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Candombá – Revista Virtual, v. 1, n. 1, jan – jun 2005 ISSN 1809-0362 1 Licenciatura em Ciências Biológicas; Faculdades Jorge Amado. Ano 1; Nº 1; Salvador, Junho/2005. Tendo como objetivos proporcionar aos professores e graduandos dos cursos de Licenciatura do ISE/FJA a oportunidade de conhecer experiências de gestão escolar, que se destacam por envolverem o compromisso com a cidadania consciente e ativa e com a emancipação dos seres humanos; de refletir sobre as possibilidades de continuidade articulada entre as etapas da Educação Básica, através de ações cooperativas e sinérgicas entre os professores das referidas etapas; e, ainda, de aprofundar a relação do ISE/FJA com escolas locais, com vistas ao desenvolvimento de parcerias, foi realizado o seminário Escolas que são a Nossa Cara , no dia 3 de junho, no auditório Zélia Gattai das Faculdades Jorge Amado. O evento teve como foco o tema A Escola e a Constituição de Identidades Individuais e Coletivas , de modo que se evidenciasse que a prática pedagógica não deve restringir-se aos poucos rec urs os disponíveis, mas , sim, comprometer-se com a busca de criatividade e de envolvimento da comunidade escolar. O evento foi organizado pelos alunos do segundo semestre letivo do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, sob a coordenação geral da Professora Rosiléia Oliveira de Almeida e da aluna Maria Cicília Caldas Barbosa, contando, ainda, com a orientação dos professores de Prática de Ensino II e de Dimensões do Sistema Educacional Brasileiro. Fig. 1. Alunos da Comissão Organizadora. Sabe-se que, com os mesmos ingredientes, pode- se ter sucesso ou insucesso. Mas, afinal, o que faz a diferença? Uma das pretensões dos organizadores do evento foi a de semear a atitude crítica diante do discurso amplamente difundido nos es paços formativos de professores de que as escolas, especialmente as públicas, são organizações homogêneas, desorganizadas, com professores sem compromisso e alunos desmotivados. Para alcançar essa pretensão, optou-se pela valorização de experiências desenvolvidas nas escolas convidadas, que, mesmo em situações adversas, buscam, no seu cotidiano, fazer a diferença. Boletim Informativo

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Candombá – Rev ista Virtua l, v . 1, n. 1, j an – j un 2005 ISSN 1809-0362

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Licenciatura em Ciências Biológicas; Faculdades Jorge

Amado. Ano 1; Nº 1; Salvador, Junho/2005.

Tendo como objetivos proporcionar aos

professores e graduandos dos cursos de

Licenciatura do ISE/FJA a oportunidade de conhecer

experiências de gestão escolar, que se des tacam

por envolverem o compromisso com a cidadania

consciente e ativa e com a emancipação dos seres

humanos; de refletir sobre as possibilidades de

continuidade articulada entre as etapas da

Educação Básica, através de ações cooperativas e

sinérgicas entre os professores das referidas

etapas; e, ainda, de aprofundar a relação do

ISE/FJA com escolas locais , com vis tas ao

desenvolvimento de parcerias, foi realizado o

seminário Escolas que são a Nossa Cara , no dia

3 de junho, no auditório Zélia Gattai das Faculdades

Jorge Amado.

O evento teve como foco o tema A Escola e a

Constituição de Identidades Individuais e

Coletivas, de modo que se evidenciasse que a

prática pedagógica não deve restringir-se aos

poucos recursos disponíveis , mas , s im,

comprometer-se com a busca de criatividade e de

envolvimento da comunidade escolar. O evento foi

organizado pelos alunos do segundo semestre letivo

do Curso de Licenciatura em Ciênc ias Biológicas ,

sob a coordenação geral da P rofessora Rosiléia

Oliveira de Almeida e da aluna Maria Cicília Caldas

Barbosa, contando, ainda, com a orientação dos

professores de Prática de Ensino II e de Dimensões

do Sistema Educacional Brasileiro.

Fig. 1. Alunos da Comissão Organizadora.

Sabe-se que, com os mesmos ingredientes, pode-

se ter sucesso ou insucesso. Mas, afinal, o que faz

a diferença?

Uma das pretensões dos organizadores do

evento foi a de semear a atitude c rítica diante do

discurso amplamente difundido nos espaços

formativos de professores de que as escolas ,

especialmente as públicas , são organizações

homogêneas , desorganizadas, com professores sem

compromisso e alunos desmotivados . Para alcançar

essa pretensão, optou-se pela valorização de

experiências desenvolvidas nas escolas convidadas ,

que, mesmo em situações adversas , buscam, no

seu cotidiano, fazer a diferença.

Boletim Informativo

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Fig. 2. Participantes: professores e alunos dos cursos de Licenciatura das FJA.

O seminário foi realizado em dois momentos: o

primeiro aconteceu à tarde, contando com a

participação do Colégio Estadual Hamilton de Jesus

Lopes - Complexo Educacional Jiquitaia, cujos

expositores Ableni Argollo (Coordenadora

Pedagógica), I raneide Freitas Gonçalves

(Professora), Jacira da P urificação Adami

(Professora), apresentaram o projeto “Tempo de

Aprender”; e a Escola Estadual José Augusto

Tourinho Dantas , cujas expositoras Rita Cordeiro

(Professora de Ciências e Horticultura) e Denivalda

Lima Anas tácio (Professora de Informática da

escola e aluna do curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas – FJA), apresentaram o projeto “Em se

plantando, nem tudo dá...”.

O segundo momento foi realizado à noite e

envolveu a apresentação do projeto “Uma Viagem

Histórica ao Subúrbio Ferroviário”, pela

Professora Telma Conceição da Cunha

(C oordenadora do projeto) e por Tércio Conceição

da Silva (Ex-professor da escola e aluno do curso

de Licenciatura em Ciências Biológicas – FJA); em

seguida, a Escola e Clube A rela relatou sua

experiência, com o trabalho “Uma Prática da

Educação Inclusiva”, tendo como expositoras a

ps icopedagoga Isadora Sales Côrtes (Coordenadora

Pedagógica da escola), Genice Oliveira, Alzeni

Suzarth e Noélia Almeida (professoras da escola e

alunas do curso Normal Superior das FJA).

O evento foi aberto com a projeção da mídia A

Canção de Cada Um:

Quando uma mulher, de certa tribo da África,

sabe que está grávida, segue para a selva com outras

mulheres

e juntas rezam e meditam até que aparece a “canção da

criança”.

Quando nasce a criança, a comunidade se junta

e lhe cantam a sua canção.

Logo, quando a criança começa sua educação,

o povo se junta e lhe cantam sua canção.

Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e

canta.

Quando chega o momento do seu casamento a pessoa

escuta a sua canção.

Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste

mundo,

a família e amigos aproximam-se e,

igual como em seu nascimento,

cantam a sua canção para acompanhá-lo na "viagem".

Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os índios

cantam a canção.

Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime

ou um ato social aberrante, o levam até o centro do

povoado

e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.

Então lhe cantam a sua canção.

A tribo reconhece que a correção para as condutas

anti-sociais não é o castigo;

é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.

Quando reconhecemos nossa própria canção

já não temos desejos nem necessidade de prejudicar

ninguém.

Teus amigos conhecem a "tua canção"

e a cantam quando a esqueces.

Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos

erros que cometes

ou as escuras imagens que mostras aos demais.

Eles recordam tua beleza quando te sentes feio;

tua totalidade quando estás quebrado;

tua inocência quando te sentes culpado

e teu propósito quando estás confuso."

Tolba Phanem

(www.inverso.org.br/blob/115.pps)

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Em seguida, houve o pronunc iamento da

professora Lúcia Maria Souza da Silva (Diretora

Geral e Diretora Acadêmica das FJA), que ressaltou

a importânc ia da idealização e desenvolvimento de

projetos pedagógicos que envolvam ações

educativas nas comunidades em que as escolas

es tão inseridas . Além disso, enfatizou a

responsabilidade das FJA na formação de

educadores comprometidos com uma educação

inclusiva, preocupados com a humanização dos

homens , a consciênc ia ecológica e o educar para a

paz.

Fig. 3. Abertura do evento pela Diretora Geral das FJA.

Após as apresentações das escolas , as

experiências por elas relatadas foram comentadas ,

respectivamente, pelos professores José Augusto

Ramos da Luz, Marcus Welby Borges Oliveira,

Juvenal de Carvalho Conceição e Josilda Batista

Lima, pertencentes ao quadro docente do ISE/FJA .

Todos eles valorizaram as experiências de gestão

escolar empreendidas nas escolas . O público

também participou ativamente, formulando

perguntas ou comentando as apresentações dos

palestrantes .

Projeto “Tempo de Aprender”

O Colégio Estadual Hamilton de Jesus Lopes -

Complexo Educac ional Jequitaia “Centro Múltiplo

Oscar Cordeiro” é uma unidade voltada para a

Educação de Jovens e Adultos que desenvolve o

projeto “Tempo de Aprender”. O projeto visa

preparar os alunos para o mercado de trabalho,

através de uma proposta pedagógica que abrange

diversas modalidades educativas e que permite

flexibilidade no cumprimento dos programas de

es tudos . Tem por meta a educação para a

participação social, comprometida com a prática

cidadã.

O “Tempo de Aprender” é destinado a alunos

com idade acima de 20 anos , contando atualmente

com 1500 alunos . Sua metodologia de ens ino toma

como referênc ia os conhecimentos prévios dos

alunos , na perspectiva de uma aprendizagem

significativa dos conteúdos , os quais são articulados

à realidade social. Envolve o uso de telesalas ,

sendo que, em cada uma delas , trabalha-se com

uma disciplina (Matemática, Português , Biologia

etc .), sendo o rodízio feito pelo aluno. As aulas de

Biologia, Física, Química e Matemática são

desenvolvidas com atividades práticas , envolvendo

visitas a feiras-livres, cervejarias , indústrias e

laboratórios .

O aluno cujo ritmo de aprendizagem é

diferenciado tem chance de cursar aceleração ou

fazer exames através da Comissão Permanente de

Avaliação (CPA). Segundo depoimento de uma

aluna, “é muito bom o método utilizado pela escola,

que, assim, dá oportunidade a mães e pais de

famílias que trabalham de terem chances de voltar

a estudar”.

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Fig. 4. Apresentação do Projeto “Tempo de Aprender”.

Segundo a professora Jacira, o maior desafio

encontrado e superado pelo projeto “Tempo de

Aprender” foram os problemas sociais , e não os

disciplinares , visto que todos os alunos são adultos .

O desafio de mantê-los na escola é grande devido

às dificuldades que eles enfrentam, tais como:

doenças de filhos , falta de dinheiro para transporte,

mudanças de horário do trabalho etc ., o que exige

a atuação da escola no sentido de buscar informar-

se sobre o que está acontecendo, inclusive

telefonando para suas casas e ajudando-os a

superar tais dificuldades .

Já ancorado na Antártida, um ruído me chamou a

atenção. Pensei: será que até aqui os chineses

também fritam pastéis? Eram cristais de gelo que

caíam e, ao entrarem em contato com a água do

mar, causavam aquele ruído e o efeito visual era

maravilhoso. Pensei em filmar, mas desisti, pois

iria ter tempo. Ficaria atracado ali por alguns

meses. 365 dias se passaram e o fenômeno não

mais aconteceu. Concluí que algumas

oportunidades são únicas e nem o tempo pode

fazer com que elas ressurjam. (Torbem Graew)

No Colégio Estadual Hamilton de Jesus Lopes

muitos jovens e adultos abraçaram a oportunidade,

talvez única para eles , de continuar sua

escolarização, através da adesão ao Projeto

“Tempo de Aprender”.

Endereço: Av. Oscar Pontes, s/n, Água de Meninos – Centro Múltiplo Oscar Cordeiro – CEP 40.460-130 – Salvador – BA – (71) 3312-2245.

“Em se plantando nem tudo dá...”

O projeto da escola Tourinho Dantas teve início

no ano de 2002, envolvendo ações interessantes ,

tais como: horticultura, rádio comunitária e

Congresso de Pais , com a participação intensa da

comunidade. Além disso, os alunos da escola, que

“querem entrar para a história”, envolvem-se nos

projetos de forma entus iasmada e comprometida.

No projeto de horticultura, os legumes ,

hortaliças e frutas são plantados , cuidados e

colhidos pelos próprios alunos , sendo utilizados na

merenda escolar e distribuídos na comunidade,

para serem consumidos nas residências. A

experiência tem mostrado que não basta apenas

lançar a semente ao solo. É necessário tratá-lo com

carinho, para que as sementes germinem...

Fig. 5. Ovos e fr1utas produzidos pelos alunos na escola.

A rádio jornal CNT (Central de Notícias

Tourinho) é outro projeto da escola. Visa inserir o

jornalismo no currículo, com a utilização de novas

tecnologias da informação, divulgando as atividades

desenvolvidas na escola para o público interno e

para a comunidade. C ontém entrevistas com alunos

que se destacaram em concursos (Alunos Nota 10),

relatos de atividades culturais , opiniões dos alunos

sobre temas de natureza política, manifestações de

dificuldades enfrentadas nas disciplinas , galeria de

trabalhos de Artes Plásticas , poesias e propostas de

solução para problemas enfrentados pelo Brasil e

pela comunidade.

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Fig. 6. Capa da Revista CNT.

Além disso, a escola vem se destacando pelas

aulas de campo. Os alunos visitaram o rio Ipitanga,

que está morrendo devido ao alto índice de

poluição. Enfim, es ta escola vem se tornando um

referencial para as demais escolas , por es tar

desenvolvendo um excelente trabalho, visando à

melhoria do ensino e provando que ...em se

plantando... e cuidando... tudo dá!.

Fig. 7. Alunos em trabalho de campo no Rio Ipitanga.

Segundo Rita Cordeiro (P rofessora de Ciências e

Horticultura), o Colégio Tourinho Dantas é marcada

pela participação da comunidade. É uma escola

nova, com quatro anos de fundação, sendo que a

direção investiu em projetos , a maioria realizados

através de parcerias com órgãos públicos e ONGs.

Os motivos que levaram a escola a desenvolver o

projeto foram “a carência da comunidade e as

necessidades dos alunos , diante da falta de

recursos liberados pelo governo para as escolas

públicas”.

Em relato de estágio realizado na Escola José

Augusto Tourinho Dantas uma aluna do 2º

semestre do curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas , deslumbrada com as práticas educativas

desenvolvidas pela escola, escreveu:

a visita à escola, para nós alunos do segundo

semestre, foi a iniciação do elo entre o futuro

professor e o seu fut uro ambiente de trabalho. Foi

a certeza de que o professor não é meramente um

técnico que só passa i nformações, mas sim um

empreendedor, ou, como diria Lulu Santos, um

desbravador dos setes mares, que é o caminho do

saber. Ser professor assemelha-se ao plantio. O

agricultor observa a terra em que irá plantar. Logo

em seguida, escolhe as sementes que

possivelmente germinarão naquela terra e vai

atrás dos melhores procedimentos para garantir

uma boa colheita.

Endereço: K2, Estrada do CIA, Fazenda Cassange, Parque São Cristóvão – CEP 40.000-20 – Salvador – BA – (71) 3377-5473. tourinhot [email protected]

“Uma Viagem Histórica ao Subúrbio

Ferroviário”

A apresentação do projeto “Uma Viagem

Histórica ao Subúrbio Ferroviário”, realizada

pela Escola Municipal de Paripe, começou com a

exposição de uma frase ilustrativa dos princ ípios

pedagógicos da escola: “uma pessoa que não sabe

sua história, que não sabe sobre o lugar em que

vive, não está integrada à sua comunidade, à sua

cidade, ao seu país ”. Adotando uma abordagem

interdisciplinar dos conteúdos e uma gestão

participativa, a escola tem inserido em seu

currículo, desde o segundo semestre de 2004,

atividades que valorizam o patrimônio his tórico,

cultural e ambiental do Subúrbio Ferroviário.

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Fig. 8. Apresentação do Projeto “Uma Viagem Histórica ao Subúrbio Ferroviário”.

Os alunos são envolvidos em ações que

propiciam o resgate da his tória local, tais como:

leitura e discussão de reportagens sobre o Subúrbio

Ferroviário; identificação de atrativos locais ;

realização de entrevistas com moradores antigos da

região; produção de textos e cartilhas com a

história do Subúrbio Ferroviário; e, ainda,

elaboração de roteiros turísticos no subúrbio, tanto

para a população local, carente de lazer, quanto

para visitantes . Tais ações exigem a apropriação de

linguagens para registrar, interpretar e sistematizar

o saber localmente produzido. O conhecimento

construído pelos alunos é compartilhado com outras

comunidades municipais , es taduais e internacionais ,

fazendo-se o uso humanizador das novas

tecnologias da informação.

A fixação de panfletos com curiosidades sobre

os bairros do Subúrbio Ferroviário nos ônibus de

Salvador é uma outra importante ação, que foi

viabilizada através da parceria da escola com as

empresas de transporte urbano que atendem à

região.

Fig. 9. Exemplo de panfleto afixado nos ônibus urbanos de Salvador.

Através do projeto, os alunos estudam os

lugares do bairro com significação histórica, tais

como: a linha ferroviária e a Avenida Suburbana,

que distinguem o Subúrbio Ferroviário das outras

regiões de Salvador, por oportunizar duas

alternativas de transporte aos moradores; o bairro

do Lobato, local em que foi descoberta pela

primeira vez a exis tência de petróleo no Brasil e

que, por isso, foi visitado pelo presidente Getúlio

Vargas; as praias e as belas vistas ; o Parque de

São Bartolomeu, patrimônio não só ambiental, mas

também cultural, por estar vinculado à religiosidade

do povo baiano; as feiras-livres , que dão

dinamismo ao comérc io local; e, ainda, o bairro de

Plataforma, que participou da luta pela

Independência do Brasil e que teve grande

importância econômica no século passado, por

sediar uma indústria de tecidos que chegou a

empregar 1500 funcionários .

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Além de ampliarem seus conhecimentos

históricos e culturais sobre o Subúrbio Ferroviário,

os alunos desenvolvem habilidades ligadas à

oralidade e à comunicação. Tornam-se capazes de

construir hipóteses e de resolver problemas ,

refletindo sobre as causas dos problemas sociais e

ambientais e propondo formas de intervenção na

comunidade, visando superá-los .

O professor Gey Espinheira, es tudioso do

Subúrbio Ferroviário, em seu trabalho sobre a

ocupação de Bate Coração (Paripe) ouviu de um

dos seus informantes , que contemplava a paisagem

tranqüila e bela da Baia de Todos os Santos ,

olhando-a do alto de P aripe, no cume de Bate-

Coração, as seguinte palavras: " - Essa é uma terra

cara para gente barata.". Isso reflete como a baixa

es tima cons truída socialmente leva os sujeitos a

não se sentirem merecedores do acesso a uma bela

vista, sendo isso privilégio para aqueles que detêm

o dinheiro, "os brancos".

Segundo o aluno Tércio, atualmente no quarto

semestre do Curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas , o projeto “Uma Viagem Histórica ao

Subúrbio Ferroviário” tem contribuído para que

os moradores de P aripe se reconheçam como

cidadãos , mudando sua visão do espaço em que

vivem, o que incide em suas relações , em seus

comportamentos e em sua possibilidade de ação

política na vida social.

Na visão da professora Telma (Coordenadora do

Projeto), os bairros do subúrbio de Salvador são

apresentados na mídia de forma preconceituosa,

exibindo apenas imagens que mostram violência,

pobreza, epidemias , desabamentos , sujeiras e

outras características negativas , o que implica em

uma visão distorcida da realidade. O projeto

contribuiu para que os alunos da escola tivessem

uma compreensão c rítica desse discurso

discriminatório, passando a assumir sua condição

de sujeitos históricos , que contribuíram e

contribuem para o desenvolvimento de nossa

cidade.

Endereço: Vila Nossa Senhora Aparecida, nº 53, Paripe – Salvador – BA – (71) 3521-3132.

“Uma Prática de Educação Inclusiva”

Tomando o entusiasmo como a mola propulsora

da ação educativa, a coordenadora pedagógica da

Escola e Clube Arela, Isadora Côrtes , apresentou os

diferenciais da escola que a des tacam como uma

experiência pioneira e bem sucedida na Bahia de

inclusão, em classes regulares , de c rianças que

apresentam necessidades especiais .

Além de apresentarem uma infra-estrutura

planejada e, em certos casos , adaptada, os

ambientes de aprendizagem da escola são

organizados para atender um número reduzido de

alunos , sendo as atividades didáticas especialmente

planejadas para propiciar a integração plena dos

alunos com necessidades especiais . Concebidas

numa perspec tiva sóc io-interac ionista, as atividades

propiciam a convivência e a ajuda mútua entre os

alunos e são bastante diversificadas: música,

dramatização, culinária, educação fís ica, esportes

(judô, dança, natação), artes , atividades de campo

(como, por exemplo, vis ita ao Pelourinho e idas ao

cinema e ao teatro).

Fig. 10. Alunos do Arela, em excursão ao Pelourinho.

A construção do conhecimento ocorre através

da realização de projetos didáticos (supermercado,

comunicação – sintonia com o mundo; o ser

humano integral no mundo atual etc .), que

mobilizam a busca de informações pelos alunos em

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Fig. 11. Professora do Arela e aluna do Curso

Normal Superior - FJA, em rel ato de experiênci a.

fontes variadas e resultam na aprendizagem

significativa, através da mediação dos professores .

A formação dos alunos para o convívio social e para

o exercício da cidadania, em bases éticas , perpassa

todas as atividades pedagógicas .

A professora Teres inha Falcão (Diretora da

Escola e Clube Arela) prestigiou o evento, dando

seu depoimento sobre o desafio que tem sido

trabalhar, durante os últimos 21 anos , na

perspec tiva da inclusão, em c lasses regulares , de

c rianças portadoras de necessidades especiais .

Os relatos de três professoras da escola, que

também são alunas do Curso Normal Superior das

FJA , sobre os desafios que encontram, no cotidiano,

ao lidarem com as c rianças com necessidades

especiais , sensibilizaram todos os participantes do

evento. E las destacaram o papel significativo da

escola em suas vidas , propiciando a aquisição de

conhecimentos e competênc ias em serviço, não

propiciados pela faculdade. Esses relatos alertaram

todos os presentes para a importânc ia dos cursos

de formação de professores incorporarem em seus

currículos atividades voltadas para a capacitação

docente com vistas ao atendimento às crianças

especiais , em c lasses regulares .

Num certo dia, um dos alunos da escola, um

menino de seis anos , muito pirracento e danado, foi

chamado por sua mãe, que lhe pediu que lesse com

ela um texto muito interessante: “A Canção de

Cada Um”, projetada na abertura do evento. Após a

leitura, ela perguntou qual a canção que ele

escolheria para que ela lhe cantasse pelo resto de

sua vida, para que ele não se esquecesse nunca de

quem ele era. E le escolheu a canção de sua escola:

o “H ino do Arela” e cantou um trecho: “Nosso

sonho assim tão sonhado, nos anima e dá

satis fação! Pois quem sonha estando acordado,

obedece à voz do coração! ” A apresentação da

Escola e Clube A rela permitiu que todos nós ,

professores e alunos das FJA presentes ao evento,

também fôssemos embalados pelo sonho da

inclusão, em c lasses regulares , das crianças

portadoras de necessidades especiais .

Endereço: Rua do Rouxinol, 115, Imbuí – Salvador – BA – (71) 3231-7716; 3231-7458.

Atividades Culturais

Foram momentos especiais , que contaram com

a participação do cantor e compositor Pedro Sales ,

do músico André e do DJ Luiz Magalhães , os quais

apresentaram seu trabalho no intervalo das

palestras . O cantor Pedro Sales interpretou uma

mús ica que marcou a todos que estavam na platéia,

“A parthaide Mascarado”, sendo cantada duas vezes ,

a pedido do público.

Fig. 12. Apresentação do cantor Pedro Sales.

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Agradecimentos

O evento foi prestigiado por um total de 326 participantes ,

aos quais agradecemos a presença,

o que resultou na arrecadação de 162 kg de alimentos ,

que foram doados a um orfanato.

www.fja.edu.br/candomba

Se você deseja... assistir integralmente as palestras , gravadas em vídeo, entre em contato com:

Coordenação do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas: P rof. Edinaldo Luz das Neves -

[email protected]

Coordenação Geral do Evento: P rofa. Rosiléia Oliveira de Almeida - [email protected]

Faculdades Jorge Amado

Rua Luiz Vianna Filho, n.6775, Paralela – CEP 41.745-130 – Salvador – BA.

Este Boletim Informativo encontra-se disponível na Revista Virtual Candombá,

uma publicação do Curso de Licenc iatura em Ciências Biológicas