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Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4 ÍNDICE EDITORIAL. PÁG 2 NO BRASIL E NO MUNDO: A LUTA DA JUVENTUDE É UMA SÓ. PÁG 6 MULHERES, SEJAMOS MILHARES NA LUTA PELOS NOSSOS DIREITOS. PÁG 10 GRUPO MARX-LÊNIN-TROTSKY: EM DEFESA DO MARXISMO! PÁG 13 O boletim Juventude às Ruas/BH é uma publicação independente, difundida pela agrupação estudantil Juventude às Ruas, composta por militantes da Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional e independentes. Nosso boletim é financiado apenas pelo esforço dos militantes e pelo apoio dos leitores. Não aceitamos nenhum tipo de financiamento da advindo da burguesia ou do seu estado. Para saber mais, visite: http://juventudeasruas.blogspot.com "Os jovens querem aprender e lhes negam o acesso a cultura. Os jovens querem viver e lhes oferecem como futuro morrer de fome ou perecer em uma nova guerra imperialista. Os jovens querem criar um novo mundo e somente lhes permitem manter e consolidar um mundo descomposto e degenerado. Os jovens querem saber como será o amanhã e a única resposta que o capitalismo lhes dá é essa: 'Hoje terás que apertar cinto; amanhã nós veremos...'" Leon Trotsky, plataforma de luta para a juventude trabalhadora,1938.

BOLETIM JUVENTUDE ÀS RUAS BH #4

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BOLETIM JUVENTUDE ÀS RUAS BH #4

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Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

ÍNDICEEDITORIAL. PÁG 2

NO BRASIL E NO MUNDO: A LUTA DA JUVENTUDE É UMA SÓ. PÁG 6

MULHERES, SEJAMOS MILHARES NA LUTA PELOS NOSSOS DIREITOS. PÁG 10

GRUPO MARX-LÊNIN-TROTSKY: EM DEFESA DO MARXISMO! PÁG 13

O boletim Juventude às Ruas/BH é uma publicação independente,

difundida pela agrupação estudantil Juventude às Ruas, composta por

militantes da Liga Estratégia Revolucionária - Quarta

Internacional e independentes.

Nosso boletim é financiado apenas pelo esforço dos militantes e pelo apoio dos leitores. Não aceitamos nenhum tipo de financiamento da advindo da burguesia ou do seu

estado.

Para saber mais, visite: http://juventudeasruas.blogspot.com

"Os jovens querem aprender e lhes negam o acesso a cultura. Os jovens querem viver e lhes oferecem como futuro morrer de fome ou perecer em uma nova guerra imperialista. Os jovens

querem criar um novo mundo e somente lhes permitem manter e consolidar um mundo descomposto e degenerado. Os jovens querem saber como será o amanhã e a única resposta que

o capitalismo lhes dá é essa: 'Hoje terás que apertar cinto; amanhã nós veremos...'" Leon Trotsky, plataforma de luta para a juventude trabalhadora,1938.

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

EDITORIALBem vindos a todos, novos e velhos estudantes da UFMG. Todos os anos, milhares de jovens entram nas universidades públicas brasileiras. São poucos, se comparados ao total dos que realizam a prova do vestibular anualmente. Hoje, somente 13,8% da juventude brasileira está cursando o ensino superior, e destes, 75% nas universidades privadas, pagando altas mensalidades, sujeitos aos interesses dos grandes conglomerados do ensino privado (Anhanguera, Pitágoras, UNIP, etc), que oferecem um ensino de péssima qualidade, em um mercado de diplomas totalmente voltado para a formação de mão-de-obra qualificada para as necessidades do mercado. O vestibular, por essa perspectiva, é um mecanismo de exclusão da maioria da população da universidade pública, um “filtro de classe”, que separa os que têm condições de se preparar para o exame dos que não. O que deveria ser um direito de todos, se torna exclusão para a maioria, e para um setor da juventude trabalhadora, dívidas, pois a tão sonhada educação superior se torna mercadoria na mão dos barões do ensino privado. Esse é o primeiro fato à ser considerado quando entramos na universidade pública.

O Caráter de Classe da Universidade

Mas os problemas não param por aí. A universidade tem um caráter de classe bem definido, ao qual primeiro devemos observar para entender as contradições que se aglomeram aqui dentro. Hoje o conhecimento desenvolvido aqui dentro está longe de ser feito à serviço da maioria da população; a dita autonomia universitária é um mito que não corresponde aos grande serviços que a universidade pública presta para grandes empresas que aqui dentro vêm financiar suas pesquisas e influir nos rumos de se funcionamento, e a juventude pobre e negra está excluída dela, encontrando entrada somente pela porta dos fundos, através dos precários empregos terceirizados na limpeza, nas fundações privadas e serviços auxiliares. O governo atual do PT aprofunda um projeto de educação superior iniciado por FHC (e que remonta aos anos de ditadura militar) que se baseia na privatização da estrutura universitária, na colaboração com grandes empresas para o desenvolvimento de pesquisas (com acordos claramente favoráveis à iniciativa privada), no atrelamento dos recursos à burocracia acadêmica, na exclusão da maioria da população através do vestibular, e principalmente, na divisão nacional

entre universidades de “excelência” em pesquisa e desenvolvimento de conhecimento para grandes empresas; e universidades com condições precárias de ensino e pesquisa, para a formação de mão-de-obra barata e especializada, reduzindo os custos de formação de mão-de-obra das empresas, jogando para o trabalhador toda a responsabilidade de fazer duplas e triplas jornadas para conseguir trabalhar e se formar segundo as exigências do mercado, no país campeão dos rankings de acidentes no trabalho, dos empregos precários e das doenças causadas por péssimas condições de trabalho (como vemos nos altos índices de problemas psicológicos entre os profissionais da educação básica, por exemplo). A divisão entre universidades de “excelência” e de formação de mão-de-obra barata também é acompanhada pela sobrevalorização do bacharelado e da pós-graduação em detrimento da licenciatura e da própria graduação em geral, uma mera linha de produção e seleção de bolsistas.

Os programas PROUNI e REUNI também encontram seu lugar nesta lógica. O PROUNI, para esconder o déficit de vagas na educação pública, servir à propaganda demagógica da “democratização do acesso” do governo, repassando recursos para a iniciativa privada e os grandes barões da educação citados acima, sob a desculpa de estar “financiando a educação da juventude” (falácia que cai quando observamos que cada vaga financiada pelo PROUNI poderia servir para abrir três se a mesma quantia fosse investida na universidade pública). Já o REUNI vem para aprofundar essa divisão entre universidades elitizadas (chamadas “de excelência”) e de formação precária de professores e mão-de-obra, aumentando o descompasso em relação ao repasse de recursos para os diversos departamento, sem desenvolvimento de infra-estrutura (salas, bibliotecas, contratação de professores, etc), que continua sendo determinado pelos rankings de produtividade na pesquisa, reforçando a lógica elitista dos “centros de excelência” (quanto maior a nota obtida pelo curso no ENADE, maior a quantidade de recursos obtidos). Esses projetos só nos mostram como precisamos encarar todos os planos do governo para a educação superior à luz do seu projeto burguês mais geral de universidade e não isoladamente, e como em cada aspecto visam estes objetivos centrais descritos acima, unindo e subjugando em uma mesma lógica privatista, a serviço do mercado e excludente, as universidades públicas elitizadas ditas de “excelência em pesquisa”, as universidades públicas precárias, os grandes conglomerados educacionais privados, e a maioria da juventude que está fora das universidades.

Rodrigo Silva, estudante de filosofia e militante da LER-QI e Francisco Faria, estudante de filosofia

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Centros de Excelência à serviço das grandes empresas

Um dos principais fatores que garantem a influência dos grandes capitalistas na universidade pública é a sua estrutura de poder, que é a correia antidemocrática de transmissão do projeto de universidade do governo para dentro das universidades públicas. É essa mesma estrutura arcaica, advinda do período da ditadura militar (e nunca posteriormente reformada, pois serve aos interesses deste governo e de todos os anteriores), que toma também as medidas de repressão ao movimento estudantil e aos estudantes em geral (como o fechamento de um dia do R.U., visando interromper os atos organizados contra o aumento de 66% no preço da refeição, deixando milhares de estudantes sem ter onde almoçar no dia 19/10/2012; os diversos processos administrativos à representantes estudantis ou estudantes que questionam as medidas privatistas tomadas por esta estrutura de poder, como representantes da moradia ou os que tentaram interromper a reunião do Conselho Universitário que votou o início das negociações para a entrega do Hospital Universitário à gestão privada da EBSERH, ou ainda as portarias autoritárias, como a 034, que restringem o acesso de pessoas ao campus, ou proíbem festas e atividades independentes). Também é por meio dessa estrutura é a que se assinam convênios para privatizar o funcionamento da universidade através de fundações privadas e como se darão as licitações de cantinas ou implementando a terceirização dos serviços.

É essa estrutura que decide, no conselho universitário, nas congregações e colegiados, quem vai pesquisar, o que, para quem e quanto irá receber de recursos para isso. A maior parte do dinheiro e dos esforços é destinada ao manutenção de pesquisas de alto nível a serviço de grandes empresas, como Vale S.A, VM (antiga Mannesman), voltadas para o desenvolvimento de patentes para estas grandes empresas, que também são contempladas com representação direta de seus sindicatos patronais (FIEMG, FIESP, CNI, etc) nos conselhos diretores dos órgãos de fomento à pesquisa à nível regional e nacional (CAPES, FAPEMiG, FAPESP, etc). O conhecimento produzido nas universidades, nessa lógica, está totalmente direcionado aos interesses das grandes empresas privadas que utilizam da universidade pública e de suas verbas públicas para seus interesses privados, para reduzir seus custos com pesquisas e aumentar suas taxas de mais-valia relativa. Com as parcerias entre institutos e núcleos de pesquisa e empresas dentro das universidades, o conhecimento fica ainda mais aprisionado a essa lógica. Pesquisadores de alto nível, funcionários de uma universidade pública, vendem seus trabalhos a empresas que lucrarão com esse material, pagando uma miséria aos bolsistas que desenvolverão

concretamente o trabalho árduo da pesquisa, sob péssimas condições, como nos mostra a ainda recente explosão de um laboratório no ICEx, que deixou com o rosto e corpo parcialmente queimados um bolsista da graduação, por negligência da direção do instituto com a situação alarmante da rede elétrica do prédio. Enquanto a estrutura universitária básica fica negligenciada, a reitoria assina convênios de milhões para produzir patentes para as grandes empresas no seu polo de desenvolvimento tecnológico, ocupado descaradamente por grandes empresas como Usiminas, ATI, diversas farmacêuticas, entre outras, com ajuda da estrutura de “excelência” da universidade pública*. Ao invés de dedicar sua capacidade intelectual às necessidades da esmagadora maioria do povo, o pesquisador só tem como alternativa concreta servir ao capital em troca de um possível posto privilegiado na burocracia acadêmica.

Pesquisadores da universidade que poderiam estar colocando seus conhecimentos à serviço dos trabalhadores e da grande maioria da população são cooptados para este projeto, imbuídos desde o seu ingresso na universidade da ideologia meritocrática que justifica os seus privilégios pelo seu “esforço”, sua “superação”, deslocando para longe do debate a questão da elitização e falta de condições de estudo e formação prévia para os jovens advindos da classe trabalhadora, ou ainda a questão política de que os esforços são recompensados para aqueles que sabem para quem se esforçar, ou seja, como melhor servir a este projeto burguês de universidade..

Essa é a lógica do desenvolvimento de pesquisas na universidade pública. Nas áreas de pesquisa que mais servem ao capital, como as engenharias, farmácia, biológicas e química, predominam as parcerias entre pesquisadores e empresas, como vimos. Enquanto isso, nas ciências humanas, economia, direito e artes – supostamente responsáveis pela elaboração de pensamento crítico sobre a sociedade, sua história e sobre todos os vieses de sua reprodução material, simbólica e intelectual –, o fato de o conhecimento ser produzido sob as rédeas curtas dos mesmos órgãos de fomento, com prazos, rankings de produtividade determinando a “qualidade” de um pesquisador, crivos ideológicos, aliena totalmente a produção intelectual da realidade social, coloca os pesquisadores das humanidades sob as normas do produtivismo, da lógica de conquista e garantia de privilégios, e não de desenvolvimento e transmissão de pensamento crítico sobre a sociedade e de conhecimento a serviço da humanidade. Nesse marco, assim como nas exatas, se alça acima do “baixo clero” acadêmico uma camada de burocratas, agentes do projeto de privatização e elitização da universidade pública, que sob

*“BH-Tec divulga empresas que vão ocupar primeiro prédio, com inauguração prevista para junho”, em https://www.ufmg.br/online/arquivos/018263.shtml

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a falácia da meritocracia (seus posicionamentos nos rankings internacionais, suas notas de excelência nos órgãos de fomento em função dos “serviços” prestados a investidores privados) justificam seu controle de recursos na universidade, e seus projetos com objetivos ideologicamente determinados por sua relação com a estrutura de poder e o governo do PT. É preciso desfazer os argumentos meramente meritocráticos e mostrar concretamente o compromisso político (e material, afinal envolve seus privilégios) da burocracia acadêmica com o projeto de universidade levado adiante pelo governo federal, um projeto político que remonta ao projeto de universidade burguesa a nível mundial, como apresentaremos a seguir.

Universidade Burguesa e Crise Mundial

Esse projeto de universidade levado adiante

pelo governo do PT segue a cartilha da tendência do

ensino superior a nível internacional. Com a

assinatura de um importante acordo entre grandes

universidades europeias e instituições como o Banco

Mundial na cidade de Bolonha, em 1999, ficou

definida essa nova orientação para o ensino superior

na Europa, de acordo com o processo já avançado

que vinha se dando nos EUA. Os capitalistas

reclamavam que das dificuldades de escolher em

qual universidade europeia concentrar seus

investimentos para pesquisas, e como ter certeza de

sua qualidade, de que elas não eram tão “rentáveis”

quanto as universidades americanas, então

iniciaram as negociações para a instituição desse

acordo, em que se padronizaram os regimes

universitários entre várias universidades pela

Europa, incluindo nesse processo a instituição de

rankings de produtividade para compará-las. A

padronização de regimes universitários em

contextos muito diversos, o rankeamento

desenfreado e a consequente intensificação do

produtivismo (produção acadêmica alienada de

qualquer objetivo concreto com relação ao seu

objeto de estudo), da competição entre

pesquisadores para melhor se localizarem nestes

rankings, a pulverização da graduação normal,

reduzida para apenas três anos, visando apenas

formação profissional, rebaixou em muito a

qualidade dessas universidades enquanto centros de

produção de conhecimento livre a serviço da

humanidade. É esse modelo que inspira os planos

do governo para a universidade brasileira, e ao qual

tanto exaltam os membros da burocracia acadêmica.

Com o estouro da crise econômica

internacional, esse projeto burguês de universidade

vem nos mostrar o que têm a oferecer à juventude.

Nas maiores universidades da Espanha, Grécia, Grã-

Bretanha, entre outros países, os cortes nos gastos

do governo com a educação se aprofundam, aliados

ao incremento da privatização. A juventude, que

pensava “tudo bem, o ensino pode ter sido

sucateado, não podemos mais aproveitar a estrutura

da universidade pública como antes; não tenho

como pagar as caras pós-graduações para isso, mas pelo menos terei meu emprego garantido ao sair da universidade” hoje amarga as piores taxas de desemprego da história recente da Europa, chegando à taxas de 60% entre os jovens de 18 à 27 anos. Hoje os estudantes das principais universidades europeias tem se levantando contra essa situação, já nos dando diversos exemplos de luta, como as diversas paralisações estudantis, por toda Europa, incluindo até greves maiores, como na Espanha, envolvendo todos os setores da educação básica, média e superior. Isso mostra como os estudantes podem cumprir um papel importante na luta contra os efeitos da crise. Ou seja, o que vemos hoje com a crise econômica internacional é que esse é um modelo que nada pode oferecer à juventude ansiosa por transformações profundas na sociedade, muito menos garantir um futuro digno na degradada sociedade capitalista como está hoje.

Lutar pela Educação é Lutar pela Transformação Radical da Sociedade

Como vimos acima, a autonomia universitária de hoje é uma completa farsa. A universidade não é uma ilha, e o que acontece dentro dela é uma expressão de sua função social, indo nesse aspecto até o nível

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internacional. Esta função social da universidade

está em disputa pelas classes fundamentais da

sociedade, a burguesia e o proletariado. Para nós,

retomar a importância do marxismo dentro da

universidade significa exatamente compreendermos

mais fundo para qual classe serve hoje este projeto

de universidade.

Nosso esforço de estudo e compreensão da dialética

material da sociedade de classes está em

congruência com o objetivo de compreender porque

hoje, o conhecimento produzido, quem tem acesso,

e outros aspectos da universidade, estão presos nas

amarras do capital. Nesse sentido, levantamos a

necessidade de um compreensão marxista da

universidade como um passo fundamental para

libertar todo o conhecimento que é produzido aqui

dentro, em todas as áreas.

E frente a isso, pelo que é preciso se

organizar?

Para combater esse caráter de classe da

universidade, levantamos a luta contra a sua

estrutura de poder autoritária da universidade

pública, pelo fim do vestibular e estatização das

universidades privadas, para que todos possam

estudar, e assim instaurar a verdadeira autonomia

universitária. Para que o conhecimento produzido

na universidade esteja a serviço da classe

trabalhadora, a única que tem interesse em libertar

totalmente o desenvolvimento do conhecimento

humano de quaisquer amarras. Nossa luta é para

que o marxismo invada a universidade, não como

panaceia, mas como um direcionamento classista

para enfrentarmos a universidade do capital.

Ao invés de entidades que servem de correia

de transmissão dos planos do governo,

lutemos por entidades estudantis militantes!

Sob estas bases, buscamos romper com o

isolamento em que estão as entidades estudantis, e

torná-las, de burocráticas, em instrumentos anti-

burocráticos, militantes, para organizar a lutar

contra o conhecimento a serviço do mercado, contra

o esoterismo intelectual, alimentado pela lógica do

produtivismo, contra a repressão dentro e fora da

universidade, levantando as questões que são

fundamentais dentro da universidade desde as

questões políticas nacionais, denunciando o elitismo

e a exclusão, e se ligando às lutas dos trabalhadores,

por entendermos o papel central da classe operária

como sujeito da transformação em que acreditamos.

Atualmente nossas entidades estudantis estão sendo

dirigidos por grupos políticos que fazem parte da

mesma engrenagem burocrática que possibilita com

que o governo e os capitalistas transformem as

universidades em garantias de seus interesses

privados. O DCE atualmente é dirigido pelo PT

junto do “Levante Popular da Juventude”. Ambos

são base de sustentação das diretrizes políticas do

governo Dilma, ou seja, são governistas. Ter um

DCE governista significa que - além de uma

estrutura de poder autoritária para que tenha sua

política garantida dentro da universidade – o

governo do PT, a serviço dos capitalistas,

implementam suas políticas privatistas de

universidade contando com representantes dentro

do movimento estudantil. Se fazem passar por

representantes dos interesses da maioria dos

estudantes e da juventude, mas na verdade, por seus

vínculos políticos e materiais com o governo se

transformam em engrenagens da máquina

governamental e da reitoria a serviço de um projeto

de universidade pública, elitizada, excludente,

racista e a serviço de interesses privados. O

questionamento da universidade de classe para nós

é apenas um aspecto da denúncia que fazemos de

toda a sociedade capitalista, que não tem mais nada

enquanto modo de produção para oferecer à

juventude e aos trabalhadores, senão exploração e

opressão, se reproduzindo de forma cada vez mais

convulsiva.

CONHEÇA, DISCUTA E MILITE COM A JUVENTUDE ÀS RUAS!

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NO BRASIL E NO MUNDO: A LUTA DA JUVENTUDE É UMA SÓEstamos diante de uma crise estrutural e

histórica do capitalismo a nível mundial.

O mito dos anos 90, de que a história

havia acabado e o capitalismo triunfado

como ideologia e modo de produção cada

vez convence menos, quando este sistema

mostra seus limites e contradições

profundas. Essa característica de crise

estrutural já mostra que necessariamente

tem um caráter também político e

escancara os seus contornos fortemente

problemáticos no que tange às condições

de vida dos trabalhadores, do povo e

principalmente da juventude em todo o

mundo; com destaque para a Europa, para

o Norte da África e mundo Árabe – berços

da Primavera Árabe e de novos processos

de resistência e luta que ganham

proporções cada vez maiores por parte da

juventude e dos trabalhadores.

MAS, E NO BRASIL? O QUE TEMOS A VER

COM ISSO!?

Igualmente errados estão Dilma, Lula e o governo

do PT quando dizem que essa é uma crise restrita

aos “países ricos”. Usam tal recurso retórico

(cimentado por distorções estatísticas e políticas

demagógicas, além do “otimismo” da mídia

burguesa, interessada em aprofundar os ataques

aos direitos dos trabalhadores sob a desculpa da

competitividade, para promover sua “recuperação

econômica”) por seguirem, ainda que com

diferenças pontuais, exatamente a mesma cartilha

econômica e política que seguiam os governos

anteriores nas mãos do PSDB. Ou seja, fazem

parte do mesmo corpo de interesses ditados pelos

comandantes do capitalismo mundial, chamados

de “oligarquia financeira” ou “imperialistas” [1].

A dependência brasileira à entrada do Dólar

(moeda controlada pelo governo norte-

americano), assim como à importação de produtos

agrícolas brasileiros pela China, só aumentou

durante os governos Lula e Dilma. Portanto, se

notarmos que essa característica econômica

(dependência do capital imperialista + economia

caracterizada por exportação de produtos

agrícolas) é típica de países semi-coloniais,

veremos claramente que não existe meio de

qualquer mercado interno brasileiro se alçar sem

crédito nutrido a dólar e a “superávit primário”,

com uma balança econômica com um peso cada

vez mais reduzido da indústria e dependente da

exportação de commodities (produtos primários,

como ferro, carne, soja, etc), aprofundando a

dependência econômica nacional e sua sujeição

aos movimentos da crise mundial. Assim podemos

chegar à conclusão de que por maiores que sejam

as artimanhas econômicas não só o Brasil vai ser

atingido pela crise capitalista mundial, senão que

já se desenvolvem movimentos nesse sentido que

adiantam características fundamentais do que será

a crise capitalista no Brasil. O crescimento do PIB

já mostra suas características recessivas [2] e

dentre muitos efeitos da crise já se vê no Brasil

ataques referentes a essa tendência profunda,

visando manter as altas taxas de lucro anteriores

dos capitalistas neste país. O alto nível de

privatização em todas suas obras públicas e

investimentos realizado pelo governo do PT (que

ainda vai explodir mais até a Copa de 2014), a

privatização crescente do ensino superior,

transformando um direito em mercadoria na mão

dos grandes conglomerados educacionais; e no

plano do ataque às condições de vida da

população, o endividamento crescente das

famílias, a ameaça da carestia de vida e da

inflação, a degradação e precarização das

condições de trabalho e vida e, para dar

“cobertura” a tudo isso, a violência policial e a

retirada de direitos democráticos elementares,

como o direito à greve, livre expressão,

organização e manifestação. Por isso, no Brasil

os exemplos das lutas da juventude e dos

trabalhadores na Europa e em novos

processos revolucionários como no Egito

ajudam a nos prepararmos para esse

momento. Nós, da Juventude Às Ruas

lutamos para que os exemplos

internacionais sejam discutidos, estudados

e sirvam de exemplo para preparar nossas

organização estudantis (CA’s, DA’s, DCE’s e

a ANEL [3]) para que sejam instrumentos

que possibilitem organizar-nos

nacionalmente para enfrentar a crise que a

sede de lucro dos capitalistas criou.

[1] “Imperialismo: Fase superior do capitalismo”. V.I. Lênin

[2] 0.9% em 2013. Disponível em http://www.ibge.gov.br

[3] Assembleia Nacional dos Estudantes Livres. Organização nacional de estudantes independente do governo Dilma e do PT. Sua direção majoritária é o PSTU.

Bernardo Andrade, estudante de filosofia e militante da LER-QI

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OS EXEMPLOS DE OUTROS PAÍSES

PODEM NOS ENSINAR

Dentre os muitos efeitos da crise, os que se

expressam no Estado Espanhol e Grécia ganham

contornos muito claramente delineados. A

Espanha, um dos países que mais lucrou nos anos

antecedentes à explosão da bolha imobiliária nos

EUA (que marca o primeiro momento da crise

capitalista) enfrenta níveis de desempregos de 26%

(considerando toda a população economicamente

ativa) e de 55% entre os jovens (até 26

anos) [4]. Isso acontece porque, após a criação de

uma bolha imobiliária que gerou lucros imensos aos

bancos Espanhóis (como o Santander, que lucra

alto dentro da UFMG) e Americanos, o Estado

Espanhol, o BCE e uma junta europeia, em função

dos interesses da Alemanha, impuseram medidas

altamente ofensivas aos direitos da juventude e dos

trabalhadores, desmantelando as remanescências já

caducas do “estado de bem estar social”. Tudo isso

para salvar os capitalistas que tiveram lucros

exorbitantes nos últimos anos.

Esse é o mesmo tipo de processo que se passa na

Grécia e infelizmente o futuro que planejam os

capitalistas e seus governos em todos os países na

Europa e no mundo. Isso só mostra que os

chamados regimes democráticos capitalistas não

são mais que comitês para servirem aos interesses

de empresários e capitalistas nos distintos

países [5]. Quando estes capitalistas deixam de

lucrar, se adiantam os governos a dar bilhões aos

bancos e empresas, em contrapartida cortes de

direitos e repressão policial à juventude e aos

trabalhadores. Isso se dá pelo caráter do Estado

capitalista, fundado sobre a apropriação forçada e

privada de poucos capitalistas sobre as forças de

produção, e portanto de tudo o existe, já que

tudo é produzido. Em paralelo, os que tudo

produzem - trabalhadores reunidos em

grandes fábricas e nos mais diversos ramos de

produção e serviços - recebem no final do mês

como retorno apenas uma quantia miserável

do valor do trabalho resistido durantes longos

dias nas fábricas e empregos. Ou seja, o

Estado baseado na propriedade privada e

seus regimes, seja o democrático, seja o

fascista, dão corpo à forma ampliada

socialmente do regime de poder dentro da

fábrica. O acumulo de poucos sobre o fruto do

trabalho de muitos. Os exemplos

internacionais tornam essa relação evidente.

Tanto é que vemos dentro de Estados

capitalistas considerados democráticos uma

completa ingerência de juntas econômicas

estrangeiras, como na Grécia, quando o Banco

Central Europeu, a mando do governo alemão,

derrubou o ex-presidente grego Gourgos

Papandreou. Além disso, na mesma Grécia, a

Polícia - uma das instituições mais elementares de

um Estado Capitalista, violenta e opressora

portanto em seu caráter essencial – vem sendo uma

incubadora de nazistas. 75% dos policiais gregos

votaram no partido neonazista (Golden Dawn;

Aurora Dourada, em português) nas últimas

eleições. Além da polícia delegar funções de polícia

aos neonazistas (exatamente como aconteceu no

início da ascensão fascista na Alemanha de

Hitler)[6], é brutal o aumento dos casos de tortura

pelas mãos da polícia, proteção aos fascistas em

suas incursões para agredirem imigrantes,

incluindo colaboração ativa e troca de informações.

Isso mostra que quando não conseguirem mais

retirar direitos enganando o povo nas urnas, os

capitalistas e seus governos se preparam para ter

outra forma de fazer isso; repressão e violência

contra os que resistem. Ou seja, a crise

escancara a questão fundamental: os

governos capitalistas querem fazer os

trabalhadores e o povo a pagarem pela crise.

Quem pagará pela crise? Nós, da Juventude

Às Ruas lutamos para que sejam os

capitalistas que paguem pela crise que eles

mesmos criaram!

POIS, NEM SÓ DE TREVAS VIVE O MUNDO

Se, como concluímos acima, a questão fundamental

que se coloca hoje é quem pagará pela crise criada

pelos capitalistas a nível mundial - e que já mostra

os sinais de como reverberará no Brasil -, esses

mesmos horizontes que anunciam tempestades

[4] BBC Brasil, 24/01/2013. Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/01/130124_espanha_desemprego_cc.shtml

[5] “O executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.”. Manifesto Comunista MARX. Edições Boitempo. São Paulo, 2005. Tradução Álvaro Pina. P. 42.

[6] disponível em operamundi.uol.com.br/conteúdo/noticias/24640/partido+neonazista+assume+funções+de+policia+na+grecia.shtml

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semeiam primaveras que mostram o caminho a

seguir para impor que sejam os capitalistas que

paguem pela crise e não nós, juventude e

trabalhadores. A Primavera Árabe anunciou ao

mundo que é possível unificar a juventude e os

trabalhadores e romper com as perspectivas

individualistas e resignadas de teóricos do

capitalismo que diziam que a história acabou e que

não seria mais possível transformar a sociedade

através da luta independente da juventude junto com

os trabalhadores. No processo que segue mais

avançado, milhões nas ruas derrubaram Mubarak no

Egito e seguem mobilizados, mesmo com intensa

repressão policial. A queda de Mubarak foi só uma

mostra de que a pobreza, a exploração e opressão são

problemas próprias do capitalismo e não apenas de

um regime ou outro, já que ainda hoje, mais de um

ano depois da queda de Mubarak, as demandas

democráticas mais sentidas da população não foram

resolvidas e as mobilizações seguem intensas.

Além disso, outro grande exemplo que devemos nos

espelhar é da unidade entre estudantes e

trabalhadores na marcha dos Mineiros do Estado

Espanhol em Madri. Como parte dos ataques aos

mais elementares direitos no Estado Espanhol os

“planos de ajustes” impostos preveem o fechamento

da indústria carbonífera no país. Contra esses planos

os mineiros do Estado Espanhol realizaram uma

imensa greve que ganhou apoio e canalizou o

sentimento de revolta de todo o povo que vem

sofrendo com a crise. Ficou marcado um episódio

quando milhares de mineiros chegaram à cidade de

Madri com suas lanternas acesas em uma marcha

noturna e foram recebidos por mais de 25 mil

moradores que os apoiavam, mostrando como a

classe operária pode canalizar os sentimentos

populares de descontentamento contra os ataques às

condições de vida e as demandas democráticas da

população.

Esse exemplo é importante porque, para que sejam

os que criaram a crise, em função da acumulação

privada da riqueza produzida socialmente, que a

paguem; os que, em contrapartida, produzem tudo

são os únicos que tem o poder de controlar a

produção em função dos interesses da maioria da

população, pois não se apropriam individualmente

do fruto do trabalho social por serem parte

constitutiva desse trabalho social [7], os

trabalhadores.

Se formos procurar na História, não faltarão

exemplos deste tipo. Desde Contagem, Minas Gerais,

fins dos anos 60, quando os operários para

conseguirem melhorias de seus direitos, como salário

e melhores condições de trabalho, viram que só

poderiam conquista-los a partir de uma luta pela

derrubada da ditadura militar, que oprimia todo o

povo. Em Paris, no ano de 1968, o mês de maio se

tornou um marco histórico pelo fato de que os

estudantes, que entravam em greves multitudinárias

por direitos democráticos e para que o conhecimento

produzido nas universidades fosse livre das amarras

que o impunha os interesses do capital, afirmavam

que os únicos que tinham interesse em livrar o

conhecimento são os que não acumulam capital e são

explorados por este, ou seja, os trabalhadores.

Insistente a história insiste em nos questionar

novamente. Novamente na França setores dos

operários voltam a entrar em greve contra as

demissões e o fechamento de fábricas devido à crise.

Os mais combativos da Sanofi, Air France, Virgin,

Presstalis, PSA, Renault, Goodyear y Licenci’elles,

estiveram num encontro pela coordenação das lutas

e receberam apoio de estudantes independentes e

revolucionários da universidade. De que lado

estaremos? Nós, da Juventude Às Ruas

dizemos: da aliança operário-estudantil!

A HISTÓRIA RATIFICA

O mundo de hoje está envolto em conflitos que como

vimos acima são determinados pela luta entre as

classes. Por um lado capitalistas burgueses arrastam

o mundo a uma crise histórica pela busca

cronicamente doentia do lucro. Por outro lado, junto

da maioria do povo e principalmente da juventude

(que mais sofrem com as crises) os trabalhadores

lutam contra ataques a suas condições de vida.

Porém, entre uns e outros, emergem também velhas

alternativas utópicas ou meramente enganosas.

Dizem que devemos confiar em votos e em saídas

através da radicalização das “democracias”. Mas são

as “democracias”, na verdade “democracia dos

capitalistas”, europeias que primeiro estão impondo

os maiores ataques às condições de vida da história

da Europa a mando direto de governos e juntas

econômicas estrangeiras.

No Brasil o PSOL diz o mesmo. Estão nos dizendo

para confiar que suas frases sobre “a grande justiça

da democracia” vale mais que a fome dos ciclopes

capitalistas focados em seus lucros. Fecham os seus

dois olhos para o que acontece no mundo e tentam

fazer-nos acreditar que capitalistas

“democráticos” (com apoio financeiro até mesmo da

Gerdau, monopólio do aço brasileiro) querem que o

povo consiga plenas condições democráticas acima

de seus lucros. Falam que se pode furar o olho dos

[7] “Todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida submetendo toda a sociedade às suas condições de apropriação. Os proletários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão abolindo o modo de apropriação a elas correspondente e, por conseguinte, todo modo de apropriação existente até hoje. Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes”. Manifesto Comunista MARX. Edições Boitempo. São Paulo, 2005. Tradução Álvaro Pina. P. 49-50.

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

capitalistas amanhã, mas não veem que se

esse Taurus [8] parece inofensivo é porque quer

roubar o olho do outro para, munido de dois olhos e

não um, conseguir mais lucro.

Por isso, nós da Juventude Às Ruas achamos que é

necessário também o combate de ideias. Pois,

achamos que não podemos partir do zero. Temos

que resgatar as lições de processos que aconteceram

no passado e que por isso guardam lições

importantes sobre a lógica dos processos de luta de

classes na sociedade capitalista como o que vemos

hoje. Se o PT que dizia à juventude e trabalhadores

para confiarem na “democracia dos ricos” hoje está

diretamente ao lado dos que criaram a crise,

disponibilizando bilhões em dinheiro público para

os grandes bancos brasileiros. Essa ideia do PSOL,

que parece nova, busca repetir esses mesmos erros,

que já trouxeram muitas lamentações para a

juventude, os trabalhadores e o povo.

Já em 1848, Karl Marx já mostrava que a dinâmica

do desenvolvimento da sociedade era fundada na

contradição dos interesses entre as classes [9]. Não

poderia haver mediação que encerrasse a riqueza

das possibilidades destrutivas e criativas humanas

em um sistema artificialmente criado – ou seja, uma

democracia burguesa (capitalista-radicalizada, para

o PSOL) que possibilitasse uma comunhão de

interesses entre trabalhadores e burgueses. Por isso,

se queremos dar vazão ao potencial humano

devemos ligar estes aos interesses concretos de uma

das classes da sociedade. Temos de escolher. Os

burgueses capitalistas já mostraram seu enorme

potencial destrutivo, através da sua condição

matéria de apropriação privada e suas necessárias

guerras, pobreza, doenças, exploração, opressão e

seus subsequentes desdobramentos ideológicos;

racismo, machismo, homofobia, xenofobia. Por

outro lado, os trabalhadores mostram o seu infinito

potencial criativo através do trabalho social, já que

sem estes não haveria uma pedra sequer empilhada

em qualquer cidade do mundo. Igual, das forças do

seu trabalho social se desdobram as ideias que nos

permitem lutar por uma sociedade livre das amarras

do capital, das amarras do lucro, das amarras do

preconceito, enfim uma sociedade livre para criar.

Portanto, para fazer com que os capitalistas paguem

pela crise temos de nos organizar

independentemente dos capitalistas, empresários e

seus governos. Não podemos confiar que através

dos votos em um jogo de cartas marcadas

(democracia dos capitalistas) é possível reverter os

ataques às condições de vida. Devemos confiar na

mobilização e luta nos locais de estudo, trabalho e

nas ruas.

COM ESSA PERSPECTIVA NÓS DA

JUVENTUDE ÀS RUAS ESTAMOS FAZENDO

UMA CAMPANHA QUE CONVIDAMOS A

TODOS FAZERMOS CONJUNTAMENTE.

UMA CAMPANHA DE CAMISETAS EM

SOLIDARIEDADE À LUTA DA JUVENTUDE

E DOS TRABALHADORES DO ESTADO

ESPANHOL. CONHEÇA A CAMPANHA

ATRAVÉS DE NOSSOS MILITANTES NA

UFMG!

O PODER DE NOSSAS IDEIAS

O enorme arcabouço teórico e prático do marxismo

constituem as ideias mais influentes de todo o

século XX. Devemos partir dessas lições do passado.

Por isso buscamos as lições mais importantes

dessas lutas (praticas, políticas, ideológicas)

reunidas principalmente nas obras de Lenin, Rosa

Luxemburgo e Leon Trotsky. Porém para que

possamos coloca-las em marcha novamente

devemos buscar aplica-las na prática. Por isso,

convidamos a todos a conhecer, estudar, discutir e

militar junto da Juventude Às Ruas.

Organizados podemos:

Acumular com os exemplos internacionais!

Ligar-nos aos trabalhadores de dentro e fora

da universidade!

Colocar como perspectiva de nossa luta que

os capitalistas paguem pela crise!

Essa organização para nós é uma forma de

experiência para que possamos, através da luta

concreta, na universidade e fora dela, avançar

juntos para que, como dizia Karl Marx, a juventude

e os trabalhadores se organizem politicamente, ou

seja, um em partido mundial da revolução.

[8] A empresa de armas “Taurus” também deu dinheiro ao PSOL.

[9] “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes” Manifesto Comunista MARX. Edições Boitempo. São Paulo, 2005. Tradução Álvaro Pina. P. 40.

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

MULHERES, SEJAMOS MILHARES NA LUTA PELOS NOSSOS DIREITOS!No quinto ano da crise econômica que

atingiu potências como os EUA e tem hoje

seu epicentro na Europa, ao mesmo tempo

em que se desenvolvem processos

revolucionários como no Egito e se renovam

os ventos da chamada primavera árabe

como na Tunísia - ventos esses que por um

tempo ficaram carregados de apoio da

OTAN contra a ação independente das

massas -, levanta-se a questão sobre a

importância de tratar sobre a opressão às

mulheres. Frente à atual situação política,

econômica e social do mundo, por que tal

tema deve vir à tona?

Ao redor do mundo, temos visto convulsões sociais e

mobilizações de trabalhadores, estudantes, setores

oprimidos da sociedade, indignados com a crise e

com seus governos. Em muitas dessas mobilizações

vimos amplos setores de mulheres saírem às ruas,

tomando a frente dos processos de lutas e

levantando suas bandeiras, como no Egito e na

Índia. No Chile as jovens levantaram pela educação

pública, contra a repressão e contra a violência

sexual dos agentes do regime herdeiro de Pinochet.

Esses movimentos, que necessitam da auto-

organização dos trabalhadores e dos estudantes e de

direções revolucionárias para seguir avançando até

sua vitória, precisam que essas direções guiem

também na luta pelas demandas das mulheres, pelo

fim das opressões. Para isso, é necessário entender o

que significa a opressão da mulher no capitalismo.

EXPLORAÇÃO E OPRESSÃO NA

SOCIEDADE DE CLASSES

Durante toda nossa formação, educação e

construção social, as mulheres estão sujeitas a

vários tipos de opressão. Desde a infância, com a

divisão sexual entre cores e brinquedos, até o

assédio nas casas, ruas, escola e trabalho, violências

físicas e psicológicas, a obrigação de ser mãe, esposa

e a mulher da tradicional família mineira ou a dona

de casa, o salário menor do que o do homem, entre

outras expressões da opressão. Várias dessas nos

passam despercebidas ao longo da vida, sendo

naturalizadas e aceitas sem questionamentos,

inclusive sendo reproduzidas muitas vezes pelas

próprias mulheres.

Tudo isso porque vivemos hoje imersos em uma

sociedade que tem suas bases consolidadas na

exploração e opressão, pois o capitalismo se utiliza

dos dois para seguir com seus lucros e sua

dominação. Desde uma perspectiva marxista, a

exploração tem suas raízes no aspecto estrutural

econômico, sendo essa a relação da classe

dominante – a burguesia, que se apropria do

trabalho alheio – com a classe trabalhadora – a que

produz. Marx e Engels explicam essa relação de

exploração entre a burguesia e o proletariado

brevemente no Manifesto do Partido Comunista

quando coloca:

“Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do

capital, desenvolve-se também o proletariado, a

classe dos operários modernos, os quais só vivem

enquanto têm trabalho e só têm trabalho enquanto

seu trabalho aumenta o capital. Esses operários,

constrangidos a vender-se a retalho, são

mercadoria, artigo de comércio como qualquer

outro (...)” (Marx, Engels, 1848). [1].

Já a opressão é a relação de submissão de um grupo

sobre outro por razões culturais, raciais, étnicas,

sexuais ou de gênero, e faz uso da desigualdade.

Porém, exploração e opressão se combinam de

maneira perfeitamente orquestrada pelo

capitalismo, para que sua burguesia consiga seguir

em seu posto de classe dominante. Incentivando a

divisão entre os trabalhadores, a burguesia sempre

buscou as vias para aumentar a mais valia absoluta e

relativa e uma de suas armas é a divisão entre

homens e mulheres, disseminando a ideologia da

submissão das mulheres. Quanto mais explorado é

um setor, maior a expressão da sua opressão. Ou

seja, mulheres pobres, trabalhadoras precárias,

moradoras das favelas e periferias, em sua maioria

negras, são as maiores vítimas das opressões. A

opressão das mulheres se insere na história da luta

de classe e, apesar de não ter surgido no

capitalismo, ganha nesse sistema traços

particulares, sendo apropriada pelo próprio sistema

para a manutenção do status quo. Ainda no

Manifesto, os autores mostram o papel que a mulher

cumpre para a burguesia:

“‘Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade

das mulheres!’, grita-nos toda a burguesia em coro.

Para o burguês, a mulher nada mais é do que um

instrumentos de produção. Ouvindo dizer que os

[1] MARX, K., ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista, 1848

Iaci Maria, militante da LER-QI e do grupo de mulheres Pão e Rosas

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

instrumentos de produção serão explorados em

comum, conclui naturalmente que o destino de

propriedade coletiva caberá igualmente às

mulheres. Não imagina que se trata precisamente

de arrancar a mulher de seu papel de simples

instrumento de produção.” (Marx, Engels, 1848) [2]

Contudo, há ainda hoje setores que dizem que as

mulheres alcançaram a igualdade com os homens,

podendo trabalhar fora, ocupam postos de chefia,

são a maioria dentre os que possuem ensino

superior completo, e até mesmo chegam a ser

presidente. Entretanto, são ainda as mulheres as

responsáveis pelos cuidados com a casa, comida,

marido e filhos, gerando assim, às mulheres

trabalhadoras, a dupla jornada de trabalho; além de

ocuparem os postos de trabalho mais precários,

estarem mais sujeitas às violências físicas e

psicológicas – inclusive institucional em alguns

países – e serem as milhares a morrerem em vários

países devido à abortos clandestinos, senda essa no

Brasil a quarta causa de morte entre mulheres, com

aproximadamente 1 milhão de abortos realizados

por ano.

Isso mostra como, desde o surgimento da sociedade

dividida em classes, a posição de classe ocupada por

uma pessoa expressa não só o nível de exploração ao

qual ela está submetida como, diretamente ligada a

esse, expressa quais os limites da opressão sofrida,

estando a mulher trabalhadora submetida à dupla

jornada de trabalho desde o início do capitalismo.

Por exemplo, uma mulher em dado emprego possui

um salário que corresponde a cerca de 66% do

salário de um homem que ocupa a mesma posição.

Porém, quanto mais precário for o trabalho, mais

serão as mulheres quem ocuparão esses postos,

tendo ainda necessariamente que, além de trabalhar

exaustivamente por salários de miséria, responder

pela manutenção da casa e da vida do marido e

filhos por não ter condições financeiras de arcar

com empregadas domésticas, babás, creches

privadas – empregos estes que são também a

expressão de como são as mulheres as relegadas aos

trabalhos mais precários, ligados à limpeza e

cuidados.

Esse trabalho não remunerado que a mulher exerce

na casa e na criação e educação dos filhos é a

garantia de que o marido – o trabalhador

assalariado e explorado – esteja sempre em

condições de seguir com seu trabalho, estando

alimentado, com as roupas limpas, a casa

arrumada. E isso sem que o Estado precise se

preocupar com a garantia de nada disso –

garantindo creches, lavanderias, e restaurantes

públicos – ou seja, é nesse trabalho doméstico não

remunerado que está parte do lucro dos

capitalistas. O capitalismo se apropria da opressão

histórica da mulher para fortalecer a exploração,

ampliar seus lucros, além de dividir a classe

trabalhadora. E é por isso que a posição de classe faz

diferença na opressão, pois são as mulheres pobres

e negras as mais afetadas pela segunda jornada não

remunerada de trabalho.

A PRECARIZAÇÃO TEM ROSTO DE

MULHER!

A precarização do trabalho é mais uma grande

expressão da precarização da vida da mulher, sendo

cada vez mais frequente e, nos últimos 10 anos no

Brasil, cresceu ofensivamente durante os governos

Lula e agora Dilma. A atual presidenta mostrou

também que ser mulher não significa avanços

minimamente democráticos para as mulheres, pois

ainda em seu período eleitoral, Dilma rifou os

direitos das mulheres em sua campanha em troca de

votos. Em sua “carta ao povo de Deus”, ela garantiu

aos setores religiosos que não legalizaria do aborto,

bandeira essa histórica dos movimentos de

mulheres, que a então candidata suprimiu de seu

programa. Assim, a atual presidenta ganhou o apoio

dos setores mais conservadores e da bancada

evangélica do Congresso, aqueles que mais atacam

as mulheres e seus direitos. Já o trabalho precário

vem crescendo desde o governo Lula, que sob o

discurso de fim do desemprego e criação de novos

postos de trabalho, fez aumentar o número de

emprego precário, terceirizado, e aumentou

também a rotatividade do trabalho.

Basta olharmos ao nosso redor que veremos

trabalhadores “invisíveis” trabalhando por salários

de miséria, na limpeza, em condições insalubres,

sem segurança e sem direitos. Se notarmos bem, a

maioria dos que ocupam esses postos são mulheres,

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

em sua maioria negras, as mais precarizadas no trabalho, e na vida. São também as que estão mais sujeitas a sofrer assédio e violência, muitas vezes do próprio companheiro, sem ter condições materiais e econômicas de se desfazer da relação e seguir sozinha, se mantendo e criando seus filhos.

Dentro da Universidade o quadro não é diferente, pois há também a reprodução da opressão entre os próprios estudantes. Exemplos disso são os trotes aos ingressantes; a imposição de um padrão de beleza que, se não seguido, gera humilhações e até violência física; a visão de que o corpo feminino enquanto uma mercadoria, pronta a servir aos interesses de quem quer que seja, o que gera assédios e até mesmo estupros; além dos casos de homofobia, onde os LGBTTI’s são também oprimidos, não podendo se expressar livremente, opressão essa que tem raízes também no machismo.

Além disso, hoje as Universidades públicas também se constroem com base na precarização. Grande parte do trabalho estruturante da Universidade é precário, terceirizado e realizado em sua maioria por mulheres. As trabalhadoras da limpeza, as cozinheiras do restaurante universitário, são aquelas que mantêm a Universidade funcionando, mas também são as que recebem os piores salários, sem garantias e direitos, e estando sujeitas a inúmeros acidentes de trabalho. Travar uma batalha contra qualquer tipo de opressão dentro e fora da Universidade deve passar necessariamente por defender esses trabalhadores precários, essas mulheres sujeitas à exploração e opressão diárias, pois é essa exploração e opressão combinadas que garantem os lucros e a manutenção do capitalismo e da burguesia enquanto classe dominante. Por isso o fim da opressão jamais se dará por dentro do capitalismo, pois esse sistema não permitirá que se acabe com uma de suas bases de sustentação.

Essa combinação arquitetada de exploração e opressão é a expressão da necessidade de se combinar também a luta das mulheres, estudantes e trabalhadoras, pelos seus direitos e pelo fim da opressão e violência, com a luta da classe trabalhadora pelo fim de sua exploração, da dupla jornada de trabalho e da precarização. Porque as mulheres são diretamente afetadas por esses ataques e, ainda que por dentro do capitalismo vimos alguns avanços, é preciso ter em mente que a opressão não cairá pelas mãos daqueles que dela tanto necessitam.

QUANDO UMA MULHER AVANÇA, NENHUM HOMEM RETROCEDE!

Somos todas oprimidas! Mas não somos iguais. Angela Merkel na Alemanha dirige os planos de reajuste na Europa contra os trabalhadores e o povo, sendo uma das principais responsáveis pelo desemprego, demissões e fechamento de fábricas nesses países. Dilma mantém o nível de precarização do trabalho como um dos pilares do antigo crescimento econômico, sendo grande parte destes postos ocupados por mulheres; Heloísa Starling, quando vice-Reitora, permitiu a entrada da tropa de choque e cavalaria na UFMG para reprimir estudantes em 2007. Isso mostra como a luta contra a opressão não está por fora da luta de classes. Há as chefes e burocratas acadêmicas, em grande parte brancas, que são parte dos planos para que sejam os trabalhadores e o povo a pagar por sua crise. E neste feito as mulheres trabalhadoras e pobres são as que mais sofrem. Na luta contra a opressão a classe trabalhadora é a única que pode se colocar à frente da conquista de todas as demandas democráticas do conjunto das mulheres! Entre todas as mulheres as que mais sentem as amarras capitalistas que nos prendem devem ter espaço para tomar à frente de nossa luta: as mulheres trabalhadoras que sofrem com a opressão e exploração e que devem ser acompanhadas pelas mulheres mais oprimidas do povo negro e pobre.

E é por isso que nós, do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, reivindicamos que a juventude, como vem se mostrando ao redor do mundo, tem que cumprir o papel essencial de estar à frente dessas batalhas, contra a exploração e todas as formas de opressão. Um Movimento Estudantil combativo, enquanto um movimento de jovens dispostos a lutar e transformar não só a Universidade, mas a sociedade como um todo, deve estar ao lado da única classe capaz de levar a frente essa transformação da sociedade. Para isso as mulheres devem estar a frente desse movimento, levantando suas bandeiras, contra todas as formas de opressão, mas também contra a exploração que, quanto mais aguçada, mais humilha e oprime as mulheres. Cabe às estudantes lutar ao lado das demandas das trabalhadoras, escolhendo seu lado de classe; e às trabalhadoras se auto-organizarem para poder arrancar o fim de sua opressão, e o que lhes é seu por direito. Cabe à classe trabalhadora, organizada independente dos patrões, tomar para si as demandas das mulheres e dos setores oprimidos, travando uma luta unificada pelo fim da exploração e opressão.

- Pelo direito ao aborto livre, legal, seguro e garantido pelo estado!- Não à precarização do trabalho e da vida! Igual trabalho, igual salário!- Pelo fim da terceirização e incorporação imediata nas empresas e sem necessidade de concurso público nas instituições públicas!- Pela aliança operário-estudantil - Contra todas as formas de opressão!- Que os capitalistas paguem pela crise!

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

GRUPO MARX-LÊNIN-TROTSKY: EM DEFESA DO MARXISMO!

Tradição das Ciências Humanas na

Academia e Marxismo

No grupo de estudos Marx-Lênin-Trotsky,

organizado semanalmente pela Juventude às Ruas,

procuramos nos apropriar da tradição teórica do

pensamento marxista, que parte da análise da

dialética histórica da realidade concreta e a tem

sempre como parâmetro para a reflexão e o

pensamento crítico na elaboração de sua concepção

de história. Em um tempo em que as ciências

humanas produzidas nas universidades, e talvez

mais ainda a filosofia, já não oferecem (e muitas

vezes já nem procuram oferecer) reflexões para

entender e transformar a realidade, é necessário que

superemos os paradigmas escolásticos e esotéricos,

nos ensinados de maneira alienada da realidade

concreta sob a qual foram desenvolvidos, e sobre os

quais são hoje majoritariamente construídas as

ciências humanas. O cada vez mais sufocante

produtivismo aliena totalmente a produção teórica

dos interesses da classe trabalhadora e dos setores

que estão fora da universidade, atrelando os

recursos à burocracia acadêmica e distribuindo-os

de acordo com seus rankeamentos e índices de

produtividade. Isso acontece porque a universidade

como está hoje tem um caráter de classe bem

definido. Seu conhecimento está a serviço dos

interesses da iniciativa privada, da produção de

patentes, e no caso das ciências humanas, da

justificação ideológica do status quo. A meritocracia

imposta pelos rankings serve para esconder que por

trás da distribuição de recursos, estão objetivos

políticos. A maioria da população, na verdade, está

excluída da universidade, pelo filtro do vestibular. A

estrutura de poder da universidade pública serve de

correia de transmissão dos interesses do governo

federal, agente desse projeto de universidade

burguesa, que tem como aliados fundamentais

dentro da universidade uma burocracia acadêmica

plena de privilégios, satisfeita com eles e com a cada

vez mais elitizada universidade pública do jeito que

é hoje. A tradição teórica marxista, nesse viés, nos

oferece uma perspectiva diferente sobre a

universidade, se construindo na luta emancipatória

do ser humano e do seu pensamento; e por ser

construída a partir de uma perspectiva de classe, da

classe trabalhadora, que não tem nenhum privilégio

material à garantir, mas tem somente a

possibilidade de libertar sua capacidade criativa

infinita de desenvolvimento dos grilhões da classe

dominante, ela pôde – e pode – fazer uma análise

rigorosa e acertada da realidade, e elaborar uma

estratégia de ação revolucionária para libertar o

conhecimento das amarras do seu atual status de

mercadoria, e consequente, também para a

emancipação política e social (e também intelectual)

da esmagadora maioria da população mundial (os

trabalhadores explorados e precarizados, os

desempregados, imigrantes, negros, mulheres... em

suma, todos os que são vítimas da opressão e

exploração atuais).

História e Luta de Classes

Alguns podem perguntar, pertinentemente: “Porque

partir da perspectiva da classe trabalhadora para

pensar o mundo? Porque só ela é emancipatória?

Porque não partir de perspectivas 'democráticas' ou

constitucionais? Porque não o conceito de ciência

do Iluminismo, a razão universal?” A resposta,

novamente, é encontrada e comprovada na

realidade, numa rápida retrospectiva histórica: a

ascensão da classe burguesa solapou as bases

materiais e ideológicas do sistema político e social

que vigorava na Europa de então, o feudalismo;

houve uma verdadeira revolução no modo de

produção da vida, na sociabilidade, e no

pensamento humano. Devido a essa revolução

social, a sociedade, que já era dividida em classes,

acabou tornando-se – grosso modo – biclassista:

proletários e burgueses. Nesse sentido, a relação

Nesse semestre faremos um estudo do livro "Em defesa do Marxismo", escrito por Leon Trotsky em seus últimos anos de vida. O livro consiste em uma série de cartas entre parte dos mais importantes militantes marxistas revolucionários em fins da década de 30 e Leon Trotsky. Nestas cartas abordam temas de grande relevância histórica as vésperas da segunda guerra mundial.Por se tratarem de fenômenos nunca antes vistos – como o complexo fenômenos de burocratização da URSS pelas mãos do Stalinismo – Trotsky desenvolve profundamente as bases filosóficas, econômicas, políticas do marxismo e, principalmente, mostra como essas devem estar colocadas em função de mostrar a dimensão fundamentalmente estratégica do marxismo revolucionário. Ou seja, mostra a amplitude histórica da tese marxista (disformemente deixada de lado pelo “marxismo acadêmico”) quando o próprio Marx dizia: “até agora os filósofos se limitarem a interpretar o mundo. Mas, o mais importante é transformá-lo”. Por isso mesmo, apesar do Grupo Marx-Lenin-Trotsky ter como fundamento de suas atividades o estudo e discussão teórica do marxismo revolucionário, este tem compromisso com e as principais lições da luta histórica dos trabalhadores e da juventude.

PARTICIPE!

Rodrigo Silva, estudante de filosofia e militante da LER-QI e Francisco Faria, estudante de filosofia

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

social se “simplificou”. O capitalista, detentor dos

meios de produção, compra a força de trabalho do

trabalhador como condição para reproduzir o

capital, consequentemente seus privilégios materiais

e o processo social por ele engendrado. O

trabalhador não possui nada, além da sua força de

trabalho, que é vendida para o capitalista para obter

em troca seu meio de subsistência. Citando Marx

nos Grundrisse, é como a figura bíblica Esaú, que

troca a sua progenitura por um prato de lentilhas, ou

seja, é forçado a vender sua força criativa de

transformação da realidade como uma simples

mercadoria, quantificada, que vale somente o

necessário para sua própria subsistência e para que

possa estar pronto à vendê-la novamente em uma

próxima oportunidade. Alienada deste modo a força

de trabalho dos interesses do trabalhador mesmo,

toda as forças produtivas da humanidade ficaram

condicionadas unicamente aos interesses da

reprodução de capital e do lucro da classe

dominante, que usa todos os meios possíveis para

reafirmar e manter seu poder – meios que vão de

guerras e ditaduras até o aparentemente inofensivo

estado moderno, e sua democracia e jurisprudência.

A sua “razão universal” e sua democracia na verdade

são apenas expressões dos interesses da própria

burguesia enquanto classe, que esbarram no limite

da exploração capitalista sobre o proletariado, e

portanto, são usados contra ele. O estado burguês e

os interesses do proletariado são irreconciliáveis,

nesse sentido. Porém, enquanto classe, o

proletariado tem interesses diferenciados. Seu

interesse é a liberação da sua força criativa infinita, e

portanto, das forças produtivas de toda a

humanidade. Somente através da imposição destes

interesses do proletariado sobre todas as demais

classes, inclusive sobre a burguesia e a pequeno-

burguesia mais democráticas, podem hoje ser

resolvidas as demandas democráticas estruturais da

maioria da população e do povo oprimido,

principalmente no contexto atual de crise

econômica. A tradição teórica do marxismo também

é, nesse sentido, a síntese da experiência proletária

na luta de classes, e também das lições mais

avançadas da maior das revoluções já realizadas

pelo proletariado à nível mundial, a Revolução

Russa, onde, no país europeu mais atrasado do

ponto de vista capitalista, no qual o proletariado

representava quase 5% da população, se pode,

mostrando que a única classe que tem interesse em

resolver as questões democráticas do campesinato é

o proletariado, forjar uma aliança entre os

camponeses e o proletariado, onde este cumprisse

um papel de direção na construção da sua ditadura

sobre a burguesia, e impulsionando a revolução

para o campo da luta de classes à nível mundial

(reconhecemos aqui o logro da burocracia stalinista

em romper esta aliança, se baseando nos elementos

mais atrasados da pequeno-burguesia do campo, e

pelo outro lado, isolando a URSS da luta pelo

socialismo a nível mundial, com a sua concepção de

“socialismo em um só país”).

Por entender aspectos ligados diretamente ao papel

que cumpre no atual estágio de desenvolvimento

social, vemos como a única lente possível para se

entender e transformar a realidade, é a lente dos

trabalhadores, que são a única força social capaz de

revolucionar a sociedade, superando os paradigmas

podres da sociedade capitalista: propriedade dos

meios de produção, competição, lucro, opressão.

Resgatar os aspectos mais fundamentais da teoria

marxista, através da compreensão de que a

consciência se forma enquanto consciência de

classe, diretamente relacionada à sociabilidade

específica de um determinado estágio de

desenvolvimento histórico-social, e nesse sentido,

ligar o esforço teórico atual à única classe que pode

pautar a emancipação humana nos foi essencial na

discussão do Manifesto de 1848, para abrirmos a

discussão nessa perspectiva, muito diferenciada do

que normalmente se discute na universidade

pública, onde os sujeitos do conhecimento como que

pairam no ar, como fantasmas de biblioteca,

totalmente alienados da realidade concreta, sem

relação concreta com esta, com uma capacidade

mínima de intervenção (menos quando se trata de

garantir seus privilégios; nesse caso, os “sujeitos do

conhecimento” desaparecem, e impera o

pragmatismo, sem honestidade teórica alguma,

próprio da burocracia acadêmica, quando se trata de

“assuntos concretos”).

Boletim Juventude às Ruas BH / n. 4

Marxismo como Ferramenta Histórica

Essencial para a Revolução Social

Foi na sua fusão com a ação revolucionária da

classe trabalhadora que o marxismo foi se

provando como importante ferramenta para a

revolução social. Talvez tenham sido tiradas da

Revolução Russa de 1917 e na construção do

partido bolchevique as lições mais importantes,

desde Marx, mas também se comprovaram na

própria luta de classes aspectos políticos essenciais

já desenvolvidos por Marx no Manifesto de 1848.

Lênin e Trotsky, como militantes ativos dentro da

classe operária durante todo o processo e dirigentes

do Partido Bolchevique, teorizando desde os

primórdios, em 1902, puderam elaborar e pôr em

prática as mais avançadas teorias marxistas. Por

isso são eles os escolhidos para serem estudados no

grupo: porque foram aqueles capazes de manter

vivo o rigor dialético materialista do pensamento

de Marx, seu posicionamento essencialmente

classista e proletário, a necessidade incontornável

de se colocar em prática o pensamento, gerando

novas experiências; chegando, assim, a uma síntese

da tradição revolucionária iniciada por Marx. A

produção teórica e a prática de Lênin e Trotsky se

diferenciam radicalmente do Marxismo-Reformista

(que nem poderia ser chamado marxismo) e do

Stalinismo. O reformismo pretende reformar o

sistema capitalista a nível nacional, através da

democracia burguesa. Hoje vemos na Europa o

estado de bem estar social (como um exemplo

histórico da aplicação de políticas reformistas) ser

brutalmente desmanchado devido à crise, em prol

do salvamento dos bancos e dos lucros capitalistas;

a democracia burguesa vem se provando

continuamente ineficaz para os trabalhadores e

extremamente rentável para a burguesia. Já o

stalinismo, na teoria e na prática, foi o modo como

Stalin encarnou as demandas da burocracia de

controlar o poder soviético nas próprias mãos, de

aprisionar a democracia do estado-operário em

prol de seus privilégios materiais, de boicotar,

direta ou indiretamente, revoluções proletárias de

todo o mundo, que poderiam abalar seus poderes

burocráticos. Por isso, essas correntes de

pensamento, que se dizem marxistas, devem ser

rejeitadas pelos trabalhadores; elas não são

resultado de um pensamento de classe

emancipatório, mas sim de desvios e revisionismos

do marxismo, que visaram, por um lado,

historicamente manter as bases da dominação

econômica curando alguns dos seus piores

sintomas e, no caso do stalinismo, justificar o poder

burocrático, perpetuar a dominação da camada

dirigente da URSS sobre os trabalhadores, conviver

“amistosamente” com o capitalismo mundial, e

boicotar, através de sua influência na Internacional

Comunista, revoluções externas que ameaçassem

seus poderes burocráticos, rompendo o isolamento

da URSS e avançando rumo à revolução mundial. É

o legado marxista, leninista e trotskista, síntese

teórica de quase 200 anos de luta de classes, que

deve ser apropriado pelos trabalhadores como

ferramenta básica para o entendimento da

realidade de uma perspectiva proletária, para a

ação revolucionária que resultará, em última

instância, no fim da propriedade privada dos meios

de produção, no fim do jugo do lucro sobre as

forças produtivas, no fim da exploração econômica

do homem pelo homem, e no fim de todas as

opressões e vilanias que advêm diretamente do

atual sistema social. O estudo do “Imperialismo,

Fase Superior do Capitalismo”, foi-nos

fundamental neste sentido, pois vimos como Lênin,

armado de uma perspectiva marxista

revolucionária, pensou como se dava o

desenvolvimento social em uma época de

florescimento nunca visto de monopólios, em

detrimento do capitalismo de livre concorrência,

um acirramento das contradições capitalistas, que

levaram à crises, guerras e revoluções; o fim de

qualquer papel progressista que poderia cumprir a

burguesia nacional, e como o movimento proletário

deveria se preparar para, nesse contexto, pautar a

tomada do poder do estado e a transformação da

realidade à serviço dos seus interesses históricos de

classe.

O Mito do Fim da História e a Atualidade do

Marxismo

Hoje vivemos o fim de um refluxo de trinta anos na

luta de classes; trinta anos sem revoluções,

marcados por uma ofensiva ideológica e material

da burguesia à nível mundial, cujo caminho foi

preparado em parte pelas traições do stalinismo,

com a restauração do capitalismo no Leste

Europeu, entre uma série de fenômenos, como

também no plano político pelo neoliberalismo, e o

no plano teórico, pelo surgimento de teses que

diziam que a história havia acabado, que à classe

trabalhadora não foi possível cumprir algum papel

histórico, no sentido de construir um estado, ou

pautar o desenvolvimento social segundo seus

interesses, e que o estado-operário burocratizado e

isolado pelo stalinismo era a única experiência

socialista concreta e prova cabal do fracasso do

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proletariado como sujeito histórico. Os teóricos da burguesia (alguns de dentro da própria universidade pública) seguem nos dizendo que não existem mais sujeitos sociais do jeito que expomos teoricamente acima; que a individualidade, competição e mesquinharia burguesas são próprias da natureza humana, e devemos lidar com elas, nos contentando com a degeneração das relações sociais; e por fim, que qualquer tese política ou social marxista está “ultrapassada”. Porém, conforme as fricções entre a burguesia, passando por uma crise estrutural em seu modo de produção, se acirram; conforme a situação econômica se torna mais sufocante para as mais amplas camadas da classe trabalhadora à nível mundial, e conforme surgem as primeiras respostas do movimento de massas em todo o mundo, no sentido de buscar uma alternativa política para esse acirramento das contradições do capitalismo como um todo, revelando mais uma vez sua faceta degenerada na época imperialista, cada vez convence menos o discurso dos anos 90, o mito do fim da história e a suposta “superação” da reflexão marxista revolucionária. Hoje, frente aos desafios que nos impõem um capitalismo em crise, beirando o colapso social, econômico, e até ambiental, cada vez mais precisamos delimitar uma saída revolucionária para que esse colapso do modo de produção não signifique um colapso na própria humanidade, ou para que não nos seja imposta a saída que a burguesia enquanto sujeito social pode nos oferecer, que significa o rearranjo das contradições capitalistas de um modo ainda mais débil, pautado através da destruição massiva de forças produtivas, de guerras, massacres, fome, catástrofes, etc., como foi a saída dada pela burguesia para crise dos anos 30, uma guerra mundial, ou no plano político nacional, o fascismo. Em um esforço de sintetizar as principais reflexões políticas da tradição marxista, enriquecidas pela experiência da Revolução Russa, cada vez mais estes escritos renovam a sua atualidade, reatualizando esta interpretação da história que vê na relação dialética da sociedade em torno de seus interesses materiais, antagonizados pela sua divisão em classes, o motor da história, e pautando também a ação revolucionária para avançar nessa reflexão a classe trabalhadora, único sujeito social que pode cumprir o papel político de dar uma saída progressista para a crise que vivemos.

Marxismo e Ortodoxia?

Um outro elemento da ofensiva ideológica da burguesia é o esforço teórico feito em pautar o marxismo enquanto visão de mundo e forma de se conceber a história como ortodoxo, como um pensamento que não corresponde à realidade concreta, se pauta por dogmas elaborados no séc. XIX e não tem o mesmo rigor teórico que suas reflexões acadêmicas. Porém, a crise avança em ritmos distintos pelo globo e as condições de vida da

maioria da população mundial são rebaixadas à um nível totalmente degradante: o desemprego aumenta, as condições de trabalho são cada vez mais atacadas, as fricções entre os Estados aumentam, e, como Lênin caracteriza no Imperialismo, uma nova repartilha violenta do globo entre as potências imperialistas, que só acontece através de catástrofes militares, se coloca em perspectiva, reatualizando sua definição da época imperialista como uma época de “crises, guerras e revoluções”. Frente a esta situação, a reflexão acadêmica, como um avestruz, prefere esconder-se em suas atividades a se atrever a dar uma resposta concreta para a situação social e política em que vive. A resposta concreta dada por Trotsky nos anos 30, e que para o grupo de estudos é a tarefa fundamental que se põe hoje a todos que queriam refletir seriamente sobre a época em que vivemos, e que saída pode ser dada para esta crise de dimensões históricas, está pautada na ação política da classe trabalhadora. Elucidações teóricas e práticas das tarefas fundamentais da classe trabalhadora enquanto sujeito histórico, que questionam diretamente as bases do sistema social de exploração e opressão que vivemos. A luta contra o desemprego e a carestia de vida, e neste sentido a necessidade de pautar a divisão das horas de trabalho entre todos que estejam sem emprego, e uma escala móvel de salários de acordo com a inflação. A expropriação dos grandes monopólios e dos grandes bancos, que como vemos hoje são os grandes instrumentos de domínio econômico da oligarquia financeira, e assim, agentes da realidade convulsiva que passa a economia mundial. A luta contra o imperialismo, que cada vez mais precisa exacerbar sua política colonial de exploração, como vemos hoje, e desde de sempre, no Brasil, mas que se acirra em tempos de crise, aparecendo também de maneira diferenciada na própria Europa em conflito. Essas e outras consignas sintetizam tarefas fundamentais hoje para a classe trabalhadora, não só para combater os efeitos da crise econômica, mas para dar uma resposta e uma saída para essa crise geral do modo de produção social, transformando as bases de reprodução da sociedade conforme seus interesses históricos e emancipando toda a humanidade. Exatamente por se pautar na necessidade da classe trabalhadora de dar esta resposta concreta às contradições que vive sob o capitalismo, o marxismo, se trabalhado com rigor, nunca será ortodoxo, já que tem a realidade concreta e a ação prática como seu parâmetro de cientificidade. E se pautaremos a atualidade e a necessidade de se fazer carne na luta dos trabalhadores e estudantes, o livro “Em Defesa do Marxismo”, de Leon Trotsky, e o marxismo como um todo, como arma crítica contra o academicismo e falta de resposta concreta por parte da academia, não é por ortodoxia, mas porque reconhecemos a sua atualidade histórica e a envergadura reflexiva e emancipatória da teoria e tradição marxistas.

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