2 º Trimestre de 2016/ Ed. Nº 05, ano 2 liando a reduzir os índices de criminali- dade no Brasil. Conforme denunciam os dados do Índice de Progresso Social (IPS), em 2015, elaborado pela organização sem fins lucrativos Social Progress Imperative, o Brasil aparece como o 12º país mais in- seguro do mundo, atrás apenas do Iraque (1º), da Nigéria (2º), da Venezuela (3º), do Afeganistão (4º), da África do Sul (5º), da República Centro Africana (6º), de Honduras (7º), do Chade (8º), da Repúbli- ca Dominicana (9º), do México (10º) e do El Salvador (11º). A República Democráti- ca do Congo e a Síria não possuem ranking no quesito segurança pessoal. A realidade experimentada no cár- cere embrutece os indivíduos (por vezes submetidos a condições desumanas de aprisionamento), favorece o rompimento dos laços familiares, assim como o apren- dizado de práticas criminosas e, como re- sultado, vem proporcionando excelentes condições para o retorno do cidadão ao crime. Infelizmente, para parcela signifi- cativa da população privada de liberdade, a vivência penitenciária no Brasil, a par de não fazer cessar, tende a intensificar o ciclo de violência que tem conduzido estas pes- soas à situação de encarceramento. Nestas condições, afigura-se clara a necessidade de aceitação de que o atual modelo punitivo focado na prisão como resposta para contenção da criminalida- de está falido. É preciso que a sociedade direcione esforços para buscar formas al- ternativas de punição, restringindo a apli- cação das penas privativas de liberdade ao menor número de casos possíveis. E, em especial, mostra-se premente a necessidade de drástica redução das prisões provisórias, responsáveis por 40% do total de prisões. Por Tatiana Melo Aragão Bianchini – Ex-Secretária de Atuação no Sistema Penitenciário Nacional e Conselhos Penitenciários; Defensora Pública Federal de Categoria Especial Editorial Por Fernando Mauro Barbosa de Oliveira Junior Página 3 A atuação da Defensoria Pública da União no âmbito do sistema penitenciário federal Por Hélio Roberto Cabral de Oliveira Página 4 Mais direitos e menos prisão Por Eduardo Flores Vieira Página 5 Da ausência da hediondez do crime de tráfico privilegiado Por Alessandro Tertuliano da Costa Pinto Página 7 O papel da Defensoria Pública da União no atendimento às pessoas em situação de prisão Por Isabel Penido de Campos Machado Página 9 Entrevista Entrevista concedida pela Irmã Michael Mary Nolan Página 10 Notas Página 12

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De acordo com o Novo Diagnóstico de Pessoas Presas no Brasil, lançado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em junho de 2014, a população carcerária brasileira alcança o número de 567.655 pessoas (não computadas aquelas em pri-são domiciliar), enquanto o número de vagas no sistema é de apenas 357.219, o que denota de pronto a superlotação car-cerária que permeia a média do sistema prisional nacional.

E há um agravante: a abertura de novas vagas nem de longe acompanha o número de entradas no sistema. O mes-mo Diagnóstico aponta 373.991 manda-dos de prisão em aberto, sendo certo que, sem o cumprimento desses mandados, já ocupamos o 4º lugar no ranking de países com maior população prisional, exibindo 358 pessoas presas para cada 100.000 ha-bitantes (índice mais de duas vezes supe-rior ao encontrado, por exemplo, na Ar-gentina – onde se tem 149 pessoas presas para cada 100.000 habitantes).

O Levantamento Nacional de Infor-mações Penitenciárias, realizado pelo Sis-tema Integrado de Informações Penitenci-árias (INFOPEN), em dezembro de 2014, divulgado no último dia 25/04/2016 pelo Ministério da Justiça, confirma esta situa-ção de calamidade, indicando que nossa população prisional já alcançou o número 622.202. O mesmo Levantamento tam-bém comprova que nunca se prendeu tan-to no Brasil. Nos últimos 14 anos, a popu-lação penitenciária cresceu 267%, sendo de se destacar que 40% desse contingente são presos provisórios.

Contraditoriamente, em que pese o elevado número de prisões, a opção pelo encarceramento em massa não está auxi-

Os desafios de um superencarceramento PRESOS E PENITENCIÁRIAS

Jornal da Escola Superior da Defensoria Pública da União 2 º Trimestre de 2016/ Ed. Nº 05, ano 2

liando a reduzir os índices de criminali-dade no Brasil. Conforme denunciam os dados do Índice de Progresso Social (IPS), em 2015, elaborado pela organização sem fins lucrativos Social Progress Imperative, o Brasil aparece como o 12º país mais in-seguro do mundo, atrás apenas do Iraque (1º), da Nigéria (2º), da Venezuela (3º), do Afeganistão (4º), da África do Sul (5º), da República Centro Africana (6º), de Honduras (7º), do Chade (8º), da Repúbli-ca Dominicana (9º), do México (10º) e do El Salvador (11º). A República Democráti-ca do Congo e a Síria não possuem ranking no quesito segurança pessoal.

A realidade experimentada no cár-cere embrutece os indivíduos (por vezes submetidos a condições desumanas de aprisionamento), favorece o rompimento dos laços familiares, assim como o apren-dizado de práticas criminosas e, como re-sultado, vem proporcionando excelentes condições para o retorno do cidadão ao crime. Infelizmente, para parcela signifi-cativa da população privada de liberdade, a vivência penitenciária no Brasil, a par de não fazer cessar, tende a intensificar o ciclo de violência que tem conduzido estas pes-soas à situação de encarceramento.

Nestas condições, afigura-se clara a necessidade de aceitação de que o atual modelo punitivo focado na prisão como resposta para contenção da criminalida-de está falido. É preciso que a sociedade direcione esforços para buscar formas al-ternativas de punição, restringindo a apli-cação das penas privativas de liberdade ao menor número de casos possíveis. E, em especial, mostra-se premente a necessidade de drástica redução das prisões provisórias, responsáveis por 40% do total de prisões.

Por Tatiana Melo Aragão Bianchini – Ex-Secretária de Atuação no Sistema Penitenciário Nacional e Conselhos Penitenciários; Defensora Pública Federal de Categoria Especial

EditorialPor Fernando Mauro Barbosa de Oliveira Junior

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A atuação da Defensoria Pública da União no âmbito do sistema penitenciário federalPor Hélio Roberto Cabral de Oliveira

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Mais direitos e menos prisãoPor Eduardo Flores Vieira

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Da ausência da hediondez do crime de tráfico privilegiadoPor Alessandro Tertuliano da Costa Pinto

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O papel da Defensoria Pública da União no atendimento às pessoas em situação de prisãoPor Isabel Penido de Campos Machado

Página 9EntrevistaEntrevista concedida pela Irmã Michael Mary Nolan

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Notas

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Por outro lado, considerando o enor-me contingente de pessoas encarceradas, e partindo-se do pressuposto de que, feliz-mente, não temos penas perpétuas, ganha destaque a necessidade de concretizar-se um dos objetivos da execução penal, pre-visto logo no art. 1º da Lei de Execuções Penais, que é proporcionar condi-ções para a harmônica integração so-cial do condenado. A ressocialização é, se não a principal, certamente a mais importante finalidade de qual-quer pena e se apresenta como um dos maiores desafios postos na temá-tica da execução penal.

Relatório de pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômi-ca Aplicada (IPEA), em 2015, sobre a reincidência criminal no Brasil constatou que 1 em cada 4 pessoas submetidas à prisão é reincidente. Destaca-se, por relevante, que refe-rido estudo pautou-se no conceito de reincidência estritamente legal. Pesquisas anteriores, que utilizavam o conceito de “reincidência peniten-ciária” – considerando presos con-denados e provisórios com passa-gem anterior no sistema prisional –, apontam dados mais alarmantes, na casa de 70%, a exemplo do que foi divulgado anos atrás pelo Departamento Penitenci-ário Nacional (DEPEN), com base em dados de 2001.

Não se pretende simplificar demais o que é complexo, mas dois pontos parecem afetar este processo de reinclusão social e negação da reincidência: o apoio da família e a recolocação no mercado de trabalho. E nada mais difícil que conseguir se realocar no mercado de trabalho quando se carrega a pecha de ex-presidiário(a). Quantos da-rão uma segunda chance a esta pessoa?

A Defensoria Pública da União (DPU), sensível a esta dificuldade, man-tém contrato com entidades de apoio ao preso e ao egresso, de modo a permitir que a pessoa submetida à prisão, ainda antes de deixar o sistema prisional, quan-do progride para o regime semiaberto, consiga uma oportunidade de trabalho.

Tanto no Distrito Federal como em São Paulo, a viabilização desse pro-jeto se deu por meio de contrato com a Fundação de Amparo ao Trabalhador

Preso (FUNAP/DF) e com a Fundação Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel (FUNAP/SP), respectivamente. Essas fundações, vinculadas ao governo local, têm por missão contribuir para a inclu-são social de presos e egressos, mediante o desenvolvimento de seus potenciais como

indivíduos, cidadãos e profissionais. Na área laboral, ambas as instituições ofere-cem trabalho tanto em oficinas de produ-ção próprias (no interior dos estabeleci-mentos penais), como por intermédio do Programa de Trabalho Extramuros ou do Programa de Alocação de Mão de Obra, o que propiciou a contratação mencionada com a DPU.

Além do pagamento de uma bolsa ressocialização, cujo valor é variável de acordo com a escolaridade – como forma de incentivar o estudo –, também é pago auxílio transporte e auxílio alimentação.

A disposição da DPU em tomar par-te nesse processo está produzindo resulta-dos concretos. Conforme levantamento realizado em dezembro de 2015 no sítio do TJDFT na internet em busca de novas condenações criminais em desfavor dos reeducandos que já participaram do pro-jeto no DF, tivemos a grata satisfação de concluir que, das 66 pessoas recebidas na sede da DPU-DF desde 2012, somente 6% delas sofreram uma nova condenação penal após ingressarem no projeto, sendo

de se ressaltar que só foram encontrados dois casos em mais de três anos de funcio-namento do projeto com sentença conde-natória com trânsito em julgado.

A par desta pequena colaboração institucional, que não é mais que um grão de areia no universo de problemas

que envolvem o encarceramento no Brasil e precisa ser multiplicada para outras instituições públicas a fim de produzir resultados em es-cala compatível com o contingente de pessoas em situação de privação de liberdade, releva ressaltar o pa-pel da Defensoria Pública neste ce-nário de superencarceramento.

A Constituição Federal de 1988 destacou a Defensoria Pú-blica como expressão e instru-mento do regime democrático, incumbindo-lhe a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extraju-dicial, dos direitos individuais e coletivos das pessoas em situação de vulnerabilidade.

À vista do número exorbitan-te de pessoas privadas de liberdade e das condições precárias de encar-

ceramento a que grande parte delas estão submetidas, a defesa desta população se apresenta como o mais urgente e o mais relevante desafio imposto às Defensorias Públicas em âmbitos federal e estadual. O defensor público, a família da pessoa encarcerada e as organizações da socie-dade civil envolvidas com algum tipo de apoio ao preso são, em grande medida, os mais próximos da pessoa presa e, sem dúvida nenhuma, neste tríduo, o defensor é aquele que dispõe de melhores instru-mentos para fazer valer os seus direitos.

Visando a envidar esforços para apoiar e otimizar a atuação dos defensores públicos nos estabelecimentos penais, em dezembro de 2015, por ocasião do lança-mento do Programa Defensoria no Cárce-re, em São Luís-MA, foi assinado Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério da Justiça (Departamento Penitenciário Nacional, Secretaria de Reforma do Ju-diciário e Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária), a Defensoria Pública da União, o Colégio Nacional de Defensores Públicos Gerais, a Associação

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Nacional dos Defensores Públicos e a As-sociação Nacional dos Defensores Públi-cos Federais.

Como um dos produtos do referido Programa, foram elaboradas recomenda-ções em formato de protocolos de atuação. Estes protocolos foram redigidos conjunta-mente por uma equipe de defensores pú-blicos, da qual fizeram parte representantes da Defensoria Pública da União (DPU) e da Associação Nacional dos Defensores Pú-blicos Federais (ANADEF), são eles: proto-colo de atuação da Defensoria Pública nas inspeções em estabelecimentos penais, pro-tocolo de atuação da Defensoria Pública no

atendimento a pessoas presas ou interna-das, protocolo de atuação da Defensoria Pública no atendimento a pessoas presas provisoriamente (disponíveis em: http://defensorianocarcere.wix.com/defensoria-nocarcere#!blank/c786).

Espera-se que referidas recomenda-ções orientem a regulamentação interna do tema pelas Defensorias Públicas, uni-formizando a atuação dos defensores nos estabelecimentos penais.

O desafio que se apresenta é enorme e o sucesso das Defensorias Públicas nesta empreitada passa tanto pelo fortalecimen-to institucional, de modo a levar defenso-

res para os locais onde só estão instaladas instituições responsáveis pela acusação e pelo julgamento, quanto por um proces-so de sensibilização interna que coloque aquele que não tem condições de procurar o atendimento nas unidades como priori-dade institucional: o vulnerável entre os vulneráveis.

Por fim, a par de todos os problemas enfrentados por esta grande Instituição, no cenário do sistema jurídico punitivo, são os defensores públicos os únicos que, no dia a dia, têm a possibilidade de perso-nificar a oração de São Francisco, de levar esperança aonde há desespero.

Editorial Por Fernando Mauro Barbosa de Oliveira Junior Diretor da ESDPU, Defensor Público Federal de Categoria Especial

Grafite na prisão norueguesa, Halden fengsel, considerada modelo de prisão com foco na reabilitação

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Esta 5ª edição do Fórum DPU, refe-rente ao 2º trimestre de 2016, tem como tema “Presos e Penitenciárias”. Seu objeti-vo é trazer à tona discussões teóricas que influenciam diretamente o cotidiano dos detentos e exigem uma abordagem práti-ca, a fim de que diversos obstáculos e pro-blemas vivenciados pela população carce-rária sejam enfrentados e vencidos.

Desse modo, na capa, a autora Tatiana Bianchini, outrora Secretária de Atuação no Sistema Penitenciário Nacio-nal e Conselhos Penitenciários, no âmbito da Defensoria Pública da União (DPU), aponta os desafios existentes em decor-rência do superencarceramento e, infe-lizmente, a falência do modelo brasileiro,

porquanto, nos últimos anos, houve um aumento da população detida e, da mes-ma maneira, uma majoração dos índices de criminalidade no país. Por isso, indica que à Defensoria Pública é atribuída uma relevante missão de viabilizar a realização da Justiça, considerando as precárias con-dições dos presídios nacionais e o aban-dono jurídico por que passa a maioria das pessoas alijadas da sociedade.

Considerando a temática, “Pre-sos e Penitenciárias”, desta edição, o au-tor Hélio Roberto, que presta assistência jurídica na Penitenciária Federal de Mos-soró, analisa a sistemática de transferên-cia dos detentos dos presídios estaduais para os federais, ressaltando que esta al-

teração de cárcere decorre do respectivo comportamento do custodiado, e não por conta da natureza ou qualidade do crime pelo qual foi condenado. Neste processo, compete à DPU verificar se os requisitos para a admissão do assistido foram observados.

As penitenciárias brasileiras, além de não serem adequadas, tampouco possuem condições mínimas para atingi-rem as finalidades para as quais existem. Nesse sentido, no Brasil, é necessária a implantação de “políticas de descarceri-zação”, nas palavras e na apreciação crí-tica do autor Eduardo Flores, ex-Defen-sor Público-Geral Federal, ao contribuir com este Fórum DPU, no artigo inti-

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A atuação da Defensoria Pública da União no âmbito do sistema penitenciário federal

O Sistema Penitenciário Federal brasileiro (SPF) foi formalmente insti-tuído pela Lei nº 11.671/08, que dis-põe sobre a inclusão e transferência de presos, definitivos ou provisórios, para estabelecimentos penais federais de se-gurança máxima, regulada pelo Decreto Federal nº 6.877/09, ocasião em que se

estabeleceu legalmente o procedimento necessário para a transferência de inter-nos de presídios estaduais para os con-gêneres federais. Entretanto, a iniciativa da União de criar uma prisão federal é mais antiga que tal previsão legal, remon-tando ao ano de 2006, com a construção e instalação da Penitenciária Federal de

Segurança Máxima de Catanduvas, a pri-meira das quatro atualmente existentes em funcionamento. 1

1 As quatro penitenciárias federais estão localizadas nas cidades de Mossoró/RN, Catanduvas/PR, Campo Grande/MS e Porto Velho/RO, nas quais há a presta-ção de assistência jurídica pela DPU, existindo ainda uma em fase final de construção em Brasília, mas sem previsão oficial para o início de suas atividades.

tulado “Mais Direitos e Menos Prisão”. Indica que, acompanhado por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Decreto Presidencial que dispõe sobre o indulto de natal deve ser interpretado de forma que, cumprida a condição indica-da na norma, que não diz respeito a cum-primento de pena, o cidadão condenado tenha direito ao respectivo benefício em relação a crimes não impeditivos, ainda que também praticado crime hediondo.

Na semana em que este Fórum DPU seria encaminhado para a gráfica, o Supremo Tribunal Federal (STF) pro-feriu acórdão em habeas corpus impe-trado pelo autor Alessandro Tertuliano, Defensor Público Federal de Categoria Especial, cuja decisão, modificou enten-

dimento da própria Corte Suprema e do Superior Tribunal de Justiça. Assim, con-vidou-se este Defensor para, brevemente, apresentar, neste Jornal, os principais ar-gumentos que alteraram a jurisprudência e permitiram que o tráfico privilegiado não fosse mais considerado crime he-diondo e, com isso, se permita a retirada de milhares de pessoas (primárias, com bons antecedentes, que não se dedicam a atividades criminosas, nem integram or-ganização criminosa) das penitenciárias.

Esta edição do Fórum DPU não poderia se olvidar de ceder espaço para o grupo temático, constituído no âmbi-to da DPU, que trata do atendimento às pessoas em situação de prisão. Neste contexto, a autora Isabel Penido ressalta a

importância de se buscar mecanismos al-ternativos para substituir a prisão caute-lar, como uma das formas para, tentando alterar o modelo atual, reduzir a quanti-dade de pessoas que se encontram hoje segregadas da sociedade, presas.

Por fim, do mesmo modo que as edições anteriores, a última seção do Fórum DPU é dedicada a uma entrevis-ta, no caso concedida pela Irmã Mary Nolan, advogada dos direitos humanos especializada no trabalho com prisionei-ras estrangeiras e presidenta do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania. Nesta opor-tunidade, discorre-se, principalmente, sobre a situação das mulheres nas peni-tenciárias e como a Defensoria Pública da União pode aperfeiçoar a sua atuação.

Por Hélio Roberto Cabral de OliveiraDefensor Público Federal de 2ª Categoria em Mossoró – RN

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Curioso, pois, que a construção da primeira penitenciária federal é an-terior ao marco legal do SPF e possuiu como base a previsão legal genérica do art. 86, § 1º, da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), com redação dada pela Lei nº 10.792/03 (a mesma que instituiu o regime disciplinar diferen-ciado), dispositivo este que passou a permitir a construção, pela União, de estabelecimento penal em local dis-tante da condenação para recolher os condenados quando a medida se justi-fique no interesse da segurança pública ou do próprio condenado. Interessante ressaltar, neste ponto, que o contexto no qual foi proposto o Projeto de Lei nº 5073/2001, que deu ensejo à Lei nº 10.792/03, foi a onda de ataques cometidos por uma facção criminosa que atuava (e ainda atua) nas peniten-ciárias estaduais paulistas no ano de 2001, que levou à realização de rebe-liões concomitantes e orquestradas em 21 estabelecimentos penais na capital e em cidades do interior do estado de São Paulo.

Analisando-se o arcabouço le-gal do SPF, verifica-se que esse foi concebido para custodiar presos di-ferenciados, não em razão dos crimes praticados, mas por estarem causan-do transtornos à ordem e à disciplina dos estabelecimentos penais estaduais, cujas autoridades não estejam em con-dições de reprimir o nocivo comporta-mento carcerário e isso esteja afetando a segurança pública (nesse sentido, cf. arts. 3º e 10 da Lei nº 11.671/08 e 3º do Decreto Federal nº 6.877/09).

Como é sabido, em regra, todo aquele condenado a uma pena priva-tiva de liberdade ficará custodiado em penitenciária estadual, independente-mente de a ação penal respectiva ter tramitado perante uma autoridade judiciária estadual ou federal, caben-do a fiscalização da execução ao juízo estadual responsável (nesse sentido, cf. Súmula nº 192 do STJ). Dessa forma, a transferência de um preso para uma penitenciária federal, dar-se-á median-te sua inclusão no SPF.

Assim, o incidente processual de inclusão se inicia em autos apartados e

conexos à execução penal ou à ação penal com o pedido de um dos legitimados, quais sejam, a autoridade administrati-va, o MP ou o próprio preso, devendo abordar a necessidade de transferência (art. 5º da Lei nº 11.671/08). Apresen-tado o pedido, deverão ser ouvidos pelo juízo da origem, quando não requeren-tes, a autoridade administrativa, o MP e a defesa, bem como o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), a quem é facultado indicar o estabeleci-mento penal federal mais adequado (art. 5º, §2º da Lei nº 11.671/08). Deferido o pedido pelo juízo de origem, o inci-dente de transferência será remetido ao Juízo Federal Corregedor da penitenci-ária federal escolhida, que fará um novo juízo de admissibilidade acerca da inclu-são do preso no SPF (art. 4º da Lei nº 11.671/08).

A partir da inclusão definitiva ou emergencial do preso no SPF é que, não sendo constituído advogado, a Defenso-ria Pública da União (DPU) iniciará o acompanhamento do caso, elaborando a defesa cabível. O principal ponto discu-

tido pela DPU é justamente a legalida-de da inclusão do preso no SPF. O que se tem se visto na prática é que muitos pedidos de inclusão não possuem um mínimo embasamento probatório, sen-do instruídos com relatórios de autori-dades policiais ou penitenciárias, que normalmente se limitam a apontar o preso como participante de relevante importância em facção criminosa que atua no estabelecimento prisional esta-dual, exercendo papel de liderança ne-gativa em relação aos demais presos, ou imputam a articulação da prática de cri-mes dentro ou fora da prisão, sem apre-sentar provas concretas para sustentar tais conclusões. Em todos esses casos, a DPU tem se insurgido contra o pedido de inclusão do preso no SPF sem lastro probatório mínimo, mas tal pretensão tem encontrado resistência da jurispru-dência, que, ao fim e ao cabo, tem, em regra, assimilado de forma implícita um discurso de legitimação de um processo penal do inimigo em prol da segurança pública, mantendo, com base em frágeis indícios, a inclusão do preso no SPF.

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No Brasil, o histórico descaso por parte do Estado com relação aos estabe-lecimentos prisionais, para além de todas as críticas ao encarceramento, impossibi-lita a satisfação dos fins a que a pena se destina. O sistema carcerário brasileiro está longe de ser um meio de contenção da criminalidade, tornando-se, ao con-trário, cada vez mais um dos maiores propulsores do aumento da violência. Muito distantes do propósito de reinserir socialmente, as prisões têm contribuído para o aumento das taxas de criminalida-de. O encarceramento produz reincidên-cia: depois de sair da prisão, aumentam as chances de voltar para ela (delinquên-cia secundária).

É preciso, sem dúvida, investir nas prisões e garantir melhores condições de encarceramento. No entanto, este investi-mento deve estar acompanhado da adoção de políticas descarcerizantes, já que em um país como o Brasil a opção pelo endureci-mento penal tem um óbvio efeito de sele-tividade, criminalizando prioritariamente jovens pobres e moradores de periferia. As políticas de descarcerização, para que se-jam efetivas e passem a contar com o apoio público, devem estar acompanhadas de mecanismos eficientes para a aplicação e o controle das alternativas ao cárcere.

Com esse objetivo tem sido adota-da desde 2009, como se nota pelo De-creto Presidencial nº 7.046, de 22 de dezembro de 2009, uma política crimi-nal para o esvaziamento da prisão, vul-garmente conhecido como “saidão” de

Natal, observada vedação estabelecida pela Constituição Federal de 1988 sobre a concessão de fiança, graça ou anistia em casos de tortura, de tráfico ilícito de en-torpecentes e de drogas afins, terrorismo e dos definidos crimes hediondos (artigo 5º, inciso XLIII). Reconhece-se, assim, que o encarceramento em massa possui caráter deletério e devastador da perso-nalidade humana e da dignidade do pre-so, por vezes causando maior dano que o próprio fato penal praticado.

Vejamos a redação do então pará-grafo único do art. 7º do Decreto Presi-dencial nº 7.046, que apregoa:

“Parágrafo único. Na hipótese de haver concurso com infração descrita no art. 8º, a pessoa condenada não terá di-reito ao indulto ou à comutação da pena correspondente ao crime não impeditivo, enquanto não cumprir, no mínimo, dois terços da pena, correspondente ao crime impeditivo dos benefícios (art. 76 do Código Penal) (grifo nosso).”

Ressoa cristalino que não se está a discutir a concessão do indulto ou co-mutação da pena aos crimes hediondos, mas simplesmente a sua aplicabilidade às demais infrações que não ostentem esta natureza (delitos não impeditivos), respeitando o inciso XLIII, do art. 5º da Constituição Federal.

Pois bem, os Decretos de Indulto Natalino editados nos anos de 2002 a 2008 preceituavam que, havendo con-curso com as infrações de tortura, ter-rorismo, tráfico ilícito de entorpecentes,

crimes hediondos e aqueles tipificados no Código Penal Militar, a concessão dos benefícios ficava condicionada ao cum-primento integral da pena aplicada aos delitos impeditivos.

De fato, tal comando fazia senti-do porque a redação original da Lei nº 8.072/90, em seu art. 2º, §1º, considerava que o cumprimento da pena dos crimes he-diondos seria realizada de forma integral-mente fechada. Assim, independentemen-te da pena aplicada a estes crimes, tal pena seria a mais grave em sua integralidade (re-gime fechado), devendo ser executada, por completo, em primeiro lugar, conforme preceitua o art. 76 do Código Penal.

Nesse sentido, Julio Frabbrini Mi-rabete, no Código Penal Interpretado, apresentava as seguintes soluções para a correta aplicação da referida norma penal (art. 76): a) executa-se primeiro a pena de reclusão, em seguida a detenção e, por fim, a de prisão simples, sendo que todas tem precedência sobre a de multa; b) na hipótese de existirem duas ou mais penas da mesma espécie a serem cumpri-das, a precedência deve ser determinada pelo critério cronológico; c) sobrevindo condenação por crime hediondo ou a ele equiparado, a execução da pena aplicada no processo correspondente deve prece-der às demais, independentemente da data do trânsito em julgado ou da dura-ção da reprimenda, tendo em vista que o cumprimento se dá integralmente em regime fechado

Contudo, em 2006, o Supremo

Mais direitos e menos prisãoPor Eduardo Flores Vieira Defensor Público Federal de Categoria Especial; Ex-Defensor Público-Geral Federal

foto: http://thedailyblog.co.nz/2015/10/05/transgender-prisoner-attacked-at-serco-who-is-to-blame/

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Tribunal Federal (STF), no julgamento do Habeas Corpus nº 82959/SP, decidiu pela inconstitucionalidade do dispositivo da Lei dos Crimes Hediondos que deter-minava o cumprimento integral destes crimes em regime fechado.

Com a publicação da Lei nº 11.464, de 28 de março de 2007, o legislador ordinário incorporou à Lei dos Crimes Hediondos a decisão exarada pelo STF, determinando que a pena imposta seja cumprida em regime inicialmente fe-chado, admitindo-se a progressão após a liquidação de 2/5 (dois quintos) da san-ção, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

Mesmo após a edição da lei supra-mencionada, o STF julgou que os crimes hediondos podem receber tratamento mais benevolente. Nessa esteira, por maioria de votos, o Plenário do Supre-mo Tribunal Federal concedeu, durante sessão extraordinária realizada no dia 27 de junho de 2012, o Habeas Corpus nº 111840 e declarou incidentalmente a in-constitucionalidade do parágrafo 1º do artigo 2º da Lei nº 8.072/90, com reda-ção dada pela Lei nº 11.464/07, o qual prevê que a pena por crime hediondo (inclusive tráfico de drogas) será cumpri-da, inicialmente, em regime fechado.

O julgamento teve início em 14 de junho de 2012 e, naquela ocasião, cin-co ministros se pronunciaram pela in-constitucionalidade do dispositivo: Dias Toffoli (relator), Rosa Weber, Cármen Lúcia Antunes Rocha, Ricardo Lewan-dowski e Cezar Peluso. Em sentido con-trário, se pronunciaram os Ministros Luiz Fux, Marco Aurélio e Joaquim Bar-bosa, que votaram pelo indeferimento da ordem. Na última sessão, em que foi concluído o julgamento, os Ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ayres Britto acompanharam o voto do relator, Ministro Dias Toffoli, pela concessão do Habeas Corpus e para declarar a incons-titucionalidade do parágrafo 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90. De acordo com o entendimento do relator, o disposi-tivo contraria a Constituição Federal, especificamente no ponto que trata do princípio da individualização da pena (artigo 5º, inciso XLVI).

Assim, a partir de tais alterações/

inovações legislativas feitas pela Lei nº 11.464/2007 e pela jurisprudência da Suprema Corte, a pena aplicada aos cri-mes hediondos nem sempre é considera-da mais grave em sua totalidade, tendo em vista a possibilidade de progressão de regime prisional. Ela só se torna mais gra-ve no cumprimento dos seus iniciais 2/5 (dois quintos), pois realizados em regime fechado. Após este período, a pena de tal crime passa a ser em regime semiaberto, tornando-se menos grave do que eventu-al cumprimento de pena por outro crime com regime inicial fechado.

Não executar a pena desta forma, exigindo-se o cumprimento integral da pena pelo crime impeditivo, é totalmente incompatível com a ordem jurídica atu-al. Tal situação caracterizaria verdadeira “subversão da ordem jurídica”, impondo à pessoa já beneficiada com o livramento condicional o retorno ao regime fechado determinado em condenação pelo crime não impeditivo. Eis a razão pela qual o cumprimento das penas se dá concomi-tantemente, tendo os Decretos de In-dulto de 2009 e 2010 passado a exigir somente a liquidação parcial da pena re-lativa aos crimes impeditivos.

Registre-se, por oportuno, que a exi-gência prevista no art. 76 do Código Pe-nal, no tocante ao cumprimento em pri-meiro lugar da pena mais gravosa deve ser interpretado em consonância com o siste-ma progressivo do direito penal brasileiro.

Assim, as alterações legislativas en-gendradas pelos Decretos Natalinos de 2009 e 2010, no tocante à necessidade de cumprimento parcial de 2/3 (dois terços) da sanção relativa ao crime impe-ditivo, não ocorreram por mero critério de conveniência da Presidência da Repú-blica, mas por razões de origem jurispru-dencial, de política criminal e de índole eminentemente legislativa.

Dessa forma, conclui-se que nos casos em que o Decreto de Indulto Na-talino exige o cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena é porque a sanção im-posta pelo crime impeditivo deixou de ser a mais grave, dada a possibilidade de progressão de regime e a concessão de livramento condicional, sendo possível ao sentenciado, em tese, ser beneficiado com o indulto ou comutação da pena

pelo delito não impeditivo, desde que cumpra, em relação a este, pelo menos 1/4 (um quarto) de pena.

De notar que, no Conselho Peni-tenciário do Distrito Federal, reina cer-ta celeuma a respeito da necessidade de cumprimento integral do crime hedion-do, havendo vozes que defendem essa necessidade.

Cumpre destacar que a literalidade da norma é clara: o condenado apenas não terá direito à concessão dos benefícios de que trata o decreto se não cumprir, no mínimo, 2/3 (dois terços) da pena refe-rente ao crime impeditivo. Não se trata aqui da concessão do benefício em relação aos delitos hediondos, o que configuraria ofensa ao texto constitucional. O período concernente a 2/3 (dois terços) dos crimes hediondos constitui apenas critério para a concessão da comutação de penas em face dos delitos comuns.

Neste sentido, observa-se que a juris-prudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem se pronunciado pela legalidade da concessão de benefícios na hipótese ora defendida.1 De fato, os Decretos de In-dulto nada têm a ver com o cumprimento de pena, não se tratando de qual deve ser cumprida primeiro. Tais decretos somen-te impõem requisitos que, se cumpridos, impõe o abatimento de penas, explicita-do, inclusive, por seu art. 9º.

O indulto é uma clemência do Es-tado que encontra óbice apenas nos casos estipulados no inciso XLIII, do art. 5º da Constituição Federal. Fora desta si-tuação, tratando-se de ato discricionário do Presidente da República, cabe a ele a definição da extensão do benefício, po-dendo, inclusive, conceder o perdão em crimes que sequer tenham iniciado o seu cumprimento da pena, por exemplo, nos casos de indulto com base no estado de saúde do preso.

Por fim, vale lembrar que a aplica-ção dos 2/3 (dois terços) deve ser feita inclusive quando a pena do crime im-peditivo já estiver cumprida, lembrando que o parágrafo único do art. 7º do De-creto nada tem a ver com cumprimento de pena e sim requisitos para concessão.

1 Veja Agravo Regimental no Agravo em Recur-so Especial nº 721.412 – RJ (2015/0132686-0).

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Recente decisão do Supremo Tribu-nal Federal (STF) trouxe à tona o deba-te sobre se o tráfico privilegiado merece resposta penal menos gravosa, pois não obstante a Lei nº 8.072/90, que versa so-bre os crimes hediondos, não trazer em seu rol o tráfico de drogas, o seu art. 2º o equipara aos delitos chamados hediondos e dispõe que a pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. Além disso, a lei dis-põe que a progressão de regime dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois) quin-tos da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

No âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a matéria acabou por ser pacificada, em vista do julgamento de re-curso especial sob o rito dos representati-vos de controvérsias, estabelecido no art. 543-C do Código de Processo Civil, en-sejando a edição da Súmula nº 512, que diz: “A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas”.

Para o STJ, portanto, a simples incidência da causa de diminuição de pena não é bastante para afastar a equiparação do tráfico de drogas aos crimes hediondos. Ademais, o STJ também entende que a hipótese é diferente do homicídio privi-legiado, situação paradigma que é sempre invocada, uma vez que, neste, a redução da pena seria feita em razão de circunstân-cias inerentes à razão da prática da condu-ta, as quais o legislador entendeu diminuir a gravidade da conduta.

Porém, tal como ocorre no trá-fico privilegiado, o chamado homicídio privilegiado também representa uma cau-sa especial de diminuição de pena, e não um tipo derivado, porquanto não estabe-lece novos limites mínimos e máximos de reprovação, mas sim traz elementos moti-vacionais do autor que culminam com a

diminuição do juízo de censura jurídica e social que recai sobre este.

Por outro lado, a redação do § 4º, do art. 33, da Lei nº 11.343/2006 (tráfico pri-vilegiado), teve a intenção de dar tratamento especial a uma hipótese que difere completa-mente da incriminação contida no seu caput e no parágrafo 1º do mesmo artigo.

Não nos parece, portanto, injusto a possibilidade de se fazer uma analogia in bonan partem, a fim de se afirmar que o tráfico privilegiado deva ser conside-rado da mesma forma que o homicídio privilegiado, qual seja, é necessário tra-tamento menos rigoroso para o agente delituoso que, por requisitos atenuantes, cometeu o crime.

Decerto que no homicídio privile-giado a obrigatória diminuição da pena consiste na hipótese em que o autor co-meteu o crime motivado por razões de relevante valor moral, social ou sob o do-mínio de violenta emoção originada por injusta provocação da vítima, de modo que a conduta permanece como proibi-da, porém as especiais características sub-jetivas que envolvem o fato diferem da simples ação de matar, o que justificaria a diminuição da pena.

Já no tráfico privilegiado, considera-se que o agente se envolveu ocasionalmente com essa espécie delitiva, não é reinciden-

te, não ostenta maus antecedentes e não se vincula a qualquer organização, devendo assim fazer jus à diminuição da pena.

Ocorre que se submetermos a ques-tão a uma análise por meio do senso de justiça comum, a ação de matar, por mais nobres que sejam considerados os moti-vos, ausentes qualquer uma das hipóte-ses de exclusão de ilicitude previstas no art. 23 do Código Penal, não deveria se mostrar menos censurada do que o ato de traficância, no qual se reconhece que o agente do delito sequer detém a condi-ção de traficante contumaz, mas de mero “passador” eventual.

Não obstante, doutrina e jurispru-dência entendem que o ordenamento não quis submeter a tratamento especialmente gravoso o homicídio por motivos deno-minados nobres ou moralmente aceitos, de maneira que a sanção aplicada, com a diminuição da reprovação e a previsão do regime de execução comum, já cumpriria a sua finalidade, sendo portanto suficiente.

No entendimento do STJ, porém, a hipótese do tráfico privilegiado seria di-ferente da situação paradigma do homi-cídio privilegiado, ao se dizer que, neste, a redução da pena seria feita em razão de circunstâncias inerentes à motivação da prática da conduta, as quais o legislador entendeu diminuírem sua gravidade, ao

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Da ausência da hediondez do crime de tráfico privilegiado Por Alessandro Tertuliano da Costa Pinto Defensor Público Federal de Categoria Especial

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passo que a causa de diminuição do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, não seria aplicada por ser a conduta menos grave, mas sim por razões de política criminal, como um favor legislativo ao pequeno traficante, ainda não envolvido em maior profundidade com o mundo criminoso, de forma a propiciar-lhe uma mais rápida oportunidade de ressocialização.

Esse entendimento acaba por des-considerar ou simplesmente desconhe-cer todas as circunstâncias que levam o agente primário, de bons antecedentes, não dedicado às atividades criminosas nem integrante de organização crimino-sa, a cometer o crime de tráfico de en-torpecentes, grande parte das vezes como mero agente transportador.

Basta uma simples visita a uma pe-nitenciária feminina, como já tivemos a oportunidade de realizar na condição de Defensor Público, para se constatar que, até mesmo por motivos de doenças in-curáveis e outras situações degradantes, mulheres estão sendo cooptadas pelos verdadeiros traficantes em busca de um lucro supostamente fácil e que lhes per-mita ter um pouco de dignidade na vida, bem como para prover a própria subsis-

A atual perspectiva punitivista ob-servada nos discursos que orbitam em torno do Sistema de Justiça Criminal produziu, nas últimas décadas, um fenô-meno mundial de superencarceramento, sendo que o Brasil tem sido reportado como a 4ª maior população carcerária do mundo (atrás apenas dos Estados Uni-dos, China e Rússia). Segundo dados divulgados pelo Sistema Integrado de In-formações Penitenciárias (INFOPEN), no período compreendido entre 2004 a 2014, a população carcerária aumentou em 80%, chegando a 622.202 pessoas (dez/2014) em situação de prisão (exclu-

tência e a de sua família.Em não concordar com o atual en-

tendimento é que ingressamos com Ha-beas Corpus em face de acórdão do STJ perante o STF, visando o reconhecimen-to de que a causa de redução de pena pre-vista no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas (tráfico privilegiado) afasta a hediondez do delito de tráfico de drogas.

E por meio do provimento desse Habeas Corpus, de nº 118.533, o STF, por maioria de votos, reviu seu anterior entendimento e concedeu a ordem para que o tráfico privilegiado não seja mais considerado crime de natureza hedionda.

Em seu voto, o Ministro Presiden-te Ricardo Lewandowski diz ser forçoso reconhecer que o desemprego estrutural e a precarização das relações de trabalho constituem fatores fundamentais que le-vam à inserção de jovens e de mulheres nessa prática delituosa, a qual é assumida como uma alternativa laboral e, até mes-mo, como meio para prover a própria subsistência.

Dessa forma, entendemos cair por terra a alegação de que o tráfico privi-legiado seria diferente da situação para-digma do homicídio privilegiado, ao se

ídas as prisões domiciliares).1

A partir deste cenário, na condição de órgão que luta pela redução das de-sigualdades sociais, a Defensoria Públi-ca da União (DPU) se digladia em sua atuação na esfera criminal em busca de alternativas penais ao encarceramento em massa e exigência do cumprimento de parâmetros mínimos para o cumpri-

1 DEPEN. Levantamento Nacional de In-formações Penitenciárias – INFOPEN. Brasília: Ministério da Justiça, dez/2014. Disponível em: <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/infopen_dez14.pdf>. Acesso em: 1 maio 2016.

dizer que, neste, a redução da pena seria feita em razão de circunstâncias ineren-tes à motivação da prática da conduta, as quais o legislador entendeu diminuírem sua gravidade, pois mesmo sendo a pri-mariedade, os bons antecedentes, bem como a não dedicação a atividades cri-minosas, nem a integração em organiza-ção criminosa, fatos que dizem respeito à pessoa do apenado, entendeu o STF, no recente precedente citado, que cir-cunstâncias inerentes à razão da prática da conduta integram sim a motivação da redução do tráfico privilegiado.

Referida decisão poderá beneficiar principalmente as mulheres, pois no Bra-sil o tráfico de drogas é o crime de 27% do total de presos, entre as mulheres a proporção de presas por tráfico é ainda maior: 63%, segundo dados divulgados pelo Departamento de Execução Penal (DEPEN). Para a Ministra Cármen Lú-cia, considerar a hediondez do tráfico privilegiado fez com que a população de mulheres presas aumentasse. “Esse é um julgamento com importância social de enorme gravidade, porque nós temos mulheres com filhos aprisionadas porque o crime é hediondo” asseverou.

O papel da Defensoria Pública da União no atendimento às pessoas em situação de prisãoPor Isabel Penido de Campos Machado Membro do Grupo de Trabalho Nacional para Atendimento a Pessoas em Situação de Prisão da Defensoria Pública da União e Defen-sora Pública Federal de 2ª Categoria em São Paulo – SP

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mento de pena. A questão chega defi-nitivamente à agenda, tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, ainda em caráter liminar, o “estado de coisas inconstitucional”2 do sistema carcerário, estabelecendo algu-mas medidas com o objetivo de redu-ção da população carcerária e melhoria das condições de detenção daqueles que enfrentam tais imposições restritivas de liberdade por parte do Estado. Dentre elas, destaca-se a adoção de audiências de custódia como ferramenta para redução do número de prisões provisórias e mo-nitoramento dos índices de violência nas abordagens policiais. Na esfera federal, a DPU vinha reivindicando a inserção de tal procedimento desde 2014, o que in-cluiu a propositura de ação civil pública no estado do Amazonas pelo Defensor Público Federal Caio Paiva, bem como inúmeros habeas corpus que foram im-petrados com o mesmo objeto.

Além da adoção das audiências de custódia, o Departamento Penitenciário Nacional adotou recentemente a Polí-tica Nacional sobre Alternativas Penais (Portaria nº 495/2016), com o intuito de criar mecanismos de controle e for-talecimento das medidas cautelares alter-nativas à prisão (previstas no art. 319 do Código de Processo Penal) e estimular a aplicação das penas alternativas e ou-tros mecanismos de justiça restaurativa, a fim de reduzir a população carcerária em 10% (até o ano de 2019), além de paulatinamente introduzir mudanças à racionalidade encarcerante do sistema.

Neste contexto, verifica-se que, na agenda contemporânea, foram inseridos no rol de atribuições da DPU inúme-ros problemas que atingem diretamente o contexto das pessoas em situação de prisão, com impacto na esfera federal. A identificação e sistematização de tais demandas permite delinear o papel do órgão na luta pelos direitos das pessoas em situação de prisão.

Em primeiro lugar, a mais óbvia demanda seria no atendimento aos cinco

2 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 347 MC, Relator (a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 9 out. 2015, PRO-CESSO ELETRÔNICO DJe-031. Divulgado em: 18 fev. 2016. Publicado em: 19 fev. 2016.

presídios federais de segurança máxima (Catanduvas/PR, Porto Velho/RO, Mos-soró/RN, Campo Grande/MS e o ainda não inaugurado presídio federal de Bra-sília/DF). Ademais, lista-se a fiscalização das pessoas submetidas à custódia da po-lícia federal e da Justiça Militar da União. Por fim, a situação mais alarmante e que reclama a atuação da DPU é a situação dos presos provisórios por determinação da Justiça Federal, geralmente em razão da imputação por crime de tráfico trans-nacional de drogas. Deste universo, tem se sobressaído a atuação em defesa dos presos e presas estrangeiros, que, além das demandas de defesa criminal, neces-sitam de assistência para regularização migratória (Res. 110 do CNIG e Por-taria nº 8/2014 do SNJ/MJ).3 Também o recorte de gênero tem sido destacado, tendo em vista que o sistema peniten-ciário discrimina e não se estrutura de forma satisfatória para atender demandas específicas de mulheres e LGBTIs sub-metidos à situação de prisão. Uma das demandas recentes, que merece destaque, foi a mobilização de várias organizações não governamentais e Defensorias em de-fesa da ampliação do indulto para mulhe-res. Isso porque houve um crescimento vertiginoso do encarceramento femini-no, geralmente em razão da apreensão de

3 Em 2011 foi criado o Grupo de Trabalho para atendimento a presos e egressos estrangeiros em São Paulo, em parceria com a organização não governamental Instituto Terra Trabalho e Cida-dania (ITTC), que tem por objeto a organização de visitas à Penitenciária Feminina da Capital (regime fechado), Penitenciária de Butantã (regi-me semiaberto) e Penitenciária de Itaí, que abri-gam presos e presas estrangeiros.

drogas. O pedido se justifica uma vez que a política criminal atualmente adotada não tem atingido as mulheres, que pouco se beneficiam do indulto, apesar de não estarem envolvidas em crimes violentos.4

Além disso, o atendimento às pes-soas em situação de prisão tem propicia-do a parceria com as Defensorias Públicas Estaduais, seja por meio da realização de mutirões carcerários pelo Colégio Nacio-nal dos Defensores Públicos Gerais, seja pela participação nos Conselhos Peniten-ciários Estaduais, seja pela realização de encontros e reuniões para a definição de pautas e estratégias conjuntas.

No plano institucional, em 2014, foi criado o Grupo de Trabalho para atendimento às pessoas em situação de prisão, consolidando a necessidade de aproximação com a sociedade civil e com as pessoas afetadas pelas atuais po-líticas públicas. Diante do atual desafio de redução da população carcerária, a Defensoria Pública da União, por meio dos seus órgãos de execução (defensores públicos) e grupos de trabalho temáti-cos, tem buscado assumir atribuições na luta contra o encarceramento em massa, diagnosticando as principais demandas e estratégias de atuação, bem como in-corporando, em sua agenda, as propostas oriundas das alternativas penais.

4 BOUJIKIAN, K. Indulto para mulheres. Dis-ponível em: <http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/kenarik-boujikian-tal-como-o-bama-dilma-precisa-iniciar-uma-nova-pagina-na-prisao-por-drogas-comecando-pelo-indulto-de-mulheres.html>. Acesso em: 16 maio 2016.

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EntrevistaEntrevista concedida pela Irmã Michael Mary Nolan – Advogada dos Direitos Humanos especializa-da no trabalho com prisioneiras estrangeiras e Presidenta do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC)

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1. Que medidas podem ser tomadas para garantir que os filhos das presas pas-sem mais tempo com elas nos primeiros anos de vida?

De acordo com a Lei de Execução Penal, bebês podem ficar no mínimo seis meses no cárcere com as mães. No entan-to, nós optamos por medidas desencar-ceradoras, já que existem alguns instru-mentos que garantem que filhos e filhas possam ficar com as mães, por exemplo, as Regras de Bangkok. Recentemente traduzidas para português pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), as Regras de Bangkok são orientações pela Organiza-ção das Nações Unidas (ONU) que definem como prioritárias medidas não privativas de liber-dade a mulheres, principalmen-te mães. Além disso, o Marco Legal de Atenção à Primeira In-fância expande as possibilidades de serem adotadas escolhas me-nos encarceradoras, pois define que toda mulher grávida e/ou com crianças de até 12 anos sob sua responsabilidade pode ficar em prisão domiciliar.

É preciso que esses ins-trumentos sejam mais conhe-cidos e aplicados.

Além disso, pensando que a grande maioria das mulheres encarceradas no Brasil hoje são mães e estão presas por delitos

relacionados a drogas, é um pedido urgente do Grupo de Estudos e Trabalho Mulheres Encarceradas que a política de concessão dos indultos mude e contemple essas mulheres.

2. Que medidas podem ser to-madas para reduzir a população carce-rária feminina?

Em um primeiro momento, aplicar a legislação em vigor e sensibilizar o judiciário para aplicá-la, pensando no perfil da mulher presa: pobre, jovem, ré primária, mãe e prin-cipal provedora do lar. Mais precisamente

no caso das mulheres estrangeiras presas no Brasil, reconhecer que as mulheres “mulas” (maior parte da população estrangeira no Brasil) não pertencem à rede internacional do tráfico de drogas, ou seja, é necessário haver um entendimento objetivo da real participa-ção delas e que elas, por não fazerem parte da rede de tráfico de drogas, podem ser enqua-dradas como vítimas de tráfico de pessoas.

3. O que tem sido feito para esti-mular o trabalho das presas? A remição da pena pelo trabalho ou pelo estudo

funciona na prática?O trabalho e o estudo não têm

sido estimulados. Exemplo disso foi uma ação civil pública de março do ano passado, que, por meio da De-fensoria Pública do Estado de São Paulo, o Instituto Terra, Trabalho e Cidadania e outras organizações, buscava garantir às mulheres pre-sas na Penitenciária Feminina de Sant’Ana oferta de ensino funda-mental e médio no período noturno. Administração Pública, na época, se justificou dizendo que não havia funcionários no estabelecimento pri-sional e nem estrutura para acomo-dar turmas nesse período. No entan-to, muitos outros presídios possuem ensino noturno. Isso deixou claro que não havia e não há interesse em superar esses impedimentos.

De acordo com o último

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Informativo da ESCOLA SUPERIOR • Diagramação ASCOM • CONTATO: [email protected] (61) 3318.0287 www.dpu.gov.br Escola

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FIQUE ATENTO!A Turma 2/2016 do curso de Fiscali-

zação de Contratos teve início em agos-to e contou com a participação de 22 pessoas, dentre elas, dois servidores de instituição parceira.

PrOgrAME-sE!

A Defensora Pública Federal Drª Ana Luisa Zago de Moraes, lotada na DPU/Porto Alegre/RS. foi selecionada para ser a conteudista e a tutora do Cur-so de Direito Penal e Processual Penal, que será disponibilizado pela ESDPU em outubro/2016.

DIAlOgUE!

A ESDPU organizará uma edição do Fórum DPU com vistas à apresentação dos desafios encontrados por defensores lotados nas diversas Unidades da DPU, bem como as conquistas alcançadas. Caso tenha alguma experiência para compartilhar, entre em contato: publica-ç[email protected]

O diálogo entre as Unidades fortalece a DPU!

FIQUE POr DENTrO!

O curso de capacitação em Brasília sobre o Sistema Interamericano de Direitos Hu-manos teve início em agosto e contou com a participação de 41 defensores e da nova De-fensora Interamericana, Dr. Izabel Penido.

FIQUE POr DENTrO!

A Turma 2/2016 do curso Novo do Código de Processo Civil, na modalidade EaD, teve início em agosto e contou com 27 pessoas inscritas.

FIQUE ATENTO

A Escola Superior criou o Programa de Auxílio Financeiro para Apresentação de Trabalhos Acadêmicos em Eventos Cien-tíficos (Edital DPU/DIGCO DPGU - Nº 34), que visa apoiar financeiramente defensores e servidores cujos trabalhos de cunho acadêmico já tenham sido se-lecionados para apresentação em eventos essencialmente científicos, que exijam que exijam deslocamento no País.

Solicitações são aceitas continuamen-te. Para maiores informações, consulte a página da ESDPU: http://www.dpu.gov.br/esdpu/editais-de-capacitacao

Sistema Integrado de Informações Peni-tenciárias (INFOPEN), em 2014, 13% da população prisional participava de alguma atividade educacional, formal ou não.

Em relação ao trabalho, as vagas são muito limitadas, não sendo suficientes para todas a pessoas em situação de prisão, e, no geral, não há uma supervisão nas condições de trabalho, por exemplo, existem casos em que mulheres sofreram acidentes durante o trabalho e não receberam indenização ou tiveram para onde recorrer.

Ainda, uma vez que a mulher é pre-sa, é muito mais difícil que essa egressa consiga trabalho por conta do preconcei-to, deixando-a muito mais vulnerável.

4. É possível que a presa con-denada seja transferida para o seu

país de origem antes do início da execução da pena para cumprir a pena lá, perto da família? Há espaço para a atuação da Defensoria Públi-ca da União (DPU) neste sentido?

Sim, existem alguns mecanismos que ainda precisam ser aprimorados, prin cipalmente tratados bilaterais entre países da América Latina e África. Um exemplo de normativa internacional é Convenção Europeia sobre Transferência de Pessoas Condenadas já foi ratificada pelo Brasil e poderia ser aplicada a muitas pessoas, caso houvesse vontade política, pois não se li-mita só à Europa. A DPU poderia estudar a possibilidade de usá-la ao pedir a trans-ferência de pessoas estrangeiras.

5. Em que medida a atuação da DPU pode ser aprimorada no que diz respeito à garantia dos di-reitos das presas?

Em primeiro lugar, a DPU já tem aprimorado a garantia dos direitos das mulheres presas, em especial com as idas regulares à prisão. Ainda, a Defensoria tem sido proativa na criação de novas propostas e saídas. Um ponto que pode ser aprimorado, pensando na questão das estrangeiras “mulas” em conflito com a lei é a intensificação dos esforços para re-conhecê-las como vítimas do tráfico de pessoas, segundo a Convenção de Paler-mo, também ratificada pelo Brasil.

lEMbrEM-sE!

A participação em eventos da ES-DPU exige o comprometimento com o compartilhamento dos conhecimentos adquiridos. Não se esqueçam de enviar material que permita aos demais colegas ter acesso, ainda que indiretamente, aos temas discutidos.

FIQUE POr DENTrO!

Foi assinado acordo de Cooperaçã Técnica entre a Defensoria Pública da União e o Escritório Regional para a Amé-rica do Sul do Instituto Interamericano de Direitos Humanos, com o objetivo de promover o intercâmbio de informações e a cooperação técnico-científica para a ca-pacitação de recursos humanos na área de proteção de direitos humanos.

PrOgrAME-sE!

Em breve, será publicada a 9ª edição da Revista da DPU! A Revista reunirá ar-tigos de diversos temas e trará uma seção destinada a boas práticas!