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Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Adamantinenses Integradas - Ano 3 - Nº 21 - maio/junho de 2007 Boletim Científico da Medicina Veterinária da FAI Caros Alunos do Curso de Medici- na Veterinária da FAI, Esta edição enfoca a importân- cia que o médico veterinário possui em relação à qualidade do alimento de ori- gem animal, em especial a carne bovina. É de responsabilidade do médico vete- rinário atuar no controle de doenças e garantir a qualidade do alimento na mesa do consumidor. Com o reaparecimento da Febre Aftosa no Brasil no final de 2005, efeti- vamente não existe um valor oficial re- lativo aos danos econômicos. As per- das efetivas foram de R$ 30 milhões com as indenizações sobre o abate dos animais, porém não foram calculados os prejuízos com a paralisação das ex- portações. Estima-se que o Brasil dei- xou de arrecadar US$ 400 a US$ 500 milhões nas exportações de carne bovi- na e suína. O Brasil deve investir cada vez mais no agronegócio, pois é o seu mai- or trunfo na balança comercial. Para isso, deve contratar mais médicos veterinári- os para trabalhar na defesa sanitária ani- mal, principalmente nas fronteiras dos países vizinhos, e manter a qualidade da carne com a inspeção veterinária em abatedouros e frigoríficos. É importante também, o consu- midor brasileiro exigir que o alimento de origem animal seja produzido sob a responsabilidade de um médico veteri- nário, desde a produção no campo até o local de venda; em todas as etapas, inclusive a industrialização é de compe- tência de nossa profissão. Nesta edição, também apresen- tamos outro relato de caso da Clínica Veterinária da FAI, na área de ortope- dia em pequenos animais. Profª. Drª. Sandra Helena Gabaldi Wolf Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária da FAI Editorial Controle da Febre AFTOSA Luxação Medial de Patela Ciclo de Palestras de Medicina Veterinária na FAI

Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária das ...€¦ · pra e venda de animais, comercialização do leite e da carne, para o transporte de animais e para a participação

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Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Adamantinenses Integradas - Ano 3 - Nº 21 - maio/junho de 2007

Boletim Científicoda MedicinaVeterinária da FAI

Caros Alunos do Curso de Medici-na Veterinária da FAI,

Esta edição enfoca a importân-cia que o médico veterinário possui emrelação à qualidade do alimento de ori-gem animal, em especial a carne bovina.É de responsabilidade do médico vete-rinário atuar no controle de doenças egarantir a qualidade do alimento na mesado consumidor.

Com o reaparecimento da FebreAftosa no Brasil no final de 2005, efeti-vamente não existe um valor oficial re-lativo aos danos econômicos. As per-das efetivas foram de R$ 30 milhõescom as indenizações sobre o abate dosanimais, porém não foram calculadosos prejuízos com a paralisação das ex-portações. Estima-se que o Brasil dei-xou de arrecadar US$ 400 a US$ 500milhões nas exportações de carne bovi-na e suína.

O Brasil deve investir cada vezmais no agronegócio, pois é o seu mai-or trunfo na balança comercial. Para isso,deve contratar mais médicos veterinári-os para trabalhar na defesa sanitária ani-mal, principalmente nas fronteiras dospaíses vizinhos, e manter a qualidade dacarne com a inspeção veterinária emabatedouros e frigoríficos.

É importante também, o consu-midor brasileiro exigir que o alimentode origem animal seja produzido sob aresponsabilidade de um médico veteri-nário, desde a produção no campo atéo local de venda; em todas as etapas,inclusive a industrialização é de compe-tência de nossa profissão.

Nesta edição, também apresen-tamos outro relato de caso da ClínicaVeterinária da FAI, na área de ortope-dia em pequenos animais.

Profª. Drª. Sandra Helena Gabaldi WolfCoordenadora do Curso de Medicina

Veterinária da FAI

Editorial Controle da Febre AFTOSA

Luxação Medial de Patela

3ºCiclo dePalestras deMedicinaVeterináriana FAI

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Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária da FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas) - Ano 3 nº 21 - maio/junho de20072

Artigo de Divulgação Científica - Revisão de Literatura

Controle da FebreControle da FebreControle da FebreControle da FebreControle da Febre AFTOSAAFTOSAAFTOSAAFTOSAAFTOSA

ResumoA febre aftosa é um grande desa-

fio para o Brasil quando se observa queas barreiras comerciais restringem as ex-portações de carne bovina e suína e im-pedem o acesso do produto brasileiro anovos mercados. Para que o Brasil sejainserido no mercado internacional comogrande exportador de carne bovina esuína, deve estar livre desta enfermidade.Esta revisão visa informar sobre a febreaftosa e seu controle.

IntroduçãoA Febre Aftosa foi detectada no

Brasil em 1895, e até a década de 1980foi considerada uma doença endêmica.A partir de 1970, a preocupação com aqualidade das vacinas utilizadas e o con-trole das áreas infectadas, pelo estudo dotrânsito dos animais comparado à ocor-rência dos focos, permitiram avançar nocombate à doença. A década de 80 foimarcada pela redução dos focos com acriação de programas para a erradicaçãoda doença regionalmente.

A Febre Aftosa interfere nas ex-portações brasileiras de carne bovina esuína e traz insegurança às relações co-merciais. Por isso, é importante defendera posição do país, que possui 16 Estadoslivres da doença e busca erradicá-la até2009; porém, para isso, há a necessidadede investimentos constantes em defesa sa-nitária.

A vacinação em massa, via cam-panhas para as espécies susceptíveis, ain-da é um dos melhores métodos de con-trole e erradicação da doença, embora ovírus possa permanecer latente em ani-mais que se recuperaram da infecção e,até mesmo, em animais vacinados.

Com o controle intenso e contí-nuo, pode-se chegar a classificação dezona livre de Febre Aftosa sem vacina-ção, mas em casos de alguma reincidên-cia, passa a ser considerado zona livre de

Febre Aftosa com vacinação, e com mai-ores incidências, respectivamente, se clas-sifica como zona de vigilância, zona detampão e zona infectada.

A gravidade da Aftosa não decor-re das mortes que ocasiona, mas princi-palmente dos prejuízos econômicos, atin-gindo todos os pecuaristas, desde os pe-quenos até os grandes produtores. A fe-bre e perda de apetite causam conseqüen-te quebra de produção de leite e carne,perda de peso, crescimento retardado, fa-cilidade de adquirir outras doenças, devi-do à sua fraqueza, e menor eficiênciareprodutiva, dada por abortos einfertilidade dos animais doentes. Podelevar à morte, principalmente os animaisjovens. As propriedades que têm animaisdoentes são interditadas, e a exportaçãoda carne e dos produtos derivados daregião é bloqueada.

Este trabalho de revisão tem porobjetivo informar sobre a enfermidadede Febre Aftosa e seu controle.

Revisão de LiteraturaO vírus da Febre Aftosa é extre-

mamente contagioso, que chegou a ficarna lista A do Código Sanitário Internaci-onal. Há sete sorotipos de vírus: A, C, O,SAT1, SAT2, SAT3 e Asia 1.

No Brasil, os vírus de maior inci-dência são os tipos O (55%), A (26%) eC (19%), entre os anos 1960 e 2002. Na

África, são encontrados com maior fre-qüência os sorotipos SAT1, SAT2 e SAT3.Já no Oriente Médio e no extremo Ori-ente, o tipo ASIA 1.

Todos os sorotipos têm uma gran-de variedade de subtipos e amostras, cri-ando uma grande dificuldade para o con-trole e erradicação da enfermidade, queé dada pela vacinação.

A imunidade contra um sorotiponão protege contra os demais. Além dis-so, sabe-se que alguns subtipos são maisvirulentos que outros ou que se propa-gam mais facilmente. Esta complexidadeapresenta um aspecto muito desfavorá-vel, pois um animal atacado por um tipode vírus, embora ofereça resistência aomesmo, é ainda suscetível aos outros ti-pos e subtipos.

As espécies susceptíveis à Aftosa sãoos ruminantes domésticos (bovinos, bú-falos, caprinos e ovinos) e selvagens(cervídeos e camelídeos) e os suínos, ouseja, animais biungulados. Acomete todasas idades, independente de sexo, raça, cli-ma, entre outros.

O animal infectado elimina víruspor todas as secreções (saliva, sêmen eleite) e excreções (urina e fezes), contami-nando o meio ambiente e outros animais.

A transmissão da Aftosa é dadapelo ar, pela água e alimentos, apesar deser sensível ao calor e à luz. A principalvia de infecção é a respiratória, e, a partirdaí, o vírus alcança a corrente sangüínea,atingindo a área alvo: a camadagerminativa do tecido epitelial. O conta-to entre os animais, a contaminação dosolo e da água, e o vento ajudam a disse-minação do vírus rapidamente. O ventopode transportar o vírus a uma distânciade até 90 quilômetros.

O vírus resiste durante meses emcarcaças congeladas, principalmente namedula óssea. Dura muito tempo nospastos e na forragem ensilada. Persiste por

Figura 02 - Úlceras na línguaFigura 01 - Vesículas na mucosa oral

Figura 03 - Úlceras nos tetos

Figura 04 - Salivação intensa

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3Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária da FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas) - Ano 3 nº 21 - maio/junho de2007

Artigo de Divulgação Científica - Revisão de Literatura

tempo prolongado na farinha de ossos,nos couros e nos fardos de feno. Outrasvezes, o contágio é indireto e, nesse caso,o vírus é transportado por alimentos,água, ar e pássaros. Também, as pessoasque cuidam dos animais doentes o levamem suas mãos, na roupa ou nos calçados.É por esta razão de facilidade de propa-gação do agente que se interdita a regiãoe a exportação de carne e derivados.

Nos animais infectados natural-mente, o período de incubação varia dedezoito horas a três semanas. A maiorprodução de vírus ocorre nas primeiras72 horas, juntamente com o aparecimen-to de vesículas na mucosa da boca (fig.01), epitélio lingual (fig. 02), casco (espa-ço interdigital e banda coronária) e úbere(fig. 03), também ocorre febre alta. Aslesões causam salivação intensa (fig. 04),claudicação (fig. 05), fraqueza e emagre-cimento. Em bezerros tem sido descritomiocardite que causa morte súbita ou in-suficiência cardíaca. As lesões na boca, lín-gua e nas patas impedem os animais depastar, causando perda de peso e dimi-nuição na produção de carne e leite.

A profilaxia e o controle estão ba-seados na vacinação semestral do reba-nho a partir de 3 meses de idade e, naprimovacinação, repetir após 90 dias.

Alguns cuidados com a vacina de-vem ser tomados, como: boa qualidadee de controle oficial; conservação ade-quada desde o laboratório fabricante,revendedor, transporte à propriedade eaté no momento da vacinação; conser-var em temperatura entre 2 e 6ºC, emgeladeiras ou em caixas térmicas comgelo; nunca congelar ou aquecer a vacina;

aplicar a dose indicada no rótulo da va-cina, pois a dosagem menor do que aindicada não vai oferecer uma proteçãodesejada; e, não utilizar agulhas muitogrossas para não diminuir a quantidadede vacina aplicada por perda de escorrerpelo orifício deixado no couro do ani-mal pela agulha (refluxo).

A vacina oferece imunidade após14 a 21 dias de sua aplicação. Se os ani-mais apresentarem a sintomatologia an-tes, é sinal que já estavam incubando adoença quando foram vacinados. A uti-lização da saponina como adjuvante emvacinas antiaftosa é eficaz, sendo de bai-xo custo e fácil manipulação. A respostaprimária é rápida e eficiente, proporcio-nando uma EPP (ExpectativasPercentuais de Proteção) média aceitávelaos 7 dias pós-vacinação (DPV) e exce-lente aos 14 DPV.

A vacinação é exigida para a com-pra e venda de animais, comercializaçãodo leite e da carne, para o transporte deanimais e para a participação de eventose feiras agropecuárias. Medidas rígidas dehigiene e desinfecção devem ser adotadasem recintos de exposições, feiras e re-mates e, se a situação exigir, as autorida-des sanitárias podem suspender os refe-ridos eventos.

Em propriedade com a doença,deve-se realizar o sacrifício dos animaismesmo sem sintomatologia, interdição daárea, vigilância e vacinação de todos osbovinos e bufalinos da região perifocal,num raio de 25 quilômetros, desinfec-ção dos alojamentos com soda cáusticaa 4% e caiação, uso de pedilúvios na en-trada dos currais e estábulos, rodolúviona saída da propriedade e desinfecçãodos veículos. Um período de quarentenaé instituído.

O Brasil, como todos os países daAmérica do Sul, tem seus programas sa-nitários para controle e erradicação daFebre Aftosa baseados em vacinação emmassa da população bovina. As pesqui-sas mais recentes na área de melhoramen-to do controle da Aftosa estão relacio-nadas à qualidade da vacina, controle dotrânsito dos animais de todas as espéciese quarentena compulsória para animaisque ingressem de fora da área do pro-grama.

Após dois anos sem focos de FebreAftosa, uma área pode ser consideradalivre da doença. Nestas áreas livres, alémdo controle de trânsito e quarentena, emcaso do aparecimento de algum foco,ocorrerá sacrifício dos animais com pos-terior indenização (fig. 06).

Considerações FinaisO controle da Febre Aftosa é es-

sencial para atender o mercado internoconsumidor de carne bovina, mas parater uma boa aceitabilidade no mercadointernacional; além de essencial, é indispen-sável o controle rígido desta enfermida-de.

Para a prevenção e o controle daAftosa, precisamos garantir a respostaimune da vacina com cuidados técnicosadequados desde a retirada desta da lojaagropecuária até sua aplicação; porém, da-dos nos mostram que apenas a vacinaçãoem massa e de forma adequada não é osuficiente, sendo assim, necessários outroscuidados como o controle de trânsitoanimal e os processos de quarentena.

Referências BibliográficasBrasil, Normas para o combate à febre

aftosa. Disponível em: http://www.saa.rs.gov.br. Acesso em: abril de 2007.

Correa, et al. Doença de ruminantes eeqüinos. 2 ed. São Paulo: Varela, 2001. 420p.

Darsie,et al. Vacinação emergencial debovinos contra febre aftosa. Disponível em:http://www.paho.org/spanish/hsp/scv/bo-letim-aft-67/. Acesso em: agosto de 2006.

Lima, R.C.A., Miranda, S.H.G., Galli, F. Fe-bre aftosa: Impacto sobre as exportaçõesbrasileiras de carnes e o contexto mundialdas barreiras sanitárias. ESALQ, São Paulo,2005. Disponível em: http://cepea.esalq.usp.br/. Acesso em: abril de 2007.

Lyra, T.M.P., Silva, J.A. A febre aftosa noBrasil, 1960- 2002. Disponível em: http://bvs.panaftosa.org.br/textoc/Lyra-FMD/. Aces-so em: agosto de 2006.

Sâmara, et al. Implicação técnica da vaci-nação na resposta imune contra o vírus dafebre aftosa. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bjvras/v41n6/25244.pdf.Acesso em: agosto de 2006.

Silva e Miranda. A febre aftosa e os im-pactos econômicos no setor de carne. Dis-ponível em: http://cepea.esalq.usp.br/pdf/ar-tigo-febre-aftosa.pdf. Acesso em: agosto de2006.

Caio Cesar Matias de MeloHenrique Neves BoniMauro Gonzáles Torres CalimanRafael Lucena PéricoVinicius Buffon Maion

Figura 06 - Eutanásia em massa

Alunos da 3ª turma do Curso de MedicinaVeterinária da FAI

Revisão Final: Profª. Drª. Sandra HelenaGabaldi Wolf

Figura 05 - Claudicação

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Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária da FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas) - Ano 3 nº 21 - maio/junho de20074

Artigo de Divulgação Científica - Relato de Caso

Luxação Medial de PatelaM.V. Tiago de Almeida ToschiOrientador de Estágios do Curso de

Medicina Veterinária da FAI

Vinícius Buffon MaionAluno da 3º Turma do Curso de Medi-

cina Veterinária da FAI

Revisão final: Prof. Dr. AlexandreWolf

IntroduçãoA patela é um osso que compõe a ar-

ticulação fêmuro-tíbio-patelar, está fixa-do pelo ligamento patelar e desliza sobreo sulco troclear do fêmur (fig. 01). Suasaída deste “trilho” constitui uma luxação.

A luxação patelar medial é umaafecção articular comum, frequentemen-te associada à claudicação de membrospélvicos, em cães de raças de pequenoporte, mas também pode ocorrer emcães de raças grandes (Fossum, 2001).Vasseur (1998) menciou que esse distúr-bio varia desde a instabilidade incipientesem sinais clínicos associados até a luxaçãocompleta e irredutível da patela eclaudicação grave. Sua etiologia pode sertraumática, genética ou evolutiva.

Achados Clínicos e RadiográficosA maioria dos pacientes com luxação

patelar medial apresenta anormalidadesmusculoesqueléticas associadas, tais como:deslocamento medial do grupo muscu-lar quadricipital, torção lateral do fêmurdistal, arqueamento lateral do terço distaldo fêmur, displasia epifisária femoral, ins-tabilidade rotacional da soldra ou defor-midade tibial (Fossum, 2001) (fig. 02).

Sinais ClínicosConforme descrito por Piermattei &

Flo (1999), os sinais clínicos associados àluxação patelar medial congênita ouevolutiva variam com o grau ou classifi-cação da luxação.

Grau I - Ausência de claudicação.Achado acidental de luxação patelar noexame ortopédico.

Grau II - Saltos ocasionais quandocaminham ou correm. A patela pode ser

deslocada manualmente com uma pres-são lateral ou pode luxar com uma flexãoarticular, mas retorna após a extensão dojoelho. Deformidade angular leve dofêmur.

Grau III - Claudicação e saltos ocasi-onais. A patela permanece luxadamedialmente na maior parte do tempo,mas pode ser reduzida manualmente coma soldra em extensão. Deslocamentomedial do grupo muscular do quadríceps,deformidade do fêmur e tíbia e altera-ções na superfície articular.

Grau IV - Caminha em posição aga-chada e não estende a articulação. Podeocorrer uma rotação medial de 80 a 90graus do platô tibial proximal. A patelafica luxada de modo permanente e nãopode ser reposicionada manualmente.Sulco troclear raso, deformidade dofêmur e tíbia e alterações na superfíciearticular.

Em neonatos e filhotes mais velhosapresentam sinais clínicos de elevação domembro afetado e, a partir do momen-

to que eles começam a andar, apresen-tam os sinais referentes aos graus III e IV.

Animais jovens a adultos com luxaçãode graus II e III têm a marcha anormalou intermitentemente anormal durantetoda a vida.

Animais mais velhos com luxação degrau I ou II podem exibir sinais súbitosde claudicação pelo colapso dos tecidosmoles.

E também há cães que sãoassintomáticos.

Método DiagnósticoAnamnese: raça (pequeno porte), si-

nais clínicos e histórico familiar.Exame Físico: palpação do joelho,

com a possibilidade de luxação manual.Exame Complementar: radiografia

(projeção crânio-caudal e lâtero-medial;deslocamento patelar + anormalidadesdo fêmur e tíbia e, sinais de doença arti-cular degenerativa nos graus III e IV) (fig.03).

TratamentoPode-se escolher o tratamento

conservativo ou cirúrgico, dependendodo histórico, dos achados físicos e da ida-de do paciente, entre outros.

- Conservativo: indicado para animais

Figura 01 - Esquema anatômico daarticulação fêmuro-tíbio-patelar

Figura 02 - Esquema anatômico da luxaçãopatelar medial

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5Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária da FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas) - Ano 3 nº 21 - maio/junho de2007

Artigo de Divulgação Científica - Relato de Caso

idosos assintomáticos. Tratamento médi-co para doença articular degenerativa: alí-vio da dor e prevenção ou retardo dodesenvolvimento de novas alteraçõesdegenerativas, com a administração deantiinflamatórios não estoróides(AINEs), corticóides e/oucondroprotetores.

- Cirúrgico: indicado em qualquer ida-de e em paciente com claudicação. Exis-tem várias técnicas descritas; entretanto,atualmente é utilizada uma combinaçãodelas na tentativa de adquirir uma estabi-lidade da patela e o alinhamento do me-canismo extensor do membro.

Dentre algumas técnicas, podemoscitar: trocleoplastia por abrasão;trocleoplastia por depressão ouaprofundamento do sulco patelar;condroplastia troclear; transposição dacrista tibial; pateloplastia; suturas anti-rotacionais e reforço lateral do retináculo.

Como complementação ao procedi-mento cirúrgico, deve-se realizar como

descrito no tratamento conservativo.

Pós-OperatórioRealizar uma atadura macia (Robert

Jones modificado) por 3 dias, restriçãode exercício por 6 semanas e retorno daatividade gradativamente.

PrognósticoÉ excelente quanto ao retorno da fun-

ção articular, mas pode ocorrerrecorrência em até 50% dos casos. Aartropatia degenerativa progride indepen-dente do tratamento, mas não tão gravecomo ocorre na ruptura do ligamentocruzado cranial.

Relato de CasoA Clínica Veterinária da FAI atendeu

um cão da raça Poodle, com 3 anos deidade, apresentando claudicação do mem-bro posterior esquerdo, intermitente e denatureza leve. A patela luxava-se com fa-cilidade, especialmente quando o mem-bro era rotacionado internamente.

Este animal já havia sido submetido auma cirurgia do mesmo gênero no mem-bro contra-lateral, há 6 meses.

A técnica de escolha para este caso foia Trocleoplastia pela ressecção em cunhatroclear.

As trocleoplastias são técnicas queaprofundam a tróclea rasa, ausente ouconvexa, também conhecida comoSulcoplastia de recessão ou de encaixe(“concha de taco”).

Uma porção óssea em forma de “V”,incluindo o sulco revestido por uma su-perfície cartilaginosa, é removida a partirda tróclea com uma serra ou lâmina de

bisturi, e reservada (cunha osteocondral)(fig. 04 A). O defeito (rasamento) resul-tante da tróclea é alargado por outro cor-te, semelhante ao primeiro, com a serraem uma extremidade para remover umsegundo segmento ósseo (cunha óssea)(fig. 04 B). Quando a porção óssea, oriun-da da segunda incisão, é subtraída, a pri-meira é reposicionada e encaixada emdireção ao osso, com sua superfíciecartilaginosa voltada para a articulação,criando novo sulco de cartilagem hialina(fig. 04 C). Desta forma, os lados dodefeito tornam-se preenchidos comfibrocartilagem.

Após esta trocleoplastia, é realizada asutura da cápsula articular com fio deácido poliglicólico 2-0, com pontos sim-ples separados.

Uma técnica de sutura extra-capsularanti-rotacional, utilizando fio nãoabsorvível sintético (nylon 2-0), com pon-tos do tipo Lembert, também foi associ-ada neste procedimento, dando assim umamaior estabilidade à articulação. A redu-ção do espaço morto foi feita com fiocategute 2-0 utilizando o ponto tipo Swift,e a pele com fio de nylon 2-0 e pontossimples separados.

O pós-operatório exigiu um alto graude cooperação do proprietário, restrin-gindo o espaço do animal durante ummês, realizando sessões de fisioterapia ecompressas quentes e frias 2 vezes ao dia.Como coadjuvante, foi prescrito umregenerador de articulação (sulfato decondroitina + glicosaminoglicanopolissulfatado).

O animal respondeu bem ao tratamen-to, cessando a claudicação.

Referências BibliográficasFOSSUM, T.W. Doenças articulares do joe-

lho. In: Cirurgia de pequenos animais, 1a

ed., p.1079-86, 2001.

PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L. A Articu-lação Fêmuro-Tíbio-Patelar. In: Manual deortopedia e tratamento das fraturas dos pe-quenos animais, 3a ed., p.480-9, 1999.

VASSEUR, P. B. Articulação do joelho. In:Manual de cirurgia de pequenos animais,2a ed., p.2191-7, 1998.

Figura 03 - Exame radiográfico de umdeslocamento patelar e anormalidades dofêmur e tíbia (Projeção crânio-caudal (A) elátero-medial (B))

Figura 04 - Técnica de Trocleoplastia pela ressecção em cunha troclear. (A) Excisão da cunhaosteocondral. (B) Excisão da cunha óssea. (C) Reposição da cunha osteocondral no sulcoaprofundado, com sua superfície cartilaginosa voltada para a articulação

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Palavra do Professor

Profª. Ms. Fabiani de Paiva VieiraInspeção e Tecnologia de Alimentos de

Origem Animal

É importante que a sociedade sai-ba mais quem somos nós, Médicos Ve-terinários. Não cuidamos somente de ca-chorros, gatos e bovinos, estamos muitomais além; o Médico Veterinário, pela suaformação profissional, é um sanitaristapor excelência.

As duas áreas mais importantes deatuação do Médico Veterinário em Saú-de Pública dizem respeito ao controle daszoonoses e à higiene dos alimentos. Me-diante seus conhecimentos específicos, estáapto a manter em nível elevado a saúdeda população animal, proporcionar me-lhores condições ambientais e orientar apopulação humana quanto aos princípi-os básicos de saúde.

A Medicina Veterinária tem comoobjetivo a programação e a preservação

A Importância do Médico Veterinário para a Segurança AlimentarDa fazenda até a sua mesa

da saúde dos animais e, o Médico Veteri-nário, promove e preserva a saúde hu-mana, em razão da diminuição do riscode transmissão de doenças ao homem,proporcionando-lhe alimentos de melhorqualidade.

É competência do Médico Veteri-nário inspecionar todos os alimentos deorigem animal, desde o mel de abelhasaté o leite e seus derivados, assegurando-lhes qualidades físico-químicas emicrobiológicas, garantindo assim, umalimento seguro ao consumidor.

Por exemplo, em um estabeleci-mento de abate de bovinos, o animal ésubmetido a uma série de análises e exa-mes antes e depois do abate, para garan-tir ao consumidor final um produto dequalidade – são as denominadas inspe-ção “ante mortem” (fig. 01) e inspeção“post mortem” (fig. 02).

A inspeção “ante mortem” é desuma importância em um estabelecimen-to de abate, visto que algumas enfermi-dades têm sintomatologia clara nos ani-mais vivos. A constatação de alteraçõesnos animais determina a separação do lote,evitando assim a entrada de animais por-tadores de doenças infecto-contagiosas(como raiva, tétano, carbúnculo etc.) nasala de abate, o que, além de contaminaras instalações e equipamentos, atenta con-tra a saúde pública.

A inspeção “post mortem” é feitadurante a manipulação do animal após oabate. São realizadas várias análises e exa-mes em suas vísceras, linfonodos e mús-culos, a fim de garantir a qualidade do

produto e a saúde do consumidor.No varejo, vários aspectos podem

ajudar o consumidor a saber se o produ-to que ele está comprando vem de esta-belecimento inspecionado.

Quando a carne se apresenta em-balada em cortes, a rotulagem deve con-ter todas as informações necessárias paraque se saiba qual o estabelecimento pro-cessou aquele produto, com a logomarcado serviço de inspeção, que contém umnúmero que identifica o estabelecimento,a data do processamento, a data de vali-dade, a temperatura de conservação etc.

Quando está em grandes peças épossível observar o carimbo da inspe-ção (de cor azul/roxa, feito com tintaatóxica), cujo interior existe um númeroque identifica o estabelecimento produ-tor.

Se as peças estiverem em cortessem nenhuma identificação do local pro-dutor, o consumidor pode e deve exigirdo estabelecimento a nota de compra doproduto, o que lhe permitirá constatar sea carne veio de estabelecimento registra-do ou não.

Caso não se comprove a origemda carne, o consumidor deve denunciaro estabelecimento às autoridades de saú-de pública para que seja feita a verifica-ção da qualidade do produto oferecido.Isso é regra para todo alimento de ori-gem animal: leite, peixe, rã, avestruz, mel,ovos, aves, entre outros.

Este artigo tem como objetivo in-formar um pouco mais a população so-bre a importância deste profissional –Médico Veterinário - na saúde pública,bem como o direito do consumidor emexigir a procedência de todo alimento quevai para a sua mesa.

Referências Bibliográficas:Veículo Informativo do Conselho Regio-

nal de Medicina Veterinária do Estado da Bahia(CRMV – BA). Ano I, n 13, Setembro de 2006.

www.sic.org.br/inspecao.asp (23/04/2007)www.mp.pa.gov.br/caocivel/links/mode-

los/matadouro.html (23/04/2007)Prata & Fukuda. Fundamentos e Inspeção

de Carnes. Funep. 2001. Jaboticabal.

Figura 01 - Inspeção “ante mortem”

Expe

dien

te

Boletim Científico do Cursode Medicina Veterinária da FAIUma Publicação Oficial dasFaculdades Adamantinenses Integradas.

Autarquia MunicipalCGC 03.061.303/0001-02

DiretorProf. Dr. Roldão Simione

Vice DiretorProf. Dr. Jurandir Savi

Editor - chefeProfa. Drª. Sandra Helena Gabaldi Wolf

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Coordenador EditorialProf. Ms. Márcio Castro

Diagramação - Projeto GráficoFabrício Lopes

Assistente de Coordenação EditorialAna Paula Clapes Nunes

Revisão:Profª Neusa Maria Pais

Conselho CientíficoProf. Dr. Alexandre Wolf

Profª. Drª. Fernanda Cipriano RochaProf. Dr. Gildo MatheusProfª. Drª. Jaqueline Haddad MachadoProfª. Ms. Lílian BevilaquaProfª. Drª. Sandra Helena Gabaldi Wolf

Comissão de ÉticaProf. Ms. José Antonio MarcianoProf. Ms. Milton Alves Junior

Jornalista ResponsávelSérgio Barbosa Mtb nº 16.772/SP

Tiragem400 exemplares

Editora: Edições OmniaRua Nove de Julho, 730Fone/Fax: (18) 3522-1002CEP 17800-000 – Adamantina/SPSite: www.fai.com.br

E-mail:[email protected]

Impressão:OPA: Organização de Publicidade Adamantina

O Boletim Científico não se responsabilizapelos artigos assinados. Os mesmos sãode inteira responsabilidade de seus autores,não refletindo necessariamentea opinão da Instituição.Ex

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Figura 02 - Inspeção “post mortem”