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BEATRIZ MAURO ZANDONADI A INSERÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO AGROTURISMO EM VENDA NOVA DO IMIGRANTE-ES UM ESTUDO DO CASO DAS FAMILIAS CARNIELLI E BRIOSCHI. Viçosa (MG) 2010

BEATRIZ MAURO ZANDONADI A INSERÇÃO DA AGRICULTURA

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    BEATRIZ MAURO ZANDONADI

    A INSERO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO AGROTURISMO EM VENDA

    NOVA DO IMIGRANTE-ES

    UM ESTUDO DO CASO DAS FAMILIAS CARNIELLI E BRIOSCHI.

    Viosa (MG)

    2010

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA

    CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

    DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

    A INSERO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO AGROTURISMO EM VENDA

    NOVA DO IMIGRANTE-ES

    UM ESTUDO DO CASO DAS FAMILIAS CARNIELLI E BRIOSCHI.

    Monografia apresentada disciplina GEO 481

    Monografia e Seminrio - como exigncia

    parcial para obteno do grau de bacharel em

    Geografia, pela Universidade Federal de Viosa.

    Beatriz Mauro Zandonadi

    Orientadora: Prof. Ldia Lucia Antongiovanni

    Viosa (MG)

    2010

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    A INSERO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO AGROTURISMO EM VENDA

    NOVA DO IMIGRANTE-ES

    UM ESTUDO DO CASO DAS FAMILIAS CARNIELLI E BRIOSCHI

    Banca examinadora:

    _______________________________________

    Professora Dr. Ldia Lucia Antongiovanni

    Orientadora

    Departamento de Geografia/UFV

    _______________________________________

    Professor Dr. Andr Luiz Lopes de Faria.

    Departamento de Geografia/UFV

    ________________________________________

    Professor Dr. Leonardo Civale.

    Departamento de Geografia/UFV

    Viosa (MG)

    2010

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    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos meus avs, especialmente ao meu av Agenor

    Mauro, pessoa marcante e especial em minha vida. Principal responsvel por minha

    paixo pelo meio rural. Homem de fibra, entusiasta da vida no campo, com quem pude

    conhecer a grandeza e a riqueza desse fascinante meio rural.

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    AGRADECIMENTOS.

    Agradeo a Deus, fonte de vida, por todas as bnos, fora e entusiasmo que

    me possibilitaram chegar ao fim dessa etapa.

    Aos meus pais, Vanderley e Maria das Dores, pois atravs de seus esforos

    pude viver essa experincia maravilhosa, sem o amor, dedicao e as orientaes de

    vocs nada disso seria possvel.

    A minha irm e ao Fred por estarem sempre presentes mesmo na distncia.

    Ao meu namorado Felipe, pelo apoio, pacincia e carinho durante a execuo

    desse trabalho.

    As minhas amigas da Geografia por todos os momentos de estudo, pelas

    longas horas na biblioteca que ao lado de vocs se tornavam to agradveis, pelas trocas

    de experincias geogrficas, por terem compartilhado minhas angstias e inseguranas

    nessa fase de transio. Obrigada pelas aulas, almoos, lanches, bate- papos, festas e

    todos os momentos que junto com vocs valeram muito mais a pena. Geogirls vocs

    foram fundamentais no s durante a realizao deste trabalho mais em toda a

    graduao. Guardarei com muito carinho todos os nossos momentos.

    A professora Ldia Antongiovanni, pela orientao e colaborao nesse

    trabalho.

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    Sumrio

    Lista de ilustraes ............................................................................................................7

    Lista de tabelas ..................................................................................................................8

    Lista de siglas ....................................................................................................................9

    Resumo ............................................................................................................................10

    Introduo ........................................................................................................................11

    Captulo 1. Inseres do meio rural no agroturismo .......................................................13

    1.1- O rural e suas transformaes ............................................................................. 13

    1.2 - Consideraes acerca do turismo e o turismo rural............................................ 14

    1.3- consideraes acerca do agroturismo .................................................................. 16

    1.4- Polticas de turismo no Brasil e no Esprito Santo .............................................. 18

    1.5- Turismo no Esprito Santo e Agroturismo em Venda Nova do Imigrante. ......... 20

    Captulo 2 - Venda Nova do Imigrante e o Agroturismo. ...............................................24

    2.1. Breve apresentao do Esprito Santo. O caf e sua importncia no Estado e no

    municpio de Venda Nova do Imigrante..................................................................... 24

    2.2 - Histria e Caracterizao do Municpio de Venda Nova do Imigrante ............. 26

    2.3 - Atrativos e aspectos que contribuem para a territorializao do Agroturismo em

    Venda Nova do Imigrante........................................................................................... 29

    Captulo 3- Anlise da insero de duas famlias que se inserem no agroturismo em

    Venda Nova do Imigrante. ..............................................................................................34

    3.1- A escolha das famlias ......................................................................................... 34

    3.2 - O incio da atividade .......................................................................................... 37

    3.3- Populao da propriedade ................................................................................... 38

    3.4 - Elementos do processo de produo. ................................................................. 39

    3.5- Aspectos mais relevantes no uso dos territrios no agroturismo. ....................... 41

    3.6- Participao em Associao ligada ao agroturismo. ........................................... 50

    3.7- Incentivos Financeiros ........................................................................................ 53

    3.8- Atores envolvidos e realidade da atividade em cada propriedade ...................... 53

    3.9- Percepes e relevncias da atividade do agroturismo ....................................... 57

    3.9.1- Diviso Familiar do trabalho: a importncia da participao da Mulher ..... 57

    3.9.2-Processo de adaptao ao Sistema ................................................................ 58

    3.9.3- O uso de tecnologias .................................................................................... 59

    3.9.4- A renda e o Agroturismo .............................................................................. 59

    3.9.5-As alteraes no espao rural ........................................................................ 60

    Consideraes finais ........................................................................................................63

    Referncia bibliogrfica ..................................................................................................68

    Anexos .............................................................................................................................71

  • 7

    Lista de ilustraes

    Figura 1- Regies tursticas do Esprito Santo.................................................22

    Figura 2- Mapa de posio geogrfica do Esprito Santo.................................24

    Figura 3- Mapa do sistema virio de Venda Nova do Imigrante......................27

    Figura 4- Foto da festa da polenta 2010...........................................................31

    Figura 5- Foto da Placa do agroturismo...........................................................33

    Figura 6- Mapa das propriedades.....................................................................35

    Figura 7- Foto da entrevistada Albertina Carnielli...........................................36

    Figura 8- Foto da entrevista Ana Joana Brioschi.............................................36

    Figura 9- Foto da loja na propriedade da famlia Carnielli..............................42

    Figura 10- Foto da palestra na Fazenda Carnielli.............................................43

    Figura 11- Foto do recipiente de armazenamento de soro da agroindstria.....44

    Figura 12- Foto da APP reflorestada ...............................................................44

    Figura 13- Foto da pequena usina de energia...................................................45

    Figura 14- Foto da roda dgua........................................................................46

    Figura 15- Foto das lenhas reaproveitadas na agroindstria............................46

    Figura 16- Foto das galos e galinhas mostrados aos turistas............................47

    Figura 17- Foto do pavo mostrado aos turistas...............................................48

    Figura 18- Instrumentos dos antepassados.......................................................49

    Figura 19- Loja na propriedade Brioschi..........................................................50

    Figura 20- Loja da Agrotur...............................................................................51

    Figura 21- Foto do interior da loja da Agrotur.................................................52

    Figura 22- Foto do interior da loja da famlia Brioschi....................................54

    Figura 23- Foto do interior da loja da famlia Brioschi....................................55

    Figura 24- Foto do interior da loja da famlia Carnielli...................................55

    Figura 25- Foto do interior da loja da famlia Carnielli...................................56

  • 8

    Lista de tabelas

    Tabela 1- Populao do municpio de Venda Nova do Imigrante....................28

  • 9

    Lista de siglas

    Agrotur- Associao do Agroturismo de Venda Nova do Imigrante.

    EMATER- Empresa Brasileira de Extenso rural do Esprito Santo.

    EMBRATUR- Empresa Brasileira de Turismo.

    EMCAPA- Empresa capixaba de pesquisa agropecuria.

    ES- Esprito Santo

    IBGE- Instituto brasileiro de Geografia e estatstica.

    IJSN- Instituto Jones dos Santos Neves.

    PIB- Produto interno bruto.

    PNMT- Programa Nacional de municipalizao do turismo.

    PNT- Plano Nacional do Turismo.

    SEBRAE- Servio Brasileiro de apoio as micro e pequenas empresas.

    UFES- Universidade Federal do Esprito Santo.

    UFV- Universidade Federal de Viosa.

  • 10

    Resumo

    O meio rural vem passando muitas transformaes nas ltimas dcadas, o

    espao que antes era dominado por atividades agrcolas e agropecurias, agora tambm

    compreende atividades do setor secundrio e tercirio. Uma das atividades que vem

    ganhando visibilidade no meio rural o turismo. Neste trabalho vamos abordar uma

    forma especfica de turismo no espao rural que o agroturismo. Observando como esta

    forma de turismo desenvolvida no municpio de Venda Nova do Imigrante e as

    transformaes que tem gerado. Analisaremos o caso de duas famlias que se inserem

    no agroturismo no municpio, as famlias: Carnielli e a Brioschi.

    A partir da experincia delas vamos compreender o que as motivou a fazer esse

    investimento na prtica do agroturismo, como elas desenvolvem a atividade em suas

    propriedades, como exploram os usos que fazem do territrio, os pontos positivos e

    negativos, os principais atores envolvidos, e os demais aspectos que a introduo dessa

    atividade no campo gerou na vida e na propriedade dessas famlias.

    A realizao do trabalho nos possibilitou identificar que o meio rural do

    municpio ganhou dinamismo com o agroturismo, as famlias passaram a ter um

    acrscimo em sua renda, houve o aumento no nmero de postos de trabalho, as fazendas

    analisadas reestruturaram suas instalaes, verificamos um maior respeito e

    preocupao com as leis ambientais dentro das propriedades, comprovamos a

    importncia da mulher no agroturismo, a valorizao do homem do campo e seus

    produtos, e a manuteno das questes culturais. Essas so apenas algumas das

    descobertas que esto expostas ao longo do texto.

    Vamos desvendar como uma nova atividade, no caso o agroturismo tem

    interferido no meio rural da cidade de Venda Nova do Imigrante, partindo do caso das

    duas famlias analisadas, e como tem transformado esse espao e as relaes que nele se

    desenvolvem.

  • 11

    Introduo

    O meio rural um campo de investigao importante, o interesse inicial por

    este trabalho foi motivado pelo fascnio que este espao exerce. Nos ltimos anos o

    meio rural brasileiro vem passando por modificaes, esse espao que antes servia

    como base as atividades agrcolas e agropecurias, visto como fornecedor de matria

    prima para a indstria, e classificado como atrasado em oposio ao ambiente urbano,

    passa no perodo atual por modificaes que inserem as famlias do meio rural no

    circuito do consumo urbano.

    Assim atividades mais realizadas a partir do meio urbano-industrial tais como

    do setor secundrio e tercirio, passaram a ser realizadas a partir tambm do meio rural.

    Isto confere ao campo outro dinamismo, pois ele passa a participar de forma mais

    intensa dos processos de modernizao nas relaes sociais e de produo no campo

    apresentando, inclusive, nveis elevados de cincia e tecnologia agregados aos

    territrios.

    Dentre as novas atividades desenvolvidas no campo, as relacionadas ao

    turismo tm recebido destaque nos ltimos anos, isso porque se mostram como uma

    alternativa de gerar desenvolvimento para essas reas, alm de possibilitar novas formas

    de ocupao para as populaes rurais, incentivar a preservao dos aspectos naturais, e

    valorizar o campo e sua populao, atravs da sua insero num mercado que hoje

    passou a valorizar, como mercadoria, o que se costuma chamar de arcaico. Assim, h

    um processo de recuperao de tcnicas tradicionais que, potencializadas pelas tcnicas

    modernas de planejamento e organizao advindos de ramos da cincia tais como

    administrao e agronomia, por exemplo, vo transformando os smbolos tradicionais

    em mercadorias. Da a paisagem adquirir tanta importncia, pois na atividade turstica,

    especialmente do agroturismo, a manuteno e a criao de um ambiente tradicional

    um dos mais importantes instrumentos de marketing.

    O turismo no meio rural compreende uma srie de modalidades como: turismo

    de aventura, ecoturismo, hotis-fazenda, agroturismo entre outros. Nesse trabalho

    vamos nos ater ao agroturismo, modalidade de turismo no meio rural, que acontece

    dentro das propriedades rurais, de carter familiar, onde os turistas tm a oportunidade

    de participar, ainda que por pouco tempo, do cotidiano do campo. Para que esta

    experincia de viver um pouco do cotidiano do campo seja atraente como objeto de

  • 12

    consumo do turismo, tem sido valorizado este ambiente tradicional que se traduz na

    decorao das lojas que vendem os produtos, nas embalagens, nas arquiteturas e

    tambm nas tcnicas utilizadas que remetem a tempos em que a sociedade urbano-

    industrial no era dominante, mas sim a vida de um tempo mais lento e com um contato

    mais direto com a natureza sem tantas mediaes tecnolgicas.

    O desenvolvimento dessa atividade no campo gera modificaes no espao,

    que como dito, antes tinha sua base de produo pautada principalmente nas atividades

    agrcolas e agropecurias. Buscando compreender como esta atividade se realiza e sua

    influncia no espao rural, analisamos duas famlias inseridas no agroturismo no

    municpio de Venda Nova do Imigrante localizado no Esprito Santo, cidade conhecida

    nacionalmente por seu carter pioneiro na atividade, possuindo o ttulo de capital

    nacional do agroturismo.

    As famlias escolhidas praticam o agroturismo com algumas diferenas e

    semelhanas. Essa escolha foi pensada para que as diferenas e semelhanas

    revelassem, como se d a atividade turstica no meio rural e como esta poderia gerar

    distintas vises, usos e modificaes do espao. Buscou-se identificar como o

    agroturismo tem alterado a vida dessas famlias, suas propriedades e percepes a

    respeito do local aonde vivem.

    O trabalho contou com vrias etapas, a primeira delas foi a pesquisa

    bibliogrfica a respeito do tema. Posteriormente foram feitas vrias visitas as

    propriedades, at chegar escolha das que foram estudadas. Aps a escolha foram feitas

    novas visitas s duas propriedades, com carter exploratrio, e tambm para a realizao

    de entrevistas que visando esclarecer os questionamentos que norteiam a pesquisa.

    Desta forma foi possvel compreender muitos dos elementos da dinmica do

    agroturismo no meio rural.

  • 13

    Captulo 1. Inseres do meio rural no agroturismo

    1.1- O rural e suas transformaes

    O espao rural brasileiro sofreu e vem sofrendo modificaes ao longo do tempo.

    Na sua histria de insero na modernidade, o meio rural tomado, de um modo geral,

    como atrasado, em oposio ao que se considerava moderno, isto , o sistema urbano-

    industrial. Um dos elementos do discurso que coloca o meio rural como atrasado em

    relao ao moderno o da relao direta com a natureza diferente da relao urbano-

    industrial cuja relao a de viver da natureza, tomada como um recurso econmico

    muito mais do que simblico, valor este que se mantm em muitas reas rurais inclusive

    as modernizadas. Conforme analisa Paulo Alentejano, a ocupao dos indivduos estava

    intrinsecamente ligada a terra e a natureza, sendo assim a relao destas populaes com

    a terra era direta e em todos os mbitos; no mbito econmico uma vez que a terra

    elemento de produo, no social na medida em que possui um valor afetivo e simblico;

    e espacial como base dos arranjos espaciais de ocupao do espao (ALENTEJANO,

    2000) o que demonstra a complexidade de relaes que esto implicadas no meio rural

    das relaes sociais, polticas e econmicas que emanam deste sentimento de

    pertencimento quela terra.

    No entanto algumas dessas caractersticas tiveram mudanas, j que as inseres

    do capitalismo no campo vm gerando modificaes no s no espao rural, mas na sua

    dinmica como um todo. A agricultura, em grande medida passou a ser subordinada a

    indstria, e com isso comeou a se modernizar. Introduziu-se a mecanizao no setor

    agrcola, fazendo com que possamos encontrar no campo hoje, caractersticas que at

    pouco tempo atrs eram exclusivas das cidades, como alta densidade tecnolgica.

    Este processo de modernizao do campo passa por vrios momentos desde que

    este processo se deflagra com mais intensidade a partir da revoluo industrial inglesa

    no sculo XVIII. No Brasil, estas inseres do campo no circuito econmico urbano-

    industrial se do de forma bastante diferenciada no territrio, demarcando

    caractersticas regionais e intra-regionais desta insero.

    Durante os sculos XIX e XX com a opo brasileira por se inserir no circuitos

    internacionais do agronegcio com a modalidade monocultora extensiva foi dificultando

    cada vez mais a permanncia no campo de lavradores que no produzem para o grande

    mercado, gerando sucessivas crises que podem ser percebidas pelas vrias lutas

  • 14

    camponesas que ocorreram no processo de privatizao de terras, com Lei de Terras de

    1850 e chegando a meados do sculo XX com dezenas de embates entre camponeses e

    latifundirios, entre elas podemos citar as Ligas Camponesas no nordeste, formada nos

    anos 1950 no embate com usineiros da cana-de-acar.

    neste cenrio que nos anos da dcada de 1970, aps o golpe militar, vrios

    projetos voltados para a insero do meio rural nos circuitos produtivos industriais so

    acentuados. Nas dcadas que se sucedem passa-se a ter uma maior preocupao com as

    questes ambientais, sobretudo em decorrncia dos problemas que surgiram em virtude

    da modernizao agrcola.

    H incorporao de novas atividades que passam a ser realizadas no campo, como

    a implantao de indstrias, alm de atividades do setor de servios que tem se

    destacado nesse espao, como as relacionadas ao turismo, ao lazer, e a preservao das

    amenidades do campo, ou seja, a preservao da natureza. Portanto agora o campo no

    mais pode ser analisado na perspectiva setorial, mais sim intersetorial. As reas rurais

    passam e ser vistas tanto como reas de produo como tambm de consumo (PIRES,

    2004, p.155).

    1.2 - Consideraes acerca do turismo e o turismo rural

    O turismo uma atividade praticada a sculos, no entanto a motivao para tal

    prtica sofreu modificaes ao longo do tempo.

    Antes, as viagens ocorriam em busca da sobrevivncia, com fins mercantis, para apreender e entender o mundo, peregrinar, aventurar-se em

    viagens tursticas. Hoje, entram em jogo novos componentes o lazer e o

    prazer. ( CORIOLANO, SILVA, 2005, p.16).

    Geralmente as pessoas buscam esses momentos de lazer e prazer, em locais que

    diferem com o do seu cotidiano.

    Com o maior desenvolvimento dos meios de transporte, e com as redes de

    informao, o turismo tem se desenvolvido com mais intensidade. Isso sem falar que,

    com a modernidade, e com o desenvolvimento do capitalismo, o tempo do no trabalho

    tem sido mais gasto na realizao do turismo, que agora representa uma forma de

    mercantilizao do lazer. Vrias empresas tem se especializado no desenvolvimento

    dessa atividade, que tem movimentado grandes fluxos de pessoas e capitais.

  • 15

    Faz-se importante trazer a tona o que vem a ser o turismo. Segundo a

    Organizao Mundial do Turismo (OMT) o turismo compreende as atividades que as

    pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares distintos aos de sua

    residncia habitual, por um perodo de tempo consecutivo inferior a um ano, com fins

    de lazer, de negcios e outros. (OMT, 1995).

    A atividade turstica possui muitas modalidades, que vo variar de acordo com

    suas motivaes, com o que ser desenvolvido e com o lugar em que vai se realizar.

    Dentre a vasta gama de modalidades tursticas existem: o turismo religioso; turismo de

    negcios; turismo de lazer; turismo cultural; turismo histrico; turismo em reas rurais,

    entre outras.

    Nos ltimos anos os destinos tursticos rurais tm conquistado mais espao. Tal

    forma de turismo compreende em seu interior uma srie de modalidades como o

    ecoturismo, agroturismo, hotis fazenda, entre outras que representam diferentes formas

    de aproximar mais as pessoas da natureza. A dinmica do espao urbano tem gerado

    uma demanda, uma necessidade por tranqilidade e relaxamento, e a busca por bem

    estar fsico e mental e por um estilo de vida mais saudvel, desperta nos turistas, a

    vontade de experimentar o convvio com modos de vida e costumes diferenciados do

    que se encontra no ambiente urbano.

    O crescente interesse da populao pelo meio natural tem atrado cada vez mais

    turistas para estes ambientes. Os espaos rurais e naturais tornam-se destinos

    privilegiados dos fluxos tursticos de carter alternativo, alm de essa atividade

    apresentar-se como uma prtica econmica no agrcola do espao rural brasileiro

    proporcionando novas fontes de renda para a populao rural.

    H muita dificuldade de se definir o que seria turismo rural j que cada autor

    tem uma concepo diferenciada do termo que varia de acordo com a realidade de cada

    pas e estes expressam a diferenciao dos modos de uso e explorao dos recursos que

    se encontram no espao rural. Segundo a EMBRATUR (Empresa Brasileira do

    Turismo) Turismo rural uma atividade desenvolvida no campo, comprometida com a

    atividade produtiva, agregando valor a produtos e servios e resgatando o patrimnio

    natural e cultural da comunidade. Como dito anteriormente, h vrias formas de

    turismo realizadas no espao rural dentre elas podemos citar o ecoturismo, turismo de

    sade, turismo de habitao, casas de campo, turismo de aldeia, agroturismo entre

    outras. Mas devemos ressaltar que qualquer que seja a forma de turismo rural ao qual

    nos referimos, todas elas apresentam em comum uma relao muito prxima com as

  • 16

    paisagens naturais. No presente trabalho decidimos colocar em foco de discusso o

    agroturismo, na medida em que este possui relaes intrnsecas com a agricultura

    familiar e com a manuteno do modo de vida das populaes rurais tradicionais.

    1.3- consideraes acerca do agroturismo

    Agroturismo definido por Anderson Portuguez como:

    A modalidade de turismo no espao rural praticada dentro das

    propriedades, de modo que o turista e/ou excursionista entra, mesmo que por

    curto perodo de tempo, em contato com a atmosfera da vida na fazenda,

    integrando-se de alguma forma aos hbitos locais. (1999, p. 77)

    Outra definio de agroturismo, feita pelo Ministrio do turismo diz que:

    Agroturismo compreende as atividades internas propriedade, que geram

    ocupaes complementares s atividades agrcolas, as quais continuam a fazer

    parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade. Devem ser

    entendidas como parte de um processo de agregao de servios e bens no-

    materiais existentes nas propriedades rurais (paisagem, ar puro, etc.) a partir do

    tempo livre das famlias agrcolas, com eventuais contrataes de mo-de-

    obra externa. (MINISTRIO DO TURISMO, 2005, p. 8).

    O agroturismo, modalidade do turismo rural, apresenta-se como um complemento

    econmico da famlia rural no excluindo as prticas agrcolas. A prtica do turismo no

    interior da propriedade rural acontece sem extinguir as atividades produtivas

    agropastoris que permanecem como fonte de renda. Geralmente o turismo uma

    iniciativa do proprietrio em busca de um ganho extra. de vital importncia que as

    prticas agrcolas no sejam interferidas j que este um dos fatores que atrai o fluxo

    turstico para o local. O agroturismo praticado nos modos atuais caracterizado pela

    grande importncia da famlia do agricultor para que se realize, afinal so estes os atores

    que esto presentes nesta atividade comandando ativamente todo o processo, desde a

    produo agrcola at a venda dos produtos destinados aos turistas.

    Lembrando mais uma vez que um dos fatores que atrai o fluxo turstico para o

    espao rural a busca por experimentar formas mais tradicionais de vida uma vez que

    os turistas so provenientes de reas urbanas onde o grau de stress elevado, a rotina

    maante e desgastante. Tais indivduos procuram uma aproximao com a natureza

    buscando formas de vida mais leves. Isto conseguido atravs do tempo mais lento do

    espao rural ainda pautado em alguns aspectos no tempo da natureza. O que pode ser

  • 17

    visto pelo turista durante sua estadia inserido na rotina da propriedade pelas prticas

    dirias dos moradores, na fabricao dos alimentos como queijo, pes e doces e a lida

    na roa, por exemplo. Este tipo de turismo atrai especialmente por sua originalidade e

    considerado uma forma de turismo alternativo, frente massificao dos destinos de

    lazer oferecidos tradicionalmente pelas agncias.

    O apelo cultural local tambm muito importante no agroturismo j que tais

    particularidades despertam o interesse do turista e imprimem um carter nico ao

    espao. O individuo que busca tal forma de turismo procura formas diferenciadas de

    gastar seu tempo de lazer, portanto a identidade da propriedade deve ser preservada no

    mbito da paisagem como um todo. A cultura tnica da famlia e do local, a arquitetura

    das edificaes, a culinria tradicional, o tipo de atividade produtiva, enfim, promover o

    convvio dos visitantes com costumes e hbitos diferentes de sua vivncia urbana

    ajudando assim preservar e reavivar os costumes culturais locais.

    A paisagem outro fator de extrema importncia para o agroturismo. A

    motivao para a viagem a necessidade de romper com a rotina, e o fator paisagem

    influencia drasticamente na escolha do destino do turstico. Paisagem segundo Milton

    Santos o conjunto de formas que, num determinado momento exprime as heranas

    que representam as sucessivas relaes localizadas entre o homem e a

    natureza.(SANTOS, 1996). Portanto a paisagem do campo reflete as relaes que so

    desenvolvidas nesse espao, que so muito diferentes das desenvolvidas no meio

    urbano, e essa diferena na paisagem um fator que atrai as pessoas do meio urbano

    para o meio rural. Devemos ressaltar que a paisagem tambm percebida de acordo

    com cada indivduo que usufrui da localidade, pois para cada forma de percepo

    haver diferentes significados.

    As propriedades que praticam o agroturismo possuem muitas amenidades, como

    flora e fauna preservada, ar puro, hidrografia exuberante, que tornam a paisagem destas,

    de beleza cnica extremamente convidativa. ... a atratividade das paisagens rurais

    devido ao legado da humanizao dessa mesma natureza, por meio de atividades

    agropastoris e de outros aspectos de ocupao do espao, impregnados pela herana

    cultural de seus protagonistas (PIRES, 2004), ou seja, as paisagens rurais so formadas

    a partir do processo histrico de ocupao do territrio, as prticas agrcolas passadas e

    presentes associado ao seu carter sociocultural, so a acumulao de informaes que

    se deram ao longo do tempo num determinado espao que exprimem a sociedade que

    viveu neste local. O apelo que estas amenidades possuem como atrativo sua oposio

  • 18

    ao ambiente cotidiano citadino tomado pelo cinza e por grande poluio sonora

    produzindo um ambiente de stress e ansiedade.

    Para os habitantes dos locais que passam a receber tais fluxos tursticos estes se

    tornam uma opo para o desenvolvimento econmico das localidades e regies, na

    medida em que auxiliam na reproduo do capital que antes era conseguido apenas

    pelas prticas agrcolas. O agroturismo vem para multifuncionalizar propriedade e

    servir como alternativa a gerao de renda e ocupao para a populao local. O

    desenvolvimento scio-espacial deve ser entendido como um processo de

    comprometimento no s com a reproduo do capital, mas especialmente com a

    melhoria das condies de vida das populaes locais que recebem os fluxos tursticos

    at mesmo para que estes proporcionem ao visitante uma boa estadia. 1

    A criao de postos de trabalho nesta modalidade de turismo no to grande

    quanto em outras, j que este um tipo de prestao de servio de base principalmente

    familiar. H o emprego, em grande parte, de mulheres que ficam responsveis pela

    produo de alimentos tradicionais para consumo e venda aos turistas. Porm muito

    importante, pois desperta o interesse da pequena famlia agrcola e dos trabalhadores

    empregados nesta prtica econmica para permanecer no espao rural, alm de

    contribuir para a recuperao e preservao do patrimnio histrico-cultural e natural da

    localidade.

    1.4- Polticas de turismo no Brasil e no Esprito Santo

    A atividade turstica quando bem planejada e executada pode ser uma

    alternativa para gerao de divisas e criao de empregos. Desta forma ela tem

    despertado mais ateno por parte do Governo e demais agentes interessados em seu

    desenvolvimento. Ento falaremos um pouco da poltica que o Governo vem realizando

    nesse setor.

    O Governo Federal criou o Ministrio do Turismo em 2003, em abril do ano

    seguinte, lanou o Programa de Regionalizao do Turismo- Roteiros do Brasil,

    mostrando ao pas uma nova possibilidade para o turismo brasileiro atravs da gesto

    descentralizada, organizada nos princpios da flexibilidade, articulao e mobilizao.

    Um dos objetivos do Programa de Regionalizao a desconcentrao da

    oferta turstica brasileira, localizada predominantemente no litoral, propiciando

    a interiorizao da atividade e a incluso de novos destinos nos roteiros

    1 Anderson Pereira Portuguez, 1999

  • 19

    comercializados no mercado interno e externo. (PNT, Ministrio do Turismo,

    2007, p.25).

    A regionalizao surge ampliando o leque de possibilidades de destinos

    tursticos, o que favorece tanto aos turistas, como as populaes e locais que recebero

    esses novos fluxos, que passam a ter maiores possibilidades de desenvolvimento.

    O modelo de gesto descentralizada do turismo, implantado no Pas

    pelo Ministrio do Turismo apoiado por seus colegiados parceiros,

    proporciona que cada Unidade Federada, regio e municpio busque

    suas prprias alternativas de desenvolvimento, de acordo com suas

    realidades e especificidades. O que prope o Programa de

    Regionalizao do Turismo Roteiros do Brasil so diretrizes

    polticas e operacionais para orientar o processo do desenvolvimento

    turstico, com foco na regionalizao. (Marta Suplicy, Mdulo

    operacional 3 Institucionalizao da Instncia Governana Regional,

    2007, Ministrio do Turismo p.9)

    Essa regionalizao no apenas no sentido de reunir municpios com

    caractersticas parecidas,2 mas sim no intuito de construir um espao democrtico,

    harmnico e participativo entre o poder pblico, iniciativa privada, terceiro setor e

    comunidade. Promovendo a integrao e cooperao intersetorial, buscando uma

    atuao conjunta de todos os envolvidos de forma direta e indireta na atividade turstica

    em uma determinada localidade.

    O poder pblico, os empresrios, a sociedade civil e as instituies de ensino

    dos municpios componentes da Regio Turstica, so as Instncias de Governana

    Regionais, e juntas devem cuidar para que a proposta de regionalizao seja posta em

    prtica. Neste sentido a Institucionalizao das Instncias de Governana Regionais

    denota estabelecer uma organizao para decidir e conduzir o desenvolvimento turstico

    de uma regio.

    Cada uma dessas instncias representadas por seus principais agentes tm suas

    competncias definidas que devem ser realizadas para que a atividade tenha xito.

    Como podemos perceber essa poltica de regionalizao do turismo por parte do

    Governo Federal, busca dinamizar as aes que visam o desenvolvimento da atividade.

    Tais aes sero realizadas nas esferas mais locais de acordo com a realidade,

    particularidade de cada municpio que est inserido numa determinada regio, que faz

    parte de um contexto maior que o pas. Esse jogo de escalas, do micro para o macro,

    2 Mais informaes, vide o Programa de Regionalizao do turismo- Roteiros do Brasil: Mdulo

    operacional 3: Institucionalizao da Instncia de Governana Regional , do Ministrio do Turismo,

    disponvel em :

  • 20

    se mostra muito interessante, pois a partir do desenvolvimento e do sucesso das aes

    em conjunto dos municpios que integram as regies, que o pas todo poder crescer e

    fortalecer sua poltica no segmento turstico.

    Em 2007 o Governo Federal lana o Plano Nacional de Turismo- PNT

    2007/2010.

    Tal plano avana na perspectiva de expanso e

    fortalecimento do mercado interno, com especial nfase na

    funo social do turismo. Mas tambm um compromisso de

    continuidade das aes j desenvolvidas pelo Ministrio do

    Turismo e pela Embratur no sentido de consolidar o Brasil

    como um dos principais destinos tursticos mundiais. (PNT,

    Ministrio do Turismo, 2007,p.11).

    O PNT possui macroprogramas, programas e metas,3 um de seus objetivos

    continua sendo a realizao de uma gesto descentralizada, o que tem possibilitado a

    gerao de uma rede de entidades e instituies por todo o pas, envolvendo como j

    dito o poder pblico nas esferas Federal, Estadual e municipal, a iniciativa privada e o

    terceiro setor. Todos esses agentes ligados ao turismo promovem a realizao de vrios

    encontros de discusso e deliberao sobre a Poltica Nacional do Turismo e suas

    conseqncias nas diferentes escalas territoriais do Pas.

    Sabe-se que mesmo depois de todas as polticas propostas ainda h muito a ser

    feito, tanto para realizar tudo o que foi sugerido, como para avanar no

    desenvolvimento da atividade de modo ideal. Sobre esse assunto teria muita coisa a ser

    discutida, mais no cabe ao presente trabalho.

    1.5- Turismo no Esprito Santo e Agroturismo em Venda Nova do Imigrante.

    A atividade turstica no estado do Esprito Santo sempre esteve muito vinculada

    s regies litorneas, devido suas praias de grande beleza cnica. O turismo de praia era

    fortemente incentivado pelo governo j que uma receita expressiva do estado advm

    desta prtica econmica. Porm o turismo com destino as reas litorneas concentrado

    em uma poca especfica do ano, o vero, gerando uma srie de problemas de infra-

    estrutura e sociais, devido ao grande nmero de turistas como a falta dgua, e outros

    3 Para mais informaes vide o PNT, do Ministrio do turismo, disponvel em:< www.turismo.gov.br>.

    http://www.turismo.gov.br/

  • 21

    problemas relativos circulao concentrada de pessoas numa mesma poca devido

    padronizao dos tempos de trabalho e de consumo que vivemos em nossa sociedade.

    Visando expandir o circuito econmico do turismo para outras reas o governo

    passou a incentivar o afluxo de turistas para outras reas do estado: agroturismo na

    regio serrana-central e o turismo ambiental em torno do Capara. Neste trabalho

    vamos nos ater ao primeiro.

    [...] no Esprito Santo [agroturismo] foi eleito como uma das

    principais atividades a serem fomentadas pelo governo estadual, como

    oportunidade de promoo do desenvolvimento do campo, no para

    substituir as atividades agro-silvo-pastoris tradicionais, mas para

    possibilitar a multifuncionalizao das propriedades e como

    alternativa de gerao de renda e ocupao para a populao da

    chamada regio serrana central (PORTUGUEZ, 1999, P. 1)

    Os municpios compreendidos pela chamada regio serrana-central do Esprito

    Santo so: Venda Nova do Imigrante, Castelo, Conceio do Castelo, Domingos

    Martins, Afonso Cludio, Santa Leopoldina, Marechal Floriano, Santa Maria de Jetib,

    Santa Teresa, Viana e Vargem Alta. Outros municpios tambm tm praticado o

    agroturismo, mas no foram inseridos oficialmente no programa do Governo do Estado

    que incentiva a atividade. O Programa Nacional de Municipalizao do Turismo

    PNMT, tambm deu um grande impulso a tal prtica.

    Contudo, o governo do estado, buscando expandir ainda mais as atividades

    tursticas, e seguindo a tendncia nacional, fez a regionalizao do seu territrio

    turstico. Atravs da participao no Programa de Regionalizao do Turismo

    Roteiros do Brasil realizou a organizao territorial e definio dos roteiros que sero

    explorados, criando oito rotas tursticas, que visam abarcar as belezas do estado e

    dinamizar todas as regies.

    Para efeito do Plano de Desenvolvimento Sustentvel do Turismo, o Esprito

    Santo foi dividido em dez regies. Essa diviso no invalida a elaborao de

    roteiros tursticos que perpassem mais que uma regio. A idia que os

    roteiros as contemplem de forma a integrar atrativos e segmentos

    diferenciados, valorizando e criando novos espaos de turismo.

    (Plano de Desenvolvimento Sustentvel do Turismo do Esprito Santo 2007-

    2025)

    A figura abaixo mostra as dez regies em que o estado foi divido.

  • 22

    Figura 1- Regies Tursticas do Esprito Santo.

    Fonte:SEDETUR.

    As rotas criadas pelo governo do estado so: Rota do Capara, Rota dos

    imigrantes, Rota do sol e da moqueca, Rota do mar e das montanhas, Rota do verde e

    das guas, Rota dos vales e do caf, Rota da costa e da imigrao e Rota do mrmore e

    do granito. A cidade de Venda Nova do Imigrante tambm faz parte do circuito que

  • 23

    compreende a rota do mar e das montanhas. Nessa rota so explorados na cidade o

    agroturismo, turismo de aventura e o ecoturismo. Todas modalidades que se utilizam da

    estrutura fsica, das belezas e das excentricidades do meio rural do municpio.

    A histria do agroturismo no Esprito Santo, tem sua semente no Congresso

    Internacional das Famlias Agrcolas na Espanha, em 1992, onde integravam a

    delegao capixaba o vice governador e Secretrio da Agricultura, Adelson Salvador, o

    jornalista Ronald Mansur, a pedagoga Eliane Statuffer de Andrade Mansur e o

    Secretrio Executivo do Movimento Educacional e Promocional do Esprito Santo

    (Mepes), Joo Batista Martins. Aps esse congresso eles foram visitar o agroturismo na

    Itlia, e na visita a Azienda Agroturstica Mondragon de propriedade de Roberto e Tina

    Tessari, a idia do agroturismo em Venda Nova do Imigrante comeou a ser gerada.

    O agroturismo mesmo, s veio a se consolidar como projeto a partir de 1993,

    com a criao do AGROTUR (Associao do Agroturismo de Venda Nova) em maro

    desse mesmo ano. Esse centro era uma forma de agrupar as pessoas interessadas em

    entrar na atividade do agroturismo com os produtos que j fabricavam em suas casas e

    propriedades.

    Um grande incentivador da atividade no municpio foi o Jornalista Ronald

    Mansur que atravs de suas reportagens sobre Venda Nova, mostrava as propriedades e

    seus produtos, dando visibilidade para os produtores, aumentando assim o interesse das

    pessoas em conhecer o lugar, e encorajando novos produtores a se associarem a

    atividade.

    Alm do jornalista, a atividade tambm foi incentivada pela Secretaria de

    Agricultura, em uma parceria com o SEBRAE. Mais tarde a Associao tambm

    conseguiu parcerias e cursos que foram oferecidos alm do SEBRAE, pela prefeitura do

    municpio, Emater, Emcapa, Secretaria da agricultura, UFES, faculdades de turismo de

    Guarapari e Vila Velha.

    Em 1996 a prefeitura municipal cria a Secretaria de Turismo, e assim vai

    desenvolvendo e melhorando a infra-estrutura para a prtica da atividade, que se

    consolidou e ganhou projeo nacional. Desta forma a cidade de Venda Nova do

    Imigrante se tornou referencia quando o assunto agroturismo.

  • 24

    Captulo 2 - Venda Nova do Imigrante e o Agroturismo.

    2.1. Breve apresentao do Esprito Santo. O caf e sua importncia no Estado e

    no municpio de Venda Nova do Imigrante.

    O estado do Esprito Santo fica localizado na regio sudeste, fazendo divisa com

    os estados de: Minas Gerais a oeste; Bahia ao norte; Rio de Janeiro ao sul e a leste

    banhado pelo Oceano Atlntico.

    Figura 2- Mapa de posio geogrfica do Esprito Santo

    Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves - IJSN.

    Possui uma rea de 46.077 km, composto por 78 municpios, sua capital

    Vitria, e o gentlico de sua populao capixaba. Compreende em seu territrio duas

    reas naturais bem distintas: o litoral e o planalto. O primeiro ocupa cerca de 40%, da

    rea do estado, ocupando a costa Atlntica, com lindas paisagens e medida que vai se

    avanando no sentido do interior o planalto vai revelando uma belssima regio serrana,

  • 25

    chegando at a altitude mxima de 2.890 metros, o Pico da Bandeira, ponto mais alto do

    estado e terceiro mais alto do pas.

    A populao estimada pelo IBGE para esse estado no ano de 2009 era de

    3.487.199 habitantes. O PIB do estado estava distribudo da seguinte forma no ano de

    2007, segundo dados do IJSN: atividades primrias 9,3%; atividades secundrias

    34,5%; atividades tercirias 56,3%.

    O setor de servios responsvel pela maior porcentagem do PIB estadual, um

    dos fatores que contribuem para esse ndice a presena de um complexo porturio no

    estado principalmente o Porto de Vitria, que um dos mais movimentados do pas. O

    setor industrial do estado apresenta destaque nos segmentos: siderrgico, txtil,

    alimentcio, madeireiro e fabricao de celulose. O estado grande exportador de

    granito, ferro e ao, alm de ser um dos maiores produtores de petrleo e gs natural do

    pas, ficando atrs apenas do Rio de Janeiro. Sem falar que a explorao da camada do

    pr-sal trs grandes perceptivas de crescimento para o estado. O setor primrio tem o

    caf como principal representante, mais tambm tem relevncia s culturas de feijo,

    cana de acar, fruticultura, arroz e milho. O caf produzido no Esprito Santo tem

    qualidade reconhecida no Brasil e no exterior, alm disso, ele o segundo maior

    produtor e exportador desse produto no pas.

    O caf sempre teve importncia econmica relevante na histria do estado. Tal

    cultivo iniciou-se em terras capixabas por volta da metade do sculo XIX, por influncia

    do Rio de Janeiro4, e teve rpida expanso, em 1850 j ocupava importante posio em

    seu setor econmico. As lavouras se expandiram sobretudo para o sul, onde as terras

    eram mais baratas, e em grande parte ainda se encontravam cobertas por mata densa.

    O municpio de Venda Nova do Imigrante que fica na regio sul do estado

    recebeu a onda de expanso da lavoura cafeeira, e com a chegada dos imigrantes a

    localidade, esse cultivo se expandiu e ganhou fora. Desde ento as lavoras de caf tem

    lugar garantido na zona rural do municpio que tem nesse seu principal produto agrcola.

    4 Fonte: Cafeicultura A Revista do Agronegcio Caf. Disponvel em:

    http:.

    http://http:%3cwww.revistacafeicultura.com.br

  • 26

    2.2 - Histria e Caracterizao do Municpio de Venda Nova do Imigrante

    Antes de falarmos mais especificamente sobre os atrativos da cidade, e os

    aspectos que podem ter contribudo de forma mais contundente para o sucesso do

    agroturismo no municpio, faremos uma apresentao do mesmo, um pouco sobre sua

    histria e populao.

    A cidade de Venda Nova do Imigrante fica localizada a 103 km da capital do

    estado, cercada por belas montanhas. No sc. XIX, a localidade comeou a receber

    imigrantes italianos, que vinham em busca de uma nova terra. Esses imigrantes com as

    economias que possuam, conseguiram comprar partes das fazendas da regio, que

    tinham sido abandonadas pelos portugueses. Os primeiros imigrantes chegaram regio

    em 1891 e encontram ali condies propcias para suas propriedades prosperarem como:

    solo frtil, clima ameno e gua de boa qualidade. No entanto era preciso muito trabalho

    para desbravar a regio que em sua maioria encontrava-se coberta por mata virgem.

    Assim com muita dedicao e trabalho duro dos imigrantes italianos e suas

    famlias, a futura cidade de Venda Nova do Imigrante, foi sendo construda. Desde a

    fundao da cidade o cunho familiar sempre foi muito presente nesta localidade. Essas

    famlias italianas muito unidas imprimiram suas marcas que continuam presentes at os

    dias atuais. A maioria dos habitantes da cidade descendente desses italianos e ainda

    preservam com bastante afinco as tradies deixadas pelos seus nonnos 5.

    O municpio de Venda Nova do Imigrante possu rea territorial de 188 Km,

    cercado pelos municpios de: Domingos Martins, Afonso Cludio, Conceio do

    Castelo e Castelo. Como pode ser visto no mapa abaixo.

    5 Avs em italiano.

  • 27

    Figura 3- Mapa do sistema virio de Venda Nova do Imigrante.

    Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves IJSN.

    Foi emancipado em maio de 1988 e desde sua emancipao a populao vem

    crescendo progressivamente, em 1991 o municpio contava com 12.036 habitantes, em

  • 28

    2000 com 16.165 e em 2007 com 18.610 e atualmente conta com uma populao de

    aproximadamente de 20.000 habitantes segundo dados do IBGE.

    No perodo de 1991 a populao rural do municpio era mais expressiva que a

    populao urbana, a primeira contava com 7002 habitantes sendo que destes, 3265 eram

    do sexo feminino, e 3737 eram do sexo masculino, enquanto a populao urbana era de

    5034 habitantes, sendo 2555 do sexo feminino e 2479 do sexo masculino. A partir de

    2000 h uma inverso nos valores e a populao urbana ultrapassa a rural. A populao

    urbana representa 61,32%, contando com 9912 habitantes, dos quais 5025 so do sexo

    feminino, e 4887 do sexo masculino. A populao rural representa 38,68% do total do

    municpio e as mulheres so em nmero de 2856 e os homens 3397. A populao de

    jovens (de 18-25 anos) do municpio em 2000 era de 3314 habitantes e a populao de

    idosos (acima de 70 anos) no mesmo perodo era de 508 habitantes.

    Tabela 1- Populao do municpio de Venda Nova do Imigrante

    1991 2000

    Populao total 12.036 habitantes 16.165 habitantes

    Populao rural 7.002 habitantes 6.253 habitantes

    Populao urbana 5.034 habitantes 9.912 habitantes Tabela 1-Populao rural e Urbana de Venda Nova do Imigrante.

    Fonte de dados: IBGE.

    O PIB da cidade distribudo nos trs setores possua os seguintes valores no ano de

    2007: agropecurio 45616 mil reais; indstria 23453 mil reais; servios 103182 mil

    reais. Como podemos ver o setor de servios o responsvel pela maior porcentagem

    do PIB municipal, seguido pelas atividades agropecurias que tambm so muito

    significativas. A indstria representa uma fatia pequena do PIB devido fraca tradio

    que o municpio possui nesse setor, e principalmente por sua forte vocao agrcola,

    pois desde a formao do povoado, com a chegada dos imigrantes italianos esta

    atividade desenvolvida. O municpio sempre se destacou na produo de caf, cultura

    praticada a mais tempo na cidade e atualmente o caf continua movimentado a

    economia do municpio, sendo que alguns produtores tem se destacado por produzirem

    caf de qualidade especial, tipo exportao.

    Segundo dados do IBGE, o municpio possui 562 estabelecimentos

    agropecurios, de proprietrios individuais, sendo que estes somam uma rea de 10.792

    hectares. 81 unidades de condomnio, consrcio ou sociedade de pessoas, somando uma

  • 29

    rea de 3.265 hectares, 15 unidades de sociedades annimas ou por cotas de

    responsabilidade limitada, que somam 696 hectares.

    Ainda segundo o mesmo censo, um dado se mostra muito interessante, sobre a

    condio do produtor, somando os proprietrios masculinos e femininos chega-se ao

    nmero de 614 unidades, que abrangem uma rea de 14.519 hectares. As propriedades

    masculinas representam 578 unidades e possuem a rea de 13.943 hectares. E as 36

    unidades restantes so de mulheres, e somam uma rea de 575 hectares. Isso pode ser

    explicado pela tradio das famlias italianas que tinham como costume deixar herana

    apenas para os filhos homens, e essa forma de agir durou por geraes, refletindo assim

    esse nmero discrepante entre homens e mulheres proprietrios de estabelecimentos

    agropecurios. A cidade possui em grande maioria propriedades pequenas, de 20 a 30

    hectares, e a maior parte de cunho familiar.

    2.3 - Atrativos e aspectos que contribuem para a territorializao do Agroturismo

    em Venda Nova do Imigrante.

    O municpio de Venda Nova do Imigrante, por estar em uma rea serrana e de

    mata atlntica tem uma paisagem natural propcia para o desenvolvimento do

    agroturismo. A cidade ainda apresenta condies de oferecer um turismo de aventura,

    com rampas para a prtica de vo livre, paredes rochosos para a prtica de alpinismo,

    rapel, e trilhas para a prtica de rallies. Com isso possvel tambm atrair diferentes

    fluxos de turistas, desde aqueles que buscam a calma e o bucolismo da vida do campo,

    at aqueles que esto em busca de aventuras prximos a natureza.

    Os turistas vm at a cidade atrados por suas belezas naturais, como: a

    cachoeira do Alto Bananeiras, a Pedra do Rego e localidades como o Caxixe Frio que

    possuem espetacular beleza cnica. Em busca de esportes radicais, como vos de asa

    delta, rapel, trilhas e caminhadas, que podem ser feitas no mirante da torre de televiso,

    no morro do Filetti e na Pedra do J 7, que alm de apresentarem vista exuberante,

    servem de meio para realizao desses esportes. H tambm uma infinidade de outros

    lugares belssimos no municpio que valem a pena serem visitados.

    Mas o que atrai maior fluxo de pessoas para a regio o agroturismo, as

    propriedades familiares que recebem os turistas, apresentam seus estabelecimentos

    agrcolas, a forma como produzem, sua cultura, enfim fazem com que o turista se sinta

    parte daquele mundo, nem que seja apenas por algumas horas. Isso tem cativado as

  • 30

    pessoas que se sentem acolhidas, fazendo com que sempre queiram voltar, nem que seja

    s para tomar um caf, com os deliciosos quitutes vendidos nas propriedades e se

    sentirem prximos a natureza e a um modo de vida mais simples por alguns instantes.

    Alm desses atrativos alguns fatores como o esprito associativista da

    populao local tambm favoreceram o sucesso da atividade. Em Venda Nova do

    Imigrante, a comunidade sempre foi muito unida, em prol do bem comum, talvez por

    conta de sua histria e trajetria de formao inicial. Quando os imigrantes chegaram

    nova terra tinham muitos sonhos e muita vontade de transformar e fazer frutificar, para

    garantirem sua sobrevivncia e de suas famlias. As dificuldades que encontraram ao

    chegar a Venda Nova, para erguerem suas casas, formarem suas lavouras, construrem

    locais necessrios a comunidade, como Igreja e escola, sempre foram enfrentadas em

    associao, uma famlia ajudando a outra. Desta forma, esta uma marca da sociedade

    local.

    Esse esprito permanece at os dias atuais, e no usado apenas no

    agroturismo. Podemos encontrar no hospital municipal uma associao de voluntrias

    que realizam trabalho em prol de ajudar na manuteno do hospital. A maior festa da

    cultura Italiana no Estado do Esprito Santo acontece no municpio, a famosa Festa da

    Polenta, toda a concepo e realizao da festa so feitas por voluntrios que trabalham

    e arrecadam fundos que sero revertidos em benfico da populao.

  • 31

    Figura 4- fotografia da Festa da Polenta 2010, evento planejado e executado por voluntrios do

    municpio.

    Fonte: Afepol (Associao da festa da Polenta) Outubro 2010.

    Esse associativismo, tambm foi e importante no sucesso do agroturismo no

    local. Todos os interessados juntos participam do planejamento, de eventos, fazem

    cursos, buscam o aprimoramento e a organizao da atividade. Um dado que me

    chamou bastante ateno que em todas as propriedades que visitei, h a venda de

    produtos de outras famlias, eles passam informaes a respeito da procedncia e

    explicam como chegar s demais propriedades. Sem clima de competitividade, um

    ajudando e divulgando o trabalho do outro.

    Outro fator que parece ter influenciado de forma significativa no sucesso da

    atividade o legado deixado pelos antepassados. Eles produziam em suas propriedades

    quase tudo o que consumiam, j que havia grande dificuldade de acesso e falta de

    recursos. Esse costume foi passado de pai, para filhos e assim sucessivamente. Com isso

    as pessoas criaram o hbito de produzir em suas casas diversos produtos: macarro,

    biscoitos, bolos, doces, embutidos, vinhos, cachaa, queijos, moer o fub, alm de

    outros produtos, feitos de forma rstica como aprenderam no passado.

  • 32

    Mais tarde, as famlias acabaram vendo nessa tradio uma forma de aumentar

    suas rendas oferecendo aos turistas, os produtos que sempre fizeram, at ento para

    consumo prprio. Assim abriram as porteiras de suas propriedades e incentivados pelo

    programa do agroturismo, passaram a desenvolver essa nova atividade

    Observa-se que da mesma forma que as propriedades o agroturismo nessa cidade

    uma atividade essencialmente praticada pelas famlias, sendo passadas de gerao em

    gerao de forma a manter as tradies. importante lembrar que essa atividade visa

    complementar a renda, sendo mais uma alternativa aos produtores, mas que no tem o

    intuito de substituir o carro chefe que continua sendo a agricultura. A economia do

    municpio continua a ser essencialmente agrcola, sendo seu principal produto o caf. O

    agroturismo tem originado bons resultados, gerando empregos e renda, mas no a

    atividade principal da cidade apesar de moviment-la bastante, devido ao grande fluxo

    de turistas.

    O que podemos ver que os moradores de Venda Nova do Imigrante perceberam

    no agroturismo, um filo do mercado turstico que vem crescendo, uma oportunidade de

    aliarem as suas tradies, costumes seus hbitos, com uma nova maneira de

    complementar sua renda, sem ter que fazer vultosos investimentos. Visto que as

    propriedades as famlias j possuam, sempre produziram tais quitutes, como uma

    herana que aprenderam com seus antepassados, alm dessa ser uma maneira de

    preservar e reforar as tradies italianas to presentes na cidade.

    [] E no so somente os grandes fazendeiros que descobriram o

    agroturismo como fonte complementar de renda para suas propriedades. No

    Esprito Santo, os pequenos produtores da tradicional (italiana-brasileira)

    Venda Nova do Imigrante (em uma regio j explorada pelo ecoturismo e por

    esportes na natureza) de forma associativa -, cujo belo cenrio da serra

    capixaba encanta os moradores e visitantes, esto dando seus primeiros passos

    no agroturismo e no lazer rural atravs da venda de produtos agroindustriais

    caseiros, venda de plantas ornamentais e de hortalias orgnicas, entre outras

    atividades, como novas pousadas. Dados indicam 400 empregos diretos criados

    com a nova atividade. (GRAZIANO DA SILVA; VILARINHO; DALE,

    2000, p. 49).

    Como vimos, o agroturismo veio casar de forma bastante harmnica com essa

    cidade, que possui particularidades interessantes e favorveis ao desenvolvimento de tal

    atividade, por isso que ela tem sido to bem sucedida, e atualmente conhecida como

    a capital nacional do agroturismo. Ttulo que recebeu em 2005 na Feira Nacional do

    Turismo Rural em So Paulo.

  • 33

    Figura 5- Foto da cidade Venda Nova do Imigrante, que ostenta com orgulho e explora o

    marketing do ttulo que recebeu.

    Fonte: acervo pessoal, setembro 2010.

  • 34

    Captulo 3- Anlise da insero de duas famlias que se inserem no agroturismo

    em Venda Nova do Imigrante.

    3.1 A escolha das famlias

    Nesse trabalho, observamos mais de perto, o caso de duas famlias da zona rural

    de Venda Nova do Imigrante que se inserem no agroturismo, a famlia Carnielli e a

    Famlia Brioschi. A primeira tem grande destaque na regio por ser a pioneira nessa

    prtica. E a segunda j pratica essa atividade h 17 anos. A escolha dessas famlias no

    foi por acaso, busquei explorar dois casos que se diferenciassem quanto proporo que

    a atividade tomou dentro da propriedade. A famlia Carnielli, hoje realiza o

    agroturismo, com um carter mais empresarial, com muitos funcionrios e a famlia

    Brioschi, continua com mo de obra estritamente familiar, e tem essa atividade apenas

    como um complemento da renda.

    Para obter essa comparao e ter embasamento para fazer o estudo de caso, foi

    realizada uma entrevista, semi estruturada,6 nas duas propriedades. Alm dessa

    entrevista, algumas visitas tambm foram feitas as duas famlias em carter

    exploratrio, com o intuito de observar a dinmica de funcionamento das propriedades,

    o atendimento aos turistas, os produtos fabricados e vendidos, e a organizao da

    produo das duas famlias.

    Foram feitas duas visitas a cada propriedade apenas com carter de observao. E

    trs visitas onde houve o contato com os proprietrios, quando ocorreram as entrevistas

    e algumas conversas para esclarecer alguns aspectos que ainda no estavam claros.

    Durante as entrevistas encontrei algumas dificuldades de obter respostas quanto aos

    aspectos econmicos da atividade, como a porcentagem que a atividade representava na

    renda das famlias, e em valores reais quanto atividade rendia em cada propriedade.

    H essa resistncia em informar respostas relacionadas a ganhos financeiros, por haver

    uma desconfiana quanto utilizao e divulgao de tais dados.

    As entrevistas aconteceram nas propriedades, ambiente familiar para as

    entrevistadas e ocorreram de forma bem descontrada, por isso elas se sentiram mais a

    vontade para responder as questes. O que realmente era o intuito, que elas relatassem

    6 Roteiro das entrevistas encontra-se em anexo.

  • 35

    da forma mais espontnea e verdadeira suas experincias e percepes a respeito da

    atividade investigada, o agroturismo.

    As duas propriedades ficam bem prximas, localizadas a margem da Rodovia

    Pedro Cola. Distantes apenas 2 km uma da outra. A figura abaixo mostra os bairros e

    comunidades de Venda Nova, entre elas a Providncia, onde ficam as propriedades.

    Figura 6- Figura das comunidades de Venda Nova do Imigrante.

    Fonte: Cmara Municipal de Venda Nova do Imigrante.

    No entanto a proximidade e a localizao parecem ser o que as duas famlias tm

    de mais parecido, pois nos demais aspectos se diferenciam bastante. A comear na

    motivao para a adoo do agroturismo em suas propriedades. Vamos iniciar com a

  • 36

    histria da famlia Carnielli. Todos os aspectos e questes relatadas nos itens seguintes

    so fruto das respostas encontras na entrevistas. Realizadas com as senhoras:

    Figura 7- Albertina Carnielli entrevistada.

    Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.

    Figura 8- foto de Ana Joana Brioschi entrevistada.

    Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.

  • 37

    3.2 O incio da atividade

    A famlia Carnielli possui a propriedade desde 1921, quando adquiriram a terra

    do senhor Pedro Cola7. A propriedade tinha inicialmente uma rea de 270 hectares que

    agora foi desmembrada para os dez filhos, ficando cerca de 27 hectares para cada filho

    atualmente.

    Em busca de uma nova atividade que pudesse aumentar e diversificar a fonte de

    renda da famlia, que comea a busca e o interesse dos Carnielli pela atividade do

    agroturismo. No entanto segundo os membros da famlia a atividade surgiu de forma

    espontnea. O irmo Pedro Carnielli, que estudava na Universidade Federal de Viosa,

    cursando agronomia, volta para casa e junto com a famlia busca aplicar os

    conhecimentos tcnicos obtidos na universidade na propriedade. No intuito de

    diversificar a fonte de renda investiram em gado leiteiro, e com o aumento da produo

    de leite resolveram fazer queijos, as visitas eram freqentes, mais no inicio eram amigos

    e vizinhos, que mostravam curiosidade sobre o processo de confeco dos queijos, e

    demonstravam interesse em comprar os mesmos.

    Logo viram que a estava uma boa oportunidade de fonte de renda. Que ao

    contrario do caf que s trazia retorno financeiro uma vez por ano, a venda dos queijos

    e dos outros produtos que faziam, como os biscoitos e doces era dinheiro garantido

    sempre, pois todo o produto fabricado era vendido, alm do que as vendas aconteciam

    quase todos os dias. Devemos lembrar que a famlia comeou a vender seus produtos, e

    a receber pessoas em sua propriedade a mais tempo, porm a atividade passou a ser

    reconhecida como agroturismo, e ganhou fora e legitimidade em 1993, com a criao

    da Agrotur, como j citado anteriormente. Essa famlia reconhecida como a pioneira,

    por ter sido a primeira a receber as pessoas em sua propriedade e a vender seus

    produtos, quando a atividade ainda nem tinha nome.

    A famlia Brioschi, possui o stio Retiro do Ip h 45 anos, desde que dona Ana se

    Casou com o senhor Clarindo, a compra foi realizada no dia do enlace dos dois. A

    propriedade possui rea de 55, 66 hectares.

    7 Pai do ex-deputado Federal do Esprito santo, Camilo Cola, hoje grande empresrio do ramo de

    transportes, dono da Viao Itapemirim. A Rodovia que liga a BR 262 a Cachoeiro do Itapemirim leva

    seu nome.

  • 38

    Comearam a desenvolver a atividade, quando a Agrotur j existia. Em 1993,

    antes disso no vendiam nenhum dos produtos que faziam em sua casa, que eram

    destinados para consumo prprio. A senhora Ana Joana Brioschi, foi encorajada a ser

    scia da Agrotur por uma sobrinha que j fazia parte da associao. Assim ela,

    juntamente com a nora, aderiu idia da sobrinha e comearam a vender na loja da

    associao, biscoitos e o vinho que faziam. A maior motivao para a insero desta

    famlia na atividade foi possibilidade de complementar a renda, mas, sobretudo uma

    forma de as mulheres, terem seu prprio dinheiro, sem precisar do auxlio dos maridos.

    Podemos observar uma diferena grande j no inicio da adoo da atividade, a

    famlia Carnielli comeou no agroturismo buscando uma fonte de renda alternativa a

    agricultura que no apresentava muitas perspectivas. E a famlia Brioschi, buscava uma

    renda extra, mais que nesse caso era destinada para as mulheres.

    3.3- Populao da propriedade

    Na propriedade dos Carnielli moram 15 pessoas da famlia. Trabalham durante o

    ano todo 40 funcionrios, e no perodo da safra do caf esse nmero chega a 70

    funcionrios, todos com carteira assinada, pois eles no trabalham mais com o sistema

    de colonato. Das 15 pessoas da famlia que moram na propriedade apenas 7 trabalham

    na mesma, alm desses, 2 moram na cidade e vem todos os dias trabalhar na

    propriedade. Eles administram todas as atividades desenvolvidas, no contando com a

    ajuda de ningum de fora para realizar essa tarefa.

    Na propriedade dos Brioschi moram 13 pessoas da famlia. Contam com a ajuda

    de 9 colonos8 para realizarem as atividades agrcolas e na lida com o gado. Das 13

    pessoas da famlia que moram na propriedade 8 trabalham na mesma, as 4 crianas e

    uma nora no colaboram nas tarefas da propriedade, a nora trabalha como secretria em

    uma escola municipal. A tarefa de administrar a propriedade cabe ao filho mais velho,

    que s vezes conta com a ajuda do pai e do irmo para esse trabalho, mais no tem ajuda

    de pessoas de fora para isso.

    Nesse aspecto podemos comprovar como so discrepantes as diferenas entre as

    duas famlias, a primeira conta com a ajuda de muitos funcionrios e trabalha apenas

    8 Colono da forma em que est exposto no texto, refere-se a uma forma de organizao econmica

    e social, tpica de reas rurais, em que o trabalhador explora a terra do proprietrio que em contrapartida

    fica com parte da produo como forma de pagamento.

  • 39

    com funcionrios assalariados, enquanto a segunda tem poucos funcionrios e eles

    trabalham com o sistema de colonato. Para manter 40 funcionrios assalariados durante

    todo o ano, as despesas so grandes. J no sistema de colonato, o dono da propriedade

    no precisa desembolsar grandes quantias de dinheiro, porque o colono recebe a

    porcentagem combinada sobre a produo agrcola, quando a safra vendida. Isso

    denota a diferena de poder monetrio das duas famlias e da escala em que eles

    produzem.

    3.4 Elementos do processo de produo.

    Quanto aos aspectos produtivos das fazendas pude fazer algumas constataes

    interessantes. Na famlia Carnielli a produo predominante, ainda o caf, seguido dos

    queijos, principalmente os sem lactose. Alm desses produtos, eles ainda mantm a

    produo de palmitos do tipo pupunha, abacate, cana de acar e eucalipto, em pequena

    quantidade, que utilizado na manuteno de construes, e como combustvel na

    agroindstria.

    O caf considerado por eles o produto mais rentvel, seja o expresso, em gro

    ou modo grosso. considerado o mais rentvel porque eles possuem a matria prima,

    ao contrrio do queijo que eles compram o leite de fora. O leite que eles usam na

    fabricao dos queijos, vem de Castelo, uma cidade vizinha. Isso porque segundo

    Albertina, eles viram que no era vivel manter o gado, saia mais caro o leite produzido

    na propriedade, e com menor qualidade do que o leite vindo da regio. Alm disso, o

    caf deles um produto que tem uma qualidade especial sendo assim valorizado no

    mercado e no to perecvel quanto os gneros alimentcios que eles vendem.

    E dentre todos os produtos que eles fazem o que consideram o menos rentvel

    o fub. Isso porque acreditam que ele tem uma relao custo/beneficio ruim, e ocupa

    muito volume. Alm dos produtos citados acima a famlia ainda produz e vende na

    lojinha da fazenda, diversos tipos de queijos frescos, queijos maturados, queijos

    defumados, produtos sem lactose, cafs variados, embutidos e derivados de porco,

    biscoitos, bolos, pes, doces, gelias, pastas, e trabalhos manuais.

    Um aspecto que vale a pena ser dito que na lojinha da fazenda, onde recebem

    os turistas, eles trabalham com vrios cartes de crdito. Possuem tambm um site9,

    9 Site da famlia Carnielli: www.carnielli.com.br.

  • 40

    onde expe seus produtos, fazem cotao e venda online dos mesmos, com isso vendem

    e mandam seus produtos para todo o Brasil. Ainda vendem seus produtos na loja da

    Agrotur e para redes de supermercados tanto do Esprito Santo como de outros estados

    do Brasil.

    Por exemplo, os cafs podem ser encontrados em Manaus, em diversos

    municpios do Esprito Santo, em supermercados em diferentes lugares da Bahia, Rio de

    janeiro, Paran, Rio Grande do Sul, Sergipe e So Paulo. O fub produzido por eles

    tambm pode ser encontrado em diversos municpios do estado, e em supermercados na

    Bahia e no Rio de Janeiro. J os queijos podem ser encontrados em muitos pontos de

    venda no Esprito Santo e em um ponto de venda em Braslia. Mas como dito antes,

    qualquer um desses produtos pode ser adquirido em qualquer lugar do pas seja por

    consumidores individuais ou por donos de comrcio, basta para isso realizar a

    encomenda pelo site da famlia.

    Na famlia Brioschi, a produo predominante tambm o caf. Alm deste

    produto agrcola eles ainda matem produo de milho e feijo. Alm de conservar

    algumas vacas para a produo de leite.

    O caf considerado por eles o produto mais rentvel porque, segundo dona

    Ana, ainda tem boa sada no mercado, mesmo que o preo no seja to bom, a famlia

    sempre consegue vender e ainda sobra um lucro, mesmo que pequeno. E o considerado

    menos rentvel foi o leite. Isso porque segundo eles tem uma relao custo/benefcio

    ruim. A manuteno do gado requer muitos gatos que no so recompensados na hora

    de vender o leite. Eles produzem ainda vinho de jabuticaba, biscoitos, doces, socol10

    , e

    diversos embutidos derivados de porco.

    Eles ao contrrio da primeira famlia, no trabalham com cartes de crdito, nem

    possuem site. Apenas vendem seus produtos na lojinha que construram na propriedade,

    na lojinha da Associao, Agrotur, e na feira da cidade.

    10

    Embutido feito com fil de lombo de porco, com modo peculiar de ser preparado, tpico da culinria italiana. A carne temperada com sal, pimenta e alho e envolvida por uma pele retirada da barriga do

    porco depois fica curtindo por no mnimo 4 meses. O socol de Venda Nova poder entrar no rol da

    Indicao Geogrfica- IG, que uma ferramenta coletiva de promoo comercial dos produtos, que

    reconhece como nica a forma de produo, limitante a rea geogrfica, a receita, dentre outras

    caractersticas que tornam o produto nico no mundo. O Sebrae contratou uma empresa de assessoria e

    dessa parceria ser originado o dossi a ser apresentado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial-

    INPI. Com o IG, o socol de Venda Nova ser reconhecido no mesmo nvel que a champanhe francs, os charutos cubanos e outros produtos pelo mundo. (Jornal Folha da Terra, edio especial de turismo e 32

    Festa da Polenta, N787 outubro de 2010).

  • 41

    Com isso podemos perceber algumas semelhanas e diferenas entre elas. A

    primeira semelhana que em ambos os casos, o produto mais representativo

    economicamente e mais importante na propriedade o caf. O que j era de se esperar,

    j que esse o produto que move a economia do municpio. As duas famlias quando

    perguntadas sobre o que achavam da rentabilidade da agricultura atualmente, foram

    unnimes em dizer que piorou. Isso se deve as constantes crises e oscilaes de preo

    por que passa o nosso setor agrcola.

    No mais podemos observar muitas diferenas. Enquanto a primeira famlia

    produz uma quantidade maior de itens para vender, a segunda no tem uma variedade

    to grande. Outra diferena e talvez essa mais significativa, em relao

    comercializao dos produtos. A famlia Carnielli vende seus produtos para os turistas

    que vem at a cidade, na capital, em diversos pontos no estado e no Brasil e at mesmo

    para qualquer pessoa em qualquer lugar do pas atravs das vendas online. A famlia

    Brioschi vende seus produtos apenas no mercado local. No extrapolando os limites

    municipais.

    3.5- Aspectos mais relevantes no uso dos territrios no agroturismo.

    Retomaremos agora aspectos mais especficos sobre o agroturismo, nos dois

    casos estudados. Lembrando que este o norte do trabalho, a atividade e sua

    interferncia no meio rural. Vamos buscar a principal motivao para que as famlias

    entrassem no agroturismo, se tiveram incentivos financeiros, se participam de

    associaes, como exploram a atividade dentro de suas propriedades, as maiores

    dificuldades, os pontos positivos que tal prtica gerou na propriedade, os negativos, o

    papel das mulheres. E at mesmo as perspectivas para o futuro da atividade, entre outros

    aspectos pertinentes para o trabalho.

    A famlia Carnielli, como j exposto neste trabalho, iniciou na atividade porque

    sentiu necessidade de buscar uma alternativa para a agricultura, que no estava se

    mostrando suficiente. Depois, segundo Albertina, os principais incentivos para

    continuar foram a possibilidade de renda freqente, o ano todo, e a permanncia do

    homem no campo evitando o xodo rural, e a valorizao do homem do campo.

  • 42

    A valorizao quando eu falo, que primeiro o homem do

    campo era visto como um caipira, e hoje no, hoje eles vem agente,

    eles respeitam, os turistas respeitam e valorizam. Uma outra coisa a

    vida saudvel no campo, voc tem um ar puro, clima muito bom, a

    natureza, e poder continuar morando num lugar saudvel muito bom.

    (Albertina Carnielli)

    Como vimos ressalta os pontos que segundo ela mais motivaram a famlia a

    continuar com o agroturismo. D nfase a permanncia do homem no campo, alm da

    valorizao do mesmo, que agora sente que seu trabalho tem mais valor.

    Eles exploram outros aspectos da propriedade na prtica do agroturismo e no

    apenas a venda dos produtos que fazem. Ou seja, exploram os diversos usos que fazem

    do territrio. Abordam a histria da famlia, a histria do agroturismo, aspectos

    relacionados colonizao italiana, hbitos e aspectos culturais. Fazem visitas

    agendadas pela propriedade, com palestras pedaggicas onde exploram aspectos

    interessantes relacionados ao meio ambiente e ao agroturismo.

    Figura 9- Fotografia da loja da famlia Carnielli, em sua propriedade.

    Fonte: acervo pessoal, setembro de 2010.

  • 43

    Figura 10- Fotografia da palestra, parte da visita de alunos a propriedade.

    Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.

    O territrio se forma a partir do espao, ele resultado da ao dos homens

    sobre o espao. A forma com esses se apropriam e as relaes que desenvolvem no

    espao do origem aos territrios. Neste sentido, territrio seria:

    [...] um espao onde se projetou um trabalho, seja energia e informao, e que,

    por conseqncia, revela relaes marcadas pelo poder. (...) o territrio se

    apia no espao, mas no o espao. uma produo a partir do espao. Ora,

    a produo, por causa de todas as relaes que envolve, se inscreve num campo

    de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 144).

    Eles realizam prticas de produo integradas ambientalmente, uma das formas

    pelas quais eles se utilizam do territrio atravs da realizao de prticas de

    preservao do meio ambiente, o patriarca da famlia o Senhor Domingos Carnielli faz o

    reflorestamento da propriedade com rvores nativas. Mostram as prticas de no eroso

    com a utilizao de caixas secas. Abordam a questo do destino dos rejeitos da

    agroindstria, pois o soro que sobra do processo de fabricao dos queijos todo

    bombeado para a lavoura.

  • 44

    Figura 11- Fotografia do soro da agroindstria que bombeado para a lavoura, servindo como

    fertilizante.

    Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.

    Figura 12- fotografia da rea de APP, beira do rio, que est sendo reflorestada com rvores

    nativas.

    Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.

  • 45

    Alm de realizarem prticas de preservao ambiental, a famlia visando auto-

    sustentabilidade possui em sua propriedade uma pequena usina de gerao de energia

    eltrica, que gera energia a partir de uma queda dgua de 110 m, com uma potncia de

    40 cavalos, produzindo toda a energia que gasta na fazenda.

    Eles ainda possuem uma roda dgua, que devolve a gua utilizada na usina para

    o rio, esta alm de ser mais um atrativo para os turistas, que ficam encantados com o

    barulho e a fora da gua, ainda tem uma funo mais importante, a de devolver a gua

    oxigenada para a natureza.

    Figura 13- fotografia da pequena usina que gera a energia para toda a propriedade.

    Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.

  • 46

    Figura 14- Fotografia da Roda dgua na propriedade.

    Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.

    Tambm utilizam a lenha do abacate, do caf e do eucalipto na agroindstria.

    uma forma de reaproveitar essas sobras de madeira que seriam descartadas, desse modo

    tambm evitam o desmatamento de outros tipos de madeira, como de arvores nativas.

    Figura 15- Fotografia das lenhas e dos galhos de abacate, caf e eucalipto que so usados na

    agroindstria.

    Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.

  • 47

    Eles tambm se utilizam do territrio, realizando atividades agrcolas, essas

    ainda se transformam em atrativo para os turistas que adoram conhecer as plantaes.

    Como exposto anteriormente eles possuem lavouras de caf, plantao de palmito do

    tipo pupunha, eucalipto, abacate e cana de acar. Essas plantaes so mais uma forma

    pela qual eles imprimem um trabalho sobre o espao, e se apropriam dele.

    A famlia cria alguns animais na propriedade, porm nem todos so mostrados

    para os turistas, como o caso do gado, a famlia possui algumas cabeas de gado, mais

    no explora esses animais como atrativo na atividade do agroturismo. Isso porque so

    em um pequeno nmero, e so animais para o abate e consumo prprio. No entanto

    outros animais como as galinhas e os paves, so mostrados para os turistas que adoram

    ver esses animais que na cidade s tm contato pela televiso.

    Figura 16- Foto dos galos e galinhas que so expostos aos turistas.

    Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.

  • 48

    Figura 17- foto do pavo que mostrado aos turistas.

    Fonte: Acervo pessoal, outubro de 2010.

    Outros pontos explorados como atrativos na Fazenda Carnielli, so a histria da

    famlia, a histria do agroturismo e aspectos relacionados colonizao italiana seus

    hbitos, costumes e tradies. Alis, essas so questes que muito interessam aos

    turistas, que ficam encantados com as peculiaridades desse povo. Essas particularidades

    refletem em todas as dimenses da vida, tornando esse povo e esse lugar nicos e muito

    interessantes.

  • 49

    Figura 18- Fotografia dos instrumentos e utenslios dos antepassados que fazem parte da histria

    da famlia.

    Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.

    A famlia resolveu explorar todos os aspectos, mostrando os diversos usos que

    fazem do territrio, citados acima porque viu nessa prtica uma possibilidade de

    aumentar os rendimentos, pois dessa forma agregam valor ao agroturismo, alm de ser

    um diferencial da propriedade, que assim se destaca das demais.

    Como dito anteriormente a entrada da famlia Brioschi no agroturismo se deu

    para que essa fosse uma alternativa de renda para as mulheres e o fator que mais

    motivou, foi o exemplo de parentes que estavam praticando a atividade e com isso

    estavam conseguindo ampliar sua renda.

    A famlia explora o agroturismo, apenas recebendo os turistas em sua loja que

    fica na propriedade e vendendo os produtos que fabricam. Eles no realizam passeios

    pela propriedade, no mostram as etapas de produo nem fazem uso de mais nenhum

    atrativo da propriedade, eles no exploram os diversos usos que fazem do territrio. No

    exploram mais a propriedade, porque para isso precisariam fazer mais investimentos,

    alm do que necessitariam de um nmero maior de pessoas, o que agora no vivel

    para eles.

  • 50

    Figura 19- Fotografia da loja da famlia Brioschi, no stio Retiro do Ip.

    Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.

    Como podemos ver as duas famlias buscavam na atividade uma forma de

    aumentar a renda, porm a primeira famlia via uma oportunidade de diversificar as

    fontes frente a pouca lucratividade da agricultura e a segunda famlia visava mais um

    complemento da renda, sobretudo direcionado as mulheres. Diferem tambm quanto a

    forma pela qual exploram a atividade. A famlia Carnielli, explora os diversos usos que

    faz do territrio como uma forma de agregar valor a atividade. E a famlia Brioschi

    apenas vende seus produtos na loja dentro da propriedade. Isso se deve, como vimos, a

    necessidade de investimentos e mo de obra que a explorao de outros aspectos exige.

    E a segunda famlia se mostra impossibilitada de realizar esses investimentos no

    momento.

    3.6- Participao em Associao ligada ao agroturismo.

    Sobre a participao em alguma associao no municpio vinculada a questo do

    turismo, os Carnielli participam da Agrotur, associao que ajudaram a fundar, por

    terem sido pioneiros na atividade. Questionada sobre a importncia da associao para o

    desenvolvimento da atividade a representante da famlia disse que fundamental.

    Relatou sua importncia para a organizao dos associados, e descreveu uma srie de

  • 51

    coisas que demonstram essa importncia, o fato de se reunirem e trabalharem em torno

    de um objetivo em comum. A parceria, que faz com que eles cresam como grupo.

    Alm de a associao possuir CNPJ, o que possibilita a participao dos associados em

    eventos importantes. Tambm conseguiram com a associao criar a lojinha da Agrotur,

    que alm de divulgar os produtos das famlias, virou um carto postal da cidade.

    Figura 20- Fotografia da loja da Agrotur, as margens da BR 262, ponto estratgico no municpio.

    Fonte: acervo pessoal, setembro 2010.

  • 52

    Fonte 21- Fotografia do Interior da loja da Agrotur.

    Fonte: acervo pessoal, setembro 2010.

    A associao tambm importante para auxiliar a todos na atividade, como por

    exemplo, a Agrotur, est celebrando um contrato de licena ambiental, para que todas as

    propriedades se adqem as leis ambientais, sem esse auxlio seria difcil para alguns

    associados, j que este um processo muito caro.

    A famlia Brioschi tambm associada Agrotur, reconhecem sua importncia e

    acreditam que ela boa porque incentiva a participao. Percebem tambm a

    importncia da loja, que divulga bastante os produtos de todos e trs benefcios para os

    associados principalmente para as mulheres que agora tem o dinheiro para comprar suas

    coisas. Ana Joana Brioschi.

    As respostas mostram o quanto a Agrotur importante na realizao do

    agroturismo na cidade, os associados percebem nela um elo entre eles, e uma mola

    propulsora da atividade.

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    3.7- Incentivos Financeiros

    Sobre os incentivos financeiros, para iniciar na atividade, a famlia Carnielli no

    recebeu nenhum. Comearam apenas com recursos prprios, somente fizeram

    emprstimo para realizao de uma reforma no laticnio, isso aconteceu a pouco tempo.

    Mais por muitos anos no contaram com nenhum dinheiro que no viesse da prpria

    famlia.

    A famlia Brioschi quando ingressou na atividade tambm no contou com

    nenhum incentivo financeiro, apenas usaram capital da famlia, e realizaram um

    financiamento, recentemente, para construrem a lojinha na propriedade.

    Como foi possvel verificar, nenhuma das famlias contaram com incentivo

    financeiro para iniciar a prtica do agroturismo. O que mostra que no h por parte de

    nenhum rgo incentivos dessa natureza para promover a atividade. As famlias

    recorreram a emprstimos apenas para ampliao e melhorias na infra-estrutura, quando

    a atividade j estava consolidada em ambos os casos.

    3.8- Atores envolvidos e realidade da atividade em cada propriedade

    Trabalham na Fazenda Carnielli com atividades relacionadas ao agroturismo 40

    pessoas, empregadas com carteira assinada, alm dos 9 integrantes da famlia. Todos de

    forma direta ou indireta trabalham na atividade agroturstica realizando as tarefas da

    propriedade, sejam as relacionadas agricultura ou as da agroindstria.

    A famlia produz e vende apenas os gneros alimentcios que sempre fizeram em

    sua casa, porm com a profissionalizao da atividade passaram a implementar a

    produo com novas receitas e novas tcnicas produtivas. Ou seja, o queijo que um

    dos produtos de maior destaque da famlia, eles sempre produziram, mas agora tem um