33
BRASIL OBSERVER WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK LONDON EDITION ISSN 2055-4826 #0024 FEBRUARY/2015 BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) ELEIÇÃO GERAL E O VOTO BRASILEIRO NO REINO UNIDO ARTE DE PERNAMBUCO Embaixada do Brasil em Londres apresenta nova exposição SAUDADES DO VERÃO Um tour pela praia de Jericoacoara para esquecer o frio DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO

Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Eleição Geral: E o voto brasileiro no Reino Unido

Citation preview

Page 1: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

B R A S I LO B S E R V E R

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UKLONDON EDITION ISSN 2055-4826 # 0 0 2 4FEBRUARY/2015BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)

ELEIÇÃOGERAL E O VOTO BRASILEIRONO REINO UNIDO

ARTE DE PERNAMBUCOEmbaixada do Brasil em Londres apresenta nova exposição

SAUDADES DO VERÃOUm tour pela praia de Jericoacoara para esquecer o frio

DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO

Page 2: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

2 brasilobserver.co.uk | February 2015

SUMÁRIO4

12

8

18

6

14

10

21242630

ANA TOLEDODiretora de Operações

[email protected]

GUILHERME REISDiretor de Redação

[email protected]

ROBERTA SCHWAMBACHDiretora Financeira

[email protected]

EDITORES EM INGLÊSKate Rintoul

[email protected] Shaun Cumming

[email protected]

DESIGN E DIAGRAMAÇÃOJean Peixe

[email protected]

COLABORADORESAlec Herron, Alexandre de Freitas

Barbosa, Bianca Brunow, Christian Taylor, Franko Figueiredo, Gabriela

Lobianco, Juan Gabriel Gordín, Leticia Faddul, Marielle Machado, Michael

Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt,

Wagner de Alcântara Aragão

IMPRESSÃOSt Clements press (1988 ) Ltd,

Stratford, London [email protected]

10.000 cópias

DISTRIBUIÇÃOEmblem Group Ltd.

PARA ANUNCIAR [email protected]

020 3015 5043

PARA [email protected]

PARA SUGERIR PAUTA E COLABORAR

[email protected]

ONLINEbrasilobserver.co.uk

issuu.com/brasilobserver

facebook.com/brasilobserver

twitter.com/brasilobserver

EM FOCO Seleção Brasileira volta a Londres

CONEXÃO BR-UK Embaixador do Reino Unido no Brasil fala sobre os Jogos Olímpicos

PERFILValnei Nunes: lentes em zona de guerra

CONECTANDODe Cuba, uma visão sobre a reaproximação com os EUA

COLUNISTA CONVIDADO Alexandre de Freitas Barbosa sobre a China e a América Latina

BRASILIANCEA hora do ajuste fiscal na economia | O desafio a ser superado pela Petrobras

BRASIL GLOBALBrasileiros se preparam para votar na eleição geral britânica

GUIAArte de Pernambuco invade a Sala Brasil

DICAS CULTURAIS

COLUNISTAS

VIAGEM

LONDON EDITION

8

2118

10

24

É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

Page 3: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

3brasilobserver.co.uk | February 2015

Page 4: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

4 brasilobserver.co.uk | February 2015

EM FOCO

Sempre achei o Bra-sil um país fabuloso [...] Uma das coisas que achei mais surpreen-dente foi o Candomblé, que conheci em Salvador, uma cidade que é muito reveladora sobre o que é o Brasil

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) con-firmou em janeiro que a Seleção Brasileira irá enfren-tar o Chile em jogo amistoso a ser realizado no dia 29 de março, no Emirates Stadium, em Londres. Essa será a segunda partida da seleção na temporada, logo após o confronto contra a França, no dia 26 de março, no Stade de France.

Com capacidade para 60 mil pessoas, o Emirates Stadium sediou cinco jogos da Seleção Brasileira na primeira passagem do técnico Dunga, entre 2006 e 2010. Além disso, o time canarinho enfrentou a Escó-cia no local em 2011 (comandada por Mano Menezes, a equipe sul-americana venceu aquele amistoso por 2 a 0). A última vez em que o Brasil jogou na capital britâ-nica foi em 2013, contra a Rússia, no Stamford Bridge – aquele jogo terminou empatado em 1 a 1.

Na nova gestão de Dunga, esse será o segundo con-fronto com um rival sul-americano em campo neutro. Antes de encarar o Chile em Londres, o Brasil venceu a Argentina em Pequim pelo placar de 2 a 0.

O jogo contra o Chile será realizado às 15h. Brasil e Chile não se encontram desde as oitavas de final da Copa do Mundo de 2014, quando o time canarinho precisou das penalidades para avançar.

Integrantes dos programas de fidelidade da equipe do Arsenal têm prioridade na compra dos ingressos. As vendas começaram no dia 6 de fevereiro – valores dos ingressos variam entre £15 e £30.

SELEÇÃO BRASILEIRAVOLTA A LONDRES

Michael Palin, sobre o período em que esteve no Brasil para gravar uma série apresentada pela BBC, durante o evento Brazilian Diaries, organizado pelo Instituto de Estudos Latino Americanos da Escola de Estudos Avançados da Universidade de Londres (ILAS, em inglês)

g 20|21 de Fevereiro Sétima conferência da ABEP (Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesqui-sadores no Reino Unido) tem como tema central a internacionalização da ciência brasileira e os caminhos para o desenvolvimento econômico. Evento acontece no Imperial College London – ingressos entre £15 e £35.

g 23 de Fevereiro Professor Jaime Ginzburg, novo titular da Rio Branco Chair do King’s Brazil Institute, lidera debate sobre cultura e violência, analisando o cinema contemporâneo do Brasil e do Reino Unido. Evento na Somerset House é gratuito, mas exige registro.

g 24 de Fevereiro Peter Birle, diretor do Instituto Ibero-Americano de Berlim apresenta seminário sobre o papel do Brasil na integração e cooperação Latino-Americana. Evento no Strand Building do King’s College é gratuito e não há necessidade de se registrar previamente.

g 26 de Fevereiro Conferência do Instituto de Estudos Latino Americanos da Escola de Estudos Avançados da Universida-de de Londres vai analisar os dez anos da Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA). Entrada custa £15, £10 para estudantes.

NA AGENDA

Page 5: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

5brasilobserver.co.uk | February 2015

Economic Development in Latin America: Challenges for the Next Decade

Friday, 27 February 2015 at the Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, next to London Business School

• A Tale of Two Latin Americas: Finding the right balance to achieve equitable growth

• Entrepreneurship: How can it play a larger role in Latin America’s development

• Competitiveness in Latin America: How to close the gap with the developed world

Latin America Business Forumat London Business School

LABF.indd 1 02/01/15 18:26

The Latin America Business Forum is a platform that aims to strengthen the ties between the UK and Latin America by fostering the debate of key topics that make a di�erence in innovation, business, economics, government and society. The Forum brings together key players and in�uencers, thinkers and doers that contribute to preparing Latin America to take the leap to a developed economy.

Five keynote speakers and twelve panelists will share with us their vision about the future of Latin America.

Page 6: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

6 brasilobserver.co.uk | February 2015

COLUNISTA CONVIDADO

Por Alexandre de Freitas Barbosa g

AA realização do Fórum China-Celac (Co-munidade dos Estados Latino-America-nos e do Caribe) recebeu as reportagens de praxe da grande imprensa brasileira. Foi a primeira viagem exterior do novo chanceler brasileiro, Mauro Vieira. Equa-dor e Venezuela enviaram os seus presi-dentes “de pires na mão”, num contexto de queda dos preços do petróleo. A China, ao ocupar o “quintal” dos Estados Unidos, explica a reaproximação de Barack Oba-ma com Cuba. E assim por diante.

Mas o encontro, na primeira semana de janeiro, é apenas uma foto na pare-de. Precisamos seguir o longa-metragem que desemboca nas cenas do presidente Xi Jinping abrindo o Fórum e do pri-meiro-ministro Li Kegiang recebendo os hermanos latino-americanos.

O ano de 1994 funciona como uma espécie de ponto de partida. São criados o China Development Bank (CDB) e o China Ex-Im Bank. Em 1998, inicia-se a política chinesa do Going Global, de estímulo à internacionalização das em-presas estatais, agindo em consonância com os bancos de desenvolvimento e apoio ao comércio exterior. Em 2000, é lançado o Fórum China-África, quando no Grande Salão do Povo se estende o tapete vermelho para uma procissão de líderes africanos (48 ao total). Em 2004, Hu Jintao faz o seu périplo sul-america-no, enquanto os países da região dispu-tam entre si os polpudos investimentos chineses. Em 2008, o governo chinês di-vulga “A Política da China para a Amé-rica Latina e o Caribe” na onda do boom das commodities e da ampliação do co-mércio entre as regiões.

Em 2012, Wen Jiabao, então pri-meiro-ministro chinês, faz um discurso histórico na Cepal (Comissão Econô-mica para a América Latina e o Cari-be). Depois de mencionar a “civilização latino-americana, fruto do desenvolvi-mento histórico e do intercâmbio com as diversas civilizações do mundo”, ele tece as linhas da diplomacia da ascensão pacífica chinesa: parceria econômica, tecnológica e cultural com “outras” re-giões em desenvolvimento; e ação inte-grada com o objetivo de criação de uma “ordem multipolar” no âmbito geopolí-tico. De concreto, oferece um Fundo de Cooperação China-ALC e disponibiliza créditos especiais do seu Banco de De-senvolvimento.

Agora é a vez do presidente Xi Jinping dar continuidade à agenda es-truturada pela potência chinesa – um dos centros da nova economia-mundo capitalista – há pelo menos vinte anos. Aqui, política econômica e política ex-terna se combinam numa estratégia ge-opolítica para atuar em vários espaços do tabuleiro mundial.

Na reunião dos dias 8 e 9 de janeiro de 2015, foi definido o Plano de Coo-peração entre a China e a Celac para o

período 2015-2019 e assinada a Decla-ração de Pequim. Para além das previ-sões alvissareiras de crescimento do co-mércio e dos investimentos chineses na América Latina, o governo de Pequim ofereceu 6 mil bolsas de estudos para os membros da Celac, convidou mil lí-deres partidários para visitar a China e se comprometeu a organizar cursos de mandarim nas escolas fundamentais e de ensino médio da região.

No quesito investimentos, o foco foi infraestrutura, onde a China tem desen-volvido “grande capacidade nas áreas de produção, tecnologia e equipamentos”. O objetivo é contribuir para o desen-volvimento da América Latina, “em vez de apenas promover fluxos comerciais de recursos naturais e de energia de um país para o outro”.

E o que dizer dos países latino-ame-ricanos? A impressão é a de que atuam como figurantes rendidos de um rotei-ro definido no outro lado do Pacífico. A Celac, inaugurada na Venezuela, em 2011, foi rapidamente reconhecida pelo governo chinês. No discurso na Cepal, em 2012, foi a única entidade da região mencionada. Três anos depois, o fórum China-Celac – que congrega todos os pa-íses latino-americanos, inclusive Cuba, e serve de contraponto à OEA (Organi-zação dos Estados Americanos) – está criado. Cumpre o papel de estabelecer uma “parceria” com a América Latina, cujos detalhes são definidos no âmbito bilateral, ou seja, entre cada país indivi-dualmente e a China. É, assim, uma “co-operação pragmática”.

Em vez de assumir uma visão preci-pitada de que presenciamos uma nova forma de imperialismo, vale lembrar que – ao contrário dos Estados Unidos – a China não oferece um pacote fecha-do à América Latina. Assina tratado de livre-comércio com quem quer, como no caso de Chile, Peru e Costa Rica. Na Venezuela e no Equador, predomina a cooperação via “loans-for-oil” (emprés-timos em troca de petróleo). No Brasil, a cooperação bilateral se desenvolve no âmbito da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Cooperação e Concerta-ção (Cosban), havendo também os acor-dos firmados nos Fóruns dos Brics. No México, a relação é tensa, em virtude das medidas anti-dumping impostas pelo país às importações chinesas.

Seria o caso de perguntar se esta fragmentação deve-se ao desejo da Chi-na de “dividir para reinar”, ou se não é o próprio espelho da integração latino-a-mericana, onde os países têm diversos padrões de inserção externa sem uma efetiva perspectiva integracionista?

Alguns dados sobre as relações eco-nômicas entre a China e América Lati-na são reveladores. Entre 2001 e 2013, o comércio bilateral multiplicou-se 22 vezes. Quando se observam os saldos

comerciais por tipo de produto, ao longo do período, o resultado não dá margem para dúvidas: o saldo positivo latino-a-mericano em commodities saltou de 2,3 bilhões de dólares para 62,6 bilhões de dólares, ao passo que o déficit com a China em bens industrializados alcan-çou 130,7 bilhões de dólares em 2013, contra 7,5 bilhões de dólares em 2001. Em termos de investimentos externos diretos chineses, estes ainda são de pe-quena monta (porque os dados estão subestimados), mas vêm crescendo ra-pidamente, depois de 2010, nos setores de petróleo, energia, mineração, infra-estrutura e, inclusive, na indústria de transformação. O mais marcante, con-tudo, é o dado referente a empréstimos para o ano de 2010: os créditos chineses à região mostram-se superiores ao total das carteiras do Banco Mundial, BID e Eximbank dos Estados Unidos para os países latino-americanos.

Em síntese, a China já tem a sua polí-tica para a região e sabe muito bem o que quer e o que pode oferecer para a Amé-rica Latina. Do outro lado, resta saber se a América Latina existe em termos geopolíticos e econômicos, ao ponto de saber o que quer e como negociar com a China. Isto porque tem respondido aos movimentos da diplomacia chinesa de maneira fragmentada – cada país possui (quando muito) uma agenda própria – e pouco propositiva.

Do ponto de vista brasileiro, a agenda com a China, além da dimensão multila-teral – o país foi elevado à condição de “parceiro estratégico global” pela potên-cia asiática em 2012 – possui duas ou-tras dimensões: a regional e a doméstica. Apesar do superávit comercial com a China, o Brasil tem sido deslocado nos mercados dos parceiros latino-ameri-canos pelos produtos industrializados chineses, e vê suas cadeias produtivas encolhidas no mercado interno.

Tal como os chineses, precisamos combinar a política econômica com a política externa. Assinar acordos de li-vre-comércio com os países desenvol-vidos – hoje na pauta inclusive do go-verno, por meio do novo ministério da Fazenda, Joaquim Levy, dentre outros – é dar um tiro no pé. Significa asfixiar ainda mais o mercado interno e perder o papel de potencial dínamo da integração latino-americana.

A política externa brasileira – estru-turada pelo Itamaraty em diálogo com outros segmentos do governo e da socie-dade civil –, se não estiver subordinada à lógica da integração passiva, deve ser capaz de pensar na China como parceiro relevante nos fóruns multilaterais. Isso sem descuidar dos desafios que a eco-nomia, assim como o padrão de inser-ção externa, representa para nações com parque produtivo diversificado e tradi-ção de protagonismo regional e global.

Pequim tem política defini-da para o continente, mas

os países latinos reagem de maneira fragmentada e

pouco propositiva

CHINA E AMÉRICA LATINA: PARCERIA SUL-SUL?

g Alexandre de Freitas Barbosa é professor de

História Econômica e de Economia Brasileira do Instituto de Estudos

Brasileiros da USP e integrante do Grupo de

Reflexão sobre Relações Internacionais

Page 7: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

7brasilobserver.co.uk | February 2015

Page 8: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

8 brasilobserver.co.uk | February 2015

PERFIL

Cinegrafista brasileiro relembra os dias em que esteve na fronteira da Síria com a Turquia cobrindo os

conflitos armados da região e revela: “o envolvimento é inevitável”

Por Rômulo Seitenfus

LENTES EM ZONA DE GUERRA

VALNEI NUNES

Page 9: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

9brasilobserver.co.uk | February 2015

PParte da maior crise humanitária de nossa era se desenrola entre as cidades de Kobane e Suruç. A primeira, localizada no norte da Síria, na fronteira com a Turquia, tornou-se em setembro do ano passado alvo estratégico do grupo jihadista Estado Islâmico – o que agravou ainda mais a situação na região que já sofria com a guerra civil entre rebeldes e soldados do presidente sírio Bashar Al-Assad, iniciada em 2011. A segunda, do lado turco, é o des-tino de milhares de refugiados sírios, principalmente curdos – etinia com mais de 30 milhões de pessoas sem Estado próprio que se espalham principalmente por países como Irã, Turquia, Iraque, Síria e Armênia.

Foi naquela zona de guerra que o cinegrafista e fotógrafo brasi-leiro Valnei Nunes passou cerca de um mês entre setembro e outu-bro do ano passado, testemunhando a ofensiva do Estado Islâmico, a resistência por parte dos curdos e do exército estadunidense e o consequente deslocamento de milhares de cidadãos em busca de paz. Junto com o repórter Sergio Utsch, produziu uma série de reportagens para SBT, e alguns desses registros – fotografias e fil-magens – foram apresentadas na exposição “Displaced”, que abriu no dia 27 de janeiro na galeria The Defector’s Weld, em Londres.

A mostra retrata o drama dos refugiados sírios. Segundo a Agência da Onu para Refugiados (Acnur), quase a metade da população da Síria teve que abandonar suas casas por causa da violência e há mais de 3 milhões de pessoas refugiadas em ou-tros países. “O envolvimento é inevitável”, confessou Valnei Nunes em entrevista exclusiva ao Brasil Observer. No momento em que este texto era escrito, as notícias davam conta de que combatentes curdos haviam expulsado os jihadistas da cidade de Kobane. E a exposição, agora, segue para Frankfurt, na Alemanha, com o ob-jetivo de atingir o maior número de pessoas e arrecadar doações para as vítimas da guerra.

Parte da única equipe brasileira de reportagem na região de Kobane, Nunes é formado em Cinema e Vídeo, trabalhou em diversas funções da área, mas esteve sempre ligado aos direitos humanos – retratando questões indígenas e denunciando o tra-tamento do serviço público de saúde mental, por exemplo. Nesta entrevista, ele conta como foi a cobertura do conflito na fronteira entre Síria e Turquia.

Em que momento você se deu conta do tamanho do conflito?

Já tinha realizado coberturas interna-cionais bem difíceis, mas não esperava ta-manha gravidade. No quinto dia de cober-tura o deslocamento já era considerado a maior tragédia humanitária da história da Acnur (Agência da ONU para Refugiados). A situação só piorava e a jornada estava apenas começando. Só depois fiquei saben-do que fomos os únicos brasileiros nessa zona de guerra.

Houve algum impasse durante a cobertura?

Ocorreram muitos impasses. Em volta da cidade de Suruç, os encontros entre a milícia curda e o exército turco eram cada vez mais tensos. Em um dos protestos, está-vamos a dois metros da polícia quando, de súbito, o exército turco iniciou um ataque contra todos que estavam em volta. Jorna-listas, fotógrafos e a milícia curda se dis-persaram pelo efeito do gás lacrimogêneo. Entramos no carro e iniciamos um retor-no imediato em direção a Suruç. Durante o percurso a estrada estava bloqueada por tanques e militantes, não podíamos avan-çar e resolvemos esperar no meio da estra-da, num local distante dos conflitos. Ten-tava filmar de longe um homem rezando no meio dos ataques quando, de repente, ouvi um vácuo e uma explosão atrás de mim; era um morteiro caído há menos de 200 metros do nosso carro – éramos o alvo. Tudo indica ter sido o exército turco, mas a cidade de Kobane e o Estado Islâmico esta-vam logo ali, todos contra todos, e a amea-ça vinha de todos os lados.

Os curdos acusam o Estado turco de fi-nanciarem o Estado Islâmico. A Turquia, além de manter preso há mais de 15 anos Abdullah Ocalan, o líder curdo do Partido do Trabalhadores (PKK), considera os cur-dos uma ameaça territorial. No caminho de volta do primeiro protesto, senti uma dor progressiva no ombro esquerdo. Na manhã seguinte mal segurava a tampa da lente da câmera. Em meu diagnóstico tive ombro esquerdo deslocado. Eu tinha mais oito dias de cobertura, não havia tempo de ir ao hospital. No dia seguinte, fui em um daqueles oráculos milagrosos do Oriente Médio. Era uma velhinha curda que en-quanto retorcia o meu corpo, me rezava e beijava; depois colou dois adesivos no meu ombro que ardiam como queimadura na pele. Com o bem sucedido tratamento, melhorei em dois dias. Mesmo com o braço deslocado continuava a filmar e fotografar. Foi bem difícil.

Vocês contaram com algum tipo de proteção?

De fato, não. Toda a imprensa interna-cional que estava lá se sentiu ameaçada, não havia como saber de onde viria o ata-que. Me recordo que até o carro de reporta-gem da BBC, com uma equipe grande, foi atacado violentamente pelo exército turco. Era uma situação caótica.

Como foi lidar com a situação de guerra? Em algum momento você se

viu envolvido emocionalmente com os refugiados?

Teve uma criança em especial, de apro-ximadamente quatro anos, que estava mo-rando dentro de uma das lojas que foram desativadas para abrigar os refugiados. Lembro que tinha uma tangerina no bolso e entreguei ao garoto, que mordia o meu braço enquanto eu descascava a tangerina; ele estava faminto. Passei a apanhar comi-da do hotel onde eu estava hospedado para levar para as crianças dessa loja. Lembro dos refugiados estarem famintos. A ima-gem dos refugiados chegando na fronteira era de proporções bíblicas: milhares de pes-soas famintas, empoeiradas e desidratadas. Numa das mesquitas que serviam de aloja-mento para os refugiados, uma adolescen-te, Muna, que tinha 15 anos, estava com o corpo todo queimado e aguardava a chega-da dos remédios havia dez dias.

Mesmo em situações tristes, pode haver beleza nas imagens. Quais são suas lem-branças fotográficas mais marcantes?

Teve uma ocasião em que fui a uma praça onde o caminhão da Acnur costuma-va distribuir a única refeição do dia para as famílias. Uma multidão de crianças se espremiam na fila. Entrei no caminhão e, da janela, perto de uma enorme panela de carne, via uma aglomeracão de crianças de todas as idades se empurrando com bal-des vazios nas mãos para pegar um lugar melhor na fila. Muitas daquelas crianças precisavam alimentar entre 15 a 20 pes-soas por dia. Naquela praça que intitulei de “Jardim dos Refugiados”, por mostrar dezenas de tecidos coloridos de mulheres curdas espalhados entre arbustos, vi uma beleza inesquecível, apesar de toda aquela situação triste.

O que o levou a realizar a exposição?

Dois motivos. Primeiro a necessidade de que pessoas de outros lugares conhe-çam a história do povo mais afetado pela guerra: os curdos. Maior etnia do planeta sem um Estado reconhecido, eles vivem em diferentes regiões do Oriente Médio e, apesar de serem muçulmanos, a mulher é respeitada, o uso do véu não é obrigatório, defendem a democracia e tanto o homem quanto a mulher tem os mesmos direitos. O outro é a necessidade de doações para as famílias que estão em situação de aban-dono. Lembro que não tinha barraca para todos que chegavam; famílias inteiras dor-miam encostadas nos muros dos acampa-mentos aguardando alojamento. Na expo-sição, 20% das vendas das obras vão para as famílias dos refugiados.

Você pretende continuar cobrindo zonas de conflitos?

Acho que faço um bom trabalho em situações extremas. Enquanto houver con-flitos acontecendo, a responsabilidade de um comunicador sempre será a força de ex-pressão necessária para noticiar a realidade compondo uma olhar crítico e despretensio-so. Devo voltar aos campos ainda este ano com outro projeto que está em andamento.

VALN

EI N

UN

ES

Page 10: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

10 brasilobserver.co.uk | February 2015

BRASIL GLOBAL

ÀS URNAS DO REINO UNIDOBrasileiros com cidadania britânica se preparam para exercer direito ao voto na eleição geral de

maio; acirramento do debate sobre imigração afeta pouco a comunidade brasileira

Por Guilherme Reis

OO ano de 2015 começou em clima de campanha eleitoral no Reino Unido. A eleição geral do dia 7 de maio significa que um novo Parlamento será eleito e, a partir dele, se formará um novo governo, que vai indicar quem será o primeiro-ministro britânico até 2020.

Diante das discussões sobre como será esse novo governo – provavel-mente formado por uma coalizão, já que nenhum dos dois maiores parti-dos (Conservador e Trabalhista) pa-rece capaz de conquistar a maioria absoluta dos 650 assentos da Câmara dos Comuns – a grande maioria dos brasileiros que vivem no Reino Unido

acompanha o desenrolar dos debates sem poder de interferência direta. Mas existem aqueles que poderão exercer seu direito ao voto.

Podem votar na eleição geral maio-res de 18 anos que nasceram em um país da Commonwealth ou na Repú-blica da Irlanda e que hoje tem resi-dência no Reino Unido. Cidadãos da União Europeia e de outros territórios só estão qualificados se tiverem cida-dania britânica.

Não se sabe ao certo quantos bra-sileiros naturalizados comparecerão às urnas em maio, pois o voto no Reino Unido não é obrigatório e não há esta-

tísticas sobre o total de pessoas que se encaixam nesse perfil. Mas, segundo informações conseguidas pelo Brasil Observer junto ao Home Office, entre 1990 e 2013 cerca de 10,5 mil brasi-leiros foram naturalizados ou regis-trados como cidadãos britânicos. Isso não quer dizer que todos têm direito ao voto, pois muitos podem não viver mais no Reino Unido, mas é o indica-dor mais relevante disponível.

De qualquer maneira, é uma parti-cipação pequena se comparada com o tamanho da comunidade brasileira em território britânico. Estimativa feita pela Embaixada do Brasil em Londres

aponta que 137 mil brasileiros vivem no Reino Unido. Para a associação Casa do Brasil, que presta uma série de serviços à comunidade brasileira, o número real pode ser mais que o do-bro disso: cerca de 300 mil.

Fator determinante para que o número de brasileiros que vivem no país seja subestimado é que muitos possuem dupla nacionalidade e en-tram no Reino Unido usando passa-porte de países europeus. Dessa ma-neira, não são contabilizados como brasileiros nos registros britânicos. Outro fator que contribui com isso é a própria ilegalidade.

DIV

ULG

ÃO

À moda antiga:nada de urna eletrônica

Page 11: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

11brasilobserver.co.uk | February 2015

EXERCÍCIO DO VOTO

A reportagem do Brasil Observer conversou com oito brasileiros que, registrados como ci-dadãos britânicos, se preparam para votar em maio. Em média, esses eleitores têm 48 anos, vivem no Reino Unido há 15 e já votaram pelo menos duas vezes no país – seja em eleição lo-cal ou nacional. Quatro deles afirmaram ainda não ter definido em quem votar; dois declara-ram voto no partido Trabalhista; o Green e o Liberal-Democrata tiveram a preferência de um entrevistado cada.

Diferentemente do Brasil, onde há voto direto para presidente, o eleitor britânico vota no candi-dato à Membro do Parlamento referente à sua re-gião – é o chamado voto distrital. O Reino Unido é divido em 650 distritos eleitorais, e na eleição geral o candidato que conseguir a maioria dos votos em cada um vai para a Câmara dos Comuns.

Para formar um governo de maioria, um partido tem de vencer em 326 distritos. Se não houver maioria absoluta, dois ou mais partidos devem se juntar para formar um governo de co-alizão, como o atual, entre os partidos Conserva-dor e Liberal-Democrata. Há ainda a possibili-dade de formar um governo de minoria, e se não houver acordo entre os partidos o Parlamento é dissolvido para nova eleição.

O primeiro-ministro é o líder do partido que obteve maioria, ou o líder do maior partido em uma coalizão. Com base nas pesquisas de inten-ção de voto, o próximo provavelmente será ou o atual primeiro-ministro David Cameron (Con-servador) ou Ed Miliband (Trabalhista).

“Tanto no Brasil quanto aqui, tento votar le-vando em conta o que considero melhor para o país naquele momento em que a eleição aconte-ce, com base nas informações que disponho”, co-mentou a jornalista Maria Eduarda Lafetá Johns-ton, que vota no distrito de Sutton and Cheam, hoje representada pelo Liberal-Democrata Paul Burstow. Para Maria Eduarda, “a economia é uma das minhas prioridades, mas também os programas sociais, escolas e hospitais”.

Luiz Carlos Chagas, gerente de projetos cul-turais da Embaixada do Brasil em Londres, vota no distrito de Greenwich and Woolwich, que desde 1997 é representado pelo Trabalhista Nick Raysnford. “Levo em consideração as propostas políticas de relevância direta para a área que vivo em Londres, e os possíveis benefícios para os tra-balhadores, sejam eles estrangeiros ou não”, afir-mou Luiz Carlos.

Já para o casal Ivanclei de Oliveira e Luciane Freitas da Silva Oliveira, que votam em Birmin-gham Edgbaston, representada pela Trabalhista Gisela Stuart, os valores de vida dos candidatos têm peso determinante, assim como a posição sobre imigração. “O voto do estrangeiro se tor-nou uma arma e uma boa fatia a ser conquistada pelos políticos. O estrangeiro passa a ter voz”, ar-gumentou Ivanclei.

IMIGRAÇÃO EM DEBATE

Todos os eleitores ouvidos pelo Brasil Ob-server se mostraram contrários ao discurso anti-imigração que tomou conta do noticiário britânico por conta da ascensão do UKIP, par-tido de extrema direita que defende, inclusive, a saída do Reino Unido da União Europeia.

Esse, aliás, é um debate que os brasileiros, como parte de uma comunidade imigrante, têm de acompanhar mesmo que não tenham direito ao voto. É a opinião do conselheiro de política da Embaixada do Brasil em Londres,

Jão Marcos Paes Leme, que assegura, porém, que “o debate sobre imigração afeta pouco a comunidade brasileira”.

Segundo Paes Leme, não há por parte das autoridades britânicas o objetivo específico de controlar a entrada de brasileiros. “O problema maior para o Reino Unido – se é que isso é um problema – é que como membro da União Eu-ropeia deve acolher qualquer cidadão do bloco. Não há nada que impeça um cidadão da União Europeia de se mudar para cá. Isso exerce pres-são na infraestrutura do país, nos transportes, nos benefícios sociais, etc. E gera um debate do-méstico. Os principais partidos respondem de maneira distinta a essa pressão. Há quem diga claramente, como os liberais, que isso é uma boa coisa para a economia. Mas essa preocupação é, sobretudo, em relação aos cidadãos europeus, tanto que existe o debate de sair da União Euro-peia. Mas até os mais radicais dizem que mesmo que sair da União Europeia, os que já estão aqui não tem nada a temer”, disse.

Opinião semelhante tem a diretora executiva da London Help 4U, Francine Mendonça. “Muitos britânicos se incomodam com o voto e também com o estrangeiro em geral; pessoas mais con-servadoras. Mas também tem muitos britânicos que apreciam o voto de estrangeiros, pois são os estrangeiros que estão construindo uma Inglaterra diferente, com mais sabores, culturas e cores. Não acredito que o debate sobre imigração levará o Rei-no Unido a tomar alguma medida em relação ao visto de entrada para brasileiros”, afirmou.

Os fatos comprovam que a grande maioria dos brasileiros chega ao Reino Unido com si-tuação regularizada – com vistos específicos ou documentos e comprovantes necessários para entrar como turista.

Entre 2003 e 2013, o número de turistas brasi-leiros que vieram ao Reino Unido cresceu 360%. Só em 2013, último ano registrado até agora pelo Visit Britain, 257 mil turistas do Brasil visitaram Inglaterra, Escócia e o País de Gales. Esses viajan-tes deixaram 277 milhões de libras. Em uma lista de 65 países, o Brasil é 23º emissor de turistas e fica em 20º no ranking de visitantes que mais gastam.

Segundo dados da Embaixada do Brasil em Londres conseguidos pela reportagem, de julho de 2013 a junho de 2014, houve 932 inadmissões de brasileiros no Reino Unido – quando são im-pedidos de entrar e mandados de volta ao Brasil. Esse número é menos da metade do registrado em 2010, quando 2.110 foram inadmitidos. Em relação a deportações, houve queda 765 em 2010 para 190 em 2014.

Em relação aos vistos britânicos concedidos aos brasileiros, quase 100% é de estudo, de acordo com o Home Office. De outubro de 2013 a setembro de 2014, foram concedidos 2.316 vistos, um aumento de 42% em relação ao ano anterior. Desses, 2.232 foram de estudante, um aumento de 70% em re-lação ao mesmo período entre 2012 e 2013. Com isso, o Brasil alcançou o segundo lugar no ranking de países para os quais foi concedido o maior nú-mero de vistos de estudante pelo Reino Unido. Em primeiro ficou a China, com 2.286.

Esse aumentou aconteceu, em grande parte, pelo sucesso do programa do governo federal bra-sileiro Ciência Sem Fronteiras – o Reino Unido é o segundo destino mais popular, logo atrás dos EUA.

Apesar da influência do UKIP no debate elei-toral deste ano, o tema imigração deve perder rele-vância para outros temas mais pertinentes na vida de quem mora no Reino Unido. Para o diretor do King’s Brazil Institute, Anthony Pereira, “nenhum tema será mais importante do que a economia e o estado do NHS (sistema público de saúde)”.

DIV

ULG

ÃO

Entre os países de origem dos eleitores imigrantes no Reino Unido, os dois primeiros são Índia e Paquistão

Eleitorado imigrante será crucial, diz pesquisa

Estudo realizado pela Universidade de Manchester e pela Migrants Ri-ghts Network aponta que a parte do eleitorado formada por imigran-tes será crucial na eleição geral de 2015 no Reino Unido. Um em cada dez eleitores será imigrante, e muitos mais serão filhos de imigrantes, segundo a pesquisa. Além disso, ao menos 70 distritos marginais po-dem ter um grupo coeso de eleitores que não nasceram em território britânico. Leia a seguir os principais pontos do estudo:

g Aproximadamente 4 milhões de pessoas na Inglaterra e no País de Gales que nasceram em países estrangeiros poderão votar na eleição geral de maio. Em 2010, esse número era de cerca de 3,5 milhões.

g Dois distritos – East Ham e Brent North – devem se tornar os primei-ros a terem a maioria do eleitorado nascida em países estrangeiros. Em outros 25 essa quantia deve chegar um terço do eleitorado, e a pelo menos um quarto em outros 50 distritos.

g A maioria desses eleitores mora em Londres e na região de West Mi-dlands, e podem mudar o equilíbrio de poder em áreas marginais.

g Eleitores imigrantes não formam um bloco único, mas padrões de votação apontam que estão mais sujeitos a optarem por partidos que são bem vistos em relação à igualdade racial e questões imi-gratórias.

g Entre os países de origem dos eleitores imigrantes, os cinco primei-ros são Índia (615 mil), Paquistão (431 mil), República da Irlanda (297 mil), Bangladesh (183 mil) e Nigéria (182 mil).

g Para mais informações acesse www.migrantsrights.org.uk.

Page 12: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

12 brasilobserver.co.uk | February 2015

CONEXÃO BR-UK

‘O RIO REALIZARÁ OLIMPÍADAS FANTÁSTICAS’, DIZ EMBAIXADOR DO REINO UNIDO NO BRASIL

Em entrevista ao portal oficial do Rio 2016, Alex Ellis analisa legado dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e ressalta parcerias criadas pelos governos brasileiro e britânico

Por Ana Cláudia Felizola

MMesmo com a experiência de já ter sediado duas Olimpíadas, em 1908 e 1948, a cidade de Londres foi alvo de desconfiança ao ser escolhida para re-ceber os Jogos de 2012. Uma das ale-gações era de que a capital britânica jamais seria capaz de superar a organi-zação dos Jogos de Pequim, realizados em 2008. O desafio foi superado e a ci-dade tornou-se a primeira do planeta a sediar três vezes o evento.

As vantagens conquistadas para a população continuam a ser contabili-zadas. Da revitalização de áreas aban-donadas até o incremento no turismo – que fez com que, em 2013, Londres ultrapassasse Paris pela primeira vez como a cidade mais visitada do mun-do –, diversos foram os legados dei-xados pelos Jogos Olímpicos e Parao-límpicos. Para o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, algumas das mais importantes conquistas têm a ver com a mentalidade da população: o trabalho voluntário, por exemplo, cresceu 40% após o evento. Além dis-so, a visão da sociedade em relação aos deficientes físicos também foi positi-vamente afetada.

Em entrevista ao portal oficial do governo brasileiro sobre os Jogos Olím-picos e Paraolímpicos de 2016, o repre-sentante britânico comenta diversos legados proporcionados pelo maior evento esportivo do mundo. E diz: “O Rio realizará Olimpíadas fantásticas”.

Como era a expectativa antes da realização dos Jogos?

Quando Londres foi nomeada como cidade-sede, em 2005, muita gente se animou e festejou a notícia. Por outro lado, houve também reações negativas e comparações com outras cidades-se-de. Alguns setores da sociedade, princi-palmente a imprensa britânica, diziam que Londres não poderia superar Pe-quim, mas no final, provamos que es-tavam errados nas suas suposições. Ine-vitavelmente houve muita ansiedade, inclusive sobre transporte, na reta final das preparações, antes da abertura ofi-cial. É normal e compreensível.

Essa visão inicial mudou após a realização dos Jogos?

Apesar dos nervos antes do evento, o país inteiro viu e participou do sucesso dos Jogos de Londres. É impossível negar que eles foram benéficos para a cidade, a po-pulação, o comércio e para o Reino Unido. Os Jogos foram memoráveis e as pessoas reconhecem isso.

Os Jogos Paraolímpicos contaram com um grande público em todas as provas. Isso surpreendeu a organização do evento?

Surpreendeu, pois foram quebrados to-dos os recordes de bilheteria. Cerca de 2,7 milhões de ingressos foram vendidos, sendo que a maioria dos eventos se esgotou. Que-bramos todos os recordes relacionados à transmissão pela televisão e de repercussão em mídias sociais. Porém, o que mais me surpreendeu não foi o sucesso de bilheteria, mas, sim, o impacto que os Jogos Paraolím-picos tiveram na percepção dos britânicos sobre as pessoas com deficiência.

Poderia citar um exemplo?Pesquisa da British Paralympic Asso-

ciation (BPA) revelou que os Jogos Para-olímpicos tiveram um efeito profundo nas crianças de todo o Reino Unido: cerca de sete entre dez crianças pesquisadas disse-ram que os Jogos mudaram a forma como elas enxergavam os deficientes físicos. Essa é uma grande conquista e mostra como um evento esportivo pode ser transfor-mador. Nesse sentido estabelecemos um acordo desde 2011 entre o governo do Reino Unido, o Comitê Paralímpico Bra-sileiro e o Ministério do Esporte para que nossos jovens atletas paraolímpicos e os brasileiros pudessem competir juntos. Em setembro do ano passado, os atletas brasi-leiros participaram dos Jogos Escolares de Sainsbury´s, na Inglaterra. Já em novem-bro, a delegação britânica participou das Paraolimpíadas Escolares do Brasil, sendo a única delegação estrangeira.

Quais outros legados foram percebidos na cidade e no país?

Temos várias áreas em que o legado

de Londres é explorado, entre elas o cres-cimento econômico. Os Jogos renderam 14,2 bilhões de libras em investimentos e parcerias comerciais ao Reino Unido e atingiram a sua meta em dois anos, sen-do que o objetivo inicial era atingir 11 bilhões de libras em quatro anos. Outro aspecto foi a oportunidade de usar o espí-rito olímpico e paraolímpico para unir as comunidades na crença de que o esporte pode unir as pessoas para melhorar a so-ciedade. Pudemos contar com voluntários dentro das arenas, os Game Makers (foto), e também nas ruas auxiliando turistas, os Team London Ambassadors. O trabalho voluntário em geral, que vinha diminuin-do desde 2005, cresceu 40% após os Jogos.

Como os Jogos influenciaram o turismo?

O turismo em Londres, que já era alto, não foi nada subestimado e recebeu uma grande atenção desde o início do planeja-mento. O resultado foi excelente: em 2013, Londres teve um aumento de 1,3 milhão de turistas internacionais, batendo um re-corde histórico e ultrapassando Paris ao se tornar a cidade mais visitada do mundo.

Algumas áreas da cidade foram revitalizadas para os jogos. Em que isso alterou a realidade das comunidades locais?

Tanto para Glasgow em 2014 (Com-monwealth Games) quanto para Londres em 2012, foi elaborado um plano de le-gado para trabalhar o uso das estruturas olímpicas pela comunidade local, auxi-liando no desenvolvimento de novos atle-tas, estimulando ações profissionalizantes e educativas, e proporcionando mais um espaço de lazer e esportes para a comuni-

dade local. Especialmente no leste de Lon-dres, onde está o Parque Olímpico, o resul-tado foi excelente. Para citar algumas das melhorias: 3.000 árvores plantadas, re-moção de mais de 15 toneladas de lixo de rios, canais e parques, mais de 7.000 m² de novos jardins e a revitalização de mais de 50 locais abandonados. Essa mudança na qualidade de espaços que, anteriormente, não eram atrativos auxiliou ainda outros setores, como turismo, infraestrutura e saúde. Além disso, os 2.800 apartamentos usados como hospedagem para os atletas nas Olimpíadas foram transformados em apartamentos residenciais.

Como o senhor analisa a preparação do Rio de Janeiro?

Fiquei extremamente impressionado com o sucesso das organizações da Copa do Mundo. No fim, o Brasil mostrou que realiza com excelência eventos de grande porte. Os Jogos do Rio têm tudo para ser um sucesso absoluto e os atletas britânicos estão muito animados com o que já viram da cidade em visitas até hoje. Estou con-vencido de que o Rio realizará Olimpíadas fantásticas. As paisagens das áreas olím-picas são de beleza incomparável, nenhu-ma cidade-sede pode competir com o Rio nesse quesito. Medalhistas das Olimpíadas de Londres, como Pete Reed (remo), Luke Patience (vela) e Tom Daley (saltos orna-mentais), já passaram pelo Rio de Janeiro participando de visitas técnicas e todos fi-caram maravilhados com a beleza.

Que experiências Londres pode transmitir para o Rio?

Temos uma parceria ótima com o go-verno brasileiro, o governo do estado, a prefeitura do Rio e com o Comitê Orga-nizador. Desde 2009, mais de 40 departa-mentos do governo do Reino Unido e do Brasil têm se engajado em trocas relacio-nadas às Olimpíadas, contando com ao menos 160 missões internas e externas, workshops, seminários e eventos. Em 2012, o governo brasileiro, em parceria conosco, criou o “Programa de Observadores Go-vernamentais dos Jogos Olímpicos Londres 2012”, em que 300 participantes foram a Londres com objetivo de estudar e ana-lisar todas as ações desenvolvidas. Após os Jogos, passamos o bastão oficialmente para o Brasil e temos realizado diálogos olímpicos e paraolímpicos com regulari-dade, ocasiões em que os organizadores de Londres compartilham sua experiência e seu legado com os organizadores dos Jogos Rio 2016. Nunca houve uma parceria tão próxima entre governos de dois países e de suas cidades-sede como agora.

DIV

ULG

ÃO

Vinicius e Tom são os mascotes do Rio 2016; ingressos para os Jogos já estão à venda em www.rio2016.com

Page 13: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

13brasilobserver.co.uk | February 2015

Are you consideringdoing business in Brazil?

The world has finally discoveredthe potential of this great countryand how it plays a leading role inLatin America.

However, what does it take tosucceed in this complex market?How to deal with local challengeswhich can constitute realobstacles to companies?

That is where we come in:developing and implementingstrategic plans for the internationalexpansion of our clients.

Learn more about our company at www.suriana.com.br

www.suriana.com.br

Page 14: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

14 brasilobserver.co.uk | February 2015

BRASILIANCE

A VEZ DO AJUSTE FISCALIgnorando o insucesso da austeridade na Europa, Dilma Rousseff resolve seguir a mesma linha e

anuncia ‘pacote de maldades’, saciando o mercado financeiro, e desagradando a maioria dos brasilei-ros que recentemente a reelegeram

Por Wagner de Alcântara Aragão

EEm seu discurso de posse para o se-gundo mandato, no dia 1º de janeiro, a presidenta Dilma Rousseff assegurou que “nenhum passo atrás” seria dado em relação às conquistas sociais dos úl-timos 12 anos – os quatro primeiros dela própria e os oito anteriores de Luís Iná-cio Lula da Silva. A afirmação estava em sintonia com a promessa de campanha: “nem que a vaca tussa”, dissera sobre a possibilidade de os direitos dos traba-lhadores serem afetados em um novo governo. Menos de 20 dias depois de iniciada a nova gestão, Dilma contrariou categoricamente a fala da posse. Se con-tinuar nessa toada, a promessa de cam-panha também pode ir por água abaixo.

No dia 19 de janeiro, o novo Minis-tro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou um conjunto de medidas com o objeti-vo de aumentar a arrecadação e cortar as despesas da União. O tal “ajuste fis-cal” já era aguardado desde o final de dezembro, quando – para espanto dos que esperavam um segundo governo de Dilma mais progressista –, a presidenta confirmou o ortodoxo Levy no cargo. O leque de medidas inclui aumento da carga tributária sobre o crédito pessoal e sobre produtos, como combustíveis, cosméticos e importados em geral.

Essas medidas se somam a outras tomadas ainda no final de 2014, que tor-naram mais rígidas as concessões de be-nefícios como seguro-desemprego, abo-no salarial, auxílio-doença, pensão por morte e seguro-defeso pago a pescadores. Também se junta ao pacote uma medida provisória assinada por Dilma que rea-justa em apenas 4,5% o teto de isenção do Imposto de Renda – índice inferior à inflação anual de 6,41% registrada em 2014 (o Congresso havia aprovado um reajuste de 6,5%, mas a presidenta vetou). Ainda na semana do anúncio do pacote, o Banco Central colocou a cereja no bolo: elevou a taxa básica de juros para 12,25%, a maior desde julho de 2011.

Com as medidas definidas em janei-ro, o governo federal espera elevar em R$ 20,6 bilhões a arrecadação de tributos em 2015. Com a restrição aos benefícios anunciada em dezembro, a estimativa é de que R$ 18 bilhões sejam cortados das despesas da União. Como Levy pretende alcançar R$ 60 bilhões, ainda faltam ou-tros R$ 22 bilhões.

A julgar pela linha de pensamento do titular da Fazenda, pela sua trajetória e, sobretudo, pelo que tem sinalizado neste início de governo, o aperto nas contas pú-blicas vai se concentrar em medidas que

afetam principalmente os assalariados e a renda da classe média. Vai sobrar tam-bém para o setor produtivo. As grandes fortunas e os rentistas do mercado finan-ceiro, entretanto, devem ser poupados.

Para o mercado financeiro, o pacote é um bom indicativo de que o governo Dilma estará mais comprometido com a responsabilidade fiscal neste segundo mandato. As medidas tomadas até agora visam uma a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2015. Superávit primário é aquilo que o governo economiza para o pagamento de juros da dívida pública – formada, basicamente, pelos títulos pú-blicos vendidos no mercado financeiro.

TAMANHO DO BURACO

O setor público consolidado – go-vernos federal, estaduais, municipais e empresas estatais – registrou déficit pri-mário de R$ 32,5 bilhões em 2014. Em 2013, houve superávit de R$ 91,306 bi-lhões. Foi a primeira vez, desde o início da série histórica do Banco Central, em dezembro de 2001, que o setor público encerrou o ano com déficit.

Já o Governo Central – Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – encerrou 2014 com déficit pri-mário de R$ 17,2 bilhões. Também foi a primeira vez que o resultado primário fi-cou deficitário desde o início da série his-tórica atual, que começou em 1997. Com isso, não foi cumprida a meta alterada de superávit primário para 2014, que era R$ 10,1 bilhões. A meta original, de R$ 80,7 bilhões, foi reduzida em razão da queda na arrecadação e aumento de gastos.

Os dados referem-se ao déficit pri-mário porque trata da diferença entre receitas e despesas não financeiras, ex-cluindo receitas e gastos com juros. Com o déficit, faltou dinheiro para pagar os ju-ros da dívida, cujos gastos chegaram a R$ 311,4 bilhões em 2014 (6,07% do PIB), contra R$ 248,9 bilhões (5,14% do PIB) em 2013. O déficit nominal, formado pelo resultado primário mais as despesas com juros, alcançou R$ 343,9 bilhões no ano passado (6,7% do PIB).

Para o chefe adjunto do Departa-mento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, a menor atividade econômica do país e a consequente queda na arrecadação tributária con-tribuíram para os resultados negativos, assim como as desonerações concedi-das a setores específicos da economia pela presidenta Dilma Rousseff.

“Em 2013, tivemos variação de 2,5% do PIB. Em 2014, não sabemos ainda, mas o resultado será significativamente inferior. Isto implica menor arrecadação de impostos. Outro fator são as desone-rações, que a Receita Federal estima em pouco mais de R$ 100 bilhões. Por fim, o crescimento das despesas em investi-mentos”, afirmou.

Diante disso, quase ninguém discu-te que o Brasil realmente precisa de um ajuste. O pacote fiscal sozinho, porém, não garante que haverá uma retomada do crescimento da economia. O que o governo espera, agora, é reconquistar a confiança do mercado e despertar o “es-pírito animal” do empresariado para que o setor privado volte a investir e, conse-quentemente, aqueça a produção brasi-leira – já que aumentar o investimento público parece ter sido opção descartada.

CONTRAMÃO

Exemplos de fora do Brasil justifi-cam o questionamento da eficácia dessas medidas. O ajuste fiscal que o governo Dilma começa a colocar em prática está na cartilha que é adotada pelos 19 países da Zona do Euro desde 2009, quando os efeitos da crise econômica global eclodi-da no ano anterior, nos Estados Unidos, espalharam-se e intensificaram-se. De lá para cá, a economia europeia alterna exercícios de recessão e estagnação, com altos índices de desemprego (principal-mente entre os jovens) e eclosão de con-flitos sociais – acentuados, em alguns pa-íses, por atitudes xenófobas de parte da população que culpa os imigrantes pelos desequilíbrios.

As consequências da austeridade europeia chegam a tal ponto que auto-ridades monetárias começam a se in-quietar. Dias depois do ajuste anuncia-do no Brasil, o Banco Central Europeu comunicou medidas de afrouxamento com o intuito de reaquecer a atividade econômica e reverter o processo de de-flação em curso no bloco.

Dos Estados Unidos veio outra mos-tra de como a nova equipe econômica de Dilma parece se posicionar na contra-mão. No tradicional discurso de início de ano ao Congresso e à nação, o presi-dente Barack Obama defendeu a adoção de medidas governamentais de estímulo à geração de emprego e universalização de direitos, como saúde e seguridade so-cial. Obama falou em baixar os impostos que atingem os trabalhadores e auxiliar as famílias que não têm condições de pa-

gar pelos serviços básicos. Para bancar isso, sinalizou que poderá aumentar os impostos das famílias mais ricas.

Nesse sentido, e diante da realidade econômica desigual da sociedade brasi-leira, apesar dos avanços recentes, o Bra-sil poderia colocar em prática um impos-to sobre grandes fortunas – mecanismo previsto na Constituição de 1988, mas nunca regulamentado pelo Congres-so. Segundo o trabalho “Imposto sobre grandes fortunas”, publicado pelo eco-nomista Amir Khair em 2003, uma taxa de 1% sobre a riqueza declarada à Recei-ta Federal por pessoas físicas e jurídicas nesse ano teria proporcionado uma re-ceita fiscal de 1,89% do PIB, no mínimo.

Outra medida seria corrigir distor-ções tributárias. Um exemplo é o paga-mento de 27,5% de Imposto de Renda tanto por quem recebe um salário men-sal de R$ 4,08 mil quanto por aqueles remunerados com R$ 408 mil, segundo tabela de faixas de rendimentos em vigor.

REPERCUSSÃO

O plano de ajuste é noticiado na mí-dia hegemônica num tom de mal neces-sário. As principais emissoras de televi-são e rádio do país e os sites dos maiores jornais comerciais, que costumam ser ri-gorosos quando se trata de avaliar medi-das vistas como populistas, pouparam o governo de críticas por conta dos efeitos colaterais do novo pacote.

Na oposição, que tem o PSDB como principal representante, as críticas se focaram mais na ausência de medidas que diminuíssem os gastos da União. Um dos senadores do partido, Álvaro Dias, falou na necessidade de “reforma administrativa”. A oposição à esquer-da condenou o sacrifício imposto pelo pacote aos trabalhadores. Candidata a presidente nas eleições passadas pelo Psol, Luciana Genro ressaltou que “até Obama”, perante o Congresso dos EUA, defendeu ampliar os tributos sobre os ricos para aliviar os mais pobres. Já Dilma, escreveu a socialista, “prefere aumentar os impostos para o povo assa-lariado a taxar um pouco os mais ricos”.

As centrais sindicais – quase todas elas apoiaram Dilma nas eleições de 2014 – rechaçaram as medidas e mar-caram mobilizações ainda para o final de janeiro e para fevereiro. Em nota, condenaram a restrição de concessão de benefícios previdenciários. “Em nome de ‘corrigir distorções e fraudes’, atacam e reduzem direitos”, afirmam.

Page 15: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

15brasilobserver.co.uk | February 2015

g Há diferença entre o “Ajuste Fiscal” no Brasil e a “Austeridade” na Eu-ropa? O Brasil corre o risco de so-frer as mesmas consequências da austeridade europeia? A concepção do ajuste é a mesma na Europa e na América Latina. Tra-ta-se, basicamente, de uma guerra de classes contra o povo, pois essa política garante super-lucros para as multinacionais e os monopólios nacionais, e salários baixos e cortes de investimentos em saúde e edu-cação para os pobres e as classe médias empobrecidas. Nós latino-americanos temos a vida, a economia e a política cominada pelas finanças desde sempre, razão pela qual a dívida externa – e agora também a interna – é sempre priori-dade dos governos (de esquerda ou de direita). A periferia europeia está conhecendo agora uma lei que para nós é quase de bronze: a superex-ploração dos trabalhadores é fun-damento da economia política. Este quadro permitirá que gregos e bra-sileiros (italianos e espanhóis tam-bém) descubram que a luta deve ser internacional.

g A política de ajuste fiscal no Brasil era mesmo inevitável? Qual a ori-gem do desequilíbrio e como solu-cioná-lo? No Brasil, como em toda a América Latina e parte da Europa, os meios de comunicação manufaturaram a opinião pública de acordo com os interesses dos banqueiros. Assim, a maioria aceitou a “teoria” de que estamos diante de uma crise fiscal do Estado. Tal coisa não existe. O que existe é uma crise financeira do Estado que foi propositadamente endividado para depois aplicar o ajuste fiscal. Nos últimos quatro anos a Grécia recebeu aproximadamente 220 bi-lhões de euros e pagou 330. A dívi-da, no entanto, não parou de cres-cer. É o automatismo da dívida. A única saída é realizar uma auditoria tal como o Equador fez e simples-mente anular - pelo caráter ilegal de sua contratação - a maior parte do endividamento público, que be-neficiou quase que exclusivamente os banqueiros. A taxa de desemprego diminuiu na Grécia? Não, segue elevando-se. Portanto, não há ajuste fiscal que possa eliminar a crise financeira do Estado. A causa da Grécia é im-portante pra todos nós na América Latina. No Brasil, a presidente Dil-

ma tinha outras opções. Mas ela promove um pacto de classes que beneficia em primeiro lugar os ex-portadores, as multinacionais e, es-pecialmente, os banqueiros. No ano passado, 44% do orçamen-to da União foi destinado ao paga-mento de juros da dívida interna e externa. É algo muito semelhante a um país em guerra, quando metade do orçamento é destinada a defesa da pátria. Aqui, ao contrário, quan-do se tira 7 bilhões de dólares da educação, o governo diz que é para gerar saldos para “honrar” o paga-mento da dívida que, não obstante, não diminui, mas cresce. É claro que tinha alternativas: aumento de imposto para os ricos, para os exportadores, etc. Os exportado-res de soja são isentos de impos-tos. Eu pago 27,5% de meu salário de professor e os exportadores de minérios, até 4%. Sem a auditoria da dívida, nenhum governo poderá honrar seu discurso eleitoral.

g Você acredita que a ascensão de mo-vimentos anti-austeridade na Euro-pa, notadamente na Grécia e na Espanha, podem impulsionar movi-mentos semelhantes no Brasil? Sim, claro. Aqui temos larga tradi-ção de movimentos sociais em luta. Na Europa e nos EUA são mais ou menos recentes porque a maioria da população acreditava nos gran-des partidos de massa. Na Espa-nha, o PSOE; na Grécia, o POSOK; e na Itália, os partidos comunistas e socialistas. Mas a crise consumiu a credibilidade deles, pois a cada nova eleição, após defenderem os trabalhadores e o povo antes da votação, assumiam o programa do FMI no primeiro dia de governo. A credibilidade deles acabou e al-guns partidos desapareceram. Foi ótimo. É o fim das ilusões. Ago-ra estamos vivendo uma fase de construção dos novos partidos. No Brasil o PT é muito similar ao PSDB e ao PMDB, ambos partidos tra-dicionais. O PT foi no passado um partido de luta e de combate, mas é atualmente o principal partido da classe dominante. Neste senti-do repetimos a tragédia do PCI na Itália e do PSOE na Espanha. É claro que esta tragédia ocorre entre nós como farsa. Mas o mais importante é que a resposta das pessoas tem sido rápida e vamos esperar para ver se o governo grego mantém sua posição firme diante da Europa dos banqueiros.

A concepção do ajuste é a mesma na Europa e na América LatinaLucros altos para multinacionais e monopólios nacionais; salários baixos e corte de investimento público para as classes médias empobrecidas. Essa é a lógica do ajuste fiscal no Brasil e da austeridade na Europa, na opinião do Professor do De-partamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), Nildo Ouriques. Ao Brasil Observer, o professor afirma que estamos em uma nova fase: “É o fim das ilusões”.

MO

RIT

Z H

AG

ER

/ WO

RLD

EC

ON

OM

IC F

ORU

M

A cara do ajuste. O Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, discursou para chefes de estado e investidores no Fórum Econômico Mundial, em Davos, no mês de janeiro. Na ocasião, a ONG britânica Oxfam alertou: em 2016, a riqueza de 1% da população mundial vai ser maior que a dos 99% restantes. Algo mais a dizer?

Page 16: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

16 brasilobserver.co.uk | February 2015

PETROBRAS NA ENCRUZILHADAAssolada pela corrupção, maior empresa do país tem diante de si o desafio de

continuar sendo o motor do desenvolvimento

Por Roberto Rockmann

AA Petrobras vive a mais grave cri-se de sua história. O desenrolar da operação Lava Jato e as denúncias de corrupção no Brasil e no exterior têm atrasado pagamentos a forne-cedores, dificultado a assinatura de aditivos contratuais e posto em dú-vida metas de produção da maior empresa brasileira, que responde por cerca de 10% do PIB e da taxa de investimentos do país e 5% da arrecadação de impostos. As incer-tezas se somam à pressão de grupos econômicos para mudar as regras de produção de petróleo no pré-sal – como o regime de partilha e as re-

gras de conteúdo nacional. O impacto da operação da Polícia

Federal (PF) e das investigações em curso nos Estados Unidos e na Europa sobre a empresa ainda é incerto, mas, passada a tempestade, a Petrobras con-tinuará sendo a principal empresa bra-sileira, com uma promissora carteira de projetos, depois de ter realizado uma das maiores descobertas de petróleo no mundo das últimas três décadas no he-misfério ocidental.

O peso da estatal na economia é brutal. Em 2000, o setor de petróleo, em que a Petrobras é a principal for-ça com mais de 90% dos negócios na

área, respondia por 3% do PIB. Hoje responde por 13% e poderia atingir 20% em 2020. A empresa gasta cerca de R$ 100 bilhões por ano em aqui-sição de equipamentos e bens. Se-gundo dados do Dieese, somente em 2013 a empresa gastou, em média, R$ 383 milhões diários em compras de equipamentos e em obras.

Hoje a Petrobras está envolvi-da em uma série de investigações, no Brasil e no exterior, em razão de suspeitas de desvios de recursos da estatal para partidos políticos e de superfaturamento de contra-tos e privilégio para construtoras.

A principal autoridade do merca-do de capitais dos Estados Unidos está investigando a estatal brasilei-ra, que tem ações na Bolsa de Nova York. A Justiça da Holanda está também de olho em uma denún-cia da empresa SBM, que alugava plataformas para a Petrobras. No Brasil, o Ministério Público Fede-ral e a PF têm ouvido ex-diretores da empresa e de empreiteiras com contratos com a estatal para iden-tificar desvios de dinheiro – que alimentavam caixa dois usado por partidos políticos e executivos de empresas privadas

NIA

RE

GO

/AG

ÊN

CIA

BR

ASIL

VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL

Crimes investigados pela Lava Jato desviaram ao menos R$ 2,1 bilhões da Petrobras, segundo Ministério Público Federal. Essa é só uma das dificuldades a serem enfrentadas pelo novo presidente da estatal, Aldemir Bendine, anunciado no cargo no início de fevereiro em substituição a Graça Foster, que renunciou.

Page 17: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

17brasilobserver.co.uk | February 2015

Company formation Statutory auditing VAT (return & refunds) Bookkeeping Payroll bureau CIS (returns & refunds) Personal tax (self-assessment) Business consultancy & taxation IRPF - Brazil Accounting packages from £150 per month

020 8133 6525ascaccountants/asc.accountants/ASC_Accountantsascaccountants07852932083

ASC Accountants Headquarters:Unit 6 Penny Business Centre13a Newbury RoadHighams Park - London - E4 9JH

Consultation by appointment only:35, New Broad Street London - EC2M 1NH

Conference call by appointment only.

g Artigo publicado originalmente na Revista do Brasil

OUTRO PATAMAR

Apesar das incertezas, o horizon-te de médio e longo prazo é positivo. A descoberta da camada pré-sal, em 2006, mudou o patamar de operação da Petrobras, que prevê chegar à pró-xima década com uma produção de 4 milhões de barris por dia, o dobro do que extrai hoje – em 2014, a produ-ção total de petróleo e gás no Brasil cresceu 6%.

O avanço se dará com o pré-sal, que responde por 22% da produção atual, mas que em 2018 chegará a 52%. Serão 19 novas unidades de produção instaladas na Bacia de Santos até o final daquele ano. A expectativa da Petrobras é de que a produção de petróleo exclusiva-mente do pré-sal, em 2017, ultra-passe 1 milhão de barris por dia. Entre 2014 e 2018, a estatal prevê investir US$ 220 bilhões, o maior programa de investimento de uma petroleira no mundo.

Publicado recentemente, relatório da companhia de petróleo e gás BP aponta crescimento da participação do Brasil no cenário energético mun-dial até 2035. O pré-sal se converterá em uma das principais províncias pe-trolíferas do planeta, o que fará o Bra-

sil se tornar um exportador de energia e o maior produtor do setor na Amé-rica do Sul. Devido a essa riqueza des-coberta no Brasil, o governo alterou as regras de exploração e produção de petróleo na camada pré-sal, em 2010, fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi criado o regime de partilha na exploração da camada pré-sal, em que a União tem parte das re-ceitas asseguradas, e a obrigatorie-dade de a Petrobras deter ao menos 30% dos campos a serem concedi-dos na área. Há também regras de conteúdo nacional de compra de equipamentos fabricados no Bra-sil. Com a crise da Petrobras, parte da mídia e grupos econômicos têm criticado essas ideias, defendendo maior abertura para que outras em-presas participem da exploração.

OPORTUNIDADES

Um ciclo de investimentos, turbi-nado pela exploração do pré-sal, po-derá ser usado para a economia bra-sileira evitar a desindustrialização, na avaliação do diretor do Instituto de Economia da Universidade Esta-dual de Campinas (Unicamp), Fer-nando Sarti. Entre 1990 e 2009, os

investimentos responderam por cer-ca de 20% do PIB nacional, enquanto na China estiveram acima de 40%.

“Temos oportunidades e haverá de-manda, mas ela ficará com indústrias daqui ou de fora?”, questiona Sarti. “A questão não é apenas de câmbio, e a competição ficará mais acirrada por-que a China e países desenvolvidos, como Alemanha e Estados Unidos, buscarão mercados para seus bens. O que precisa ser feito é usar essa demanda de forma estratégica, o que pode contribuir para o adensamento de cadeias produtivas geradoras de mais riqueza aqui”.

Para o diretor, criar inovação e ri-queza no Brasil depende de um papel mais ativo do Estado. Por meio de po-lítica industrial, o governo pode au-mentar as oportunidades em setores competitivos com soluções diferen-ciadas criadas por empresas brasilei-ras ou multinacionais com negócios no Brasil. “Isso abre perspectiva de capacitação de fornecedores locais e de criação ou maior inserção em cadeias de valor. A empresa líder é a Petrobras, com dimensão de mais longo prazo e condições de partici-par de uma política industrial mais ativa. A política de conteúdo nacio-nal é um trunfo”.

Page 18: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

18 brasilobserver.co.uk | February 2015

CONECTANDO

O DIFÍCIL ENTENDIMENTO DE DUAS NAÇÕES VIZINHAS

Reaproximação entre Cuba e Estados Unidos gera euforia na ilha caribenha, mas os cubanos não devem se deixar iludir

Por Juan Gabriel Gordín – de Holguín, Cuba g

NNas páginas da História, o dia 17 de dezembro de 2014 será lembrado como aquele em que a política dos Estados Unidos em relação a Cuba deu um inesperado giro – diante das velhas intenções de derrotar o pro-cesso revolucionário cubano. No uso de suas faculdades, o presidente es-tadunidense Barack Obama mudou a estratégia levada a cabo por mais de 55 anos pelos vizinhos do norte.

Nunca um presidente dos Estados Unidos havia reconhecido publica-

mente que a política adotada frente a Cuba era equivocada e que precisava mudar. Nunca um mandatário ianque havia se manifestado contra o blo-queio, considerando-o uma estratégia falida. Carter e Clinton o fizeram, mas só depois de deixar a Casa Branca.

Por trás desse movimento apa-rentemente repentino, porém, existe uma verdade oculta: os estaduni-denses mantêm suas intenções de intervir nas decisões cubanas e limi-tar a soberania do país caribenho.

Como o próprio presidente Oba-ma afirmou em entrevista, “se nos aproximarmos, teremos a possibili-dade de influir no curso dos acon-tecimentos quando houver alguma mudança de comando; creio que devemos aproveitar esse momento e essa é minha intenção”.

Ao mesmo tempo, o presidente cubano Raúl Castro advertiu que “não se deve pretender que, para melhorar as relações com os Estados Unidos, Cuba renuncie às ideias pe-

las quais lutou por mais de um sé-culo; pelas quais seu povo derramou sangue e correu riscos”.

As declarações dos mandatários evidenciam que as bases do confli-to bilateral seguem de pé, ainda que ambos tenham aberto a possibilida-de de debate em uma mesa de nego-ciação, o que poderia acontecer na próxima Cúpula das Américas, no Panamá, em abril.

Com o restabelecimento das re-lações diplomáticas, Cuba e Estados

Cuba

Page 19: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

19brasilobserver.co.uk | February 2015

Unidos deram o primeiro passo em um longo caminho até a normalização, e abrem uma brecha no novo mapa po-lítico mundial. Apesar disso, seguem pendentes alguns assuntos importan-tes, como o bloqueio econômico que persiste há cinco décadas sobre a ilha. O presidente Barack Obama não pode mudar as leis do Congresso, mas pare-ce disposto a usar as prerrogativas do Poder Executivo para avançar. O pro-blema é que esse caminho poderá ser interrompido pelo próximo presidente

estadunidense, que será eleito em 2016. Certo é que, enquanto se man-

tém o embargo, o intercâmbio eco-nômico terá que esperar o aval dos congressistas de Washington. Além de ser o principal obstáculo, o Con-gresso dos Estados Unidos irá ques-tionar a legalidade de cada ação pre-sidencial em relação a Cuba.

Mesmo assim, o otimismo é vi-sível nas ruas cubanas, pois a maio-ria acredita que o fim do bloqueio é a solução para os principais pro-

blemas econômicos que atualmente atrasam o desenvolvimento da ilha. Para o engenheiro Bernardo Agui-lera, que vive em Holguín, “a situ-ação econômica do país hoje é crí-tica, os salários são muito baixos e as opções de trabalho, escassas”. Ele continuou: “É inconcebível que em uma sociedade moderna a pirâmide esteja tão invertida, que um vende-dor de churros ganhe mais que um médico. O roubo de cérebros cresce a cada dia, assim como o número de

graduados universitários que optam por trabalhar por conta própria”.

Daí a política marcada dos Estados Unidos de favorecer o setor privado com injeção de dinheiro e recursos. O que a Casa Branca parece não sa-ber, todavia, é que o próprio gover-no cubano aplaude qualquer política que favoreça o setor não estatal, que em 2014 gerou 86 milhões de dóla-res em impostos ao estado cubano.

BRU

NO

GA

LVÃ

O

Page 20: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

20 brasilobserver.co.uk | February 2015

O crescimento dos trabalhadores pri-vados e das cooperativas particulares é uma das prioridades da reforma econômica que vem sendo colocada em prática pelo presidente Raúl Cas-tro desde 2011.

Mario Cordero, trabalhador au-tônomo, enxerga a situação como “a abertura definitiva para os investi-mentos”. Para ele, é “uma oportuni-dade para dar oxigênio à economia do país, que se encontra asfixiada e necessitada de transformações em to-dos os setores”.

Com as novas medidas adota-das pelo governo de Barack Obama, o crescimento gradual de visitantes permitirá a Cuba preparar-se melhor para recebê-los. Muitos concordam que a ilha não está preparada para re-ceber a provável avalanche de turistas do país vizinho, que gastam muito e são mais exigentes. Isso faz com que os cubanos se vejam obrigados a me-lhorar bastante o serviço prestado.

Desde janeiro, não há mais limite de gastos para os turistas estadunidenses que visitam a ilha de Cuba; agora eles podem, inclusive, usar cartões de dé-bito e crédito. Além disso, companhias aéreas e agências de viagem dos Estados Unidos já podem organizar pacotes tu-rísticos a Cuba e contratar serviços de empresas de seguro.

O limite de envio de remessas a Cuba aumentou de 500 para 2.000 dólares por trimestre. Por um valor que não exceda 400 dólares, os esta-dunidenses poderão levar produtos ao seu país – para tabaco e rum, o va-lor limite é de 100 dólares. O setor de telecomunicações poderá investir em infraestrutura e vender para empre-sas do estado cubano serviços, sof-twares, dispositivos e equipamentos. Também se permitiu a instituições financeiras abrir contas em bancos cubanos para transações que sejam autorizadas entre ambos os países.

Por conta dessas ações, reina entre os residentes da ilha um clima de muita esperança. A aproximação entre Cuba e Estados Unidos é tema recorrente em cada canto do país, o que tem gerado um ambiente de grande expectativa, sobretudo pelo entusiasmo, às vezes ingênuo, que tende a confundir deter-minados assuntos. Muitas pessoas pen-sam que essa aproximação é a solução de todos os problemas cubanos. Outros aplaudem a decisão dos dois governos de colocar as diferenças de lado e nego-ciar pelo bem comum das duas nações.

O assunto tem gerado muita ansiedade. Alguns esperam que as mudanças aconteçam da noite para o dia, enquanto a realidade mostra que as negociações devem ser lon-gas. A própria diretora para os Es-tados Unidos do Ministério de Re-lações Exteriores de Cuba, Josefina Vidal, afirmou que “nem tudo terá solução em curto prazo”.

Um dos temas delicados a Lei de Ajuste Cubano, conhecida como “pés se-cos, pés molhados”. Vigente desde 1966, essa política estabelece que os cubanos que chegam a solo estadunidense po-dem ficar, mas os interceptados no mar, mesmo que a poucos metros da mar-gem, são devolvidos ao país de origem. Cuba quer o fim dessa medida – que in-centiva a saída ilegal e que já causou a morte de milhares de pessoas –, mas os Estados Unidos parecem relutantes.

Entre os cubanos, porém, as opiniões estão divididas, pois a lei ampara aqueles que se arriscam em busca do “sonho americano”. Marit-za Durán vislumbra a possibilidade de reencontrar sua filha, que é médi-ca e abandonou sua missão na Vene-zuela para viver nos Estados Unidos. “Há muitos anos tento me reunir com minha filha, mas o governo dos Estados Unidos negou meu vis-to. Por isso, a única forma de vê-la é aproveitando os benefícios da Lei de Ajuste Cubano, porque em Cuba minha filha não pode entrar mais”, contou Durán.

Nas petições do governo cubano se reitera a necessidade de normali-zação do fluxo migratório entre os dois países, porque não é de interes-se que se mantenha um fluxo ilegal por via marítima, nem entrada irre-

gular ao território dos Estados Uni-dos por outros países.

Mesmo com o restabelecimento das relações, não podemos esperar mudanças nos objetivos que marca-ram durante décadas a política entre os dois países. Os principais meios de comunicação do mundo alimen-tam a confusão de que, como parte desse processo, Cuba colocaria na mesa de negociações questões de or-dem interna e que afetariam sua so-berania nacional. Isso está claro, não vai acontecer.

O ano de 2015 pode ser históri-co para Cuba e Estados Unidos pela intenção de normalizar as relações bilaterais. A ilha, porém, deve seguir atenta, consciente de que, à espera do carrossel prometido pela fada madrinha, pode converter-se nova-mente em Cinderela.

gEsta matéria foi produzida por Juan Gabriel Gordín, estudante do curso de Comunicação da Universidad de Holguín, em parceria com o Projeto CONECTANDO, desenvolvido pelo Brasil Observer junto a universidades brasileiras, europeias e latino-americanas. Para participar e ter seu texto publicado neste jornal, escreva para [email protected]

RE

PRO

DU

ÇÃ

O

Cuba não vai negociar sua própria soberania

Page 21: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

21brasilobserver.co.uk | February 2015

B R A S I LO B S E R V E R

ARTE DEPERNAMBUCO

EMBAIXADA DO BRASIL EM LONDRES, EM PARCERIA COM A GALERIA RAINHART, APRESENTA ART FROM PERNAMBUCO,

QUE REÚNE TRABALHOS DE 17 ARTISTAS PERNAMBUCANOS DE DIFERENTES GERAÇÕES >> PGS. 22 E 23

RO

DR

IGO

BR

AG

A

Page 22: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

22 brasilobserver.co.uk | February 2015

GUIA

EXPERIMENTALISMO À BRASILEIRA

Um mundo em que todos nós habitamos é apresentado por artistas de Per-nambuco através de narrativas que são tão particulares quanto universais, diz

curadora da exposição

Por Beth da Matta g

O estado de Pernambuco há muito tempo é reconhecido como um rico território em pro-dução cultural e artística. Nomes emblemáticos estão gravados na memória e fazem parte da histó-ria do experimentalismo tanto no fazer da arte quanto no de-senvolvimento de trabalhos crí-ticos e literários que refletem o Brasil e o nordeste.

Criadores como Ariano Su-assuna, Cícero Dias, Vicente do Rego Monteiro, Francisco Brennand, Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, Cla-rice Lispector e Chico Science contribuíram – e ainda contri-buem – para a construção de uma fisionomia do nordeste e do sertão, assim como para a cultura e subjetividade de seus habitantes.

Diversos artistas visuais de Pernambuco alcançaram proe-minência nacional e internacio-nal, revelando em seus traba-lhos a herança e a novidade de um Brasil criativamente efer-vescente e, consequentemente, atraindo a atenção de especia-listas e do público em geral para as diversas formas poéticas pre-sentes em suas obras.

Em meados da década de 1990, a produção artística per-nambucana – principalmente filmes, músicas e artes visuais – se expandiu além dos temas regionais, tomada pela globa-lização econômica e cultural, influenciada pelo desenvolvi-mento tecnológico e pela pes-quisa. Ao passo em que artistas rompiam as fronteiras de Reci-fe, assim como o foco de seus trabalhos, a capital do estado também dava as boas-vindas para críticos e artistas de outras regiões do Brasil e do mundo.

A dinâmica da arte, por ób-vio, está sempre mudando. A crescente circulação de produ-ções artísticas por feiras e expo-sições internacionais tem dado maior visibilidade a algumas áreas da produção artística per-nambucana, materializada de diversas formas.

Os repertórios, procedimen-tos e materiais desses artistas agem como um amplificador para a região, que é ao mesmo tempo local e internacional. Descobrimos ramificações, ecos e reverberações de suas produções em outros países, o que contribui para uma reima-ginação local e internacional do que o Brasil, o nordeste e o ser-tão podem ser.

A jornada de criação na qual esses artistas pernambucanos embarcaram – e que apresenta-mos agora nessa exposição Art from Pernambuco – foi e ainda

é um convite atraente à desco-berta de uma linha comum de experimentalismo como forma de representar a si mesmo e ao seu mundo.

Com audácia e originali-dade na escolha e no uso dos materiais, e também do reper-tório e dos temas abordados, os artistas selecionados revelam criativamente uma atitude ex-perimental em relação à arte e ao meio artístico.

A exposição tem o intuito de apresentar importantes artistas visuais e várias formas de artes produzidas em Pernambuco, e ao mesmo tempo iniciar um debate sobre a multiplicidade dessa pro-dução poética e desses artistas.

DIFERENTES GERAÇÕES

Cobrindo quatro gerações, a exposição reúne obras de 17 ar-tistas criadas em várias formas diferentes. Daniel Santiago, Eu-des Mota e Paulo Bruscky re-presentam o experimentalismo da década de 1970. Sebastião Pedrosa – um professor de teo-ria da arte na Universidade Fe-deral de Pernambuco, onde ele lecionou por quase três décadas – investiga outros meios de ex-pressão, como pinturas.

Gil Vicente e Renato Val-le, que eram muito novos nos anos 1970, começaram com pinturas e depois migraram para desenhos e gravuras nas décadas seguintes.

Dos anos 1980 em diante, Marcelo Silveira, Márcio Al-meida, Oriana Duarte, Paulo Meira e José Paulo, herdeiros da geração conceitual dos 1970, rompem com a tradição ao ex-plorar as fronteiras da lingua-gem, da gramática e do campo semântico da própria arte.

E finalmente descobrimos a linha artística pós-milênio através das ações e atitudes de Lourival Cuquinha; das rela-ções entre corpo e natureza de Rodrigo Braga; da mitologia de Bruno Vilela e Amanda Melo; e da experimentação gráfica de Kilian Glasner e Jeims Duarte.

É possível ver – através de observação cuidadosa e aten-ta – essa hibridez temporal, geográfica e cultural. Falando deles mesmos e de Recife, os artistas simultaneamente co-municam temas globais. Ou seja, um mundo em que todos nós habitamos é apresentado por artistas de Pernambuco através de narrativas que são tão particulares quanto univer-sais. É um mundo de hibridez, de mistura, de fluídos tempo-rais; um mundo que produz diversas práticas culturais.

ART FROM PERNAMBUCOQuando: Até 28 de Fevereiro – Terça à Sábado, 11am-6pmOnde: Sala Brasil – 14-16 Cockspur Street (SW1Y 5BL)Entrada: GratuitaInfo: www.culturalbrazil.org

g Beth da Matta é curadora da exposição e diretora do Museu de Arte Moderna

Aloísio Magalhães, de Recife

Page 23: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

23brasilobserver.co.uk | February 2015

DIV

ULG

ÃO

Paulo Bruscky vacina pessoas contra o tédio durante a abertura da exposição na Embaixada do Brasil em Londres

‘Cortiço do Recife’, por Jeims Duarte

‘Game Over’, por Kilian Glasner

‘Mealheiro’, por Renato Valle (esq.)

‘Round’, por Amanda Melo

Page 24: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

24 brasilobserver.co.uk | February 2015

DICAS CULTURAIS

CARNAVAL

Made in BrasilMade in Brasil Carnival Quando: 12 a 17 de FevereiroOnde: 12 Inverness Street (NW1 7HJ)Ingresso: Free Info: www.madeinbrasil.co.uk

GuanabaraGuanabara CarnivalQuando: 11 a 17 de FevereiroOnde: Parker Street (WC2B 5PW)Ingresso: £0 – £12 Info: www.guanabara.co.uk

MovimientosMardi Gras Love Carnival Quando: 13 de FevereiroOnde: 133 Rye Lane (SE15 4UJ)Ingresso: £5 antecipado / £7 na portaInfo: www.movimientos.org.uk

Karnival TropicalQuando: 14 de FevereiroOnde: 62 Rivington Street (EC2A 3AY)Ingresso: Free antes das 11pm / £5 depois Info: www.movimientos.org.uk

No coração de Camden Town, o bar e restauran-te Made in Brasil é referência para quem quer provar o sabor brasileiro em Londres. E, no Carnaval, nada mais justo do que uma programação especial.

Durante seis dias, de 12 a 17 de fevereiro, o esta-belecimento promete “special offers and treats”. Tudo regado a muita música, é claro, com dançarinas de Carnaval, show ao vivo e DJs. Entre as atrações estão a London School of Samba, que vai se apresentar no sábado dia 14, o músico André Luz, que abre as cele-brações na quinta 12 e sexta 13, e Mario Bakuna, que toca na segunda 16.

Como sempre faz em época de Carnaval, o bar e restaurante Guanabara, que fica perto da estação de Holborn do metro, no centro de Londres, terá progra-mação especial de 11 a 17 de fevereiro.

A primeira noite será dedicada ao circo, com apre-sentações de artistas brasileiros, latinos e britânicos. No dia 12, é dia desfile do grupo London School of Samba, que sairá de Covent Garden no final da tarde com destino ao Guanabara. Nos dias seguintes, haverá ainda baile de máscaras (14/2), forró com Zeu Azeve-do (15/2), micareta da Bahia (16/2) e roda de samba (17/2), entre outras atrações.

Uma das organizações mais ativas na produção de eventos culturais latino-americanos no Reino Unido, o grupo Movimientos prepara duas festas para a celebra-ção do Carnaval na capital britânica.

Na sexta-feira dia 13 de fevereiro acontece a ‘Mardi Gras Love Carnival’, celebração que promete conectar as cidades de Nova Orleans e Rio de Janeiro – tocam as bandas Voodoo Love Orchestra e 7Suns, além dos DJs Farrapo, Cal Jader, Madmax e Kalinka. Já no sábado 14 é a vez da ‘Karnival Tropical’, festa que terá duas pistas com sons do Caribe, América Latina e África – tocam os Djs Farrapo, Larry SKG, Cal Jader, Rukaiya Russell, Iamrisha e Madera Verde.

DIV

ULG

ÃO

Page 25: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

25brasilobserver.co.uk | February 2015

Mudança Doméstica e Internacional

Armazenagem e Empacotamento

Importação e Exportação de Frete Comercial

Serviço Especializado para Antiguidades

Serviço Aéreo, Marítimo e Rodoviário

Serviço Porta a Porta para qualquer lugar do Brasil

“Desde 1992 servindo a Comunidade Brasileira”

Horário de Atendimento: Segunda a Sexta das 08:00h às 19:00h Sábados das 09:00h às 12:00h

Escritórios em Portugal e Espanha: E-mail: [email protected]

Mudança segura e personalizada!

+44 (0)1895 420303 www.packandgo.co.uk

20 anos Aniversário em 2012 – Vamos celebrar!

Garantia do melhor preço. Entre em contato conosco

para mais detalhes.

EE1 0660 PackAndGo_50x254mm_w_Portuguese_Local.indd 1 31/08/2012 23:05

LIVROS

ÁLBUNS

Lost Samba: Memories of Brazil, Richard Klein Onde encontrar: http://goo.gl/UWdbjR

Outsiders Insiders, Emily Saunders Onde encontrar: www.emilysaunders.co.uk

Diário de uma Escrava, Rô Mierling Onde encontrar: http://goo.gl/mHb87g

Feitiço Caboclo, Dona Onete Onde encontrar: www.maisumdiscos.com

Richard Klein nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1962 – dois anos antes do golpe militar, mas no mesmo ano em que o Brasil ga-nhou sua segunda Copa do Mundo e os Beatles e os Rolling Stones gravaram suas primeiras músicas. Os pais britânicos de Richard, por serem judeus, se mudaram para a Cidade Maravilhosa no início da Segunda Guerra Mundial, e nunca se adaptaram totalmente ao novo lar. Richard, por sua vez, cresceu amando futebol e rock n’ roll.

A jornada do autor em busca do conhecimento sobre a terra onde nasceu está no centro da narrativa de Lost Samba, assim como as aventuras pelo mundo da cultura rock dos anos 1960, 70 e 80 – tudo sob a sombra sinistra da ditadura militar que mandava no Brasil. Par-te memória, parte documento sobre o nascimento do Brasil contem-porâneo, o livro conta com a narrativa em primeira pessoa de Richard sobre um momento difícil, porém fascinante do país.

A cantora e compositora Emily Saunders lançou seu primeiro álbum em 2011, Cotton Skies, revelando sua paixão pelos ritmos brasileiros. Agora, ela apresenta o disco Outsiders Insiders, que traz nove faixas com-binando jazz, soul dos anos 60 e batidas de baixo na condução.

O toque brasileiro está em duas canções, principal-mente na que abre o disco, Residing, um baião com influ-ência da multiculturalidade de Londres que invoca o sol brilhando e apresenta um convite à dança.

“Escrevo sobre o dia a dia de uma menina sequestrada para fins sexuais. O livro é ficcional, mas ao mesmo tempo um protesto contra a forma desumana que muitas de nossas meninas são tratadas, redu-zidas a pedaços de carne, tendo ferido o ponto mais íntimo de suas almas”, diz a autora de Diário de uma Escrava, Rô Mierling (pseudô-nimo de Rosana Erbe de Freitas, gaúcha que atua como pesquisadora, escritora e revisora literária há mais de dez anos).

O livro está disponível gratuitamente na internet em português e em in-glês. A seguir, o primeiro parágrafo do primeiro capítulo: “Hoje acordei tarde. Sei que é tarde porque acordei com o corpo todo dolorido, e isso só acontece quando durmo demais. Vou tentando me levantar devagar. Doem minhas costas, meu pescoço, minha cabeça. Fico sentada esperando o quarto para de rodar. Uns cinco minutos depois já posso me colocar de pé. Faço meu alongamento esticando braços, pernas, cabeça para um lado e para o outro”.

Considerada a diva do carimbó chamegado, a paraense Dona Onete, nascida em 1938, traz em seu primeiro dis-co, Feitiço Cabloco, lançado em 2012, todo o folclore da região Norte do Brasil, misturando carimbó, boi bumba, salsa caribenha, samba e brega.

Trazido ao Reino Unido no ano passado pela Mais Um Discos, o álbum de Dona Onete é uma certeira injeção de energia, um chamado aos orixás e uma forma de esquen-tar a alma no frio europeu.

Page 26: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

26 brasilobserver.co.uk | February 2015

COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

TEATRO ALÉM-FRONTEIRASVimos no ano passado poucas

produções teatrais brasileiras nos palcos britânicos. A adaptação que a Companhia Mundana fez da peça Duels, de Anton Tchékhov, e My Un-cle’s Shoes, pela Companhia do Meu Tio, encantaram o Festival Fringe de Edimburgo; o Theatre 503 apresentou uma série de peças curtas, incluindo escritores como Newton Moreno e Jô Bilac; StoneCrabs produziu Kitchen, nova peça de Gael Le Cornec; e a Pas-so Co desenvolveu as peças inspiradas no jogo de capoeira Play Low e Long Haul. Nota-se, de cara, uma varieda-de de temas, autores e estéticas, mas todas as produções foram feitas por artistas brasileiros – alguns morando no Reino Unido, e outros não. Todas elas foram consideradas, tantos pelos críticos quantos pelos próprios pro-gramadores, como peças “brasileiras”.

Geralmente sou criticado por não dedicar mais tempo à criação de teatro “brasileiro”, o que me leva a perguntar, afinal, o que caracteri-za esse teatro brasileiro? É uma peça escrita por um brasileiro? Ou é uma peça com tema brasileiro? É uma peça sobre brasileiros? Ou todas essas coisas? Eu tenho dirigido pe-ças de autores brasileiros; e também de autores britânicos, mas com te-mas brasileiros ou sobre brasileiros. Poucas delas, porém, são reconheci-das como brasileiras. O fato de eu ser brasileiro, aliás, não parece ser suficiente para classificar meu tra-balho como brasileiro.

Como um diretor de teatro nas-cido no Brasil, não estou, por óbvio, criando peças brasileiras? Devo eu usar referências populares e folcló-ricas do Brasil, ou colaborar com autores brasileiros, para produzir algo “autenticamente” tupiniquim?

Tem havido excelentes discus-sões sobre meu trabalho e a forma como eu combino técnicas de várias culturas no palco. Usei a técnica Bu-toh quando dirigi Valsa nº 6, de Nel-son Rodrigues, em 2005; e quando dirigi O Beijo no Asfalto, também de Nelson Rodrigues, em 2012, usei o expressionismo germânico. Beijo no Asfalto teve músicas de Caetano Veloso e Nana Caymmi, mas no bate-papo depois da peça fui questiona-do por qual motivo não havia usado música brasileira... Outra pessoa da plateia me perguntou por que eu in-sistia em usar um elenco internacio-nal com vários sotaques em minhas produções, e outro definiu meu tra-balho como “world performance”. Fiquei lisonjeado pelas diversas ex-pectativas e opiniões de diferentes pessoas da plateia.

Conheço outros diretores brasi-

leiros que também usam métodos similares para criar seus trabalhos. O diretor André Pink, por exemplo, é conhecido por utilizar técnicas da Comedia dell’Arte.

O Brasil é um país mestiço e, como tal, me dá liberdade para abraçar diferentes heranças e técni-cas teatrais. A Bahia, que é minha terra natal, tem uma imensa comu-nidade de origem africana, que con-sequentemente influenciou muito aspectos culturais brasileiros. Isso subconscientemente teve influência sobre minhas produções de Queen Pokou, de Dean Atta, e The Burial, da nigeriana Bola Agbaje, em 2013. Também colaborei com uma com-panhia japonesa quando desenvolvi The Damask Drum, de Mishima; na ocasião, usamos música brasileira e movimentos japoneses, trabalhando com um elenco internacional que contava também com brasileiros. Essas produções, porém, não foram consideradas brasileiras. Entretan-to, quando produzi ou dirigi em Londres peças de autores brasileiros – como Nelson Rodrigues, Antonio Bivar, Plinio Marcos, Augusto Boal e Leilah Assunção – foi me dado o carimbo de teatro brasileiro.

Não há dúvidas de que o teatro brasileiro é uma forma bastante hí-brida, apesar dos vários movimen-tos culturais que tentam resgatar a “identidade brasileira”, como a Nova Dramaturgia Brasileira. E eu sinto que há muito mais a ganhar do que perder diante desse multiculturalis-mo encontrado em nossos patrimô-nios históricos.

Ao trabalhar com elencos interna-cionais, estou tentando quebrar con-venções. Ao contar histórias, brasilei-ras ou não, estamos compartilhando conhecimentos e descobertas.

As escolhas que eu faço não nas-cem da nacionalidade, mas da busca por humanismo. Quero criar teatro que conta histórias, que engaja pes-soas em todos os níveis – não ape-nas em suas mentes, mas em suas emoções, valores e imaginações. Se quisermos ser responsáveis por mu-danças reais, temos que aprender a contar – e a ouvir – novas histórias sobre o mundo que queremos criar.

Meu trabalho é mestiço. Sou um artista brasileiro que usa estéticas para criar algo visualmente excitan-te e desafiador. Estou interessado em histórias de diásporas criadas por artistas globais como eu.

Como brasileiro vivendo longe do Brasil, eu estou interessado em criar teatro além-fronteiras: teatro global feito localmente. Por acaso isso tira o Brasil do meu trabalho?

Quando artistas brasileiros criam seus trabalhos, estes

precisam ter a ‘marca Brasil’ para serem considerados

brasileiros?

g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs

Page 27: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

27brasilobserver.co.uk | February 2015

Page 28: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

28 brasilobserver.co.uk | February 2015

COLUNISTAS

KATE RINTOUL

A FEIA REALIDADE DA GENTRIFICAÇÃO Faça uma pesquisa pelas ruas de

Londres e você vai constatar que, para a grande maioria das pessoas, o principal motivo para se amar esta cidade é o vibrante multiculturalis-mo. Por séculos a capital britânica tem recebido estrangeiros, desde os romanos até os afro-caribenhos, passando, é claro, pelos brasileiros, que contribuem igualmente para que este seja um lugar incrível de conhecer e viver.

Como na antiga história de Dick Whittington, que chegou a Londres para fazer sua fortuna depois de ter ouvido que as ruas da cidade eram cobertas de ouro, milhares de pesso-as, inclusive de outras partes do Rei-no Unido, ainda chegam para viver e amar na capital. Nossas ruas podem não ser de ouro, mas graças aos es-trangeiros estão repletas de centros culturais, restaurantes fantásticos e lojas especializadas que servem suas comunidades e a todos com prazer.

No passado, esse rico caldeirão efervesceste de culturas podia ser curtido da melhor forma em Brix-ton, onde era possível comer fran-go jamaicano, dançar em clubes de música latino-americana e comprar ótimos produtos importados em um dos diversos mercados da região.

Eu tive a sorte de chamar o bair-ro de Brixton de minha casa por cinco anos, período em que conheci pessoas incríveis de todos os cantos do mundo. Graças ao histórico de revoltas raciais na região e ao su-posto alto nível de criminalidade, as autoridades nos deixaram em paz para curtir tudo o que o bairro tem a oferecer, mas isso agora está mu-dando com um rápido e indesculpá-vel processo de gentrificação.

É claro que, no começo, não nos importamos: adorávamos aqueles pri-meiros dias no Brixton Village, quan-do podíamos comprar algumas latas de Red Strip e sentar naqueles restau-rantes do tipo “bring your own botl-le”. Nós inclusive saudamos algumas mudanças, principalmente porque no início elas eram orientadas pelo sen-so comunitário, eram razoavelmente acessíveis a todos e preservavam o di-namismo da área. Não imaginávamos o monstro que se criava ali.

Restaurantes independentes têm sido ofuscados por um crescente número de franquias e vergonhosos serviços exclusivos para consumido-res endinheirados. O preço das pro-priedades e dos alugueis tem cresci-do astronomicamente; investidores chegam aos montes ao Brixton, com-prando, em alguns casos, ruas intei-ras, pressionando as comunidades de baixa renda para fora do bairro.

Obviamente, ainda há coisas boas a serem encontradas em Bri-xton, e o fluxo de pessoas com dinheiro para gastar tem de certa forma ajudado pequenos empreen-dimentos locais. Uma dessas histó-rias de sucesso é contada pela A&C Continental Grocers, estabeleci-mento português que fica na Atlan-tic Road e que está sob o comando da mesma família há décadas. Foi incrível testemunhar a loja sendo escolhida como a melhor delica-tessen da cidade anos atrás e vê-la sempre lotada é bastante comoven-te. Neste mês de fevereiro, porém, uma notificação acendeu o alarme para a gentrificação em curso.

A Network Rail, maior proprie-tária de terras do Reino Unido, dona da maioria dos arcos e prédios no coração de Brixton, presenteou seus inquilinos, incluindo A&C e O Talho Portuguese Butchers, com uma notificação de despejo. A com-panhia ordenou para esses empre-endimentos que deixem o local em seis meses, oferecendo a eles apenas mil libras para cobrir os custos de realocação. Dessa forma, pretendem “renovar” os arcos e, consequente-mente, aumentar os aluguéis, que só poderão ser pagos por grandes fran-quias e investimentos que seguirão deturpando a cultura local.

Empreendimentos como esses dão às pessoas a chance de se reen-contrarem com os sabores da terra natal, além de servirem como cen-tros culturais informais onde a co-munidade se reúne. Seria realmente triste ver eles se perderem, assim como, para o bairro de Brixton, se transformar em uma “high street” genérica e sem alma.

Felizmente, o espírito comuni-tário e o amor que Brixton parece invocar nas pessoas já estão em ação. A história já foi contada pelo Channel 4 e uma petição está ga-nhando corpo. Mas, como antiga locatária da Network Rail, eu temo que isso não seja suficiente. Eu costumava trabalhar num café na mesma rua e vi como a organização simplesmente mantinha proprie-dades vazias à espera do aumento dos preços. Em vez de pensarem no que seria útil para a comunidade, ou para a economia dos pequenos empreendimentos locais, eles só es-tão interessados no próprio lucro... Velha história.

Não acho que haja mais um ca-minho de volta para Brixton. Po-demos, pelo menos, incentivar as pessoas a apreciarem a cultura que fez da região um lugar tão único e maravilhoso da cidade de Londres.

Saudamos as mudanças que estavam acontecendo

em Brixton, mas não imaginávamos o monstro que

se criava na região

g Para assinar a petição acesse http://bit.ly/notonetworkrail

Page 29: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

29brasilobserver.co.uk | February 2015

RICARDO SOMERA

O CAMAROTE É A RUAO verão brasileiro, para variar

(só que não!), começou quente nas temperaturas e na questão cultu-ral. O Foo Fighters levou cariocas, paulistas, gaúchos e mineiros ao delírio; Gal Costa estreou seu novo show, “Espelho d’Água” (incrível!), no SESC Pinheiros; e ficamos tris-tes por, mais uma vez, o Brasil não ter sido indicado ao Oscar (aqui, porém, tenho que dar o braço a torcer e reconhecer: o filme argen-tino “Relatos Selvagens”, de Dami-án Szifron, é infinitamente melhor que “Hoje Eu Quero Voltar Sozi-nho”, de Daniel Ribeiro).

Mas não tem jeito. Mesmo com tudo isso em destaque na agenda cultural, desde o dia 2 de janeiro não se fala em outra coisa que não seja o Carnaval. Eu sei que aí em Londres rola uma deprê nessa épo-ca (se você gosta da coisa, é claro), mas o que posso fazer?

Muita coisa mudou desde a época em que a Confraria do Pasmado (SP), a Orquestra Voa-

dora (RJ) e a Juventude Bronze-ada (BH) juntavam 100 amigos cada uma para dançar, pular e beber uma cerveja com boa mú-sica nas ruas e praças das grandes capitais durante o verão. Hoje os blocos do Rio de Janeiro, como o Sargento Pimenta, levam 80 mil pessoas ao Aterro do Flamengo durante o Carnaval; o segundo ano do bloco da festa Pilantragi arrastou uma multidão durante 9 horas pelo bairro do Sumaré, em São Paulo, no começo do mês de fevereiro; e por falta de estru-tura – e educação de boa parte dos participantes que jogam lixo no chão – alguns blocos de Belo Horizonte tiveram que cancelar seus ensaios na rua, pois estão juntando cinco vezes mais pes-soas do que no ano passado.

Tradicionalmente, Rio, Salva-dor e Recife são consideradas as melhores cidades para curtir os dias da carne, mas esse ano São Paulo e Belo Horizonte são os

grandes destaques. O Bloco Tara-do Ni Você (com músicas de Cae-tano Veloso), que levou mais de 6 mil pessoas no último ensaio no Parque Augusta, promete fazer a melhor festa de rua do Carnaval paulista. O Agora Vai, da Barra Funda, está preocupado, pois des-fila sobre o Minhocão, uma es-trutura de 3,5 km – pode não ter espaço pra todo mundo na terça-feira de Carnaval.

Belo Horizonte – é pra lá que eu vou! –, com seus 2,5 milhões de habitantes, espera receber mais de 1,5 milhão de foliões nos quatro dias de festa este ano. Boa parte deles vão ficar na capital mineira devido ao cancelamen-to de 15 carnavais no interior do Estado, por conta da falta de água. “Baianas Ozadas”, “Então, Brilha”, “Ordinááários” e os mais de 200 blocos que me aguardem. Como diz Chico Buarque: “Tô me guardando pra quando o Carnaval chegar”.

Desculpe-me a indelicadeza, mas o papo só pode ser Carnaval

g Ricardo Somera é publicitário e você pode encontrá-lo no Twitter

@souricardo e Instagram @outrosouricardo

Perto da estacao de Queensway do metro de Londres ha um cantinho especialmente brasileiro. Para os “brazucas” que moram a mais tempo na capital britanica, nao precisa nem dizer – certamente ja passaram por la ou, no minimo, ja ouviram falar. Para os recem chegados, talvez seja questao de tempo. Fato e que qualquer brasileiro com saudades da terrinha tem ali um ambiente propicio para se sentir em casa. E o nome do lugar nao poderia ser outro: Casa Brasil, que agora em fevereiro comemora seus 26 anos levando produtos latino americanos a mesa dos ‘brazucas’ que vivem na Europa.

E para celebrar o seu aniversario, a Casa Brasil inova com um novo espaco voltado às artes, incentivando a cultura e possibilitando que artistas brasileiros divulguem sua arte. A cada dois meses você podera ver diferentes trabalhos que vao ocupar o local. Neste mês, ate o dia 27 de fevereiro, e a vez de Sandra Rocha Griffiths que esta colorindo a loja.

Alem das exposicões, a Casa Brasil anuncia tambem workshop de artesanato para você mesmo poder desenvolver suas habilidades. Com uma programacao continua você podera aprender a fazer desde um cachecol, sapatos para bebês, ate decoracao de pascoa, entre tantas “artes”. Acompanhe divulgacao de cursos e datas.

Para se sentir mais pertinho de casa, faca uma visita à Casa Brasil, no Queensway Market. Aproveite as novidades e o desconto comemorativo de 26% em grande parte dos produtos! Para mais informacões acesse www.facebook.com/casabrasillondres e www.casabrasillondres.co.uk

TRICÔ MANUAL RÁPIDO1 dia £30.00 – todo material incluso21/02 Sábado 2-6pm28/02 Sábado 2-6pm

Tricô para iniciantes, incluindo crianças07/03 Sábado 2-6pm

ARTESANATO EM JORNAL2 dias £50.00 – todo material incluso10/03 e 17/03 Terça-feira 4-8pm14/03 e 21/03 Sábado 2-6pm

ARTESANATO DE PÁSCOA1 dia £30.00 – material incluso

Caixa de Páscoa 07/03 – 2-6pm

FABRIC BUNNY26/03 – 4-8pm 28/03 – 2-6pm

Cesta de Páscoa (para criança)28/03 – 2-6pm

SAPATO PARA BEBÊ1 dia £30.00 – todo material incluso

Bota (tricô)14/04 Terça-feira 4-8pm

Bota (Crochê)18/04 Sábado 4-8pm

Tênis (Tricô)21/04 Terça-feira 4 -8 pm

* Inscrições podem ser feitas por telefone (020 7792 2931) ou diretamente na Casa Brasil, com antecedência de até uma semana para preparação do material.* Pagamento no ato da inscrição para compra de material.* Todos os cursos desenvolvidos podem ter aulas extras individuais por £15.00/hora.

Page 30: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

30 brasilobserver.co.uk | February 2015

VIAGEM

JERICOACOARA: ESCONDIDA O SUFICIENTE Depois de alguns dias neste paraíso do nordeste brasileiro, você vai pensar que a

palavra ‘saudade’ foi criada aqui

Por Christian Taylor (@xian_taylor)

Escondida no nordeste brasileiro, mais pre-cisamente no estado do Ceará, a vila de Jericoa-coara é um verdadeiro paraíso para os pratican-tes de kitesurf; um oásis vívido e cosmopolita. Aqui as ruas são de areia e as águas, cristalinas. E o calor? Dura o ano inteiro!

Mas não ache que você precisa ser um en-tusiasta do kitesurfing para aproveitar os fortes ventos da região – uma caminhada até o topo das dunas de areia no final da tarde é uma expe-riência fantástica para todos que tenham pernas fortes. Daqui você pode sentir o vento contra o rosto, e a areia passando por debaixo dos pés. Essas dunas naturais estão perfeitamente loca-lizadas entre a vila e o mar. Todo dia, centenas de pessoas sobem aqui para assistir ao sol mer-gulhar no horizonte: um ritual simples que pro-picia um rico momento de reflexão. Costumes como esse, aliás, ajudam Jericoacoara a preser-var sua autenticidade e o senso de comunida-de da vila, apesar da crescente popularidade de suas praias como destino turístico.

Alguns podem dizer que a localização de Jericoacoara é tanto uma benção quanto uma maldição. Jeri, como é carinhosamente cha-mada, está a cinco horas de distância de For-taleza – sendo que a hora final é feita off-road, ou seja, requer um veículo 4x4 ou uma jardi-neira (espécie de ônibus aberto). Dependendo da época do ano e do tipo de veículo escolhi-do, pode ser uma viagem barulhenta e molha-da, mas ainda assim empolgante. O suspense aumenta ao passo em que você cruza peque-nas cidades e vilas até chegar à praia de Preá, onde as ondas do mar quase tocam as rodas do veículo. É o relativo isolamento, afinal, que protege Jeri de ser completamente engolida pelo turismo de massa – de alguma maneira a sensação que fica é que o paraíso de Jericoaco-ara está suficientemente fora de alcance.

Passeios de buggy e quadricículo estão pron-tamente disponíveis na praça central da vila, de onde você pode sair para jornadas de um dia pelas dunas e lagoas da região. As ruas de areia dispensam tênis e sapatos – um par de chinelos será suficiente. Se tiver chance, experimente o passeio pelas dunas a cavalo – eles são surpre-endentemente eficientes na areia e a ausência do barulho de motor fará com que você se sinta literalmente no topo do mundo.

Durante o dia, Jeri é movimentada pelas compras, pelos bares descontraídos e, claro, pe-los esportes aquáticos. À noite as ruas se trans-formam e se enchem de pessoas. A ausência de luz dá ainda mais charme à vila – o brilho dos bares, da lua e dos vaga-lumes te guiará pelo ca-minho. O som de samba e a brisa leve flutuam pelas ruas enquanto locais vendem artesanato, roupas ou churrasquinho.

Desfazer a linha entre ambientes fechados e abertos é algo que o Brasil faz bem demais, e em Jeri não poderia ser diferente, pois a tem-peratura é ideal durante todo o ano. Em muitos bares e restaurantes, você irá se sentar debaixo de árvores ou das estrelas. Às vezes, o próprio chão do estabelecimento é feito de areia, e uma árvore pode estar no meio do salão. Alguns des-ses lugares são Na Casa Dela, que oferece uma comida deliciosa em um colorido jardim; Sabor da Terra, restaurante que serve porções genero-sas de refeições saudáveis; Caravana, cuja espe-cialidade são os pratos vegetarianos; e Natural-mente, que serve crepe e açaí na praia.

Criatividade, charme e atenção aos detalhes são as palavras de ordem em Jericoacoara, um lugar que deixa muita, muita saudade.

CLAU

DIA

RE

GIN

A (F

LIC

KR

.CO

M/C

LAU

DIA

RE

GIN

A_C

C)

Page 31: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

31brasilobserver.co.uk | February 2015

ONDE FICARVILA KALANGO (vilakalango.com.br) a partir de R$410 (£100) por noi-te, em quarto duplo com café da manhã e wi-fi inclusos.

Vila Kalango tem o natural charme de Je-ricoacoara, mas com um toque de classe. Diferentemente das concorrentes, a pou-sada oferece uma experiência cinco ES trelas enquanto mantém a autenticidade. Os bangalôs de madeira e palafitas com telhado de colmo são modestos, mas lu-xuosos, com pé-direito alto, ar-condicio-nado e detalhes artesanais. Pedaços de madeira ganham vida nova como prate-leiras de banheiro que seguram macias toalhas brancas e sabonetes aromáticos, enquanto lampiões e almofadas comple-tam o ambiente aconchegante. Do lado de fora, redes te esperam na sombra.No total são 24 quartos, construídos em volta de tranquilos jardins. A partir da área de recepção, um deck de madeira serpenteia a grama verde em torno de co-queiros e cajueiros, passando pelas salas de massagem e camas confortáveis até o bar ao ar livre de frente para a praia e a piscina. Daqui você pode aproveitar para relaxar debaixo de uma sombra e aprovei-tar a vista espetacular do por do sol. O café da manhã é um começo glorioso: suco de frutas frescas, deliciosos bolos e pães, assim como ovos e crepes. O design aberto do restaurante permite que a brisa entre tranquilamente, enquanto você ob-serva o movimento de buggies, cavalos e pranchas na praia.

RANCHO DO PEIXE (ranchodopeixe.com.br) a partir de R$350 (£86) por noi-te, em quarto duplo com café da manhã e wi-fi inclusos.

Localizado na praia de Preá, o Rancho do Peixe oferece uma acomodação mais pri-vada e tranquila, pois não está no meio do vai e vem de Jeri. Com 22 bangalôs – 14 deles de frente por mar –, o comple-xo compartilha seus donos com a Vila Kalango e um pequeno ônibus percorre o trajeto entre os dois estabelecimentos diversas vezes ao dia. Passar algum tem-po nos dois hotéis te dá duas experiências totalmente diferentes e é altamente reco-mendável. Enquanto a Vila Kalango dá uma sensação mais íntima e aconchegante, o Rancho do Peixe oferece um agradável isolamento. O mar pode ser visto de praticamente qualquer canto do hotel; de um lado ou de outro, a areia e as árvores parecem se estender infinitamente. Os hóspedes podem relaxar no bar ou na piscina, em camas que ficam debaixo de árvores, ou caminhar até a praia. À noite, o bar vira uma pizzaria com preços razoáveis, e você pode ficar deitado nas espreguiçadeiras admirando o céu lindamente estrelado.Os bangalôs em si são charmosos e ofe-recem bastante privacidade, assim como camas grandes, decoração artesanal e fri-gobar. Os dois hotéis, de fato, combinam perfeitamente simplicidade e luxo, uma mistura que fará sua experiência por aqui valer cada segundo.

FO

TO

S: CO

NC

ED

IDA

S PO

R E

GRO

UP

Page 32: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

32 brasilobserver.co.uk | February 2015

B R A S I LO B S E R V E RBRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

LONDON EDITION

ISSN 2055-4826 # 0 0 2 3

DECEMBER|JANUARY

NEW YEAR...…AND WHAT’S IN STORE FOR BRAZIL IN 2015

DIVULGATION

DIVULGATION

CRIOLO IN LONDONBrazilian rapper talks exclusively to Brasil ObserverHIDDEN PARADISES

Who isn’t dreaming of a holiday in the Brazilian sunshine?

Subscribe now and get it in your doorstep!

12 editions 6 editions

More information: [email protected]

Payment forms: Bank Deposit or Paypal

Page 33: Brasil Observer # 24 - Portuguese Version

33brasilobserver.co.uk | February 2015

B R A S I LO B S E R V E RBRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR) WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

LONDON EDITION

ISSN 2055-4826 # 0 0 2 3

DECEMBER|JANUARY

NEW YEAR...…AND WHAT’S IN STORE FOR BRAZIL IN 2015

DIVULGATION

DIVULGATION

CRIOLO IN LONDONBrazilian rapper talks exclusively to Brasil ObserverHIDDEN PARADISES

Who isn’t dreaming of a holiday in the Brazilian sunshine?

Subscribe now and get it in your doorstep!

12 editions 6 editions

More information: [email protected]

Payment forms: Bank Deposit or Paypal