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Boletim "Olhar" de junho, distribuído pela Agência Júnior de Jornalismo da Unesp Bauru.
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Ano de Copa do Mundo é sempre es-
pecial. Ainda mais no Brasil, o país do fu-
tebol. Para os mais desencanados, o ano
só começa em agosto, depois do Mundial.
Mas para os jornalistas o evento é a gran-
de vedete de quem é apaixonado por fu-
tebol, o que significa muito trabalho, até
por causa do fuso horário: o Brasil está 5
horas à frente da África do Sul. O Olhar
conversou com a equipe do jornal Lance!
para contar como foi a cobertura do jornal
esportivo durante o período da Copa.
Para informar os leitores com
qualidade, o Lance! dividiu os repórteres
entre Brasil e África do Sul. Klaus Rich-
mond, responsável pela cobertura do
Santos, conta como funciona o trabalho
para quem ficou aqui: “As redações do Rio
de Janeiro e São Paulo são os pontos de
apoio para a produção do material, com
cerca de 30 páginas diárias de Copa”.
Para a África do Sul, foram en-
viados sete jornalistas, entre editores, re-
pórteres e editores de fotografia. Rodrigo
Vessoni, que cobre o Corinthians, foi man-
dado para a Argentina, para acompanhar
a repercussão da seleção de Maradona em
seu país. Todos produzem material diário
para o periódico. Ana Luiza é responsável
por atualizar os conteúdos da TV Lance!,
veiculados no portal do jornal.
O site do Lance! (http://www.
lancenet.com.br/) foi o mais visitado du-
rante o mês de maio, superando O Globo.
No total, foram cerca de 45 milhões de
acessos no mês que antecedeu a Copa do
Mundo. Além de escreverem para o jor-
nal, os repórteres também produzem no-
tas para o site. Não há uma média para o
número de textos enviados para o portal
por dia. A ordem é abastecer o site com o
máximo possível de informação.
Quem pensa que o Lancenet
vive só de Copa, engana-se. Segundo
Klaus Richmond, a sustentação da capa
do site se divide entre as chamadas de
Copa do Mundo e de clubes, que ainda
geram grande audiência: “O conteúdo dos
clubes, por sinal, ainda é um chamariz efi-
ciente para manter a média de acessos do
site. Mesmo em clima de Copa, o torcedor
quer saber o paradeiro de antigos jogado-
res e como está o seu time”, garante.
Copa no Brasil
Apesar de ter apenas 22 anos,
Klaus, formado na Universidade Metodis-
ta de São Paulo, já tem bastante expe-
riência: ele trabalhou no portal Terra, na
revista Placar e na Federação Paulista de
Futebol, antes de ir para o Lance!. Daqui
a 4 anos, a Copa do Mundo será no Brasil.
Klaus aconselha os que têm o sonho de
cobrir o evento a investirem em idiomas e
começarem a se preparar desde já. “Cobri
a Olimpíada de 2008 aqui e sei bem como
é o ritmo. Então, essa pode ser a grande
chance para recém-formados iniciarem
uma grande cobertura na carreira”. pelo
menos por enquanto.
Copa pra que te queroConfira como foi a cobertura do Lance! para o Mundial da África do Sul
Gabriel Innocentini
Junho 2010 nº3
Bo le t im In format ivo da Agênc ia Jún ior de Jorna l ismo
As redações do Rio de Janeiro e São Paulo são os pontos de apoio para a produção do material, com cerca de 30 pá-ginas diárias de Copa”
“
Jornais de Bauru marcam gol na Copa
2 olhar
Depois de meses de ansiedade, final-
mente o mundo se volta para os televi-
sores, jornais e rádios para conferir tudo
que se passa nos estádios da África do
Sul. A Copa do Mundo começou e com
ela os jornalistas correm contra o tem-
po durante exatos trinta dias para cap-
tar cada informação e foto sobre jogos,
equipes, treinos, craques, enfim, deixar
os espectadores na arquibancada de Jo-
anesburgo torcendo pela sua nação. E
aqui em Bauru não poderia ser diferen-
te. Os principais jornais impressos estão
cada vez mais inovando e apostando em
coberturas que priorizam a população
regional.
O jornal Bom Dia traz desde o dia
8 de junho, início da Copa, o caderno
especial “Bom Dia Copa”, com oito pági-
nas diárias que incluem as seções “Voz
da Galera”, “Minha Copa Inesquecível” e
uma matéria local com duas fotos. “O
‘Voz da Galera’ traz 24 entrevistados de
Bauru com fotos todos os dias. A equi-
pe está se desdobrando para cumprir o
objetivo de humanizar a cobertura”, ex-
plica o editor de Esportes da Rede Bom
Dia, João Feza. Ele conta que o jornal,
vinculado ao Diário de São Paulo, possui
três repórteres, um fotógrafo e quatro
colunistas na África fazendo a cobertura.
Já o Jornal da Cidade, apesar de não
contar com nenhum enviado ao país da
Copa, procura estar em dia com o lei-
tor, divulgando “todos os jogos realiza-
dos, o dia-a-dia da seleção brasileira e
das outras principais seleções, além das
programações, classificações dos grupos
e curiosidades sobre a competição, es-
pecialmente através dos infográficos”,
explica Marcelo Ferrazoli, editor de Es-
portes do JC.
O enfoque na cidade de Bauru duran-
te a competição é o ponto forte dos jor-
nais. “Vamos cobrir os jogos da Seleção
Brasileira em alguns pontos estratégicos
da cidade, como em bares e clubes. Fa-
remos o ambiente antes, durante e de-
pois dos jogos, ouvindo os torcedores e
noticiando suas reações”, afirma Ferra-
zoli, do JC. O Bom Dia também procura
levar matérias humanizadas e de serviço
ao leitor bauruense. “Focamos a emoção
e a organização da torcida. Por exemplo,
em uma matéria que mostrou alunos de
escola que pintaram as 32 bandeiras das
seleções que vão à Copa e deixaram de
fazer bagunça no pátio para desenvolver
tarefas inspiradas no torneio”, comenta
João Feza.
Bom Dia e JC apostam em humanização durante cobertura do evento
Nathalia Boni
A edição do Olhar deste mês vai falar de
como se faz jornalismo sobre o maior evento
esportivo do planeta, a Copa do Mundo. Va-
mos descobrir como é a estrutura de diferen-
tes veículos, analisar a cobertura da imprensa
brasileira na África do Sul e saber como é o
dia-a-dia de um jornalista que cobre a Copa na
Argentina, nosso maior rival no esporte.
O Olhar falou com Klaus Richmond, repór-
ter do Lance!. Klaus mostra como é o trabalho
de quem vai pra Copa e de quem fica no Brasil.
Em Bauru, os principais jornais da cidade
apostam na humanização da cobertura. Como
não possuem os mesmos recursos que outros
veículos de maior porte, Bom Dia e Jornal da
Cidade retratam como o bauruense vê a Copa.
Ainda neste número, o professor José Car-
los Marques analisa o recurso de “recrutamen-
to de celebridades” para as transmissões da
copa, o que prejudica o fazer jornalístico.
No país nem tão adorado pelos brasileiros,
está Felipe Brisolla. Felipe, formado em jorna-
lismo pela Unesp, faz parte do projeto Passa-
porte SPORTV e cobre a Copa na Argentina.
Confira a entrevista com ele e saiba como o
argentino vive a Copa. Aproveite a leitura!
Equipe Jornal Júnior
EDITORIAL
EXPEDIENTE Diretoria de Recursos Humanos Beatriz Mansur Diretoria de Projetos Laís Modelli Diretoria de Finanças Vanessa Cancian Diretoria de Marketing Tamyris Seno Diretoria de Assessoria da Comunicação Mariana Zaia Diretoria de Qualidade Renan Simão Diretoria de
Presidência Damaris Rota Edição e revisão Renan Simão e Jean Portela Projeto Gráfico Ana Paula Campos, Diogo Zambello Zacar-
ias e Douglas Calixto Diagramação Fernando Araujo TIRAGEM 250 exemplares
Poucas vezes se viu um clima tão tenso e belige-rante no trabalho de jornalistas na mediação de um fato esportivo
3olhar
ARTIGO
Um casamento em crise José Carlos Marques*
A Copa do Mundo representa o acontecimento de maior audiência global no planeta. No Brasil, a competição adquiriu importância ímpar, devido à representatividade cultural e esportiva do futebol no país. E num processo que se intensifica a partir da década de 1990, um dos recursos utilizados pelos meios de comunicação para realizar a cobertura do torneio é o recrutamento cada vez maior de personalidades conhecidas do grande público – todos com nomes de “grife” – para comentar o evento.
Em épocas de Mundiais de futebol, as “personalidades” e os jornalistas que não atuam cotidianamente na editoria de esportes acabam ganhando maior notoriedade. Isso é flagrante no trabalho das emissoras de TV brasileiras, que vêm priorizando a participação de ex-jogadores, artistas, cantores e celebridades em suas programações. E isso se dá porque o futebol aceita opiniões das mais diversas, já que não há cientificismo que dê conta da análise esportiva. Um “leigo” que por ventura venha a comentar jogos do Brasil não sofrerá a mesma rejeição do público
se comparado a um “leigo” que passe a analisar as votações parlamentares no Congresso ou as crises cambiais no Hemisfério Norte.
Já o Mundial da África do Sul, que prometia ficar caracterizado pela predominância da Internet na cobertura do evento, deve ficar notabilizado por outra particularidade: o confronto sistemático entre a imprensa brasileira e os integrantes da comissão técnica da Seleção Brasileira (jogadores aqui incluídos). Poucas vezes viu-se um clima tão tenso e beligerante no trabalho de jornalistas na mediação de um fato
esportivo – ainda mais se considerarmos que este clima não advém de turbulências políticas ou sociais externas ao evento (como se deu na Olimpíada de Berlim em 1972, em que atletas israelenses foram vítimas de um atentado na vila olímpica). Na Copa de 2010, não são apenas as vuvuzelas (as cornetas sopradas nos estádios sul-africanos) ou a Jabulani (nome da bola oficial do evento) que passaram a dividir as atenções do noticiário esportivo: o próprio trabalho da imprensa tem sido alvo de debate, a partir do momento em que seu ethos é colocado em discussão em entrevistas coletivas do técnico brasileiro, Dunga, ou de estrelas da equipe, como o meia Kaká. Poucas vezes o jornalismo esportivo brasileiro teve sua prática tão colocada em xeque como neste Mundial. Trata-se de um fenômeno digno de merecer a atenção do meio acadêmico, em pesquisas que devem ganhar corpo a partir de agora em nossas universidades.
* José Carlos Marques é Doutor em Jornalismo
pela Universidade de São Paulo (USP) e docente
do Departamento de Ciências Humanas da UNESP.
“
A Copa do Mundo e a cobertura jornalística no Brasil
4 olhar
Copa do Mundo vista da ArgentinaFelipe Brisolla tem feito a cobertura do mundial no país de maior rivalidade com o Brasil
Igor Sternieri
Em época de Copa do Mundo, a im-
prensa esportiva concentra todas as suas
atenções no maior evento de futebol do
planeta. Como quase todos os meios de
comunicação participam ativamente, os
veículos especializados têm de cada vez
mais buscar alternativas para tornar a co-
bertura diferenciada e atrativa ao público.
Uma dessas novas formas de mostrar um
olhar distinto é o Passaporte SPORTV, no
qual nove jornalistas estão fazendo a co-
bertura do mundial em diferentes partes
do mundo. Felipe Brisolla, ex-aluno da
Unesp, é o responsável por cobrir a Copa
na Argentina, país que tem o futebol no
sangue, além de ser o principal rival brasi-
leiro no esporte. O jornalista, há seis me-
ses no programa, conta como tem sido o
cotidiano de reportagens da Copa do Mun-
do da África do Sul.
Você escolheu a Argentina como país para trabalhar ou a decisão veio de cima?
A decisão de me mandar para a Ar-
gentina foi deles. Na verdade, fiquei res-
ponsável também por Uruguai, Paraguai e
Chile, mas obviamente, nem sempre con-
sigo fazer todos. A chefia do SPORTV dis-
se que essa escolha foi baseada na minha
experiência em televisão. Como já estava
há três anos na TV TEM, explicaram que
não poderiam mandar alguém “cru” para
um país difícil de cobrir, como a Argenti-
na. Especialmente porque a Libertadores
- principal produto do canal (sem contar
Copa do Mundo) - não poderia esperar a
adaptação do repórter.
Como tem sido sua rotina na co-bertura da Copa? Você tem feito ma-térias diárias?
Tenho trabalhado muito, como um lou-
co (risos). Diariamente, faço entradas ao
vivo, boletins e reportagens. Obviamente,
quando a Argentina joga (ou o país onde
estou) a frequência de envio desses ma-
teriais é maior. O dia pode começar às 5
horas e só termina meia-noite, o que é ab-
solutamente normal para uma cobertura
de copa do mundo. O trabalho é quadru-
plicado porque tenho que produzir, filmar,
escrever e editar. Como disse, é uma lou-
cura.
Alguma matéria em particular lhe agradou muito em fazer?
Gostei muito de ir até Rosário verifi-
car que o clássico entre Newell’s e Rosá-
rio Central é o mais quente da Argentina.
Pode não ser o maior, nem o mais famoso,
mas é sem dúvida o mais “caliente”. Foi
legal trazer uma informação que a maioria
não sabia.
Como tem sido mostrar a Copa do Mundo estando na Argentina, o prin-cipal rival brasileiro?
Muito legal. Os argentinos são tranqui-
los e facilitam o trabalho. Ao contrário do
que se pode imaginar, eles admiram muito
nosso futebol e tem menos essa noção de
“rivalidade” que tentam criar no Brasil. É
claro que torcem contra, mas eles têm ou-
tros países para “putear” antes do nosso.
Inglaterra, Uruguai e Chile são bem mais
odiados.
Durante a Copa do Mundo é muito comum ver o jornalista assumir um papel de torcedor. Um caso emble-mático é o de Galvão Bueno. Até que ponto você acredita que esse lado torcedor atrapalha?
Particularmente, não gosto desse lado
torcedor. Acho que imprensa é imprensa,
torcida é torcida. Isso atrapalha o julga-
mento de determinadas situações e cria
“pressupostos” que não existem.
Por exemplo, essa rivalidade exacerba-
da entre Brasil e Argentina.
O Galvão Bueno é acima de tudo um
personagem. Uma pessoa que narra há
mais de vinte anos os principais momen-
tos esportivos de uma nação. O desgas-
te dele era inevitável. Talvez pudesse ser
menor, mas ainda assim seria grande. Só
que ele continua hiperpopular nas pesqui-
sas da Globo. O povo critica, mas não vive
sem.
Quais são as semelhanças e as di-ferenças da cobertura argentina com a realizada no Brasil?
É uma cobertura muito parecida com a
nossa. Eles têm mais tolerância ao Mara-
dona do que a do Brasil com o Dunga. O
Olé faz um jornalismo torcedor, apaixona-
do e não vale como parâmetro. Os comen-
taristas de televisão são bem divertidos.
De uma forma geral, gosto do trabalho
deles. Em termos tecnológicos, eles têm
uma estrutura inferior à nossa.
Eles [argentinos] admiram muito nosso futebol e tem menos essa noção de ‘rivali-dade’ que tentam criar no Brasil. (...) Ingla-terra, Uruguai e Chile são bem mais odiados.
“