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O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 53 nº 688 – Março de 2012 B rasil Presbiteriano APMT realiza Semana de Orientação para missionários, candidatos e filhos. Além de capacitar, os presentes participaram de uma reciclagem sobre como funciona a IPB, sua estrutura e filosofia de missões da igreja. Página 12 Edificação e aprendizado Há 455 anos os presbiterianos realizam o primeiro culto protestante em solo brasileiro. O evento aconteceu em uma colônia fundada pelos franceses na baía de Guanabara. Página 9 O primeiro culto protestante no Brasil A escola de onde nunca saímos Página 4 Desigrejei! Em busca do novo Página 5 Futuro incerto Página 20 LEIA OS ARTIGOS:

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março de 2012

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O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficialda Igreja Presbiteriana do BrasilAno 53 nº 688 – Março de 2012Brasil

PresbiterianoAPMT realiza Semana de Orientação para missionários, candidatos e fi lhos. Além de capacitar, os presentes participaram de uma reciclagem sobre como funciona a IPB, sua estrutura e fi losofi a de missões da igreja.

Página 12

Edifi cação e aprendizado

Há 455 anos os presbiterianos realizam o primeiro culto protestante em solo

brasileiro. O evento aconteceu em uma colônia fundada pelos franceses na baía

de Guanabara.

Página 9

O primeiro cultoprotestante no Brasil

A escola de onde nunca saímos

Página 4

Desigrejei! Em busca do novo

Página 5

Futuro incertoPágina 20

LEIA OS ARTIGOS:

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Março de 20122BrasilPresbiteriano

ossa capelã, Missio-nária Eleny Vassão,

pede nossas orações diante da provação trazida pelos ataques que tem sofrido o trabalho de Capelania Hospitalar.

Segundo Eleny, “a ACEH – Associação de Capelania Evangélica Hospitalar, através das Capelanias Evangélicas do Centro de Referência (CRT-AIDS) e Treinamento em DST-AIDS e do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, estão sendo atacadas com acusações difamatórias”.

O trabalho da Capelania, conforme explica a capelã, consiste em prestar assis-tência espiritual regular

aos enfermos, aos seus cuidadores e aos profis-sionais da saúde e funcio-nários dos hospitais. Esse envolvimento requer trei-namento que é oferecido pela ACEH – Associação de Capelania Evangélica Hospitalar (www.capela-nia.com).

Não se trata de traba-lho novo. Já são mais de 20 anos cuidando de enfermos, especialmente os atingidos pela AIDS, envolvendo seus aspectos social, emocional e espi-ritual. O ministério de capelania tem uma exten-são de seu trabalho na Casa do Aconchego. Ali “as famílias encaminha-das pelo Serviço Social

dos hospitais participam de programa semanal e recebem aconselhamen-to bíblico, participam de cursos, palestras, ativida-des recreativas, recebem refeições e também uma cesta básica, roupas, sapa-tos e leite”. A viabilização desse trabalho se dá “atra-vés do Projeto Mãos e Coração, tendo como prin-cipal parceiro o Instituto Presbiteriano Mackenzie, com a participação da Sociedade Bíblica do Brasil, empresas parceiras e diversas igrejas evangé-licas”.

“... dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do

reino que vos está prepa-rado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hos-pedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me” (Mt 24.34,36). Há um enorme trabalho a ser feito em relação aos enfermos, mas não sem o enfrentamento das forças contrárias à igreja e ao evangelho, porque contrá-rias a Cristo.

A situação pede nossas orações e iniciativas no sentido de mantermos a liberdade para acudir os necessitados e anunciar-lhes o evangelho.

EDITORIAL

Provação

Conselho de Educação Cristãe Publicações:

Clodoaldo Waldemar Furlan - PresidenteDomingos Dias - Vice-presidenteGecy Soares de Macedo - SecretárioAlexandre Henrique Moraes de AlmeidaAndré Luiz RamosAnízio Alves BorgesMarco SerjoMauro Fernando Meister

Conselho Editorial da CEP:

Ageu Cirilo de Magalhães Jr.Cláudio Marra - PresidenteFabiano de Almeida OliveiraFrancisco Solano Portela NetoHeber Carlos de Campos Jr.Mauro Fernando MeisterTarcízio José de Freitas CarvalhoValdeci da Silva Santos

Conselho Editorial do BP:

Alexandre Henrique Moraes de AlmeidaAnízio Alves BorgesClodoaldo Waldemar Furlan Hermisten Pereira Maia Costa Leandro Antônio de Lima

Edição e textos:

Camila CrepaldiSP 51.929

E-mail: [email protected]

Diagramação:

Aristides Neto

Impressão

Folhagráfica

Uma publicação do Conselho de Educação Cristã e

Publicações

Ano 53, nº 688Março de 2012

Rua Miguel Teles Junior, 394Cambuci, São Paulo – SP

CEP: 01540-040

Telefone:(11) 3207-7099

E-mail: [email protected]

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BrasilPresbiteriano

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família Kerr des-cende de Elisa

Ruland Kerr, uma viúva do sul dos Estados Unidos que veio para o Brasil com os dois filhos em 1867. O primeiro membro da família a ingressar na Igreja Presbiteriana foi seu neto William Cleary Kerr (“Willie”), mais conheci-do como Rev. Guilherme Kerr (1888-1956). Ele foi o sexto e último filho do engenheiro Warwick Stephen Kerr com sua primeira esposa, Emma Ottillie Lina Lorenz. Do segundo casamento, com Amélia Silva Caldas, Warwick teve outros dez filhos.

Aos 19 anos, Guilherme foi recebido por con-firmação na igreja epis-copal de Santos. Pouco depois, residindo no Rio de Janeiro, passou a fre-quentar a IPB, pasto-reada pelo Rev. Álvaro Reis, onde despertou sua vocação para o ministé-rio pastoral. Após estudar no Instituto Evangélico de Lavras (1909-1912), ingressou no Seminário do Sul, em Campinas. Foi ordenado pelo Presbitério de São Paulo no dia 21 de janeiro de 1917. Pastoreou inicialmente as igrejas de Sorocaba e Itapetininga. Destacou-se por sua pieda-de e cultura.

Em 1926, o Rev.

Guilherme foi eleito profes-sor de Antigo Testamento no Seminário do Sul, do qual também foi deão e reitor por muitos anos. Foi o primeiro presidente do Supremo Concílio da IPB (1938-1942). Outras igre-jas que pastoreou foram as do Brás, Lapa e Pinheiros, na capital paulista. Era casado com a professora Aurora de Campos Kerr (1895-1979), de uma anti-ga família presbiteriana de Sorocaba. Seu avô, José Carlos de Campos, foi evangelizado pelo Rev. José Manoel da Conceição em 1866.

O casal teve sete filhos. Nydia (1918-2006) lecio-nou música no Seminário do Sul. Samuel (1919-2000) foi engenheiro e membro da IP da Vila Mariana (SP). Neander (1921-2008), também engenheiro, foi presbíte-ro e projetou muitos tem-plos presbiterianos, prin-cipalmente em Campinas. Gerson (1926-2006), outro

engenheiro, frequentou a Igreja Batista. Lysias (1929-2006), que chegou a almirante da Marinha, foi membro fundador e presbí-tero da IP do Grajaú (RJ). Júnia, nascida em 1924, é casada com o engenhei-ro Epaminondas Melo do Amaral Filho, cujo pai foi um conhecido ministro da IPI, e Lílian (1931), com o Rev. Carl Joseph Hahn Jr.

Quanto aos irmãos do Rev. Guilherme, um dos mais velhos foi Emílio Warwick Kerr (1880-1959), que se tornou pas-tor batista em São Paulo. Amélia (1895-1950) foi a primeira esposa do Rev. José Carlos Nogueira. Warwick Kerr ou “Vick” (1907-1984), o mais novo dos irmãos, foi diácono e presbítero da IP Unida de São Paulo. Ele e a esposa Ondina de Moraes Kerr participaram por mais de 50 anos do coral dessa igreja. Em 1997, o nome de Ondina foi dado ao coral feminino da Unida. Seu

filho Samuel Kerr é muito conhecido nos meios musi-cais de São Paulo e escre-veu um livro sobre a fami-lia (Vick: lembranças dos Kerr, 2007). A organista e regente Dorotea Kerr foi casada com Warwick Kerr, irmão de Samuel.

Diversos netos do Rev. Guilherme Kerr estão envolvidos com a igre-ja. Octávio Brochado de Almeida, filho de Nydia, estudou teologia no Seminário Betel Brasileiro e frequenta a IP de Vila Pompeia (SP). Guilherme Kerr Neto, filho de Neander, é pastor batis-ta, músico e compositor sacro nos Estados Unidos. Sua irmã Marta é casa-da com o Rev. Charles Timothy Carriker, da IPI. Roberto Kerr, filho de Samuel, é membro da IP de Moema (SP), pro-fessor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e fundador do Grupo de Professores Cristãos. Seu irmão Ricardo Borges

Kerr, filiado à mesma igre-ja, integra a diretoria da Associação Evangélica Beneficente (AEB). O bisneto Paulo Severino da Silva Filho, neto de Nídia, é professor de teologia e pastor auxiliar da IP de Botafogo (RJ).

Como diz a Escritura, “será abençoada a geração dos justos” (Sl 112.2).

Março de 2012 3BrasilPresbiteriano

FAMÍLIAS PRESBITERIANAS DO BRASIL

Família KerrAlderi Souza de Matos

A

O Rev. Alderi Souza de Matos é pastor presbiteriano e historiador

oficial da [email protected]

Rev. Guilherme, D. Aurora e filhos - bodas de prata - 1942 Rev. Guilherme Kerr e D. Aurora - 1945

Warwick Kerr e Ondina de Moraes Kerr - 1982

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Março de 20124BrasilPresbiteriano

ARTIGO

s pais vivem um perí-odo no começo do ano que é, ao mesmo

tempo, satisfatório e dolo-roso: a volta dos filhos às aulas.

Satisfatório pela alegria em saber que os filhos podem estudar, seja em ins-tituições públicas ou priva-das, e tem a oportunidade de aprender com profissio-nais preparados para isso. Claro, infelizmente, não é a realidade para 100% da população, mas já foi bem pior.

E doloroso em dois aspectos. O primeiro, mais subjetivo, que é uma nova separação da família após o tempo de férias, quan-do, teoricamente, a família passa mais tempo junto. O segundo aspecto, mais tan-gível, é a necessidade de investimento na educação, leia-se: matrícula, material escolar e uniformes. Notem que não usei a palavra custo, ou gasto. É um investimen-to, doloroso apenas pelo fato de ser alto, mas com retorno seguro, pois sempre se aprende algo, no mínimo têm-se a alfabetização da criança! Um dito popular diz que “se você acha cara a educação, experimente a ignorância”.

Pensando ainda por esse caminho, lembro que há uma placa na entrada da Universidade de Oxford que diz: “The more I study, the more I know, the more

I know, the more I forget, the more I forget, the less I know, so why study?” Numa tradução livre sig-nifica: “Quanto mais eu estudo, mais eu sei, quanto mais eu sei, mais eu esque-ço, quanto mais eu esqueço, menos eu sei, então pra que estudar?

Ora, educar é mandamen-to bíblico:

“Educa a criança no cami-nho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele” (Pv 22.6).

Mas como sabermos qual é esse “caminho” citado no versículo de Provérbios 22.6?

A própria Bíblia, Palavra de Deus, nos responde. Uma das respostas está na segunda carta de Paulo a Timóteo:

“Toda a Escritura é inspi-rada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2Tm 3.6).

Em boa parte das igrejas

os pais costumam batizar os filhos ainda bem peque-nos, e uma das coisas com as quais se comprometem perante Deus é proporcio-nar ensinamento bíblico à criança, levando-a a igreja e compartilhando a Palavra de Deus em casa também.

No Antigo Testamento Deus já nos dava as diretri-zes: “E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assen-tado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te” (Dt 6.7).

No início do sexto capítu-lo do livro de Deuteronômio Deus estava falando de seus estatutos e também mais especificamente do que o próprio Jesus denominou de primeiro e grande manda-mento (Mt 22.38): “Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” (Dt 6.5).

Notem que a ordem para ensinar aos filhos é descri-ta sugerindo que haja uma continuidade.

Entendemos que, como consequência de uma edu-cação bíblica, os valores que fomentarão a educação secular também procura-rão refletir, e não se opor aos ensinos das Escrituras

Sagradas. Assim, quando ensinamos nossos filhos nesse caminho citado em Provérbios, garantimos que é uma via pavimentada por ensinos bíblicos, e por assuntos que construam o conhecimento e o caráter dos aprendizes em sintonia com os padrões esperados.

Podemos controlar tudo o que nossos filhos aprendem fora de casa e fora da igreja? Não! Infelizmente. Aqueles que são pais com certeza já foram surpreendidos por seus filhos dizendo algo não muito lisonjeiro, cantando uma ou outra musiquinha de gosto duvidoso, ou pior ainda, adotando um modo de pensar de acordo com o padrão do mundo. Contudo,

a base e o grosso do conhe-cimento devem ser de ótima qualidade moral, não só téc-nica. Isso renderá frutos nos anos vindouros.

A escola, com todos os seus níveis de ensino, depois a faculdade, os cur-sos profissionalizantes, enfim, a educação secular, são extremamente impor-tantes na preparação para o mundo. Eles têm seus tem-pos, ciclos e prazos. Mas o ensinamento bíblico é con-tínuo, constante, ininterrup-to, onde sempre será possí-vel se aprofundar um pouco mais. Nele somos prepa-rados, atualizados, recicla-dos, para viver no mundo de acordo com a vontade de Quem o criou. Os dois são complementares e não excludentes. Exemplos: a Bíblia não me ensina como montar um balanço finan-ceiro, mas me instrui a fazê-lo de forma honesta. Não me ensina como abrir o peito de um doente cardíaco e tratar seu coração, mas me ensina que tudo aquilo é criação de Deus merece se tratado da melhor maneira digna.

A escola bíblica é a escola de onde nunca saímos, seja a escola dominical, seja o estudo bíblico nos lares... Não há formatura nela nesse mundo terreno. A nossa graduação será na Glória eterna. Quando, então, esta-remos com o Mestre dos mestres.

A escola de onde nunca saímosEnos Moura

O

Enos Moura é presbítero da IP de Guarulhos, SP

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para

a instrução na justiça”

(2Tm 3.6).

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Março de 2012 5BrasilPresbiteriano

ARTIGO

m fenômeno curio-so tem aconte-

cido nos nossos dias: a busca ansiosa pelo novo. É comum encontrarmos releituras de ideologias cristalizadas pela his-tória com novas roupa-gens. Fala-se em Novo Calvinismo, Neoateísmo, Neopuritanismo, Neocapi-talismo, Neoliberalismo... Enfim, o “neo” está na moda!

Como comprovação dessa verdade, a revista Época publicou uma maté-ria de capa, tempos passa-dos, com o seguinte título: Os Novos Protestantes. A ideia básica que a matéria transmite é que os novos protestantes ensinam que o desejável para os nossos dias “é despir tanto quanto possível os ensinamentos cristãos de todo aparato institucional”. Em outras palavras é simplesmente dizer: “Desigrejei!”.

A Eclesiologia (a doutri-na da Igreja) está no cen-tro da discussão teológica atual. Novas nuances têm sido aplicadas a fim de remodelar a forma antiga e tradicional da institui-ção/Igreja. A justificativa é tornar a mensagem do evangelho mais atraen-te e, também, criar a real possibilidade de distinção do atual modelo, batido, sacralizado pelos neopen-tecostais.

Agora, é bom que se diga que esse processo de apresentar novas diretri-zes para a Igreja não é algo realmente novo. Na trajetória da história ecle-siástica várias situações foram infundidas. Abraão Kuyper, por exemplo, ensinava que deveria se fazer uma distinção entre

a igreja como instituição e a igreja como organismo. Como “instituição, a igre-ja foi investida com três ofícios (profético, sacer-dotal e real) e é chamada a pregar e administrar os sacramentos e a exercer a disciplina. Como organis-mo, ou corpo de crentes, ela deve se envolver em

atividades sociais e levar a efeito o mandato cultural”. A crítica severa a Kuyper é que com o passar do tempo ele parecia dizer que a igreja verdadeira não era a igreja como instituição, mas a igreja como organis-mo. Ou seja, ele pregava que a igreja como insti-tuição existe para servir

a igreja como organismo, equipando os santos para a sua tarefa no mundo. Qual tarefa? O engajamento político-social sob os aus-pícios do mandato cultu-ral. Essa fase ficou conhe-cida na Europa, especifica-mente na Holanda, como o Neocalvinismo.

Hoje, o que presencia-

mos é um novo modelo de Igreja. Agora, em Kuyper a Igreja deveria tomar consciência do seu manda-to e entrar no mundo para influenciar todas as esferas da vida. Parece que a estra-tégia dos novos protestan-tes é totalmente contrária a Kuyper. Na realidade os novos protestantes querem

preparar a Igreja para que o mundo entre nela e per-maneça. Assim sendo, a Igreja precisa ser remode-lada para atender o cliente chamado Mundo. Quais são as reformas?

1º Esqueça o sermão bíblico expositivo. Palestra soa melhor aos ouvidos do cliente Mundo;

2º Templo? Isso é coisa do passado. Pequenos gru-pos, ou células, são mais interessantes;

3º E o que falar dos dízi-mos? O ofertório na hora do culto é politicamente incorreto para os nossos dias.

4º Não se identifique como evangélico, ou cren-te ou irmão.

5º O termo igreja é questionado. Os novos protestantes preferem ter-mos como Comunidade, Estação, entre outros...

6º Ah! Quase esqueço... Informalidade é a base da comunicação verbal e visual. Portanto, aposente o terno/gravata e afie a língua para uma sincro-nia com a comunicação da moda.

Bom, esses são os novos protestantes. Estão eles certos? A igreja institucio-nalizada está em crise? É preciso novas estratégias para alcançar o mundo? A Escritura, porém, nos apre-senta as veredas antigas. O antigo evangelho. Voltar a ele é avançar. A minha preocupação é que o novo protestantismo, com a sua bandeira de quebrar para-digmas, produza ao longo do tempo crentes superfi-ciais – sem compromisso, sem comunhão, sem histó-ria, sem igreja.

Desigrejei! Em busca do novoNaziaseno Cordeiro Torres

U

O Rev. Naziaseno Cordeiro Torres é pastor da IP de Capela do Alto

Alegre/Ba

“A minha preocupação é que o novo protestantismo, com a sua bandeira de quebrar paradigmas, produza ao longo do tempo crentes superficiais – sem compromisso, sem comunhão, sem história, sem igreja”.

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Março de 20126BrasilPresbiteriano

BP LEGAL

iz-nos o artigo 1º da Constituição

da IPB que “A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais...”. O federalismo estatal não tem origem em Calvino, pois surge com a formação dos Estados Unidos da América como uma resposta à necessidade de um governo eficiente em vasto território que, ao mesmo tempo assegurasse os ideais republicanos que vingaram com a revolução de 1776.

No entanto, transposta a ideia federalista para o contexto eclesiástico, veri-ficamos que no livro de Atos dos Apóstolos, capí-tulo 15, já havia rudimen-tos de uma estrutura fed-erada de igrejas que bus-cava a unidade em meio à expansão missionária ante o desafio da extensão geográfica e diversidade cultural das regiões que se pretendia cobrir.

A IPB adotou, portan-to, um sistema composto por Presbitérios, Sínodos e Supremo Concílio por meio do qual diferentes grupos de uma nação vasta

com a brasileira estives-sem unidos em torno das Escrituras Sagradas, como única regra de fé e prática, e de sua Confissão de Fé e Catecismos Maior e Breve, como o sistema expositivo de doutrina e prática.

Decorre do princípio federativo que o cristão presbiteriano não pensa nem age apenas no âmbito local, mas pertence a uma igreja federal, de alcance nacional, disso implicando maiores responsabilidades e visão nos esforços para a implantação e avanço do reino de Deus.

No mesmo artigo 1º da Constituição consta que a

IPB “...exerce o seu gov-erno por meio de concílios e indivíduos regularmente instalados”.

A ideia de um sistema conciliar parte do princípio federativo e introduz os chamados princípios da apelação, de revisão e de controle (Hodge, 1869) sobre os atos praticados pelos líderes da igreja. Uma decisão eclesiástica tomada no âmbito de uma igreja local pode ser sub-metida à revisão perante instâncias superiores – os Presbitérios, Sínodos e Supremo Concílio – que se superpõem hierarquica-mente na tarefa de revisão, fiscalização e controle dos atos conciliares e assim se mantenha a unidade da igreja em torno de seus símbolos de fé.

Por fim, no artigo 3º da Constituição da IPB: “o poder da igreja é espiritual e administrativo, residindo na corporação, isto é, nos que governam e nos que são governados”. O §1º trata da autoridade dos que são governados que é exercida pelo povo reuni-do em assembléia para eleger ou pedir exoneração de pastores e oficiais da igreja; pronunciar-se sobre questões orçamentárias e administrativas quando o Conselho solicitar; e delib-erar sobre a aquisição ou alienação de imóveis e propriedades. O §2º diz sobre a autoridade dos

governantes, do ponto de vista individual e no exer-cício coletivo sob a forma conciliar.

Repousa aqui o princípio representativo. O gover-no na igreja é teocrático, sendo Jesus o Cabeça e a sua Palavra a nossa con-stituição escrita. Deriva de Jesus Cristo todo o poder que reside tanto nos que governam (os oficiais da igreja) quanto nos que são governados (o povo). Ocorre que o exercício do poder pertencente ao povo se dá pela via rep-resentativa dos presbíte-ros regentes, imperando, neste aspecto particular, o princípio democrático na igreja. Um presbítero age conforme as Escrituras, mas não passa de um rep-resentante do povo que tem direito a parte sub-stancial no governo da igreja.

Decorre daí que pres-bíteros (docentes e regent-es) não são monarcas, mas devem sujeitar-se a man-datos por tempo determi-nados, renovados ou não por eleições periódicas.

De igual modo, presbíte-ros somente exercem seu poder de jurisdição para julgar membros, medi-ante processo disciplinar válido, garantidos o con-traditório e o devido pro-cesso legal ao crente que se supõe faltoso.

Por fim, conselhos devem ser ciosos da prestação de contas à igreja, lembrando-se de que o tesoureiro da igreja responde com seus bens pelas importâncias sob sua responsabilidade.

Como se verifica, ser presbiteriano (e por assim dizer, reformado) implica a adoção de um sistema de governo e de vida em que se reconhece o senho-rio de Cristo sobre a sua igreja, sem perder de vista a ampla liberdade que o povo tem para expressar-se e conduzir os rumos da igreja, segundo diretrizes dados pelo próprio Deus, por meio de represent-antes saídos do povo e destacados pela sua vida irrepreensível, piedosa e temente a Deus.

O presbiterianismo e suas implicações

Ricardo Barbosa

D

Ricardo de Abreu Barbosa, é advogado e presbítero da 1ª IP de

São Bernardo do Campo, SP

“Ser presbiteriano implica a adoção

de um sistema de governo e

de vida em que se reconhece o

senhorio de Cristo sobre a sua igreja”.

“o poder da igreja é espiritual e

administrativo, residindo na

corporação, isto é, nos que governam

e nos que são governados”.

Quais implicações tem o sistema presbiteriano de governo para a igreja e que efeitos práticos ele gera para vida espiritual de seus membros (que antes de presbiterianos, se supõem serem crentes e servos fiéis ao Senhor Jesus Cristo e, por assim dizer, verdadeiros cristãos reformados)?

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Março de 2012 7BrasilPresbiteriano

Uma família segundo o coração de DeusGRATIDÃO

o dia 21 de janei-ro aconteceu na IP

Central de Americana, um culto de gratidão a Deus pelos 70 anos de união conjugal do Pb. Antônio Camargo Jr (95anos), pres-bítero emérito da igreja local, e Janice Alves de Lima Camargo (88 anos).

Seu Tózinho, como é conhecido, é filho e neto de presbíteros e descenden-te da tradicional e primei-ra família da IPB, famí-lia Gouvêa, convertida ao evangelho no século 19 e tendo como oficiante no batismo e profissão de fé dos membros naquela oca-sião o missionário Rev. Alexander L. Blackford, e que teve como pregador, o então ex-padre José Manuel da Conceição.

Quando o casal iniciou o namoro, a dona Janice era católica e não aceitou de forma nenhuma que se casassem na igreja “dos crentes” e sob a condição de que os filhos também fossem batizados na igreja católica, resolveram casar-se apenas no civil, e assim foi feito no dia 22 de janeiro de 1942 na cidade de Dois Córregos.

Convivendo diariamente com família de evangélicos,

a dona Janice aos poucos foi ouvindo a Palavra, lendo a Bíblia e cantava hinos sempre escondida pois não queria se render a seguir a religião do esposo. Com o nascimento do primei-ro filho e não tendo mais como esconder sua admira-ção pela IPB, converteu-se ao evangelho e após alguns anos foi batizada e fez sua profissão de fé.

Depois disso se tornou uma dedicada e estudiosa serva da palavra do Senhor, seguindo até os dias de hoje firme na fé passando boa parte do dia em oração.

O casal confirmou o casa-mento no religioso 25 anos depois da união por ocasião das bodas de prata tendo como ministrante o Rev.

Antônio Lemos da Silveira, pastor da IP de Americana na época. Pais de nove filhos, sendo sete homens e duas mulheres. Os sete filhos, todos oficiais da IPB sendo cinco presbíteros e dois diáconos.

Dos netos, dois também são presbíteros, dois diáco-nos e um pastor, rev. Felipe de O. Camargo da IPB do bairro do Estoril em São Bernardo do Campo – SP. A grande família é forma-da por 91 pessoas tendo nos agregados casados com netas um pastor, rev. Joselito Moraes Gomes e mais dois diáconos.

O casal que conduziu os filhos no caminho do Senhor passou pelas igre-jas de: Pederneiras – SP,

Arapongas – PR, Central de Americana – SP, Mooca – Capital SP, Valinhos – SP e novamente Central de Americana.

Por onde passou, o casal fez grandes amigos e man-teve a casa sempre aber-ta para receber os irmãos. Dona Janice, sempre aten-ciosa e prestativa, os rece-bia com seus famosos pães, bolachas caseiras e bolos que ainda hoje são lembra-dos por muitos.

Deus também agraciou a família dando dons musi-cais a muitos membros tendo vários instrumentis-tas e regentes e cantores com os quais formamos um coral com aproximadamen-te quarenta vozes.

Nós filhos, rendemos a Deus toda nossa honra, gló-ria e louvor, pela benção de ter nos dado Seu Tózinho e Dona Janice como pais, pelos ensinamentos e edu-cação que eles nos propor-cionaram, e que hoje repas-samos para nossos filhos de forma que, a família tem procurado seguir e andar nos caminhos do Senhor.

COMPROMETIDOS COM O REINO

Na manhã do dia 11 de dezembro de 2011, no culto matutino, a IP de Americana, SP, foi ordena-do mais um presbítero para a IPB, Daniel de Oliveira Camargo, neto do Pb. Antônio Camargo Júnior, mencionado acima. O pai de Daniel, Pb. Hélio de Oliveira Camargo, além de presbítero em atividade é também presbítero emérito na mesma Igreja. A IP de Americana agradece conti-nuamente a Deus a bênção de poder contar em seu qua-dro de oficiais com mais um presbítero oriundo de uma família historicamente comprometida com o Reino de Deus e com a IPB.

“Portanto, (...) visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemu-nhas (...) corramos com per-severança a carreira que nos está proposta...”

Jarbas é diácono da IP de São Bernardo do Campo e o Rev. Ailton

pastoreia a IP de Americana, SP.

70 anos de união conjugal e ordenação de mais um neto do casal.

Jarbas de Oliveira Camargo e Rev. Ailton Gonçalves Dias Filho

NFamília presente no culto para agradecer Dona Janice, Presb. Antônio e filhos

Daniel ao lado do pai e do avô

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Março de 20128BrasilPresbiteriano

História da SAF em DVDEm novembro de 2011 a SAF Pioneira, Sociedade Auxiliadora Feminina, completou 127 anos de história e luta no trabalho cristão feminino. No culto de ação de graça, na IP de Cam-pina Grande, na Paraíba, foi lançado o DVD comemorativo, com o registro sobre a gênese e o desenvolvimento da SAF/IPB nestes 127 anos, e de um novo site para a SAF, que é uma parceria com a Apecom, Agência Presbiteriana de Evangelização e Comuni-cação. No DVD, além de um breve histórico da SAF, há testemunhos emocionantes de mulheres que dedicam tempo e oração em prol da IPB, dos ministérios da Igreja e em favor de missões e da divulgação do Evangelho. Há inda ouças unidades para serem adquiridas pelo valor de R$15,00. Para mais informações e pedidos ligue: (81) 3037-2305.

Projeto “A Bíblia no Cárcere” No dia 29 de fevereiro a Sociedade Bíblica do Brasil deu início

ao projeto A Bíblia no Cárcere no estado do Rio Grande do Sul. Inserida no programa a Bíblia e Paz, a iniciativa foi implementada nos presídios gaúchos por meio de convênio com a Superintendên-cia de Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul (SUSEPE). “Nossa expectativa é que nos próximos quatro anos, este projeto venha atender cerca de 100% da população carcerária do estado, ou aproximadamente 34 mil detentos, em mais 90 presídios”, relata o secretário de Comunicação e Ação Social da SBB, Erní Seibert. Na cerimônia, além de expor o projeto, cronograma e metodologia, a SBB também apresentou os materiais que doados aos presídios. O público alvo desta ação são lideranças dos âmbitos civil, religioso e político, e voluntários ligados ao setor.

Três anos de organização da IP

em Santana do Araguaia/PA

O trabalho presbiteriano em Santana do Araguaia começou pela

JMN com o missionário Dalmo da Cruz Mendonça em 11 de abril de

1999. Depois dele vieram a missionária Claudecir e o missionário

Marthon, além do Rev. Moisés da Corte Miranda. A IP em Santana do

Araguaia, pastoreada pelo Rev. José Pedro de Sousa, comemorou

nos dias 26 e 27 de novembro de 2011 seu terceiro ano de organiza-

ção. O pregador nesses dias foi o Rev. Eurípedes Flogenço de Souza,

de Palmas-TO, o qual foi supervisor quando ali era campo de JMN.

Graças a Deus a IP de Santana é um igreja comprometida com a obra

de Deus.

II Encontro de DiáconosNo dia 14 de abril os diáconos terão uma programação preparada para eles na IP de Ermelino Matarazzo. O II Encontro de Diáconos acontecerá das 9h às 16h e é direcionado à todos que tenham o interesse de refl etir e conhe-cer mais sobre o diaconato. O tema abordado será “A missão do diácono na igreja”, tendo como preletor o secretário de apoio às Juntas Diaconais do Pres-bitério Sul do Paraíba, presidente da Confederação Sinodal da Paraíba no trabalho masculino e historiador, diácono Eliezer Gomes. Para participar é preciso preencher uma fi cha de inscrição, pois as vagas são limitadas. O investimento é de R$10,00 com direito a café-da-manhã e almoço.

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Março de 2012 9BrasilPresbiteriano

O primeiro culto Protestante no BrasilHISTÓRICO

abe aos presbiteria-nos a honra de terem

realizado o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas. Esse evento singular ocor-reu há 455 anos em uma pequena colônia fundada pelos franceses na baía de Guanabara. Após o descobrimento do Brasil, Portugal demorou a interessar-se pela ocu-pação e a colonização dos novos domínios. Com isso, a colônia atraiu a atenção de outras nações europeias, especialmente a França. Após a experiência mal sucedida das capita-nias hereditárias e as cons-tantes incursões estran-geiras, Portugal resolveu tomar providências con-cretas. Em 1549 enviou o primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, que se instalou em Salvador. Todavia, o con-trole da imensa costa era ainda muito limitado. Foi nesse contexto que o mili-tar e aventureiro Nicolas Durand de Villegaignon teve a ideia de fundar uma colônia numa região bem conhecida dos franceses: a baía de Guanabara.

Villegaignon aproxi-mou-se do vice-almirante Gaspard de Coligny, um dos principais conselheiros do reino, que nutria fortes simpatias pela Reforma.

Com isso, conseguiu o apoio do rei Henrique II (1547-1559), que lhe for-neceu dois navios apare-lhados e recursos para a viagem. A expedição che-gou à Guanabara no dia 10 de novembro de 1555, sendo bem recebida pelos índios tupinambás, acostu-mados à presença de fran-ceses na região. O grupo instalou-se na pequena ilha de Serigipe, mais tarde denominada Villegaignon, onde foi construído o Forte Coligny.

A VINDA DOS

REFORMADOS Diante de várias difi-

culdades surgidas, Villegaignon escreveu à Igreja Reformada de Genebra solicitando o envio de pastores e colo-nos evangélicos que con-tribuíssem para a elevação do nível moral e espiritual da colônia. Coligny con-vidou para liderar o grupo um ex-vizinho seu, Filipe de Corguilleray, conhecido como senhor Du Pont. Por sua vez, João Calvino e seus colegas alegremente escolheram para acompa-nhar os colonos os pastores Pierre Richier (50 anos) e Guillaume Chartier (30 anos). Os seus objetivos específicos eram implan-tar a fé reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas.

Os huguenotes que os acompanharam foram Pierre Bourdon, Matthieu Verneil, Jean du Bourdel, André Lafon, Nicolas Denis, Jean Gardien, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Car-meau, Jacques Rousseau e o sapateiro Jean de Léry, o cronista da viagem, que escreveria a obra Viagem à Terra do Brasil (publicada em 1578). Eram ao todo catorze pessoas. No dia 19 de novembro embarcaram para o Brasil no porto de Honfleur, na Normandia.

A frota de três navios, comandada por Bois Le Conte, sobrinho de Villegaignon, levava cerca de 290 pessoas, inclusive algumas mulheres. Como de costume, a viagem foi muito penosa. A certa altu-ra, diante da situação em que se achavam, os refor-mados recitaram o salmo 107 (ver os v. 23-30). No dia 7 de março de 1557, os viajantes finalmente entra-ram no “braço de mar” chamado Guanabara pelos selvagens e Rio de Janeiro pelos portugueses.

O PRIMEIRO CULTO O desembarque no forte

Coligny deu-se no dia 10 de março, uma quarta-fei-ra. O vice-almirante rece-beu o grupo afetuosamen-te e demonstrou alegria porque vinham estabele-

cer uma igreja reformada. Logo em seguida, reuni-dos todos em uma peque-na sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorri-do nas Américas, o Novo Mundo.

O ministro Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o cos-tume de Genebra, o salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”.

Em seguida, o pastor Richier pregou um ser-mão com base no salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contem-plar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”. Após o culto, os hugueno-tes tiveram sua primeira refeição brasileira: fari-nha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena. A Santa Ceia segundo o rito reformado foi cele-brada pela primeira vez no domingo 21 de março de 1557.

Infelizmente, o vice-almirante acabou entran-do em conflito com os huguenotes sobre questões doutrinárias e os expulsou da colônia. Em 4 de janei-ro de 1558, eles partiram para a França a bordo de

um velho navio. O coman-dante avisou que a viagem iria ser difícil e não have-ria alimento para todos. Diante disso, cinco hugue-notes se ofereceram para voltar à terra. Inicialmente Villegaignon os recebeu de modo cordial, mas logo os acusou de serem traidores e espiões. Formulou um questionário sobre pontos doutrinários e lhes deu doze horas para responde-rem por escrito. O resul-tado foi a bela Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense [Publicada pela Cultura Cristã em A Tragédia da Guanabara) .

O almirante declarou heréticos vários artigos e decidiu pela morte dos reformados.

Essa efêmera presen-ça calvinista no início da história do Brasil não produziu efeitos perma-nentes. Não foi possível aos reformados alcançar seus dois intentos prin-cipais: criar uma igreja reformada e evangelizar os nativos. Todavia, esse episódio é considerado um marco significativo na his-tória das missões cristãs, pois foi a primeira vez que os protestantes bus-caram anunciar a sua fé a um povo pagão. O fruto mais duradouro do singelo empreendimento foi a bela confissão de fé selada com sangue.

Alderi Souza de Matos

C

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Dezembro de 201110BrasilPresbiteriano Março de 201210BrasilPresbiteriano

Porto Suárez, Bolivia, recebe equipe de voluntários da área da saúde

MISSÕES

viagem missionária “Alcançando a Bolívia” acon-

teceu do dia 17 a 21 de feverei-ro de 2012. A equipe lotou um ônibus com 45 voluntários e foi formada de pastores, evangelistas, médicos, enfermeiros, dentistas, universitários, pedreiros, cabelei-reiros, psicólogos, nutricionistas e pessoas que trabalharam no apoio, dando suporte ao intenso traba-lho de realizado. A base para esta atividade foi o templo da Igreja Presbiteriana de Puerto Suarez, Bolívia, campo missionário da APMT (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais).

A Dra. Maria Célia del Valle, missionária da APMT, coordenou a equipe de médicos e o Dr. Ricardo Guttierrez, a equipe de dentistas. A viagem contou com o apoio logís-tico dos projetos “Espaço jovem” e “Expresso da Salvação”. A maioria dos voluntários são membros da IP Jardim Apurá e da IP do Jaraguá na cidade de São Paulo.

O referido trabalho causou grande impacto na cidade, sendo amplamente divulgado por um canal aberto de televisão, Canal 12 - Pantanal, com o apoio da Cruz Vermelha.

No dia em que se iniciaram os atendimentos, o prefeito da cidade, Roberto Vaca, visitou o projeto e manifestou seu apoio e gratidão por tão grande iniciativa da IPB e pela solidariedade com os mais necessi-

tados. “Estou muito contente de ver os médicos brasileiros aqui, e agra-deço à IPB que está fazendo possí-vel este atendimento, uma vez que muitos não têm onde recorrer por causa das dificuldades financeiras. Vocês não somente nos deram o atendimento necessário como tam-bém nos doaram os medicamentos para o tratamento. Gostaríamos de dar o nosso apoio, como autoridade local, para que este trabalho possa se ampliar para as outras comuni-dades”, disse o prefeito.

A presidente da Cruz Vermelha, Sônia Valdéz, manifestou sua ale-gria pelos benefícios que a popula-ção recebeu com os atendimentos realizados. “Fizemos contato com

as pessoas responsáveis pelo pro-jeto em dezembro de 2011 e agora já podemos ver que a proposta se fez realidade e superou o que haví-amos imaginado. Agradeço não só a ajuda social que estamos receben-do, mas, principalmente, o trabalho espiritual que vocês estão reali-zando aqui, nesta época. Enquanto o carnaval oferece uma proposta, vocês estão oferecendo a Palavra de Deus”, enfatizou Sônia.

No culto do dia 19 de fevereiro, o Rev. Geraldo Batista Neto, missio-nário da APMT, assumiu a lideran-ça da igreja local, que há três anos estava sem pastor. Os membros da igreja não tinham palavras para louvar a Deus e agradecer a pre-

sença de um novo pastor no meio deles.

Os atendimentos realizados foram: 291 atendimentos de enfer-magem, 205 consultas médicas; 101 atendimentos odontológicos (em cada pessoa foi realizado mais de um procedimento, como obtu-rações, extrações e limpeza bucal); 08 consultas com nutricionista; 10 consultas psicológicas; 40 cortes de cabelo e a participação de cerca de 70 crianças nas atividades pre-paradas.

O Dr. Ricardo Guttierrez disse ao final da jornada: “Fisicamente estamos super cansados, mais feli-zes em poder servir a este povo tão sofrido. Temos aqui vários evan-

Emma Castro

A

Profissionais da saúde, universitários, pedreiros, cabeleireiros, e pessoas dispostas a servir ao próximo, visitam país vizinho, compartilham a mensagem de salvação e fazem atendimento médico e odontológico a uma população muito carente.

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Dezembro de 2011 11BrasilPresbiterianoMarço de 2012 11BrasilPresbiteriano

Porto Suárez, Bolivia, recebe equipe de voluntários da área da saúde

gelistas que enquanto estamos tra-balhando eles estão explicando a Palavra de Deus e isso, para mim, é o principal. As pessoas vêm aqui para tirar a cárie, mas o que nós queremos é que elas conheçam a Salvação por meio de Jesus Cristo, que limpa todo pecado. Estamos fazendo este tipo de trabalho em vários lugares, no Brasil e fora

dele, e temos visto grandes resulta-dos”, concluiu.

Os que desejarem participar de projetos como este, podem entrar em contato com a missionária, Dra. Maria Célia Del Valle, pelo e-mail [email protected]

Emma Castro é missionária e faz parte da equipe de comunicação da APMT

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Março de 201212BrasilPresbiteriano

EDIFICAÇÃO E APRENDIZADO

Semana de Orienta-ção da APMT 2012

(Agência Presbiteriana de Missões Transculturais) aconteceu dos dias 6 a 10 de fevereiro passa-do, no Sítio Ecolândia, em Araçariguama, SP. Estiveram presentes 53 missionários, candidatos, e filhos juntamente com a equipe da APMT.

O objetivo da Semana de Orientação não é apenas orientar e capacitar os futu-ros missionários da APMT.

É também uma reciclagem para os missionários que já estão engajados, para relembrarem como funcio-na a IPB, qual é a sua estrutura, qual é a Filosofia de Missões da Igreja, como a IPB funciona, o que é o “Comitê Gestor” e como é feita a captação de recur-sos para os projetos. São explanados os aspectos protocolares da Agência, a respeito da sua ação mis-sionária, por exemplo: o

aspecto institucional, filo-sofia, estatuto, regimento interno, aspecto operacio-nal, a dinâmica da Base, a questão dos repasses, conta bancária, boletos, os materiais, as campa-nhas, os treinamentos, os cursos, o cuidado integral do missionário. Também são tratadas questões refe-rentes a documentações pessoais, previdência, INSS, previdência priva-da, Acordo Internacional, Imposto de Renda, emis-são de passaportes e vis-tos. O aspecto relacional

do missionário com as igrejas, Agência e campo. Também é dedicada boa parte do tempo ao curso DESM – Desenvolvimento de Equipe de Sócios em Ministério, curso minis-trado pela missionária Mônica Mesquita.

As informações sobre a dinâmica da Base da Agência são apresentadas pela Equipe da Base, que trabalha nos diferentes seto-res: Recursos Humanos,

Relações Públicas, Recur-sos Financeiros, Revista Alcance, Comunicação, etc. Outras informações gerais são apresenta-das pelo Executivo, Rev. Marcos Agripino.

Uma das famílias presen-tes foi a do missionário conhecido como Ashok. Ele atua na Ásia há 18 anos e ressaltou que é muito bom conhecer os novos candidatos da Agência e poder compartilhar a expe-riência da sua caminhada. Ao se referir aos filhos de missionários ele disse: “O segredo para que os filhos dos missionários amem a obra missionária e queiram se envolver nela é transmi-tir o valor da mensagem que temos e o valor que temos de ser o que somos. Acima de tudo é a graça de Deus” e continuou dizen-do: “É importante enten-der que precisamos preser-var nossos filhos tanto no campo missionário quanto aqui no Brasil, das expe-riências amargas que pas-

samos. Minha esposa e eu tentamos protegê-los ao máximo de coisas que não lhes pertencem. Uma famí-lia que tem problema numa igreja, numa organização ou numa instituição, deve resguardar os filhos e mos-trar sempre o amor de Deus independente do desamor de pessoas ou das organiza-ções” concluiu Ashok.

Para algumas espo-sas de pastores candida-

tos da APMT, a Semana de Orientação foi o ponto chave para esclarecer o chamado da família. Kézia Oliveira, esposa do Rev. Cléber M. de Oliveira, falou da mudança de paradigma que ocorreu na visão dela durante a SO. “Esta semana mudou minha visão, com certeza. Quando você ouve falar de missões, ouve muita história e acaba criando

Emma Castro

A

Semana de Orientação da APMT – Não é por acaso!

As crianças tiveram uma programação direcionada para suas idades

Grupo de participantes durante a preparação

Equipe que trabalhou e organizou o evento

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Março de 2012 13BrasilPresbiteriano 13

PREGAÇÃO

uma visão meio romântica da situação. Mas quando começa a ver as coisas de modo concreto, então você começa a ver que é tudo muito sério. Tem que haver um envolvimento e uma entrega, senão não vai. Não adianta eu falar ‘Meu bem vai você que eu estou indo por tabela’, não funciona, eu tenho que ter convicção

de que ele tem o ministé-rio dele e que junto com o ministério dele eu tam-bém tenho o meu minis-tério. Não posso dizer ‘se prepare você que tudo vai dar certo’ eu te apoio ... eu tinha essa ideia” concluiu Kézia. Por outro lado, para Sumaia Diniz, esposa do Rev. Humberto Diniz, uma das preocupações que foi bastante esclarecida é como funciona o levanta-mento de recursos para o sustento missionário e para os projetos.

Uma das candidatas que está se preparando para ser enviada, cumprindo os pré-requisitos é a Magali Cristina Fidelix, pedago-ga, com muita experiên-cia no ensino. Ela solicitou licença da Secretaria de Educação de Nova Lima, MG, onde atuava como Coordenadora do Núcleo do Ensino Fundamental na Rede Municipal, para cum-prir os pré-requisitos da APMT. Magali destacou: “Eu tive a clareza de que o trabalho missionário não pode mesmo ser realizado sozinho pelo missionário, mas que esse desafio é um papel da Igreja”.

A Semana de Orientação é um tempo em que, além dos seminários e das infor-mações, os missionários e candidatos interagem constantemente enrique-cendo assim a experiência de cada um.

Nos dia 18 a 22 de julho acontecerá o 7º Congresso do CONPLEI (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas) em comemo-ração ao Centenário da Evangelização Indígenas (1912 – 2012). O evento será realizado no Centro de Treinamento Ami, Rodovia Manuel Pinheiro, Km 56 – Chapada dos Guimarães – MT.

A missionária da APMT, Dra. Maria Célia Del Valle está formando uma equipe de voluntários médicos e den-tista que estarão atendendo a toda a população indígena que participará do evento. A estimativa é de um público de 4 mil indígenas. Informações pelo email: [email protected].

Semana de Orientação da APMT – Não é por acaso! Atendimento à população indígena

Missionária Mônica Mesquita

Grupo de participantes durante a preparação

Emma Castro é missionária e faz parte da equipe de comunicação da

APMT

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Março de 201214BrasilPresbiteriano14

PREGAÇÃO

s países da América Latina vivem submer-

gidos numa religiosidade tradicional católico-romana e, também, num sincretis-mo religioso popular, lega-do dos povos indígenas ou civilizações antigas que for-mam um cinturão de resis-tência à aceitação da men-sagem salvadora em Cristo, o evangelho da graça de Deus.

O Rev. Odair Olivetti, pastor presbiteriano e missionário no Chile por cinco anos, em seu retor-no ao Brasil foi nomea-do Secretário Executivo da antiga JME – Junta de Missões Estrangeiras. Ele propôs ao Supremo Concílio da IPB, em 1968, o início do trabalho mis-sionário transcultural, sem a ajuda da Igreja Norte Americana, política missio-nária usada na época.

O Paraguai foi o primeiro campo missionário da Junta de Missões Estrangeiras, que a IPB assumiu integral-mente. Era um novo mode-lo de fazer missões sem depender da parceria com a Igreja dos EUA.

Com visão e intrepidez o Rev. Olivetti, enfrentando muitas dificuldades, seguiu para Concepción em 1968 e, num culto realizado no dia 14 de julho, na casa do Sr. Florentín Dominguez, declarou oficialmente o iní-cio da obra presbiteriana naquele país.

Volta ao Brasil com a

comitiva que o acompanha-va e convida o Rev. Evandro Luiz da Silva a seguir para ser o primeiro missionário enviado integralmente, pela IPB, ao Paraguai. A partir daí, foram realizadas cam-panhas motivando as igre-jas a contribuírem para a aquisição do local, previa-mente escolhido.

Em janeiro de 1970 o Rev. Evandro e família seguem para Concepción, onde rea-lizam um trabalho muito relevante, apesar de todas as dificuldades enfrentadas. No ano de 1974, o rev. Evandro e sua família retor-nam ao Brasil.

A obra iniciada em Concepción, Paraguai, mesmo passando por mui-tos problemas, prosseguiu e, pela graça de Deus se expandiu para as cidades: Asunción, San Lorenzo, Santa Rita e Pedro Juan Caballero.

Nos meados da década de 90, alguns missionários, buscando estratégias para alcançar o povo paraguaio, entenderam que através da educação eles romperiam barreiras que pareciam ins-transponíveis. Essa foi a mesma visão que os refor-madores tiveram, a abertura de escolas para a educação do povo.

No ano 1998 foi fun-dado o CEP – Centro Educacional Presbiteriano – em Concepción, e no ano 1999, o IPPB – Instituto Presbiteriano Paraguay

Brasil – na cidade de San Lorenzo, grande Asunción. Ainda que com poucos recursos financeiros, mas, com muita fé, entusiasmo e coragem, essas escolas prosseguiram.

Muitas igrejas, irmãos e amigos, acreditando que essa era a estratégia cor-

reta para a evangelização, investiram suas ofertas, orações e deram total apoio a esses projetos.

Hoje, depois de alguns anos, podemos ver que o projeto deu certo e, pela graça de Deus, continuará sendo uma grande bênção. O IPPB, em San Lorenzo, tem uma média de cem alu-nos, que vão do jardim à 6ª série. Muitos destes alunos participam das atividades da igreja e famílias intei-ras já foram arroladas como membros. Foi construído

um prédio de quatro anda-res que ainda está em fase de acabamento.

Já o CEP (Centro Educacional Presbiteriano) tem abençoado a IP de Concepción onde muitos adolescentes e jovens tem sido recebidos como mem-bros. Até o final do ano

passado foram recebidos por Pública Profissão de Fé e Batismo, 24 jovens, mesmo em meio à luta para obter a permissão dos pais para se tornarem membros da Igreja. Outros jovens continuam frequentes e vão sendo discipulados, enquanto aguardam a per-missão, de seus pais, para, também, se unirem à igreja, o Corpo de Cristo.

Estes alunos são discipu-lados pelo jovem Rodrigo Torres, presbítero da Igreja de Concepción e profes-

sor de Bíblia no CEP, que tem acompanhado de perto todos esses adolescentes e jovens realizando reuni-ões de estudo bíblico nos lares e atividades na Igreja. A Escola de Concepción conta atualmente com 280 alunos que vão do Jardim ao 3º ano do Ensino Médio.

O Rev. Francisco Villalba tem dado assistência à IP em Concepción e a partir desde ano estará atuando como capelão no CEP.

Essas duas escolas enfrentam, ainda, muitas dificuldades financeiras e passam muitas necessida-des, uma vez que a men-salidade cobrada não supre todas as necessidades. O contexto em que elas estão tem população de famílias assalariadas, o que não permite uma mensalidade maior. Ao mesmo tempo, essas instituições precisam manter os funcionários com seus encargos, fazer peque-nas reformas de manuten-ção do prédio, adquirir ou reformar os móveis das aulas, equipamentos e tudo o que envolve o funciona-mento de uma escola.

A partir deste ano o Rev. Buenaventura Gimenez López assumiu a responsa-bilidade do IPPB. O referi-do pastor tem vasta expe-riência no trabalho com jovens em colégios e vai somar esforços com o Rev. Eulógio G. López, pastor da IP em San Lorenzo onde funciona o instituto.

Missões no estrangeiro

O

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Março de 2012 15BrasilPresbiteriano

Melanchton Scheffde

A

MISSÕES

história da Escola Evangélica de Buriti,

começou propriamente no ano de 1913, quan-do a Missão Evangélica Presbiteriana do Brasil Central, enviou um de seus missionários, mais exatamente o reverendo Franklin Graham, em uma viagem a cavalo, desde a Bahia até a Bolívia, a fim de escolher nesse percurso os lugares que apresenta-riam condições favoráveis para a instalação de futu-ras subsedes da referida Missão. Essas condições diziam respeito ao clima, salubridade, facilida-de de acessos a regiões mais desenvolvidas ou em desenvolvimento, necessi-dades do povo etc.

Um destes lugares esco-lhidos foi justamente o Buriti, na época uma fazenda decadente em con-sequência da libertação dos escravos. Pertencia a famí-lia Siqueira de Chapada dos Guimarães.

Em 1919, a Missão Evangélica Presbiteriana do Brasil Central enviou dois missionários para comprarem a fazenda Buriti: reverendos George Landes e Adam Martin.

Nesse tempo as frontei-ras da Fazenda Buriti iam até os limites da cidade de Chapada dos Guimarães. A Missão, considerando que era muita terra, resolveu

doar para o Estado toda extensão de terra que vai desde a Aldeia Velha até as proximidades do perímetro urbano de Chapada. Essas terras devolutas e hoje per-tencem a várias pessoas.

Efetuada a compra da fazenda, a Missão contra-tou o casal Moisés Chaves e D. Davina, de Cuiabá, para administrar a fazenda e ajudar os missionários a estabelecerem a nova sede do trabalho missionário, além de remodelar as anti-gas instalações da fazenda a fim de servirem como alojamento para os alunos, salas de aulas, refeitório, cozinha, moradia para os missionários e trabalhado-res, salão de cultos e ativi-dades sociais.

Em seguida chegou o estimado casal de missio-nários Homero e D. Edite Mosar para dirigir a fazen-da e a escola. Em 26 de maio de 1923 deu-se início às aulas. Desse histórico primeiro ano letivo par-ticiparam apenas quatro alunos.

Os primeiros professores dessa época foram o reve-rendo Augusto Araújo, que mais tarde foi pastor da IP de Cuiabá, e D. Júnia Serra. No ano seguinte já foram sete alunos e o número só aumentou.

Enquanto o casal Moser cuidava da escola e da fazenda, o Rev. Adam Martin viajava para evan-gelizar os vários garimpos

das cercanias, bem como para consolidar as várias Igrejas Presbiterianas já formadas, dando conti-nuidade a seus trabalhos evangélicos.

Em 1927, chegou outra missionária para ajudar na escola, Diana Hastings, que ali permaneceu por treze anos. Foi ela quem plantou os dois pés de buri-tis gêmeos (palmeiras), que vieram a se tornar um dos símbolos da escola. Ainda em 1927 chegou o Kurt Freygang, outro gran-de incansável colaborador dessa obra e verdadeiro baluarte da Missão.

No início da Escola Evangélica de Buriti se destinava a acolher os filhos de famílias evangé-licas, mas a escola sempre recebeu de braços abertos toda e qualquer pessoa, de toda e qualquer religião ou condição social, uma vez que o objetivo principal foi sempre o ensino e a propagação do evangelho bíblico.

Aliás, este sempre foi o alvo de todas as escolas evangélicas fundadas neste país. Como exemplo pode-mos citar o Mackenzie College (hoje Universidade Mackenzie, que também foi fundada pela mesma missão que fundou Buriti, e que em 1962 foi doado pela Missão da Igreja Evangélica Presbiteriana do Brasil; o Instituto Gammon, juntamente com

a ESAL – Escola Superior de Agricultura de Lavras (a primeira Faculdade de Agronomia fundada no Brasil), o Colégio Benett, o Colégio Grambery, e muitos outros, pelos quais passaram grandes nomes de nossa pátria.

A partir de 1962 a Missão começou a entre-gar a direção da escola aos brasileiros. Durante o período que se estendeu de 1948 a 1951 a esco-la não pode funcionar por falta de cooperadores e principalmente pela falta absoluta de comunicação com Cuiabá. Nesse tempo a estrada praticamente dei-xou de existir, tornando-se intransitável, uma vez que as pontes foram destruídas e muitos trechos desmoro-naram.

Em 1958 foi construída a bela Capela da Escola, também com os fundos levantados pela Sociedade Amigos de Buriti.

A partir de 1964, com a chegada de alunos meno-res e que não possuíam experiência de trabalhos rurais, adotou-se o sistema de cobrança de anuidades escolares, de modo que a produção agropecuária da escola foi decaindo. Até 1964 os alunos dormiam em redes.

A princípio a escola ofe-recia apenas o curso primá-rio e três primeiras séries do ensino fundamental. Em 1967 implantou-se a

oitava série e também ofi-cializou-se o ensino, além de criar o Curso Técnico em Agropecuária e o Curso Técnico de Contabilidade.

Em 1976, a escola foi transformada em Fundação Educacional jurisdicionada pelas Igrejas Presbiterianas de Cuiabá. Isto se deve ao fato de a Missão ter encer-rado as suas atividades no Brasil para ir atuar em paí-ses mais pobres.

Infelizmente com o pas-sar do tempo, nossa escola, como outras em regime de internato, foi sendo con-siderada um reformató-rio. Os pais que possuíam filhos rebeldes internava-os na Escola de Buriti, como forma de punição e também com a esperança de que eles fossem corri-gidos.

Felizmente uma grande maioria deles se regene-rou pelo conhecimento do evangelho, tornando-se pessoas úteis e dignas. Ao verem a mudança de água para o vinho, ainda mais os pais continuavam a pen-sar que Buriti realmente era uma organização que possuía fórmula misteriosa para recuperação de pesso-as desajustadas. A fama de reformatório permaneceu. Todavia, pela escola pas-saram alunos excelentes, orgulho para suas famí-lias, para a escola e para a sociedade.

Escola Evangélica de Buriti

Melanchton Scheffder é ex-professor da Escola Evangélica do Buriti

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Março de 201216BrasilPresbiteriano

ANIVERSÁRIO

64 anos contribuindo para reformar a igreja no Brasil por meio da literatura

A Casa Editora Presbiteriana (Editora

Cultura Cristã é o nome fantasia) é a editora oficial da IPB. Organizada a 25 de Fevereiro de 1948 com o nome de Casa Publicadora, a CEP publica as revistas das sociedades internas da denominação, bem como um currículo completo para a Escola Dominical e uma linha bem diversi-ficada de livros cristãos. Embora se trate de uma editora denominacio-nal, seus clientes não são apenas os presbiterianos.

Cada vez mais, crentes de todas as convicções estão tomando conhecimento de nosso bom material e o estão adotando para o seu crescimento espiritual.

Os livros apresentam a solidez e consistência da teologia reformada. São rigorosamente bíblicos e apresentam alto nível. Dos livros teológicos aos mais leves, devocionais ou de pesquisa e consulta, todos foram escritos por autores escolhidos por sua fideli-dade à Palavra.

O currículo para Escola

Dominical cobre todas as faixas etárias, oferecendo ajuda significativa e prá-tica aos professores e pro-fessoras para bem cumpri-rem sua missão de ensinar as Escrituras.

Localizada no bairro do Cambuci, em São Paulo, a Editora comemora mais um aniversário no dia 27 de março. São 64 anos contribuindo para o conhe-cimento e crescimento do Reino de Deus. Conheça-a melhor visitando o site www.editoraculturacrista.com.br.

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Editora Cultura Cristã

NOVO TEMPLO

s irmãos da IP de Recanto Verde comemoram o sucesso na construção do novo templo. A igreja

está entrando no sexto mês de construção, agora, rebo-cando e embuçando por fora toda a estrutura do novo prédio. Em andamento está a construção do telhado, a parte hidráulica e elétrica, o pio fino para receber o piso definitivo, colocação de cerâmica e pastilhas na fachada, além da colocação de 19 janelas.

É um grande desafio para os irmãos que além do esforço físico, dedicam tempo para a oração, consa-grando o templo ao Senhor Jesus. Os passos são dados graças à doação de materiais de construção, recolhi-mento de ofertas e muita oração.

“Grandes coisas o Senhor tem feito por nós, por isso estamos alegres” Salmo 126.3

Adorando a Jesus efazendo-o conhecido

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Março de 2012 17BrasilPresbiteriano

Bandeirantes da Fé (Maria de Meio Chaves)

Há, no entrelaçamento de todos os capítulos, um “fi o de ouro”. É a oração, a poderosa arma do crente em Cristo. O objetivo do livro é mostrar a todos aqueles que trilham o caminho apontado pelo Sal-vador dos homens e cujo fi m é a porta da Cidade Santa.

O livro contém 144 pági-nas e custa R$ 25,00.

Uma Boa Vida(Charles Colson)

Uma boa vida busca res-postas para perguntas que sempre fazemos: Quem sou? Por que estou aqui? Como posso encontrar signifi cado para minha vida? Como posso fazê-la valer a pena?

Vinhas da ira

Baseado na obra de John Steinbeck o fi lme conta a his-tória de uma família de traba-lhadores rurais pobre durante a Grande Depressão de 29. Bus-cando oportunidades de uma vida melhor, Tom Joad (Henry Fonda), após cumprir pena, leva sua família em uma pequena ca-minhonete, de Oklahoma para a Califórnia, que dizem ser um lugar mais próspero e de maio-res oportunidades. Durante a viagem eles se deparam com a nova realidade, ao mesmo tem-po que descobrem que o lugar onde estão indo pode ser pior do que o que deixaram para trás. Vencedor de 2 Oscar, incluindo Melhor Diretor, o fi lme apresen-ta forte conteúdo ideológico e se presta a proveitosa discussão.

O Pianista

As memórias do pianista po-lonês Szpilman são retratadas nesse emocionante fi lme, con-tando como começaram as res-trições aos judeus em Varsórvia

e como ele conseguiu sobrevi-ver ao Holocausto. Incremen-tado com cenas chocantes e belas músicas, o fi lme venceu 3 Oscars e a Palma de Ouro em Cannes. Quem somos durante e depois de duras provações?

Depois do vendaval

Sean Thornton (John Wayne) é um ex-lutador de boxe que retorna à Irlanda, sua terra na-tal, para tentar esquecer seus dramas obscuros. Chegando lá, conhece Mary Kate Danaber, uma bela e pobre moça, por quem se apaixona. A relação é abalada pelas atitudes do irmão de Mary que se recusa a pagar o dote da irmã. O fi lme recebeu dois Oscars, de Melhor Direção e Melhor Fotografi a. O que vale mais na vida?

Brincando nos camposdo Senhor

Um casal de evangélicos e seu fi lho pequeno embrenham-se na selva amazônica brasileira para

catequisar índios ainda arredios à noção de Deus. Martin Quar-rier (Aidan Quinn) é sociólogo e termina sendo motivado pelas experiências de outro casal, os Huben. As intenções religiosas e a harmonia entre brancos e ín-dios no local fi cam instáveis de-vido à presença de Lewis Moon, um mercenário descendente dos índios americanos. Quanto pre-paro têm os missionários que pretendem evangelizar outras etnias?

Minhas tardes com Margueritte

Imagine o encontro de duas forças. De um lado, mais de 100 quilos de pura ignorância e do outro menos de 50, carrega-dos de ternura. Entre eles, uma diferença de décadas de idade e em comum, o encanto pelos livros. Esta é a história de um cinquentão pobre com as pala-vras e uma idosa inversamente rica com elas. Quando criança, Germain (Gérard Depardieu) foi chamado de burro na escola por todos e em casa, com sua mãe solteira, não era diferente. Contudo, quando Marguerit-te (Gisèle Casadesus) faz com que as páginas de um livro se abram novamente para ele, este reencontro com o universo das letras amplia seu horizonte e o único limite, agora, será so-mente a sua vontade. Crentes que não leem (você conhece al-gum?) deviam ver esse fi lme. Os que leem, também.

Sobre esses e outros títulos acessewww.editoraculturacrista.com.br

ou www.facebook.com/editoraculturacristaou ligue 0800-0141963

Boa LeituraEntretenimento e refl exão

Filmes para curtir e pensarEssas questões são o núcleo e as paixões centrais deste livro. Suas respostas a essas perguntas determinarão como a história de sua vida será escrita. Esse é o ponto: a cosmovisão pela qual você vive tem tudo a ver com o que você se tornará. Enten-der isso muda sua vida por completo.

O livro contém 352 pági-nas e custa R$ 61,00.

Relacionamentos(Timothy Lane e Paul Tripp)

O livro apresenta a ideia dos autores de que não precisamos de novas e sofi s-ticadas técnicas para que os relacionamentos fl oresçam. Relacionamentos criam confusão, mas não precisam continuar assim. Neste livro, Lane e Tripp nos fornecem ajuda valiosa para desem-baraçar essas complicações. Evitando lugares comuns ou técnicas complicadas vistas em outros livros do gênero, esses talentosos autores nos lembram de que um coração transformado é a chave para relacionamentos saudáveis.

O livro contém 176 pági-nas e custa R$ 34,00.

catequisar índios ainda arredios

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Março de 201218BrasilPresbiteriano

No BRASIL E NO MUNDO

Sarah Ribeiro

Bíblia em áudio é estratégiade evangelização no nordeste

Um projeto, encabeçado pelo pastor da Igreja Presbiteriana Renovada Rev. Jonathan Ferreira dos Santos visa implantar, nos próximos dez anos, dez mil igrejas na região nordeste do Brasil onde se encontram, segundo estatísticas, 71% das cidades menos evangelizadas do país. Para apoiar o projeto, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) vai disponibilizar o Novo Testamento em áudio, visto que boa parte da população do nordeste não é alfabetizada.

Com o objetivo de apresentar melhor a realidade do nordeste brasileiro e discutir esta e outras estratégias, o Rev. Jonathan pro-move entre os dias 19 e 24 de março o “Congresso Nacional de Evangelização do Serão Nordestino”, em Juazeiro no Norte (CE). A expectativa é reunir mil líderes de todo o país. Mais informações pelo site www.congressosertaonordestino.com.br.

Fonte: SBB

Brasil é o segundo paísque mais “exporta” missionários

De acordo com levantamento feito pelo “Centro para o Estudo do Cristianismo Global”, sediado no Seminário Teológico Gordon-Conwell em Massachusetts, o Brasil é o segundo país que mais envia missionários para o exterior. Dos 400 mil missionários enviados para países estrangeiros em 2010, o Brasil enviou 34 mil, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que enviou 127 mil.

O estudo mostrou também que o Brasil tem a segunda maior população protestante do mundo, atrás novamente dos Estados Uni-dos, e que a grande maioria dos missionários voluntários enviados pelo Brasil é proveniente da JOCUM (Jovens com uma Missão).

De acordo com site Christian Today, Dana Robert, autora de “Missão cristã: Como o cristianismo se tornou uma religião mun-dial”, afirmou que até o ano 2000 cerca de dois terços dos cris-tãos do mundo vieram de países onde os missionários ocidentais trabalharam um século antes. Ela ressaltou a participação norte-americana no trabalho missionário e a recente explosão de interesse no trabalho missionário entre os cristãos da Ásia, África e América Latina.

Fonte: Gospel+

FALECIMENTO

Rev. José CostaEm um culto de ação de graças

realizado no dia 13 de dezembro de 2011, pastores do Presbitério de Maringá e de outras regiões, bem como membros da IP Central de Maringá e demais irmãos, juntaram-se à família e amigos do finado irmão Rev. José Costa para agradecer ao Senhor pela sua vida e ministério.

A Palavra foi pregada pelo Rev. João Francisco dos Anjos, do Presbitério Vale do Ivaí, onde o Rev. Costa foi jubilado. Lembrou-se que foi em Campo Mourão-PR que o mesmo iniciou o seu ministério em 1954 tendo organizado uma igreja que hoje é referência na região. Em seguida, pastoreou em Uberlândia-MG e em Maringá-PR e, na década de 1970, assumiu a presidência da Junta de Missões Nacionais, de onde partiu para evangelizar no Acre e em diversas regiões amazônicas organizando o trabalho presbiteriano ao percorrer grandes distâncias, muitas vezes com o sacrifício de ficar longe da família. Em seguida, foi diretor do Colégio Presbiteriano Instituto Gammon em Lavras-MG por sete anos e, ao completar 68 anos, voltou para o Paraná para pastorear a IP de Paranavaí-PR onde permaneceu até ser jubilado aos 70 anos.

Registrou suas memórias em dois livros Missionário Pioneiro e Companhia Divina, lançados em 1996 e 1997, tendo passado seus últimos anos em Maringá (onde pastoreou em 1963-1968, 1970-1972 e 1975 e construiu o belo templo da Igreja Central), vivendo com sua esposa Mina Rickli Costa e sempre rodeado pelos filhos Márcio, Silas e Maria Amélia, netos e bisnetos.

Em carta à família que foi lida diante da igreja, o Presidente do Supremo Concílio da IPB, Rev. Roberto Brasileiro Silva, escreveu: “Ao longo dos anos, o servo do Senhor, Rev. José Costa, serviu ao Senhor e à Igreja do Senhor com esmero, probidade e competência, comuns somente aos nobres verdadeiramente lavados no sangue do Cordeiro.”

Texto enviado pelo Rev. Elizeu Dourado de Lima da IP Central de Maringá.

Presb. Luiz Pereira MartinsFaleceu no dia 04 de fevereiro em Juiz de Fora, com 73 anos, o

Presb. Luiz Pereira Martins. Presb. Luiz era presbítero em disponibi-lidade da 4ª IP de Juiz de Fora. Trabalhou ativamente na UPH de forma incansável. Foi o reorganizador da UPH local na 4ª IP e um dos membros fundadores da federação de homens de Juiz de Fora e também da Sinodal Leste de Minas, sendo o seu primeiro vice-presidente. Na federação foi presidente oito vezes. Foi por muitos anos representante no presbitério. Foi eleito deputado ao SC/IPB para a reunião de Vitoria – ES. Manteve ativo por 28 anos o programa radiofônico Pingos de Ouro, com ênfase total no evangelismo. Deixa esposa e cinco filhos atuantes na igreja, sendo dois presbíteros e dois diáconos da IPB.

Nota enviada pelo Presb. Alexandre Almeida

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Março de 2012 19BrasilPresbiteriano

Casamento e Divórcio - II

Consultório Bíblico

Odayr Olivetti

O reverendo Odayr Olivetti é pastor presbiteriano, ex-professor de Teologia Sistemática do Seminário Presbiteriano de Campinas, escritor e tradutor. - [email protected]

“Pode me dizer uma palavra sobre o divór-cio?”

Na primeira parte da resposta expus algo sobre o casamento. Agora: sobre o divórcio.

1. Declaração Básica: A união matrimo-nial foi estabelecida por Deus para nunca se desfazer, exceto pela morte. Nesse sentido é indissolúvel. Não é indissolúvel no sentido de que não é possível dissolvê-la, mas sim no sentido de que não se deve dissolvê-la.

Confirma isso o que disse o Senhor Jesus Cristo em Mt 19.4, depois de citar as pala-vras da instituição do matrimônio. Disse Jesus: “O que Deus ajuntou não o separe o homem”. Estas palavras de Jesus Cristo significam principalmente: (1) Que é possí-vel dissolver os laços matrimoniais; (2) Que os homens e as mulheres devem obedecer à

ordem de Jesus que proíbe o divórcio.2. Biblicamente, o divórcio só é permitido

quando há infidelidade conjugal (adultério), como se vê em Mt 19.4. A Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXIV, Seção VI, considera a deserção obstinada e irremedi-ável de um cônjuge como infidelidade con-jugal semelhante ao adultério, e nesse caso justifica o divórcio.

3. Sempre existe a possibilidade de recu-peração, ou do casamento, ou da comunhão

com a igreja – sobre a base de um verdadeiro arrependimento. É consoladora a mensagem que se vê, por exemplo, em Is 1.18: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão bancos como a neve...”.

4. Aplicação responsabilizante: Cabe aos cônjuges o dever de zelar para que o seu

casamento não seja desfeito. Peço ao digno consulente e aos demais leitores que deem toda a atenção aos três fatores pró-unidade do casamento de que falo a seguir:

A paixão (eros); o amor real (agape); e a fidelidade.

A paixão comparo ao bronze; o amor à prata; e a fidelidade ao ouro.

Por quê? Porque a fidelidade sobrevi-ve quando a paixão e o amor de marido e mulher fenecem. A fidelidade é o poderoso antídoto contra a dissolubilidade da união matrimonial. Que bom se o casal mantiver os três: paixão, amor e fidelidade! Mas, aconte-ça o que acontecer, que ambos se mantenham fiéis.

É o que faz muita falta na sociedade moderna: fidelidade partidária, fidelidade no cumprimento de promessas e compromissos, fidelidade entre amigos. – É tragédia quan-do falta a fidelidade entre marido e mulher!

Quanto aos cristãos é bom lembrar que a fidelidade nasce da fé. Até etimologicamen-te: fides, fidelis, fidelitas (fé, fiel, fidelidade). A fé verdadeira Deus oferece de presente: “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8).

Querem os meus amigos leitores uma chave para manter o seu casamento forte, unido, fiel e amoroso? Desenvolvam em sua vida o amor de Deus. Ele o derrama nos crentes pelo Espírito Santo (Rm 5.5).

Os casais cristãos têm esta grandevantagem: O amor de Deus foi derramado

em seus corações.Procurem, pois, dar testemunho do amor de Deus mantendo-se unidos pelo amor,

para sempre.

…para manter o seu casamento forte, unido, fi el e amoroso, desenvolvam em sua

vida o amor de Deus. Ele o derrama nos crentes pelo Espírito Santo (Rm 5.5).

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Março de 201220BrasilPresbiteriano

Futuro incertoARTIGO

uando olho o atual cenário da igreja evan-

gélica brasileira – estou usando o termo “evangé-lica” de maneira ampla – confesso que me sinto inca-paz de prever o que vem pela frente. Há muitas e diferentes forças em ope-ração em nosso meio hoje, boa parte delas conflitantes e opostas. Olho para frente e não consigo perceber um padrão, uma indicação que seja, do futuro da igreja.

Há, em primeiro lugar, o crescimento das seitas neopentecostais. Embora estatísticas recentes tenham apontado para uma queda na membresia de seitas como a Universal do Reino do Deus, outras estão surgindo no lugar, como na lenda grega da Hidra de Lerna, monstro de sete cabeças que se regeneravam quando cortadas. A enorme quan-tidade de adeptos desses movimentos que pregam prosperidade, cura, liber-tação e solução imediata para os problemas pessoais acaba moldando a imagem pública dos evangélicos e a percepção que o restante do Brasil tem de nós.

Na África do Sul conheci uma seita que mistura pon-tos da fé cristã com pon-tos das religiões africanas, um sincretismo que acaba por tornar irreconhecível qualquer traço de cristia-nismo restante. Temo que a continuar o crescimento

das seitas neopentecostais e seus desvios cada vez maio-res do cristianismo histó-rico, poderemos ter uma nova religião sincrética no Brasil, uma seita que mis-tura traços de cristianismo com elementos de religiões afro-brasileiras, teologia da prosperidade e batalha espiritual em pouquíssimo tempo.

Depois há o movimen-to “gospel”, que recente-mente mostrou sua popu-laridade ao ter o festival “Promessas” veiculado pela emissora de maior audiência do país. Não me preocupa tanto o fato de que a Rede Globo exibiu o show, mas a mensagem que foi passada ali. A teologia gospel confunde “adora-ção” com pregação, exalta o louvor como o principal elemento do culto públi-co, anuncia um evangelho que não chama pecadores e crentes ao arrependimen-to e mudança de vida, que promete vitórias median-te o louvor e a declaração de frases de efeito e que ignora boa parte do que a Bíblia ensina sobre humil-dade, modéstia, sobriedade e separação do mundo.

Para muitos jovens, os shows gospel viraram a única forma de culto que conhecem, com pouca Bíblia e quase nenhum dis-cipulado. O impacto negati-vo da superficialidade desse movimento se fará sentir nessa próxima geração, especialmente na incapaci-

dade de impedir a entrada de falsos ensinamentos e doutrinas erradas.

Em Brasília, temos os deputados e senadores evangélicos que, gostemos ou não, têm conseguido retardar e mesmo impe-dir as tentativas de grupos ativistas LGTB de impor leis como o famigerado PL 122. O lado preocupante é que eles “representam” os evangélicos nesses assun-tos e acabam, por associa-ção, nos representando de maneira generalizada dian-te do grande público e da grande mídia.

Por um lado, lamento que foram líderes de sei-tas neopentecostais e pas-tores de teologia e práticas duvidosas, em sua maioria, que conseguiram alcançar uma posição de destaque a ponto de serem ouvidos em Brasília. Essa é uma posição que deveria ter sido ocupada pelos reformados, como aconteceu em outros países. Mas, falhamos. E a bem da justiça, não posso deixar de reconhecer que Deus usa quem ele quer para refrear, ainda que por algum tempo, a rápida dete-rioração da nossa socieda-de. O que isso representará no futuro, é incerto.

Notemos ainda o rápido crescimento do calvinis-mo, não nas igrejas histó-ricas, mas fora delas, no meio pentecostal. Não são poucos os pentecostais que têm descoberto a teologia reformada – particularmen-

te as doutrinas da graça, os cinco slogans (“solas”) e os chamados cinco pontos do calvinismo. Boa parte des-tes tem tentado preservar algumas ideias e práticas características do pentecos-talismo, como a contem-poraneidade dos dons de línguas, profecia e milagres e um culto mais informal, além de uma escatologia dispensacionalista.

Outros têm entendido – corretamente – que a teo-logia reformada inevitavel-mente cobra pedágio tam-bém nessas áreas e já passa-ram para a reforma comple-ta. Mas o tipo de movimen-to, igrejas ou denominações resultantes dessa surpreen-dente integração ainda não é previsível. O que existe de mais próximo é o movi-mento neocalvinista, mas este é por demais vinculado à cultura americana para ser reproduzido com sucesso aqui, sem adaptações. Estou curioso para ver o que vai dar esse cruzamento de soteriologia calvinista com pneumatologia pentecostal.

O impacto das mídias sociais também não pode ser ignorado. E há também o número crescente de desi-grejados, que aumenta na mesma proporção da apro-priação das mídias sociais pelos evangélicos. Com a possibilidade de se ouvir sermões, fazer estudos e cursos de teologia online, além de bate-papo e discipu-lado pela internet, aumenta o número de pessoas que se

dizem evangélicas, mas que não congregam em uma igreja local. São cristãos virtuais que “frequentam” igrejas virtuais e têm comu-nhão virtual com pessoas que nunca realmente che-gam a conhecer. Admito o benefício da tecnologia em favor do Reino.

Eu mesmo sou profes-sor há quinze anos de um curso de teologia online e sei a benção que pode ser. Mas, não há substituto para a igreja local, para a comu-nhão real com os santos, para a celebração da ceia e do batismo, para a oração conjunta, para a leitura em uníssono das Escrituras e para a recitação em conjun-to da oração do Pai Nosso, dos Dez Mandamentos. Isto não dá para fazer pela internet. Uma igreja virtual composta de desigrejados não será forte o suficiente em tempos de perseguição.

Eu poderia ainda mencio-nar a influência do liberalis-mo teológico, que tem aber-to picadas nas igrejas histó-ricas e pentecostais e a falta de maior rapidez e efici-ência das igrejas históricas em retomar o crescimento numérico, aproveitando o momento extremamente oportuno no país. Afinal, o cristianismo tem expe-rimentado um crescimento fenomenal no chamado Sul Global, do qual o Brasil faz parte.

Augustus Nicodemus Lopes

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Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes é Chanceler da Universidade

Presbiteriana Mackenzie