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Escola de Engenharia de Lorena Universidade de São Paulo Camila Maziviero Galhardo Biocidas em preparações pigmentárias Biodeterioração de tintas e a importância do uso de biocidas Lorena 2012

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Escola de Engenharia de Lorena

Universidade de São Paulo

Camila Maziviero Galhardo

Biocidas em preparações pigmentárias Biodeterioração de tintas e a importância do uso de

biocidas

Lorena

2012

Camila Maziviero Galhardo

Biocidas em preparações pigmentárias

Biodeterioração de tintas e a importância do uso de biocidas

Monografia apresentada como requisito parcial

para a conclusão de Graduação do Curso de

Engenharia Bioquímica – Escola de Engenharia de

Lorena da Universidade de São Paulo.

Orientador: Prof. Dr. Arnaldo Márcio Ramalho Prata

Lorena

2012

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Dr. Arnaldo Márcio Ramalho Prata pela orientação neste

trabalho.

A toda equipe técnica do Laboratório de Suporte Técnico para Pigmentos/BASF que

tanto me ajudaram para o desenvolvimento deste trabalho.

A Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo que vem

viabilizando a minha formação no curso de Engenharia Bioquímica.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo destacar a importância do uso de biocidas

em preparações pigmentárias (tintas) para proteção tanto do produto enlatado como

do filme seco contra a biodeterioração ocasionada por micro-organismos.

O Brasil é um dos cinco maiores produtores mundiais de tintas, sendo o

segmento de tintas imobiliárias o de maior volume. Nesse segmento, encontramos

as tintas base água, as quais são mais propensas à contaminação por micro-

organismos, sendo necessária a utilização de biocidas eficientes.

Verifica-se que as bactérias se desenvolvem principalmente na tinta enlatada,

enquanto fungos e algas crescem na tinta aplicada, no chamado filme seco. Assim,

faz-se uso de bactericidas, fungicidas e algicidas, evitando a biodeterioração desses

materiais.

Para proteção do filme seco destacam-se como biocidas o carbendazim e

derivados de herbicidas agrícolas. Já para proteção do produto enlatado, as

isotioazolinonas apresentam-se como os biocidas mais empregados. No país,

apesar do uso de formaldeído ser proibido, os liberadores de formol ainda continuam

em uso.

O Brasil apresenta apenas normas referentes à análise microbiológica das

tintas, mas nada referente ao uso de biocidas em tintas, as quais ainda estão em

discussão. Assim, muitas empresas brasileiras adotam as normas européias,

utilizando produtos certificados pelo Blue Angel, importante instituição alemã que

garante a qualidade de produtos e serviços sustentáveis.

O mercado dos biocidas deve apresentar crescimento uma vez que o setor de

tintas no país continua em ascensão, além do forte apelo por produtos mais

sustentáveis, o que levará a migração de tintas base solvente para o sistema base

água. Este último é mais propenso ao desenvolvimento de micro-organismos,

acarretando uma maior utilização de biocidas cada vez mais eficientes.

ABSTRACT

This paper aims to highlight the importance of using biocides in pigmentary

preparations (paints) for protection of both the canned product as a dry film against

biodeterioration caused by micro-organisms.

Brazil is one of the largest producers of paints, and coatings are the segment

of the highest volume. In this segment, we find water based inks, which are the more

prone to contamination by micro-organisms, requiring the efficient use of biocides.

It’s found that the bacteria develop mainly in the ink canned, while fungi and

algae grow on the ink apllied in the so called dry film. Thus, use is made of

bactericides, fungicides and algicides, avoiding the biodeterioration of these

materials.

To protect the dry film stand out as a biocide carbendazim and derivatives of

agricultural herbicides. Have to protect the canned product, the isothiazolone present

as biocides more employees. In the country, despite the use of formaldehyde is

forbidden, formaldehyde releasers are still in use.

Brazil has only standards for microbiological analysis of paint, but nothing

regarding the use of biocides in paints, which are still under discussion. Thus, many

Brazilian companies adopt European standards, using products certified by the Blue

Angel, a leading german institution that guarantees the quality of sustainable

products and services.

The market for biocides should show growth since the paint sector in the

country continues to increase, and the strong appeal for more sustainable products,

which will lead to migration of solvent based paints to water based system. The latter

is more prone to the development of micro-organisms, resulting in greater biocide

usage more efficient.

SUMÁRIO

Capítulo I ....................................................................................................................7

Introdução ...................................................................................................................7

Capítulo II ...................................................................................................................9

Desenvolvimento ........................................................................................................9

1 Tintas ......................................................................................................................9

1.1 Composição.....................................................................................................10

1.1.1 Pigmentos ..............................................................................................10

1.1.2 Resinas ..................................................................................................11

1.1.3 Solventes ...............................................................................................11

1.1.4 Aditivos ..................................................................................................11

2 Biodeterioração de tintas ......................................................................................11

2.1 Conceituação...................................................................................................11

2.2 Organismos comuns na biodeterioração de tintas .........................................13

2.2.1 Bactérias ................................................................................................13

2.2.2 Fungos ...................................................................................................14

2.2.3 Algas ......................................................................................................15

2.3 Formação de biofilme ....................................................................................15

3 Biocidas ................................................................................................................17

3.1 Manutenção da tinta na lata (proteção in can) ...............................................18

3.2 Proteção do filme seco ...................................................................................19

3.3 Isotiazolinonas ................................................................................................22

4 Normas brasileiras ................................................................................................27

5 The Blue Angel .....................................................................................................29

6 Oportunidades de crescimento .............................................................................30

Capítulo III ................................................................................................................31

Conclusão .................................................................................................................31

Capítulo IV.................................................................................................................33

Referências bibliográficas ......................................................................................33

7

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Tinta pode ser definida como uma dispersão de pigmentos num meio líquido,

resultando uma composição líquida e geralmente viscosa. É composta,

basicamente, por pigmentos, solvente, resina e aditivos, componentes que podem

servir de alimento para o crescimento de organismos. Dessa forma, o meio fica

sujeito ao fenômeno da biodeterioração, o qual pode alterar as características da

tinta (FAZENDA, 1995).

A primeira definição para biodeterioração foi apresentada por HUECK, como

sendo "qualquer mudança indesejável nas propriedades do material causada pelas

atividades vitais dos organismos”. Trata-se de um termo novo, existente há cerca de

40 anos, que define a ação de organismos vivos sobre materiais, ocasionando

danos a estes (SILVA, 2009).

No setor de tintas, a biodeterioração está presente tanto no produto enlatado

como no filme seco, o qual é formado após a aplicação da tinta sobre uma

superfície. Esse fenômeno ocorre principalmente nos produtos base água (tintas que

apresentam água como solvente), os quais se tornam excelentes fontes de alimento

para o crescimento de micro-organismos, sendo o produto enlatado um excelente

meio para o desenvolvimento de bactérias (SILVA, 2009).

O chamado filme seco, formado após a aplicação da tinta sobre uma

superfície, apresenta a capacidade de embelezar e fornecer proteção ao material

sobre o qual é aplicado, sendo essas suas principais propriedades. Tais

propriedades, entretanto, podem ser prejudicadas pelo desenvolvimento de fungos e

algas sobre a película aderente formada, o que também é favorecido pelo clima e

pelo tipo de tinta e suas características (GAYLARDE, 2011).

O Brasil apresenta destaque no setor de tintas, sendo o segmento de tintas

imobiliárias responsável pelo maior volume de vendas. Nesse segmento, as tintas

base água apresentam domínio; além disso, seguindo a tendência de comercializar

produtos mais sustentáveis, está ocorrendo a mudança das tintas base solvente

pelas base água. Dessa forma, cada vez mais será necessário o controle sobre a

contaminação de tintas por bactérias, fungos e algas (SANTOMAURO, 2011).

8

Um dos meios mais eficazes para impedir a ocorrência de biodeterioração em tintas

é o emprego de biocidas nas formulações, um aditivo que impede a proliferação de

micro-organismos ou ocasiona a morte dos mesmos (SANTOMAURO, 2011).

9

CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO

1 TINTAS

Tinta é uma dispersão de um ou mais pigmentos em um algomerado líquido,

definindo uma composição líquida e geralmente viscosa. Após aplicação sobre

uma superfície, a camada formada sofre um processo de cura e a tinta fica

aderida, promovendo beleza e proteção a esta superfície (FAZENDA, 1995).

Com a fabricação de produtos de alta qualidade destinados as mais diversas

aplicações, o Brasil corresponde hoje ao quinto maior mercado mundial dentro do

setor de tintas. Com um faturamento de US$ 4,5 bilhões em 2011 e 18,7 mil

empregos diretos, o segmento de tintas imobiliárias representa cerca de 80% do

volume total e 63% do faturamento, apresentando evolução anualmente, como

mostrada na Tabela 1 (ABRAFATI, 2012).

Tabela 1: Evolução do setor de tintas imobiliárias no Brasil. (ABRAFATI, 2012).

Ano Volume (milhões de litros)

2011 1.119

2010 1.083

2009 982

2008 975

2007 800

As tintas imobiliárias são compostas, basicamente, por tintas que utilizam

água como solvente, as quais denominamos tintas base água. Essas surgiram

como uma opção para diminuir os problemas ambientais, sendo mais

sustentáveis. Devido a essa composição, as tintas base água destacam-se como

10

produtos susceptíveis a biodeterioração, a qual pode acarretar problemas na tinta

tanto na lata como depois de sua aplicação (ABRAFATI, 2012).

1.1 Composição

As tintas apresentam como componentes básicos: pigmentos, resinas,

solventes e aditivos (FAZENDA, 1995).

1.1.1 Pigmentos

Pigmentos são compostos sólidos e insolúveis, podendo ser orgânicos ou

inorgânicos, os quais são responsáveis por oferecer coloração, opacidade,

algumas características de resistência e outros efeitos às tintas (FAZENDA,

1995).

A escolha do pigmento relaciona-se diretamente à aplicação final da tinta.

Assim, no caso das tintas imobiliárias, com as quais deve-se ter preocupação com

o custo devido aos elevados volumes comercializados, normalmente são

empregados pigmentos tradicionais (QUALIOTTO, 2002).

Os pigmentos podem ser coloridos e não coloridos, sendo o dióxido de titânio

(pigmento branco) e o negro de fumo (pigmento preto), ilustrados na Figura 1, os

principais representantes para o segundo segmento. Além disso, pode-se ter

pigmentos naturais e sintéticos (QUALIOTTO, 2002).

Figura 1: Pigmentos coloridos. (a) Dióxido de Titânio (Fonte: ABOISSA, 2010); (b) Negro de Fumo (Fonte: QUÍMICA E DERIVADOS, 2009).

(a) (b)

11

1.1.2 Resinas

As resinas compõem a parte não volátil das tintas, send responsáveis por

aglomerar as partículas de pigmento, além de oferecer resistência e durabilidade

às tintas. O tipo de resina empregada (alquídica, acrílica, epoxídica, etc) será

responsável pela denominação dada a tinta (DONÁDIO, 2011).

1.1.3 Solventes

Os solventes são adicionados à composição das tintas com a finalidade de

dissolver a resina presente. Tratam-se de líquidos voláteis, geralmente de baixo

ponto de ebulição; no caso das tintas base água, o solvente utilizado é a água

(DONÁDIO, 2011).

1.1.4 Aditivos

Os aditivos oferecem características especiais às tintas ou melhorias de

propriedades específicas nas mesmas. Além disso, auxiliam nas diversas fases

de produção e na aplicação final. Existe uma variedade de aditivos utilizados,

podendo-se destacar os antiespumantes, espessantes, dispersantes, biocidas, etc

(DONÁDIO, 2011).

2 BIODETERIORAÇÃO DE TINTAS

2.1 Conceituação

O desenvolvimento de micro-organismos depende de alguns requisitos

básicos, como pH, nutrientes, temperatura e água disponível. Para cada tipo de

micro-organismo haverá uma condição favorável específica para que ocorra o seu

crescimento, o que pode ser verificado na Tabela 2 (FAZENDA, 1995).

12

Tabela 2: Requisitos básicos para o desenvolvimento de microrganismos (Fazenda, 1995).

Requisito Bactérias Fungos Algas

Luz solar Não, com exceção

das clorofiladas Não

Sim

Oxigênio Aeróbias/anaeróbias Sim Sim

pH 2,0 a 13,0 Meio ácido Alcalino

Nutrientes Orgânicos/inorgânicos

Carbono

orgânico/nitrogênio/minerais

CO2, N2,

minerais

Temperatura Larga faixa 20ºC a 50ºC Tropical

Água Sim Umidade Sim

Dessa forma, as tintas base água apresentam-se como boa fonte para a

proliferação de micro-organismos, o que pode acarretar a contaminação da

mesma.

O crescimento de micro-organismos proporciona alterações físico químicas

nas tintas, tais como:

- alterações na viscosidade: o crescimento de micro-organismos leva a destruição

do ligante do revestimento, reduzindo a viscosidade do produto;

- mau cheiro: os micro-organismos podem produzir odores desagradáveis, os

quais muitas vezes são impossíveis de serem neutralizados ou mascarados;

- produção de gás: alguns micro-organismos produzem dióxido de carbono, um

gás que gera alta pressão dentro das latas de tintas, podendo provocar danos à

embalagem (MACHEMER, 1989).

A contaminação das tintas pode ser ocasionada por alguns fatores durante a

sua manufatura, como a contaminação da água, das matérias primas e dos

equipamentos utilizados, além da possível existência de colônias de micro-

organismos nas tubulações envolvidas no processo de produção (MACHEMER,

1989).

Também pode ocorrer colonização microbiana nas pinturas das edificações,

provocando degradação da superfície e problemas estéticos. Na Figura 2 é

13

apresentado um exemplo de problema estético em edificações. O

desenvolvimento de micro-organismos em películas secas é influenciado por

diversos fatores, entre eles umidade, temperatura, tipo de materiais utilizados na

construção, tipo de tinta aplicado e as características da mesma (FAZENDA,

1995).

Figura 2: Biodeterioração causa o comprometimento da estética de

edificações (Foto de Flayane H. Silva).

2.2 Organismos comuns na biodeterioração de tintas

2.2.1 Bactérias

As bactérias são organismos procariontes uma vez que apresentam uma

estrutura mais simples, sendo desprovidas de membrana nuclear e de algumas

outras organelas intracelulares presentes nos eucariontes. Dividem-se em dois

grupos: eubactérias e arqueobactérias (PELCZAR, 1996).

As eubactérias podem apresentar diferentes morfologias, especialmente

esféricas, bastonetes e espirilos. Algumas são providas de flagelo, o que permite

14

locomoção rápida em líquidos. Podem causar infecções, como tuerculose e

tétano, mas são de grande importância na reciclagem de lixo ôrganico e na

produção de antibióticos (PELCZAR, 1996).

Apesar de serem semelhantes as eubactérias quando olhadas em

microscópio, as arqueobactérias apresentam diferenças relevantes quanto à

composição química, à atividade e ao meio ambiente no qual se desenvolve.

Destaca-se a capacidade que possuem em sobreviver em ambientes não usuais,

como os que apresentam elevada acidez ou grande concentração de sal

(PELCZAR, 1996).

2.2.2 Fungos

Os fungos são organismos eucariontes, podendo ser uni ou pluricelulares,

não sendo capazes de realizar fotossíntese uma vez que não possuem clorofila.

Os fungos unicelulares são geralmente chamados de bolores, os quais produzem

estruturas filamentosas microscópicas. Já os pluricelulares são denominados

leveduras e se apresentam sob diferentes formas: de esférica a ovóide, de

elipsóide a filamentosa (PELCZAR, 1996).

Tanto os bolores quanto as leveduras podem ser benéficos ou prejudiciais. Os

bolores são empregados na fabricação de alguns produtos alimentícios, como

molho de soja e queijo Camembert; por outro lado, são causadores de doenças

em humanos, animais e plantas, além de promoverem deterioração de materiais.

As leveduras, por sua vez, apresentam importante papel na produção de bebidas

alcoólicas fermentadas uma vez que conseguem produzir álcool; em

contrapartida, promovem deterioração de alimentos e algumas doenças

(PELCZAR, 1996).

Esses microrganismos complexos geram estruturas ramificadas ao se

reproduzirem e obtêm nutrientes para alimentação absorvendo os mesmos pelas

hifas, o que provoca a danificação da película de tinta em superfície, como pode

ser observado na Figura 3. Podem crescer tanto em pinturas interiores como em

exteriores (FAZENDA, 1995).

15

Figura 3: Fungos crescendo em teto de banheiro. (Fonte: MICROBIOLOGIA, 2012).

2.2.3 Algas

Assim como os fungos, as algas são organismos eucariontes, podendo ser

unicelulares e apresentarem tamanho microscópico ou pluricelulares e possuírem

até vários metros de comprimento. São consideradas semelhantes as plantas por

apresentarem clorofila, sendo capazes de realizar fotossíntese (PELCZAR, 1996).

O crescimento das algas pode ocorrer em diferentes ambientes, entretanto é

no meio áquatico que a grande maioria é encontrada, constituindo uma forma de

alimento para os animais (PELCZAR, 1996).

Diferente dos fungos, as algas se desenvolvem apenas em pinturas

exteriores, apresentando crescimento acelerado em tintas que apresentem altos

teores de fosfato. Além disso, a produção de ácidos orgânicos realizada por

algumas espécies leva à corrosão das películas de tintas (FAZENDA, 1995).

2.3 Formação de biofilme

As pinturas apresentam-se como fonte de compostos orgânicos e inorgânicos;

assim, existindo condições favoráveis como temperatura, pH, umidade e luz, o

16

crescimento de microrganismos pode acontecer, levando à biodeterioração das

pinturas (KIEL, 2005).

O desenvolvimento desses organismos se dá em forma de biofilmes, ou seja,

comunidades complexas de micro-organismos juntamente com substâncias

poliméricas extracelulares e água em grande quantidade, originando uma

composição densa e espessa (KIEL, 2005).

Além de promover a biodeterioração das superfícies nas quais está aderida, essa

comunidade provoca também danos estéticos: certos organismos podem gerar

biofilmes pigmentados, como apresentado na Figura 4. Sua presença física e

também os metabólitos gerados pela comunidade são responsáveis pelos danos

ocasionados ao mateiral que recebe o filme seco (KIEL, 2005).

Figura 4: Danos estéticos ocasionados nas superfícies de edificações devido ao crescimento de micro-organismos (Foto de Eng. Aécio de Miranda Breitbach).

A formação do biofilme é fortemente influenciada pelo clima do local. Além da

temperatura e da umidade, destaca-se também o tipo de ambiente (industrial,

rural, urbano), fatores que determinarão a biodeterioração que ocorrerá em

17

determinada região. Por exemplo, áreas que possuam muitas emissões de

poluentes industriais apresentarão uma menor penetração da luz solar, o que

também interferirá na temperatura do local. Assim, por exemplo, o

desenvolvimento de organismos autotróficos pode ser afetado (GAYLARDE,

2011).

Os fungos são os principais formadores de biofilmes em superfícies pintadas.

Promovem a biodeterioração destas ao produzirem principalmente ácidos

orgânicos, os quais enfraquecem o filme seco e permitem a inserção das hifas.

Além de provocar a deterioração do substrato, a entrada de deteriorantes

químicos ou outros agentes biológicos acaba sendo permitida, comprometendo

ainda mais toda a estrutura colonizada (GAYLARDE, 2011).

A formação de biofilmes sobre o filme seco compromete as principais

propriedades do mesmo: embelezar e proteger superfícies. Para que ela seja

evitada, um dos meios mais eficazes é a utilização de biocidas eficientes nas

formulações das tintas, os quais não permitirão o crescimento de colônias de

micro-organismos (FAZENDA, 1995).

3 BIOCIDAS

Ainda que as práticas de higiene e desinfecção devam ser aplicadas de modo

rigoroso durante a produção de tintas, não há garantia de que o produto final não

apresentará contaminação. Para isso, deve-se empregar biocidas eficazes na

formulação (FAZENDA, 1995).

Para que o biocida seja eficaz, este deve reunir as seguintes características:

-Ser capaz impedir a proliferação de micro-organismos ou ocasionar a morte

destes;

-Não promover efeitos indesejáveis no produto e nos equipamentos utilizados

durante o processo de produção;

-Ser eficaz ao ser empregado em diferentes formulações;

-Não oferecer risco aos operadores, aos usuários do produto final e ao meio

ambiente;

18

Quanto maior for a eficácia do biocida, menor concentração do mesmo será

necessária para propiciar a eliminação dos micro-organismos. Assim, além de

melhorar a relação custo/benefício, a possibilidade de aparecerem efeitos

indesejáveis também será reduzida (FAZENDA, 1995).

Os principais biocidas empregados são:

-bactericidas: atuam sobre as bactérias, as quais se desenvolvem principalmente

na composição líquida;

-fungicidas: atuam sobre os fungos que se desenvolvem no filme seco;

-algicidas: atuam sobre as algas, as quais crescem sobre o filme seco

(FAZENDA, 1995);

3.1 Manutenção da tinta na lata (proteção in can)

Existem diversos biocidas empregados para evitar a contaminação da tinta

durante seu armazenamento, os quais diferem entre si pelos variados princípios

ativos. Fazenda (1995) destacou as substâncias ativas presentes em alguns

biocidas, conforme mostrado na Tabela 3.

Tabela 3: Biocidas para proteção de tintas durante a armazenagem.

Biocida Substância ativa

Formaldeído Formalina

Liberação de formaldeído 1(3-cloro)-3,5-1-cloreto de

azoniadamantano

Organomercurais

Acetato de fenilmercúrio

Oleato de fenilmercúrio

Di(fenilmercúrio) dodecil succinato

Cianobutano 1,2-dibromo-2,4-dicianobutano

Isotiazolonas MIT, CMIT, BIT, OIT, DCOIT

Por falta de uma regulamentação adequada, o uso de liberadores de formol

ainda é livre no Brasil, estando esse princípio ativo presente na maioria dos

19

bactericidas destinados a manutenção das tintas durante sua armazenagem. Na

grande maioria dos biocidas destinados a esse tipo de aplicação, esses

liberadores de formol aparecem associados a clorometil e à metil isotiazolinona

(CMIT/MIT). Segundo Luiz Wilson Pereira Leite, diretor de marketing e negócios

internacionais da Ipel Itibanyl Produtos Especiais, “essa formulação tem custo

acessível, a CMIT age rapidamente mesmo em baixa concentração e os

liberadores de formol garantem a proteção também do espaço vazio das latas

(headspace)”, o que explica o seu elevado emprego nas formulações das tintas

atuais (FAIRBANKS, 2008).

Trabalha-se, normalmente, com relações menores de CMIT/MIT e em

concentrações sempre baixas, sendo a dosagem padrão do mercado de 3:1. Isso

porque o CMIT exige alguns cuidados quanto a sua manipulação, uma vez que é

irritante para os olhos e para pele. Tomando os devidos cuidados, trata-se de um

produto seguro, sendo aprovado na Europa, onde sua aplicação nas tintas não

deve ultrapassar 15 ppm (FAIRBANKS, 2008).

Assim como o CMIT, os liberadores de formol também provocam irritação aos

olhos, além de apresentarem odor desagradável. Eles precisam estar bem

dosados, liberando a quantidade suficiente para matar as bactérias sem deixar

residuais. Os liberadores de formol tendem a ser substituídos por outra

isotiazolinona, a benzo-isotiazolinona (BIT), a qual resiste a temperaturas acima

de 100°C e suporta meios mais alcalinos (FAIRBANKS, 2008).

3.2 Proteção do filme seco

A tinta, depois de aplicada numa superfície, pode servir de alimento para o

crescimento de algas e principalmente fungos, como ilustrado na Figura 5. Assim,

faz-se necessário a utilização de produtos algicidas e fungicidas, os quais

promovem a proteção do filme seco (FAIRBANKS, 2008).

20

Figura 5: Biodeterioração no filme seco de superfícies externas (Foto de José Luís Espada Feio).

O clima apresenta papel importante para o desenvolvimento desses

organismos sobre as películas de tinta. Dessa forma, o Brasil oferece boas

condições para o crescimento de fungos e algas sobre superfícies uma vez que

apresenta clima quente e úmido. Ainda evidenciam-se as diferenças climáticas

regionais existentes no país, o que leva a variação dos tipos de micro-organismos

presentes. Por exemplo, na região sul as casas permanecem grande parte do

tempo fechadas devido ao frio da região, o que provca a condensação interna de

vapor, cirando um ambiente favorável para proliferação de fungos. Já no

nordeste, apesar das casas serem mais arejadas, o ar apresenta-se mais úmido e

as paredes externas extão constantemente submetidas a variações de calor e alta

umidade. Assim, os biocidas desenvolvidos devem ser capazes de atuar sobre

diferentes situações, apresentando variações apenas na dosagem e no modo de

aplicação (FAIRBANKS, 2008).

Atualmente, o carbendazim, cuja estrutura molecular é apresentada na Figura

6, é o fungicida que domina o mercado brasileiro por apresentar melhor relação

custo/benefício, sendo também muito aplicado nos produtos da Europa. Este

21

apresenta pouca perda por lixiviação e uso em baixa dosagem, requisitos

importantes para um bom fungicida. Entretanto, sua combinação com a n-octil-

isotiazolinona (OIT) oferece melhores resultados. Isso se deve ao fato de que

ativos isolados nunca conseguem promover o controle de todos os

microganismos, podendo levar até à seleção dos mais resistentes (FAIRBANKS,

2008).

Figura 6: Estrutura molecular para o carbendazim:Metil carbamato de benzimidazole-2-il (Fonte: FARM CHEMICALS INTERNATIONAL, 2012).

Quanto aos algicidas, a utilização de um herbicida de origem agrícola pode

ser destacada. Trata-se do diuron, cuja estrutura molecular é ilustrada na Figura

7, o qual apresenta um custo acessível, além de possuir a possibilidade de ser

combinado com a OIT e o carbendazim (FAIRBANKS, 2008).

Figura 7: Estrutura molecular do diuron: N’-(3,4-diclorofenil)-N, N-dimetilureia (Fonte: FARM CHEMICALS INTERNATIONAL, 2012).

3.3 Isotiazolinonas

Os biocidas mais empregados atualmente apresentam como princípio ativo as

isotiazolinonas. O mecanismo de ação

etapas: inicialmente há uma rápida inibição do

célula, seguido de um dano irreversível, o qua

Nesse segmento, o produto mais utilizado é uma mistura, na proporção de 3:1 de

5-cloro-2-metil-4-isotiazoli

Figura 8 apresentam-

(WILLIAMS, 2007).

Figura 8: Estruturas moleculares para CMIT e MIT (

Desenvolvido pela

desenvolvimento de novas tecnologias para a indústria, o 4,5

isotiazolin-3-ona (DCOIT)

um princípio ativo que atende aos requisitos ambienta

como um biocida muito efetivo uma vez que é capaz de efetuar o controle da

contaminação por bactérias, fungos e algas, fato não muito comum entre os

biocidas mais utilizados. Trata

não ambientalmente corretos que ainda permanecem em uso

CMIT

Os biocidas mais empregados atualmente apresentam como princípio ativo as

O mecanismo de ação das isotiazolinonas baseia

etapas: inicialmente há uma rápida inibição do crescimento e do metabolismo da

célula, seguido de um dano irreversível, o qual leva a inviabilidade da mesma

Nesse segmento, o produto mais utilizado é uma mistura, na proporção de 3:1 de

isotiazoli-3-ona (CMIT) e 2-metil-4-isotiazoli

-se as estruturas moleculares para o CMIT e para o MIT

: Estruturas moleculares para CMIT e MIT (Fonte: PPCHEM, 2007).

Desenvolvido pela companhia Rohm and Haas, uma pioneira no

desenvolvimento de novas tecnologias para a indústria, o 4,5

ona (DCOIT), cuja estrutura molecular é apresentada na Figura 9

um princípio ativo que atende aos requisitos ambientais. Este ativo apresenta

como um biocida muito efetivo uma vez que é capaz de efetuar o controle da

contaminação por bactérias, fungos e algas, fato não muito comum entre os

biocidas mais utilizados. Trata-se de um possível substituto para muitos biocid

não ambientalmente corretos que ainda permanecem em uso (JAMES

CMIT MIT

22

Os biocidas mais empregados atualmente apresentam como princípio ativo as

das isotiazolinonas baseia-se em duas

crescimento e do metabolismo da

l leva a inviabilidade da mesma.

Nesse segmento, o produto mais utilizado é uma mistura, na proporção de 3:1 de

isotiazoli-3-ona (MIT). Na

se as estruturas moleculares para o CMIT e para o MIT

PPCHEM, 2007).

companhia Rohm and Haas, uma pioneira no

desenvolvimento de novas tecnologias para a indústria, o 4,5-dicloro-2-n-octil-4-

estrutura molecular é apresentada na Figura 9, é

is. Este ativo apresenta-se

como um biocida muito efetivo uma vez que é capaz de efetuar o controle da

contaminação por bactérias, fungos e algas, fato não muito comum entre os

se de um possível substituto para muitos biocidas

(JAMES, 2009).

MIT

Figura 9

Já a 1,2-benzisotiazolin-

se deseja uma proteção contra o desenvolvimento de bactérias a longo prazo

(WILLIAMS, 2007).

Figura

As isotiazolinonas são agentes eletrofílic

enzimas presentes nos micro

metabolismo e, consequente

das células após um d

9: Estrutura molecular para DCOIT (PPCHEM, 2007).

-3-ona (BIT), apresentada na Figura 10, é utilizada

se deseja uma proteção contra o desenvolvimento de bactérias a longo prazo

Figura 10: Estrutura molecular para o BIT (PPCHEM, 2007).

As isotiazolinonas são agentes eletrofílicos, os quais atuam sobre

enzimas presentes nos micro-organismos impedindo reações bioquímicas do

, consequentemente, o crescimento dos mesmos, levando à morte

lulas após um determinado tempo (WILLIAMS, 2007).

23

: Estrutura molecular para DCOIT (PPCHEM, 2007).

, é utilizada quando

se deseja uma proteção contra o desenvolvimento de bactérias a longo prazo

: Estrutura molecular para o BIT

os, os quais atuam sobre importantes

reações bioquímicas do

o crescimento dos mesmos, levando à morte

24

A atuação desses biocidas sobre os micro-organismos foi estudada por Terry

Williams, cientista responsável pela área de negócios em biocidas na Rohm and

Haas Company desde 1987. Terry baseou seus estudos em dois fungos

(Saccharomyces cerevisiaee e Aspergillus Níger) e em duas bactérias

(Pseudomonas aeruginosa e Eschericia coli), evidenciando os principais

mecanismos de ação das isotiazolinonas (WILLIAMS, 2007).

Em seu estudo, Terry determinou a afinidade das isotiazolinonas com as

células, como mostrado no gráfico apresentado na Figura 11. Observa-se que,

para o estudo com Saccharomyces cerevisiae, o princípio ativo DCOIT

apresentou a melhor resposta, apresentando a melhor afinidade coma célula

(WILLIAMS, 2007).

Figura 11: Afinidade dos biocidas isotiazolinonas com S. cerevisiae (PPCHEM, 2007).

25

O estudo também indicou a inibição oferecida por cinco diferentes

isotiazolinonas ao atuarem sobre dois diferentes fungos. Para isso, determinaram-se

as concentrações necessárias para inibição da célula (MIC: minimum inhibitory

concentration) e para a sua morte (MBC: minimum biocidal concentration), como é

mostrado na Tabela 4. Nota-se que, com exceção do MIT, todas as demais

isotiazolinonas necessitam ser aplicadas em baixas concentrações para promover a

inibição e posteriormente a morte das células. Destaca-se, também, que para

algumas das isotiazolinonas, as concentrações obtidas tanto para a dosagem de

inibição como para a de morte apresentaram valores próximos (WILLIAMS, 2007).

Tabela 4: Concentração mínima de inibição (MIC) e concentração mínima

biocida (MBC) de isotiazolinonas, em mg/kg para Aspergillus níger

e Saccharomyces cerevisiae (PPCHEM, 2007).

Biocida Aspergillus niger Saccharomyces cerevisiae

MIC MBC MIC MBC

CMIT 0,35 0,42 0,58 0,63

CMIT/MIT 0,40 0,47 0,71 0,76

MIT 166,00 300,00 60,00 87,00

DCOIT 0,12 0,23 0,55 0,79

OIT 0,05 0,05 0,56 0,65

A eficácia das isotiazolinonas como biocidas também foi demonstrada por

Terry pela evidência da capacidade que elas possuem de inibir a respiração de

bactérias, como pode ser observado no gráfico da Figura 12. Nesse estudo, Terry

empregou as isotiazolinonas em concentrações molares iguais (134M), utilizando

glicose como substrato. CMIT (20mg/kg) e OIT (29mg/kg) levaram a inibição em

menor tempo, seguidos pelo MIT (15mg/kg) e pelo DCOIT (38mg/kg). No tempo

de seis minutos, observou-se uma inibição do consumo de oxigênio (WILLIAMS,

2007).

26

Figura 12: Inibição da respiração de E. coli por isotiazolinonas (

PPCHEM, 2007).

O estudo também mostrou que a mistura CMIT/MIT, forma mais empregada

das isotiazolinonas como biocidas, age efetivamente na inibição da síntese de

ATP. Observando o gráfico da Figura 13, verifica-se que com uma concentração

de 5mg/kg de CMIT/MIT, após dez minutos de contato há uma queda da síntese

de ATP, a qual se torna constante após quinze minutos (WILLIAMS, 2007).

27

Figura 13: Inibição da síntese de ATP em E. coli na presença de

CMIT/MIT (PPCHEM, 2007).

4 NORMAS BRASILEIRAS

Ainda não existe uma norma no país que controle o uso de biocidas em tintas.

Ridnei Brenna, diretor geral da Thor Brasil, empresa de destaque na venda de

biocidas para aplicação nesse setor, ressalta que muitas empresas no Brasil nem

adicionam esses aditivos em suas formulações. Essa situação deverá ser

mudada após a definição de uma normatização que está em discussão entre a

Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (ABRAFATI) e a Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Brenna afirma que “essa norma definirá

parâmetros mínimos de qualidade e isso ampliará a necessidade de biocidas”

(SANTOMAURO, 2011).

Existem, atualmente, cinco normas da ABNT relacionadas à análise

microbiológica de tintas como apresentado na Tabela 5. Quanto à questão do

emprego de biocidas nas formulações, as normas existentes apenas ressaltam

aspectos sobre as metodologias de análise utilizadas. Agora, discute-se a

criação de normas referentes a uma especificação para o uso de biocidas em

tintas (SANTOMAURO, 2011).

28

Tabela 5: Normas referentes à análise microbiológica de tintas (ABRAFATI, 2012).

Norma Objeto

NBR 14941:2003 Fungos em placa de petri sem

lixiviação

NBR 15301:2005 Fungos em câmara tropical

NBR 15313:2005 Esterilização para análises

microbiológicas

NBR 15458:2007 Avaliação microbiológica

NBR 15458:2010 Residência de micro-organismos

na embalagem

A discussão dessa nova normatização envolverá, primeiramente, a proteção

dada ao produto enlatado que, segundo Gisele Bonfim, gerente técnica e de

meio ambiente da ABRAFATI, deve ser a primeira garantia dada ao consumidor.

“Depois, precisaremos garantir a resistência do filme seco ao ataque de

microrganismos”, afirma Gisele (SANTOMAURO, 2011).

A gerente técnica ainda evidencia a importância de se desenvolver uma

normatização mais eficaz para o emprego de biocidas em tintas. “Mesmo com

uma formulação muito boa, a tinta poderá sofrer deterioração caso não conte

com a preservação adequada. As tintas base água constituem meio muito

propício ao ataque de bactérias” (SANTOMAURO, 2011).

Dessa forma, muitas empresas brasileiras baseiam-se em normas européias,

utilizando em suas receitas apenas produtos que apresentem o chamado Blue

Angel, um certificado alemão que atesta a qualidade de produtos e serviços

quanto à preservação do meio ambiente.

29

5 THE BLUE ANGEL

Criado em 1978, o chamado Blue Angel é um certificado alemão dado a

produtos e serviços ecologicamente corretos. Essa certificação é chamada de

Ecolabel (rótulo ecológico) e foi a primeira instaurada no mundo. O Blue Angel

assegura ao consumidor a qualidade de produtos que atendem as exigências quanto

à preservação do meio ambiente e proteção da saúde dos consumidores.

Atualmente, 11700 produtos distribuídos em 120 diferentes categorias apresentam o

certificado (BLUE ANGEL, 2012).

Juntamente com o Blue Angel atuam mais quatro instituições:

1) Environmental Label Jury: trata-se de um grupo composto por representantes

de sindicatos, do comércio e de associações do meio ambiente e de

consumidores que decide quais produtos e serviços receberão o rótulo ecolabel

(BLUE ANGEL, 2012).

2) Federal Ministry for the Environment, Nature Conservationand Nuclear Safety:

é o proprietário do rótulo ecológico dado pelo Blue Angel, sendo responsável

por garantir a confiabilidade do rótulo Blue Angel dado aos produtos (BLUE

ANGEL, 2012);

3) Federal Enviroment Agency: funciona como um escritório para o Enviromental

Label Jury, desenvolvendo as técnicas para determinação dos critérios que

serão utilizados para concessão de um certificado Blue Angel (BLUE ANGEL,

2012);

4) RAL gGmbH: é a agência responsável por conceder os rótulos aos produtos e

serviços, além de revisar os já existentes (BLUE ANGEL, 2012);

A RAL UZ 102 destaca quais os principais princípios ativos para a

preservação da tinta enlatada (proteção in can) e suas respetivas dosagens de

acordo com critérios sustentáveis. Nela encontram-se informações sobre o uso

das isotiazolinonas, como verificado na Tabela 6 (BLUE ANGEL, 2012).

30

Tabela 6: Dosagens para isotiazolinonas de acordo com a RAL UZ 102 para a

preservação in can (BLUE ANGEL, 2012).

Princípio ativo Dosagem

BIT ≤ 200ppm

CMIT/MIT na proporção 3:1 ≤ 15 ppm

MIT/BIT na proporção de 1:1 ≤ 200ppm

8 OPORTUNIDADES DE CRESCIMENTO

O setor de tintas deve apresentar um crescimento de 4% no ano de 2012 em

relação ao ano de 2011 segundo dados da ABRAFATI. Segundo Fábio Couto

Forastieri, gerente de vendas da Arch Química, os negócios em tintas imobiliárias

seguirão o mesmo ritmo, encarando um consumidor muito mais exigente. Quem

antes consumia as chamadas tintas econômicas busca, hoje, aquelas qualificadas

como standard e, posteriormente, buscará os produtos premium. Assim, Forastieri

destaca que o segmento de aditivos de preservação também deverá apresentar

crescimento: “ tintas mais nobres utilizam biocidas também mais nobres e em

maior quantidade”, afirma o gerente de vendas. Além disso, a busca por produtos

mais sustentáveis também é um fator de expansão para o mercado de biocidas. A

migração das tintas industriais e automotivas para o sistema base água

aumentará a demanda por biocidas nesse segmento (SANTOMAURO, 2011).

31

CAPÍTULO III

CONCLUSÃO

O Brasil, como um dos cinco países maiores produtores de tintas atualmente,

apresenta o setor de tintas imobiliárias como o de maior faturamento. Nele

encontra-se o emprego de produtos base água, os quais são passíveis do

desenvolvimento de micro-organismos, destacando-se as bactérias, os fungos e

as algas, os quais promovem a biodeterioração das tintas.

Para que os produtos comercializados sejam de excelente qualidade, a

utilização de matérias primas de qualidade é extremamente importante. Entre os

componentes de uma tinta (pigmento, solvente, resina e aditivos), destacam-se os

aditivos, os quais são responsáveis por proporcionar características especiais às

tintas ou melhorias de suas propriedades. Um aditivo de grande importância é o

biocida, um aditivo de preservação que impede o desenvolvimento de micro-

organismos tanto no produto enlatado (proteção in can) como no filme seco

formado após a aplicação. Utilizam-se bactericidas, fungicidas e algicidas para o

combate às bactérias, fungos e algas respectivamente.

Quanto à biodeterioração do filme seco, fungos e algas estão envolvidos.

Destaca-se o carbendazim como principal fungicida utilizado no país. Já os

algicidas empregados são baseados em um herbicida agrícola, o diuron, que além

de apresentar preço acessível, ainda pode ser combinado com o carbendazim.

A proteção in can é um dos pontos principais para preservação das tintas.

Utilizam-se, principalmente, as isotiazolinonas como biocidas, as quais são

capazes de atuar sobre o metabolismo e crescimento dos micro-organismos,

levando-os a morte.

A utilização de formaldeído como biocida é proibida, entretanto ainda se faz

uso dos chamados liberadores de formol no país. Em combinação com as

isotiazolinonas estabelecem uma proteção mais eficaz, uma vez que esses

liberadores protegem principalmente os espaços vazios (headspace) dentro do

produto enlatado.

O mercado de biocidas apresenta-se em expansão uma vez que se buscam,

cada vez mais, produtos mais sustentáveis e mais eficazes. Além disso, o setor

32

de tintas imobiliárias continua crescendo, juntamente com a tendência de

migração das tintas industriais e automotivas para o sistema base água, exigindo,

assim, uma maior preocupação com a proteção contra a contaminação por micro-

organismos.

33

CAPÍTULO IV

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.aboissa.com.br/produtos/view/462/dioxido_de_titanio>, acesso em

25 de maio de 2012.

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normativas inibem a inovação na proteção de tintas, embora a previsão de

vendas aponte para forte crescimento. Revista Química e Derivados. Edição nº

473 de maio de 2008 - Disponível em:

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edição.Vol1. ABRAFATI, São Paulo, 1995.

34

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outubro de 2011, acesso em 14 de maio de 2012.

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Conceitos e Aplicação. Vol. 1, 2ª. Edição. São Paulo. MACRON Books,1996.

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vernizes. BASF S.A., 2002. Disponível no acervo interno do Laboratório de

Suporte Técnico para Pigmentos. BASF Guaratinguetá.

[14] Química e Derivados. O que vai pintar na feira. Revista Química e Derivados Edição nº 489 de setembro de 2009 – Disponível em: <http://www.quimica.com.br/revista/qd489/abrafati/abrafati03.html>,acesso em 25 de maio de 2012.

[15] Santomauro, Antonio C. Cresce oferta por substitutos de liberadores e formol.

Revista Química e Derivados. Edição nº 507 de março de 2011 - Disponível

em:

35

<http://quimica.com.br/quimica/index.php?sessao=reportagem&id=871&pagina

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[16] Silva, Fleury H. Biodeterioração de tintas látex com e sem biocida, expostas ao

meio ambiente e experimento acelerado. Santa Maria, 2009 - Disponível em:

<http://w3.ufsm.br/ppgec/wpcontent/uploads/Biodeterioracao_de_tinta%20latex.

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Prédios Históricos na Cidade de Porto Alegre. Porto Alegre, 2005 - Disponível

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em 2007 - Disponível em: <http://www.ppchem.net/free/ppchem-01-2007-

2.pdf>, acesso em 20 de março de 2012