Bakunin_-_Estatismo_e_Anarquia_-_excertos

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  • 8/2/2019 Bakunin_-_Estatismo_e_Anarquia_-_excertos

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    ESTATISMO E ANARQUIA:EXCERTOSMikhail Bakunin

    PRINCPIOS DO ESTADO

    [...] Assim, de um lado, o Estado, de outro, a revoluo social; estes so os dois plos, cujoantagonismo forma a prpria essncia da vida social atual em todo o continente europeu, masde modo mais tangvel na Frana do que em qualquer outro pas. [...]

    Entre a monarquia e a repblica mais democrtica, s h uma diferena notvel: sob aprimeira, o pessoal burocrtico oprime e explora o povo, em nome do rei, para o maior

    proveito das classes proletrias e privilegiadas, assim como em seu prprio interesse; sob arepblica, ele oprime e explora o povo da mesma maneira, para os mesmos bolsos e asmesmas classes, mas ao contrrio, em nome da vontade do povo. Sob a repblica, apseudonao, o pas legal, por assim dizer, representado pelo Estado, sufoca e continuar asufocar o povo vivo e real. O povo, contudo, no ter a vida mais fcil quando o porrete que oespancar se chamar popular. [...]

    Assim, nenhum Estado, por mais democrticas que sejam as suas formas, mesmo a repblicapoltica mais vermelha, popular apenas no sentido desta mentira conhecida sob o nome derepresentao do povo, est em condies de dar a este o que ele precisa, isto , a livreorganizao de seus prprios interesses, de baixo para cima, sem nenhuma ingerncia, tutela

    ou coero de cima, porque todo Estado, mesmo o mais republicano e mais democrtico,mesmo pseudopopular como o Estado imaginado pelo Sr. Marx, no outra coisa, em suaessncia, seno o governo das massas de cima para baixo, com uma minoria intelectual, e poristo mesmo privilegiada, dizendo compreender melhor os verdadeiros interesses do povo, maisdo que o prprio povo. [...]

    [...] Porque o Estado precisamente sinnimo de coero, domnio pela fora, camuflada, sepossvel, e, se necessrio, brutal e nua. [...]

    Que proveito as massas populares eslavas extrairiam de um grande Estado? Estados destegnero oferecem uma vantagem indubitvel, no para os milhes de proletrios, mas para a

    minoria privilegiada, o clero, a nobreza, a burguesia, isto , a classe culta, a classe que, emnome de sua erudio titulada e de sua pretensa superioridade intelectual, imagina-sedestinada a governar as massas; uma vantagem, digamos, para alguns milhares de opressores,carrascos, e exploradores do proletariado. Para o prprio proletariado, para as massasoperrias miserveis, quanto maior o Estado, mais pesados sero os grilhes e mais sufocantesas prises. [...]

    Assim, hoje, existe, para todos os pases do mundo civilizado, um nico problema universal,

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    um nico ideal: a emancipao total e definitiva do proletariado da explorao econmica e dojugo do Estado. [...]

    ESTADO E EMANCIPAO POPULAR

    [...] A emancipao do proletariado impossvel em qualquer Estado que seja, e a primeiracondio desta emancipao a destruio de todo Estado. Ora, esta destruio s possvelpela ao combinada do proletariado de todos os pases, cuja primeira forma de organizaono terreno econmico precisamente o objetivo da AIT. [...]

    Quanto mais um Estado se amplia, mais seu organismo se torna complexo e, por isso mesmo,estranho ao povo; por conseguinte, mais seus interesses se opem queles das massaspopulares, mais o jugo que mantm sobre elas esmagador, mais o povo fica naimpossibilidade de exercer um controle sobre ele, mais a administrao do pas se afasta dagesto pelo prprio povo. [...]

    Vir o tempo em que no haver mais Estados o Partido Revolucionrio Socialista tende,com todas as suas foras, a destru-los na Europa onde, sobre as runas dos Estados polticos,ser fundada, com toda a liberdade, a aliana livre e fraterna, organizada de baixo para cima,das associaes livres de produo, das comunas e das federaes regionais englobando, semdistino, por serem livres, os indivduos de qualquer lngua e de qualquer nacionalidade; a,ento, o acesso ao mar ser aberto a todos em plena igualdade; aos habitantes do litoral, demodo direto, aos habitantes dos pases distantes do mar, por meio de ferrovias liberadas detoda tutela, de todo imposto, de todas as taxas, regulamentaes, arrelias, proibies,autorizaes e regulamentos governamentais. Contudo, mesmo assim, os habitantes do litoraldisporo ainda de muitas vantagens naturais de ordem material e cultural. O contato diretocom o mercado mundial e, de modo geral, com o movimento universal da vida, desenvolve aomximo; por mais que faais para igualar as relaes, no podereis impedir que os habitantesdo interior, privados dessas vantagens, vivam ou se desenvolvam mais fraca e lentamente doque aqueles que povoam o litoral. [...]

    Assim, todos os governos, e mesmo todos os burgueses, acreditavam que o povo apoiava aburguesia e que bastava que esta se movimentasse ou fizesse um sinal para que todo o povo selevantasse com ela contra o governo. Hoje as coisas so bem diferentes: em todos os pases daEuropa, a burguesia teme, acima de tudo, a revoluo social, e sabe que contra esse perigo,no existe outro refgio seno o Estado; por isso que ela quer e exige sempre o Estado omais forte possvel, ou, simplesmente, a ditadura militar; mas, para realizar suas ambies eenganar com mais facilidade o povo, faz questo que esta ditadura seja revestida das formasda representao nacional, que lhe permitam explorar as massas em nome do prprio povo.[...]

    DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, DITADURA E REVOLUO

    Sobre esta fico da pseudo-representao do povo e sobre o fato bem real do governo dasmassas populares por um punhado de privilegiados eleitos e at mesmo no eleitos, por

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    multides votando sob a coao e ignorando por que votam sobre esta expresso abstrata efictcia do que representado como o pensamento e a vontade populares, dos quais o povoreal e vivo no possui sequer a mnima idia , esto fundadas, em igual medida, a teoria doEstado e a teoria da ditadura denominada revolucionria.

    Entre a ditadura revolucionria e a centralizao estatista, toda a diferena est nas aparncias.No fundo, ambas so apenas uma nica e mesma forma de governo da maioria pela minoria,em nome da suposta estupidez da primeira e da pretensa inteligncia da segunda. por issoque uma e outra so, no mesmo grau, revolucionrias, ambas tendo por efeito consolidar,direta e infalivelmente, os privilgios polticos e econmicos da minoria governante e aescravido econmica e poltica das massas populares.

    V-se agora, com clareza, por que os revolucionrios doutrinrios, cujo objetivo derrubar ospoderes e regimes existentes para fundar, sobre as runas destes, sua prpria ditadura, nuncaforam e jamais sero os inimigos, mas ao contrrio, sempre sero os defensores mais ardentesdo Estado. Eles s so inimigos dos poderes atuais, porque desejam tomar seu lugar; inimigosdas instituies polticas existentes, porque elas tornam impossvel sua ditadura; mas, aomesmo tempo, so os mais calorosos amigos do poder de Estado, sem a manuteno do qual arevoluo, aps ter libertado de fato as massas populares, retiraria desta minoria pseudo-revolucionria toda esperana de atrel-las a um novo jugo e prov-las de benefcios de suasmedidas governamentais. [...]

    Quem quer, no a liberdade, mas o Estado, no deve brincar de revoluo. [...]

    ESTATISMO SEGUNDO LASSALLE E MARX

    Lassalle [...] chegava a esta concluso: para obter uma liberdade real, uma liberdade fundadana igualdade econmica, o proletariado deve se apoderar do Estado e voltar a fora estatistacontra a burguesia em proveito da massa operria, do mesmo modo que hoje esta fora estvoltada contra o proletariado sob o interesse nico da classe exploradora.

    Todavia, como se apoderar do Estado? Para isso, s h dois meios: ou a revoluo poltica oua propaganda legal para uma reforma pacfica do Estado. Lassalle, enquanto alemo, enquantohomem de cincia, enquanto homem rico e de origem judaica, aconselhava o segundo.

    Neste sentido e para este fim ele formou um partido importante, de carter sobretudo poltico,o Partido Operrio Alemo, que ele organizou, hierarquizando-o, submetendo-o a umadisciplina rigorosa e sua ditadura; numa palavra, fez o que nestes trs ltimos anos 1 o sr.Marx quis fazer na Internacional. A tentativa de Marx fracassou, a de Lassalle obteve xito.Como objetivo direto e imediato do partido, Lassalle fixou a agitao pacfica em todo o pas,para conquistar o direito de eleger, em sufrgio universal, os deputados e os poderes pblicos.

    Uma vez conquistado este direito, por meio de uma reforma legal, o povo s dever enviar

    1 Este livro foi escrito em 1873, ano seguinte expulso da corrente federalista da AIT no Congresso de Haia.Bakunin refere-se, portanto, ao processo da AIT que se d desde 1870 e que culminaria na expulso doslibertrios por uma trapaa poltica orquestrada por Marx e outros autoritrios (N.E.).

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    seus representantes ao parlamento, que, por uma srie de decretos e leis, transformar oEstado burgus em Estado popular. O primeiro ato deste Estado ser abrir um crditoilimitado s associaes populares de produo e de consumo, que, apenas neste caso, estaroem condies de se empenharem na luta com o capital burgus e, num curto prazo, venc-lo eabsorv-lo. Realizada esta absoro, comear um perodo de transformao radical da

    sociedade.Este o programa de Lassalle, este tambm o do Partido Operrio Social-Democrata. Paradizer a verdade, este programa no de Lassalle, mas de Marx que o exps do incio ao fimno famoso Manifesto do Partido Comunista, que ele e Engels publicaram em 1848. AMensagem Inaugural da Associao Internacional, redigida por Marx em 1864, tambm fazclara aluso a isso: A conquista do poder poltico tornou-se o primeiro dever da classeoperria, ou, como dito no Manifesto Comunista, a primeira etapa na revoluo operria a constituio do proletariado como classe dominante. O proletariado deve centralizar todos osinstrumentos de produo nas mos do Estado, isto , do proletariado organizado como classedominante.

    No evidente que o programa de Lassalle em nada se distingue daquele de Marx, queLassalle reconhecia como seu mestre? Na brochura dirigida contra Schulze-Delitzsch,Lassalle, com clareza de fato genial, que caracteriza seus escritos, aps ter exposto suasconcepes fundamentais da evoluo poltica e social da sociedade moderna, confessa queestas idias, e at mesmo a terminologia, no so dele, mas do sr. Marx, que as enunciou edesenvolveu pela primeira vez numa obra extraordinria ainda indita.

    O protesto que Marx lanou aps a morte de Lassalle, no Prefcio de O Capital, parece muitoestranho. Marx se queixa amargamente que Lassalle lhe tenha roubado idias. Protesto de fatosingular da parte de um comunista, que prega a propriedade coletiva e no compreende queuma idia, uma vez experimentada, no pertence mais a ningum. [...]

    J exprimimos vrias vezes uma averso muito viva pela teoria de Lassalle e de Marx, querecomenda aos trabalhadores, se no como ideal supremo, pelo menos como objetivoessencial imediato, a fundao de um Estado popular, o qual, como eles prprios explicaram,no seria outra coisa seno o proletariado organizado como classe dominante.

    ESTATISMO E DOMINAO

    Se o proletariado se torna a classe dominante, quem, perguntar-se-, dominar? Significa,portanto, que ainda permanecer uma classe subjugada a essa nova classe dominante, a estenovo Estado, nem que fosse, por exemplo, a plebe do campo, que, como se sabe, no goza dasimpatia dos marxistas e que, situada no mais baixo grau da civilizao, ser dirigida, talvez,pelo proletariado das cidades e das fbricas; ou, ento, se se considera a questo do ponto devista tnico, digamos, para os alemes, a questo dos eslavos, estes se acharo, pela mesmarazo, em relao ao proletariado alemo vitorioso, numa sujeio de escravo idntica queladeste proletariado em relao sua burguesia.

    Quem diz Estado, diz necessariamente dominao e, em conseqncia, escravido; um Estado

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    sem escravido, declarada ou disfarada, inconcebvel; eis por que somos inimigos doEstado.

    O que significa: o proletariado organizado como classe dominante? Significa dizer que esteestar por inteiro na direo dos negcios pblicos? Existem cerca de quarenta milhes de

    alemes. possvel que esses quarenta milhes faam parte do governo, e todo o povogovernando, no haver governados? Neste caso no haver governo, no haver Estado, masse houver um, haver governados, haver escravos.

    Na teoria marxista, este dilema resolvido de modo muito simples. Por governo popular, osmarxistas entendem o governo do povo por meio de um pequeno nmero de representanteseleitos pelo povo no sufrgio universal. A eleio, pelo conjunto da nao, dos representantespretensamente do povo, e dos dirigentes do Estado o que a ltima palavra dos marxistas,bem como da escola democrata uma mentira que esconde o despotismo da minoriadirigente, mentira ainda mais perigosa por ser apresentada como a expresso da pretensavontade do povo.

    Assim, sob qualquer ngulo que se esteja situado para considerar esta questo, chega-se aomesmo resultado execrvel: o governo da imensa maioria das massas populares se faz poruma minoria privilegiada. Esta minoria, porm, dizem os marxistas, compor-se- de operrios.Sim, com certeza, de antigos operrios, mas que, to logo se tornem governantes ourepresentantes do povo, cessaro de ser operrios e pr-se-o a observar o mundo proletrio decima do Estado; no mais representaro o povo, mas a si mesmos e suas pretenses degovern-lo. Quem duvida disso no conhece a natureza humana. [...]

    [...] O pseudo-Estado popular nada mais ser do que o governo desptico das massasproletrias por uma nova e muito restrita aristocracia de verdadeiros ou pretensos doutos. Notendo o povo a cincia, ele ser de todo libertado das preocupaes governamentais eintegrado por inteiro no rebanho dos governados. Bela libertao!

    Os marxistas do-se conta desta contradio e, ainda que admitindo que a direogovernamental dos doutos, a mais pesada, a mais vexatria e a mais desprezvel que possaexistir, ser, quaisquer que possam ser as formas democrticas, uma verdadeira ditadura,consolam-se com a idia de que esta ditadura ser temporria e de curta durao. Elessustentam que sua nica preocupao e seu nico objetivo ser dar instruo ao povo, elev-lo, tanto econmica quanto politicamente, a um tal nvel que todo governo no tardar a setornar intil; e o Estado, aps ter perdido seu carter poltico, isto , autoritrio, transformar-se- por si mesmo em organizao de todo livre dos interesses econmicos e das comunas.

    Eis a uma flagrante contradio. Se seu Estado de fato um Estado popular, por que motivosdever-se-ia suprimi-lo? E se, por outro lado, sua supresso necessria para a emancipaoreal do povo, como se poderia qualific-lo de Estado popular? Ao polemizar com eles, ns oslevamos a reconhecer que a liberdade, ou a anarquia, isto , a livre organizao das massasoperrias, de baixo para cima, o ltimo objetivo da evoluo social, e que todo Estado,inclusive seu Estado popular, um jugo, o que significa que, por um lado, engendra odespotismo e, por outro, a escravido.

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    Segundo eles, este jugo estatista, esta ditadura uma fase de transio necessria para chegar emancipao total do povo: sendo a anarquia ou a liberdade, o objetivo, e o meio, O Estadoou a ditadura. Assim, portanto, para libertar as massas populares, dever-se-ia comear porsubjug-las.

    No momento, nossa polmica parou nesta contradio. Os marxistas sustentam que s aditadura, evidentemente a deles, pode criar a liberdade do povo; a isso respondemos quenenhuma ditadura pode ter outro objetivo seno o de durar o mximo de tempo possvel e queela capaz apenas de engendrar a escravido no povo que a sofre e educar este ltimo nestaescravido; a liberdade s pode ser criada pela liberdade, isto , pela insurreio de todo opovo e pela livre organizao das massas trabalhadoras de baixo para cima. [...]

    MEIOS E FINS

    Enquanto a teoria poltico-social dos socialistas antiautoritrios ou anarquistas os conduz demodo infalvel a uma ruptura completa com todos os governos, com todas as formas depoltica burguesa, e no lhe deixa outra sada seno a revoluo social, a teoria adversa, ateoria dos comunistas autoritrios e do autoritarismo cientfico, atrai e imobiliza seuspartidrios, a pretexto de ttica, em compromissos incessantes com os governos e os diferentespartidos polticos burgueses, quer dizer, leva-os direto ao campo da reao. [...]

    Ponto capital deste programa: a emancipao (pretensa) do proletariado pelo nico meio doEstado. Todavia, para isso, preciso que o Estado aceite tornar-se o emancipador doproletariado, livrando-se do jugo do capital burgus. Como, portanto, inculcar esta vontade noEstado? Para isso s podem existir dois meios: o proletariado faz a revoluo para se apoderardo Estado meio herico. Depois de ter se apoderado do Estado, ele deveria, segundo nossaopinio, destru-lo de imediato, enquanto eterna priso das massas proletrias; ora, segundo ateoria do sr. Marx, o povo, no s no deve destruir o Estado, mas deve, ao contrrio, refor-lo, torn-lo ainda mais poderoso, sob esta forma, coloc-lo disposio de seus benfeitores,tutores e educadores, os chefes do Partido Comunista, numa palavra, disposio do sr. Marxe de seus amigos, que logo comearo libert-lo sua maneira. Eles controlaro as rdeas dogoverno, visto que o povo ignorante precisa de uma boa tutela, criaro um Banco do Estadonico, que concentrar em suas mos a totalidade do comrcio, da indstria, da agricultura eat mesmo da produo cientfica, enquanto a massa do povo ser dividida em dois exrcitos:o exrcito industrial e o exrcito agrcola, sob o comando direto dos engenheiros do Estado,que formaro uma nova casta poltico-cientfica privilegiada. [...]

    Os democratas mais fervorosos e mais vermelhos foram, ainda so e permanecero, sob esteaspecto, burgueses, e bastar sempre uma afirmao sria, no s por palavras, dereivindicao ou instintos socialistas por parte do povo, para que eles se lancem de imediatono campo da reao mais negra e mais insensata. [...]

    REVOLUO POLTICA E REVOLUO SOCIAL

    Este programa [programa de Marx rejeitado no Congresso de Genebra de 1866] se tornou o do

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    Partido Operrio Social-Democrata. Retomando alguns dos principais artigos do programa daInternacional aceito pelo Congresso de Genebra, ele bifurca bruscamente e recomenda aosoperrios alemes a conquista do poder poltico como um objetivo prximo e imediato donovo partido, recomendao completada pela seguinte frase significativa: A conquista dosdireitos polticos (sufrgio universal, liberdade de imprensa, liberdade de associao e de

    reunio, etc.) a condio prvia da libertao econmica dos trabalhadores.Isto quer dizer que, antes de empreender a revoluo social, os trabalhadores devem fazer arevoluo poltica; ou, ento, o que responde melhor ao temperamento alemo, conquistar, ou,mesmo, o que ainda mais simples, obter o direito poltico por uma ao pacfica depropaganda. E como todo movimento poltico, que antecipa o movimento social, ou, que dno mesmo, que se situa fora dele, no pode ser outra coisa seno um movimento burgus, oprograma do Partido Operrio Social-Democrata recomenda aos trabalhadores alemesdesposarem, antes de mais nada, os interesses e os objetivos da burguesia radical, que, emseguida, por gratido, no libertar o povo, mas o subjugar a um novo poder, a uma novaexplorao. [...]

    [...] Os aliancistas2 propuseram, Liga da Paz e da Liberdade, reconhecer como objetivoprincipal de todas as suas aspiraes: a igualdade dos indivduos (no s no plano polticoou jurdico, mas antes de mais nada, no plano econmico) e das classes (visando suacompleta abolio). [...]

    Estamos persuadidos, e toda a Histria Moderna o confirma, que enquanto a humanidadeestiver dividida entre uma minoria de exploradores e uma maioria de explorados, a liberdadeser inconcebvel e permanecer uma mentira. Se desejais a liberdade para todos, soisobrigados a querer conosco a igualdade universal. Vs a desejais ou no? [...]

    Sobre a bandeira pangermnica est inscrito: manuteno e reforo do Estado a qualquerpreo; sobre a bandeira da revoluo social, nossa bandeira, est gravado, ao contrrio, emletras de fogo e sangue: destruio de todos os Estados, abolio da civilizao burguesa,organizao espontnea de baixo para cima, por meio de alianas livres, organizao da plebeoperria revoltada e de toda a humanidade liberta e fundao de uma nova sociedade humana.

    Seleo e edio: Felipe CorraTraduo: Plnio A. Colho

    2 Membros da Aliana da Democracia Socialista, grupo poltico anarquista de Bakunin (N.E.).