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8 GOIÂNIA, 6 A 12 DE MAIO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br Daniela Martins D o comum, Lázaro extrai o extraordinário. A se- quência de imagens de Benedito, o “Dito Severo”, e seu pito é um desses exemplos. Be- nedito tem 82 anos. É de Nova Veneza, e trabalhou boa parte da vida como meeiro em ter- ras que os imigrantes italia- nos ‘conquistaram’, há mais de 100 anos, na cidade vizinha à Capital – são menos de 50 qui- lômetros de distância. Meeiro é o trabalhador rural que cul- tiva a terra de outrem e divide a colheita, meio a meio, com o proprietário. Dito trabalhou primeiro nos cafezais, depois, com o fim do ciclo do café, nas colheitas de milho, de arroz, de verduras. Lázaro Neves é fotógrafo, como explica, ‘fotógrafo de cena, still’. Também é fotojor- nalista. Já passou por revistas como Casa e Flora, Flora Mu- lher e Foco, de Brasília; pela redação do Diário da Manhã, e fez alguns trabalhos para O Popular e Tribuna do Planal- to. Hoje prefere mergulhar em projetos mais intensos. “Jor- nal diário cansa um pouco, você fica amarrado. Se quer uma coisa mais inteira, tem que entrar bem na história, ter mais tempo”, ensina. Da paixão pela fotografia veio a paixão pelo cinema. En- veredou pelos documentos e curtas de ficção. Chegou a ser gente de verdade Fotografia de BRASIS LONGE DOS HOLOFOTES ESTÁ O BRASIL QUE LÁZARO VÊ, DE POVO SIMPLES, RELIGIOSO E LUTADOR. GENTE DE VERDADE. Procuro fazer uma fotografia engajada nas causas sociais. presidente da Associação Brasi- leira de Associação Brasileira de Documentaristas e Curta (ABD), em Goiás. O Benedito, de Nova Ve- neza, é personagem de seu últi- mo documentário, trabalho em parceria com Ângelo Lima que deve ser lançado até o final de 2018. A temática social é perene no cliques de Lázaro. “Procuro fa- zer uma fotografia engajada nas causas sociais, isso com certeza vai estar de forma muito explíci- ta em um próximo livro”, diz. Material ele tem de sobra. São muitos brasis, brasileiros e fatos visitados pelas lentes do goiano Lázaro Neves. Os índios de São Félix do Xingu, a prostituição in- fantil no Pará, a população ama- zônica, o Lago da Serra da Mesa, os oleiros de Jataí, os ocupantes do Parque Oeste Industrial na capital goiana, os pescadores de vilarejos de Belém do Pará, personagens de São Paulo, Mara- nhão e tantos outros cantos do País. Esse projeto em maturação é o livro com imagens em preto e branco, um clássico da foto- grafia. Lázaro, que é membro da Academia Trindadense de Letras Ciências e Artes (Atleca), está no processo de seleção das fotos históricas, jornalísticas. Tem Iris Rezende, ministro da Agricultu- ra, nos braços do povo, a posse de Lula na Presidência em 2002, a votação do impeachment de Dilma Rousseff, a luta do Movi- mento dos Trabalhadores Sem Terra, os esboços do arquiteto Oscar Niemeyer, eventos cultu- rais, como o Festival Internacio- nal de Cinema Ambiental (Fica), na Cidade de Goiás, e as belezas de Pirenópolis. A religiosidade é outra te- mática igualmente presente na obra do fotógrafo. Da procissão do Fogaréu, em Goiás, ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, ele faz expressivas ima- gens mergulhado, literalmente, na multidão. “Entro com duas câmeras, uma tele, outra de len- te mais curta, no meio do povo, faço a foto junto deles”, conta. O fervor das festividades re- ligiosas estão nas páginas do primeiro livro de Lázaro Neves. “Festa, Folclore, Fé” é uma cole- tânea de 25 anos de fotos das Cavalhadas, Romaria de Trinda- de, Procissão do Fogaréu, Folias dos Reis e Congadas de Catalão. Como está na capa do livro: são “Olhares sobre as expressões cul- turais do Estado de Goiás”. Benedito Severo, o Dito, figura singular de Nova Veneza Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém Imagem premiada: Niemeyer faz esboço do Centro Cultural que leva seu nome, em Goiãnia Sorriso na lona: menina do acampamento dos Sem Terra, no povoado de Carlândia, em Ipora, Goiás Marcante para Lázaro: mulher negra, entre militantes do Movimento Sem Terra (MST), fita a câmera do fotógrafo, como ele diz, com “olhar penetrante através dos óculos”

BRASIS LONGE DOS HOLOFOTES ESTÁ O BRASIL gente QUE …tribunadoplanalto.com.br/wp-content/uploads/2018/05/... · 2018. 5. 7. · Bariani Ortêncio prestigia Lázaro no lançamento

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Page 1: BRASIS LONGE DOS HOLOFOTES ESTÁ O BRASIL gente QUE …tribunadoplanalto.com.br/wp-content/uploads/2018/05/... · 2018. 5. 7. · Bariani Ortêncio prestigia Lázaro no lançamento

8 GOIÂNIA, 6 A 12 DE MAIO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br

Daniela Martins

Do comum, Lázaro extrai o extraordinário. A se-quência de imagens de

Benedito, o “Dito Severo”, e seu pito é um desses exemplos. Be-nedito tem 82 anos. É de Nova Veneza, e trabalhou boa parte da vida como meeiro em ter-ras que os imigrantes italia-nos ‘conquistaram’, há mais de 100 anos, na cidade vizinha à Capital – são menos de 50 qui-lômetros de distância. Meeiro é o trabalhador rural que cul-tiva a terra de outrem e divide a colheita, meio a meio, com o proprietário. Dito trabalhou primeiro nos cafezais, depois, com o fim do ciclo do café, nas colheitas de milho, de arroz, de verduras.

Lázaro Neves é fotógrafo, como explica, ‘fotógrafo de cena, still’. Também é fotojor-nalista. Já passou por revistas como Casa e Flora, Flora Mu-lher e Foco, de Brasília; pela redação do Diário da Manhã, e fez alguns trabalhos para O Popular e Tribuna do Planal-to. Hoje prefere mergulhar em projetos mais intensos. “Jor-nal diário cansa um pouco, você fica amarrado. Se quer uma coisa mais inteira, tem que entrar bem na história, ter mais tempo”, ensina.

Da paixão pela fotografia veio a paixão pelo cinema. En-veredou pelos documentos e curtas de ficção. Chegou a ser

gentede verdade

Fotografia de BRASIS LONGE DOS

HOLOFOTES ESTÁ O BRASIL

QUE LÁZARO VÊ, DE POVO

SIMPLES, RELIGIOSO

E LUTADOR. GENTE DE VERDADE.

Procuro fazer

uma fotografia engajada nas causas sociais.

presidente da Associação Brasi-leira de Associação Brasileira de Documentaristas e Curta (ABD), em Goiás. O Benedito, de Nova Ve-neza, é personagem de seu últi-mo documentário, trabalho em parceria com Ângelo Lima que deve ser lançado até o final de 2018. A temática social é perene no cliques de Lázaro. “Procuro fa-zer uma fotografia engajada nas causas sociais, isso com certeza vai estar de forma muito explíci-ta em um próximo livro”, diz.

Material ele tem de sobra. São muitos brasis, brasileiros e fatos visitados pelas lentes do goiano Lázaro Neves. Os índios de São Félix do Xingu, a prostituição in-fantil no Pará, a população ama-zônica, o Lago da Serra da Mesa, os oleiros de Jataí, os ocupantes do Parque Oeste Industrial na capital goiana, os pescadores de vilarejos de Belém do Pará, personagens de São Paulo, Mara-nhão e tantos outros cantos do

País.Esse projeto em maturação

é o livro com imagens em preto e branco, um clássico da foto-grafia. Lázaro, que é membro da Academia Trindadense de Letras Ciências e Artes (Atleca), está no processo de seleção das fotos históricas, jornalísticas. Tem Iris Rezende, ministro da Agricultu-ra, nos braços do povo, a posse de Lula na Presidência em 2002, a votação do impeachment de Dilma Rousseff, a luta do Movi-mento dos Trabalhadores Sem Terra, os esboços do arquiteto Oscar Niemeyer, eventos cultu-rais, como o Festival Internacio-nal de Cinema Ambiental (Fica), na Cidade de Goiás, e as belezas de Pirenópolis.

A religiosidade é outra te-mática igualmente presente na obra do fotógrafo. Da procissão do Fogaréu, em Goiás, ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, ele faz expressivas ima-gens mergulhado, literalmente, na multidão. “Entro com duas câmeras, uma tele, outra de len-te mais curta, no meio do povo, faço a foto junto deles”, conta.

O fervor das festividades re-ligiosas estão nas páginas do primeiro livro de Lázaro Neves. “Festa, Folclore, Fé” é uma cole-tânea de 25 anos de fotos das Cavalhadas, Romaria de Trinda-de, Procissão do Fogaréu, Folias dos Reis e Congadas de Catalão. Como está na capa do livro: são “Olhares sobre as expressões cul-turais do Estado de Goiás”.

Benedito Severo,o Dito, figura singular de Nova Veneza

Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém

Imagem premiada: Niemeyer faz esboço do Centro Cultural que leva seu nome, em Goiãnia

Sorriso na lona: menina do

acampamento dos Sem Terra, no povoado de

Carlândia, em Ipora, Goiás

Marcante para Lázaro: mulher negra, entre militantes do Movimento Sem Terra (MST), fita a câmera do fotógrafo, como ele diz, com “olhar penetrante através dos óculos”

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9 GOIÂNIA, 6 A 12 DE MAIO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br

Só correr para o abraço: a alegria estampada no rosto de duas crianças da Ilha de Quatipuru Mirim, litoral norte do Pará

Posse de Iris Rezende como ministro da Agricultura

Bariani Ortêncio prestigia Lázaro no lançamento do livro “Festa, Folclore, Fé”

Pescador no Rio Tocantins, em Imperatriz, Maranhão

Praia de Iracema no Mercado dos Pescadores, no Ceará

Aldeia dos índios Krikati, em Montes Altos, Maranhão

Catadora de materiais recicláveis no lixão do Eixo Monumental, em Brasília.

O símbolo nacional de ponta cabeça Prostituição de adolescentes no Pará

Luz e sombra na travessia de bicicleta, em Caiapônia