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Ao dar connuidade à série de ava- liações de cada um dos dez indica- dores do relatório Doing Business, do Banco Mundial e IFC, BRAiNews aborda nesta edição o item obten- ção de crédito. No ranking de 2013, o Brasil caiu seis posições nesse in- dicador, indo da 98ª para 104ª po- sição. A queda ocorreu mesmo com a melhora dos subíndices “cobertu- ra do registro público de crédito” e “cobertura das agências de crédi- to”, e a manutenção dos mesmos pontos dos subíndices “força dos direitos legais” e “profundidade das informações de crédito”. O Brasil mostrou grande evolução desde 2005 nesse quesito, mas os diversos avanços legislavos introdu- zidos nesse período, aparentemente, têm sido ignorados pelos responden- tes do quesonário do Doing Business e, consequentemente, não têm sido refledos no ranking . Um levanta- mento realizado pela BRAiN mostra detalhadamente os equívocos do po- sicionamento brasileiro nesse indica- dor e da falta de conhecimento dos respondentes no tópico. Dos dez procedimentos analisa- dos no subitem “força dos direitos legais”, diferentemente do infor - mado, todos se aplicam à realidade brasileira, porém os respondentes apontam apenas três. Por fim, André Sacconato, diretor de Pesquisas, e Filipe Pelepka, geren- te de Pesquisas da BRAiN, escrevem um argo em conjunto abordando a importância de um bom posiciona- mento no relatório Doing Business para que a cidade de São Paulo se torne um centro internacional de in- vesmentos e negócios. OBTENÇÃO DE CRÉDITO EM DETALHES Avanços legislativos de cinco anos são sumariamente ignorados por respondentes e Brasil perde posições no Doing Business 2013 nº6 • dezembro 2012 publicação mensal BRAINews-ed6.indd 1 12/17/12 1:49 PM

BRAiNews - Edição 6 - Dezembro/2012

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Publicação mensal da Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN), entidade com a missão de transformar o Brasil em um polo internacional de investimentos e negócios.

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Page 1: BRAiNews - Edição 6 - Dezembro/2012

Ao dar continuidade à série de ava-liações de cada um dos dez indica-dores do relatório Doing Business, do Banco Mundial e IFC, BRAiNews aborda nesta edição o item obten-ção de crédito. No ranking de 2013, o Brasil caiu seis posições nesse in-dicador, indo da 98ª para 104ª po-sição. A queda ocorreu mesmo com a melhora dos subíndices “cobertu-ra do registro público de crédito” e

“cobertura das agências de crédi-to”, e a manutenção dos mesmos pontos dos subíndices “força dos direitos legais” e “profundidade das informações de crédito”.

O Brasil mostrou grande evolução desde 2005 nesse quesito, mas os diversos avanços legislativos introdu-zidos nesse período, aparentemente, têm sido ignorados pelos responden-tes do questionário do Doing Business

e, consequentemente, não têm sido refletidos no ranking. Um levanta-mento realizado pela BRAiN mostra detalhadamente os equívocos do po-sicionamento brasileiro nesse indica-dor e da falta de conhecimento dos respondentes no tópico.

Dos dez procedimentos analisa-dos no subitem “força dos direitos legais”, diferentemente do infor-mado, todos se aplicam à realidade

brasileira, porém os respondentes apontam apenas três.

Por fim, André Sacconato, diretor de Pesquisas, e Filipe Pelepka, geren-te de Pesquisas da BRAiN, escrevem um artigo em conjunto abordando a importância de um bom posiciona-mento no relatório Doing Business para que a cidade de São Paulo se torne um centro internacional de in-vestimentos e negócios.

ObtençãO de créditO em detalhes Avanços legislativos de cinco anos são sumariamente ignorados por respondentes e Brasil perde posições no Doing Business 2013

nº6 • dezembro 2012publicação mensal

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Mudança de percepção

dos res-pondentes

O Doing Business avalia basicamente dois aspectos do indicador obtenção de crédito: qualidade das informações de crédito disponíveis no mercado, se-gundo os padrões determinados pelo Banco Mundial, e a proteção de cre-dores e mutuários.

O estudo realizado pela Comissão Doing Business identificou que nenhu-ma das respostas relativas ao tema obtenção de crédito sofreu alteração entre 2005 e 2012, período no qual mudanças legislativas significativas foram editadas. Entre as maiores es-tão o atual Código Civil, a Lei de Falências (nº 11.101/2005) e a cria-ção do Conselho Nacio-nal de Justiça (CNJ), que alterou substancialmen-te o processo judicial de cobrança e eliminou uma série de recursos e apelos que só serviam para retardar o desfe-cho do processo.

Quando pergunta-dos se os credores com garantia são pagos em primeiro lugar quando a empresa é liquidada, os respondentes informaram que não. Todavia, a Lei de Falências, atual e mais moderna que a legislação americana correspondente, coloca os credores com garantia an-

tes dos tributários, não importando o montante a receber. Além disso, a le-gislação falimentar assegura aos cre-dores da garantia o direito exclusivo ao recebimento do produto da alienação da garantia que lhes foi constituída re-gularmente. Até mesmo a preferência do crédito laboral sobre as garantias reais é bastante limitada.

Na pergunta sobre se a lei brasi-leira permite que a empresa conceda direito de garantia não possessória em uma única categoria de bens mó-veis (tais como contas a receber ou

inventário), sem exigir descrição es-pecífica da garantia, a resposta foi de que não há previsão para tanto. Hoje, esses créditos são facilmente protegi-dos pela cessão fiduciária, medida que exige alguma formalidade, mas que assegura a canalização de créditos ha-

vidos pelo devedor com terceiros em proveito do credor sem dificuldade.

Em relação à pergunta sobre, se fora de um processo de insolvência, os credores garantidos são pagos em pri-meiro lugar quando um devedor não cumpre o contrato, apesar da resposta dada pelos respondentes ser sucessi-vamente negativa, o fato é que, salvo negligência ou desinteresse do credor, o processo de cobrança pode ser ins-taurado de imediato após vencida a obrigação, de modo que, teoricamen-te, restam evidentes possibilidades de

o credor garantido re-ceber antes dos demais. Em resumo, a Comis-são Doing Business con-cluiu que o questioná-rio é muito detalhado, envolve diversos ramos do direito (tributário, ci-vil e falimentar) e uma só pessoa pode não ser capaz de responder todo ele. Ou seja, é funda-mental que o respon-

dente se associe a outros profissionais especializados em cada um dos temas do questionário para que o escritório de advocacia habilitado forneça ao Banco Mundial um conjunto de res-postas que reflita de maneira correta e atualizada a legislação vigente.

Legislação brasileira atual atende a todos os requisitos do indicador obtenção de crédito, porém o País continua mal avaliado no relatório Doing Business 2013. Entenda os motivos

a comissão doing business concluiu que o questionário é muito detalhado, envolve diversos ramos do direito

(tributário, civil e falimentar) e uma só pessoa pode não ser capaz de responder todo ele.

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Em relação à “proteção dos direitos do credor e do mu-tuário”, segundo a visão dos respondentes, dos dez itens possíveis, o Brasil só atenderia três. Entretanto, após aná-lise, a BRAiN concluiu que todos são atendidos, embora não reconhecidos pelos respondentes.

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Representantes da BRAiN apresentarão cartilha de análise do Doing Business com apontamentos das melhorias brasileiras não capturadas pelo relatório

cOnversa in loco cOm bancO mundial

Criação do CNJ e o

princípio da repercussão

geral conferem maior

celeridade aos recursos

perante o STF e o STJ

Quem acompanha a atividade do Conselho Nacional de Jus-tiça (CNJ) percebe os progres-sos que o órgão tem trazido para a moralização e acele-ração dos processos judiciais. Entre eles, há mudanças le-gislativas e instrumentais que afetam a obtenção de crédi-to na medida em que se tem mais agilidade na recupera-ção do crédito.

Vale destacar a inserção do princípio da repercussão geral dos recursos extraordi-nários. No passado, o Supre-mo Tribunal Federal (STF) era obrigado a julgar todo recurso que lá chegava, como casos de perda de FGTS. A figura da re-percussão geral faz com que o STF, com base em um caso es-

pecífico, julgue todos de uma só vez. Depois do julgamento definitivo do caso, a decisão deve ser aplicada aos demais processos que tratam da mes-ma matéria, nas instâncias in-feriores. O mesmo princípio foi adotado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em relação aos recursos especiais repetitivos.

O princípio da repercus-são geral afeta o indicador obtenção de crédito na medi-da em que dá mais agilidade à recuperação. Diminuindo a quantidade de recursos e acelerando o julgamento das causas existentes, traz-se efe-tividade ao processo judicial, o que impacta diretamente na proteção dos direitos de credores e devedores.

Brasil tem cinco pontos, de seis possíveis no quesito, porém todos os itens já são atendidos

No quesito “profundidade de infor-mações de crédito”, que mede as regras e práticas que afetam a cober-tura, o escopo e a acessibilidade das informações de crédito disponíveis por meio de um registro de crédito público ou privado, o Brasil está bem posicionado, embora possa melhorar.

São seis os procedimentos ava-liados: se são distribuídos dados de pessoas físicas e jurídicas; se são distribuídas informações de crédito positivas – abrindo os montantes dos empréstimos –, negativas e falên-cias; se são distribuídos dados dos varejistas e de empresas de serviços públicos, bem como de instituições financeiras; se são distribuídos dados históricos de mais de dois anos; se são distribuídos dados sobre os mon-

tantes dos empréstimos abaixo de 1% da renda per capita; e se por lei os mutuários têm o direito de aces-sar seus dados no maior registro ou serviço de crédito na economia.

Segundo os respondentes, as agências de crédito (públicas ou pri-vadas) não distribuiriam dados his-tóricos de mais de dois anos, o que impede o alcance de pontuação má-xima nessa dimensão.

Todavia, os registros dos débitos não pagos ficam disponíveis pelo período de até cinco anos nos re-gistros da Serasa, limite de tempo determinado pelo Código de Defesa do Consumidor. Já o Cadastro Positi-vo (Lei nº 12.414/2011) estabelece a manutenção dos apontamentos fei-tos pelo prazo de 15 anos.

Em janeiro, uma comitiva da BRAiN se reunirá, em Washington (EUA), com representantes do Banco Mundial para apresentar a cartilha “O ambiente de negócios brasilei-ro: realidades e desafios”.

Produzido com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Tu-rismo do Estado de São Paulo (Fe-comercioSP), o relatório apresenta

as dimensões de foco da Comissão Doing Business e suas propostas, bem como mostra o novo Brasil e as mudanças já ocorridas no ambiente de negócios do País, que deveriam refletir em melhor posicionamento nos rankings internacionais, como o relatório Doing Business, a des-peito das notórias deficiências ain-da existentes no Brasil.

Mais do que melhorar a po-sição brasileira em um ranking específico, trata-se de aumentar o reconhecimento internacional e o potencial de atratividade do Brasil para novos empresários e investidores e, consequente-mente, transformar o País em um polo internacional de inves-timentos e negócios.

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agilidade e dinamismO

nas cOrtes naciOnais

PrOfundidade de infOrmações de créditO

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a Washington (EUA), cidade sede do Banco Mundial, para compor um grupo de trabalho sobre os temas. Além da possibilidade de as instituições discutirem seus respectivos pontos de vista a res-peito de alguns dos indicadores, a visita será uma oportunidade para o Banco Mundial e a BRAiN mostrarem seus interesses na qualidade do relatório e na me-lhora do ambiente de negócios brasileiro, respectivamente.

Esse esforço, somado ao de conscientização que temos empre-endido com os respondentes nacio-nais, terá como objetivo ajustar a posição do Brasil para o ponto em que ele já deveria estar hoje. Já no longo prazo, o objetivo é trabalhar as dimensões do ambiente brasi-leiro de negócios que realmente requerem reformas. Esse é um tra-balho que só poderá trazer bons frutos ao Brasil nos próximos anos.

André Sacconato, diretor de Pesquisas e Filipe Pelepka, gerente de Pesquisas da BRAiN integram a Comissão Doing Business

doing Business analisadOBRAiN realiza levantamento sobre ranking do Banco Mundial e faz divisão dos dez indicadores em dois grupos para ações

A Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN) elegeu como uma das suas metas melhorar o ambiente de ne-gócios do Brasil para que seja pos-sível que a cidade de São Paulo se torne um centro internacional de investimentos e negócios. Assim, estudar a fundo o relatório Doing Business é obrigatório.

Em mais de um ano dedicado ao aprofundamento sobre esse tema, percebemos que se tratava de um relatório que, embora sofra de al-gumas fragilidades metodológicas, carrega o grande trunfo de homo-geneizar indicadores que permitem comparar os ambientes de negó-cios de países muito distintos, além do fato de ser elaborado por uma equipe técnica do Banco Mundial exclusivamente dedicada a isso.

Nesse cenário, a Comissão Doing Business formada pela BRAiN nasceu com o objetivo de detalhar os motivos do péssimo po-sicionamento do Brasil no ranking, buscando pontos fracos da buro-cracia brasileira e que haviam sido objeto de reformas recentes das instituições nacionais sem serem capturados pelo relatório.

Depois de muitas análises, conse-guimos separar esses dois grupos de indicadores. Alguns, como abertura de empresas, pagamento de impos-tos e obtenção de alvarás de constru-ção, que refletem de fato a péssima burocracia brasileira, são itens que claramente devem estar na pauta dos entes públicos como prioridade, a fim de melhorar o ambiente de negócios nacional e, por consequên-cia, a atração de investimentos para a economia do Brasil. Outros como obtenção de crédito e proteção a in-vestidores são nítidos exemplos de que grandes melhorias já realizadas no ambiente institucional brasileiro ainda não foram incorporadas pelas análises dos técnicos do Banco Mun-dial e os respondentes no País.

Nossa atuação com relação àquele primeiro grupo de indica-dores tem se pautado pelo contato direto com a administração pública em todas as esferas da União, pro-pondo melhorias, apresentando so-luções e discutindo alternativas.

Em relação aos indicadores nos quais o Brasil já poderia estar me-lhor posicionado apenas com ajus-te nas respostas fornecidas pelos respondentes aos questionários do Doing Business, tivemos a honra de sermos chamados pelo diretor de Indicadores Globais do Banco Mun-dial, Augusto Claros Lopez, a expor aos técnicos responsáveis os itens em que o Brasil registrou grandes avanços nos últimos anos. Uma de-legação da BRAiN irá em janeiro

comissão doing business formada pela brain nasceu com o objetivo de detalhar os motivos do péssimo

posicionamento do brasil no ranking, buscando pontos fracos

da burocracia brasileira

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diretOria: Diretor-presidente: Paulo de Sousa Oliveira JuniorAndré Luiz Sacconato (diretor de Pesquisas), José Moulin Netto (diretor de Projetos), Luiz Calado (diretor de Relacionamento com Associados) e Pedro Guerra (diretor de Planejamento Estratégico)

integrantes da cOmissãO dOing business: Antonio Carlos Borges (presidente)Abelardo Campoy Diaz, Alice Andrade Baptista Frechs, Andre Grunspun Pitta, André Sacconato, Beatriz Oliveira de Mendonça, Cristiane Leite Calixto, Eduardo Coifman, Eduardo Della Manna, Fabio Pina, Filipe Pelepka, Karina Zuanazi Negreli, Laércio Baptista da Silva, Leandro Ricci, Marcelo Fleury, Paul Wisiers, Paula Coutinho Fleury, Régio Soares Ferreira Martins, Ricardo Araujo de Deus Rodrigues, Rogério Monteiro, Tomás Cortez Wisssenbach e William Salasar (representantes)

Av. Nações Unidas 8501, 11º andar / Pinheiros São Paulo / SP / 05425-070 / +55 11 2529-7040www.brainbrasil.org / [email protected]

PrOJetO grÁficO e cOnteÚdO editOrial: TUTU / Clara Voegeli e Demian Russo (editores de arte), Carolina Lusser (chefe de arte), Cristina Sano e Camila Marques (assistentes de Arte) / André Rocha (diretor de conteúdo e jornalista responsável – MTB 45653/SP), Selma Panazzo (editora executiva), Denise Ramiro (editora assistente) e Enzo Bertolini (textos)

cOOrdenadOr de cOmunicaçãO: Danilo Vivan

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