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BOLETIM JUVENTUDE ÀS RUAS BH #4
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Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
ÍNDICEEDITORIAL. PÁG 2
NO BRASIL E NO MUNDO: A LUTA DA JUVENTUDE É UMA SÓ. PÁG 6
MULHERES, SEJAMOS MILHARES NA LUTA PELOS NOSSOS DIREITOS. PÁG 10
GRUPO MARX-LÊNIN-TROTSKY: EM DEFESA DO MARXISMO! PÁG 13
O boletim Juventude às Ruas/BH é uma publicação independente,
difundida pela agrupação estudantil Juventude às Ruas, composta por
militantes da Liga Estratégia Revolucionária - Quarta
Internacional e independentes.
Nosso boletim é financiado apenas pelo esforço dos militantes e pelo apoio dos leitores. Não aceitamos nenhum tipo de financiamento da advindo da burguesia ou do seu
estado.
Para saber mais, visite: http://juventudeasruas.blogspot.com
"Os jovens querem aprender e lhes negam o acesso a cultura. Os jovens querem viver e lhes oferecem como futuro morrer de fome ou perecer em uma nova guerra imperialista. Os jovens
querem criar um novo mundo e somente lhes permitem manter e consolidar um mundo descomposto e degenerado. Os jovens querem saber como será o amanhã e a única resposta que
o capitalismo lhes dá é essa: 'Hoje terás que apertar cinto; amanhã nós veremos...'" Leon Trotsky, plataforma de luta para a juventude trabalhadora,1938.
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
EDITORIALBem vindos a todos, novos e velhos estudantes da UFMG. Todos os anos, milhares de jovens entram nas universidades públicas brasileiras. São poucos, se comparados ao total dos que realizam a prova do vestibular anualmente. Hoje, somente 13,8% da juventude brasileira está cursando o ensino superior, e destes, 75% nas universidades privadas, pagando altas mensalidades, sujeitos aos interesses dos grandes conglomerados do ensino privado (Anhanguera, Pitágoras, UNIP, etc), que oferecem um ensino de péssima qualidade, em um mercado de diplomas totalmente voltado para a formação de mão-de-obra qualificada para as necessidades do mercado. O vestibular, por essa perspectiva, é um mecanismo de exclusão da maioria da população da universidade pública, um “filtro de classe”, que separa os que têm condições de se preparar para o exame dos que não. O que deveria ser um direito de todos, se torna exclusão para a maioria, e para um setor da juventude trabalhadora, dívidas, pois a tão sonhada educação superior se torna mercadoria na mão dos barões do ensino privado. Esse é o primeiro fato à ser considerado quando entramos na universidade pública.
O Caráter de Classe da Universidade
Mas os problemas não param por aí. A universidade tem um caráter de classe bem definido, ao qual primeiro devemos observar para entender as contradições que se aglomeram aqui dentro. Hoje o conhecimento desenvolvido aqui dentro está longe de ser feito à serviço da maioria da população; a dita autonomia universitária é um mito que não corresponde aos grande serviços que a universidade pública presta para grandes empresas que aqui dentro vêm financiar suas pesquisas e influir nos rumos de se funcionamento, e a juventude pobre e negra está excluída dela, encontrando entrada somente pela porta dos fundos, através dos precários empregos terceirizados na limpeza, nas fundações privadas e serviços auxiliares. O governo atual do PT aprofunda um projeto de educação superior iniciado por FHC (e que remonta aos anos de ditadura militar) que se baseia na privatização da estrutura universitária, na colaboração com grandes empresas para o desenvolvimento de pesquisas (com acordos claramente favoráveis à iniciativa privada), no atrelamento dos recursos à burocracia acadêmica, na exclusão da maioria da população através do vestibular, e principalmente, na divisão nacional
entre universidades de “excelência” em pesquisa e desenvolvimento de conhecimento para grandes empresas; e universidades com condições precárias de ensino e pesquisa, para a formação de mão-de-obra barata e especializada, reduzindo os custos de formação de mão-de-obra das empresas, jogando para o trabalhador toda a responsabilidade de fazer duplas e triplas jornadas para conseguir trabalhar e se formar segundo as exigências do mercado, no país campeão dos rankings de acidentes no trabalho, dos empregos precários e das doenças causadas por péssimas condições de trabalho (como vemos nos altos índices de problemas psicológicos entre os profissionais da educação básica, por exemplo). A divisão entre universidades de “excelência” e de formação de mão-de-obra barata também é acompanhada pela sobrevalorização do bacharelado e da pós-graduação em detrimento da licenciatura e da própria graduação em geral, uma mera linha de produção e seleção de bolsistas.
Os programas PROUNI e REUNI também encontram seu lugar nesta lógica. O PROUNI, para esconder o déficit de vagas na educação pública, servir à propaganda demagógica da “democratização do acesso” do governo, repassando recursos para a iniciativa privada e os grandes barões da educação citados acima, sob a desculpa de estar “financiando a educação da juventude” (falácia que cai quando observamos que cada vaga financiada pelo PROUNI poderia servir para abrir três se a mesma quantia fosse investida na universidade pública). Já o REUNI vem para aprofundar essa divisão entre universidades elitizadas (chamadas “de excelência”) e de formação precária de professores e mão-de-obra, aumentando o descompasso em relação ao repasse de recursos para os diversos departamento, sem desenvolvimento de infra-estrutura (salas, bibliotecas, contratação de professores, etc), que continua sendo determinado pelos rankings de produtividade na pesquisa, reforçando a lógica elitista dos “centros de excelência” (quanto maior a nota obtida pelo curso no ENADE, maior a quantidade de recursos obtidos). Esses projetos só nos mostram como precisamos encarar todos os planos do governo para a educação superior à luz do seu projeto burguês mais geral de universidade e não isoladamente, e como em cada aspecto visam estes objetivos centrais descritos acima, unindo e subjugando em uma mesma lógica privatista, a serviço do mercado e excludente, as universidades públicas elitizadas ditas de “excelência em pesquisa”, as universidades públicas precárias, os grandes conglomerados educacionais privados, e a maioria da juventude que está fora das universidades.
Rodrigo Silva, estudante de filosofia e militante da LER-QI e Francisco Faria, estudante de filosofia
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
Centros de Excelência à serviço das grandes empresas
Um dos principais fatores que garantem a influência dos grandes capitalistas na universidade pública é a sua estrutura de poder, que é a correia antidemocrática de transmissão do projeto de universidade do governo para dentro das universidades públicas. É essa mesma estrutura arcaica, advinda do período da ditadura militar (e nunca posteriormente reformada, pois serve aos interesses deste governo e de todos os anteriores), que toma também as medidas de repressão ao movimento estudantil e aos estudantes em geral (como o fechamento de um dia do R.U., visando interromper os atos organizados contra o aumento de 66% no preço da refeição, deixando milhares de estudantes sem ter onde almoçar no dia 19/10/2012; os diversos processos administrativos à representantes estudantis ou estudantes que questionam as medidas privatistas tomadas por esta estrutura de poder, como representantes da moradia ou os que tentaram interromper a reunião do Conselho Universitário que votou o início das negociações para a entrega do Hospital Universitário à gestão privada da EBSERH, ou ainda as portarias autoritárias, como a 034, que restringem o acesso de pessoas ao campus, ou proíbem festas e atividades independentes). Também é por meio dessa estrutura é a que se assinam convênios para privatizar o funcionamento da universidade através de fundações privadas e como se darão as licitações de cantinas ou implementando a terceirização dos serviços.
É essa estrutura que decide, no conselho universitário, nas congregações e colegiados, quem vai pesquisar, o que, para quem e quanto irá receber de recursos para isso. A maior parte do dinheiro e dos esforços é destinada ao manutenção de pesquisas de alto nível a serviço de grandes empresas, como Vale S.A, VM (antiga Mannesman), voltadas para o desenvolvimento de patentes para estas grandes empresas, que também são contempladas com representação direta de seus sindicatos patronais (FIEMG, FIESP, CNI, etc) nos conselhos diretores dos órgãos de fomento à pesquisa à nível regional e nacional (CAPES, FAPEMiG, FAPESP, etc). O conhecimento produzido nas universidades, nessa lógica, está totalmente direcionado aos interesses das grandes empresas privadas que utilizam da universidade pública e de suas verbas públicas para seus interesses privados, para reduzir seus custos com pesquisas e aumentar suas taxas de mais-valia relativa. Com as parcerias entre institutos e núcleos de pesquisa e empresas dentro das universidades, o conhecimento fica ainda mais aprisionado a essa lógica. Pesquisadores de alto nível, funcionários de uma universidade pública, vendem seus trabalhos a empresas que lucrarão com esse material, pagando uma miséria aos bolsistas que desenvolverão
concretamente o trabalho árduo da pesquisa, sob péssimas condições, como nos mostra a ainda recente explosão de um laboratório no ICEx, que deixou com o rosto e corpo parcialmente queimados um bolsista da graduação, por negligência da direção do instituto com a situação alarmante da rede elétrica do prédio. Enquanto a estrutura universitária básica fica negligenciada, a reitoria assina convênios de milhões para produzir patentes para as grandes empresas no seu polo de desenvolvimento tecnológico, ocupado descaradamente por grandes empresas como Usiminas, ATI, diversas farmacêuticas, entre outras, com ajuda da estrutura de “excelência” da universidade pública*. Ao invés de dedicar sua capacidade intelectual às necessidades da esmagadora maioria do povo, o pesquisador só tem como alternativa concreta servir ao capital em troca de um possível posto privilegiado na burocracia acadêmica.
Pesquisadores da universidade que poderiam estar colocando seus conhecimentos à serviço dos trabalhadores e da grande maioria da população são cooptados para este projeto, imbuídos desde o seu ingresso na universidade da ideologia meritocrática que justifica os seus privilégios pelo seu “esforço”, sua “superação”, deslocando para longe do debate a questão da elitização e falta de condições de estudo e formação prévia para os jovens advindos da classe trabalhadora, ou ainda a questão política de que os esforços são recompensados para aqueles que sabem para quem se esforçar, ou seja, como melhor servir a este projeto burguês de universidade..
Essa é a lógica do desenvolvimento de pesquisas na universidade pública. Nas áreas de pesquisa que mais servem ao capital, como as engenharias, farmácia, biológicas e química, predominam as parcerias entre pesquisadores e empresas, como vimos. Enquanto isso, nas ciências humanas, economia, direito e artes – supostamente responsáveis pela elaboração de pensamento crítico sobre a sociedade, sua história e sobre todos os vieses de sua reprodução material, simbólica e intelectual –, o fato de o conhecimento ser produzido sob as rédeas curtas dos mesmos órgãos de fomento, com prazos, rankings de produtividade determinando a “qualidade” de um pesquisador, crivos ideológicos, aliena totalmente a produção intelectual da realidade social, coloca os pesquisadores das humanidades sob as normas do produtivismo, da lógica de conquista e garantia de privilégios, e não de desenvolvimento e transmissão de pensamento crítico sobre a sociedade e de conhecimento a serviço da humanidade. Nesse marco, assim como nas exatas, se alça acima do “baixo clero” acadêmico uma camada de burocratas, agentes do projeto de privatização e elitização da universidade pública, que sob
*“BH-Tec divulga empresas que vão ocupar primeiro prédio, com inauguração prevista para junho”, em https://www.ufmg.br/online/arquivos/018263.shtml
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
a falácia da meritocracia (seus posicionamentos nos rankings internacionais, suas notas de excelência nos órgãos de fomento em função dos “serviços” prestados a investidores privados) justificam seu controle de recursos na universidade, e seus projetos com objetivos ideologicamente determinados por sua relação com a estrutura de poder e o governo do PT. É preciso desfazer os argumentos meramente meritocráticos e mostrar concretamente o compromisso político (e material, afinal envolve seus privilégios) da burocracia acadêmica com o projeto de universidade levado adiante pelo governo federal, um projeto político que remonta ao projeto de universidade burguesa a nível mundial, como apresentaremos a seguir.
Universidade Burguesa e Crise Mundial
Esse projeto de universidade levado adiante
pelo governo do PT segue a cartilha da tendência do
ensino superior a nível internacional. Com a
assinatura de um importante acordo entre grandes
universidades europeias e instituições como o Banco
Mundial na cidade de Bolonha, em 1999, ficou
definida essa nova orientação para o ensino superior
na Europa, de acordo com o processo já avançado
que vinha se dando nos EUA. Os capitalistas
reclamavam que das dificuldades de escolher em
qual universidade europeia concentrar seus
investimentos para pesquisas, e como ter certeza de
sua qualidade, de que elas não eram tão “rentáveis”
quanto as universidades americanas, então
iniciaram as negociações para a instituição desse
acordo, em que se padronizaram os regimes
universitários entre várias universidades pela
Europa, incluindo nesse processo a instituição de
rankings de produtividade para compará-las. A
padronização de regimes universitários em
contextos muito diversos, o rankeamento
desenfreado e a consequente intensificação do
produtivismo (produção acadêmica alienada de
qualquer objetivo concreto com relação ao seu
objeto de estudo), da competição entre
pesquisadores para melhor se localizarem nestes
rankings, a pulverização da graduação normal,
reduzida para apenas três anos, visando apenas
formação profissional, rebaixou em muito a
qualidade dessas universidades enquanto centros de
produção de conhecimento livre a serviço da
humanidade. É esse modelo que inspira os planos
do governo para a universidade brasileira, e ao qual
tanto exaltam os membros da burocracia acadêmica.
Com o estouro da crise econômica
internacional, esse projeto burguês de universidade
vem nos mostrar o que têm a oferecer à juventude.
Nas maiores universidades da Espanha, Grécia, Grã-
Bretanha, entre outros países, os cortes nos gastos
do governo com a educação se aprofundam, aliados
ao incremento da privatização. A juventude, que
pensava “tudo bem, o ensino pode ter sido
sucateado, não podemos mais aproveitar a estrutura
da universidade pública como antes; não tenho
como pagar as caras pós-graduações para isso, mas pelo menos terei meu emprego garantido ao sair da universidade” hoje amarga as piores taxas de desemprego da história recente da Europa, chegando à taxas de 60% entre os jovens de 18 à 27 anos. Hoje os estudantes das principais universidades europeias tem se levantando contra essa situação, já nos dando diversos exemplos de luta, como as diversas paralisações estudantis, por toda Europa, incluindo até greves maiores, como na Espanha, envolvendo todos os setores da educação básica, média e superior. Isso mostra como os estudantes podem cumprir um papel importante na luta contra os efeitos da crise. Ou seja, o que vemos hoje com a crise econômica internacional é que esse é um modelo que nada pode oferecer à juventude ansiosa por transformações profundas na sociedade, muito menos garantir um futuro digno na degradada sociedade capitalista como está hoje.
Lutar pela Educação é Lutar pela Transformação Radical da Sociedade
Como vimos acima, a autonomia universitária de hoje é uma completa farsa. A universidade não é uma ilha, e o que acontece dentro dela é uma expressão de sua função social, indo nesse aspecto até o nível
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
internacional. Esta função social da universidade
está em disputa pelas classes fundamentais da
sociedade, a burguesia e o proletariado. Para nós,
retomar a importância do marxismo dentro da
universidade significa exatamente compreendermos
mais fundo para qual classe serve hoje este projeto
de universidade.
Nosso esforço de estudo e compreensão da dialética
material da sociedade de classes está em
congruência com o objetivo de compreender porque
hoje, o conhecimento produzido, quem tem acesso,
e outros aspectos da universidade, estão presos nas
amarras do capital. Nesse sentido, levantamos a
necessidade de um compreensão marxista da
universidade como um passo fundamental para
libertar todo o conhecimento que é produzido aqui
dentro, em todas as áreas.
E frente a isso, pelo que é preciso se
organizar?
Para combater esse caráter de classe da
universidade, levantamos a luta contra a sua
estrutura de poder autoritária da universidade
pública, pelo fim do vestibular e estatização das
universidades privadas, para que todos possam
estudar, e assim instaurar a verdadeira autonomia
universitária. Para que o conhecimento produzido
na universidade esteja a serviço da classe
trabalhadora, a única que tem interesse em libertar
totalmente o desenvolvimento do conhecimento
humano de quaisquer amarras. Nossa luta é para
que o marxismo invada a universidade, não como
panaceia, mas como um direcionamento classista
para enfrentarmos a universidade do capital.
Ao invés de entidades que servem de correia
de transmissão dos planos do governo,
lutemos por entidades estudantis militantes!
Sob estas bases, buscamos romper com o
isolamento em que estão as entidades estudantis, e
torná-las, de burocráticas, em instrumentos anti-
burocráticos, militantes, para organizar a lutar
contra o conhecimento a serviço do mercado, contra
o esoterismo intelectual, alimentado pela lógica do
produtivismo, contra a repressão dentro e fora da
universidade, levantando as questões que são
fundamentais dentro da universidade desde as
questões políticas nacionais, denunciando o elitismo
e a exclusão, e se ligando às lutas dos trabalhadores,
por entendermos o papel central da classe operária
como sujeito da transformação em que acreditamos.
Atualmente nossas entidades estudantis estão sendo
dirigidos por grupos políticos que fazem parte da
mesma engrenagem burocrática que possibilita com
que o governo e os capitalistas transformem as
universidades em garantias de seus interesses
privados. O DCE atualmente é dirigido pelo PT
junto do “Levante Popular da Juventude”. Ambos
são base de sustentação das diretrizes políticas do
governo Dilma, ou seja, são governistas. Ter um
DCE governista significa que - além de uma
estrutura de poder autoritária para que tenha sua
política garantida dentro da universidade – o
governo do PT, a serviço dos capitalistas,
implementam suas políticas privatistas de
universidade contando com representantes dentro
do movimento estudantil. Se fazem passar por
representantes dos interesses da maioria dos
estudantes e da juventude, mas na verdade, por seus
vínculos políticos e materiais com o governo se
transformam em engrenagens da máquina
governamental e da reitoria a serviço de um projeto
de universidade pública, elitizada, excludente,
racista e a serviço de interesses privados. O
questionamento da universidade de classe para nós
é apenas um aspecto da denúncia que fazemos de
toda a sociedade capitalista, que não tem mais nada
enquanto modo de produção para oferecer à
juventude e aos trabalhadores, senão exploração e
opressão, se reproduzindo de forma cada vez mais
convulsiva.
CONHEÇA, DISCUTA E MILITE COM A JUVENTUDE ÀS RUAS!
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
NO BRASIL E NO MUNDO: A LUTA DA JUVENTUDE É UMA SÓEstamos diante de uma crise estrutural e
histórica do capitalismo a nível mundial.
O mito dos anos 90, de que a história
havia acabado e o capitalismo triunfado
como ideologia e modo de produção cada
vez convence menos, quando este sistema
mostra seus limites e contradições
profundas. Essa característica de crise
estrutural já mostra que necessariamente
tem um caráter também político e
escancara os seus contornos fortemente
problemáticos no que tange às condições
de vida dos trabalhadores, do povo e
principalmente da juventude em todo o
mundo; com destaque para a Europa, para
o Norte da África e mundo Árabe – berços
da Primavera Árabe e de novos processos
de resistência e luta que ganham
proporções cada vez maiores por parte da
juventude e dos trabalhadores.
MAS, E NO BRASIL? O QUE TEMOS A VER
COM ISSO!?
Igualmente errados estão Dilma, Lula e o governo
do PT quando dizem que essa é uma crise restrita
aos “países ricos”. Usam tal recurso retórico
(cimentado por distorções estatísticas e políticas
demagógicas, além do “otimismo” da mídia
burguesa, interessada em aprofundar os ataques
aos direitos dos trabalhadores sob a desculpa da
competitividade, para promover sua “recuperação
econômica”) por seguirem, ainda que com
diferenças pontuais, exatamente a mesma cartilha
econômica e política que seguiam os governos
anteriores nas mãos do PSDB. Ou seja, fazem
parte do mesmo corpo de interesses ditados pelos
comandantes do capitalismo mundial, chamados
de “oligarquia financeira” ou “imperialistas” [1].
A dependência brasileira à entrada do Dólar
(moeda controlada pelo governo norte-
americano), assim como à importação de produtos
agrícolas brasileiros pela China, só aumentou
durante os governos Lula e Dilma. Portanto, se
notarmos que essa característica econômica
(dependência do capital imperialista + economia
caracterizada por exportação de produtos
agrícolas) é típica de países semi-coloniais,
veremos claramente que não existe meio de
qualquer mercado interno brasileiro se alçar sem
crédito nutrido a dólar e a “superávit primário”,
com uma balança econômica com um peso cada
vez mais reduzido da indústria e dependente da
exportação de commodities (produtos primários,
como ferro, carne, soja, etc), aprofundando a
dependência econômica nacional e sua sujeição
aos movimentos da crise mundial. Assim podemos
chegar à conclusão de que por maiores que sejam
as artimanhas econômicas não só o Brasil vai ser
atingido pela crise capitalista mundial, senão que
já se desenvolvem movimentos nesse sentido que
adiantam características fundamentais do que será
a crise capitalista no Brasil. O crescimento do PIB
já mostra suas características recessivas [2] e
dentre muitos efeitos da crise já se vê no Brasil
ataques referentes a essa tendência profunda,
visando manter as altas taxas de lucro anteriores
dos capitalistas neste país. O alto nível de
privatização em todas suas obras públicas e
investimentos realizado pelo governo do PT (que
ainda vai explodir mais até a Copa de 2014), a
privatização crescente do ensino superior,
transformando um direito em mercadoria na mão
dos grandes conglomerados educacionais; e no
plano do ataque às condições de vida da
população, o endividamento crescente das
famílias, a ameaça da carestia de vida e da
inflação, a degradação e precarização das
condições de trabalho e vida e, para dar
“cobertura” a tudo isso, a violência policial e a
retirada de direitos democráticos elementares,
como o direito à greve, livre expressão,
organização e manifestação. Por isso, no Brasil
os exemplos das lutas da juventude e dos
trabalhadores na Europa e em novos
processos revolucionários como no Egito
ajudam a nos prepararmos para esse
momento. Nós, da Juventude Às Ruas
lutamos para que os exemplos
internacionais sejam discutidos, estudados
e sirvam de exemplo para preparar nossas
organização estudantis (CA’s, DA’s, DCE’s e
a ANEL [3]) para que sejam instrumentos
que possibilitem organizar-nos
nacionalmente para enfrentar a crise que a
sede de lucro dos capitalistas criou.
[1] “Imperialismo: Fase superior do capitalismo”. V.I. Lênin
[2] 0.9% em 2013. Disponível em http://www.ibge.gov.br
[3] Assembleia Nacional dos Estudantes Livres. Organização nacional de estudantes independente do governo Dilma e do PT. Sua direção majoritária é o PSTU.
Bernardo Andrade, estudante de filosofia e militante da LER-QI
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
OS EXEMPLOS DE OUTROS PAÍSES
PODEM NOS ENSINAR
Dentre os muitos efeitos da crise, os que se
expressam no Estado Espanhol e Grécia ganham
contornos muito claramente delineados. A
Espanha, um dos países que mais lucrou nos anos
antecedentes à explosão da bolha imobiliária nos
EUA (que marca o primeiro momento da crise
capitalista) enfrenta níveis de desempregos de 26%
(considerando toda a população economicamente
ativa) e de 55% entre os jovens (até 26
anos) [4]. Isso acontece porque, após a criação de
uma bolha imobiliária que gerou lucros imensos aos
bancos Espanhóis (como o Santander, que lucra
alto dentro da UFMG) e Americanos, o Estado
Espanhol, o BCE e uma junta europeia, em função
dos interesses da Alemanha, impuseram medidas
altamente ofensivas aos direitos da juventude e dos
trabalhadores, desmantelando as remanescências já
caducas do “estado de bem estar social”. Tudo isso
para salvar os capitalistas que tiveram lucros
exorbitantes nos últimos anos.
Esse é o mesmo tipo de processo que se passa na
Grécia e infelizmente o futuro que planejam os
capitalistas e seus governos em todos os países na
Europa e no mundo. Isso só mostra que os
chamados regimes democráticos capitalistas não
são mais que comitês para servirem aos interesses
de empresários e capitalistas nos distintos
países [5]. Quando estes capitalistas deixam de
lucrar, se adiantam os governos a dar bilhões aos
bancos e empresas, em contrapartida cortes de
direitos e repressão policial à juventude e aos
trabalhadores. Isso se dá pelo caráter do Estado
capitalista, fundado sobre a apropriação forçada e
privada de poucos capitalistas sobre as forças de
produção, e portanto de tudo o existe, já que
tudo é produzido. Em paralelo, os que tudo
produzem - trabalhadores reunidos em
grandes fábricas e nos mais diversos ramos de
produção e serviços - recebem no final do mês
como retorno apenas uma quantia miserável
do valor do trabalho resistido durantes longos
dias nas fábricas e empregos. Ou seja, o
Estado baseado na propriedade privada e
seus regimes, seja o democrático, seja o
fascista, dão corpo à forma ampliada
socialmente do regime de poder dentro da
fábrica. O acumulo de poucos sobre o fruto do
trabalho de muitos. Os exemplos
internacionais tornam essa relação evidente.
Tanto é que vemos dentro de Estados
capitalistas considerados democráticos uma
completa ingerência de juntas econômicas
estrangeiras, como na Grécia, quando o Banco
Central Europeu, a mando do governo alemão,
derrubou o ex-presidente grego Gourgos
Papandreou. Além disso, na mesma Grécia, a
Polícia - uma das instituições mais elementares de
um Estado Capitalista, violenta e opressora
portanto em seu caráter essencial – vem sendo uma
incubadora de nazistas. 75% dos policiais gregos
votaram no partido neonazista (Golden Dawn;
Aurora Dourada, em português) nas últimas
eleições. Além da polícia delegar funções de polícia
aos neonazistas (exatamente como aconteceu no
início da ascensão fascista na Alemanha de
Hitler)[6], é brutal o aumento dos casos de tortura
pelas mãos da polícia, proteção aos fascistas em
suas incursões para agredirem imigrantes,
incluindo colaboração ativa e troca de informações.
Isso mostra que quando não conseguirem mais
retirar direitos enganando o povo nas urnas, os
capitalistas e seus governos se preparam para ter
outra forma de fazer isso; repressão e violência
contra os que resistem. Ou seja, a crise
escancara a questão fundamental: os
governos capitalistas querem fazer os
trabalhadores e o povo a pagarem pela crise.
Quem pagará pela crise? Nós, da Juventude
Às Ruas lutamos para que sejam os
capitalistas que paguem pela crise que eles
mesmos criaram!
POIS, NEM SÓ DE TREVAS VIVE O MUNDO
Se, como concluímos acima, a questão fundamental
que se coloca hoje é quem pagará pela crise criada
pelos capitalistas a nível mundial - e que já mostra
os sinais de como reverberará no Brasil -, esses
mesmos horizontes que anunciam tempestades
[4] BBC Brasil, 24/01/2013. Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/01/130124_espanha_desemprego_cc.shtml
[5] “O executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.”. Manifesto Comunista MARX. Edições Boitempo. São Paulo, 2005. Tradução Álvaro Pina. P. 42.
[6] disponível em operamundi.uol.com.br/conteúdo/noticias/24640/partido+neonazista+assume+funções+de+policia+na+grecia.shtml
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
semeiam primaveras que mostram o caminho a
seguir para impor que sejam os capitalistas que
paguem pela crise e não nós, juventude e
trabalhadores. A Primavera Árabe anunciou ao
mundo que é possível unificar a juventude e os
trabalhadores e romper com as perspectivas
individualistas e resignadas de teóricos do
capitalismo que diziam que a história acabou e que
não seria mais possível transformar a sociedade
através da luta independente da juventude junto com
os trabalhadores. No processo que segue mais
avançado, milhões nas ruas derrubaram Mubarak no
Egito e seguem mobilizados, mesmo com intensa
repressão policial. A queda de Mubarak foi só uma
mostra de que a pobreza, a exploração e opressão são
problemas próprias do capitalismo e não apenas de
um regime ou outro, já que ainda hoje, mais de um
ano depois da queda de Mubarak, as demandas
democráticas mais sentidas da população não foram
resolvidas e as mobilizações seguem intensas.
Além disso, outro grande exemplo que devemos nos
espelhar é da unidade entre estudantes e
trabalhadores na marcha dos Mineiros do Estado
Espanhol em Madri. Como parte dos ataques aos
mais elementares direitos no Estado Espanhol os
“planos de ajustes” impostos preveem o fechamento
da indústria carbonífera no país. Contra esses planos
os mineiros do Estado Espanhol realizaram uma
imensa greve que ganhou apoio e canalizou o
sentimento de revolta de todo o povo que vem
sofrendo com a crise. Ficou marcado um episódio
quando milhares de mineiros chegaram à cidade de
Madri com suas lanternas acesas em uma marcha
noturna e foram recebidos por mais de 25 mil
moradores que os apoiavam, mostrando como a
classe operária pode canalizar os sentimentos
populares de descontentamento contra os ataques às
condições de vida e as demandas democráticas da
população.
Esse exemplo é importante porque, para que sejam
os que criaram a crise, em função da acumulação
privada da riqueza produzida socialmente, que a
paguem; os que, em contrapartida, produzem tudo
são os únicos que tem o poder de controlar a
produção em função dos interesses da maioria da
população, pois não se apropriam individualmente
do fruto do trabalho social por serem parte
constitutiva desse trabalho social [7], os
trabalhadores.
Se formos procurar na História, não faltarão
exemplos deste tipo. Desde Contagem, Minas Gerais,
fins dos anos 60, quando os operários para
conseguirem melhorias de seus direitos, como salário
e melhores condições de trabalho, viram que só
poderiam conquista-los a partir de uma luta pela
derrubada da ditadura militar, que oprimia todo o
povo. Em Paris, no ano de 1968, o mês de maio se
tornou um marco histórico pelo fato de que os
estudantes, que entravam em greves multitudinárias
por direitos democráticos e para que o conhecimento
produzido nas universidades fosse livre das amarras
que o impunha os interesses do capital, afirmavam
que os únicos que tinham interesse em livrar o
conhecimento são os que não acumulam capital e são
explorados por este, ou seja, os trabalhadores.
Insistente a história insiste em nos questionar
novamente. Novamente na França setores dos
operários voltam a entrar em greve contra as
demissões e o fechamento de fábricas devido à crise.
Os mais combativos da Sanofi, Air France, Virgin,
Presstalis, PSA, Renault, Goodyear y Licenci’elles,
estiveram num encontro pela coordenação das lutas
e receberam apoio de estudantes independentes e
revolucionários da universidade. De que lado
estaremos? Nós, da Juventude Às Ruas
dizemos: da aliança operário-estudantil!
A HISTÓRIA RATIFICA
O mundo de hoje está envolto em conflitos que como
vimos acima são determinados pela luta entre as
classes. Por um lado capitalistas burgueses arrastam
o mundo a uma crise histórica pela busca
cronicamente doentia do lucro. Por outro lado, junto
da maioria do povo e principalmente da juventude
(que mais sofrem com as crises) os trabalhadores
lutam contra ataques a suas condições de vida.
Porém, entre uns e outros, emergem também velhas
alternativas utópicas ou meramente enganosas.
Dizem que devemos confiar em votos e em saídas
através da radicalização das “democracias”. Mas são
as “democracias”, na verdade “democracia dos
capitalistas”, europeias que primeiro estão impondo
os maiores ataques às condições de vida da história
da Europa a mando direto de governos e juntas
econômicas estrangeiras.
No Brasil o PSOL diz o mesmo. Estão nos dizendo
para confiar que suas frases sobre “a grande justiça
da democracia” vale mais que a fome dos ciclopes
capitalistas focados em seus lucros. Fecham os seus
dois olhos para o que acontece no mundo e tentam
fazer-nos acreditar que capitalistas
“democráticos” (com apoio financeiro até mesmo da
Gerdau, monopólio do aço brasileiro) querem que o
povo consiga plenas condições democráticas acima
de seus lucros. Falam que se pode furar o olho dos
[7] “Todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida submetendo toda a sociedade às suas condições de apropriação. Os proletários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão abolindo o modo de apropriação a elas correspondente e, por conseguinte, todo modo de apropriação existente até hoje. Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes”. Manifesto Comunista MARX. Edições Boitempo. São Paulo, 2005. Tradução Álvaro Pina. P. 49-50.
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
capitalistas amanhã, mas não veem que se
esse Taurus [8] parece inofensivo é porque quer
roubar o olho do outro para, munido de dois olhos e
não um, conseguir mais lucro.
Por isso, nós da Juventude Às Ruas achamos que é
necessário também o combate de ideias. Pois,
achamos que não podemos partir do zero. Temos
que resgatar as lições de processos que aconteceram
no passado e que por isso guardam lições
importantes sobre a lógica dos processos de luta de
classes na sociedade capitalista como o que vemos
hoje. Se o PT que dizia à juventude e trabalhadores
para confiarem na “democracia dos ricos” hoje está
diretamente ao lado dos que criaram a crise,
disponibilizando bilhões em dinheiro público para
os grandes bancos brasileiros. Essa ideia do PSOL,
que parece nova, busca repetir esses mesmos erros,
que já trouxeram muitas lamentações para a
juventude, os trabalhadores e o povo.
Já em 1848, Karl Marx já mostrava que a dinâmica
do desenvolvimento da sociedade era fundada na
contradição dos interesses entre as classes [9]. Não
poderia haver mediação que encerrasse a riqueza
das possibilidades destrutivas e criativas humanas
em um sistema artificialmente criado – ou seja, uma
democracia burguesa (capitalista-radicalizada, para
o PSOL) que possibilitasse uma comunhão de
interesses entre trabalhadores e burgueses. Por isso,
se queremos dar vazão ao potencial humano
devemos ligar estes aos interesses concretos de uma
das classes da sociedade. Temos de escolher. Os
burgueses capitalistas já mostraram seu enorme
potencial destrutivo, através da sua condição
matéria de apropriação privada e suas necessárias
guerras, pobreza, doenças, exploração, opressão e
seus subsequentes desdobramentos ideológicos;
racismo, machismo, homofobia, xenofobia. Por
outro lado, os trabalhadores mostram o seu infinito
potencial criativo através do trabalho social, já que
sem estes não haveria uma pedra sequer empilhada
em qualquer cidade do mundo. Igual, das forças do
seu trabalho social se desdobram as ideias que nos
permitem lutar por uma sociedade livre das amarras
do capital, das amarras do lucro, das amarras do
preconceito, enfim uma sociedade livre para criar.
Portanto, para fazer com que os capitalistas paguem
pela crise temos de nos organizar
independentemente dos capitalistas, empresários e
seus governos. Não podemos confiar que através
dos votos em um jogo de cartas marcadas
(democracia dos capitalistas) é possível reverter os
ataques às condições de vida. Devemos confiar na
mobilização e luta nos locais de estudo, trabalho e
nas ruas.
COM ESSA PERSPECTIVA NÓS DA
JUVENTUDE ÀS RUAS ESTAMOS FAZENDO
UMA CAMPANHA QUE CONVIDAMOS A
TODOS FAZERMOS CONJUNTAMENTE.
UMA CAMPANHA DE CAMISETAS EM
SOLIDARIEDADE À LUTA DA JUVENTUDE
E DOS TRABALHADORES DO ESTADO
ESPANHOL. CONHEÇA A CAMPANHA
ATRAVÉS DE NOSSOS MILITANTES NA
UFMG!
O PODER DE NOSSAS IDEIAS
O enorme arcabouço teórico e prático do marxismo
constituem as ideias mais influentes de todo o
século XX. Devemos partir dessas lições do passado.
Por isso buscamos as lições mais importantes
dessas lutas (praticas, políticas, ideológicas)
reunidas principalmente nas obras de Lenin, Rosa
Luxemburgo e Leon Trotsky. Porém para que
possamos coloca-las em marcha novamente
devemos buscar aplica-las na prática. Por isso,
convidamos a todos a conhecer, estudar, discutir e
militar junto da Juventude Às Ruas.
Organizados podemos:
Acumular com os exemplos internacionais!
Ligar-nos aos trabalhadores de dentro e fora
da universidade!
Colocar como perspectiva de nossa luta que
os capitalistas paguem pela crise!
Essa organização para nós é uma forma de
experiência para que possamos, através da luta
concreta, na universidade e fora dela, avançar
juntos para que, como dizia Karl Marx, a juventude
e os trabalhadores se organizem politicamente, ou
seja, um em partido mundial da revolução.
[8] A empresa de armas “Taurus” também deu dinheiro ao PSOL.
[9] “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes” Manifesto Comunista MARX. Edições Boitempo. São Paulo, 2005. Tradução Álvaro Pina. P. 40.
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
MULHERES, SEJAMOS MILHARES NA LUTA PELOS NOSSOS DIREITOS!No quinto ano da crise econômica que
atingiu potências como os EUA e tem hoje
seu epicentro na Europa, ao mesmo tempo
em que se desenvolvem processos
revolucionários como no Egito e se renovam
os ventos da chamada primavera árabe
como na Tunísia - ventos esses que por um
tempo ficaram carregados de apoio da
OTAN contra a ação independente das
massas -, levanta-se a questão sobre a
importância de tratar sobre a opressão às
mulheres. Frente à atual situação política,
econômica e social do mundo, por que tal
tema deve vir à tona?
Ao redor do mundo, temos visto convulsões sociais e
mobilizações de trabalhadores, estudantes, setores
oprimidos da sociedade, indignados com a crise e
com seus governos. Em muitas dessas mobilizações
vimos amplos setores de mulheres saírem às ruas,
tomando a frente dos processos de lutas e
levantando suas bandeiras, como no Egito e na
Índia. No Chile as jovens levantaram pela educação
pública, contra a repressão e contra a violência
sexual dos agentes do regime herdeiro de Pinochet.
Esses movimentos, que necessitam da auto-
organização dos trabalhadores e dos estudantes e de
direções revolucionárias para seguir avançando até
sua vitória, precisam que essas direções guiem
também na luta pelas demandas das mulheres, pelo
fim das opressões. Para isso, é necessário entender o
que significa a opressão da mulher no capitalismo.
EXPLORAÇÃO E OPRESSÃO NA
SOCIEDADE DE CLASSES
Durante toda nossa formação, educação e
construção social, as mulheres estão sujeitas a
vários tipos de opressão. Desde a infância, com a
divisão sexual entre cores e brinquedos, até o
assédio nas casas, ruas, escola e trabalho, violências
físicas e psicológicas, a obrigação de ser mãe, esposa
e a mulher da tradicional família mineira ou a dona
de casa, o salário menor do que o do homem, entre
outras expressões da opressão. Várias dessas nos
passam despercebidas ao longo da vida, sendo
naturalizadas e aceitas sem questionamentos,
inclusive sendo reproduzidas muitas vezes pelas
próprias mulheres.
Tudo isso porque vivemos hoje imersos em uma
sociedade que tem suas bases consolidadas na
exploração e opressão, pois o capitalismo se utiliza
dos dois para seguir com seus lucros e sua
dominação. Desde uma perspectiva marxista, a
exploração tem suas raízes no aspecto estrutural
econômico, sendo essa a relação da classe
dominante – a burguesia, que se apropria do
trabalho alheio – com a classe trabalhadora – a que
produz. Marx e Engels explicam essa relação de
exploração entre a burguesia e o proletariado
brevemente no Manifesto do Partido Comunista
quando coloca:
“Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do
capital, desenvolve-se também o proletariado, a
classe dos operários modernos, os quais só vivem
enquanto têm trabalho e só têm trabalho enquanto
seu trabalho aumenta o capital. Esses operários,
constrangidos a vender-se a retalho, são
mercadoria, artigo de comércio como qualquer
outro (...)” (Marx, Engels, 1848). [1].
Já a opressão é a relação de submissão de um grupo
sobre outro por razões culturais, raciais, étnicas,
sexuais ou de gênero, e faz uso da desigualdade.
Porém, exploração e opressão se combinam de
maneira perfeitamente orquestrada pelo
capitalismo, para que sua burguesia consiga seguir
em seu posto de classe dominante. Incentivando a
divisão entre os trabalhadores, a burguesia sempre
buscou as vias para aumentar a mais valia absoluta e
relativa e uma de suas armas é a divisão entre
homens e mulheres, disseminando a ideologia da
submissão das mulheres. Quanto mais explorado é
um setor, maior a expressão da sua opressão. Ou
seja, mulheres pobres, trabalhadoras precárias,
moradoras das favelas e periferias, em sua maioria
negras, são as maiores vítimas das opressões. A
opressão das mulheres se insere na história da luta
de classe e, apesar de não ter surgido no
capitalismo, ganha nesse sistema traços
particulares, sendo apropriada pelo próprio sistema
para a manutenção do status quo. Ainda no
Manifesto, os autores mostram o papel que a mulher
cumpre para a burguesia:
“‘Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade
das mulheres!’, grita-nos toda a burguesia em coro.
Para o burguês, a mulher nada mais é do que um
instrumentos de produção. Ouvindo dizer que os
[1] MARX, K., ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista, 1848
Iaci Maria, militante da LER-QI e do grupo de mulheres Pão e Rosas
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
instrumentos de produção serão explorados em
comum, conclui naturalmente que o destino de
propriedade coletiva caberá igualmente às
mulheres. Não imagina que se trata precisamente
de arrancar a mulher de seu papel de simples
instrumento de produção.” (Marx, Engels, 1848) [2]
Contudo, há ainda hoje setores que dizem que as
mulheres alcançaram a igualdade com os homens,
podendo trabalhar fora, ocupam postos de chefia,
são a maioria dentre os que possuem ensino
superior completo, e até mesmo chegam a ser
presidente. Entretanto, são ainda as mulheres as
responsáveis pelos cuidados com a casa, comida,
marido e filhos, gerando assim, às mulheres
trabalhadoras, a dupla jornada de trabalho; além de
ocuparem os postos de trabalho mais precários,
estarem mais sujeitas às violências físicas e
psicológicas – inclusive institucional em alguns
países – e serem as milhares a morrerem em vários
países devido à abortos clandestinos, senda essa no
Brasil a quarta causa de morte entre mulheres, com
aproximadamente 1 milhão de abortos realizados
por ano.
Isso mostra como, desde o surgimento da sociedade
dividida em classes, a posição de classe ocupada por
uma pessoa expressa não só o nível de exploração ao
qual ela está submetida como, diretamente ligada a
esse, expressa quais os limites da opressão sofrida,
estando a mulher trabalhadora submetida à dupla
jornada de trabalho desde o início do capitalismo.
Por exemplo, uma mulher em dado emprego possui
um salário que corresponde a cerca de 66% do
salário de um homem que ocupa a mesma posição.
Porém, quanto mais precário for o trabalho, mais
serão as mulheres quem ocuparão esses postos,
tendo ainda necessariamente que, além de trabalhar
exaustivamente por salários de miséria, responder
pela manutenção da casa e da vida do marido e
filhos por não ter condições financeiras de arcar
com empregadas domésticas, babás, creches
privadas – empregos estes que são também a
expressão de como são as mulheres as relegadas aos
trabalhos mais precários, ligados à limpeza e
cuidados.
Esse trabalho não remunerado que a mulher exerce
na casa e na criação e educação dos filhos é a
garantia de que o marido – o trabalhador
assalariado e explorado – esteja sempre em
condições de seguir com seu trabalho, estando
alimentado, com as roupas limpas, a casa
arrumada. E isso sem que o Estado precise se
preocupar com a garantia de nada disso –
garantindo creches, lavanderias, e restaurantes
públicos – ou seja, é nesse trabalho doméstico não
remunerado que está parte do lucro dos
capitalistas. O capitalismo se apropria da opressão
histórica da mulher para fortalecer a exploração,
ampliar seus lucros, além de dividir a classe
trabalhadora. E é por isso que a posição de classe faz
diferença na opressão, pois são as mulheres pobres
e negras as mais afetadas pela segunda jornada não
remunerada de trabalho.
A PRECARIZAÇÃO TEM ROSTO DE
MULHER!
A precarização do trabalho é mais uma grande
expressão da precarização da vida da mulher, sendo
cada vez mais frequente e, nos últimos 10 anos no
Brasil, cresceu ofensivamente durante os governos
Lula e agora Dilma. A atual presidenta mostrou
também que ser mulher não significa avanços
minimamente democráticos para as mulheres, pois
ainda em seu período eleitoral, Dilma rifou os
direitos das mulheres em sua campanha em troca de
votos. Em sua “carta ao povo de Deus”, ela garantiu
aos setores religiosos que não legalizaria do aborto,
bandeira essa histórica dos movimentos de
mulheres, que a então candidata suprimiu de seu
programa. Assim, a atual presidenta ganhou o apoio
dos setores mais conservadores e da bancada
evangélica do Congresso, aqueles que mais atacam
as mulheres e seus direitos. Já o trabalho precário
vem crescendo desde o governo Lula, que sob o
discurso de fim do desemprego e criação de novos
postos de trabalho, fez aumentar o número de
emprego precário, terceirizado, e aumentou
também a rotatividade do trabalho.
Basta olharmos ao nosso redor que veremos
trabalhadores “invisíveis” trabalhando por salários
de miséria, na limpeza, em condições insalubres,
sem segurança e sem direitos. Se notarmos bem, a
maioria dos que ocupam esses postos são mulheres,
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
em sua maioria negras, as mais precarizadas no trabalho, e na vida. São também as que estão mais sujeitas a sofrer assédio e violência, muitas vezes do próprio companheiro, sem ter condições materiais e econômicas de se desfazer da relação e seguir sozinha, se mantendo e criando seus filhos.
Dentro da Universidade o quadro não é diferente, pois há também a reprodução da opressão entre os próprios estudantes. Exemplos disso são os trotes aos ingressantes; a imposição de um padrão de beleza que, se não seguido, gera humilhações e até violência física; a visão de que o corpo feminino enquanto uma mercadoria, pronta a servir aos interesses de quem quer que seja, o que gera assédios e até mesmo estupros; além dos casos de homofobia, onde os LGBTTI’s são também oprimidos, não podendo se expressar livremente, opressão essa que tem raízes também no machismo.
Além disso, hoje as Universidades públicas também se constroem com base na precarização. Grande parte do trabalho estruturante da Universidade é precário, terceirizado e realizado em sua maioria por mulheres. As trabalhadoras da limpeza, as cozinheiras do restaurante universitário, são aquelas que mantêm a Universidade funcionando, mas também são as que recebem os piores salários, sem garantias e direitos, e estando sujeitas a inúmeros acidentes de trabalho. Travar uma batalha contra qualquer tipo de opressão dentro e fora da Universidade deve passar necessariamente por defender esses trabalhadores precários, essas mulheres sujeitas à exploração e opressão diárias, pois é essa exploração e opressão combinadas que garantem os lucros e a manutenção do capitalismo e da burguesia enquanto classe dominante. Por isso o fim da opressão jamais se dará por dentro do capitalismo, pois esse sistema não permitirá que se acabe com uma de suas bases de sustentação.
Essa combinação arquitetada de exploração e opressão é a expressão da necessidade de se combinar também a luta das mulheres, estudantes e trabalhadoras, pelos seus direitos e pelo fim da opressão e violência, com a luta da classe trabalhadora pelo fim de sua exploração, da dupla jornada de trabalho e da precarização. Porque as mulheres são diretamente afetadas por esses ataques e, ainda que por dentro do capitalismo vimos alguns avanços, é preciso ter em mente que a opressão não cairá pelas mãos daqueles que dela tanto necessitam.
QUANDO UMA MULHER AVANÇA, NENHUM HOMEM RETROCEDE!
Somos todas oprimidas! Mas não somos iguais. Angela Merkel na Alemanha dirige os planos de reajuste na Europa contra os trabalhadores e o povo, sendo uma das principais responsáveis pelo desemprego, demissões e fechamento de fábricas nesses países. Dilma mantém o nível de precarização do trabalho como um dos pilares do antigo crescimento econômico, sendo grande parte destes postos ocupados por mulheres; Heloísa Starling, quando vice-Reitora, permitiu a entrada da tropa de choque e cavalaria na UFMG para reprimir estudantes em 2007. Isso mostra como a luta contra a opressão não está por fora da luta de classes. Há as chefes e burocratas acadêmicas, em grande parte brancas, que são parte dos planos para que sejam os trabalhadores e o povo a pagar por sua crise. E neste feito as mulheres trabalhadoras e pobres são as que mais sofrem. Na luta contra a opressão a classe trabalhadora é a única que pode se colocar à frente da conquista de todas as demandas democráticas do conjunto das mulheres! Entre todas as mulheres as que mais sentem as amarras capitalistas que nos prendem devem ter espaço para tomar à frente de nossa luta: as mulheres trabalhadoras que sofrem com a opressão e exploração e que devem ser acompanhadas pelas mulheres mais oprimidas do povo negro e pobre.
E é por isso que nós, do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, reivindicamos que a juventude, como vem se mostrando ao redor do mundo, tem que cumprir o papel essencial de estar à frente dessas batalhas, contra a exploração e todas as formas de opressão. Um Movimento Estudantil combativo, enquanto um movimento de jovens dispostos a lutar e transformar não só a Universidade, mas a sociedade como um todo, deve estar ao lado da única classe capaz de levar a frente essa transformação da sociedade. Para isso as mulheres devem estar a frente desse movimento, levantando suas bandeiras, contra todas as formas de opressão, mas também contra a exploração que, quanto mais aguçada, mais humilha e oprime as mulheres. Cabe às estudantes lutar ao lado das demandas das trabalhadoras, escolhendo seu lado de classe; e às trabalhadoras se auto-organizarem para poder arrancar o fim de sua opressão, e o que lhes é seu por direito. Cabe à classe trabalhadora, organizada independente dos patrões, tomar para si as demandas das mulheres e dos setores oprimidos, travando uma luta unificada pelo fim da exploração e opressão.
- Pelo direito ao aborto livre, legal, seguro e garantido pelo estado!- Não à precarização do trabalho e da vida! Igual trabalho, igual salário!- Pelo fim da terceirização e incorporação imediata nas empresas e sem necessidade de concurso público nas instituições públicas!- Pela aliança operário-estudantil - Contra todas as formas de opressão!- Que os capitalistas paguem pela crise!
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
GRUPO MARX-LÊNIN-TROTSKY: EM DEFESA DO MARXISMO!
Tradição das Ciências Humanas na
Academia e Marxismo
No grupo de estudos Marx-Lênin-Trotsky,
organizado semanalmente pela Juventude às Ruas,
procuramos nos apropriar da tradição teórica do
pensamento marxista, que parte da análise da
dialética histórica da realidade concreta e a tem
sempre como parâmetro para a reflexão e o
pensamento crítico na elaboração de sua concepção
de história. Em um tempo em que as ciências
humanas produzidas nas universidades, e talvez
mais ainda a filosofia, já não oferecem (e muitas
vezes já nem procuram oferecer) reflexões para
entender e transformar a realidade, é necessário que
superemos os paradigmas escolásticos e esotéricos,
nos ensinados de maneira alienada da realidade
concreta sob a qual foram desenvolvidos, e sobre os
quais são hoje majoritariamente construídas as
ciências humanas. O cada vez mais sufocante
produtivismo aliena totalmente a produção teórica
dos interesses da classe trabalhadora e dos setores
que estão fora da universidade, atrelando os
recursos à burocracia acadêmica e distribuindo-os
de acordo com seus rankeamentos e índices de
produtividade. Isso acontece porque a universidade
como está hoje tem um caráter de classe bem
definido. Seu conhecimento está a serviço dos
interesses da iniciativa privada, da produção de
patentes, e no caso das ciências humanas, da
justificação ideológica do status quo. A meritocracia
imposta pelos rankings serve para esconder que por
trás da distribuição de recursos, estão objetivos
políticos. A maioria da população, na verdade, está
excluída da universidade, pelo filtro do vestibular. A
estrutura de poder da universidade pública serve de
correia de transmissão dos interesses do governo
federal, agente desse projeto de universidade
burguesa, que tem como aliados fundamentais
dentro da universidade uma burocracia acadêmica
plena de privilégios, satisfeita com eles e com a cada
vez mais elitizada universidade pública do jeito que
é hoje. A tradição teórica marxista, nesse viés, nos
oferece uma perspectiva diferente sobre a
universidade, se construindo na luta emancipatória
do ser humano e do seu pensamento; e por ser
construída a partir de uma perspectiva de classe, da
classe trabalhadora, que não tem nenhum privilégio
material à garantir, mas tem somente a
possibilidade de libertar sua capacidade criativa
infinita de desenvolvimento dos grilhões da classe
dominante, ela pôde – e pode – fazer uma análise
rigorosa e acertada da realidade, e elaborar uma
estratégia de ação revolucionária para libertar o
conhecimento das amarras do seu atual status de
mercadoria, e consequente, também para a
emancipação política e social (e também intelectual)
da esmagadora maioria da população mundial (os
trabalhadores explorados e precarizados, os
desempregados, imigrantes, negros, mulheres... em
suma, todos os que são vítimas da opressão e
exploração atuais).
História e Luta de Classes
Alguns podem perguntar, pertinentemente: “Porque
partir da perspectiva da classe trabalhadora para
pensar o mundo? Porque só ela é emancipatória?
Porque não partir de perspectivas 'democráticas' ou
constitucionais? Porque não o conceito de ciência
do Iluminismo, a razão universal?” A resposta,
novamente, é encontrada e comprovada na
realidade, numa rápida retrospectiva histórica: a
ascensão da classe burguesa solapou as bases
materiais e ideológicas do sistema político e social
que vigorava na Europa de então, o feudalismo;
houve uma verdadeira revolução no modo de
produção da vida, na sociabilidade, e no
pensamento humano. Devido a essa revolução
social, a sociedade, que já era dividida em classes,
acabou tornando-se – grosso modo – biclassista:
proletários e burgueses. Nesse sentido, a relação
Nesse semestre faremos um estudo do livro "Em defesa do Marxismo", escrito por Leon Trotsky em seus últimos anos de vida. O livro consiste em uma série de cartas entre parte dos mais importantes militantes marxistas revolucionários em fins da década de 30 e Leon Trotsky. Nestas cartas abordam temas de grande relevância histórica as vésperas da segunda guerra mundial.Por se tratarem de fenômenos nunca antes vistos – como o complexo fenômenos de burocratização da URSS pelas mãos do Stalinismo – Trotsky desenvolve profundamente as bases filosóficas, econômicas, políticas do marxismo e, principalmente, mostra como essas devem estar colocadas em função de mostrar a dimensão fundamentalmente estratégica do marxismo revolucionário. Ou seja, mostra a amplitude histórica da tese marxista (disformemente deixada de lado pelo “marxismo acadêmico”) quando o próprio Marx dizia: “até agora os filósofos se limitarem a interpretar o mundo. Mas, o mais importante é transformá-lo”. Por isso mesmo, apesar do Grupo Marx-Lenin-Trotsky ter como fundamento de suas atividades o estudo e discussão teórica do marxismo revolucionário, este tem compromisso com e as principais lições da luta histórica dos trabalhadores e da juventude.
PARTICIPE!
Rodrigo Silva, estudante de filosofia e militante da LER-QI e Francisco Faria, estudante de filosofia
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
social se “simplificou”. O capitalista, detentor dos
meios de produção, compra a força de trabalho do
trabalhador como condição para reproduzir o
capital, consequentemente seus privilégios materiais
e o processo social por ele engendrado. O
trabalhador não possui nada, além da sua força de
trabalho, que é vendida para o capitalista para obter
em troca seu meio de subsistência. Citando Marx
nos Grundrisse, é como a figura bíblica Esaú, que
troca a sua progenitura por um prato de lentilhas, ou
seja, é forçado a vender sua força criativa de
transformação da realidade como uma simples
mercadoria, quantificada, que vale somente o
necessário para sua própria subsistência e para que
possa estar pronto à vendê-la novamente em uma
próxima oportunidade. Alienada deste modo a força
de trabalho dos interesses do trabalhador mesmo,
toda as forças produtivas da humanidade ficaram
condicionadas unicamente aos interesses da
reprodução de capital e do lucro da classe
dominante, que usa todos os meios possíveis para
reafirmar e manter seu poder – meios que vão de
guerras e ditaduras até o aparentemente inofensivo
estado moderno, e sua democracia e jurisprudência.
A sua “razão universal” e sua democracia na verdade
são apenas expressões dos interesses da própria
burguesia enquanto classe, que esbarram no limite
da exploração capitalista sobre o proletariado, e
portanto, são usados contra ele. O estado burguês e
os interesses do proletariado são irreconciliáveis,
nesse sentido. Porém, enquanto classe, o
proletariado tem interesses diferenciados. Seu
interesse é a liberação da sua força criativa infinita, e
portanto, das forças produtivas de toda a
humanidade. Somente através da imposição destes
interesses do proletariado sobre todas as demais
classes, inclusive sobre a burguesia e a pequeno-
burguesia mais democráticas, podem hoje ser
resolvidas as demandas democráticas estruturais da
maioria da população e do povo oprimido,
principalmente no contexto atual de crise
econômica. A tradição teórica do marxismo também
é, nesse sentido, a síntese da experiência proletária
na luta de classes, e também das lições mais
avançadas da maior das revoluções já realizadas
pelo proletariado à nível mundial, a Revolução
Russa, onde, no país europeu mais atrasado do
ponto de vista capitalista, no qual o proletariado
representava quase 5% da população, se pode,
mostrando que a única classe que tem interesse em
resolver as questões democráticas do campesinato é
o proletariado, forjar uma aliança entre os
camponeses e o proletariado, onde este cumprisse
um papel de direção na construção da sua ditadura
sobre a burguesia, e impulsionando a revolução
para o campo da luta de classes à nível mundial
(reconhecemos aqui o logro da burocracia stalinista
em romper esta aliança, se baseando nos elementos
mais atrasados da pequeno-burguesia do campo, e
pelo outro lado, isolando a URSS da luta pelo
socialismo a nível mundial, com a sua concepção de
“socialismo em um só país”).
Por entender aspectos ligados diretamente ao papel
que cumpre no atual estágio de desenvolvimento
social, vemos como a única lente possível para se
entender e transformar a realidade, é a lente dos
trabalhadores, que são a única força social capaz de
revolucionar a sociedade, superando os paradigmas
podres da sociedade capitalista: propriedade dos
meios de produção, competição, lucro, opressão.
Resgatar os aspectos mais fundamentais da teoria
marxista, através da compreensão de que a
consciência se forma enquanto consciência de
classe, diretamente relacionada à sociabilidade
específica de um determinado estágio de
desenvolvimento histórico-social, e nesse sentido,
ligar o esforço teórico atual à única classe que pode
pautar a emancipação humana nos foi essencial na
discussão do Manifesto de 1848, para abrirmos a
discussão nessa perspectiva, muito diferenciada do
que normalmente se discute na universidade
pública, onde os sujeitos do conhecimento como que
pairam no ar, como fantasmas de biblioteca,
totalmente alienados da realidade concreta, sem
relação concreta com esta, com uma capacidade
mínima de intervenção (menos quando se trata de
garantir seus privilégios; nesse caso, os “sujeitos do
conhecimento” desaparecem, e impera o
pragmatismo, sem honestidade teórica alguma,
próprio da burocracia acadêmica, quando se trata de
“assuntos concretos”).
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
Marxismo como Ferramenta Histórica
Essencial para a Revolução Social
Foi na sua fusão com a ação revolucionária da
classe trabalhadora que o marxismo foi se
provando como importante ferramenta para a
revolução social. Talvez tenham sido tiradas da
Revolução Russa de 1917 e na construção do
partido bolchevique as lições mais importantes,
desde Marx, mas também se comprovaram na
própria luta de classes aspectos políticos essenciais
já desenvolvidos por Marx no Manifesto de 1848.
Lênin e Trotsky, como militantes ativos dentro da
classe operária durante todo o processo e dirigentes
do Partido Bolchevique, teorizando desde os
primórdios, em 1902, puderam elaborar e pôr em
prática as mais avançadas teorias marxistas. Por
isso são eles os escolhidos para serem estudados no
grupo: porque foram aqueles capazes de manter
vivo o rigor dialético materialista do pensamento
de Marx, seu posicionamento essencialmente
classista e proletário, a necessidade incontornável
de se colocar em prática o pensamento, gerando
novas experiências; chegando, assim, a uma síntese
da tradição revolucionária iniciada por Marx. A
produção teórica e a prática de Lênin e Trotsky se
diferenciam radicalmente do Marxismo-Reformista
(que nem poderia ser chamado marxismo) e do
Stalinismo. O reformismo pretende reformar o
sistema capitalista a nível nacional, através da
democracia burguesa. Hoje vemos na Europa o
estado de bem estar social (como um exemplo
histórico da aplicação de políticas reformistas) ser
brutalmente desmanchado devido à crise, em prol
do salvamento dos bancos e dos lucros capitalistas;
a democracia burguesa vem se provando
continuamente ineficaz para os trabalhadores e
extremamente rentável para a burguesia. Já o
stalinismo, na teoria e na prática, foi o modo como
Stalin encarnou as demandas da burocracia de
controlar o poder soviético nas próprias mãos, de
aprisionar a democracia do estado-operário em
prol de seus privilégios materiais, de boicotar,
direta ou indiretamente, revoluções proletárias de
todo o mundo, que poderiam abalar seus poderes
burocráticos. Por isso, essas correntes de
pensamento, que se dizem marxistas, devem ser
rejeitadas pelos trabalhadores; elas não são
resultado de um pensamento de classe
emancipatório, mas sim de desvios e revisionismos
do marxismo, que visaram, por um lado,
historicamente manter as bases da dominação
econômica curando alguns dos seus piores
sintomas e, no caso do stalinismo, justificar o poder
burocrático, perpetuar a dominação da camada
dirigente da URSS sobre os trabalhadores, conviver
“amistosamente” com o capitalismo mundial, e
boicotar, através de sua influência na Internacional
Comunista, revoluções externas que ameaçassem
seus poderes burocráticos, rompendo o isolamento
da URSS e avançando rumo à revolução mundial. É
o legado marxista, leninista e trotskista, síntese
teórica de quase 200 anos de luta de classes, que
deve ser apropriado pelos trabalhadores como
ferramenta básica para o entendimento da
realidade de uma perspectiva proletária, para a
ação revolucionária que resultará, em última
instância, no fim da propriedade privada dos meios
de produção, no fim do jugo do lucro sobre as
forças produtivas, no fim da exploração econômica
do homem pelo homem, e no fim de todas as
opressões e vilanias que advêm diretamente do
atual sistema social. O estudo do “Imperialismo,
Fase Superior do Capitalismo”, foi-nos
fundamental neste sentido, pois vimos como Lênin,
armado de uma perspectiva marxista
revolucionária, pensou como se dava o
desenvolvimento social em uma época de
florescimento nunca visto de monopólios, em
detrimento do capitalismo de livre concorrência,
um acirramento das contradições capitalistas, que
levaram à crises, guerras e revoluções; o fim de
qualquer papel progressista que poderia cumprir a
burguesia nacional, e como o movimento proletário
deveria se preparar para, nesse contexto, pautar a
tomada do poder do estado e a transformação da
realidade à serviço dos seus interesses históricos de
classe.
O Mito do Fim da História e a Atualidade do
Marxismo
Hoje vivemos o fim de um refluxo de trinta anos na
luta de classes; trinta anos sem revoluções,
marcados por uma ofensiva ideológica e material
da burguesia à nível mundial, cujo caminho foi
preparado em parte pelas traições do stalinismo,
com a restauração do capitalismo no Leste
Europeu, entre uma série de fenômenos, como
também no plano político pelo neoliberalismo, e o
no plano teórico, pelo surgimento de teses que
diziam que a história havia acabado, que à classe
trabalhadora não foi possível cumprir algum papel
histórico, no sentido de construir um estado, ou
pautar o desenvolvimento social segundo seus
interesses, e que o estado-operário burocratizado e
isolado pelo stalinismo era a única experiência
socialista concreta e prova cabal do fracasso do
Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4
proletariado como sujeito histórico. Os teóricos da burguesia (alguns de dentro da própria universidade pública) seguem nos dizendo que não existem mais sujeitos sociais do jeito que expomos teoricamente acima; que a individualidade, competição e mesquinharia burguesas são próprias da natureza humana, e devemos lidar com elas, nos contentando com a degeneração das relações sociais; e por fim, que qualquer tese política ou social marxista está “ultrapassada”. Porém, conforme as fricções entre a burguesia, passando por uma crise estrutural em seu modo de produção, se acirram; conforme a situação econômica se torna mais sufocante para as mais amplas camadas da classe trabalhadora à nível mundial, e conforme surgem as primeiras respostas do movimento de massas em todo o mundo, no sentido de buscar uma alternativa política para esse acirramento das contradições do capitalismo como um todo, revelando mais uma vez sua faceta degenerada na época imperialista, cada vez convence menos o discurso dos anos 90, o mito do fim da história e a suposta “superação” da reflexão marxista revolucionária. Hoje, frente aos desafios que nos impõem um capitalismo em crise, beirando o colapso social, econômico, e até ambiental, cada vez mais precisamos delimitar uma saída revolucionária para que esse colapso do modo de produção não signifique um colapso na própria humanidade, ou para que não nos seja imposta a saída que a burguesia enquanto sujeito social pode nos oferecer, que significa o rearranjo das contradições capitalistas de um modo ainda mais débil, pautado através da destruição massiva de forças produtivas, de guerras, massacres, fome, catástrofes, etc., como foi a saída dada pela burguesia para crise dos anos 30, uma guerra mundial, ou no plano político nacional, o fascismo. Em um esforço de sintetizar as principais reflexões políticas da tradição marxista, enriquecidas pela experiência da Revolução Russa, cada vez mais estes escritos renovam a sua atualidade, reatualizando esta interpretação da história que vê na relação dialética da sociedade em torno de seus interesses materiais, antagonizados pela sua divisão em classes, o motor da história, e pautando também a ação revolucionária para avançar nessa reflexão a classe trabalhadora, único sujeito social que pode cumprir o papel político de dar uma saída progressista para a crise que vivemos.
Marxismo e Ortodoxia?
Um outro elemento da ofensiva ideológica da burguesia é o esforço teórico feito em pautar o marxismo enquanto visão de mundo e forma de se conceber a história como ortodoxo, como um pensamento que não corresponde à realidade concreta, se pauta por dogmas elaborados no séc. XIX e não tem o mesmo rigor teórico que suas reflexões acadêmicas. Porém, a crise avança em ritmos distintos pelo globo e as condições de vida da
maioria da população mundial são rebaixadas à um nível totalmente degradante: o desemprego aumenta, as condições de trabalho são cada vez mais atacadas, as fricções entre os Estados aumentam, e, como Lênin caracteriza no Imperialismo, uma nova repartilha violenta do globo entre as potências imperialistas, que só acontece através de catástrofes militares, se coloca em perspectiva, reatualizando sua definição da época imperialista como uma época de “crises, guerras e revoluções”. Frente a esta situação, a reflexão acadêmica, como um avestruz, prefere esconder-se em suas atividades a se atrever a dar uma resposta concreta para a situação social e política em que vive. A resposta concreta dada por Trotsky nos anos 30, e que para o grupo de estudos é a tarefa fundamental que se põe hoje a todos que queriam refletir seriamente sobre a época em que vivemos, e que saída pode ser dada para esta crise de dimensões históricas, está pautada na ação política da classe trabalhadora. Elucidações teóricas e práticas das tarefas fundamentais da classe trabalhadora enquanto sujeito histórico, que questionam diretamente as bases do sistema social de exploração e opressão que vivemos. A luta contra o desemprego e a carestia de vida, e neste sentido a necessidade de pautar a divisão das horas de trabalho entre todos que estejam sem emprego, e uma escala móvel de salários de acordo com a inflação. A expropriação dos grandes monopólios e dos grandes bancos, que como vemos hoje são os grandes instrumentos de domínio econômico da oligarquia financeira, e assim, agentes da realidade convulsiva que passa a economia mundial. A luta contra o imperialismo, que cada vez mais precisa exacerbar sua política colonial de exploração, como vemos hoje, e desde de sempre, no Brasil, mas que se acirra em tempos de crise, aparecendo também de maneira diferenciada na própria Europa em conflito. Essas e outras consignas sintetizam tarefas fundamentais hoje para a classe trabalhadora, não só para combater os efeitos da crise econômica, mas para dar uma resposta e uma saída para essa crise geral do modo de produção social, transformando as bases de reprodução da sociedade conforme seus interesses históricos e emancipando toda a humanidade. Exatamente por se pautar na necessidade da classe trabalhadora de dar esta resposta concreta às contradições que vive sob o capitalismo, o marxismo, se trabalhado com rigor, nunca será ortodoxo, já que tem a realidade concreta e a ação prática como seu parâmetro de cientificidade. E se pautaremos a atualidade e a necessidade de se fazer carne na luta dos trabalhadores e estudantes, o livro “Em Defesa do Marxismo”, de Leon Trotsky, e o marxismo como um todo, como arma crítica contra o academicismo e falta de resposta concreta por parte da academia, não é por ortodoxia, mas porque reconhecemos a sua atualidade histórica e a envergadura reflexiva e emancipatória da teoria e tradição marxistas.