15
Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência

Benefícios Previdenciários - ltr.com.br · o conceito, para não falar na definição, do que seja agravo, enfermidade, doença, incapacidade laboral, limitação e deficiência,

Embed Size (px)

Citation preview

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 1 29/07/2015 11:11:58

1ª Edição – 2014 2ª Edição – 2015

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 2 29/07/2015 11:11:58

Wladimir Novaes MartinezAdvogado especialista em Direito Previdenciário.

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência

2ª edição

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 3 29/07/2015 11:11:58

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brAgosto, 2015

Versão impressa — LTr 5262.5 — ISBN 978-85-361 — 8547-7Versão digital — LTr 8789.0 — ISBN 978-85-361 — 8559-0

Todos os direitos reservadosw

Índice para catálogo sistemático:1. Brasil :Benefícos do INSS : Deficientes :

Direito Previdenciário 34: 368.415.6:368.43 (81)2. Brasil : Deficientes : Benefícios do INSS :

Direito previdenciário 34:368.415.6:368.43(81)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Martinez, Wladimir NovaesBenefícios previdenciários das pessoas com deficiência / Wladimir Novaes

Martinez - 2. ed. - São Paulo : LTr, 2015.

Bibliografia.

1. Benefícios (Direito previdenciário) 2. Deficientes - Leis e legislação - Brasil3. Direito previdenciário - Brasil I. Título.

15-06104 CDU-34:368.415.6:368.43(81)

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 4 29/07/2015 11:11:58

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência ▶ 5

Sumário

Introdução............................................................................................................................7

1. Aspectos Constitucionais ..............................................................................................10

2. Disciplina Legal..............................................................................................................16

3. Regulamento da LPD ....................................................................................................17

4. Características Gerais ...................................................................................................19

5. Questões Vernaculares.................................................................................................23

6. Principais Conceitos......................................................................................................25

7. Tipos de Deficiência.......................................................................................................29

8. Limitações Humanas.....................................................................................................35

9. Clientela Protegida.........................................................................................................44

10. Segurado Facultativo...................................................................................................48

11. Requisitos Básicos.......................................................................................................52

12. Deficiente Professor.....................................................................................................56

13. Deficiente Idoso............................................................................................................58

14. Deficiente Presidiário...................................................................................................59

15. Deficiente Rurícola.......................................................................................................60

16. Deficiente Ex-Combatente...........................................................................................62

17. Estágio Profissional......................................................................................................63

18. Servidor Público...........................................................................................................64

19. Tipos de Prestações....................................................................................................68

20. Benefício da LOAS......................................................................................................70

21. Auxílio-Doença.............................................................................................................73

22. Aposentadoria por Invalidez........................................................................................76

23. Pensão por Morte........................................................................................................79

24. Acumulação de Prestações.........................................................................................81

25. Múltipla Atividade.........................................................................................................83

26. Contagem Recíproca...................................................................................................85

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 5 29/07/2015 11:11:59

6 ◀ Wladimir Novaes Martinez

27. Volta ao Trabalho................................................................................................89

28. Renda Mensal..............................................................................................................92

29. Provas do Direito..........................................................................................................94

30. Presença de Próteses .............................................................................................. 100

31. Reabilitação Profissional .......................................................................................... 102

32. Conversão do Tempo de Contribuição .................................................................... 106

33. Doença e Deficiência ............................................................................................... 108

34. Regressão e Progressão ..........................................................................................110

35. Questões Jurídicas ....................................................................................................112

36. Ingresso do Incapaz ..................................................................................................118

37. Remissão ao RGPS ................................................................................................. 120

38. Direito Adquirido ....................................................................................................... 123

39. Direito Procedimental ............................................................................................... 126

40. Perícia Médica .......................................................................................................... 130

41. Classificação das Limitações ................................................................................... 139

42. Previdência Complementar ..................................................................................... 142

43. Acordo Internacional ................................................................................................. 144

44. Dano Moral ............................................................................................................... 146

45. Deficientes na MP n. 664/14 .................................................................................... 148

Obras do Autor................................................................................................................ 153

Anexo: L C n. 142/13 ...................................................................................................... 157

Lei n. 7.853/89 ................................................................................................................ 158

Decreto n. 8.145/13 ........................................................................................................ 163

Lei n. 13.146/15 .............................................................................................................. 168

Portaria Interministerial AGU/MPS/MF/ SEDH/MP n. 1/14 ........................................... 202

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 6 29/07/2015 11:11:59

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência ▶ 7

Introdução

Antes mesmo do Projeto de Lei Complementar (PLC) n. 277/05 ter sido aprovado no Congresso Nacional, recebemos consulta de São Paulo, nos indagando se a lei já estaria em vigor.

O PLC da Câmara dos Deputados n. 40 alterou o PLC original, resultan-do a LC n. 142/13, ora comentada. No dia 7.3.13, iniciamos estudos, sobre os dois benefícios referidos nesse PLC.

Sabíamos, então, que os eventos determinantes deles, seriam decantados e implantados seis meses depois da publicação dessa lei complementar (apo-sentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade), benefícios criados em favor das pessoas com deficiência e que despertariam significa-tivos debates científicos, quando da aplicação e da interpretação, no campo da doutrina e da jurisprudência. Principalmente, na definição básica do que é deficiência e dos seus três graus de limitações. E sua distinção das moléstias, ocupacionais ou não.

Os embaraços técnicos da verificação da inaptidão para o trabalho dos requerentes do auxílio-doença, da aposentadoria por invalidez, do auxílio--acidente e até mesmo dos dependentes do segurado, sempre geraram muitas discussões, polêmicas e entraves de toda ordem. Situam-se na esfera médica e muito pouco na jurídica, sabendo-se que a medicina não é uma ciência exata e o ramo jurídico, muito menos.

Os principais óbices a serem enfrentados pelo estudioso iniciam-se com o conceito, para não falar na definição, do que seja agravo, enfermidade, doença, incapacidade laboral, limitação e deficiência, significativamente superiores quando se tratam dos distúrbios psicológicos.

Alguns desses sinistros são gritantes. Stephen William Hawkings, inglês nascido em 1942, foi acometido de esclerose lateral amiotrófica quando tinha 21 anos, sua mobilidade é praticamente nula, mas, ele é considerado um dos maiores físicos teóricos da atualidade.

Ludwig van Beethoven compôs uma imensa obra musical, entre as quais, a catedral que é a Nona Sinfonia, a Coral, quando estava pratica-mente surdo. Vítima de uma severa diminuição de capacidade para a música, ele costumava reclamar de Deus, que lhe havia retirado um dos importantes sentidos.

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 7 29/07/2015 11:11:59

8 ◀ Wladimir Novaes Martinez

Outros exemplos são: Andrea Bocelli, Ray Charles, e muitos mais, todos eles, vítimas de insuficiência visual.

Guilhermina Martins Moreira, há cinco anos, sofre de esquizofrenia declarada em 2008, mas mesmo assim advoga (“Exemplo de superação e amor à profissão”, in Jornal do Advogado de abr. 2013, p. 25).

Henri Maria Raymond de Toulose-Lautrec (1864-1901), célebre pintor francês, sofria de distrofia poli-hipofisária e, possivelmente por isso, aos 12 anos fraturou o fêmur esquerdo, e o direito aos 14 anos; por consequência ficou com as pernas curtas e media 1,52 m.

A gaúcha Paula Pfeifer, de 31 anos, fala três idiomas com a ajuda de leitura labial e é a autora do livro “Crônicas da Surdez”, da Plexus Editora (“Deficiência invisível”, in Revista Metrópole do jornal Correio Popular de Campinas, abril de 2013. p. 18).

O Jornal do Advogado n. 384, de jun./2013, p. 26, alude a uma jovem com paralisia, que conquistou uma bolsa de estudos para a Thomas Jefferson School.

Sem jamais nos esqueceremos da fantástica Helen Adams Keller (1880-1968), que ficou cega e surda desde tenra idade e conseguiu construir uma enorme e bem-sucedida carreira. Ela se tornou célebre escritora, filóso-fa e conferencista. Mesmo sendo surda, falava francês, latim e alemão e publicou um livro “A história de minha vida” (“Helen Keller”, in Jornal de Vinhedo, de 8.6.13).

Além do exame das provas, os maiores obstáculos da aplicação da LC n. 142/13 sediam-se em: a) distinção da doença; b) conceito de deficiência; c) definição da classifi cação das três diferentes limitações e d) provas do alegado.

Verdadeiramente, diante da multiplicidade de CIDs e CIFs e situações provindas das doenças, das precariedades, nebulosidades e inexatidões dis-ciplinadoras, crê-se que será fundamental, inicialmente, o exame clínico do pretendente do benefício.

A despeito de verificações periódicas, serão enormes os ônus técnicos suscitados quando se avaliar o cenário da deficiência laboral de um segura-do por mais de 30 anos!

Tudo leva a crer que, a decantação desses conceitos iniciais somente sucederá com o passar do tempo e a formulação de uma “jurisprudência” médica, definindo-se legalmente quais são os casos que não inspiram dúvi-das, principalmente os ortopédicos.

Este trabalho não tem a pretensão de ser um livro médico nem técnico, mas um ensaio meramente prático sob os preceitos da LC n. 142/13, que chamaremos de Lei da Pessoa com Deficiência (LPD).

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 8 29/07/2015 11:11:59

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência ▶ 9

O leitor não espere aqui definições científicas, mas, tão somente observações que possam, juridicamente, contribuir para indicar aquele que possa ter direito aos benefícios. Não foi possível escapar de algumas impropriedades técnicas, fluidades e generalizações, esperando-se que a doutrina e as decisões judiciais ponham fim às duvidas.

É quase certo que, os beneficiários da LC n. 142/13 não afetarão a dis-posição discriminatória das pessoas para diminuir ou aumentar o nível da limitação. Todos têm em mente a busca da saúde, por isso dá-se o pouco que refletimos sobre uma eventualíssima deficiência autoprovocada.

Diante da complexidade da vida e de sua dinamicidade, a legislação previdenciária propicia uma enorme quantidade de questionamentos em matéria jurídica, razão pela qual 60% dos feitos em andamento na Justiça Federal têm como réu o INSS. Para se ter uma ideia dessas diferenças, veja o nosso livro: “Comentários às Súmulas Previdenciárias”, no qual examina-mos cerca de 700 condensações jurisprudenciais (!).

Posto isto, é importante pensar que muitos dos juízos apreendidos, podem ser transportados para a situação da pessoa como deficiência, de modo que uma consulta à legislação, à jurisprudência e à doutrina relativa-mente ao RGPS, será de grande utilidade.

Grande parte das ideias e dos textos do nosso livro “Os Deficientes no Direito Previdenciário” (São Paulo: LTr, 2009), foram aqui aproveitados.

Nessa segunda edição, acrescentamos o capítulo 45, que trata das pesso-as com deficiência em face do advento da Medida Provisória n. 664/14.

Com a lei 13.146, de 6 de julho de 2015 – designada como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, os direitos dessas pessoas restou melhor explicitados, vigentes a partir de 180 dias, contados de 7 de julho de 2015.

Wladimir Novaes Martinez

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 9 29/07/2015 11:11:59

10 ◀ Wladimir Novaes Martinez

Capítulo 1

Aspectos Constitucionais

A Constituição Federal tem previsão para a proteção dos trabalhadores portadores de deficiência filiados ao RGPS.

Não existe, propriamente, um Estatuto da Pessoa com Deficiência, mas, vige uma Lei dos Direitos dos Deficientes (Lei n. 7.853/89).

Quase todas as normas internacionais são declaratórias ou com nature-za de proposições, sugestões e escopos a serem alcançados futuramente.

Como sói acontecer, declarações, convenções, cartas de intenções e outros documentos são motivadores doutrinários e influenciam o Poder Legislativo dos estados nacionais, mas deixam de ser efetivamente fontes formais no sentido que se atribui à lei ordinária.

Devem ser consultados, levando-se em conta o extraordinário papel que assumem; em muitos casos, são os luzeiros que abrem trilhas para o legisla-dor ordinário.

Quando os estudiosos se reúnem para defender uma minoria social que mereça atenção maior, as suas primeiras conclusões, geralmente, são atos dessa natureza.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, tem pelo menos quatro disposições que convém reproduzir:

a) O art. II assevera: “sem distinção de qualquer espécie” (grifamos), opondo-se claramente a qualquer tipo de discriminação.

Na ocasião de sua elaboração, no pós-guerra, talvez não tivesse pensado em algumas minorias que hoje a tem como bandeira a ser desfraldada.

b) Tese confirmada no art. V: “sem qualquer distinção”.

Ou seja, sem distinções ou quaisquer distinções, portanto, incluindo os deficientes.

c) “Toda pessoa têm igual direito de acesso ao serviço público de seu país” (art. XXI.2).

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 10 29/07/2015 11:11:59

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência ▶ 11

Logo, se a pessoa com deficiência passou num concurso público, sua eventual limitação não é motivo para ser rejeitada como ente político. Evidentemente, tal redação tem de ser lida segundo os interesses do contra-tante. Quando fixa certa altura do concursando, seja eficiente ou deficiente, os que não a tiverem não se prestam para a função a ser exercida.

d) Por último, para circunscrever amplamente o universo, diz: “ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora do seu controle” (art. XXV.1).

Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente Retardadas

Designada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1971, como Declaração dos Direitos do Deficiente Mental, no seu § 7º colhe-se: “Sempre que uma pessoa mentalmente retardada for incapaz, em virtude da gravidade de sua deficiência, de exercer todos os seus direitos de maneira significativa ou se tornar necessário restringir ou negar todos ou alguns destes direitos, o procedimento usado para esta restrição ou negação precisa ser avaliado com base na avaliação da capacidade social de pessoa mentalmente retardada, por peritos qualificados, e deverá ser periodicamente sujeito a revisão com direito de apelação à autoridade superior”.

Como se vê, ela está centrada nas pessoas com deficiências mentais.

Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes

Este documento internacional de 9.12.75, expedido pela ONU, é básico para a compreensão do fenômeno jurídico a ser estudado.

Ele inicia-se fornecendo um conceito: “qualquer pessoa incapaz de asse-gurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais”.

Recomendação sobre Habilitação e Reabilitação dos Deficientes

Esta recomendação aborda, exclusivamente, os processos de habilita-ção e reabi litação.

Diz o Artigo I – Propósito:

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimento de longo pra-zo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, as quais, em interação com diversas barreiras, podem destruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com os demais.

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 11 29/07/2015 11:11:59

12 ◀ Wladimir Novaes Martinez

Convenção OIT n. 159

A Convenção da Organização Internacional do Trabalho – OIT, apro-vada na 69a Reunião da Conferência Internacional do Trabalho (Genebra, 1983), entrou em vigor em 20.6.85 (Decreto n. 51, de 25.8.85) e foi ratificada pelo Decreto n. 129, de 18.5.01.

Ela começa definindo deficiente: “todas as pessoas cujas possibilida-des de obter e conservar um emprego adequado e de progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas devido a uma deficiência de caráter físico ou mental devidamente comprovada” (art. 1). É perceptível que se concentrou na laboralidade da pessoa com deficiência.

Lei Básica dos Deficientes

A Lei n. 7.853/89 é a lei orgânica das pessoas com deficiência e foi regula-mentada pelo Decreto n. 3.298/99. Para fins previdenciários ela se submeterá ao art. 2º da LC n. 142/13, uma lei especial que revoga a geral (a despeito do seu silêncio).

As leis infraconstitucionais estão esparsas e em muitos casos desatualiza-das, jus tificando sistematização por parte do elaborador da norma, merecem um Código dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

O Código Civil resiste à adoção por parte de homossexuais e a mídia informa que muitos magistrados decidem contrariamente a essa postura anacrônica. Imaginem as dificuldades de um juiz em decidir se os ado-tantes forem deficientes.

A Resolução INSS n. 310/13 trata da acessibilidade dos servidores com deficiência.

Normas constitucionais

Além da generalidade da proteção (CF, arts. 1º, 3º, e 5º), a Carta Magna pulverizou a disciplina com princípios, recomendações e algumas disposi-ções, num total de 18 expressivas menções (sic).

Tendo em vista o art. 201, § 2º, da Carta Magna e ausência de contri-buições, tem-se que a LC n. 142/13 é inconstitucional, mas, possivelmente ninguém irá arguir esse aspecto.

Dignidade humana

Na abertura da Lei Maior, já no art. 1º, III, o texto fundamental trata do prin-cípio da “dignidade da pessoa humana”. Esse é um elevado postulado que recla-ma norma dispositiva específica correspondente e de onde defluirá tudo o mais.

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 12 29/07/2015 11:11:59

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência ▶ 13

Qualquer discriminação, preconceito ou comiseração tentada ou con-sumada, ofenderá o respeito de que a pessoa com deficiência é merecedo-ra. Sua fragilidade pessoal compensa-se com programas governamentais e ações particulares capazes de lhe assegurar o mínimo de apreço por parte de todos que o rodeiam.

Preconceitos gerais

O art. 3º, IV, da Constituição Federal fala em “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (grifamos).

Tem-se aqui um ato volitivo de boas intenções, mas, os preconceitos jamais acabarão cultural, social ou pessoalmente, se não forem enfrentados, acompanhados de um programa nacional permanente de educação que os combata até a final extinção.

Igualdade dos seres humanos

As pessoas com deficiência são diferentes das pessoas eficientes; se fossem iguais, não seriam mencionadas com tanta frequência na norma jurídica protetiva e referidos doutrinariamente com empenho pelos forma-dores de opinião. Mas, têm os menos direitos.

O caput do art. 5º da Lei Maior, retrata uma igualdade perante a lei “sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estran-geiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

No âmbito do Direito Previdenciário, uma técnica de proteção social pretende oferecer meios que tornem os deficientes cidadãos iguais aos efi-cientes (com as diferenças próprias de cada um).

Em algum momento de nossa história, pagar-lhes prestações em dinhei-ro, isentá-los de exações, garantir-lhes tratamento gratuito ou subsidiado, implantar prioridades acabará por inspirar o mais nobre escopo da norma jurídica: implantar o respeito devido.

Discriminação laboral

Na primeira tentativa de cometer efetividade aos princípios, o art. 7º, XXXI, proíbe “qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência” (grifos nossos).

Vedar a rejeição na admissão ou no pagamento de salários pode tornar-se simples mens legislatoris; esse tipo de admissão só será possível quando o qua-

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 13 29/07/2015 11:11:59

14 ◀ Wladimir Novaes Martinez

dro de carreiras das empresas permitir e o nível de salários for cifrado pela capacidade das pessoas de criarem riquezas.

Se as empresas não forem estimuladas fiscalmente para esse procedi-mento, jamais elas ministrarão cuidado especial a quem precisa. A competi-tividade do regime moderno de produção esquece até mesmo os eficientes e elege os mais produtivos, com profissionais bem-remunerados e admitidos nas empresas. Fora dessa ideia, é próprio o inalcançável em curto prazo.

Habilitação e integração

A Seção IV do Capítulo II – Da Seguridade Social, trata da assistência social (arts. 203/204). Ali se colhe mais uma disposição programática: “a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promo-ção de sua integração à vida comunitária”(art. 203, IV).

Da habilitação e da reabilitação cuidou o PBPS, no caput do seu art. 89, mas o Brasil ainda deve programas de integração no seio da sociedade.

Educação especializada

As pessoas com deficiência, em razão de suas limitações, evidentemen-te, carecem de uma educação especial e por isso tem-se um “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencial-mente na rede regular de ensino” (art. 208, III), matéria tratada na Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96).

Prevenção das limitações

O art. 227, II, deveria ter sido dividido em dois artigos: um, tratando da prevenção das limitações que acometem os jovens ou adultos e outro, especificamente regulamen tando os demais itens, mas ele diz: “criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos”.

Atendimento prioritário

A Lei n. 10.048/00, regulamentada pelo Decreto n. 5.296/04, tratou da recepção dos deficientes por parte das repartições públicas e empresas con-cessionárias de serviços que “estão obrigadas a dispensar atendimento prio-ritário, por meio de serviços indivi dualizados que assegurem tratamento diferenciado e atendimento imediato às pessoas a que se refere o art. 1º” (art.

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 14 29/07/2015 11:11:59

Benefícios Previdenciários das Pessoas com Deficiência ▶ 15

2º) — que são “as pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo” — exigências estendidas às instituições financeiras (parágrafo único do art. 2º) e às empresas de transporte coletivo (art. 3º).

Acessibilidade urbanística

As Leis ns. 10.048/00 e 10.098/00, talvez sejam aquelas que mais mere-çam o título de resgatadoras da cidadania da pessoa com deficiência, na medida em que tentam solucionar um dos maiores entraves que eles enfrentam no dia a dia, os obstáculos arquitetônicos ou urbanísticos e a falta de educação dos mais jovens.

Pontua o art. 227, § 2º, da Lei Maior: “A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência”.

Plano de Saúde

A Lei n. 8.080/90 trata da assistência à saúde, regulamentando o art. 196, da Constituição Federal e dos planos de saúde.

Estatuto do Idoso

A Lei n. 10.741/03, um estatuto dos idosos, alterou o art. 1º da Lei n. 10.048/00, tratando do atendimento prioritário (Comentários ao Estatuto do Idoso. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2011. p. 215).

Estatuto da Pessoa com Deficiência A Lei nº 13.146/15 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência

Estatuto da Pessoa com deficiência), organizou sistematicamente e discipli-nou, melhor essas pretenções, valendo a partir de 180 dias contados de 7 de julho de 2015.

Wladimir Novaes 2ª edição -fechamento Gráfica.indd 15 29/07/2015 11:11:59