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WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK LONDON EDITION ISSN 2055-4826 #0034 DECEMBER/2015

Brasil Observer #34 - BR

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SUMÁRIO

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10

1820

14

23262830

ANA TOLEDODiretora de Operações

[email protected]

GUILHERME REISDiretor de Redação

[email protected]

ROBERTA SCHWAMBACHDiretora Financeira

[email protected]

EDITOR EM INGLÊSShaun Cumming

[email protected]

DESIGN E DIAGRAMAÇÃOJean Peixe

[email protected]

COLABORADORESAna Beatriz Freccia Rosa, Aquiles Rique

Reis, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Rachel Costa, Ricardo Somera, Wagner de

Alcântara Aragão

IMPRESSÃOSt Clements press (1988 ) Ltd,

Stratford, [email protected]

10.000 cópias

DISTRIBUIÇÃOEmblem Group Ltd.

PARA ANUNCIAR [email protected]

020 3015 5043

PARA [email protected]

PARA SUGERIR PAUTA E COLABORAR

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ONLINEbrasilobserver.co.uk

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EM FOCO Embaixador Eduardo dos Santos apresenta suas credenciais

CONEXÃO BR-UKConheça o projeto Minha São Paulo – Café Art Brasil

PERFILHenrique Cazes e o som de seu Cavaquinho

CONECTANDOA revolta dos estudantes em São Paulo

NOWConheça mais sobre a Agência de Redes para Juventude

COLUNISTA CONVIDADO Christian Laloe escreve sobre o fim de uma era no Brasil

BRASILIANCEO que esperar para o Brasil em 2016?

BRASILIANCEA tragédia de Mariana e o que fazer agora

BRASIL GLOBALPesquisa aponta o novo perfil do brasileiro no Reino Unido

GUIABixiga 70: Música brasileira instrumental para dançar

DICAS CULTURAISMúsica e literatura com um toque brasileiro

COLUNISTAS Franko Figueiredo, Aquiles Rique Reis e Ricardo Somera

VIAGEM Ana Beatriz Freccia Rosa te leva para Portugal

ARTE DA CAPAMag Magrela

magcrua.blogspot.com.br

Mag sempre teve contato com as artes plásticas através de seu pai, que pintava telas. Mas somente em 2007 as ruas de São Paulo serviram de base para os de-senhos acumulados em cadernos. Desde então seus trabalhos podem ser encon-trados principalmente nas ruas de São Paulo, mas também no Rio de Janeiro, Londres e Nova York. Representando o estilo de graffitti brasileiro, que usa intuição e intensa criatividade, Mag se encontrou também em telas, bordados e azulejos. Inspira-se na euforia urbana de São Paulo para transitar por temas que falam sobre a mistura da cultura brasilei-ra: a fé, o profano, o ancestral, a batalha do dia-dia, a resistência, a busca pelo ga-nha-pão, o feminino. Seus personagens dispostos nos muros contrastam com a arquitetura cinza e sofrida das cidades, propondo uma pausa a todos que pro-curam refúgio para outros pensamentos.

LONDON EDITION

É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

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B R A S I LO B S E R V E R

P

E D I T O R I A L

Pronto. As cartas estão na mesa. O presi-dente da Câmara dos Deputados, Eduar-do Cunha, autorizou na quarta-feira dia 2 de dezembro a abertura do processo de impeachment da presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

Boa parte do país, vale dizer, come-morou como se fosse um gol. Assistimos, afinal, a um espetáculo trágico que se ar-rasta desde o início do ano, e que parece ter como objetivo impossibilitar que o país consiga superar os problemas mais urgentes: contas públicas deficitárias, de-semprego crescente, inflação galopante, recessão econômica...

De quem é a culpa? O vilão favori-to é Eduardo Cunha, claro, a representar o que de pior existe na política brasileira – aceitou o pedido de impeachment para desviar o foco da Comissão de Ética que pode lhe cassar o mandato. Ou seria a própria Dilma, a grande vilã? Não impor-ta. Assim como não importa definir se a situação configura ou não um golpe. Ur-gente é constatar que nosso sistema políti-co se desintegra ladeira a baixo, sem sinal de recuperação enquanto não se criar um consenso mínimo no Congresso Nacional. Tempos de oportunismo e insensatez.

Os erros do governo Dilma e do PT são inumeráveis – e, em última instân-cia, principais indutores da crise pela qual passa o país. No poder, portaram-se como os demais e traíram não ape-nas o movimento progressista que ainda julgam representar, mas a esperança de construção de uma democracia social em um país deformado por séculos de desi-gualdade. Avançou-se, e muito, na última década. Mas a negação da política como meio de confrontar paradigmas e cons-truir linhas de passagem para um novo ciclo de desenvolvimento fez com que o projeto petista se esgotasse – apesar da vitória de Dilma em outubro de 2014.

Ao prometer o impossível na campa-nha eleitoral e esconder da população os desafios que o país enfrentaria nesta tran-sição de ciclo, Dilma e o PT perderam o capital político necessário para continuar mudando a realidade brasileira. Ao adotar o discurso derrotado nas urnas, perderam apoio popular e incitaram a oposição mais retrógrada a sair do armário. Criaram, en-fim, as condições para que se debatesse abertamente, e diariamente, o impeach-

ment da presidente eleita. Trata-se, afinal, de um processo político (leia na reporta-gem de Wagner de Alcântara Aragão).

E da oposição, o que dizer? É irônico constatar que, da Argentina e da Venezue-la, países normalmente ridicularizados pe-los partidos mais conservadores, venha a principal lição. Naqueles países, os gover-nos “progressistas” de Christina Kirchner e Nicolas Maduro acabam de sofrer der-rotas eleitorais. Ou seja, é possível vencer nas urnas – isso é democracia. No Brasil, porém, alas contrárias ao governo Dilma querem pegar um atalho, inclusive dentro do PSDB, principal partido de oposição, que sempre se julgou tão republicano. Mas por que isso acontece?

Quatro derrotas seguidas nas urnas po-dem ser uma das explicações. O PSDB há tempos tem se mostrado incapaz de pro-duzir um projeto de país compatível com o que espera a maioria da população bra-sileira. Tal incompetência em superar o PT nas urnas também é um dos fatores que nos fizeram chegar ao atual momento de crise política e econômica.

Sobre o PMDB, não resta muito a fa-lar. Trata-se do partido infiel da balança: seguirá quem estiver no poder e pronto, nada mais importa.

É preciso, porém, confiar no Brasil. É preciso acreditar nos brasileiros, em nós, por mais que o pessimismo seja hoje dominante. As ocupações de escolas pú-blicas por adolescentes na cidade de São Paulo é um dos motivos de esperança, apesar da narrativa dominante tratá-los como invasores (leia na seção Conec-tando). Precisamos, afinal, desenvolver nossa democracia através da participação da sociedade civil. Precisamos combater a despolitização que serve apenas aos políticos de gabinete, intocados no Con-gresso, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Politizar a política, e resgatar a soberania da população.

Isso também vale aos empresários, por que não? Conquistas sociais são a contra-partida indissociável de vendas, lucros e investimentos. Uma sociedade mais igua-litária é fundamental para bons negócios.

Seja como for, o Brasil Observer dese-ja aos leitores um feliz Natal e um prós-pero Ano Novo! Nos encontramos de novo na edição de fevereiro.

A QUE PONTO CHEGAMOS!

A tradicional Casa Brasil é nossa parceira neste Natal,

pois além de estocar o Café Cereja100% brasileiro, oferece também

as melhores marcas brasileiras de panetones. Perfeito porque

nós sabemos que a qualidade destes produtos juntos vai fazer

das suas manhãs de �m de ano a melhor parte da festa.

V i s i t e a C a s a B r a s i l : Q u e e n s w a y M a r k e t , Q u e e n s w a y 2 3 - 2 5 W 2 4 Q J B a y s w a t e r - L o n d r e s • S a i b a m a i s s o b r e o C a f é C e r e j a : c e r e j a c o f f e e . c om

Encontramos nosso par perfeito para este Natal!

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E

EM FOCO

Eduardo dos Santos assumiu oficial-mente o cargo de Embaixador do Brasil para o Reino Unido no dia 3 de dezembro, quando esteve no Palácio de Buckingham para apresentar suas credenciais à Rainha Elizabeth II.

A carta credencial é uma carta formal enviada por um Chefe de Es-tado para outro, que concede formal-mente a acreditação diplomática a um representante designado para ser o Embaixador do país de origem no país de acolhimento.

Essa é a terceira vez que Eduar-do dos Santos ocupa um posto como diplomata no Reino Unido. Em seu discurso, o Embaixador descreveu como “forte e histórica” a relação en-tre Brasil e o Reino Unido, pontuan-do o comércio bilateral significativo, a estreita cooperação em várias áreas importantes - como a educação - e um diálogo cordial sobre as grandes questões internacionais.

“Empresas britânicas estão entre os maiores investidores estrangeiros no Brasil e as empresas brasileiras estão cada vez mais olhando para o Reino Unido como um destino para a sua expansão no exterior. O Brasil é o par-ceiro comercial mais importante do Reino Unido na América Latina, com o comércio bilateral atingindo US$ 7,1 bilhões em 2014. Estou certo de

que este número irá aumentar signi-ficativamente se assinarmos o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. Aproveito esta opor-tunidade para agradecer ao Governo britânico o seu apoio à proposta vi-sando a troca de ofertas entre os dois blocos em um futuro próximo”, disse o Embaixador.

Na área da educação, o Embaixa-dor ressaltou o desdobramento de par-cerias viabilizadas após a vinda 10 mil brasileiros para o Reino Unido através programa ‘Ciência Sem Fronteiras’.

“Outro campo que eu gostaria de destacar é a educação. Dos cem mil brasileiros que receberam bolsas de estudo desde que o programa ‘Ci-ência sem Fronteiras’ foi criado há quatro anos, dez mil escolheram o Reino Unido como destino. Enco-rajado por este sucesso, o Brasil e o Reino Unido têm apoiado estudos de pós-graduação científicas e ino-vação”, enfatizou.

Além disso, o Embaixador citou a promoção de intercâmbio cultural entre os dois países e, também, des-tacou o momento em que assume o posto como especial, por estar a me-nos de um ano do Brasil sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos no Rio de Janeiro, que acontecem em agosto de 2016.

Em sintonia com a campanha mundial ‘16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência contra as Mulheres’, lançada pela ONU, o Consulado-Geral do Brasil em Londres realizou no iní-cio do mês de dezembro duas palestras gratuitas - em Londres (3/12) e em Belfast (5/12) -, voltadas para temas ligados à violência contra a mulher.

Um dos pontos em destaque foi o serviço de atendimento telefônico “Ligue 180”, que já está disponível no Reino Unido. O serviço é total-mente gratuito, oferece informação, orientação e assistência à mulher brasileira vítima de violência do-méstica (física e/ou psicológica) e de exploração sexual no exterior.

A ligação é direcionada para a Central de Atendimento às Mu-lheres, em Brasília, que recebe de-núncias de violência, encaminha e orienta as mulheres. A Central fun-ciona 24 horas, todos os dias da se-mana, inclusive finais de semana e feriados. E a ligação pode ser feita a partir do Reino Unido. O Consulado pode contatar as vítimas para pres-tar assistência ou, caso solicitado, acionar as autoridades locais.

A iniciativa é promovida pelo go-verno federal com o objetivo de am-pliar o apoio e assistência a vítimas brasileiras de violência doméstica, exploração laboral e tráfico de pes-soas no exterior.

EMBAIXADOR APRESENTA CREDENCIAIS À RAINHA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER É TEMA DE PALESTRA NO CONSULADO-GERAL DO BRASIL EM LONDRES

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Embaixador Eduardo dos Santos durante

seu discurso na apresentação de suas

credenciais à Rainha, no Palácio de Buckingham

DIVULGAÇÃO/MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

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PARA TER ACESSO AO SERVIÇO, SIGA O PASSO A PASSO:

g Disque 0800 890 055g Digite 1 (para português)g Digite 1 (para o Brasil, direto a cobrar)g Disque (61) 3799 0180

Mais informações: www.goo.gl/Nt6Sqv

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COLUNISTA CONVIDADO

g Christian Laloe é profissional do mercado financeiro. Trabalhou por 20 anos na área internacional de várias

instituições de renome. Engenheiro de formação, acompanha o trabalho de alguns Think Tanks na Europa e no Brasil.

Por Christian Laloe

OO ano de 2015 ficará marcado na história do Brasil pela profunda incerteza política e eco-nômica. Pouco mais de um ano após a ree-leição da presidente Dilma Rousseff, o país experimenta uma paralisação política asso-ciada ao agravamento da crise econômica que parece não ter fim. O PIB deste ano deve encolher por volta de 3%, ou seja, dois anos seguidos de crescimento negativo, o que não acontece no Brasil desde 1930.

Apesar da incerteza no Brasil e no mun-do, estou convicto de que grande parte da população, em seu inconsciente, está certa de que mudanças estruturais estão acon-tecendo e irão continuar a acontecer por algum tempo. Gosto de caracterizar o que estamos vivendo como “interregnum”, perí-odo de vácuo na história em que sabemos que o “velho” morreu e não voltará, mas no qual o “novo” ainda não emergiu de forma clara, nos deixando com pouca visibilidade de como será daqui para frente.

Alguns períodos de “interregnum” fo-ram marcantes, como a morte do impe-rador Qin, na China, e a ascensão de Li Bang, entre 206-202 AC, dando início à Dinastia Han, que durou quase 500 anos. Estudando a história hoje, esses períodos parecem normais e previsíveis, mas com certeza foram bem menos óbvios e pacífi-cos para quem os viveu.

A grande questão que muitos se fazem hoje é se o que irá emergir será uma con-tinuidade do que já vivemos desde o pós-guerra, ou seja, a mesma sociedade baseada em crédito e consumo e que de certa manei-ra mantém a mesma organização do traba-lho, ou se estamos de fato no fim de uma era (que começou na Revolução Industrial). Os estímulos monetários desde a crise de 2008 via bancos centrais dos Estados Unidos, Eu-ropa, Japão, Inglaterra e China, associados a um crescimento exponencial da tecnologia, fizeram com que a organização da sociedade e dos meios de produção fosse revista. Este processo está em andamento acelerado e acredito que conheceremos um novo mode-lo muito em breve.

E o que me chama muito a atenção é que esse vácuo que o mundo vive é múltiplo, pois existe na política, na geopolítica e na economia mundial.

Retomando uma ideia de Marx (que se baseou em estudos de David Ricardo e Adam Smith): a infraestrutura econômica determina a superestrutura, ou seja, a forma como o sistema de produção é organizado determina quem estará no poder. Durante todo o século 20, tivemos estruturas pirami-dais com grandes empresas, chefes e hierar-quias bem definidas. A globalização muda isso, fazendo com que essas estruturas sejam mais flexíveis, totalmente horizontais.

Parece ser um fenômeno muito interes-sante causado principalmente pela revolu-ção tecnológica e da comunicação que co-meçou na década de 1990. A sociedade vem evoluindo muito mais rapidamente do que a política, que continua antiquada e engessa-da. Tal processo leva à falta de representati-vidade dos governantes. Nunca as pessoas se sentiram tão mal representadas – fato mais visível nas democracias provavelmente por causa de uma agenda eleitoral pré-definida que faz com o que o político seja mais um profissional do que um representante do in-teresse coletivo.

Olhando com mais cuidado, vemos que alguns líderes têm seguido um roteiro po-pulista bastante claro, seja na Rússia, com um discurso de resgate do Grande Impé-rio, ou na China de Xi Jinping, que é con-siderado o líder mais popular desde Mao. Mais recentemente, na Turquia, tivemos a reeleição do presidente Erdogan, que con-seguiu reverter na última hora um cenário adverso, de acordo com as pesquisas elei-torais. Estamos assistindo a uma instalação de governos populistas em países emer-gentes e eventualmente de governos mais extremistas em países desenvolvidos?

Do ponto de vista geopolítico, o vácuo e a incerteza não são menos preocupan-tes. É notório o que acontece no Oriente Médio: uma guerra implacável entre xii-tas e sunitas que vai do Iêmen à Turquia e que irá redefinir as fronteiras da região nos próximos 20 anos – consequência di-reta de uma ruptura forçada e fracassada do Império Otomano imposta por uma briga de influências de países europeus na região. Essas mudanças fazem com que a relação da maioria dos países daquela re-gião com os países ocidentais passe por uma bastante provável revisão.

No Brasil, temos uma democracia jovem com algumas doenças de país velho. Temos muito a fazer nas áreas da saúde, educação e segurança pública. Temos uma estrutura de governo inchada com gastos públicos maiores do que o país pode suportar, além de uma população em processo de enve-lhecimento. Na frente econômica, estamos também pagando por erros que cometemos em um passado recente e torcendo para que a lucidez faça com que reencontremos o equilíbrio nas contas públicas, retomando assim confiança, poder de investimento e capacidade de crescimento. Não sei quando e como chegaremos lá, mas tenho uma forte convicção de que chegaremos. Mas, afinal, como ter tal convicção?

Para os mais observadores, 2015 foi um ano no mínimo extraordinário em vários aspectos. O principal deles é que, até agora, ao longo da consolidação do nosso processo democrático, temos conseguido criar e pre-servar instituições sólidas que ficarão ainda mais sólidas e estabelecidas conforme a de-mocracia for amadurecendo. Este é um pro-cesso demorado e às vezes doloroso, mas é o único certo e perene.

Em particular, o trabalho do Ministério Público e da Polícia Federal é de dar inveja aos nossos vizinhos sul-americanos. Não há sinal maior do que este a indicar que o país está avançando, sim, na direção correta.

É muito fácil, em conversas com amigos, ser pessimista, achar que amanhã será pior do que hoje. Quem se esqueceu da grande fome na China entre 1958 e 1961, que ma-tou 15 milhões de pessoas? Hoje a China é a segunda economia mundial. Será que aque-les que eram crianças na época achavam que iriam viver na grande nação que a China se transformou? A mesma analogia pode ser feita com Japão e Alemanha.

Portanto, precisamos ter coragem de ou-sar, transformar ou repensar o que já está feito. A hora de fazer é agora. O Brasil já co-nheceu situações semelhantes ou piores em sua história e conseguiu se restabelecer. Tais mudanças só dependem da vontade da so-ciedade em querer evoluir.

FIM DE UMA ERA?

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A RÁDIO DA COMUNIDADEBRASILEIRA EM LONDRES

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PERFIL

E SEU CAVAQUINHO

OO cenário poderia muito bem ser um botequim no Rio de Janeiro. Quem sabe até o Amarelinho, bar tradicio-nal localizado na Cinelândia, para onde costumavam ir os sambistas das antigas para encontros memoráveis. Ocorre que, na realidade, o local onde se passou a conversa aqui narrada fica em Londres, mais precisamente em frente à estação Baker Street: The Glo-be, um pub. Afinal, pelo menos uma cerveja (meio) gelada deveria haver para acompanhar o papo.

Papo daqueles bem cariocas. Pois Henrique Cazes, que nasceu no subur-bano bairro do Méier, no Rio de Janei-ro, traz consigo a marca registrada da Cidade Maravilhosa: o samba, o choro e, no colo, o cavaquinho. Sem contar que, invariavelmente, surgiam à mesa nomes de grandes bambas que fizeram e fazem do Rio um oásis da boa cultu-ra: Waldir Azevedo, Radamés Gnatalli, Joel Nascimento, Pixinguinha, Jacob do Bandolim – para ficar apenas entre aqueles que mais inspiraram a carreira do personagem desta entrevista.

Perguntei ao Henrique como ele explicaria a um inglês o que é um cava-quinho, seu instrumento de trabalho. “Eu começo falando do ukulele, que hoje em dia todo mundo sabe o que é, pois é um. Daí eu pergunto se sabem de onde vem o ukulele e respondo que vem de um instrumento chamado ca-vaquinho, que veio de Portugal...”.

“Isso cria curiosidade e, quando eu toco, muitas pessoas ficam fasci-nadas porque o som do cavaquinho é mais harmonioso, mais elaborado, então alguns dizem que houve um retrocesso com o ukulele”, disse Hen-rique ao lembrar-se da reação que ge-rou ao tocar o cavaquinho para pes-soas acostumadas com o ukulele no Havaí. “Uma maneira importante de falar do choro”, continuou, “é contar a

história do ritmo a partir da adapta-ção das danças europeias”.

O Rio de Janeiro em meados do século passado era conhecido como a cidade dos pianos. Dos salões da alta burguesia até as salas de visita da clas-se média, eram tocadas ao piano as polcas, schottische, mazurcas, valsas e outras danças que vinham da Europa. Ao adaptar estes gêneros, os músicos populares foram acrescentando o so-taque português e introduzindo o lado lúdico comum à música de influência africana. Assim nasceu um jeito cho-roso de tocar – daí o nome ‘choro’ –, que teve em Joaquim Callado seu pri-meiro expoente.

A ele se seguiram outros flautistas como Viriato, Luizinho e Patápio Sil-va. Depois disso surgiram composito-res como Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros, que abriram o caminho para que, já na década de 1910, pelas mãos do gênio Pixinguinha, o choro ganhasse uma forma definida. Em se-guida vieram Jacob do Bandolim, Luis Americano, Garoto, Radamés Gnat-tali, Waldir Azevedo e muitos outros, fazendo o choro evoluir, absorvendo e reciclando influências.

A história do choro, aliás, é parte importante da carreira de Henrique Cazes, que, em 2005, gravou o disco Desde que o Choro é Choro, passan-do por toda a trajetória do ritmo. Além disso, lançou, em 1998, o livro Choro, do Quintal ao Municipal, que se tornou uma referência para todos que querem estudar e apren-der sobre o tema.

Mas, se o cavaquinho nasceu em Portugal, por que hoje ele é consi-derado um instrumento brasileiro? “O cavaquinho brasileiro criou uma personalidade própria que começou a ser forjada na música dos chorões, nas últimas três décadas do século 19.

Por Guilherme Reis

HENRIQUE CAZES

RÔMULO SEITENFUS

Foi o cavaquinho que me escolheu

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Quando surgiu o rádio e o samba, o ca-vaquinho brasileiro teve uma oportu-nidade que nunca teve em Portugal, que foi a oportunidade de profissio-nalização. Passou a haver no Brasil emprego de tocador de cavaquinho na rádio. E não só na rádio nacional como também nas rádios regionais. Cada rádio tinha pelo menos um conjunto regional. Então por que o cavaquinho se desenvolveu mais no Brasil? Porque no Brasil ele teve uma chance dentro da música comercial”, argumentou Henrique.

DA BRINCADEIRA À PROFISSÃO

Da mesma forma que o cavaqui-nho passou a se desenvolver quando virou instrumento de trabalho, Henri-que Cazes foi tomado de vez pelo ‘ca-vaco’ quando surgiu uma proposta de emprego para tocar no Conjunto Coi-sas Nossas. “Foi o cavaquinho que me escolheu”, disse.

Assim como a grande maioria dos músicos, as primeiras influências sur-giram dentro da própria casa. “Lá em casa meu pai tocava violão e meus ir-mãos começaram a tocar. Eu tinha seis anos de idade quando comecei a pegar os primeiros acordes no violão. Minha mãe sempre cantava o repertório da Carmem Miranda, da Aracy de Al-meida, Elizeth Cardoso... Tocávamos sempre juntos nas festas”, lembrou.

Foi quando surgiu o disco Aca-bou Chorare, da banda Novos Baia-nos, que Henrique Cazes decidiu que queria aprender cavaquinho. Corria o ano de 1972, Henrique completava 13 anos de idade e o som do cavaquinho e bandolim em músi-cas como “Brasil Pandeiro” fez com que o jovem se arriscasse no novo instrumento. Mesmo assim, ainda preferia o violão, tocando cavaqui-nho apenas nos blocos de Carnaval.

Em 1976, a virada. Henrique foi convidado para tocar cavaquinho profissionalmente no Conjunto Coi-sas Nossas e nunca mais parou. No primeiro trabalho, teve que aprender um vasto repertório de músicas de Noel Rosa, o que o introduziu des-de o início ao universo da pesquisa musical. Em 1980, passou a integrar a Camerata Carioca, onde trabalhou em contato direto com dois músicos que o influenciaram muito: o ban-dolinista Joel Nascimento e o ma-estro Radamés Gnattali. Sobre a ca-merata, Henrique afirmou que “era totalmente diferente, pois tive que estudar música de verdade”.

A carreira de solista começou em 1988. E, naquele mesmo ano, deu tal-vez a sua principal contribuição para o universo do cavaquinho: lançou o método Escola Moderna do Cavaqui-nho, o mais utilizado livro didático do instrumento. Gaio de Lima, aliás, uti-lizou esse método, apesar de hoje ter o bandolim – parecido com o cavaqui-nho, mas com quatro pares de cordas – como primeiro instrumento.

ACADEMIA E LEGADO

Além de cavaquinista, arranja-dor e produtor, Henrique Cazes é também professor universitário. “Meu trabalho como produtor teve uma queda a partir principalmente de 2009, então eu resolvi abrir uma porta diferente e fui fazer mestra-do, me tornar professor de univer-sidade”, explicou. Hoje, ele ministra o curso de Bacharelado em Cava-quinho na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Digo para meus alunos: O que eu tenho para oferecer, mais do que conhecimento, é experiência. É uma quantidade de experiên-cia tão grande que você começa a achar que é importante passar adiante, tanto de uma maneira informal, como num ensaio, numa roda, quanto de maneira forma-lizada, dentro de um curso na universidade. Mas, sobretudo, é chegar numa altura da vida e cor-rer menos atrás do imediato, ten-tar construir uma coisa pra deixar essa experiência ser transformada num conhecimento organizado”, refletiu Henrique.

Experiência essa que foi acu-mulada em mais de 100 produções. “Parei de contar quando fiz 50 anos. Mas contei 127 produções, entre discos de conjunto, discos solo e discos que eu fui produtor ou arranjador”, afirmou o cavaqui-nista, que mesmo assim ainda não se sente confortável em dizer que faz parte da história do choro. “É estranho porque tenho espírito jo-vem. Estou sempre começando a fazer alguma coisa que eu não sei. Fui fazer mestrado com 50 anos. Ao mesmo tempo em que sei que tenho uma enorme experiência, estou sempre entrando em alguma coisa que eu não sei fazer, como mexer com áudio, trabalhar sons antigos e melhorá-los”, contou.

Questionado sobre quais de suas obras ele considerava mais impor-tantes, respondeu: “O disco Pi-xinguinha de Bolso, com Marcello Gonçalves, foi muito importante. Tocamos três anos juntos o repertó-rio antes de gravar, então no estúdio foi tudo muito natural.

O livro Escola Moderna do Ca-vaquinho também foi importante, mas o livro sobre a história do choro (Choro, do Quintal ao Municipal) acabou tendo maior significado para minha carreira profissional; o livro saiu em 1998 e acabou virando uma referência para todos”.

Antes de encerrarmos, quero saber de Henrique Cazes quem ti-nha aprendido mais: o bandolim com o cavaquinho ou o cavaqui-nho com o bandolim? “O bando-lim aprendeu com o cavaquinho em Joel Nascimento. O Joel repro-duziu no bandolim aquilo que ele via o Waldir Azevedo fazer no ca-vaquinho. Essa coisa vai e volta”.

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BRASIL GLOBAL

O NOVO PERFIL DO

BRASILEIRO NO REINO

UNIDO Estudo evidencia

predominância de brasileiros que têm fincado raízes em

território britânico, constituindo família e conseguindo ascender

socialmente

OO que antes era apenas uma percepção, agora é fato: o perfil do brasileiro que vive no Reino Unido mudou. É o que aponta o mais amplo estudo já realizado sobre imigrantes brasileiros em solo bri-tânico, ‘Diversidades de Oportunidades: Brasileir@s no Reino Unido, 2013-2014’.

Conduzido por cinco pesquisadores do Grupo de Estudos sobre Brasileiros no Reino Unido (GEB), o relatório traz entre as principais conclusões a constatação de que a maioria dos brasileiros no país tem nível superior completo (29%) e decidiu emigrar em busca de “experiência de vida” (34%), e não apenas para “ganhar dinheiro e voltar para o Brasil” (17%).

Não existe, porém, um único perfil de brasileiros no Reino Unido, afirmou ao Bra-sil Observer a doutora Yara Evans, pesquisa-dora visitante da Queen Mary (University of London) e uma das autoras da pesquisa.

“A comunidade brasileira é diversi-ficada, mas num passado recente, entre quinze e dez anos atrás, talvez predomi-nassem brasileiros que vinham para cá em busca de oportunidades econômicas. Ou seja, brasileiros que vinham para tra-balhar e se capitalizar, economizando para investir de algum modo no Brasil e para lá retornar após alguns anos. O que o último relatório do GEB evidencia é uma predominância de brasileiros que têm fincado raízes no Reino Unido, vi-vendo aqui por vários anos, constituindo família e conseguindo ascender social-mente”, explicou a doutora Evans.

Entre as possíveis explicações apon-tadas para tal mudança estão a ascen-são de uma nova classe média no Brasil, a chamada classe C, e o maior controle de imigração por parte do governo bri-tânico nos últimos anos. Além disso, a expansão do ensino superior brasileiro – quase três quartos dos entrevistados (73%) afirmaram ter pelo menos come-çado a cursar nível superior no Brasil an-tes de emigrar para o Reino Unido.

A COMUNIDADE

Os dados da pesquisa foram coletados entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014 por meio de um questionário. Ao todo fo-ram preenchidos 700 questionários válidos, que estavam disponíveis na internet e em estabelecimentos que oferecem serviços a brasileiros, como representações diplomá-ticas, por exemplo. Puderam participar do estudo apenas os adultos que nasceram no Brasil e que estivessem residindo no Reino Unido havia pelo menos seis meses da data de início da pesquisa.

Apesar de ser a maior amostragem já obtida, os resultados não podem ser con-siderados representativos da comunidade brasileira como um todo, uma vez que não se conhece o tamanho real dessa comunida-de no Reino Unido, estimada entre 80 mil e 300 mil pessoas, incluindo aquelas que pos-suem dupla cidadania ou estão em situação irregular – a imensa maioria vive na Ingla-terra (98.4%), especialmente em Londres.

De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores, quase 120 mil brasileiros residiam no Reino Unido no ano de 2012, o que coloca o país como ter-ceiro destino atualmente mais procurado

por brasileiros na Europa, atrás apenas de Portugal (140 mil) e Espanha (128 mil).

Segundo o último Censo britânico, porém, moravam no Reino Unido em 2011 pouco mais de 52 mil brasileiros – uma alta significativa em comparação com 2001, quando eram apenas 8 mil os brasileiro no país.

De qualquer maneira, dado o número expressivo de participantes do levantamen-to, pode-se afirmar que os resultados são indicativos das características e experiên-cias de muitos brasileiros no Reino Unido.

Quase a metade da amostragem de bra-sileiros pesquisados tinha entre 30 e 39 anos na época da pesquisa; cerca de dois terços (67%) eram casados ou estavam conviven-do com alguém; menos da metade (45%) declarou ter filhos; e a maioria nasceu ou teve como último local de residência o esta-do de São Paulo (entre 31% e 35%), seguido de Minas Gerais (entre 11.7% e 12.3%) e do Rio de Janeiro (entre 10.6% e 11%).

SITUAÇÃO IMIGRATÓRIA

Neste quesito em particular, o re-latório do GEB pontua que “as leis de imigração no Reino Unido têm muda-do constantemente ao longo da última década com o intuito de enrijecer o controle imigratório de estrangeiros oriundos de países que não pertencem à Comunidade Europeia. Tais mudan-ças tem dado origem a uma vasta gama de tipos de vistos que, por sua vez, pro-

Brazil Day 2015 na Trafalgar Square

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embora importante (cerca de um quar-to dos pesquisados), enviava dinheiro para o Brasil.

Em termos de planos para o futuro, o estudo revelou um fragmentado qua-dro. Cerca de um terço afirmou não ter intenção de morar mais no Brasil, en-quanto outro terço pretendia voltar a residir no Brasil, e pouco mais de um terço mostrou-se indeciso quanto a vol-tar a viver no Brasil.

O custo de vida (50%) e a solidão (28%) foram apontados como as prin-cipais dificuldades do cotidiano. Língua (26%), moradia (25%) e integração à so-ciedade britânica (23%) também foram mencionadas.

duzem complexas situações imigrató-rias. Contudo, apenas uma pequena proporção de tais vistos se aplica ao caso da maioria dos brasileiros que são admitidos ao Reino Unido”.

No momento da pesquisa, os bra-sileiros que reportaram possuir passa-porte europeu por descendência eram maioria (34%). A esse grupo seguiam os brasileiros que reportaram possuir um passaporte europeu por união (22%). Proporções semelhantes de brasileiros reportaram possuir o visto de tempo indefinido (11%) e o visto de trabalho/residência (11% em cada caso). Em pro-porções menores, observam-se os gru-pos de brasileiros que à época do estudo possuíam o visto de estudante (8%), os que declararam terem obtido cidadania britânica por tempo de permanência (5%) e os que possuíam um visto de tu-rista (1%). Uma pequena minoria decla-rou estar vivendo no país sem visto (5%), e ainda outro grupo reduzido reportou outro tipo de situação imigratória (4%).

Em termos do tempo de perma-nência, a maioria já residia no Reino Unido por vários anos. Quase dois ter-ços (64%) residiam no país há mais de cinco anos na época do estudo. Des-tes a maior parcela é a de brasileiros que residiam no Reino Unido entre 5 e 10 anos (35%), seguida do grupo dos que residiam entre 10 e 20 anos (24%). Dos que residiam por menos tempo no Reino Unido, destacam-se as que resi-

diam entre 1 e 5 anos, constituindo o segundo maior contingente da amos-tragem (27%). As menores parcelas foram as das que haviam chegado ao Reino Unido nos últimos doze meses (7%), e as que aí residiam há mais de 20 anos (5%).

VIDA ECONÔMICA

O estudo indagou sobre as ativi-dades exercidas pelos brasileiros no Brasil antes de emigrarem e constatou que quase dois terços dos pesquisados (68%) havia trabalhado antes de dei-xarem o país de origem, seguidos de pouco mais de um quarto (26%) que declarou ser estudante na época.

Sobre as atividades exercidas no Rei-no Unido durante o período da pesquisa, pouco mais da metade dedicava-se inte-gralmente a uma atividade remunerada. Quase um quarto (22%) trabalhava e estudava. Uma minoria (14%) declarou não exercer atividade remunerada algu-ma, e outro grupo (12%) declarou dedi-car-se integralmente aos estudos.

Um quarto dos entrevistados exercia atividades relacionadas ao setor de ne-gócios/administração, seguido por ser-viços ao consumidor (12,2%) e limpeza (11.9%). Grupos menores reportaram exercer atividades nos setores de educa-ção (8.5%), saúde (7.4%) e construção (2.3%). Uma minoria (3.7%) não decla-rou a atividade que exercia, mas uma

proporção importante (12.1%) reportou exercer atividades em outro setor.

Dos pesquisados que declararam es-tar trabalhando e estudando no Reino Unido, 41.6% eram estudantes de gradu-ação, enquanto 30.7% eram estudantes de pós-graduação e 27.5% eram estudan-tes de curso de inglês. Dos pesquisados que declararam não estar trabalhando durante o período do estudo, a grande maioria (77%) era dependente do cônju-ge. Outros grupos declararam depender de renda advinda do Brasil (1.1%) ou de bolsa de estudo (3%), ou ainda depender de outra fonte (1.9%).

VIDA SOCIAL

O estudo revelou também que a vida social dos pesquisados gira normalmen-te em torno de atividades direcionadas a não-brasileiros ou praticadas em am-bientes não-brasileiros, sendo que as principais exceções são participação em atividades religiosas e reuniões em casa.

Quase metade não manifestou prefe-rência por relacionar com brasileiros ou não-brasileiros, mas um terço preferia relacionar-se somente com não-brasilei-ros, e um quinto preferia relacionar-se apenas com brasileiros.

A grande maioria mantém contato frequente (diário/semanal) com família e amigos no Brasil, sendo o Skype o meio mais utilizado, seguido pela comunica-ção por telefone. Apenas uma minoria,

MANTER MESMO NÍVEL SOCIAL É UM DOS PRINCIPAIS DESAFIOS

Mesmo com nível educacional mais alto, nem sempre o imigrante brasileiro con-segue manter no Reino Unido o nível social que tinha no Brasil. Salvo em situ-ações em que chega ao país com empre-go garantindo em sua área de atuação, o brasileiro aqui quase sempre experimen-ta uma situação de “descenção social”, como classificam os especialistas. “A descenção ocorre, sobretudo, por causa da falta de conhecimento ou do-mínio da língua inglesa, e não é expe-riência exclusiva de brasileiros, ocorre em vários outros grupos de imigrantes”, afirmou Yara Evans. “Assim, mesmo que tenham obtido um alto grau de qualificação no Brasil (por exemplo, nível universitário e pós-gradu-ação), se esses brasileiros que aqui che-gam não tiverem suficiente domínio do idioma, perceberão imediatamente que é muito difícil competirem num merca-do aberto de trabalho onde competem também pessoas de todos os países do mundo, inclusive aqueles onde o inglês é a primeira língua (por exemplo, Estados Unidos, Canadá, Austrália etc.)”, comple-tou uma das autoras do estudo.Evans lembra ainda que outros fatores podem pesar, como tempo de trabalho na área e nível de capacitação. “Enquan-to não cumprem tais requisitos, resta aos brasileiros a solução mais imediata que é trabalhar nos chamados ‘sub-em-pregos’, que aqui envolvem sobretudo atividades como garçons/garçonetes, lava-pratos, motoboys, peões de obras (homens sobretudo), faxineiras e babás (sobretudo mulheres)”.“Contudo”, ressalva Evans, “dado o ta-manho da comunidade no Reino Unido, há muitas oportunidades de emprego em serviços voltados exclusivamente para brasileiros e outros grupos de imi-grantes que se comunicam em portu-guês, como por exemplo, estética pes-soal, serviço de preparo e entrega de comida a domicilio, comércio de produ-tos brasileiros, serviços jurídicos, servi-ços de transporte, que podem propiciar a manutenção aqui do mesmo status social que ocupavam no Brasil”.

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14 brasilobserver.co.uk | December 2015

CONEXÃO BR-UK

A CIDADE SOB UM NOVO OLHAR

“Q“Quando entregaram as câmeras em nossas mãos, parecia que não existia mais nada além daquilo”, lembra emocionado Matheus Lean-dro Barbosa, que se encontra em situação de rua em São Paulo, onde mora há 5 anos, vindo da Bahia. Matheus é uma dos cem moradores de rua da capital paulista que participaram do projeto Minha São Paulo – Café Art Brasil, nascido do programa With One Voice, inter-câmbio de capacitação e debate sobre arte e po-pulação de rua entre Brasil e Inglaterra.

A iniciativa é uma produção das organizações inglesas Streetwise Opera e People’s Palace Pro-jects e conta também com o suporte da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo, além do apoio do British Council Brasil e da Calouste Gulbenkian Foundation UK.

O calendário Minha São Paulo foi baseado no projeto idealizado pela organização inglesa Café Art, que há três anos conecta, através da arte, pessoas em situação de rua com a comuni-dade local. Anualmente, a organização promove a competição fotográfica Minha Londres, distri-buindo cem câmeras descartáveis à população de rua da capital inglesa, que registra, em fotos, o cotidiano da cidade. As melhores imagens tira-das pelos participantes integram um calendário, com renda revertida para grupos que trabalham com arte e população de rua.

Em São Paulo, cada fotógrafo teve 27 cliques para registrar suas impressões sobre a cidade. Das cem câmeras entregues, 92 retornaram – marca nunca antes atingida pelo projeto. Ma-theus, por exemplo, teve duas fotos escolhidas para ilustrar o calendário, nos meses de agosto e setembro. “Eu quis registrar pessoas que encon-tro na rua, pois acho que este projeto é justamen-te para contar estas histórias”. Já Diogo Virolli, outro participante cuja foto ilustra o mês de feve-reiro, clicou uma casa sem janelas que lembrava muito a casa que morava quando pequeno, no interior da Bahia. “Lembrei-me de minha infân-cia, que foi muito feliz”, diz.

Ao todo, foram tiradas mais de 4.500 fotos. Um júri então selecionou as 20 melhores, que posteriormente foram a voto popular durante o Seminário de Arte e Cultura para a população de rua, ocorrido no dia 10 de novembro na Prefeitu-ra de São Paulo. Paul Ryan, diretor do Café Art, ressalta que o projeto é mais do que uma com-petição: “É um passo em frente para que a socie-dade se aproxime da população de rua, conheça suas histórias. Não é sobre as fotos. É sobre as pessoas que tiram as fotos”. Todas as fotografias trazem um breve perfil com foto do fotógrafo.

O calendário será lançado entre 6 e 13 de dezembro, durante o Festival de Direitos Huma-nos de São Paulo, com a presença dos fotógrafos participantes e uma exposição com as melhores fotos tiradas por todos os 92 participantes. A tiragem será limitada e será vendida por R$25 no Brasil e £9.99, no Reino Unido. Toda a renda revertida será utilizada para apoio a projetos de arte com a população de rua de São Paulo, para dar continuidade a iniciativa e a realização de novo calendário em 2016.

Para saber mais sobre como adquirir um ca-lendário no Reino Unido, mande um email para [email protected] com o título Café Art Brazil.

Casa sem janelas capturada por Diogo Virolli

Duas fotos escolhidas de Matheus Barbosa

Cem câmeras fotográficas foram entregues a cem pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. Elas tiveram dois dias para registrar suas perspectivas

DIVULGAÇÃO

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Cirurgia plástica e reconstrutiva da faceSeios e corpo, incluindo rejuvenescimento facial (facelift)Cirurgia plástica dos seios (aumento, redução e elevação)Contorno corporal (abdominoplastia, l ipoaspiração e nádegas)

Consultant Plastic, Reconstructiveand Cosmetic Surgeon

152 Harley St. London | 0207 183 1559 | [email protected]

Acredite noseu corpo!

Falamosportuguês

Bsc MB BS MD FRCS(Plas)

Por Dr. Paul Tulley

Após a cirurgia bariátrica, os pacientes ge-ralmente perdem quantidades significativas de peso de forma bastante rápida. Isso pode, muitas vezes, resultar em excesso de pele e outras alterações em todo o corpo.

Embora se possa perder entre 25% e 50% do peso (algumas vezes mais), tal problema pode ser substituído pelo excesso significati-vo pele, causando outros problemas de con-torno e harmonização corporal.

Normalmente, esses pacientes acumulam excesso de pele no abdômen, incluindo os la-dos e, muitas vezes, nas costas. Casos assim requerem, no mínimo, uma abdominoplastia para a correção. No entanto, em muitos casos o bodylift é necessário para remover o exces-so de pele localizada nos lados e nas costas. Além dessa remoção, o bodylift também toni-fica o núcleo dos músculos abdominais, estrei-tando a cintura e nivelando o estômago.

Muitas outras áreas são geralmente afetadas, incluindo:

ELEVANDO A AUTOESTIMA

n No Reino Unido, o cirurgião plástico deve ter trei-nado no NHS em diversas áreas da cirurgia plásti-ca, reconstrutiva e estética. E deve ter as seguintes qualificações: 1) Certificado FRCS (Plas) e 2) Regis-tro de especialista junto ao General Medical Coun-cil para cirurgia plástica e reconstrutiva. Este último prova que o treinamento feito pelo cirurgião plásti-co foi completado na íntegra.

n Além disso, é importante ser membro de órgãos como BAAPS (British Association of Aesthetic Plas-tic Surgeons) ou BAPRAS (British Association of Plastic, Reconstructive and Aesthetic Surgeons). E ter um bom tempo de experiência no proce-dimento que o paciente deseja se submeter, no caso do citado no artigo, cirurgia bariátrica, de perda de peso.

BRAÇOS E COXAS

FACE E PESCOÇO

GLÚTEOS

MAMAS

O excesso de pele nos braços e nas coxas requer um lifting nessas regiões (Lifting Crural para as co-xas e Lifting Braquial para os braços). Isso remove o excesso de pele flácida, remodelando a área e deixando a pele mais lisa e com contornos suaves, resultando em uma aparência tonificada.

O excesso de pele flácida no rosto e pescoço re-quer facelift e necklift. Esses procedimentos remo-vem o excesso de pele e criam contornos mais jo-vens, deixando o rosto mais cheio e a parte inferior da face, mais magra, com queixo e pescoço com contorno bem definido.

O lifting dos glúteos é indicado para casos de glú-teos flácidos ou caídos. A opção pode ser com ou sem aumento de volume. O procedimento melho-ra o contorno do glúteo, com uma aparência cur-vilínea sem excesso de pele.

A perda de peso pode causar a queda e perda de volume das mamas, exigindo uma elevação com a mastopexia, também conhecida como lifting de mama. A paciente tem a opção da aplicação deste procedimento com ou sem um aumento, re-posicionando a aréola e o tecido mamário, remo-vendo o excesso de pele e comprimindo o tecido para compor o novo contorno da mama.

PARA NÃO ESQUECER!

Na primeira vez que encontrei o Dr. Tulley, ele demonstrou que dominava o assunto e me explicou todos os proce-dimentos. Eu estava indecisa entre fa-zer as pernas ou os braços, e o Dr. Tul-ley pacientemente me explicou os dois procedimentos, me deixando segura e confiante para decidir. No dia 14 de novembro passado fiz a tão esperada plástica nas pernas, com resultado ex-celente, exatamente conforme o prome-tido na primeira consulta.Recomendo o Dr. Paul Tulley pelo profissionalismo, competência e por transformar um mo-mento de ansiedade em uma mudança de vida extraordinária. Não hesite de visita-lo, pois vale a pena!

Francine Mendonça, Diretora Executiva da London Help 4U

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16 brasilobserver.co.uk | December 2015

NADA SERÁ COMO ANTES (?)

BRASILIANCE

Ameaça de impeachment da presidenta

Dilma Rousseff torna ainda mais

imprevisível e instável o

cenário político e econômico do

Brasil para 2016

VVidentes, cartomantes, astrólogos, ana-listas econômicos, cientistas políticos. Quem exerce a função de traçar projeções para o Brasil, em especial para o ano novo que se avizinha, está com a vida bastan-te dificultada. Uma sucessão de episódios neste último mês de 2015 torna pratica-mente impossível o exercício de se prever o que 2016 reserva para os brasileiros.

O mais recente desses aconteci-mentos é a ameaça de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Não que o assunto não estivesse em voga desde que a mandatária da nação iniciou sua segunda gestão, em janeiro. No entanto, do dia 2 de dezembro para cá, quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aceitou colocar em pauta um dos pedidos de afastamento da presidenta, a possibilidade, até então cada vez mais remota, reascendeu.

O Brasil Observer conversou com duas figuras que estiveram entre as protagonis-tas quando, mais de 20 anos atrás e pela única vez na história brasileira, foi aberto processo e aprovado o impedimento de um presidente da República (Fernando Collor de Mello, em 1992). São eles os ad-vogados e ex-detentores de cargos eletivos Sérgio Sérvulo da Cunha e Gastone Righi. O objetivo: obter deles perspectivas para o Brasil no próximo ano – mais precisamen-te, para os próximos meses.

INCERTEZA

Gastone Righi era deputado federal em 1992, pelo PTB de São Paulo, e pre-sidiu a Comissão Especial da Câmara instalada para dar o parecer em torno do pedido de impeachment que fora acolhi-do pela Casa. O pedido de impeachment aceito tinha sido protocolado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Sérgio Sérvulo da Cunha, então filiado ao PSB e vice-prefeito de Santos, foi um dos advogados de acusação no processo de impeachment de Collor.

Tanto para Gastone Righi como para Sérgio Sérvulo da Cunha o cenário pró-ximo é de absoluta incerteza. “Não dá para prever nada”, afirma Sérvulo, que menos de 24 horas antes de o pedido de impeachment de Dilma ter sido aceito, descartava por completo esse risco, e precisou mudar de opinião. O repórter

que assina este texto havia conversado com Sérvulo, sobre análises para 2016, na tarde de 2 de dezembro. Justamen-te pela experiência que acumulara no processo de impeachment de 1992, foi perguntado se o fantasma continuaria a assombrar o país ano que vem.

Ele dissera que, sem embasamento consistente e sem aderência nas ruas, “o impeachment sairia da pauta em 2016”. Algumas horas depois, porém, num evi-dentemente movimento de chantagem ao Executivo, Eduardo Cunha anunciava aceitar um dos pedidos de impedimento de Dilma. Diante da reviravolta, o Brasil Observer precisou, então, voltar a falar com Sérgio Sérvulo. “Não falei que está difícil prever alguma coisa? Inclusive você pode até contar essa história, de que eu tinha dito uma coisa e horas de-pois aconteceu justamente o contrário, para ilustrar esse momento surreal. O Brasil é surreal”, respondeu.

SEM FUNDAMENTO

Sérgio Sérvulo da Cunha e Gastone Righi observam que as razões para o pedido de afastamento de Dilma acei-to pelo mandatário da Câmara não são motivo para o impedimento da presi-denta da República. O pedido se baseia na reprovação, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), das contas do governo federal de 2014. No ano passado, o go-verno repetiu uma prática comum nos últimos 20 anos: manobras contábeis, as chamadas “pedaladas fiscais”, feitas pelo Tesouro Nacional. A reprovação do TCU ainda precisa ser apreciada (para ser re-ferendada ou rejeitada) pelo Congresso.

Fora isso, acrescenta Sérgio Sérvulo, o acatamento do pedido de impeachment se deu em circunstâncias “anômalas”: foi aceito por um presidente da Câmara in-vestigado por denúncias graves de corrup-ção, ameaçado de ser julgado (e perder o cargo) na Comissão de Ética da Casa, e até correndo o risco de ter prisão decretada a qualquer momento. Eduardo Cunha, sem o apoio na Comissão de Ética do partido da presidenta, o PT, e da base aliada do governo, em assumido ato de retaliação resolveu dar início a eventual processo de afastamento de Dilma.

Para Sérgio Sérvulo, não é improvável que, instado, o Supremo Tribunal Federal

(STF) intervenha no processo. “Acho que a Dilma vai tentar impugnar isso, e há possibilidade de o STF brecar sim”. Ainda para o advogado de acusação do impea-chment de Collor em 1992, desta vez há poucas chances de, nos próximos meses, haver mobilização popular ampla em prol do afastamento de Dilma. “É difícil pre-ver. Mas embora Dilma não esteja ‘bem na foto’, isso não significa que a sociedade esteja disposta a ir às ruas para defender um processo de impeachment que nasce enfraquecido, comprometido, e sem mo-tivação consistente.”

DEPOIS DA TEMPESTADE

Apesar de ter dúvidas quanto ao papel que vai desempenhar o PMDB – partido de Eduardo Cunha e do vice-presidente da República Michel Temer – o ex-depu-tado Gastone Righi considera que a ten-dência é Dilma escapar do afastamento. Na avaliação de Gastone Righi, em que pese a tempestade que o Brasil vai enfren-tar nos próximos meses em torno da dis-cussão do impeachment, quando o pro-cesso terminar – e sobretudo num cenário de permanência de Dilma – 2016 poderá representar uma recuperação da estabili-dade política capaz de fazer o país reen-contrar seu prumo.

“É um perigo que existe, a possibili-dade de o PMDB – que tem se caracte-rizado pelo fisiologismo – em apoiar o impeachment. Mas parece que a Dilma e o PT estão querendo mesmo apressar esse processo, para ver se é logo supe-rado. Se não houver uma traição do PMDB, [a perspectiva] é de que o im-peachment seja arquivado. Com isso, e com esse combate à corrupção em curso, caminharemos para semear uma credibilidade perante o mundo muito importante”, projeta Gastone Righi.

O ex-deputado, que na votação do impeachment de Collor foi o único par-lamentar a se abster, ressalta que não há nada que motive o afastamento de Dil-ma. “No de Collor também não havia motivo jurídico real. Foi um problema totalmente político. No caso de Dilma igualmente. As ‘pedaladas fiscais’, a vida inteira todos os presidentes se utiliza-ram desse instrumento. O processo de impeachment não é um processo jurí-dico, é político”.

Por Wagner de Alcântara Aragão

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17brasilobserver.co.uk | December 2015

MAIS RECESSÃO NO HORIZONTE

2015 - DESEMPENHO DO PIB BRASILEIRO 2016 – PIB BRASILEIRO X ECONOMIA MUNDIAL

Se o governo insistir no ajuste fiscal, o ano de 2016 não será nada animador para a eco-nomia brasileira, adverte o economista Guilherme Santos Mello, pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política do Instituto de Economia da Unicamp e professor da Facamp.

BRASIL OBSERVER | Com os recentes novos cortes no orçamento, o governo federal sinaliza que a política de ajuste fiscal não terá trégua em 2016. Deve ser assim mesmo ou, dada a projeção de duas quedas consecutivas (2015 e 2016), o governo pode no decorrer do percurso afrouxar o ajuste para ameni-zar seus efeitos recessivos?

GUILHERME SANTOS MELLO | Caso o go-verno insista na estratégia “austericida” de reduzir os gastos na esteira da queda das receitas, irá apenas aprofundar a re-cessão e reduzir ainda mais as receitas públicas. É uma estratégia sem fim, como se mostrou na Europa, onde após a crise fiscal pudemos observar anos de crise social, desemprego e recessão. Acredito que o governo deve buscar alternativas para ampliar seu espaço fiscal, retomar os investimentos públicos e, desta forma, incentivar as empresas privadas a produzi-rem. Para isso, o governo poderia se valer do ponto forte do Brasil atualmente: te-mos muitas reservas e pouca necessidade de dólar, dada a melhoria da nossa balança comercial e em transações correntes deri-vada da desvalorização cambial. O governo poderia utilizar algo como 10% das reser-vas (35 bilhões de dólares), converter em reais (o que reduziria a tendência de des-valorização que virá com o aumento dos juros americanos) e criar um fundo de in-vestimentos, que também deveria contar com crédito de instituições multilaterais, como o Banco dos Brics. Ao criar este fun-do, o governo deve escolher projetos de investimento já devidamente licenciados, com bons projetos executivos, que me-lhorem a infraestrutura e a produtividade, como forma de alavancar novamente o crescimento. Os rendimentos futuros des-tes investimentos (seja na forma de con-cessões, seja na forma de rendas advindas de sua utilização) seriam novamente con-vertidos em valores para financiar novos projetos, tornando-se assim um fundo de estabilização do investimento público, muito útil em momentos como o atual.

BRASIL OBSERVER | Há alguma perspectiva também de a política econômica seguir pelo caminho da redução, ainda que gra-dativa, das taxas de juros, ou, nesse aspec-to, igualmente não teremos nada muito diferente do verificado em 2016?

MELLO | Se o Banco Central considera que a atual taxa real de juros, próxima a 4,25%, é suficiente para reduzir a inflação, não há por que ele não manter o mesmo critério nos meses vindouros. Ou seja, a manu-tenção da taxa real de juros no patamar atual – um dos maiores do mundo – de-veria balizar a estratégia do BC, fazendo com que conforme a inflação dê sinais de queda, a taxa nominal de juros também comece a ser afrouxada. Apesar de esse cenário ser o ideal, parece-me que o BC deve ser mais conservador e apenas co-meçar a rebaixar os juros quando as ex-pectativas de inflação de 2016 convergi-rem novamente para dentro da meta, o que pode elevar a taxa real de juros no início do ano que vem, mesmo sem uma elevação nominal da Selic.

BRASIL OBSERVER | As projeções do FMI indicam um crescimento do PIB mundial em torno de 3%; as economias avançadas e os Brics (exceto Rússia e Brasil) também deverão registrar ligeiro crescimento. Essa melhora no cenário internacional pode servir de relativo alento à economia brasileira em 2016?

MELLO | O cenário internacional só ajuda-rá a economia brasileira se os países que puxam o crescimento mundial ampliarem as importações de produtos brasileiros. Os Estados Unidos voltarem a crescer não resolve o problema do Brasil se eles não estiverem dispostos a importar nossos produtos, como parece ser o caso. Ade-mais, a recuperação econômica global é frágil e incerta, puxada basicamente pela China e, em menor grau, pelos Es-tados Unidos. A desaceleração chinesa nos impacta diretamente, ao reduzir um importante mercado para nossos produ-tos de exportação e reduzir o preço das commodities. Tendo a acreditar que, apesar de um possível alento do setor externo, não podemos nem devemos apostar nele para puxar a retomada do crescimento econômico doméstico. Para isso, o essencial é reativar os inves-timentos, coisa que no cenário atual só será possível se o governo encontrar uma forma de financiá-los de maneira a não aumentar sua dívida. É por isso que insis-to na proposta da utilização das reservas para criação de um fundo de estabilização dos investimentos no país.

Contas Nacionais do IBGE:• Acumulado no ano

(janeiro a outubro): -3,2%• Acumulado em 12 meses

(encerrados em outubro): -2,5%

*Em relação a período imediatamente anterior

Projeções do Fundo Monetário Internacional:• Brasil: -1%• PIB Mundial: 3,6%• América Latina: -0,3%• Economias avançadas*: 2,2%•China: 6,3%• Índia: 7,5%• África do Sul: 1,3%• Rússia: -0,6%

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*Inclui Estados Unidos e Zona do Euro

Fim da chantagem: Eduardo Cunha gasta seu último cartucho; sobram as incertezas sobre o governo Dilma Rousseff

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18 brasilobserver.co.uk | December 2015

JUSTIÇAQQuando a barragem do Fundão se rom-

peu em Mariana, na quinta-feira 5 de novembro, poucas foram as reações imediatas. Visto de agora, o silêncio exagerado parece explicar-se por um cálculo extremamente mal feito do real tamanho da catástrofe humana e am-biental que se iniciou no exato momen-to em que aqueles 55 milhões de me-tros quadrados de rejeitos romperam a barreira do reservatório e se lançaram furiosamente sobre o que encontraram à frente: árvores, arbustos, cavalos, pes-soas, casas, carros e, finalmente, um rio. Não qualquer rio, mas sim um braço d’água de mais de 800 quilômetros, em cuja bacia vivem mais de 3 milhões de pessoas, casa de uma das poucas reser-vas de Mata Atlântica do país (o Parque Estadual do Rio Doce) e que, apesar do destino salgado, tem Doce como nome.

Foi quando a lama do Fundão che-gou ao rio Doce que o Serviço Geoló-gico do Brasil emitiu uma nota aler-tando 15 municípios, em dois estados, sobre o risco de enchentes. O serviço estimava que o “tsunami marrom”, como foi apelidado, chegasse ao mar na terça-feira 10. A previsão, porém, não se concretizou. Em vez de uma viagem breve e quase imperceptível pelas águas claras do rio Doce, a man-cha marrom de rejeitos da mineração desceu incômoda e lenta. A cada nova cidade atingida, uma enchente de fotos e vídeos inundava jornais e re-

des sociais, misturando o pânico das populações locais à miséria do rio.

Na medida em que a lama descia, a tragédia tomava forma: 13 mortos, 18 desaparecidos, centenas de quilômetros de rio comprometidos e um dano ainda não calculado ao Oceano Atlântico nes-ta que foi a maior tragédia causada pelo rompimento de barragens de mineração em países ocidentais desde 1985. Naque-le ano, duas represas em uma mina de fleróvio se romperam em Stava, na re-gião norte da Itália, jogando 38 mil me-tros quadrados de resíduos na natureza e matando 269 pessoas.

Voltando ao Brasil, foi necessária uma semana para que a presidente Dil-ma Rousseff – nascida em Minas, cenário da tragédia – sobrevoasse a área. Outros 21 dias para que o Instituto para a Ges-tão das Águas de Minas Gerais (IGAM) publicasse os resultados das análises re-alizadas nas águas do Rio Doce durante o percurso da lama até o mar, mostrando altos índices de arsênio, cádmio, chum-bo, cromo, níquel, mercúrio e cobre em parte das amostras. Resultados diame-tralmente opostos aos dados divulgados pela empresa Samarco, que desde o dia do rompimento da barragem vinha ale-gando que os rejeitos não eram tóxicos. Foi também preciso tempo para se des-cobrir que a capacidade da barragem era muito superior aos 39 milhões de metros cúbicos declarados pela Samarco aos ór-gãos ambientais.

REAÇÃO

A falta de clareza em relação ao que vem ocorrendo e a lentidão na resposta ao problema foram motivos de crítica em um relatório da Organização das Nações Unidas divulgado no dia 25 de novem-bro. No texto, os relatores John Knox, especialista em direitos humanos, e Baskut Tuncak, especialista em substân-cias perigosas, consideraram “claramente ineficientes” os passos dados pelas com-panhias Vale e BHP Billiton, assim como pelo governo brasileiro. “Não é aceitável que se tenha levado três semanas para se ter informações sobre os riscos de con-taminação”, registraram os especialistas. “Governo e companhias deveriam estar fazendo de tudo para prevenir futuros danos, incluindo a exposição a metais pesados e a outros poluentes”.

O puxão de orelhas internacional pa-rece ter acordado o poder público bra-sileiro. Na mesma semana, no dia 27, os ministros do meio ambiente, Izabella Tei-xeira, e da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams, anunciaram que a União, mais o governo dos dois estados afetados pelo rompimento da barragem vão abrir processo no valor de R$ 20 bilhões contra Samarco, Vale e BHP. “É o maior desastre ambiental que o Brasil já viveu. E não é um desastre natural, é um desastre provocado por uma atividade econômica, então cabe reparação de danos, além das multas”, dis-se a ministra durante o anúncio.

O mesmo tom foi adotado pela presi-dente Dilma Rousseff em Paris. Duran-te a COP, a chefe do executivo reiterou a responsabilidade das companhias na tragédia e prometeu agir. “Estamos rea-gindo pesado com medidas de punição, apoio às populações atingidas, prevenção de novas ocorrências e também punindo severamente os responsáveis por essa tra-gédia”, disse a presidente.

NOVOS RISCOS

Punir, porém, não põe fim ao pesa-delo vivido pelas comunidades afetadas pelo derramamento da barragem. Após a tragédia, veio à tona que as outras duas represas vizinhas a Fundão, Germano e Santarém, também estão comprometidas e correm o risco de romperem-se. Caso isso ocorra, o estrago será ampliado con-sideravelmente: a barragem de Germano, sozinha, armazena uma quantidade de resíduos equivalente a quatro vezes o ta-manho da represa que se rompeu.

O medo de que um desastre ainda maior aconteça levou a uma decisão judicial publicada na sexta-feira, 27, determinando o esvaziamento da usina hidrelétrica Risoleta Neves, a cerca de 100 km de Mariana. O plano é, em caso de um novo rompimento, usar o reser-vatório para a contenção dos rejeitos, evitando que eles viagem mais uma vez por todo o rio, indo desaguar nas águas do Oceano Atlântico.

Por Rachel Costa

DA LAMA AO CAOS

5 de novembro

A vila de Bento Rodrigues, em Mariana, é completamente destruída por rejeitos de uma mina operada pela Samarco, empresa controlada pelas gigantes Vale e BHP

6 de novembro

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) lança seu primeiro alerta para 15 cidades banhadas pelo rio Doce e estima que a lama chegaria ao mar no dia 10 de novembro, previsão que não se concretizou.

9 de novembro

A lama chega a Governador Valadares, primeira grande cidade atingida, cortando o abastecimento de água para seus 278 mil habitantes, totalmente dependentes do Rio Doce.

12 de novembro

Apenas uma semana depois da tragédia, a presidente Dilma Rousseff, nascida no estado de Minas Gerais, visita a região.

16 de novembro

O “tsunami de lama” atinge o Espírito Santo, na altura do município de Baixo Guandu.

55 milhões de m3 de lama seguiam Rio Doce abaixo enquanto poder público e empresas envolvidas assistiam inertes à concretização da tragédia

ROGÉRIO ALVES/TV SENADO REPRODUÇÃO

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AINDA QUE TARDIAApós o rompimento da barragem do Fundão, em Minas Gerais, Brasil tem adiante o desafio de reagir ao maior desastre ambiental de sua história e fazer justiça aos atingidos pela tragédia

Além disso, a Justiça mineira de-terminou a criação e a implementação de um plano de emergência para a eva-cuação das comunidades que possam ser afetadas caso uma nova tragédia ocorra. Depois da tragédia em Bento Rodrigues, descobriu-se que há seis anos a Samarco havia contratado uma empresa especializada em segurança, a RTI (Rescue Training International), para criar planos emergenciais para suas unidades no Pará, Espírito Santo e Minas. A proposta, entretanto, nunca saiu do papel.

Em entrevista para o jornal Esta-do de Minas, o diretor da RTI, Randal Fonseca, disse que o pretexto da Samar-co para a inércia era a impossibilidade de investir em segurança devido à crise econômica. “O documento incluía até o treinamento da população no caso de precisar sair com segurança do local”, disse Fonseca ao jornal mineiro. O trei-namento, assim como as outras ações propostas, nunca aconteceu.

Quando Fundão se rompeu, foi a mobilização da própria comunidade que impediu ainda mais mortos. Gen-te como Paula Alves, que trabalhava na região da mina e recebeu pelo rádio comunicador a notícia do rompimen-to da barragem. Sem pestanejar, Paula pegou sua moto e saiu correndo rumo ao povoado para avisar aos outros sobre o mar de lama que vinha em direção a Bento. Em uma história cheia de vilões,

Paula tornou-se uma heroína: não fos-se ela, grande parte dos moradores de Bento teria sido engolida pela lama.

IMPACTO AMBIENTAL

Um mês depois do rompimento e com rejeitos da barragem espalhados desde Mariana até o Oceano Atlântico, ainda não se tem claro exatamente qual o impacto ambiental da tragédia, nem quanto tempo se levará para recuperar as áreas atingidas pelo tsunami marrom que desceu do Fundão. Só em peixes, o Instituto Brasileiro do Meio Ambien-te e dos Recursos Renováveis (Ibama) disse ter recolhido nove toneladas de espécies mortas após a passagem dos rejeitos, seis delas no trecho mineiro do Rio Doce e o restante na parte capixaba. Quantos outros animais e plantas mor-rerão pela deterioração das condições da água, é difícil calcular.

Como lembra a geoquímica Kendra Zamzow, do Center For Science In Pu-blic Participation (CSP2), nos Estados Unidos, mesmo que os metais pesados encontrados no rio estejam presos aos sedimentos, o que reduz os riscos de contaminação da água, há outros pro-blemas que precisam ser monitorados daqui em diante. O principal deles é o depósito dos rejeitos no fundo do rio, que pode levar à formação de uma es-pécie de “cimento” no leito, afetando a vida de todo o ecossistema aquático.

ESPERANÇA DE MUDANÇAS

Diante do cenário desolador de um rio e comunidades arrasadas pela lama e de uma história permeada por casos de inércia e ineficácia por parte do go-verno e das empresas, resta olhar para o futuro e esperar que o presente ao me-nos sirva de lição. Não só para o Bra-sil, mas para o mundo, fala o geofísico David Chambers, também do CSP2. Chambers criou uma base de dados com o registro de problemas em barra-gens de rejeitos em todo o mundo, co-brindo todo o último século.

Ao resgatar e reunir essas informa-ções em um mesmo local, o pesquisa-dor descobriu que, embora tenha ha-vido uma redução na quantidade de eventos com o avançar da tecnologia, os rompimentos se tornaram muito mais graves com o passar dos anos. Na base de dados de Chambers, a maior concentração de acidentes muitos sé-rios está na primeira década do século 21. Entre 2000 e 2009, foram 10 rompi-mentos com essa classificação ao redor do mundo. Comparativamente, entre 1950 e 1959, não houve nenhum even-to muito sério. A previsão do cientista é de que a mesma média observada na década passada se repita até o encerra-mento desta década, com uma média de um grande rompimento de barragem a cada ano. Fundão foi apenas um deles.

E o problema, fala Chambers, está

longe de ser só brasileiro. “Quando divulguei meu estudo, a resposta que recebi foi a de que um grande rompi-mento nunca aconteceria na América do Norte. Seis meses depois, aconteceu o rompimento da barragem em Mount Polly”, diz o geofísico, referindo-se ao desastre ocorrido no Canadá em 2014, quando 23 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram lançados no meio am-biente, atingindo reservatórios de água da região e destruindo um lago usado para a criação de salmão.

É por isso que Chambers acredita que o caso brasileiro pode incentivar a criação de normas internacionais que ajudem a pôr limites às mineradoras. “Quando ocorre um rompimento des-ses, é preciso recuperar o meio ambien-te, pagar às pessoas que tiveram casas destruídas, vidas perdidas, negócios destruídos… Tudo isso precisa ser com-pensado e o governo não tem nenhuma garantia financeira para cobrir esse gas-to. Ele depende das companhias, o que é um problema porque os seguros das empresas também não cobrem catás-trofes causadas pelo rompimento das barragens”, analisa o especialista, que defende a criação de fundos mantidos pelas próprias mineradoras que possam cobrir os custos nos casos de emergên-cia. “Não sei quão forte é a regulação ambiental no Brasil, mas o país certa-mente tem muita mineração e é muito impactado por ela”, avalia Chambers.

17 de novembro

A empresa Samarco reconhece que Germano e Santarém, as outras duas barragens vizinhas a Fundão, também correm riscos de rompimento.

22 de novembro

A mancha marrom de rejeitos invade o mar no município de Linhares, no Espírito Santo, mudando a cor das águas.

25 de novembro

ONU se pronuncia sobre a tragédia pedindo ao governo brasileiro e às empresas envolvidas que tomem medidas imediatas para proteger o meio ambiente e as comunidades.

27 de novembro

Vale anuncia a criação de um fundo voluntário para a recuperação do Rio Doce, sem informar valores e isenta-se de responsabilidade em indenizações para os atingidos pela tragédia.

4 de dezembro

Em evento realizado em Londres, sob protesto de manifestantes na entrada de hotel, Vale diz esperar que todos os desalojados pela tragédia estejam em casas permanentes até o Natal.

FRED LOUREIRO/SECOM-ES GUI TAVARESROBERTO STUCKERT FILHO/PR

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CONECTANDO

ESTUDANTES DE SÃO

PAULO REFUNDAM

A CIDADERevogação do decreto que fechava 93 escolas públicas comprova que ocupações são método político legítimo

Por Alceu Luís Castilho, do Outras Palavraswww.outraspalavras.net

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Estudantes protestam contra fechamento

de escolas

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OO governador Geraldo Alckmin levou um xeque-mate já na primeira sema-na de ocupações em São Paulo. E de-morou a perceber. Mais até do que a presidente Dilma Rousseff levou para perceber a dimensão da catástrofe em Mariana (MG). Os estudantes fizeram uma jogada de mestre. Ocupar as es-colas que seriam fechadas levou ao governo estadual a imagem de trucu-lento – que só seria agravada em caso de reintegrações de posse.

Foi uma alternativa aos protestos de rua, precocemente abortados pelos black blocs. Estes foram isolados pelos secundaristas, em frente do Palácio dos Bandeirantes, enquanto tentavam derrubar as grades. O método violen-to servia para o governo – e para a opinião pública – desqualificar o mo-vimento. Mas a nova geração de ado-lescentes paulistanos mostrou-se mais madura que os militantes tradicionais. Não desistiu. Reuniu-se em assem-bleias e conquistou territórios.

E os territórios eram as próprias es-colas. Inicialmente, as que seriam fecha-das. O que levou a criminalização tradi-cional feita pela imprensa corporativa a soar ridícula: esta chegou a noticiar que os estudantes “invadiam escolas” – as próprias escolas. E mais: escolas que seriam fechadas. Como repetir que eles não queriam ter aulas, se era pelas esco-las que eles estavam brigando? Geraldo Alckmin ficou sem saber o que fazer. Parecia apenas torcer para que o movi-mento não se alastrasse.

E se alastrou. Dobrou a meta. Até sexta-feira 4 de dezembro, quando o governador desistiu da “reorgani-zação” e defenestrou o secretário de Educação, eram 196 escolas ocupadas, mais que o dobro das 93 escolas que ele queria fechar. Foi ficando tão de-sigual que parecia que os adolescentes jogavam um jogo de xadrez, como ve-lhos enxadristas, enquanto Alckmin se aplicava ferrenhamente a um jogo de damas – binário. Esperando que al-guma peça engolisse de uma vez todos os adversários. Essa peça não existia.

Como toda batalha política, trata-se também de uma batalha de comu-nicação. E quem costuma defender o governo estadual e sua polícia trucu-lenta viu-se, de repente, tão derrotado quanto o governador. O milagre de multiplicação da palavra “invasões” nos títulos foi sendo progressivamente percebido como algo extraterrestre. Só nossos jornalões mesmo para manter criminalizado o método político das ocupações – como se fossem seres pe-rigosíssimos a ameaçar pessoas ou o patrimônio público. Não colou.

IMPRENSA DERROTADA

É por isso que a vitória histórica dos estudantes significa também uma vitória contra certo modo de se fazer jornalismo político. Ainda que um jor-nalismo político disfarçado, escondido em nome de um noticiário “isento” que não é mais percebido como tal.

O Datafolha da última semana de de-zembro – que mostrou a queda da po-pularidade de Alckmin e o apoio popu-lar às ocupações – mostrou que também a imprensa foi uma grande derrotada. E, por isso, precisa se repensar.

As implicações são muitas. Mas vale insistir na carga política de se chamar ocupações de “invasões”. Se ficou demonstrado (com o aval do Judiciário) que as ocupações são le-gítimas, como continuar perpetuan-do a criminalização discursiva – ela que antecede a repressão – nos títu-los sobre sem-teto, sem-terra, estu-dantes universitários?

Enquanto isso, o jogo de xadrez dos secundaristas tratava a comu-nicação de forma contemporânea. Tomando a cidade como uma das peças. Ocupar a EE Fernão Dias Paes, em Pinheiros, significou tra-zer para o centro expandido, mais visível, uma disputa que talvez ficas-se amortecida nas periferias – estas que costumam ser criminalizadas sem que a classe média paulistana se sinta culpada. Os estudantes cata-pultaram, a partir dali, suas deman-das: Algo acontece em São Paulo, na #OcupaFernão.

E se comunicaram. Entre si, por meio de grupos no WhatsApp, com a ajuda das redes sociais, da impren-sa contra-hegemônica (pronta a noti-ciar abusos do governo e da polícia), e sabendo usar a própria cobertura da grande imprensa. Esta não consegui-ria distorcer os fatos o tempo todo, por muito tempo – e se viu obrigada a ser testemunha da maior manifestação urbana em rede de que se tem notícia no século 21, neste país que se acostu-mou a enxergar as cidades como ape-nas algo pulverizado.

UMA NOVA CIDADE

A cidade de São Paulo acaba de ser reinventada. Estudantes dos quatro cantos da cidade ocupando escolas com política, arte, cultura e capacidade de autogestão mostraram a todo o país – e não somente a esse governador subitamente letárgico – que existem outras formas de se pen-sar o urbano, não apenas como uma sucessão de prédios isolados. Mas em rede, de forma que prédios escolares das zonas sul, leste, norte, oeste se tornem, todos eles, centrais.

A cidade tem um novo Centro. Ele está em todas as partes e tem nos es-tudantes secundaristas a assinatura de sua alforria. Acaba de ser inaugurada em São Paulo a reterritorialização da luta política. As ruas plenamente libe-radas para que a direita exponha sua despolitização (ao ponto de tirar sel-fies com PMs) não costumam ser libe-radas para quem tenha uma pauta de reivindicações à esquerda. Por isso os estudantes buscaram as ruas virtuais e se entrincheiraram; e as trincheiras eram um território incontestável: as escolas. Públicas.

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THE SÃO PAULO

TAPES

THE SÃO PAULO

TAPES

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DREDES PARA O PRÓXIMO VERÃO

APOIO INSTITUCIONAL

PATROCÍNIO REALIZAÇÃO

PARCERIA

Durante o verão que está chegando ao Brasil, 36 projetos atuarão na cidade do Rio de Janeiro. Conduzindo essa onda de realizações estão jovens de origem popular das quatro zonas da capital. O foco é impactar territórios e mostrar novas possibilidades de agir e circular na cidade. Para fortalecer esse movi-mento da juventude por novos espaços de ação e visibilidade, a Agência de Redes para Juventude tem aproximado uma rede de parceiros nacionais e in-ternacionais. Conheça-os agora!

REDES NO TERRITÓRIO

“O Rio de Janeiro começa em Santa Cruz”, é assim que Marcus Faustini, idealizador da Agência de Redes para Juventude, refere-se ao bairro onde cresceu. Localizado na zona oeste da cidade, o bairro faz fronteira com outros municípios do estado. Além do seu contexto ge-ográfico, Santa Cruz é um ponto estratégico nas redes da Agência por apresentar um dos parceiros mais an-tigos da trajetória dessa metodologia.

A CEBs de Santa Veridiana (Co-munidade Eclesial de Base), localizada em Santa Cruz, foi um dos espaços responsáveis pela formação cultural e política de Faustini e de muitos ou-tros jovens na região. “Ao longo dos seus 23 anos de existência, ela vem mantendo o objetivo de estar aberta para encontros de qualquer natureza”, conta Alair Rebecchi, representante da comunidade. Dessa forma, além de sediar as reuniões da Agência, o lo-cal recebe também rodas de samba, aulas de capoeira, taekondo e apre-sentações de rock e funk. Uma das novas frentes de atuação é na cultura negra e para isso a CEBs está apoian-do a formação da ONG Associação de Mulheres Afrodescendentes Ativas (AMADA). As iniciativas locais que ganharam vida através do apoio e da ocupação do espaço mostram a impor-tância de ter como primeiros pontos de uma rede parceiros nos territórios.

REDES DA CIDADE

Ampliando os pontos estratégicos de articulações, a Agência de Redes para Juventude entende como fundamental estabelecer contato com o poder pú-blico. A juventude precisa ter direitos efetivados e isso acontece por meio dos processos institucionais. Assim, repre-sentantes da Agência, entre bolsistas e equipe, estiveram presentes em confe-rências de cultura, audiências públicas e outros meio de interlocução entre sociedade civil e os diversos âmbitos de governabilidade.

Um dos resultados dessa atuação foi aproximação com a Prefeitura do Rio de Janeiro, através do Instituto Eixo Rio/SMC, iniciada em 2015. De acordo com o presidente do instituto, Marcelo Silva, a Agência traz uma nova perspectiva para o lugar do jo-vem na cidade. “A partir do encontro com estes jovens, a Agência propõe um fortalecimento para ação destes no território e uma interação com ou-tros espaços e pessoas da cidade. De modo que eles atuem na construção de iniciativas e projetos, assumindo protagonismo nos seus projetos de vida”, conta o presidente.

REDES MUNDO

Reconhecendo o caráter adaptável da metodologia e identificando ques-tões comuns na juventude em outros lugares do mundo, a Agência passou a estabelecer conexões internacionais. Um dos objetivos é gerar oportunida-des de circulação para jovens de ori-gem popular. A primeira delas acon-teceu na Europa, em 2012, através da premiação realizada pela Fundação Calouste Gulbenkian.

O resultado desta conquista foi o investimento na criação da The Agency, na Inglaterra, nas cidades de Londres e Manchester. Os parceiros que condu-zem conjuntamente esta empreitada são Battersea Arts Centre, Contact Theatre e People’s Palace Projects.

DIVULG

AÇÃO

Por Juliana Sá e Marina Moreira, da Agência de Redes para Juventude

“Acredito que a metodologia da Agência de Redes para a Juventude trouxe mais evidências de que a arte e o trabalho criativo são fundamentais para que jovens se tornem empreendedores”, destaca André Piza, gerente de projetos do People’s Palace Projects, sobre um dos pilares da metodologia: aumentar a atuação da arte em questões sociais. “Se o projeto de um jovem é reconhecido em várias cidades do mundo como um projeto transformador, como ignorar a voz desse jovem nas discussões que ele faz parte sendo dentro da sua cidade ou do seu país?”, completa André.

Em 2015, outra grande parceria in-ternacional foi estabelecida com a Uni-versidade de Stanford, através do Pro-grama sobre Pobreza e Governabilidade (Program On Poverty and Governance – PovGov). Segundo Beatriz Magalo-ni, diretora do programa, entender a Agência é formular mais um caminho

para impactar positivamente a juventu-de no mundo. “Nós escolhemos traba-lhar com a Agência porque nós acha-mos que a organização desenhou uma metodologia que tem o potencial de revolucionar as estratégias que usamos para aliviar a pobreza e o combate à violência em muitas áreas do mundo em desenvolvimento através da edu-cação”, conta a também professora de ciência política.

Esses parceiros constituem parte de uma extensa rede que coloca os jo-vens de origem popular e seus proje-tos de impacto no território e de vida em diversas rotas de visibilidade. Do reconhecimento de suas ações e suas necessidade mais imediatas até espaços de decisão, pesquisa, fomento e outros tantos que lhe garantam o direito de agir na cidade e no mundo.

* Colaborou Carolina Lourenço

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BIXIGA 70>> PÁGINA 24

B R A S I LO B S E R V E R

NICOLE HEINIGER

Banda instrumental brasileira se

apresenta em Londres

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MÚSICA INSTRUMENTAL PARA DANÇARGUIA

Bixiga 70, de São Paulo, estreia em solo britânico. Mauricio Fleury, tecladista e guitarrista, conversa com o Brasil Observer

O ano de 2015 foi especial para quem mora em Londres e aprecia música brasileira de qualidade – e ao que tudo indica 2016 não será diferente! Se neste ano a cidade recebeu shows de nomes consagrados, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, e da nova sa-fra, como Criolo e Emicida, entre outros, no ano que vem a tendência continua, a começar pela vinda do grupo Bixiga 70, de São Paulo, que toca no Rich Mix dia 29 de janeiro.

Misturando influências sonoras da África e da Amé-rica do Sul, e com um espírito que nos remete à música inconfundível de Fela Kuti, a banda de dez integrantes, criada em 2010, se apresenta no Reino Unido pela pri-meira vez. E traz o repertório de seus três álbuns lança-dos até agora – os dois primeiros em 2011 e 2013, e o mais recente em setembro. Este último, aliás, elevou o som da banda a um novo nível graças ao entrosamento do grupo, cujo reflexo é possível notar nas composições, mais coletivas e identificadas com as características de cada membro.

Às vésperas da estreia do Bixiga 70 em solo britâni-co, o tecladista e guitarrista Mauricio Fleury concedeu entrevista ao Brasil Observer:

Como você define o som do Bixiga 70?

Música brasileira instrumental dançante.

Quão importante é o entrosamento entre os dez integrantes? Vocês já trabalham no automático ou é preciso muito ensaio?

O entrosamento é fundamental, é de onde vem o som. Isso vem sendo trabalhado desde o início da banda para chegarmos num som que tenha uma identidade forte, que seja a cara dos dez integrantes. Ensaiamos todas as terças-feiras desde o começo da banda em 2010. Nos en-tendemos cada vez mais rápido, mas ainda conversamos muito e nos preparamos para cada passo juntos.

O fato de ser um som instrumental faz com que ele seja mais aceito fora do Brasil ou torna a ‘internacio-nalização’ mais difícil?

Acredito que torna mais acessível o som pra quem não fala português, pois transcende as barreiras da comuni-cação verbal.

Qual avaliação você faz dos três discos da banda? Vocês sentem que houve uma evolução no trabalho de vocês? Em qual sentido?

Sentimos uma evolução clara e por isso estamos nos supe-rando a cada álbum. Em diversos sentidos: na forma de uma composição mais coletiva, onde as ideias de cada um são contempladas, e na busca de uma identidade única através da soma dessas ideias. Nossos discos não têm títu-los, pois consideramos que esses três primeiros álbuns são a busca de uma identidade, do que significa Bixiga 70.

Qual expectativa para Londres? Que público vocês esperam?

Ainda não sabemos qual público esperar, mas esperamos que eles dancem bastante! Nossa expectativa é a melhor possível, vai ser nossa primeira vez no Reino Unido e es-tamos ansiosos!

CRIOLO RETORNA A LONDRES EM ABRIL

Além de trazer o som do Bixiga 70, a equipe do Como No está preparando a próxima edição do La Linea – The London Latin Music Festival, que acontece em abril. Entre as atrações já confirmadas está Criolo, que se apresenta no dia 24 daquele mês no Koko. Um dos mais pro-eminentes representantes da cena contemporânea da música brasileira, o rapper já esteve na capital inglesa diversas vezes – e parece que deixou saudade.

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DICAS CULTURAIS

MÚSICA

THE SÃO PAULO

TAPES

A cantora brasileira radicada em Lon-dres Mônica Vasconcelos está fazen-do uma campanha de financiamento coletivo para finalizar seu novo disco, The São Paulo Tapes. O álbum reúne canções compostas por grandes nomes da música brasileira em resposta à dit-adura militar. E conta com uma ‘mãoz-inha’ do roqueiro inglês Robert Wyatt na produção. Contribuições podem ser feitas até o dia 5 de janeiro.A ditadura militar no Brasil (1964-1985) foi marcada por forte censura às artes e à produção intelectual. Mas também foi um período de imensa riqueza na vida cultural do país. Sem liberdade de expressão, grandes nomes da música brasileira driblaram os censores para criar uma coleção de canções eternas, que abordam temas universais. Amor. Liberdade. Justiça.The São Paulo Tapes paga tributo a al-guns desses mestres compositores e le-tristas. Chico Buarque, João Bosco, Aldir Blanc, Ivan Lins, Gonzaguinha, Caetano Veloso, Geraldo Vandré.A interpretação fica a cargo de Môni-ca Vasconcelos, que há duas décadas reside em Londres. A cantora tem sete álbuns gravados no Reino Unido. Entre seus parceiros nesses discos estão o compositor e violonista brasileiro Guin-ga (convidado especial no disco Gente), o jazzista inglês Steve Lodder e o violo-nista brasileiro Ife Tolentino.Outro ilustre parceiro de Mônica, o roque-

iro inglês Robert Wyatt (ela participou de um disco dele, ComicOpera, e ele do dela, Hih) dá uma ‘ajudinha’ na produção de The São Paulo Tapes. Figura lendária no rock britânico, Robert Wyatt é ex- inte-grante da banda de rock progressivo Soft Machine, trabalhou com Jimi Hendrix, Brian Eno, David Gilmour (do Pink Floyd), Paul Weller e Bjork, entre outros. Ele em-presta às canções de resistência seus ou-vidos ‘fresquinhos’ – pois não conhecia o material – e sua bagagem musical única.Além da combinação inusitada de in-gredientes, essa receita musical anglo brasileira ainda traz outro diferencial: coisa rara em lançamentos de música brasileira no exterior, as canções vêm acompanhadas de texto de apresen-tação em inglês e português, assinado pelo tradutor e professor de cultura brasileira David Treece (King’s College London). Os textos abordam o con-texto histórico e conteúdo das letras, permitindo que o público de língua inglesa aprecie melhor o poder e a beleza das canções.Cada contribuição para o financia-mento coletivo será retribuída com um prêmio. Os valores vão de £12 a £1,000. E os prêmios incluem cópia do disco, nome na lista de agradeci-mentos e até show na sala de estar do (generoso!) contribuinte.The São Paulo Tapes está na etapa de produção. O lançamento está previsto para o final da primavera de 2016.

g Mais informações: https://goo.gl/ozGxK3

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LITERATURACLUBE DO LIVRO CELEBRA UM ANO

A Embaixada do Brasil registra, com júbilo, que em dezembro o “Brazilian Bilingual Book Club” celebra seu pri-meiro aniversário proporcionando en-contros verdadeiramente inspirados e agradáveis. O nosso “Book Club” além de congregar leitores britânicos e bra-sileiros com muito êxito, também atrai membros de outras nacionalidades que vivem e trabalham nesse magnífico cen-tro cultural – Londres. De fato, como o artigo na revista The Linguist (nr. 54) mostra, o “Brazilian Bilingual Book Club” é o primeiro e único clube de liv-ro organizado por missão diplomática em Londres entre outros clubes de livro bilíngues que existem aqui. Os doze clássicos lidos possibilitaram aos nossos membros descortinar di-versas camadas da vida, história e so-ciedade brasileiras bem como ideias universais que foram destiladas, cir-culadas e assimiladas pelas narrativas ficcionais. O ACLAIIR Blog (da Biblio-teca Bodleian de Oxford) reimprimiu

o boletim do nosso Clube do Livro intitulado apropriadamente, “Mitos e estereótipos desfeitos através da literatura: O ‘Brazilian Bilingual Book Club’ promove intercâmbio cultural de valor inestimável”. Estamos convencidos de que o nosso Clube do Livro eventualmente possa interessar editores britânicos e outros em publicar traduções de alta qualidade dos clássicos da literatura brasileira neg-ligenciados até hoje. Todos os leitores com paixão pela literatura ficam convi-dados a desconsiderar clichês e críticas, simplesmente os convidamos a ler au-tores brasileiros para descobrir a alma do Brasil no ano dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 no Rio! Não perca o encontro de celebração no dia 17 de dezembro: discussão sobre ‘A Carne’, de Julio Ribeiro. E, em comemo-ração, o Quiz desta edição contará com prêmios e a lista dos livros para 2016 será anunciada! O clube do Livro é orga-nizado por Nadia Kerecuk.

Por Ministra-Conselheira Ana Maria de Souza Bierrenbach

g Mais informações: www.culturalbrazil.org

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Estou eu aqui ouvindo o segundo CD da cantora Valéria Lobão, o álbum duplo Valéria Lobão – Noel Rosa, Preto e Branco (Tenda da Raposa). Após ouvi-lo – e eu recomendo que façam o mesmo assim que possível – percebi que eu nunca mais ouviria Noel Rosa sem que me viesse à cabeça o feitio como ele foi agora gravado por Valéria.

A ideia do álbum é simples: selecionar 22 obras do repertório de Noel, cantá-las sempre acompanhada apenas por um pia-no – um pianista diferente a cada faixa – e convidar seis intérpretes para dividirem o canto com Valéria em meia dúzia des-sas obras-primas. Mas nem só de grandes clássicos vive o repertório – e este é um dos seus méritos: músicas praticamente desconhecidas foram gravadas por Valéria e seus parceiros pianistas.

Cada instrumentista se apoderou da canção que tocou, impregnando-a com seu talento; recriou levadas e harmonias; tocou introduções, improvisos e intermezzos que, de tão ardentes e intensos, nos trazem bons humores. Toda essa capacidade criadora

reluz como uma pedra preciosa, habilmente tratada por um ourives do piano. É isso que Valéria Lobão recebe deles, seus cúmplices, ambos empenhados em dar às músicas de Noel Rosa um requinte que, na verdade, elas sempre tiveram, mas que agora ganham fei-ções de reafirmada excelência.

Valéria canta e as notas deslizam su-aves de uma para outra, das mais agudas às mais graves. Para cada faixa, doçura, malícia ou emoção; brejeirice, seriedade e senso rítmico. Suas divisões são ótimas, bem como a sua respiração. A afinação... bem, a afinação de Valéria Lobão é a mais que perfeita das suas qualidades – sem cera nem verniz, plena.

O CD 1 abre com “Pastorinhas” (Noel e João de Barro). Ao piano, André Mehmari. Seu arranjo e a interpretação de Valéria dão a exata dimensão da ideia do projeto: revelar Noel Rosa de maneira incomum.

Tocado e arranjado por Rafael Vernet, “Só Pode Ser Você” (Noel e Vadico) traz na letra as mágoas de Noel com Ceci, o grande amor da vida do Poeta da Vila. Joyce Mo-

reno e Valéria cantam e acrescentam ainda mais melancolia aos versos.

Com arranjo de André Mehmari, to-cado por Robert Fuchs, “Sinhá Ritinha” (Noel e Moacyr Pinto), obra pouco co-nhecida de Noel, tem bela melodia, cheia de notas, permitindo a Valéria exibir mais um de seus muitos dotes. Outro desses é sua interpretação teatral do buliçoso “Mi-nha Viola” (Noel), arranjado e tocado por Leandro Braga. “Filosofia” (Noel e André Filho) está no CD 2; o arranjo e as inter-pretações de Itamar Assiere e Valéria são de um vigor arrebatador.

Tudo produzido, gravado, mixado e masterizado pelo pianista Carlos Fuchs – ele que criou o arranjo e dividiu “Último Desejo” com a intérprete, sucesso de Noel que fecha o CD 2.

E assim Valéria Lobão vivenciou seu transe musical, em que o (en)canto ora se mistura às teclas, ora se distancia delas, mas sempre impondo a certeza de que a música não tem limite para ir à mais profunda bele-za. Mesmo as de Noel Rosa.

AQUILES RIQUE REIS

UMA INTÉRPRETE IRREPREENSÍVEL

Nesta temporada de inverno, de norte a sul do país, você provavelmente vai notar uma pantomima sendo encenada em um teatro lo-cal. É tradição. Antes do Natal, durante os fe-riados ou como um deleite de Ano Novo, pan-tomima é atração certa para a família: teatro excêntrico para entreter.

Mesmo durante períodos de guerra as pantomimas não deixaram de acontecer. O período após a Segunda Guerra Mundial, que terminou em 1945, produziu um dos momentos mais difíceis para o teatro e a pantomima, mas pelo menos nos primeiros dias da guerra na década de 1940 o mundo da pantomima existia como uma fuga das ruas que explodiam em ataques aéreos e das condições austeras da Europa.

Os teatros tornaram-se lugares para onde escapar dos problemas por algumas horas. A Grã-Bretanha certamente precisava daquilo, a fim de manter a sanidade – e nada como uma boa panto para realizar isso.

Pantomima é uma instituição britânica fabulosa. Ocorre sempre próximo ao Natal e é quase sempre baseado nas bem conhecidas histórias infantis, como Peter Pan, Aladim, Cinderela, Bela Adormecida, entre outros.

Pantomimas são realizadas não só nos melhores teatros, mas também em salas me-nores e estão frequentemente muito bem atendidas pelo público.

A participação do público, aliás, é im-

portante. Os membros da audiência são in-centivados a vaiar o vilão e a animar o herói, cantando em voz alta.

Artistas populares vitorianos, cantores de salão e, mais tarde, estrelas do rádio sem-pre fizeram parte da tradição e subiram nos palcos interpretando personagens de suas histórias de pantomima favoritas.

Atualmente, o grande atrativo ainda são as celebridades convidadas. Neste inverno você pode encontrar o comediante Julian Clary em Cinderela, em Wolverhampton, o coreógrafo Louie Spencer em Aladim, em Hastings, o e ator David Hassellhoff em Pe-ter Pan, em Glasgow.

Em Londres há Elf, o musical, Cindere-la no Lyric Hammersmith e Robin Hood no Theatre Royal Stratford East. Já o National Theatre contratou o cantor e compositor Da-mon Albarn para criar o show Wonder.land.

Há um monte de palhaçada e arremesso de tortas; muitas vezes duas irmãs feias (geral-mente encenadas por homens) caem uma em cima da outra e um cavalo é representado por duas pessoas debaixo do figurino. Qualquer que seja a história, gargalhadas são bem pro-váveis. O vilão será derrotado, o amor con-quistado e todos viverão felizes para sempre.

Nenhuma das histórias é natalina, por isso pode parecer estranho que pantomimas só se produzem durante o inverno. Uma das origens reside nas peças morais medievais realizadas

no Natal que tinham um enredo do bem ven-cendo o mal. As antigas saturnálias romanas também fizeram sua parte. A reversão de gê-nero que é parte da pantomima hoje pode ser rastreada até essas duas tradições – quando a ordem natural das coisas era virada de cabeça para baixo durante os dias de festividades.

Especialistas também dizem que a panto-mima tradicional pode ter evoluído a partir do “Feast of Fools”, expressão europeia da Idade Média. A festa era incontrolável, envolvendo bebidas, folia e inversão de papéis. O Senhor da Desordem, normalmente um plebeu com reputação de saber desfrutar uma boa festa, era escolhido para dirigir o entretenimento.

Uma boa pantomima tem algo para to-dos, não só um mundo de conto de fadas, mas também referências contemporâne-as. Pantomimas também podem ser polí-ticas: há dois anos, o King’s Head Theatre produziu uma pantomima gay onde o Rei Rato era um banqueiro mal intencionado.

Pantomimas são como árvores de Natal. Goste-se ou não, sempre vão estar lá, bri-lhando. Há algo essencialmente inglês sobre pantomimas, você precisa experimentá-la ao vivo para realmente entender seu mundo.

Quando tudo à nossa volta parece deses-peradamente escuro e frio, e isso não apenas em relação às condições metrológicas, por que não derreter suas aflições de inverno e ir ver uma pantomima?

COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

VÁ VER UMA PANTO!

g Aquiles Rique Reis é músico, vocalista

do MPB4

g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado

da Companhia de Teatro StoneCrabs (stonecrabs.co.uk)

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Na última semana de novembro, São Paulo recebeu a terceira edição brasileira do festival catalão Sònar. Com uma programação diversa, teve espaço para debates sobre tecnologia, criatividade e, claro, música.

O Sonar+D, que discute novas ten-dências e tecnologias, aconteceu na Red Bull Station e teve curadoria de Hermano Vianna, Ronaldo Lemos e Alê Youssef. O conceito central do evento era o de “refazer”, no sentido de que tudo, na atualidade, está sendo e deve ser reconstruído, desde a forma como você consome até ao seu dia a dia andando pela cidade.

Assisti à palestra de Grant C. Dull (ZZK Records), pesquisador de mú-sica latina, dono de selo e criador do The Nu LatAm Sound, um programa sobre a cena musical latino americana que será lançado em breve. Mais foca-do na pegada eletrônica com misturas regionais, ele destaca nomes como

Chancha Via Circuito e Nicola Cruz, além dos brasileiros Omulu, João Bra-sil e Gang do Eletro. Teve também espaço “maker”, com palestras sobre novos negócios da música, startups e o espírito DIY. Já o Sónar Cinema, que aconteceu no MIS, foi uma ho-menagem ao cineasta holandês Frank Scheffer. Entre os destaques da mostra estavam Frank Zappa: A Pioneer of the Future of Music e Brian Eno: Music for Airports.

SOM NA CAIXA

O festival é conhecido principal-mente pelas atrações musicais, que foram poucas neste ano. The Chemi-cal Brothers (UK), Zopelar (BR), Hot Chip (UK), Pional (ES), Valesuchi (CL), Evian Christ (UK) e Brodinski (FR) se apresentaram numa noite chu-vosa no Espaço das Américas para um público de seis mil pessoas. Público

grande para um evento que custava R$ 550. Diferentemente do público que frequenta o Tomorrowland ou até mesmo o Lollapalooza, a média de ida-de ali era de 30 e poucos.

O duo inglês começou o show com um dos maiores hits, “Hey boy, hey girl”, e sem dúvida foi a atração que mais empolgou o público, que pulou durante uma hora e meia. Eu me sen-ti transportado para 2005, quando os quarentões não saiam da lista de mp3 que carregava no celular. Tinha boatos que só um dos “brothers” iria aparecer, mas eles vieram juntos e também trou-xeram robôs gigantes para o festival. Absolutely great!

Depois de esperar mais de uma hora sentado no chão, já que não tinha nenhum lugar onde fosse possível re-laxar, o grupo Hot Chip abriu o show com “Huarache Lights”, música do álbum mais recente, Why Make Sen-se, lançado em 2015. E depois um hit

atrás do outro: “One Life Stand”, “Ni-ght and Day”, “Over and Over” e “Re-ady for the Floor”. Senti que o público (pelo menos eu, para ser honesto) es-tava mais curtindo um revival do que dançando. A festa nunca termina, mas a idade chega.

De maneira geral, o festival tem uma ótima proposta, mas o atual for-mato ficou um pouco confuso e caro. Opções seriam reorganizar as bandas e DJs em festas durante vários dias ou aumentar as atrações de peso e fazer um festival com vários palcos em um lugar mais amigável, com lugar para esperar entre um show e outro. Que venham os próximos!

RICARDO SOMERA

IMPRESSÕES DO SÓNAR SP

g Ricardo Somera é publicitário e você pode encontrá-lo no

Twitter @souricardo e no Instagram

@outrosouricardo

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VIAGEM

PORTUGALDE LISBOA

AO PORTO

DIVULGAÇÃO

Por Ana Beatriz Freccia Rosa

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Prepare-se para ver castelos e cons-truções históricas, provar excelentes vinhos e saborear muita comida boa. Com este roteiro de Lisboa ao Porto, Portugal pode ser o destino perfeito para suas próximas férias.

Com 315 km para percorrer, a me-lhor alternativa é alugar um carro e co-nhecer as cidadezinhas pelo caminho. As rodovias são bem localizadas e fáceis de viajar, as distâncias entre as cidades são pequenas e as paisagens, de tirar o folego! Durante sete dias percorri o trajeto entre as duas principais cidades portuguesas parando em Cascais, Sintra, Óbidos, Fá-tima, Batalha e Coimbra. Conto agora os pontos altos de cada local.

LISBOA

Lisboa tem tanta, mas tanta coisa le-gal que é difícil escolher apenas algumas recomendações. Comece seu passeio andando de Elétrico, ou trem – percor-rendo os bairros históricos você terá uma ideia da cidade.

Visite o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, dois dos maio-res patrimônios mundiais. E, claro, prove o famoso Pastel de Belém, cuja receita é um dos maiores segredos da culinária portuguesa.

Não deixe de subir o Castelo São Jor-ge, o ponto mais alto da cidade. Perca-se nos bairros da Alfama e da Mouraria. Escolha um dos restaurantes para pro-var o seu prato português preferido e ouvir um fado.

Vá ao terreiro do Paço, considera-da a maior praça e símbolo da cidade, e passeie pela beira do Rio Tejo. Suba no Elevador Santa Justa enquanto per-corre a Baixa – a vista é linda e você consegue ver a parte antiga da cidade. O elevador, aliás, tem mais de cem anos e foi desenhado por Ponsard, discípulo do grande mestre das obras em ferro, Gustave Eiffel.

Visite também o bairro do Chiado, ideal para compras, e assista ao por do sol nos mirantes de Santa Catarina ou de São Pedro de Alcântara. Termine o dia jantando no bairro Alto, na noite mais animada de Lisboa.

CASCAIS

Distante apenas 30 minutos de Lis-boa e considerada uma vila, Cascais conta com várias fortalezas situadas entre a praia do Abano e de São Ju-lião da Barra, além de ruínas romanas, igrejas e capelas. O local tem clima ameno, belas paisagens, gastronomia variada e até um casino.

SINTRA

Apenas 20 km separam Cascais da bela vila de Sintra, que é Patrimônio Mundial da UNESCO na categoria Paisagem Cultural. Entre morros, bos-ques e palácios, tudo é lindo e ines-quecível. Vale até passar um tempinho maior na cidade e visitar o Palácio da Pena, uma de suas principais atrações.

Já o Castelo dos Mouros, construído no século 10, fica localizado em um dos cumes da serra de Sintra. A cami-nhada vale a pena e lá de cima tem-se uma vista deslumbrante. Também im-perdível é o Convento dos Capuchos, construído em meio à natureza para abrigar 12 monges que viviam em total despojamento e simplicidade. Como em todas as paradas comer é obriga-tório, não deixe de provar o famoso travesseiro ou a queijada. A Pastelaria Piriquita é a mais tradicional.

ÓBIDOS

A palavra Óbidos deriva de ópido, que significa cidadela ou cidade forti-ficada, pela quantidade de muros. Em 2007, o Castelo de Óbidos recebeu um diploma de candidato a uma das sete maravilhas de Portugal e recentemente as muralhas da cidade integraram o pro-jeto “Maravilhas de Portugal”, criado pela Direção Geral do Patrimônio Cultural junto com o Google – sendo possível vi-sualizar o local em 360 graus através do Google Maps. Na época de Natal, Óbidos se transforma em uma grande “Vila de Natal”. É a principal atração para mora-dores e muitos visitantes.

FÁTIMA

Conhecida por ser um dos maio-res centros de peregrinação católica do mundo, Fátima atrai mais de seis milhões de pessoas anualmente. O local, que ti-nha apenas uma capelinha onde crianças viram Nossa Senhora pela primeira vez, hoje chega a ser duas vezes maior que a Praça de São Pedro, no Vaticano. Com uma imagem de Nossa Senhora, visite a Capela das Aparições. Há diversas missas em vários idiomas. Em 2007, foi inaugu-rada a Basílica da Santíssima Trindade, com capacidade para até 8.000 pessoas, já que a Basílica de Nossa Senhora de Fá-tima, onde estão enterrados os três pas-torinhos, já não conseguia dar conta de receber tantos fiéis. Todos os locais são próximos uns dos outros, portanto fácil de visitá-los. Se você não gosta de multi-dões, evite a visita no dia 13 de cada mês. Principalmente no dia 13 de maio, que é a data que marca a primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima.

BATALHA

O Mosteiro da Batalha é um dos desvios que vale a pena. Considerado um dos mais bonitos de Portugal, foi construído como agradecimento à Vir-gem Maria pela vitória na Batalha de Aljubarrota. Foram mais de dois sécu-los e sete reinados para a sua constru-ção. Hoje é Patrimônio Mundial pela UNESCO e eleito como uma das sete maravilhas de Portugal.

COIMBRA

Além de ser a universidade mais antiga de Portugal, a Universidade de Coimbra também é uma das mais

antigas do mundo. Por isso, passear pelo seu campus e suas instalações é uma ótima pedida, justamente porque a melhor atração vai estar ali: os estu-dantes e suas capas pretas.

Por ser uma universidade cheia de tradições, os estudantes se orgulham de vestir a toga – tanto que há lojas específicas que vendem somente esses produtos, entre roupas e acessórios para os universitários.

Se você estiver em Portugal em maio, não perca a cerimônia da Queima das Fitas, que acontece durante a Sema-na Acadêmica e é a festa dos formandos da universidade. Coimbra é pequena, fácil de ser percorrida e se você quiser passar mais tempo por lá, não deixe de visitar a Sé Velha, que parece um castelo e que até hoje está praticamente intacto.

Passeie pela Baixa, a parte histórica da cidade, visite o Convento de Santa Clara, construído em memória da Rai-nha Isabel e que fica localizado no alto do morro, onde tem a melhor vista da cidade. Antes de ir embora, não perca a Quinta das Lágrimas. Hoje um be-líssimo hotel, o local é considerado o cenário de “Romeu e Julieta” em sua versão portuguesa.

PORTO

A famosa cidade do Porto, segunda maior de Portugal, oferece diversas e encantadoras atrações que podem ser vistas em apenas um dia, pela proximi-dade entre elas. Se você não estiver mui-to cansado ou achar que subir ladeiras é um bom exercício, aproveite para co-nhecer tudo andando.

Por outro lado, aproveite que o sis-tema de transporte funciona bem e per-corra a cidade de ônibus, parando em diversas estações de metro, pegando um tuk tuk – carrinho comum na Ásia e que já apresenta sua versão portuguesa – ou andando de bicicleta em algumas áreas, afinal, você já tomou tanto café e comeu tantos doces até chegar aqui que qual-quer esforço compensa para gastar um pouquinho das calorias.

Cercada de casarões antigos e edi-fícios históricos, comece o seu passeio atravessando a Ponte Dom Luís I e vi-site as caves em Vila Nova de Gaia, do outro lado do Rio Douro. Aproveite a vista de lá, que é linda, observe a Ri-beira e então cruze novamente a ponte em direção a essa área.

A Ribeira, de onde saem os pas-seios de barco, é realmente uma boa pedida. De lá, caminhe para o Palácio da Bolsa, a Sé Catedral, a Torre dos Clérigos e em então para a Avenida dos Aliados, considerada o coração da cidade. Visite a Rua de Santa Ca-tarina, onde você irá encontrar várias lojas e o famoso Café Majestic, além do Mercado do Bolhão.

O Museu de Arte Contemporânea de Serralves também é uma boa opção. Prove a Francesinha, prato típico do Porto, e se ainda tiver disposição e gos-tar de arquitetura, não deixe de visitar a Casa da Música.

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Delícias de Portugal

Fátima

g Para mais dicas sobre Portugal e outros destinos, acesse www.omundoqueeuvi.com

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