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13 12 Diário da Manhã POLÍTICA & JUSTIÇA POLÍTICA & JUSTIÇA GOIÂNIA, QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2015 GOIÂNIA, QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2015 Diário da Manhã ODOS os poderes na Terra estão governados pela corrupção. Que há corrupções demais no mundo, há. Que tem corruptos demais no Brasil, tem. Que Goiás está corrompido demais, está. Que os enriquecimentos ilícitos são notórios demais, são. Que a impunidade das corruptelas é abusiva demais, é. Que o povo já sabe quais são as autoridades corruptoras e as corrompidas em toda parte, já. Se não houver a reforma moral dos políticos antes, com a aprovação das re- formas políticas em discussão no Con- gresso Nacional, os caixas de campanha ficarão mais rentáveis para seus usufrui- dores e mais onerosos para os pagado- res de impostos do que dantes. E a cor- rupção eleitoral terá sido apenas remo- delada na vida pública. Os repasses in- diretos do dinheiro público embutido nos superfaturamentos das empreitei- ras nas construções de obras públicas, serão remanejados diretos para os pa- gamentos nos guichês dos cofres públi- cos. Estaria consumada, pois, a legaliza- ção do propinato obrigatório no licen- cioso ao empresariado, evoluindo-se para o extorquinato oficializado no as- sedioso aos recursos estatais. Basta de remendos na austeridade com trapos da improbidade impudente na desfaça- tez astuciosa nos moralistas. O S honestos são exceções contadas na política brasileira. Os líderes es- tão atados uns aos outros na ima- gem esculturada na falta de credibilida- de, ou no merecido ou no injusto, no consenso da desconfiança popular, e suspeitos no generalizado das anuên- cias do iníquo, ou como participativos ou como omissos, nas roleiras que en- vergonham o Brasil nas corrupções ex- plícitas no oculto de fortunas que sa- quearam a pátria e excluíram o povo do crescimento econômico do País para a qualidade de vida nas misérias sociais. Mas o povo está vindo, imparável, por aí. Veio, amotinado, nas manifes- tações em 19 de julho de 2013. Conti- nuou a vir, incomandável, nos protes- tos em 15 de março de 2015. Virá, in- contível, na marcha contra a corrup- ção em 12 de abril. E chegará, irrecuá- vel, quando não se sabe e menos se espera, para dar o ultimato à retirada dos corruptos no poder. Crise econômica em nação é sinal de corrupção no governo. E passeatas de multidões no país é aviso de que muitos demoraram em demasia no poder. Foi assim na Marcha da Família com Deus pela Liberdade que encheu as ruas do Brasil na deposição do presidente João Goulart. Não foi diferente nas Diretas-Já que encheram as praças públicas do Pa- ís na derrubada da ditadura militar. Foi igual nos movimentos dos Caras Pinta- das que encheram a Praça dos Três Po- deres no impeachment do Fernando Collor. Estão do mesmo jeito as mani- festações que enchem as capitais da Na- ção de protestos contra a corrupção no governo da presidente Dilma Rousseff. A história se repete também nas causas, que são a corrupção nas reces- sões econômicas, e nos efeitos, que são os golpes de estado faceados de idealis- mo no oportunismo. Os movimentos populares surgem espontâneos e legíti- mos nas categorias trabalhadoras, mas são infiltrados por focos de agitação custeados por castas descontentes das facções políticas, as governistas contrá- rias, as oposicionistas favoráveis, a de- posição do presidente da República eleito pelo povo. Aconteceu na conspi- ração armada que derrubou João Gou- lart. Repetiu-se no complô das arma- ções do impeachment que depôs Fer- nando Collor. Ocorre na trama esboça- da no Congresso Nacional para cassar o mandato de Dilma Rousseff. G OLPE de estado e corrupção são hereditários na política brasileira. Mascarou-se na Proclamação da República pela insurreição militarista que exilou o estadista Pedro II. Aquar- telou-se no civismo moralista que em- purrou o revolucionário Getúlio Vargas para o suicídio no Palácio do Catete após sua esmagadora vitória em uma eleição livre. Fantasiou-se no bruxismo da vassoura que varreria a corrupção na tentativa golpista da renúncia de Jâ- nio Quadros. Maquiou-se de patriotis- mo ao fardar-se para impedir a posse de Juscelino Kubitschek e para depô-lo das vezes do governo. As corrupções nos Três Poderes nunca foram mais, nem jamais ficaram menos do que es- tão agora. Não estiveram maiores no Adhemar de Barros que no Paulo Ma- luf em São Paulo, ou se tornaram me- nores que nas à vista nos governos dos líderes civis na reabertura democrática que nas ocultadas nos governos dos lí- deres generais na ditadura militar. A vida pública mazelou-se estável nas impudicícias fartas nas altezas do poder transmissor das ilicitudes pro- criadoras da criminalidade à solta nas cidades e nos campos. O enriqueci- mento dos abastados nos cofres ofici- ais e o empobrecimento dos carecidos na fome estão na mesma proporção do aumento roubado nos gabinetes dos governos e dos marginais assal- tando a população nas vias públicas. A hegemonia consentida entre o varejo e o atacado na criminalidade está into- lerável e evidencia a urgência de ser instituído o combate parceiro de poli- ciais da PM e SSP nas ninharias nos lo- gradores públicos e agentes da Receita Federal nas fortunas dos administra- dores dos recursos públicos. Está visibilíssima a correlação paten- teada no buraco das dívidas públicas com a exteriorização de riquezas nos gestores dos recursos públicos, e até pal- pável na subsequência de escândalos memoráveis, uma tradição característica na identidade sucessiva nos governos, que é a de que nos Planos de Metas os desmandos são a prioridade nas obras. Afigura-se a corporatura do vulto de uma Corrupção S/A, com matriz mun- dial, filiais sediadas nas nações, fran- quias operando nas teologias comer- cializadas nas religiões, consórcios ins- talados nas ideologias mercadejadas na política, sócios majoritários rema- nejáveis nas cúpulas do poder, depar- tamentos de pesquisa de honras ven- dáveis, agências de marketing para vi- giar a imprensa, núcleos de espiona- gem prévia dos preços nas propostas dos concorrentes nas licitações, conse- lhos de diretoria para definir o crediá- rio dos dividendos na distribuição de rendas nas propinas, guarda-costas pa- ra as queimas de arquivos nas execu- ções de delatores das extorsões. A corrupção é muitas corrupções na família dela. É astuta nas expe- rientes e inábil nas iniciantes. Houve sempre corrupção em excesso nos governos. Agora há exagero de bur- ros de governos da corrupção. O estar- dalhaço atual é briga na toca dos políti- cos corruptos. Como no mundo das drogas os chefes do narcotráfico se ata- cam quando um deles invade o ponto de distribuição de outro, os líderes po- líticos se acusam recíprocos quando al- guns deles são flagrados como recepta- dores da corrupção nos meios do po- der cúmplice no privado e no estatal. Rolando de falcatruas em falcatruas nas comezias de vilipêndios, indiferen- tes às coerções na consciência os cor- ruptos empertigados perderam o char- me do recato, despiram-se das vestes da vergonha nos bacanais da honra em lei- lão, travestiram-se de vez dos pudores nas devassidões do caráter em aluguel e atendem a freguesia nas alcovas da cor- rupção. Estão a nu nas migalhas do sem proveito. Até de graça o desempenho da valia deles seria oneroso nos cargos que ocupam, por ocupação e não por ofício, e onde a reluzência de sua importância evoca a semelhança de joias no refinado das bijuterias nas vitrines chiques. A corrupção imperou solene, conce- lebrada por todos os regimes políticos, parceirada pelas hostes da direita e da esquerda no duo do capitalismo, para- mentada nas elites pelos afortunados nos esbulhos e pelas plebes pelos con- formados nas sobras, reverenciada no fato econômico pelo fato social, pelo fa- to religioso, pelo fato político, pelo fato científico, e tem sido assim, de fato, tri- unfal a corrupção do materialismo no duradouro de séculos afora nos tempos. A vida toma de volta o que lhe é ti- rado indevido. O acervo ajunta- do do alheio para a posse nas herdades do enojoso, o dono herdará o mal nas dores das feridas abertas nos bens de outro. Aquele de patrimô- nio reunido no ilícito e usufruído no injusto deve devolvê-lo espontanea- mente à origem de onde fora subtraí- do, antes que irá fazê-lo à força das desgraças nas tragédias vindas nas doenças expiatórias o resto da vida e vagarosas na morte, chegadas nas fa- talidades arrasadoras do que era mais querido que os ganhos, será mais doí- do nas perdas para o sobrevivente do que tudo nas coisas salvas. Observem no rastro das atuais mu- danças os pisados do épico na avalan- che das transformações surpreenden- tes em toda a Terra. Antes não aconte- ceu nada igual nos ciclos da era cristã. Agora é a definitiva reforma moral da Humanidade, que irá ficando cada vez mais conclusiva até o desfecho da purificação espiritual da raça huma- na. Escoa-se o prazo de regeneração para os velhacos. Os que não se redi- mirem de suas desonras a tempo irão nascer em um planeta primitivo. A hora de se fazer mudança interior é já. A temporada de esbulhar fechou as regalias da impunidade. Os domí- nios de todo ladravaz estão caindo aos pedaços, irão ruindo total nos mon- tões da improbidade até ao desaba- mento completo do derradeiro reduto dos sovinas. Os corruptos perceberam o fim que os espera. Apenas espernei- am-se, coercitivos uns com os outros, aos estrebuchos e no salve-se quem puder, ainda que na bandidagem da delação premiada, que suja o ingrato na traição e que suja a Polícia Federal, que suja o Ministério Público, que su- jou a Justiça na adoção do clandestino que sujou Joaquim Silvério dos Reis na Inconfidência Mineira para História do Brasil. E que sujou igualmente to- dos os delatores do mundo, tantos de culpados e não menos de inocentes. A julgar pe- lo que está no falado e no escutado, no visto e no assistido, no sabido e no testemunha- do, a corrup- ção revelada pela PF é um lambari em rela- ção à baleia da cor- rupção escondi- da nos go- vernos. O PIB do Brasil é menor que o PIB da corrup- ção. As se- mentes vie- ram das Capi- tanias Hereditá- rias, nasceram no império de Pedro I, en- raizaram-se nas democra- cias e nas ditaduras da repúbli- ca, frutificaram em todos os go- vernos e são cultivadas nos Três Po- deres do Brasil. Fez bandidos com le- genda de heróis e faz heróis com fama de bandidos. É eclética: frequenta todos os partidos políticos. E tem o dom da ubiquidade: está ao mesmo tempo em vários lugares no dinheiro público. O Brasil precisava ser passado a limpo na corrupção oficial há décadas já caducas no tempo. A corrupção crô- nica ficou aguda. Urge a utilização de vassouradas duras em todos os cantos de administração pública no País in- teiro. Com vassouras novas e resisten- tes, e não como agora, com as vassou- ras rotas e falhas. As fibras do feixe es- tão molambadas, umas arrebentadas nas pontas, outras maçarocadas ao meio, todas comprometidas pelos ma- nuseios inadequados e deixando nos asseios fiapos do cisco acumulado ne- las. Essas vassouras são as velhas leis atuais. Ficaram desgastadas pelos usos indevidos no tráfico de influência nos subterfúgios das impunidades. Estão estéreis. Na teoria, os Três Poderes são independentes e harmônicos entre si na Constituição Federal. Na prática, o Judiciário e o Legislativo são interde- pendentes do Executivo e desarmôni- cos entre si nos Três Poderes. Assim é e assim será triunfante a corrupção enquanto for restrita aos to- pos do poder a decisão final das ações feitas embaixo pelos órgãos como o Ministério Público e a Polícia Federal, o que é próprio das republiquetas. A retumbância dos escândalos dos go- vernos faz o programa de combate à corrupção o que fazem os foguetórios das comemorações nas inaugurações de obras públicas inacabadas. Ora pois. Se atuando em separado nas im- probidades os políticos corruptos pa- ravam os governos no Brasil, a caçada da Polícia Federal e do Ministério Pú- blico a eles uniu-os e pararam o Brasil no governo da presidente Dilma. O povo brasileiro está plateia num festival de denuncismo. É o show dos cantos de sereias que vai ao palco político sempre que os líderes precisam dar o circo para ficarem com o pão nos grandes espetáculos da corrup- ção. Os corais e as orquestrações são en- saiados com antecedência, onde a mú- sica mais ovacionada é escolhida entre as mais aplaudidas. Quando as corti- nas são abertas nas temporadas dos festivais do denuncismo, a atração a ser apre- sentada já recebeu arranjos com o tom gos- pel ao compasso de rock no ritmo do canto de sereias. O primeiro festival do de- nuncismo co- meçou a ser batucado pe- los senhores de engenho na abolição da es- cravatura ne- gra, em 13 de maio de 1888, e assumiu o tom de hino na Proclama- ção da República, em 15 de setembro de 1889, nas fanfarras da marcha do golpe na derrubada do Império. A reprise do festival do denuncis- mo começou cantarolando samba na eleição de Getúlio Vargas, em 15 de no- vembro de 1950, virou charanga na banda da UDN tocada pelo jornalista Carlos Lacerda, do Tribuna da Impren- sa, afinada contra a criação do Última Hora, de Samuel Wainer, e terminou em música fúnebre no choro das mul- tidões, em 24 de agosto de 1954, no golpe que entoou o suicídio de Vargas. O festival do denuncismo da vez está sendo esboçado pelos marajás do Congresso Nacional com o cartaz reto- cado no cenário e na cantoria do im- peachment de Fernando Collor, em 29 de dezembro de 1992, para levar a pre- sidente Dilma Rousseff às cinzas no fogo da corrupção acesa com a lenha dos antecessores e com a fumaça en- cobrindo deputados e senadores, pois, em verdade, o seu impeachment ini- ciou, em julho de 2011, a fumegar quando ela começou a demitir minis- tros envolvidos em corrupção e apa- gou-se quando líderes petistas e dos partidos aliados passaram a ser presos e suas bancadas no Congresso Nacio- nal ameaçaram retirar o apoio do se- gundo governo de Dilma, se ela não parasse o combate à corrupção, e a presidente parou, pois viu-se diante de uma insinuação velada da iminência de acontecer o seu impeachment. A corrupção nos governos do Brasil sempre existiu além do imaginá- vel. É inumerável no monarquis- mo, no getulismo, no janguismo, no jus- celinismo, no janismo, no militarismo, no sarneysismo, no collorismo, no fhcis- mo, no lulismo e apenas veio à mostra no dilmismo. Os festivais do denuncis- mo são coros dos cantos de sereias nas mudanças de corruptos na corrupção. E marcaram as personagens desses episó- dios históricos com a Lei de Causa e Efeito no estigma de que todo julgador terá o seu dia de julgado como julgou. A corrupção não mancha tão so- mente o ambiente político nos círcu- los da vida pública, mas enodoa tam- bém os meios empresariais e macula, à larga, os redutos do povo. Está notó- ria em denunciados e denunciantes. É patente a inocência em condenados e a culpa em inocentados. Não há como negar, com honestidade, que a alonga- da impunidade foi lucrativa para os corruptos, nem como contestar, com lucidez, que o demorado combate à corrupção está dando prejuízos para o País. Enormes, e talvez maiores nas despesas que nos ganhos com a recu- peração dos bilhões de reais roubados do povo por políticos no Brasil. Cor- rupção virou o assunto preferido no momento. Essa festa oficial da morali- zação vai acabar. E teremos de pagar as contas da corrupção, e não eles. Urge, urgentíssimo, mudar essa mentalidade da ideia fixa de procurar- mos erros no passado para a conscienti- zação de buscarmos nos acertos do pre- sente os exemplos para o futuro. E rápi- do, antes que entremos na fase de pas- sarmos a fazer escavações no tempo do Brasil Império atrás de corrupção. Mostremos nossas virtudes ao invés de defeitos nos outros. Enquanto não for revista a estrutura em que se fun- damentam os Três Poderes no Brasil, inclusive a Constituição Federal, que é parlamentarista no regime presidenci- alista, não há como alterar a nomen- clatura do conjunto instituído das per- missividades legais e que facultam os ocupantes de cargos públicos gozarem de privilégios particulares. O Brasil possui potencial de riquezas naturais para vir a ser o celeiro do mundo já nos próximos anos. Basta erradicar a pobreza mental na maioria dos dirigentes públicos, para se ter condi- ções de implantar a refor- ma de base no gigantismo da infraestrutura dos or- ganismos governa- mentais. Se não for di- minuído o tamanho da administração no gover- no, não há como se dimi- nuir o tamanho dos impos- tos; se não for diminuído o ta- manho da carga conflitante nos tributos, não há como se diminuir o tamanho licencioso da sonegação; se não for diminuído o tamanho da libertinagem das renúncias fiscais na arrecadação, não há como se diminu- ir o tamanho do ilícito na fortuna de políticos, porque é no tamanho das safras dos impostos que está o ta- manho das colheitas da corrupção. Os brasileiros estão reféns da corrupção ativa e passiva. Nos pa- trões e nos operários. Nas igrejas de diversas religiões e nos líderes dos vá- rios partidos. E, sobretudo, nos chefes dos poderes públicos, onde os despro- vidos de conhecimento específico para as funções que exercem cometem fa- lhas proveitosas para as engenhosida- des da corrupção. Essa é a causa costu- meira nos equívocos praticados nas in- gerências do amadorismo nas provi- dências inerentes ao profissionalismo na gestão dos órgãos públicos no País, nos estados e nos municípios. Essa incongruência suscita indaga- ções e dúvidas na opinião pública quando à veracidade integral nas práti- cas dos atos oficiais. As operações da Polícia Federal são inquestionáveis co- mo contribuição corajosa e valiosa para a reforma moral no Brasil. Mas fica uma perquirição no suspeito das curio- sidades. A série de escândalos da Petrobras apurou uma apropriação in- débita de dois bilhões e cem milhões de reais, enquanto que em um es- cândalo só, do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fis- cais, da Receita Federal), foi con- tabilizada uma apropriação indevida de dezenove bilhões de reais. A causa do ceticismo originou-se no noticiário de que duas das chamadas de as sete irmãs do petróleo, as norte-americanas Chevron e ExxonMobil, associaram-se no interesse de adquirirem a Petrobras após a descoberta da camada pré-sal em nossos mares e, lógico, o abalo in- ternacional da credibilidade da maior empresa estatal do Brasil atinge o seu valor comercial no preço de mercado. Não é descartável a possibilidade de as duas multinacionais terem agido sub-repticiamente nos escândalos da Petrobras, que são verdadeiros, para to- má-la dos brasileiros. Pode ser. Afinal, os patriotas têm traumas psicológicos em relação a petróleo, não apenas porque os preços dos combustíveis são mais caros para nós que para os consumi- dores dos países que importam petró- leo da Petrobras, mas, sim, por razões históricas. Monteiro Lobato escreveu a crônica O escândalo do petróleo e ficou preso de março a junho em 1941, por ordem do presidente Getúlio Vargas na ditadura do Estado Novo e, solto, foi fa- zer prospecção de petróleo na divisa de Mato Grosso com a Bolívia. O escritor Gondim da Fonseca, autor dos livros O petróleo é nosso e Que sabe você sobre o petróleo? , foi perseguido em 1953 pelo presidente eleito Getúlio Vargas. O impacto positivo das operações da Polícia Federal de combate à corrupção é o momento apro- priado para a população cobrar um pacto nacional de honestidade dos lí- deres políticos e empresariais do Bra- sil. Ainda que se chegue ao absurdo de uma anistia para os crimes de corrup- ção, com a publicação no Diário Ofici- al da União da lista completa dos no- mes de todos eles e a aplicação da Lei Complementar 135/2010, da Ficha Limpa, proibindo-os de ocuparem cargos públicos enquanto viverem. Se não for tomada uma atitude drás- tica e definitiva contra os corruptos, o povo brasileiro pode permanecer espe- rançoso em relação ao desfecho final do combate oficial à corrupção, e até ficar alegre nesse festival do denuncismo. A minha vontade é de chorar. BATISTA CUSTÓDIO DA HISTÓRIA T ÀS SOMBRAS

Batista Custodio - As sombras da historia - Editorial

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Artigo editorial de Batista Custódio vasculha história brasileira e propõe saída para o fim da corrupção

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Page 1: Batista Custodio - As sombras da historia - Editorial

1312 Diário da ManhãPOLÍTICA & JUSTIÇA POLÍTICA & JUSTIÇAGOIÂNIA, QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2015 GOIÂNIA, QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2015Diário da Manhã

ODOS os poderes na Terraestão governadospela corrupção.

Que há corrupçõesdemais no mundo, há.

Que tem corruptosdemais no Brasil, tem.

Que Goiás estácorrompido demais, está.

Que os enriquecimentos ilícitossão notórios demais, são.

Que a impunidade das corruptelasé abusiva demais, é.

Que o povo já sabe quais são asautoridades corruptoras e ascorrompidas em toda parte, já.

Se não houver a reforma moral dospolíticos antes, com a aprovação das re-formas políticas em discussão no Con-gresso Nacional, os caixas de campanhaficarão mais rentáveis para seus usufrui-dores e mais onerosos para os pagado-res de impostos do que dantes. E a cor-rupção eleitoral terá sido apenas remo-delada na vida pública. Os repasses in-diretos do dinheiro público embutidonos superfaturamentos das empreitei-ras nas construções de obras públicas,serão remanejados diretos para os pa-gamentos nos guichês dos cofres públi-cos. Estaria consumada, pois, a legaliza-ção do propinato obrigatório no licen-cioso ao empresariado, evoluindo-separa o extorquinato oficializado no as-sedioso aos recursos estatais. Basta deremendos na austeridade com traposda improbidade impudente na desfaça-tez astuciosa nos moralistas.

OS honestos são exceções contadasna política brasileira. Os líderes es-tão atados uns aos outros na ima-

gem esculturada na falta de credibilida-de, ou no merecido ou no injusto, noconsenso da desconfiança popular, esuspeitos no generalizado das anuên-cias do iníquo, ou como participativosou como omissos, nas roleiras que en-vergonham o Brasil nas corrupções ex-plícitas no oculto de fortunas que sa-quearam a pátria e excluíram o povo docrescimento econômico do País para aqualidade de vida nas misérias sociais.

Mas o povo está vindo, imparável,por aí. Veio, amotinado, nas manifes-tações em 19 de julho de 2013. Conti-nuou a vir, incomandável, nos protes-tos em 15 de março de 2015. Virá, in-contível, na marcha contra a corrup-ção em 12 de abril. E chegará, irrecuá-vel, quando não se sabe e menos seespera, para dar o ultimato à retiradados corruptos no poder.

Crise econômica em nação é sinal decorrupção no governo. E passeatas demultidões no país é aviso de que muitosdemoraram em demasia no poder. Foiassim na Marcha da Família com Deuspela Liberdade que encheu as ruas doBrasil na deposição do presidente JoãoGoulart. Não foi diferente nas Diretas-Jáque encheram as praças públicas do Pa-ís na derrubada da ditadura militar. Foiigual nos movimentos dos Caras Pinta-das que encheram a Praça dos Três Po-deres no impeachment do FernandoCollor. Estão do mesmo jeito as mani-festações que enchem as capitais da Na-ção de protestos contra a corrupção nogoverno da presidente Dilma Rousseff.

A história se repete também nascausas, que são a corrupção nas reces-sões econômicas, e nos efeitos, que sãoos golpes de estado faceados de idealis-mo no oportunismo. Os movimentospopulares surgem espontâneos e legíti-mos nas categorias trabalhadoras, massão infiltrados por focos de agitaçãocusteados por castas descontentes das

facções políticas, as governistas contrá-rias, as oposicionistas favoráveis, a de-posição do presidente da Repúblicaeleito pelo povo. Aconteceu na conspi-ração armada que derrubou João Gou-lart. Repetiu-se no complô das arma-ções do impeachment que depôs Fer-nando Collor. Ocorre na trama esboça-da no Congresso Nacional para cassar omandato de Dilma Rousseff.

GOLPE de estado e corrupção sãohereditários na política brasileira.Mascarou-se na Proclamação da

República pela insurreição militaristaque exilou o estadista Pedro II. Aquar-telou-se no civismo moralista que em-purrou o revolucionário Getúlio Vargaspara o suicídio no Palácio do Cateteapós sua esmagadora vitória em umaeleição livre. Fantasiou-se no bruxismoda vassoura que varreria a corrupçãona tentativa golpista da renúncia de Jâ-nio Quadros. Maquiou-se de patriotis-mo ao fardar-se para impedir a possede Juscelino Kubitschek e para depô-lodas vezes do governo. As corrupçõesnos Três Poderes nunca foram mais,nem jamais ficaram menos do que es-tão agora. Não estiveram maiores noAdhemar de Barros que no Paulo Ma-luf em São Paulo, ou se tornaram me-nores que nas à vista nos governos doslíderes civis na reabertura democráticaque nas ocultadas nos governos dos lí-deres generais na ditadura militar.

A vida pública mazelou-se estávelnas impudicícias fartas nas altezas dopoder transmissor das ilicitudes pro-criadoras da criminalidade à solta nascidades e nos campos. O enriqueci-mento dos abastados nos cofres ofici-ais e o empobrecimento dos carecidosna fome estão na mesma proporçãodo aumento roubado nos gabinetesdos governos e dos marginais assal-tando a população nas vias públicas. Ahegemonia consentida entre o varejo eo atacado na criminalidade está into-lerável e evidencia a urgência de serinstituído o combate parceiro de poli-ciais da PM e SSP nas ninharias nos lo-gradores públicos e agentes da ReceitaFederal nas fortunas dos administra-dores dos recursos públicos.

Está visibilíssima a correlação paten-teada no buraco das dívidas públicascom a exteriorização de riquezas nosgestores dos recursos públicos, e até pal-pável na subsequência de escândalosmemoráveis, uma tradição característicana identidade sucessiva nos governos,que é a de que nos Planos de Metas osdesmandos são a prioridade nas obras.

Afigura-se a corporatura do vulto deuma Corrupção S/A, com matriz mun-dial, filiais sediadas nas nações, fran-quias operando nas teologias comer-cializadas nas religiões, consórcios ins-talados nas ideologias mercadejadasna política, sócios majoritários rema-nejáveis nas cúpulas do poder, depar-tamentos de pesquisa de honras ven-dáveis, agências de marketing para vi-giar a imprensa, núcleos de espiona-gem prévia dos preços nas propostasdos concorrentes nas licitações, conse-lhos de diretoria para definir o crediá-rio dos dividendos na distribuição derendas nas propinas, guarda-costas pa-ra as queimas de arquivos nas execu-ções de delatores das extorsões.

A corrupção é muitas corrupçõesna família dela. É astuta nas expe-rientes e inábil nas iniciantes.

Houve sempre corrupção em excessonos governos. Agora há exagero de bur-ros de governos da corrupção. O estar-

dalhaço atual é briga na toca dos políti-cos corruptos. Como no mundo dasdrogas os chefes do narcotráfico se ata-cam quando um deles invade o pontode distribuição de outro, os líderes po-líticos se acusam recíprocos quando al-guns deles são flagrados como recepta-dores da corrupção nos meios do po-der cúmplice no privado e no estatal.

Rolando de falcatruas em falcatruasnas comezias de vilipêndios, indiferen-tes às coerções na consciência os cor-ruptos empertigados perderam o char-me do recato, despiram-se das vestes davergonha nos bacanais da honra em lei-lão, travestiram-se de vez dos pudoresnas devassidões do caráter em aluguel eatendem a freguesia nas alcovas da cor-rupção. Estão a nu nas migalhas do semproveito. Até de graça o desempenho davalia deles seria oneroso nos cargos queocupam, por ocupação e não por ofício,e onde a reluzência de sua importânciaevoca a semelhança de joias no refinadodas bijuterias nas vitrines chiques.

A corrupção imperou solene, conce-lebrada por todos os regimes políticos,parceirada pelas hostes da direita e daesquerda no duo do capitalismo, para-mentada nas elites pelos afortunadosnos esbulhos e pelas plebes pelos con-formados nas sobras, reverenciada nofato econômico pelo fato social, pelo fa-to religioso, pelo fato político, pelo fatocientífico, e tem sido assim, de fato, tri-unfal a corrupção do materialismo noduradouro de séculos afora nos tempos.

A vida toma de volta o que lhe é ti-rado indevido. O acervo ajunta-do do alheio para a posse nas

herdades do enojoso, o dono herdaráo mal nas dores das feridas abertasnos bens de outro. Aquele de patrimô-nio reunido no ilícito e usufruído noinjusto deve devolvê-lo espontanea-mente à origem de onde fora subtraí-do, antes que irá fazê-lo à força dasdesgraças nas tragédias vindas nasdoenças expiatórias o resto da vida evagarosas na morte, chegadas nas fa-talidades arrasadoras do que era maisquerido que os ganhos, será mais doí-do nas perdas para o sobrevivente doque tudo nas coisas salvas.

Observem no rastro das atuais mu-danças os pisados do épico na avalan-che das transformações surpreenden-tes em toda a Terra. Antes não aconte-ceu nada igual nos ciclos da era cristã.Agora é a definitiva reforma moral daHumanidade, que irá ficando cadavez mais conclusiva até o desfecho dapurificação espiritual da raça huma-na. Escoa-se o prazo de regeneraçãopara os velhacos. Os que não se redi-mirem de suas desonras a tempo irãonascer em um planeta primitivo.

A hora de se fazer mudança interioré já. A temporada de esbulhar fechouas regalias da impunidade. Os domí-nios de todo ladravaz estão caindo aospedaços, irão ruindo total nos mon-tões da improbidade até ao desaba-mento completo do derradeiro redutodos sovinas. Os corruptos perceberamo fim que os espera. Apenas espernei-am-se, coercitivos uns com os outros,aos estrebuchos e no salve-se quempuder, ainda que na bandidagem dadelação premiada, que suja o ingratona traição e que suja a Polícia Federal,que suja o Ministério Público, que su-jou a Justiça na adoção do clandestinoque sujou Joaquim Silvério dos Reis naInconfidência Mineira para Históriado Brasil. E que sujou igualmente to-dos os delatores do mundo, tantos deculpados e não menos de inocentes.

A julgar pe-lo queestá no

falado e noescutado, novisto e noassistido, nosabido e notestemunha-do, a corrup-ção reveladapela PF é umlambari em rela-ção à baleia da cor-rupção escondi-da nos go-vernos. OPIB doBrasil ém e n o rque o PIBda corrup-ção. As se-mentes vie-ram das Capi-tanias Hereditá-rias, nasceram noimpério de Pedro I, en-raizaram-se nas democra-cias e nas ditaduras da repúbli-ca, frutificaram em todos os go-vernos e são cultivadas nos Três Po-deres do Brasil. Fez bandidos com le-genda de heróis e faz heróis com famade bandidos. É eclética: frequenta todosos partidos políticos. E tem o dom daubiquidade: está ao mesmo tempo emvários lugares no dinheiro público.

O Brasil precisava ser passado alimpo na corrupção oficial há décadasjá caducas no tempo. A corrupção crô-nica ficou aguda. Urge a utilização devassouradas duras em todos os cantosde administração pública no País in-teiro. Com vassouras novas e resisten-tes, e não como agora, com as vassou-ras rotas e falhas. As fibras do feixe es-tão molambadas, umas arrebentadasnas pontas, outras maçarocadas aomeio, todas comprometidas pelos ma-nuseios inadequados e deixando nosasseios fiapos do cisco acumulado ne-las. Essas vassouras são as velhas leisatuais. Ficaram desgastadas pelos usosindevidos no tráfico de influência nossubterfúgios das impunidades. Estãoestéreis. Na teoria, os Três Poderes sãoindependentes e harmônicos entre sina Constituição Federal. Na prática, oJudiciário e o Legislativo são interde-pendentes do Executivo e desarmôni-cos entre si nos Três Poderes.

Assim é e assim será triunfante acorrupção enquanto for restrita aos to-pos do poder a decisão final das açõesfeitas embaixo pelos órgãos como oMinistério Público e a Polícia Federal,o que é próprio das republiquetas. Aretumbância dos escândalos dos go-vernos faz o programa de combate àcorrupção o que fazem os foguetóriosdas comemorações nas inauguraçõesde obras públicas inacabadas. Orapois. Se atuando em separado nas im-probidades os políticos corruptos pa-ravam os governos no Brasil, a caçadada Polícia Federal e do Ministério Pú-blico a eles uniu-os e pararam o Brasilno governo da presidente Dilma.

O povo brasileiro está plateia numfestival de denuncismo. É o showdos cantos de sereias que vai ao

palco político sempre que os líderesprecisam dar o circo para ficarem com opão nos grandes espetáculos da corrup-ção. Os corais e as orquestrações são en-saiados com antecedência, onde a mú-sica mais ovacionada é escolhida entre

as mais aplaudidas.Quando as corti-nas são abertasnas temporadasdos festivais dodenuncismo, a

atração a ser apre-sentada já recebeu

arranjos com o tom gos-pel ao compasso de

rock no ritmo docanto de sereias.

O primeirofestival do de-nuncismo co-meçou a serbatucado pe-los senhoresde engenho na

abolição da es-cravatura ne-

gra, em 13 demaio de 1888, e

assumiu o tom dehino na Proclama-

ção da República, em15 de setembro de 1889,

nas fanfarras da marcha dogolpe na derrubada do Império.

A reprise do festival do denuncis-mo começou cantarolando samba naeleição de Getúlio Vargas, em 15 de no-vembro de 1950, virou charanga nabanda da UDN tocada pelo jornalistaCarlos Lacerda, do Tribuna da Impren-sa, afinada contra a criação do ÚltimaHora, de Samuel Wainer, e terminouem música fúnebre no choro das mul-tidões, em 24 de agosto de 1954, nogolpe que entoou o suicídio de Vargas.

O festival do denuncismo da vezestá sendo esboçado pelos marajás doCongresso Nacional com o cartaz reto-cado no cenário e na cantoria do im-peachment de Fernando Collor, em 29de dezembro de 1992, para levar a pre-sidente Dilma Rousseff às cinzas nofogo da corrupção acesa com a lenhados antecessores e com a fumaça en-cobrindo deputados e senadores, pois,em verdade, o seu impeachment ini-ciou, em julho de 2011, a fumegarquando ela começou a demitir minis-tros envolvidos em corrupção e apa-gou-se quando líderes petistas e dospartidos aliados passaram a ser presose suas bancadas no Congresso Nacio-nal ameaçaram retirar o apoio do se-gundo governo de Dilma, se ela nãoparasse o combate à corrupção, e apresidente parou, pois viu-se diante deuma insinuação velada da iminênciade acontecer o seu impeachment.

A corrupção nos governos do Brasilsempre existiu além do imaginá-vel. É inumerável no monarquis-

mo, no getulismo, no janguismo, no jus-celinismo, no janismo, no militarismo,no sarneysismo, no collorismo, no fhcis-mo, no lulismo e apenas veio à mostrano dilmismo. Os festivais do denuncis-mo são coros dos cantos de sereias nasmudanças de corruptos na corrupção. Emarcaram as personagens desses episó-dios históricos com a Lei de Causa eEfeito no estigma de que todo julgadorterá o seu dia de julgado como julgou.

A corrupção não mancha tão so-mente o ambiente político nos círcu-los da vida pública, mas enodoa tam-bém os meios empresariais e macula,à larga, os redutos do povo. Está notó-ria em denunciados e denunciantes. Épatente a inocência em condenados ea culpa em inocentados. Não há como

negar, com honestidade, que a alonga-da impunidade foi lucrativa para oscorruptos, nem como contestar, comlucidez, que o demorado combate àcorrupção está dando prejuízos para oPaís. Enormes, e talvez maiores nasdespesas que nos ganhos com a recu-peração dos bilhões de reais roubadosdo povo por políticos no Brasil. Cor-rupção virou o assunto preferido nomomento. Essa festa oficial da morali-zação vai acabar. E teremos de pagaras contas da corrupção, e não eles.

Urge, urgentíssimo, mudar essamentalidade da ideia fixa de procurar-mos erros no passado para a conscienti-zação de buscarmos nos acertos do pre-sente os exemplos para o futuro. E rápi-do, antes que entremos na fase de pas-sarmos a fazer escavações no tempo doBrasil Império atrás de corrupção.

Mostremos nossas virtudes ao invésde defeitos nos outros. Enquanto nãofor revista a estrutura em que se fun-damentam os Três Poderes no Brasil,inclusive a Constituição Federal, que éparlamentarista no regime presidenci-alista, não há como alterar a nomen-clatura do conjunto instituído das per-missividades legais e que facultam osocupantes de cargos públicos gozaremde privilégios particulares.

OBrasil possui potencial de riquezasnaturais para vir a ser o celeiro domundo já nos próximos anos.

Basta erradicar a pobreza mentalna maioria dos dirigentespúblicos, para se ter condi-ções de implantar a refor-ma de base no gigantismoda infraestrutura dos or-ganismos governa-mentais. Se não for di-minuído o tamanho daadministração no gover-no, não há como se dimi-nuir o tamanho dos impos-tos; se não for diminuído o ta-manho da carga conflitante nostributos, não há como se diminuiro tamanho licencioso da sonegação;se não for diminuído o tamanho dalibertinagem das renúncias fiscais naarrecadação, não há como se diminu-ir o tamanho do ilícito na fortuna depolíticos, porque é no tamanho dassafras dos impostos que está o ta-manho das colheitas da corrupção.

Os brasileiros estão reféns dacorrupção ativa e passiva. Nos pa-trões e nos operários. Nas igrejas dediversas religiões e nos líderes dos vá-rios partidos. E, sobretudo, nos chefesdos poderes públicos, onde os despro-vidos de conhecimento específico paraas funções que exercem cometem fa-lhas proveitosas para as engenhosida-des da corrupção. Essa é a causa costu-meira nos equívocos praticados nas in-gerências do amadorismo nas provi-dências inerentes ao profissionalismona gestão dos órgãos públicos no País,nos estados e nos municípios.

Essa incongruência suscita indaga-ções e dúvidas na opinião públicaquando à veracidade integral nas práti-cas dos atos oficiais. As operações daPolícia Federal são inquestionáveis co-mo contribuição corajosa e valiosa paraa reforma moral no Brasil. Mas ficauma perquirição no suspeito das curio-sidades. A série de escândalos daPetrobras apurou uma apropriação in-débita de dois bilhões e cem milhõesde reais, enquanto que em um es-cândalo só, do CARF (ConselhoAdministrativo de Recursos Fis-cais, da Receita Federal), foi con-

tabilizada uma apropriação indevidade dezenove bilhões de reais. A causado ceticismo originou-se no noticiáriode que duas das chamadas de as seteirmãs do petróleo, as norte-americanasChevron e ExxonMobil, associaram-seno interesse de adquirirem a Petrobrasapós a descoberta da camada pré-salem nossos mares e, lógico, o abalo in-ternacional da credibilidade da maiorempresa estatal do Brasil atinge o seuvalor comercial no preço de mercado.

Não é descartável a possibilidade deas duas multinacionais terem agidosub-repticiamente nos escândalos daPetrobras, que são verdadeiros, para to-má-la dos brasileiros. Pode ser. Afinal, ospatriotas têm traumas psicológicos emrelação a petróleo, não apenas porqueos preços dos combustíveis são maiscaros para nós que para os consumi-dores dos países que importam petró-leo da Petrobras, mas, sim, por razõeshistóricas. Monteiro Lobato escreveu acrônica O escândalo do petróleo e ficoupreso de março a junho em 1941, porordem do presidente Getúlio Vargas naditadura do Estado Novo e, solto, foi fa-zer prospecção de petróleo na divisa deMato Grosso com a Bolívia. O escritorGondim da Fonseca, autor dos livros

O petróleo é nosso e Que sabe você sobreo petróleo?, foi perseguido em 1953 pelopresidente eleito Getúlio Vargas.

O impacto positivo das operaçõesda Polícia Federal de combate àcorrupção é o momento apro-

priado para a população cobrar umpacto nacional de honestidade dos lí-deres políticos e empresariais do Bra-sil. Ainda que se chegue ao absurdo deuma anistia para os crimes de corrup-ção, com a publicação no Diário Ofici-al da União da lista completa dos no-mes de todos eles e a aplicação da LeiComplementar 135/2010, da FichaLimpa, proibindo-os de ocuparemcargos públicos enquanto viverem.

Se não for tomada uma atitude drás-tica e definitiva contra os corruptos, opovo brasileiro pode permanecer espe-rançoso em relação ao desfecho final docombate oficial à corrupção, e até ficaralegre nesse festival do denuncismo. Aminha vontade é de chorar.

BATISTACUSTÓDIO

DA HISTÓRIAT

ÀS SOMBRAS