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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS CAMILA MANHAS PARIS IMPLANTAÇÃO DE BIODIGESTOR E PRODUÇÃO DE BIOFERTILIZANTE Araçatuba 2010

BIO 17701020009

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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA

CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS

CAMILA MANHAS PARIS

IMPLANTAÇÃO DE BIODIGESTOR E PRODUÇÃO DE

BIOFERTILIZANTE

Araçatuba

2010

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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA

CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS

CAMILA MANHAS PARIS

IMPLANTAÇÃO DE BIODIGESTOR E PRODUÇÃO DE

BIOFERTILIZANTE

Trabalho de Graduação apresentado à

Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, do

Centro Estadual de Educação Tecnológica

Paula Souza, como requisito parcial para

conclusão do curso de Tecnologia em

Biocombustíveis sob a orientação da Profa.

Dra. Lucinda Giampietro Brandão

Araçatuba

2010

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Paris, Camila Manhas

Implantação de biodigestor e produção de biofertilizante/ Camila Manhas Paris. --

Araçatuba, SP: Fatec, 2010.

59f. : il.

Trabalho (Graduação) – Apresentado ao Curso de Tecnologia em Biocombustíveis,

Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, 2010.

Orientador: Profa. Dra. Lucinda Giampietro Brandão

1. Biodigestor 2. Biogás 3. Biofertilizante. II. Título.

CDD – 333.9539

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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA

CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS

CAMILA MANHAS PARIS

IMPLANTAÇÃO DE BIODIGESTOR E PRODUÇÃO DE

BIOFERTILIZANTE

Trabalho de Graduação apresentado à

Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, do

Centro Estadual de Educação Tecnológica

Paula Souza, como requisito parcial para

conclusão do curso de Tecnologia em

Biocombustíveis avaliado pela banca

composta pelos professores

_____________________________________

Profa. Dra. Lucinda Giampietro Brandão

Orientadora- Fatec Araçatuba

_____________________________________

Prof. Dr. Osvaldino Brandão Junior

Fatec Araçatuba

_____________________________________

Prof. Me. Alexandre Witier Mazzonetto

Fatec Piracicaba

Araçatuba

2010

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A Deus

Aos meus pais que sempre me ressaltaram da

importância da educação e me deram forças para

alcançar este objetivo. Pelos ensinamentos de curtir

a vida sem perder a responsabilidade e o respeito a

todos os seres vivos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado os bens mais preciosos: a vida, saúde e inteligência para

realização deste trabalho.

Aos meus pais João Carlos e Assunção, irmão Juliano e ao meu namorado Alexandre,

pelo apoio, carinho, pela paciência e, principalmente, pelo incondicional amor que sempre me

deram.

Aos meus amigos de muitos anos que me deram força e incentivo para seguir em

frente com meus estudos, em especial a Caroline Fioriti, Luan Wesley e o Nabil Halabi.

À minha professora de Ginástica Rítmica (Ângela Emiko), que sempre me deu os

melhores conselhos, carinho, bronca, cobrança, dedicação e amizade.

Aos amigos que fiz na graduação, em especial a Vera Lucia Vitorelli, Graziene Alves,

Luana Zar, Adalberto Teruo Ikari e Jonathan Kenji Hisatsugu pela extrema ajuda nas

disciplinas, carinho e momentos agradáveis durante esses três anos.

À Profa. Dra. Lucinda Giampietro Brandão, pela orientação durante todo o

desenvolvimento deste trabalho, pela amizade, paciência, ensinamentos, cobrança e,

principalmente, por acreditar em mim, meu sincero agradecimento.

Ao professor Hélio Moreira da Silva Junior, pelo apoio, disponibilidade, ensinamentos

e sugestões.

Ao professor Gilberto Luis Souza da Silva de Abaetetuba, cujo projeto de biogás com os

ribeirinhos inspirou o desenvolvimento deste.

A todos os professores, que apesar de todas as dificuldades presentes por sermos a

primeira turma, sempre buscaram a melhor forma de conduzir com a maestria o ensinamento

aos seus alunos.

À Faculdade de Tecnologia de Araçatuba “Professor Fernando Amaral de Almeida

Prado” Fatec Araçatuba, pela oportunidade da realização do curso de Tecnologia em

Biocombustíveis.

A todos demais profissionais da Fatec Araçatuba, em especial a Carol pela sua

eficiência, extraordinário caráter com que exerce seu trabalho e pelo seu extremo carinho

conosco.

A todas as demais pessoas que, de alguma maneira, contribuíram para a realização

deste trabalho.

Page 7: BIO 17701020009

“A vida é realmente escuridão, exceto

quando há um impulso. E todo impulso

é cego, exceto quando há saber.

E todo saber é vão, exceto quando há

trabalho. E todo trabalho é vazio

exceto quando há amor”.

Kalil Gibran

“A mente que se abre a uma

nova idéia jamais voltará ao

tamanho original”

Albert Einstein

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RESUMO

Cada vez mais há preocupação em como destinar resíduos, até então chamados de lixo, no

nosso planeta. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi a construção de um biodigestor

anaeróbico para produção de biofertilizante usando esterco bovino, um resíduo orgânico,

como substrato. O biodigestor foi construído a partir de um tambor de metal de 200 litros e

outros componentes como conexões. O esterco foi fermentado no biodigestor e o

biofertilizante produzido. Ao atingir o objetivo proposto, o biofertilizante resultante teve sua

composição analisada em relação a composição de macro e micronutrientes. Os resultados das

análises mostraram a presença de elementos importantes para adubação do solo confirmando

a viabilidade de uso de biodigestor anaeróbico para dar destino a substratos fermentescíveis

produzindo biofertilizante e quem sabe assim diminuindo o uso de fertilizantes químicos.

Palavras-chave: Biofertilizante. Biodigestor. Biomassa.

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ABSTRACT

Increasingly there is concern about how to allocate waste, then called up trash on our planet.

Therefore, the aim of this project was to build an anaerobic digester for biofertilizer

production using manure, an organic waste, as a substrate. The digester was constructed from

a steel drum of 200 liters and other components such as connections. The manure was

fermented in the biodigester and biofertilizer was provided. As soon as the aim of the project

was achieved the resulting biofertilizer had the composition analyzed in relation to the

composition of macro and micronutrients. The analysis results showed the presence of

important elements to fertilize the soil confirming the feasibility of using anaerobic digester to

dispose of fermentable substrate producing fertilizer and who knows thus decreasing the use

of chemical fertilizers.

Keys word: Biofertilizer. Digester. Biomass.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema do biodigestor modelo Chinês .................................................................. 18

Figura 2 - Esquema do biodigestor modelo Indiano ................................................................ 19

Figura 3 - Esquema do biodigestor modelo Canadense (manta de PVC) ................................ 20

Figura 4 - Esquema de um biodigestor de unidades européias................................................. 21

Figura 5 - Esquema de um biodigestor caseiro......................................................................... 21

Figura 6 - Preço anual médio do petróleo dos anos 60 até os dias atuais 2010 ........................ 24

Figura 7 - Níveis de processamento das diferentes formas de energia ..................................... 27

Figura 8 - Fontes de biomassa .................................................................................................. 28

Figura 9 - Etapas e fases de produção do biogás: etapa I (fase de hidrólise e acidogênese) e

etapa II (fase de acetogênese e metanogênese). ....................................................................... 34

Figura 10 - Esquema representativo do efeito estufa ............................................................... 36

Figura 11 - Localização do Sítio São José: a propriedade está indicada pelo balão vermelho

com denominação de sítio Contel. ............................................................................................ 43

Figura 12 - Tambor utilizado para a construção do biodigestor ............................................... 46

Figura 13 - Procedimentos realizados no preparo do cano de PVC (alimentador) na parte

inferior do antes de ser colocado dentro do biodigestor ........................................................... 47

Figura 14 - Procedimentos para acoplamento da flange e de uma torneira registro (saída do

biofertilizante) .......................................................................................................................... 48

Figura 15 - Procedimentos e materiais utilizados para vedação do biodigestor ....................... 48

Figura 16 - Biomassa ................................................................................................................ 49

Figura 17 - Procedimentos de alimentação inicial do biodigestor com esterco diluído

(substrato) ................................................................................................................................. 49

Figura 18 - Biodigestor pronto e já alimentado com esterco bovino diluído (substrato) ......... 50

Figura 19 - Bovinos da propriedade ......................................................................................... 51

Figura 20 - Biofertilizante ........................................................................................................ 52

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Produção mundial dos principais produtos para a obtenção de energia .................. 29

Tabela 2 - Quantidade de rebanho ano 2007 e 2008 ................................................................ 30

Tabela 3 - Volume de carga diária............................................................................................ 30

Tabela 4 - Relação de 1m³ de biogás com outras fontes de energia ......................................... 32

Tabela 5 - Principais gases de efeito estufa .............................................................................. 37

Tabela 6 - Principais adubos orgânicos .................................................................................... 41

Tabela 7 - Materiais usados para construção do biodigestor, quantidades e valores em reais . 45

Tabela 8 - Resultados das análises de macronutrientes presentes no biofertertilizante em 15

dias (amostra 1) e 30 dias (amostra 2) com resultado em (g/L) ............................................... 52

Tabela 9 - Resultados das análises de micronutrientes pH presentes no biofertertilizante em 15

dias (amostra 1) e 30 dias (amostra 2) com resultado em (mg/L), relação C/N e pH ............. 52

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LISTA DE ABREVIATURAS

AIE - Agência Internacional de Energia

BEN - Balanço Energético Nacional

CFCs - Florofluorcarbonos

CH4 - Metano

CO - Monóxido de Carbono

CO2 - Dióxido de carbono

GEE - Gases de Efeito Estufa

H - Hidrogênio

H2O - Água

H2S - Ácido Sulfídrico

H2SO4 - Ácido Sulfúrico

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

K - Potássio

Kcal - Quilocaloria

kg - Quilograma

m³ - Metro Cúbico

Mg - Magnésio

MME - Ministério de Minas e Energia

N - Nitrogênio

NH3 - Amônia

NH4 - Amônio

NaNO3 - Salitre do Clile

N2O - Óxido Nitroso

NH4NO3 - Nitrocalcio

(NH4)2SO4 - Sulfato de Amônia

(NH2)2CO - Uréia

NH4NO3CaSO4 - Nitrossulfocalcio

O - Oxigênio

O3 - Ozônio

OIE - Oferta Interna de Energia

P - Fósforo

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Ppmv - Partes por milhão por volume

PVC - Cloreto de Polivilina

S - Enxofre

VB - Volume do Biodigestor

VC - Volume de Carda Diária

t - Tonelada

TRH - Tempo de Retenção Hidráulica

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 14

1. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 17

1.1 Biodigestores ...................................................................................................................... 17

1.1.1 Definição ......................................................................................................................... 17

1.1.2 Materias para construção ................................................................................................. 17

1.1.3 Modelos ........................................................................................................................... 17

1.1.3.1 Chinês ........................................................................................................................... 18

1.1.3.2 Indiano .......................................................................................................................... 18

1.1.3.3 Canadense ou de fluxo tubular ..................................................................................... 20

1.1.3.4 Complexos .................................................................................................................... 20

1.1.3.5 Caseiros ........................................................................................................................ 21

1.1.4 Tipos ................................................................................................................................ 22

1.1.5 Equipamentos anexos ...................................................................................................... 22

1.1.6 Cálculo de dimensões ...................................................................................................... 23

1.2 Matrizes energéticas ........................................................................................................... 23

1.2.1 Definição ......................................................................................................................... 23

1.2.2 Energia não renovável e renovável .................................................................................. 24

1.2.2.1 Energia não renovável e renovável no Brasil e no mundo .......................................... 25

1.3 Biomassa ............................................................................................................................. 27

1.3.1 Definição e uso ................................................................................................................ 27

1.3.2 Biomassa no Brasil e no mundo ...................................................................................... 29

1.4 Bovinocultura ..................................................................................................................... 31

1.4.1 Produtos ........................................................................................................................... 31

1.4.2 Rebanho no estado de São Paulo ..................................................................................... 31

1.4.3 Dejetos de bovinos .......................................................................................................... 32

1.5 Biogás ................................................................................................................................. 32

1.5.1 Definição ......................................................................................................................... 32

1.5.2 Processo anaeróbico ........................................................................................................ 33

1.5.3 Formação do biogás ......................................................................................................... 33

1.5.3.1 Hidrólise ....................................................................................................................... 34

1.5.3.2 Acidogênese .................................................................................................................. 34

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1.5.3.3 Acetogênese .................................................................................................................. 35

1.5.3.4 Metanogênese ............................................................................................................... 35

1.5.4 Fatores que influenciam na digestão anaeróbia ............................................................... 35

1.6 Efeito estufa ........................................................................................................................ 35

1.6.1 Gases de efeito estufa ...................................................................................................... 37

1.6.2 Contribuição do metano................................................................................................... 37

1.6.3 Contribuição da bovinocultura para a poluição ambiental .............................................. 38

1.7 Fertilizante .......................................................................................................................... 38

1.7.1 Tipos de fertilizantes ....................................................................................................... 39

1.7.2 Principais adubos nitrogenados ....................................................................................... 39

1.8 Biofertilizante ..................................................................................................................... 40

1.8.1 Definição ......................................................................................................................... 40

1.8.2 Principais características do biofertilizante ..................................................................... 41

1.8.3 Formas de aplicação e efeitos do biofertilizante ............................................................. 42

1.9 Importância da adubação .................................................................................................... 42

2. MATERIAIS E MÉTODO ................................................................................................... 43

2.1 Caracterização do local de implantação do biodigestor ..................................................... 43

2.2 Local de implantação do biodigestor .................................................................................. 43

2.3 Dimensionamento do biodigestor ....................................................................................... 44

2.4 Construção do biodigestor .................................................................................................. 45

3. RESULTADOS .................................................................................................................... 51

3.1 Caracterização dos bovinos que forneceram o esterco (substrato) ..................................... 51

3.1.1 Alimentação ..................................................................................................................... 51

3.1.2 Sanidade .......................................................................................................................... 51

3.2 Biofertilizante ..................................................................................................................... 52

3.2.1 Produção .......................................................................................................................... 52

3.2.2 Análises: macro e micronutrientes .................................................................................. 52

4. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 57

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14

INTRODUÇÃO

Durante anos o setor agropecuário passou por diversas mudanças, onde as mesmas

contribuíram para sua modernização. Sendo assim, a agricultura obteve um fortalecimento de

energias fosseis que até então era abundante, mas nas últimas décadas, tais energias não têm

sido suficientes para suprir a matriz energética dos países, pois não são renováveis e podem se

esgotar futuramente, salientando que esse futuro pode não ser muito distante (BLEY JUNIOR

et al., 2009).

Na tentativa de solucionar problemas referentes à energia, países de todo o mundo

buscam novas tecnologias com objetivo de obter energia de forma renovável, sustentável,

menos poluente, mais adequada à matriz energética e, principalmente, que diminua a

necessidade de usar energias fósseis. A biomassa aparece nesse cenário como a mais velha

energia renovável usada pelo homem e como a melhor alternativa para enfrentar os problemas

futuros de falta de energia (CORTEZ et al., 2008).

As principais fontes de se obter biomassa no Brasil são de um modo geral, os resíduos

orgânicos de indústrias, agricultura e lixo urbano. O esterco bovino, quando não tratado de

forma correta, é fonte efetiva e potente de liberação de metano e dióxido de carbono na

atmosfera, contribuindo significativamente com o efeito estufa. A liberação de amônia

também pode ser prejudicial, pois seu forte odor pode afetar de forma drástica o meio. Isso

sem falar ainda da poluição de lençóis freáticos e afluentes, que podem ser contaminados

através da excessiva carga de matéria orgânica contida nesse tipo de resíduo. Sendo assim, o

crescente aumento da bovinocultura no país tem gerado um volume considerável de esterco e

um destino adequado e eficiente para o mesmo seria a produção de biogás e biofertilizante.

Estudos estão sendo desenvolvidos para produzir biofertilizantes e, consequentemente,

substituir fertilizantes minerais, diminuir consumos de reservas naturais e custos de produção

(VILLELA JUNIOR et al., 2003).

O esterco pode ser aproveitado totalmente, quando fermentado em condições

anaeróbicas. Provavelmente ele contribui para a preservação ambiental, aumentando a

produtividade do solo e melhorando a saúde da população e dos animais. A fermentação

acontece em um tanque fechado, onde a mesma só é processada em ambientes anaeróbicos,

ou seja, sem a presença de ar e na presença de um conjunto de microrganismos específicos. O

tanque muitas vezes recebe o nome de biodigestor (OLIVER et al., 2008).

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15

Os teores químicos do biofertilizante podem variar conforme a matéria prima que se

utiliza para preparo do mesmo. Apesar do uso rotineiro de biofertilizante na agricultura

orgânica, pouco se conhece sobre suas características químicas, físicas, físico-químicas,

biológicas e sua real eficiência nas culturas. O biofertilizante normalmente é aplicado em

proporções fixas do começo ao fim do desenvolvimento da cultura, tudo está interligado com

as necessidades das plantas que variam ao longo do seu crescimento (MEDEIROS; LOPES,

2008).

O uso de fertilizantes orgânicos como biofertilizante vem crescendo muito nos últimos

anos segundo Damatto Junior et al., (2006), esse crescimento pode ser percebido não apenas

no Brasil mas sim em todo o mundo e cuja utilização pode nos trazer resultados como:

viabilizar a adubação do solo de uma forma natural, sem ocasionar riscos à saúde

humana e animal, levando em conta seu alto risco patógeno in natura;

contribuir com a diminuição de gases nocivos na atmosfera, como o dióxido de

carbono (CO2) e o metano (CH4), que provocam um acréscimo violento no efeito

estufa;

agregar valores à propriedade rural, tornando possível a sustentabilidade em questões

fertilização;

dar um melhor destino aos resíduos que podem poluir o ambiente, gerando riscos à

saúde humana e ao planeta Terra de um modo geral;

obter defensivos naturais que ajudam no controle de pragas que podem prejudicar a

qualidade e produtividade de culturas;

buscar uma forma de economia, pelo fato de poder diminuir a compra de bactericidas,

fungicidas e inseticidas além de promover produção de gás metano para uso da

população como energia térmica e elétrica, assunto este não abrangido neste trabalho.

Dessa forma, não podemos deixar de citar o professor matemático Gilberto Luis Souza

da Silva da Escola Estadual São Francisco Xavier, de Abaetetuba, no Pará, que junto com

seus alunos José de Souza Ribeiro Filho e Malaliel Pinheiro Costa, realizaram o Projeto

Biogás em 2007. O trabalho nasceu em uma feira de ciência no próprio colégio. O Projeto foi

levado para várias feiras como na internacional de ciências Mouvement International pour Le

Loisir Scientifique Et Technique (MILSET), realizada em Durban na África do Sul, onde em

julho de 2007 ficaram em primeiro lugar na área de Energia e Transporte. Em, 2008

receberam em Brasília o 3º Prêmio Ciência do Ensino Médio. O Projeto do Biogás consistia

na decomposição de material orgânico (fezes de animais e de humanos) para a produção de

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16

gás metano e consequentemente biofertilizante. A idéia é recolher as fezes que seriam

despejadas nos rios da cidade, e com o uso de um biodigestor, obter gás metano que será

engarrafado para ser convertido em gás de cozinha além de produzir o biofertilizante (BLOG,

online, 2008). Este trabalho foi o motivador para idealização do projeto a ser descrito nas

próximas páginas.

Portanto, o objetivo deste trabalho é a construção de um biodigestor caseiro, usando

como substrato esterco bovino, que após fermentação anaeróbica obterá o biofertilizante, um

excelente adubo orgânico.

Page 19: BIO 17701020009

17

1. REVISÃO DE LITERATURA

Para tal serão abordados a seguir tópicos sobre biodigestores, matrizes energéticas,

biomassa, bovinocultura, biogás e biofertilizante, assim como importância da adubação.

1.1 Biodigestores

1.1.1 Definição

Segundo Oliver et al. (2008), biodigestor nada mais é do que uma câmara fechada

onde vai ser inserido o material orgânico a ser decomposto, devendo ser totalmente vedado,

impedindo a entrada de ar, criando assim um ambiente totalmente anaeróbico, ou seja, sem a

presença de oxigênio.

1.1.2 Materias para construção

Os biodigestores são muitas vezes construídos de tijolos, concreto, aço inoxidável e

outros materiais, devem ser completamente vedados para que assegurem que o material a ser

digerido não contamine o ambiente e possa ocorrer em condições normais de segurança, já

que no mesmo são produzidos gases como o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2)

(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).

1.1.3 Modelos

Existem diversos modelos de biodigestores, podendo destacar o Chinês, o Indiano , o

de manta de laminado de PVC (cloreto de polivinila) também chamado de Canadense, outros

ainda mais complexos construídos nas usinas de biogás principalmente na Europa e outros

mais simples como alguns caseiros (BARRERA, 1993).

Page 20: BIO 17701020009

18

1.1.3.1 Chinês

O modelo Chinês (Figura 1) possui uma base dentro do solo e é construído com pedras

ou tijolos e argamassa sendo seu gasômetro, que é o local de armazenamento do biogás

produzido, em forma de abóbada. O mesmo possui caixa de entrada também chamado de

tanque alimentação ou tanque de entrada para a matéria orgânica a ser digerida (BARRERA,

1993).

Figura 1 - Esquema do biodigestor modelo Chinês

Fonte: Oliver et al., 2008, p. 9

Os principais componentes de um biodigestor modelo Chinês são os seguintes: caixa

de carga, tubo de carga, câmara de biodigestão cilíndrica com fundo esférico, gasômetro em

formato esférico, galeria de descarga e caixa de descarga (LUCAR JUNIOR; SOUZA, 2009).

1.1.3.2 Indiano

O Indiano (Figura 2) é construído com uma parte subterrânea e outra fora do solo

contendo uma caixa de entrada para matéria orgânica a ser digerida e saída para biogás

formado, assim como uma saída para o material residual que forma o chamado biofertilizante.

O diferencial deste biodigestor é que possui como gasômetro uma campânula feita de metal

Page 21: BIO 17701020009

19

que deve ser periodicamente pintada devido à corrosão e possui também uma parede interna

que divide o em duas câmaras o que movimenta a matéria orgânica que flui e assim auxilia no

processo de digestão (OLIVER et al., 2008).

Figura 2 - Esquema do biodigestor modelo Indiano

Fonte: Deublein; Steinhauser, 2008, p. 202

Segundo Lucas Junior; Souza (2009), os principais componentes de um biodigestor

modelo indiano são:

a) caixa de carga (local de diluição dos dejetos);

b) tubo de carga (condutor dos dejetos diluídos da caixa de carga para o interior do

biodigestor);

c) câmara de biodigestão cilíndrica (local onde ocorre a fermentação anaeróbia com

produção de biogás);

d) gasômetro (local para armazenar o biogás produzido formado por campânula que

se movimenta para cima e para baixo);

e) tubo-guia (guia o gasômetro quando este se movimenta para cima e para baixo);

f) tubo de descarga (condutor para saída do material fermentado sólido e líquido)

g) caixa ou canaleta de descarga (local de recebimento do material fermentado sólido

e líquido);

h) saída de biogás (dispositivo que permite a saída do biogás produzido para ser

encaminhado para os pontos de consumo).

Page 22: BIO 17701020009

20

1.1.3.3 Canadense ou de fluxo tubular

O Canadense (Figura 3) é um tanque cavado no solo revestido internamente e

recoberto com manta de PVC impermeável. Possui tubo de entrada para substrato e de saída

para biogás e biofertilizante (OLIVER et al., 2008). Para Lucas Junior; Souza (2009), o

digestor conhecido como canadense é chamado de biodigestor de fluxo tubular, o qual possui

uma construção simplificada do tipo horizontal com câmara de biodigestão escavada no solo e

com gasômetro do tipo inflável feito de material plástico ou similar.

Figura 3 - Esquema do biodigestor modelo Canadense (manta de PVC)

Fonte: Oliver et al., 2008, p. 9

Embora o biodigestor descrito apresente a vantagem de ser de fácil construção, possui

menor durabilidade como no caso da lona de plástica perfurar e deixar escapar gás (LUCAR

JUNIOR; SOUZA, 2009).

1.1.3.4 Complexos

Os biodigestores de grande porte são construídos com base de concreto armado, com

tubulações adequadas, bombas, trocadores de calor, agitadores, dois ou mais reatores (Figura

4). A unidade ainda possui equipamentos de controle de mais de 18 parâmetros diferentes

desde temperatura, volume de carga, volume de saída controle de pH, controle de pressão,

Page 23: BIO 17701020009

21

controle de acidez entre outros. Todo este controle é feito de forma automatizada

(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).

Figura 4 - Esquema de um biodigestor de unidades européias

Fonte: Deublein; Steinhauser, 2008, p.201

1.1.3.5 Caseiros

O biodigestor caseiro (Figura 5), geralmente pode ser construído em tambores de 200

litros que pode ser de PVC ou de metal. Possui entrada para matéria orgânica e saída para gás

e biofertilizante (ARRUDA et al., 2002).

Figura 5 - Esquema de um biodigestor caseiro

Fonte: Arruda et al., 2002, p. 7

Page 24: BIO 17701020009

22

Um biodigestor caseiro que também foi construído e premiado como citado

anteriormente na introdução, foi desenvolvido por Gilberto Luis Souza da Silva e seus alunos.

O projeto consistiu na construção de biodigestores que pudessem ser adquirido ou feito por

pessoas de baixo poder aquisitivo, pois o material utilizado na construção do biodigestor

foram dois tambores de 200 L cada, dois registros de 1/2”, mangueira de gás e dois pinos de

panela de pressão e o filtro foi construído comcano de PVC de ½”, conexões, palha de aço

enferrujada e pelo de rabo de boi. A matéria orgânica utilizada foi o esterco de boi e de porco

(BLOG, online, 2008).

1.1.4 Tipos

Além dos modelos de biodigestores temos os reatores com dois tipos de alimentação

diferentes, sistema de batelada e o de fluxo contínuo. Os reatores do sistema de batelada são

carregados com substrato de uma só vez, após fechado ele ainda apresenta certa quantidade de

ar, que é consumido por alguns microrganismos aeróbios e anaeróbios facultativos ainda no

início do processo, também chamada de etapa hidrolítica. O gás gerado pode ser usado

durante o processo ou ser armazenado em gasômetro separado. Após reação completa ele é

esvaziado, e o sistema começa novamente (BARRERA, 1993).

Todos os tipos de biodigestores apresentam vantagens e desvantagem, mas

basicamente o mais importante é que apresentem total ausência de ar, ou seja, um ambiente

anaeróbico para o bom desenvolvimento das bactérias envolvidas no processo. A escolha do

tipo de um biodigestor depende principalmente das condições locais, disponibilidade de

substrato, experiência e conhecimento do construtor, investimento envolvido, entre outros

fatores. Mas qualquer digestor construído, caso seja corretamente instalado e operado, dará

uma boa produção de gás (COMASTRI FILHO, 1981).

1.1.5 Equipamentos anexos

Muitos biodigestores podem apresentar aquecedores ou trocadores de calor, a

necessidade do mesmo depende da quantidade de substrato e da possibilidade de ocorrer

perdas de calor na superfície do biodigestor, no caso de digestores mais complexos. O

aquecimento é muito importante nos processos com biodigestores contínuos, pois,

Page 25: BIO 17701020009

23

dependendo do volume de substrato analisa-se o grau de aquecimento, ou seja, a diferença de

temperatura desse mesmo substrato e sua capacidade de ser aquecido. Portanto, dependendo

do tipo de tanque, este deve ser isolado termicamente para evitar essas possíveis perdas de

calor (DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).

1.1.6 Cálculo de dimensões

De acordo com Oliver et al. (2008), é possível calcular a dimensão do biodigestor

usando uma fórmula, mostrada abaixo, desde que se tenha a carga diária de matéria orgânica

colocada no digestor e o tempo de retenção, ou seja, o tempo em que o substrato demora para

ser degradado.

VB = VC x TRH

VB = Volume do Biodigestor (m³)

VC = Volume de Carga Diária (matéria orgânica + água) (m³ /dia)

TRH = Tempo de Retenção Hidráulica (dias)

1.2 Matrizes energéticas

1.2.1 Definição

A matriz energética representa a oferta de energia disponível em cada país, como por

exemplo: os combustíveis fósseis e atualmente biomassa como fonte de energias renováveis.

A análise das mesmas é de grande importância para o planejamento do setor, com o objetivo

de garantir a produção e seu uso adequado, permitindo, inclusive, as projeções futuras

(GOLDENBERG et al., 2008).

Page 26: BIO 17701020009

24

1.2.2 Energia não renovável e renovável

O combustível fóssil, fonte de energia não renovável, representa 80% do consumo

mundial de energia e esse consumo vem crescendo a cada ano, sendo que entre 2003 e 2004 a

média chegou a 3,1% anual. Essa é uma situação que não pode continuar por muito tempo,

devido não apenas à escassez gradativa das reservas de combustíveis fósseis, mas também

pelos danos causados ao meio ambiente resultantes do seu uso, destacando-se entre eles,

principalmente o aquecimento global. Além disso, os preços do petróleo (Figura 6) e seus

derivados atingiram recordes históricos. Mesmo que mantendo o crescimento econômico

mundial, não há perspectivas, de que os preços dos mesmos declinem sensivelmente nos

próximos anos (CORTEZ et al., 2008; GOLDEMBERG et al., 2008).

Figura 6 - Preço anual médio do petróleo dos anos 60 até os dias atuais 2010

Fonte: Goldemberg, 2007, p. 15

Ultimamente muitos países buscam obter uma matriz mais diversificada, pois por meio

de pesquisas concluíram que se depender de uma só fonte de energia pode sofrer escassez no

abastecimento futuro ou enfrentar crises econômicas que venham desestabilizar

completamente o setor (HOLLANDA; ERBER, 2005; DEVIDE, 2000).

Dentre as várias fontes renováveis, a biomassa é considerada uma das mais

promissoras em comparação às demais, onde as crescentes explorações dos recursos naturais

estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento das nações. Assim, com o tempo, os

países que dispuserem de tecnologias para conversão dessas fontes terão capacidade de se

tornar auto-sustentáveis em questões energéticas (GOLDEMBERG et al., 2008).

Page 27: BIO 17701020009

25

O consumo excessivo das energias não renováveis tem sido um assunto bastante

discutido, principalmente pelo uso exagerado que contribui com o desmatamento, degradação

do solo e principalmente com a poluição. Várias consequências provocadas por essas fontes

são bem conhecidas pela humanidade, bem como as alterações climáticas e o consequente

aquecimento global do planeta, contribuindo para o efeito estufa que tem como o metano

(CH4) e o dióxido de carbono (CO2), seus principais vilões (GOLDEMBERG et al., 2008).

Há algum tempo atrás, num passado não muito remoto, não havia grande preocupação

por parte de líderes mundiais com as fontes de energia convencionais, pois estas eram

acessíveis e abundantes e também não existia grande preocupação por parte dos mesmos em

relação à poluição, visto que há pouco tempo esse fato tem se tornado alarmante (CORTEZ et

al., 2008).

Em contrapartida houve uma mudança acentuada a partir da década de 70, onde foi

deflagrada a crise do petróleo. Nessa época, nações árabes, principais produtores de petróleo,

resolveram usar seus produtos como arma econômica, deixando claro para os exportadores

que o aumento do preço não dependia apenas do esgotamento do mesmo, mas também da

vontade de seus produtores de vender (GOLDEMBERG et al., 2008).

De acordo com Vieira; Silva (2006), nas décadas de 70 e 80 houve um elevado preço

da energia internacional decorrente da situação do petróleo na época. Com as incertezas de

abastecimento de energia muitos países buscaram estratégias de racionamento e

desenvolvimento de fontes alternativas, para garantir as necessidades básicas de consumo.

Evidentemente, as grandes guerras foram geradas principalmente na busca de dominar áreas

produtoras dessas fontes. Diante disso, qualquer questão energética tornava-se extremamente

preocupante e ameaçadora para qualquer governo.

1.2.2.1 Energia não renovável e renovável no Brasil e no mundo

O Brasil pode ser considerado um país com muitas vantagens para liderar o vasto

mercado de energia renovável, tornando-se auto-sustentável nesse setor, pois possui grande

disponibilidade de terras sem competir com o setor de alimento, grande quantidade de matéria

orgânica disponível que pode ser usada como substrato, uma das melhores tecnologias de

ponta no setor, entre outros. Vantagens essas que muitos outros países não possuem. No

Brasil, em 2007, cerca de 50% da Oferta Interna de Energia (OIE), tem origem em fontes

renováveis, enquanto que no mundo essa taxa é de 12,9% e nos países membros da

Page 28: BIO 17701020009

26

Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD) é de apenas 6,7%.

Desta participação da energia renovável, 15,9% correspondem aos produtos originados da

cana-de-açúcar – bagaço de cana para fins térmicos e geração de eletricidade, além do melaço

e caldo utilizados para produção de etanol – e 14,9% correspondem à geração hidráulica

(MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2008).

Apesar de o Brasil obter a maior oferta de energia proveniente de fontes renováveis,

por razões variadas e algumas não conhecidas, o governo brasileiro pouco tem investido em

planejamento energético, pois é necessário um grande incentivo por parte do mesmo. Quando

existiram tais investimentos só eram analisados quando o país passava por crises,

principalmente em épocas de apagões, onde resolvidas tais crises, o estudo era praticamente

esquecido. Dessa maneira, o planejamento é de suma importância para o país, não apenas em

casos emergentes, levando em conta a alta disponibilidade de biomassa existente e não

utilizada (GOLDEMBERG et al., 2008).

O Brasil tem um vasto campo de fontes de energia, onde é necessária uma análise

profunda de cada uma delas para conhecer suas reais disponibilidades, utilização e melhor

opção. Dessa forma, baseado em tais resultados, incentivar o uso das mesmas. Os autores

ressaltam ainda que o país tem apenas um único instrumento para verificar o consumo de

energia, o Balanço Energético Nacional (BEN), seus dados são publicados no Ministério de

Minas e Energia (MME) anualmente. O Balanço Energético Nacional (BEN) apresenta, para

cada ano, um quadro-síntese dos fluxos de todas as modalidades de energia, dando uma visão

abrangente da origem (nacional ou importado) das fontes, das transformações das fontes de

energia disponíveis na natureza (petróleo, hidráulica, carvão, urânio, madeira, cana-de-açúcar

etc.) e as modalidades de uso final (eletricidade, gasolina, diesel, querosene, carvão vegetal,

álcool etc.), segundo as principais classes de consumo (HOLLANDA; ERBER, 2005).

Apesar de todo o contexto analisado pelo BEN, tal análise não tem sido suficiente

para um planejamento coerente, pois suas informações não explicam as finalidades do uso das

energias. Sendo assim, as formas de energia, podem ser divididas em: primária, secundária,

final e energia útil, onde a expressão energia útil designa as poucas finalidades – calor/frio,

luz, movimento e efeito eletro-químico – nas quais as energias finais são efetivamente

aproveitadas pelos consumidores, para obter bens e serviços, (ANGONESE, 2006,

HOLLANDA; ERBER, 2005; DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008) (Figura 7).

Page 29: BIO 17701020009

27

Figura 7 - Níveis de processamento das diferentes formas de energia

1.3 Biomassa

1.3.1 Definição e uso

Todas as plantas e animais do sistema ecológico pertencem à biomassa. Além disso,

nutrientes, dejetos e bio-resíduos são considerados biomassa. Apesar da biomassa ser rica em

carbono a mesma não é considerada um fóssil. O termo biomassa se refere a um vasto campo

de materiais, com variadas e infinitas finalidades, podendo ser utilizada como combustível ou

até mesmo como matéria prima. A biomassa pode ser obtida de vegetais não-lenhosos, de

Tecnologia de Transporte

e distribuição

Tecnologia de Uso Final

Energia Útil

Transporte, calor, frio, processos,

uso energético

Carros, caldeiras, co- geradores,

lâmpadas, motores

Energia Uso Final

Liquefeito, comprimido,

eletricidade distribuída

Gasoduto, linha de transmissão,

oleodutos

Biogás, biodiesel, álcool, gasolina,

querosene

Poços de extração, eólica,

biodigestor, hidrelétricas

Tecnologia de

Transformação

Energia Secundária

Energia Primária

Perdas de energia

Petróleo, Gás Natural, Vento,

Urânio, Biomassa

Produção

Consumo

Final

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28

vegetais lenhosos, como é o caso da madeira e seus resíduos, e também de resíduos orgânicos,

nos quais encontramos os resíduos agrícolas, urbanos e industriais (Figura 8). Assim como

também se pode obter biomassa dos biofluidos, como os óleos vegetais, por exemplo,

mamona e soja. A utilização da biomassa, como fonte de matriz energética, por países que

aderiram a tal tecnologia, tem sido reconhecida como precursora de um ato estratégico para o

futuro, pois trata-se de uma fonte renovável com baixo custo, com aproveitamentos dos

resíduos que ainda podem ser utilizados como biofertilizantes, sem contar seu potencial

menos poluente em relação às fontes convencionais. (CORTEZ, et al., 2008, DEUBLEIN;

STEINHAUSER, 2008).

Figura 8 - Fontes de biomassa

Atualmente a principal forma de obter energia da biomassa é por meio de resíduos

orgânicos, pois os mesmos possuem grande potencial para tal produção, sempre levando em

conta as técnicas de exploração, que tornará o processo viável ou não. Daqui a 20 anos o

consumo total de energia no Brasil, cerca de 30% será proveniente de energia renovável, tal

energia hoje só representa 11,4% (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2008).

A Tabela 1 apresenta a produção mundial dos principais produtos que podem ser

utilizados para obter energia.

Resíduos

orgânicos

Industrias

Urbanos

Agrícolas

Page 31: BIO 17701020009

29

Tabela 1 - Produção mundial dos principais produtos para a obtenção de energia

Matéria- Prima Produção (Mt) Produção de resíduos (Mt)

Cana (bagaço) 1.318.178.070 395.453.421,0

Arroz (casca) 608.496.284 172.934.643,9

Mandioca (rama) 195.574.112 58.261.527,96

Milho (palha e sabugo) 705.293.226 934.442.995,1

Soja (restos de cultura) 206.409.525 320.966.811,4

Algodão 67.375.042 16.843.760,5

Beterraba 237.857.862 -

Fonte: Cortez et al., 2008, p. 17

1.3.2 Biomassa no Brasil e no mundo

A principal fonte de biomassa no Brasil é aquela gerada com resíduos animais,

humanos, vegetais e lixos urbanos. Os resíduos animais representam importante quantidade

de matéria-prima para a obtenção de energia gerada pelos principais rebanhos (bovino, ovino

e suíno), e os países que possuem maior possibilidade para o seu aproveitamento são o Brasil

em gado bovino e a China nos gados ovino e suíno, ultrapassando 160 milhões de cabeças

para cada rebanho. Os resíduos de animais são analisados de acordo com a quantidade

produzida, onde esta produtividade pode variar dependendo do tipo de criação desses mesmos

animais, seja no tipo de alimentação ou nas maneiras que são tratadas no próprio

confinamento. No Brasil os resíduos oriundos da criação de gado, figuram entre os mais

importantes, devido à grande quantidade de rebanhos existentes. A Tabela 2 apresenta a

quantidade de rebanho existente no Brasil no ano de 2007 e 2008. Vale á pena lembrar que

ainda existem outros tipos de animais que também eliminam seus desejos e podem ocupar um

importante papel em tal estudo, entre eles podemos citar os suínos, ovinos e caprinos.

Atualmente a produção mundial dos principais produtos agrícolas utilizados na obtenção de

energia é grande, e tem muitas possibilidades de incrementar sua competitividade energética

(CORTEZ et al., 2008).

Page 32: BIO 17701020009

30

Tabela 2 - Quantidade de rebanho ano 2007 e 2008

Tipo de

rebanho Quantidade de cabeça Tipo de rebanho Quantidade de cabeça

2007 2008 2007 2008

Bovino 199.752.014 202.287.191 Caprino 9.450.312 9.355.220

Suíno 35.945.015 36.819.017 Ovino 16.239.455 16.628.571

Equino 5.602.053 5.541.702 Galos, frangas,

frangos e pintos

930.040.524 994.305.374

Asinino 1.163.316 1.130.795 Galinhas 197.618.060 207.711.504

Muar 1.343.279 1.313.526 Codornas 7.586.732 8.978.316

Bufalino 1.131.986 1.146.798 Coelhos 290.669 262.514

Fonte: IBGE, 2007-2008, p.6

O esterco produzido pelos animais apresenta volume considerável de esterco.

Geralmente uma vaca leiteira com 450 kg, produz durante o ano 12 toneladas de esterco, os

suínos e ovinos com mesmo, resulta de 16 e 6 t/ano. Para calcular o volume da carga diária

(Tabela 3), é necessário conhecer a média da massa de dejetos produzida e somar a

quantidade de água, observando a relação esterco/água. Utilizando os dejetos da caprino-

ovinocultura, o tempo de retenção hidráulica é de aproximadamente 45 dias. No entanto,

quando se trata de bovinos e suínos, esse tempo de retenção cai para 35 dias (OLIVER et al.,

2008).

Tabela 3 - Volume de carga diária

Espécie

de animal

Esterco

por animal

(kg)

Quantidade

por animal

Total de

esterco

(kg)

Relação

esterco:

água

Volume

de água

(m³)

Volume

da carga

(m³)

A B C=A x B D E= C x D F= C + E

Caprino/

ovino

0,5 1:4 a 5

Vaca 7 1:1

Vaca

leiteira

25 1:1

Bezerro 2 1:1

Boi 15 1:1

Suíno 4 1:1,3

Total

Fonte: Oliver et al., 2008, p. 15

Page 33: BIO 17701020009

31

1.4 Bovinocultura

1.4.1 Produtos

A bovinocultura tem diversas finalidades dentro do contexto de produção de matéria

prima e trabalho. Os produtos oriundos dos bovinos mais utilizados e conhecidos são a carne

e o leite. Porém, hoje em dia, através de investimentos tecnológicos em propriedades rurais, é

possível usar os dejetos produzidos por tais animais para geração de biogás, onde

anteriormente esses mesmos dejetos eram utilizados na forma in natura como esterco para

adubação em forragens e hortaliças de modo inadequado e mal elaborado, podendo até trazer

riscos de alto grau para o meio ambiente. Com um rebanho estimado em 11,6 milhões de

cabeças e composto por 99,5% de bovinos e 0,5% de bubalinos, o estado tem na pecuária de

corte bovina sua maior representatividade quantitativa e econômica. Dentro do total de

bovinos, 54% é destinado à produção de carne, 34,6% compõem o chamado rebanho misto e

11,4% formam o rebanho leiteiro, enquanto o rebanho bubalino tem como principal finalidade

a produção de leite. (SILVA, 2008).

1.4.2 Rebanho no estado de São Paulo

A criação de bovinos tem grande influência sobre a economia do país, pois a pecuária

é tida como uma das mais velhas profissões existentes, em que a domesticação e criação de

animais tiveram por objetivo principal a geração de rendas e empregos. A importância da

bovinocultura no Estado de São Paulo é amplamente reconhecida por diferentes fatores. A

distribuição territorial da pecuária bovina de corte paulista se concentra principalmente na

região oeste, onde um terço do rebanho total se encontra apenas em cinco municípios:

Presidente Prudente com 7,5%; Presidente Venceslau, 7,3%; Andradina, 5,3%; General

Salgado possui 4,7%; e São José do Rio Preto, 4,2%. A pecuária leiteira localiza-se no oposto

do estado, no Vale do Paraíba, onde o destaque de produção fica por conta da regional de

Pindamonhangaba que responde por 9,9% do total do leite produzido (SILVA, 2008).

Page 34: BIO 17701020009

32

1.4.3 Dejetos de bovinos

A criação de gado leiteiro, em sistemas de confinamento, gera um volume

considerável de dejetos, onde muitas vezes o manejo impróprio é responsável pela elevada

poluição ambiental. Os impactos gerados pelo setor pecuário deixaram de ser uma

preocupação pontual, passando a ser uma situação alarmante (BLEY JR et al. 2009).

Segundo relata Manso; Ferreira (2007), em algumas propriedades rurais, a energia

utilizada para diversos fins vêm do esterco. Esta é chamada de energia limpa e que a matéria-

prima, para tal finalidade é amplamente disponível, visto que o Brasil tem milhões de bovinos

eliminando diariamente toneladas de excremento. Para se ter uma idéia do potencial brasileiro

para gerar energia a partir de dejetos, cerca de 18% do peso de um boi de 468 quilos, pronto

para deixar a fazenda rumo ao frigorífico, corresponde à fezes e urina.

1.5 Biogás

1.5.1 Definição

É uma mistura gasosa produzida a partir da decomposição anaeróbica de materiais

orgânicos, composto de 55-70% de metano (CH4) e 30-45% dióxido de carbono (CO2), com

pequenas quantidades de ácido sulfídrico (H2S) e amônia (NH3), traços de hidrogênio (H),

nitrogênio(N), monóxido de carbono (CO), carboidratos e oxigênio (O) (DEUBLEIN;

STEINHAUSER, 2008).

Conforme Oliver et al.(2008), o biogás é um gás combustível e renovável, sendo que

sua queima ocorre de forma limpa e tem sido usado como combustível e fonte de energia

alternativa. Seu poder calorífico gira entre 5000 a 7000 Kcal/m3. Pode-se comparar a relação

de 1m³ de biogás com outras fontes de energia (Tabela 4).

Tabela 4 - Relação de 1m³ de biogás com outras fontes de energia

0,61 litros gasolina; 0,45 litros gás de cozinha;

0,58 litros de querosene; 1,50 quilos de lenha;

0,55 litros óleo diesel; 0,79 litros de álcool hidratado

Fonte: Oliver et al., 2008, p. 12

Page 35: BIO 17701020009

33

1.5.2 Processo anaeróbico

O biogás é resultante de processo de digestão anaeróbica, sendo que tal processo tem

sido utilizado em muitas aplicações que demonstraram a sua capacidade de tratar resíduos

sólidos e efluentes líquidos constituídos principalmente de matéria orgânica, permitindo

também a reciclagem dos nutrientes (ZANETTE, 2009).

1.5.3 Formação do biogás

Segundo Deublein; Steinhauser (2008), a formação do metano ocorre de forma

espontânea, quando a biomassa ou matéria orgânica (substrato) composta de carboidratos,

lipídeos, proteínas entre outros nutrientes, em ambientes isentos de ar e com umidade, ainda

na presença de bactérias, se decompõem formando metano e impurezas. O enxofre (S) fica no

resíduo e uma parte do dióxido de carbono se liga a amônia, o resultado em geral é uma

composição do biogás de CH4 : CO2 : 71% : 29%”. A formação do biogás a partir da biomassa

resulta, em geral, da equação:

CcHhOoNnSS+ yH2O xCH4+ nNH3 +sH2S+ (c - x) CO2

A geração do biogás passa necessariamente por quatro fases sendo elas hidrólise,

acidogênese, acetogênese e metanogênese (Figura 9). Durante o processo de produção, é

indispensável que as reações químicas ocorram de forma sinérgica, sendo que as fases 1-2 e

3-4 possuem uma relação íntima, logo as mesmas são organizadas em dois estágios (I e II),

em que os níveis de degradação devem ter o mesmo tamanho (DEUBLEIN; STEINHAUSER,

2008).

Page 36: BIO 17701020009

34

Figura 9 - Etapas e fases de produção do biogás: etapa I (fase de hidrólise e acidogênese)

e etapa II (fase de acetogênese e metanogênese).

1.5.3.1 Hidrólise

Segundo Deublein; Steinhauser (2008), a hidrólise cataboliza macromoléculas como

proteínas, lipídeos e carboidratos, que são degradados em moléculas menores solúveis por

enzimas de bactérias anaeróbicas facultativas. Os carboidratos geralmente demoram poucas

horas para se decompor ao contrário das proteínas e lipídeos que levam dias.

1.5.3.2 Acidogênese

Os produtos da fase hidrolítica são usados como substratos para a fase acidogênica.

Durante o período de fermentação os hidrogênios podem formar intermediários que

prejudicam a fermentação por inibição de bactérias acetogênicas importantes para próxima

fase. Sendo assim, quanto maior a pressão de hidrogênio menor será a formação de acetato

(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).

Hidrólise Acidogênese Acetogênese Metanogênese

Monossacarídeos

Ácidos Graxos

Aminoácidos

Ácidos de

cadeia curta

Alcoóis

CO2 e H2O

CH4

CO2

H2O

H2S

NH3

NH4

Alcoóis

CO2 e H2O

Acetato

H2

Estágio I: fases 1- 2

Estágio II: fases 3- 4

Biogás

Carboidratos

Lipídeos

Proteínas

Page 37: BIO 17701020009

35

1.5.3.3 Acetogênese

Conforme Deublein; Steinhauser (2008), os produtos da fase acidogênica são usados

pelas bactérias da fase acetogênica como substrato. Nessa fase temos a transformação de H2 e

CO2 em ácido acético. As bactérias dessa fase produzem obrigatoriamente H2, mas apesar

disto, elas só conseguem obter energia necessária para sobreviver quando têm concentrações

baixas do mesmo, como já descrito anteriormente. Quando ocorre o aumento da pressão de

H2, as bactérias fabricam produtos que não podem ser usados pelas metanogênicas, pois elas

só utilizam CO2, H2 e acetato.

1.5.3.4 Metanogênese

A fase de produção do metano (CH4) deve estar extremamente isenta de ar, pois as

bactérias dessa fase são anaeróbias restritas. As mesmas produzem metano a partir de duas

fontes principais, ou seja, produzem CH4 a partir do acetato ou da combinação CO2 e H2

(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008).

1.5.4 Fatores que influenciam na digestão anaeróbia

Durante todos os processos de fabricação do biogás alguns parâmetros sempre devem

ser mantidos em condições específicas. Entre os vários fatores que influem na atividade das

bactérias como, por exemplo, as metanogênicas, destaca-se a quantidade de matéria seca, a

concentração de nutrientes, o pH, a temperatura interna do digestor, o tempo de retenção, a

concentração de sólidos voláteis, a relação carbono/nitrogênio, a presença de substâncias

tóxicas, entre outros fatores, no interior do biodigestor (COMASTRI FILHO,1981).

1.6 Efeito estufa

O efeito estufa é um fenômeno natural para manter a temperatura do planeta em

equilíbrio, onde a radiação em ondas curta do Sol é responsável por aquecer a Terra e a

atmosfera. Esse aquecimento não é suficiente para mantê-las aquecidas, por isso há

Page 38: BIO 17701020009

36

necessidade dos gases estufa. Sendo assim, a radiação do Sol é absorvida pelo solo que

reemite em forma de onda longa (Figura 10). Essa radiação se perderia toda no espaço se não

fosse os gases de efeito estufa que absorve parte dessa radiação e devolve para a superfície da

Terra. Sem o efeito estufa natural a temperatura na Terra seria cerca de -32° C a -23° C, seria

extremamente frio. Com o aumento da concentração de gases oriundos da poluição causada

pelo homem, a camada do efeito estufa fica mais espessa de modo a dificultar a liberação de

radiação para fora da Terra. Essa radiação é devolvida o que elevará drasticamente a

temperatura do planeta (ALVES; FERRER, 2006).

Figura 10 - Esquema representativo do efeito estufa

Embora o Brasil possua uma matriz energética considerada mais limpa, por ser

baseada em sua maior parte em hidrelétricas e com uma parcela considerável de

biocombustíveis, o país figura em 4º lugar entre os maiores emissores de gases estufa, em

função das queimadas oriundas do desmatamento, principalmente da Amazônia. Isto

representa 75% das emissões brasileiras (WWF - BRASIL, 2008).

2- A maior fração passa pela

atmosfera para aquecer a

Terra, sendo depois devolvida

em ondas longas ao espaço.

1- A energia solar

chega à Terra em

ondas curtas.

3- Uma parcela do que é

devolvido reflete na

atmosfera e volta para a

Terra, mantendo o calor -

Efeito Estufa.

Page 39: BIO 17701020009

37

1.6.1 Gases de efeito estufa

Segundo Alves; Ferrer (2006), quase todos os gases de efeito estufa originam- se da

natureza, entre eles temos: metano (CH4), vapor de água (H2Ov), dióxido de carbono (CO2),

óxido nitroso (N2O), ozônio (O3), já o clorofluorcarbonos (CFCs) foram desenvolvidos

sinteticamente. Eles possuem um tempo de vida na atmosfera e potencial de aquecimento

global como mostra a Tabela 5.

Tabela 5 - Principais gases de efeito estufa

Espécies Tempo de vida

(anos)

Potencial de aquecimento global

20 100 500

Dióxido de carbono

(CO2)

Variável 1 1 1

Metano (CH4) 12 ±3 56 21 6,5

Óxido Nitroso (N2O) 120 280 310 170

Ozônio (O3) 0,1- 0,3 n.d. n.d. n.d.

Fonte: Alves; Ferrer, 2006; p.19

1.6.2 Contribuição do metano

O metano (CH4) é um gás incolor com pouca solubilidade em água e altamente

inflamável em contado com o ar. É o hidrocarboneto mais simples, apolar, tetraédrico e o

mais abundante na atmosfera terrestre, com uma concentração média global de 1,72 ppmv

(partes por milhão por volume) em 1994. A formação do mesmo depende de processos

biológicos que ocorrem naturalmente a partir da decomposição da matéria orgânica, em

ambiente anaeróbico e na presença de microrganismos naturais que trabalham em sinergia.

Além de encontrar o metano em plantas para compostagem, lixos residenciais e industriais e

pântanos, a formação do metano pode ocorrer também no trato digestivo de ruminantes, onde

recebe o nome de fermentação entérica e ocorre no rúmen do animal. O metano é liberado

para a atmosfera a partir da superfície terrestre, onde os processos biológicos são responsáveis

por aproximadamente 80% da emissão global, e os restantes 20% devem-se aos processos de

extração e distribuição de gás natural e carvão, e à queima de combustíveis fósseis (AVALÁ

et al.,1999).

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38

A concentração de metano na atmosfera tem aumentado nas últimas décadas. As

emissões a partir de fontes naturais mantêm-se razoavelmente constantes, enquanto que as

antropogênicas aumentaram. Sendo assim, podemos diminuir a emissão de metano com a

combustão simples e ao final do processo obter gás carbônico. Diante dos grandes problemas

gerados pelos gases, líderes mundiais se unem com a finalidade de buscar soluções e

incentivos para diminuir a emissão desses gases. Uma boa alternativa encontrada para o

problema em relação à geração de resíduos produtores de metano na pecuária é a coleta de

esterco para produção de biogás, dando um melhor destino ao mesmo e pode ser

posteriormente queimado, encontrando assim uma boa opção para melhorar os danos

causados (ALVES; FERRER, 2006).

1.6.3 Contribuição da bovinocultura para a poluição ambiental

O manejo incorreto dos resíduos da pecuária, em sistemas de confinamento, onde

ainda não existe um melhor destino aos mesmos, tem causado grandes danos ao meio

ambiente, principalmente em relação ao efeito estufa, pois como se sabe, o esterco bovino em

decomposição libera grande quantidade de gás metano, sendo que esse mesmo gás contribui

significativamente para o aquecimento global. Os efluentes provenientes de sistemas de

confinamento, em alguns casos já contribuem para contaminação dos recursos hídricos,

superando, inclusive, os dejetos de indústrias, tidas até então como grande causadora da

degradação ambiental. A utilização dos nutrientes proveniente do esterco de forma correta

pode ajudar não apenas com a diminuição da poluição ambiental, mas também dos altos

custos com fertilizante e alimentos. A principal fonte de poluição no esterco é o nitrogênio

(N), que pode ser perdido para o ar, na forma de amônia, ou para os solos e a água, na forma

de nitrato, sendo que o fósforo (P) também tem participação como poluente. Caso o esterco

sem tratamento adequado seja distribuído no solo saturado de P, haverá contaminação das

águas superficiais e do lençol freático (CAMPOS, 2001; OLIVER et al., 2008).

1.7 Fertilizante

Adubo ou fertilizante é um produto natural ou químico, este último feito pela

indústria, que contém um ou mais dos nutrientes que as plantas necessitam para sua

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39

sobrevivência. Os adubos, na maioria das vezes são capazes de quadruplicar a produção de

uma cultura, no entanto para o agricultor não é suficiente que o adubo apenas aumente a

produção, mas é importante também que o seu lucro seja aumentado. O nitrogênio é o

elemento que a planta necessita em maior quantidade. As raízes absorvem o nitrogênio do

solo sob a forma de nitrato, como ressalta o próprio autor, o nitrogênio orgânico se transforma

em nitrato através de um processo chamado mineralização. O nitrogênio dá cor verde as

plantas, acelera o seu crescimento, aumenta a quantidade de folhas, melhora a qualidade das

hortaliças comestíveis, aumenta o teor de proteínas de plantas alimentícias, alimenta os

microrganismos do solo que decompõem a matéria orgânica (MALAVOLTA, 1979).

1.7.1 Tipos de fertilizantes

Malavolta (1979) classifica os fertilizantes em:

Fertilizante simples: formados por compostos químicos, com um ou dois

macronutrientes primários, entre eles nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) e

alguns macronutrientes secundários como o cálcio (Ca), magnésio (Mg) e o enxofre

(S).

Fertilizante misto: resultante da mistura de dois ou mais fertilizantes simples.

Fertilizante complexo: contem dois ou mais macronutrientes primários

resultantes do processo tecnológico, formando dois ou mais compostos químicos.

1.7.2 Principais adubos nitrogenados

Segundo Malavolta (1979), a amônia é o ponto de partida para a fabricação da maioria

dos nitrogenados e através da mesma é possível produzir adubos como:

Nitrocálcio

Mistura de nitrato de amônia (NH4NO3) e calcário dolomítico [CaMg(CO3)2 ou

CaCO3. MgCO3], ou seja, calcário com alto teor de magnésio.

Salitre do Chile (NaNO3)

É extraído do caliche, material este rico em nitratos, facilmente encontrado em

algumas regiões do Chile. Pode ser encontrado na forma de Laurato branco ou cristalino, com

15% de nitrogênio e com grande quantidade de micronutrientes essenciais às plantas e na

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40

forma de Champion branco ou granulado com 16% de nitrogênio. Os dois tipos são solúveis

em água e possui boa absorção pelas plantas.

Sulfato de amônio (NH4)2 SO4

Possui cerca de 20% de nitrogênio solúvel em água. É obtido na destilação seca do

carvão, onde sem contado com o ar produz amônia (NH3), a qual reage com ácido sulfúrico

(H2SO4) e produz o sulfato de amônio. Este adubo é muito interessante para o agricultor, pois

apresenta grande concentração de enxofre (S), pois é notada a falta deste mesmo elemento em

solo brasileiro.

Uréia (NH2)2CO

É um produto sintético, geralmente granulado de cor branca, dependendo do tipo de

fabricação. Contem 45% de nitrogênio e é utilizado em pulverização em frutíferas e

hortaliças, apresentando excelentes resultados.

Amônia anidra

É um gás liquefeito e comprimido que apresenta 82% de nitrogênio, tido como o adubo

nitrogenado com maior concentração deste mesmo elemento.

Nitrossulfocálcio ( NH4NO3CaSO4)

Produto sintético fabricado com tecnologia brasileira com 27% de nitrogênio e ainda

possui a vantagem de possuir enxofre (4%) e cálcio (8%) em sua concentração.

É melhor dar preferência as formas amoniacais, como o sulfato de amônia ou as formas

amídicas, como a uréia (MALAVOLTA, 1979).

1.8 Biofertilizante

1.8.1 Definição

O biofertilizante é popularmente conhecido como resíduo proveniente do biodigestor,

resíduo este muito bem aproveitado na agricultura, ou seja, é produzido após o processo

anaeróbico paralelamente à produção de biogás e é um adubo orgânico (Tabela 6), como

tantos outros.

Eles podem apresentar valores elevados de nutrientes, sendo que o mesmo pode conter

teores médios de 1,5 a 2,0% de nitrogênio (N), de 1,0 a 1,5% de fósforo (P) e de 0,5 a 1,0 %

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41

de potássio (K). Esse adubo não possui agentes causadores de praga ou doenças e age de

forma eficaz para repor os teores de nutrientes antes escassos no solo (OLIVER, et al. 2008).

Tabela 6 - Principais adubos orgânicos

Origem Adubo

Vegetal

Restos de culturas

Adubos verdes

Tortas de oleaginosas

Torta de filtro

Vinhaça

Animal

Sangue dessecado

Farinha de carne

Couro moído

Farinha de cascos e chifre

Restos de peixes

Mista

Estercos

Compostos

Lixo

Resíduos de esgoto

1.8.2 Principais características do biofertilizante

Segundo Oliver et al (2008), o biofertilizante como qualquer outro composto possui

característica especifica como pH (potencial de hidrogênio) em torno de 7,5. Sendo assim,

funciona como corretivo de acidez, liberando o fósforo e outros nutrientes para solução do

solo. Além disso, o aumento do pH dificulta a multiplicação de fungos patogênicos às

culturas, proporcionando grandes melhorias para o solo já que:

os nutrientes do biofertilizante são fáceis de ser absorvido pelo solo e aproveitado na

alimentação das plantas;

a qualidade e estrutura do solo são melhoradas, e assim as plantas têm mais facilidades

de se desenvolver;

o solo fica mais resistente a erosão, graças ao melhoramento da agregação das

partículas;

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42

o biofertilizante aumenta a penetração de ar pelos poros do solo facilitando assim a

respiração das raízes;

solos degradados melhoram, já que o mesmo favorece a proliferação de bactérias;

a lavoura tem sua produtividade melhorada;

o biofertilizante pode estar estável se o biodigestor for manuseado de forma correto,

podendo então estar fora de perigo de contaminar o meio ambiente, não vai haver

proliferação de moscas e insetos e sem odor desagradável;

o mesmo ainda serve de controle de plantas daninhas, não permitindo seu crescimento

na lavoura;

e por fim diminui o risco de contaminação por coliformes fecais presente no esterco,

pois eles são eliminados na fermentação anaeróbica.

1.8.3 Formas de aplicação e efeitos do biofertilizante

Na agricultura pode ser aplicado diretamente no solo em forma líquida ou seca, sendo

que para aplicação direta nas plantas, coloca- se 1 litro de biofertilizante para cada 10 litros de

água, passa- se a mistura por uma peneira fina e realiza- se a aplicação (OLIVER, et al. 2008).

1.9 Importância da adubação

O solo consiste de sólidos, de líquido e de uma mistura de gases, numa proporção de

50, 15 e 25% respectivamente. A fase sólida, constituída pelas frações minerais e orgânicas do

solo, é o reservatório de nutrientes para as plantas e regula a concentração dos elementos na

solução (OLIVER et al., 2008). Sendo assim, as plantas necessitam de nutrientes

indispensáveis para seu desenvolvimento o quais podem ser fornecidos pelo solo, entre eles

existem o nitrogênio, fósforo e potássio. Estes mesmos elementos são partes integrantes da

parte mineral e orgânica da terra. Além destes elementos, as plantas exigem ainda grandes

quantidades de cálcio, magnésio e enxofre, e numa quantidade menor boro, cloro, cobre,

ferro, manganês, molibdênio e zinco. Em um ambientes natural, tipo matas virgens, acontece

um ciclo na qual os elementos que são utilizados, eles voltam de alguma forma, seja na morte

de plantas ou em sua decomposição (MALAVOLTA, 1979).

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43

2. MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Caracterização do local de implantação do biodigestor

Antes da construção do biodigestor, foi feito um estudo do local, bem como

entrevista para avaliar a situação dos animais em estudo e da família residente.

2.2 Local de implantação do biodigestor

O biodigestor foi construído no dia 23 de maio de 2010, na propriedade rural Sítio

São José (Sítio Contel), Bairro Baixotes na cidade de Birigui, estado de São Paulo. A Figura

11 é uma foto de satélite retirada no Google mapas da localização do sítio.

Figura 11 - Localização do Sítio São José: a propriedade está indicada pelo balão

vermelho com denominação de sítio Contel.

Fonte: Google mapas, 2010

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44

2.3 Dimensionamento do biodigestor

Cálculo demonstrativo do volume do biodigestor (ARRUDA et al., 2002):

V = volume do reservatório de biogás

h = altura (m)

d = m (raio= 0,28m)

V = R². h

V = 3,14. (0,28)².0,83

V = 0, 204 m³

ou

V = 204 L

Um método prático de estimar a quantidade de substrato inicial é dado pela fórmula

conforme descrita por Oliver et al. (2008):

A fórmula pode ser utilizada também para estimar o tamanho necessário do

biodigestor, para comportar a quantidade de esterco que é produzido na propriedade.

VB = VC x THR

VB = volume do Biodigestor (m3) = 0,1 m

3

VC = Volume da Carga Diária (dejetos+água) (m3) = ?

THR = Tempo de Retenção Hidráulico (dias de fermentação) = 1

VB = VC x THR

0,1 = VC x 1

VC 0,1 m3 100 L

(0,04 m3 dejetos + 0,06 m

3 água (1:1,5)

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45

2.4 Construção do biodigestor

O material foi adquirido em lojas de matérias para construção. A Tabela 7 mostra a

quantidade e os valores de cada um, em reais.

Tabela 7 - Materiais usados para construção do biodigestor, quantidades e valores em

reais

Material Quantidade Valor R$

Abraçadeira rosca sem fim 3x4 1 unidade 0,90

Adaptador com anel-flange 1 peça 13,57

Adaptador de polietileno 1 unidade 1,60

Câmara de bicicleta 1 unidade 2,00

Capa para proteção de tubo 1 unidade 3,00

Durepoxi 1 tubo 4,00

Eluma bucha cobre 4x1 1 peça 4,00

Jackwal torn. Niple 3x3 1 peça 20,00

Jackwal união red. 1x3 1 peça 4,00

Mangueira para gás 8x4 1,5 metros 8,85

Niple rosca 1 peça 1,59

Registro esfera – torneira 1 peça 19,20

Silicone 1 tubo 3,80

Tambor de 200L (0.2m³) 1 unidade 40,00

Tubo 100 provinil 1,2 metros 6,78

Válvula de alívio 1 unidade 12,00

Válvula de fogão 1 unidade 6,30

Veda rosca 1 tubo 3,00

Valor total 154,00

Inicialmente, foi observado se a base do tambor (Figura 12) não tinha nenhuma

incidência de vazamento, com adição de água, dando início posteriormente à construção do

biodigestor.

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46

Figura 12 - Tambor utilizado para a construção do biodigestor

Usando uma furadeira, foi feito um buraco na tampa móvel do tambor, para encaixar

um cano de PVC, funcionando como alimentador. Este cano possui um comprimento que

chega até o fundo (base) do tambor, vedando o mesmo com uma tampa na parte superior. A

parte inferior to cano de PVC foi recortada utilizando-se um arco de serra (Figura 13). Ainda

na parte de cima do tambor, foi feito um buraco menor com furadeira, onde foi introduzida

uma válvula de fogão com uma mangueira (saída de biogás).

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47

Figura 13 - Procedimentos realizados no preparo do cano de PVC (alimentador) na

parte inferior do antes de ser colocado dentro do biodigestor

Na altura média lateral do tambor, foi feito outro orifício com a furadeira para colocar

um flange, acoplando a este uma torneira de registro (saída do biofertilizante), utilizando veda

rosca para evitar vazamentos de fluidos como mostrado na Figura 14.

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48

Figura 14 - Procedimentos para acoplamento da flange e de uma torneira registro

(saída do biofertilizante)

Para lacrar o tambor, fechando-o para que as reações ocorram em completa

anaerobiose, fez-se do uso de veda rosca (flange e registro), silicone (flange e cano de PVC-

alimentador), câmara de bicicleta (tampa superior do tambor), respectivamente representadas

na Figura 15, além de Durepoxi.

Figura 15 - Procedimentos e materiais utilizados para vedação do biodigestor

Assim que o biodigestor foi organizado, preparou-se o substrato a ser digerido. Foram

utilizados 0,04 m3 de esterco bovino e 0,06 m

3 de água, conforme consta na Figura 16. Sendo

o tambor de 200 L, ao ser adicionado o substrato diluído essa quantidade de mistura ocupou

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49

metade (100 L) do biodigestor, conforme a Figura 17, sendo que a outra metade funcionou o

gasômetro.

Figura 16 - Biomassa

Figura 17 - Procedimentos de alimentação inicial do biodigestor com esterco diluído

(substrato)

Por fim o biodigestor foi fechado, estando assim pronto para iniciar o processo de

fermentação anaeróbica (Figura 18).

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50

Figura 18 - Biodigestor pronto e já alimentado com esterco bovino diluído (substrato)

Durante os primeiros 10 dias de fermentação, abriu-se a válvula para saída de dióxido

de carbono. Após aproximadamente 30 dias ao abrir válvula, foi emitido um cheiro de ovo

podre, indicando a presença de biogás, mais especificamente de ácido sulfídrico formado. A

queima de metano foi feita com isqueiro e um papel, aproximando-os do queimador acoplado

na superfície do mesmo tambor. Foi confirmada assim a presença do mesmo, gerando uma

chama, dando indícios de que o biogás tinha boa qualidade.

Com a produção de biogás temos a produção de biofertilizante. A primeira amostra

do mesmo foi coletada com 15 dias de fermentação e a segunda com 30 dias. Para análise de

macronutrientes e micronutrientes as amostras do mesmo foram enviadas para o Laboratório

de Fertilizantes e Corretivos da UNESP de Botucatu- SP.

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51

3. RESULTADOS

3.1 Caracterização dos bovinos que forneceram o esterco (substrato)

3.1.1 Alimentação

A propriedade possui 50 cabeças de gado, sendo que todas são vacas leiteira, tendo

utilizando como fonte de alimento a pastagem existente no local. Em situações de carência do

alimento através das gramíneas, principalmente na época das secas, são utilizados

suplementos alimentares tais como: sal mineral, rações de subprodutos de culturas da época,

como ponteiros de cana-de-açúcar, de milho verde e sorgo, todos triturados.

3.1.2 Sanidade

O gado apresenta boa aparência, fornecendo o leite sempre em boas condições. No

momento do experimento nenhum animal se encontrava doente, nem era administrado algum

tipo de medicamento. Na Figura 19, é possível visualizar alguns animais da propriedade.

Figura 19 - Bovinos da propriedade

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52

3.2 Biofertilizante

3.2.1 Produção

A produção de biofertilizante foi bem sucedida como mostra a Figuras 20.

Figura 20 - Biofertilizante

3.2.2 Análises: macro e micronutrientes

As Tabelas 8 e 9 mostram os resultados obtidos das amostras que foram enviadas para

o laboratório da UNESP, em Botucatu- SP.

Tabela 8 - Resultados das análises de macronutrientes presentes no biofertertilizante em 15

dias (amostra 1) e 30 dias (amostra 2) com resultado em (g/L)

Amostra N P2O5 K2O Ca Mg S MO C

1 0,42 0,10 0,19 0,10 0,12 0,02 8,00 4,44

2 0,34 0,10 0,18 0,11 0,11 0,02 4,00 2,22

Tabela 9 - Resultados das análises de micronutrientes pH presentes no biofertertilizante em

15 dias (amostra 1) e 30 dias (amostra 2) com resultado em (mg/L), relação C/N e pH

Amostra Na Cu Fe Mn Zn C/N pH

1 41 0 30 9 8 11/1 6,27

2 41 0 20 8 4 7/1 6,53

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53

4. DISCUSSÃO

O biofertilizante possui inúmeras vantagens e funções que justificam sua utilização

como enumerado por Souza (2008). O biofertilizante tem grande poder de fixação, pois

mantém os sais minerais em formas aproveitáveis pelas plantas, evitando que esses sais se

tornem muito solúveis e sejam levados pelas águas, melhora a estrutura e a textura do solo,

deixando-o mais fácil de ser trabalhado e facilitando a penetração das raízes, as quais terão

mais umidade disponível no subsolo, resistindo melhor aos períodos de estiagem. O

biofertilizante ainda dá firmeza aos grumos do solo, de modo que resistam à ação

desagregadora da água, absorvendo as chuvas mais rapidamente evitando à erosão e

conservando a terra úmida por muito mais tempo, também deixa a terra com a estrutura mais

porosa, permitindo maior penetração do ar, na zona explorada pelas raízes, facilitando sua

respiração, obtendo melhores condições de desenvolvimento da planta. O biofertilizante

também favorece a multiplicação de bactérias, dando vida ao solo. A intensa atividade das

bactérias fixa o nitrogênio atmosférico transformando em sais aproveitáveis pelas plantas,

fora as bactérias que se fixam nas raízes das leguminosas.

Além dessas atuações de valor inestimável, que aumenta muito a produtividade das

lavouras, se o biodigestor for operado corretamente, o biofertilizante já está completamente

curado (pronto para uso) quando sai do biodigestor. Não tem mais o perigo de fermentar, não

é poluente e não cria moscas e outros insetos. O poder germinativo das sementes de plantas

daninhas para agricultura fica eliminado com a biofermentação, não havendo perigo de

infestações nas lavouras (ANGONESE, 2006).

A propriedade onde foi instalado o biodigestor possui aproximadamente 50 cabeças de

gado, todas são vacas leiteiras. Como citado acima, referente à alimentação, onde é necessário

em algumas épocas fazer uso de suplementos alimentares, essa prática vem de encontro com

as informações da literatura, onde diz que na época das secas, quando o pasto fica sem

condições de oferecer alimento ao gado, já que as gramíneas tropicais apresentam mudança

drástica na composição ao longo do ano, em função do avanço do seu estádio vegetativo,

alterando o suprimento de energia para os animais e o teor de proteína. Além da redução no

suprimento de energia e proteína, ocorre diminuição da concentração de minerais e vitaminas,

podendo levar à redução no ganho ou perda de peso ou em casos extremos, à morte dos

animais. Uma das formas de se complementar o eventual déficit de proteína e energia que as

pastagens apresentam durante o ano é por intermédio da suplementação. Esta é feita

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54

principalmente com alimentos concentrados ou com volumosos de boa qualidade; no entanto,

é importante ajustar os níveis de energia e proteína do suplemento em relação à pastagem

(LANA, 2002). Dessa forma, o animal bem nutrido fornecerá um esterco de boa qualidade.

O esterco utilizado para produção de biofertilizante foi de boa procedência, já que

nenhum animal se encontra doente. Deublein; Steinhauser (2008), salientam a importância de

ter um substrato sanitizado ou higienizado, já que o mesmo estará sendo colocado em contato

direto com alimentos a serem plantados para consumo humano e animal.

Atualmente com a divulgação do orgânico e a proporção que o mesmo atinge a grande

massa da população, é atribuída ao biofertilizante uma carga bem maior de atributos positivos,

pois é sabido que os fertilizantes químicos podem causar problemas sérios ao ser humano se

não manuseado corretamente e principalmente no momento da alimentação, se o mesmo não

for devidamente lavado e esterilizados. Os biofertilizantes não causam problemas de

salinização do solo, enquanto que os fertilizantes químicos são grandes causadores da

desestruturação e salinização do mesmo (MEDEIROS; LOPES, 2006).

Os biofertilizantes também promovem a auto-suficiência na propriedade, com

produção de alimentos mais saudáveis, alem de ser de extrema importância para um manejo

agroecológico da propriedade, deixando de contaminar e poluir o meio ambiente, já que para

isso será utilizado o esterco de bovinos que anteriormente era simplesmente lançado nos

pastos ou rios (BARRERA, 1993; DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2008). Os mesmos podem

ainda ajudar a manter o equilíbrio nutricional das plantas, conferindo a elas maior resistência

ao ataque de pragas e doenças, por permitir maior formação de proteínas e menor acúmulo de

aminoácidos solúveis, que é o alimento das pragas. Proporciona também maior e melhor

produtividade das culturas, alimentos mais saudáveis e respeito ao meio ambiente. Estas são

as principais vantagens do uso de biofertilizantes na agricultura, técnica que permite o

emprego de processos bioquímicos de materiais orgânicos qualquer como forma de promover

a sustentabilidade dos ambientes agrícolas (MEDEIROS; LOPES, 2006).

Com os biofertilizantes o agricultor pode fazer a nutrição das plantas aproveitando

produtos orgânicos produzidos em abundância na propriedade como no caso foi utilizado o

esterco bovino, mas também poderia ser usados restos de comida, resíduos vegetais de horta,

entre outros materiais orgânicos, que poderiam poluir o ambiente (DEUBLEIN;

STEINHAUSER, 2008). Se a planta é bem nutrida, tem mais resistência e consequentemente,

terá condições de se defender de algum ataque de insetos, fungos, bactérias, entre outros e

nesse quesito o biofertilizante entra como protagonista atingindo altos níveis de aceitação.

Como o biofertilizante é um produto vivo, os microorganismos podem entrar em luta com o

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55

que está atacando a planta e repelir e destruir ou paralisar a ação desses elementos (MATOS

et al., 2007 )

A fermentação faz com que ocorra uma série de transformações químicas e biológicas

nos biofertilizantes, que deixa os nutrientes prontamente disponíveis para a planta. O cheiro

do adubo orgânico é forte, mas não é limitante para seu uso (OLIVER et al., 2008).

Em relação aos resultados obtidos com as análise de macro e micronutrientes temos

que os nutrientes presentes nas amostras 1 e 2 se comportaram de formas diferentes, o que

entra em acordo com os resultados obtidos por Silva et al, (2006). Cada nutriente comporta-se

de maneira diferente, de forma geral, essa diferença é constatada na literatura. Após o preparo

do biofertilizante, o mesmo possui em torno de 3,48 g/kg de nitrogênio e 8,0 g/kg de potássio,

onde esses dois nutrientes são os mais relevantes do ponto de vista nutricional para a maioria

das hortaliças. Para a oscilação dos elementos conforme o tempo foi em conseqüência da

constante liberação dos nutrientes do esterco (parte sólida) para o biofertilizante líquido

(SILVA et al., 2006).

As análises de macronutrientes descritas na Tabela 8, quanto à concentração de cálcio,

por exemplo, demonstra que esta foi 10 vezes menor quando comparada a do biofertilizante

Biossolo, produzido por um cafeicultor de São Sebastião do Paraíso- MG, que foi

experimentado por Devide et al. (2000). O valor da concentração de fosfato foi 6 vezes menor

em relação ao referido trabalho. A concentração de nitrogênio e potássio nas amostras foram

de 50% menos quando comparadas ao Biossolo. Por fim magnésio mostrou apenas 1/3 de

redução entre o biofertilizante produzido e o Biossolo. É importante lembrar que as amostras

deste trabalho foram coletadas em 15 e 30 dias de fermentação anaeróbica; já o biofertilizante

Biossolo foi utilizado para dosagem, mas não temos o período de tempo de fermentação

anaeróbica que ele é resultante. Quando comparado com os resultados de Devide et al. (2000)

o valor de pH foi bem próximo do mesmo, ao redor de 6,5. Além disso, o substrato utilizado

pelo cafeicultor era composto de palha de café, esterco de cama de aviário e bovino, farinha

de ossos, farelo de arroz, fermento, açúcar leite e água, enriquecido com micronutrientes,

sendo que esta formulação não é rigorosamente padronizada, sofrendo alguma variação a cada

lote. Devido a todas estas diferenças de metodologia não padronizadas podemos justificar os

diferentes resultados obtidos em nosso trabalho e de Devides et al. (2000).

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56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os biofertilizantes são alternativas importantes, principalmente para os pequenos

produtores que se deparam com a escassez de recursos financeiros. O mesmo pode ser

produzido a partir do aproveitamento de subprodutos da agropecuária que muitas vezes são

descartados no campo, oferecendo riscos ao meio ambiente.

Seria de suma importância um maior investimento por parte do governo nas agro-

indústrias, oferecendo incentivos para que os agropecuaristas passassem a utilizar o esterco de

animais, bem como todos os dejetos de animais, tornando sua propriedade sustentável.

Atualmente com tanta divulgação e preocupação da população de consumir produtos

fertilizados com base em agrotóxicos, espera-se uma maior divulgação e utilização dos

biofertilizantes, sendo estes livres de qualquer substância nociva, lembrando ainda que estaria

contribuindo de forma significativa para o meio ambiente, deixando de eliminar gases

causadores do aquecimento global, o que é de grande preocupação mundial. De qualquer

forma, o biofertilizante possui concentrações interessantes de NPK e pH, o que viabiliza seu

uso como fertilizante do solo, além de justificar o uso de esterco bovino, que seria um dejeto

sem destino adequado na propriedade. Estamos assim contribuindo para uma melhora

ambiental. Vale lembrar, que apesar de não ser assunto prioritário deste trabalho,

paralelamente à produção de biofertilizante, produziu-se biogás, fonte de energia térmica e

também podendo ser convertido em energia elétrica para utilização na propriedade com

economia de energia convencional e consequentemente financeira.

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