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Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira PROCESSO LEGISLATIVO no Responsabilidade política do parlamentar parlamentar

Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira

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Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira

PROCESSO LEGISL ATIVOno

Responsabilidade política do

ISBN 978-65-5589-198-0

Para se alcançar o resultado pretendido neste trabalho, as teorias do constitucionalismo popular desenvolvidas especialmente por Waldron e do procedimentalismo na formulação proposta por Ely, embora tenham sido construídas na concepção do judicial review estadunidense, possuem fundamentos capazes de serem difundi-dos por outros sistemas jurídicos ocidentais, inclusive o brasileiro, servindo como suporte teórico para a construção da narrativa que busca valorizar, por um lado, o Parlamento e o papel dos parlamen-tares na produção legislativa, exigindo, por outro, que estes assu-mam a responsabilidade pela realização de uma legislação dignifi-cada, com a incorporação dos atributos da representação política, sob pena de responderem politicamente na configuração de disfun-cionalidades na realização dos processos parlamentar e legislativo.

A partir de uma concepção que busca refundar o direito legislativo e as legislaturas, em detrimento da supremacia judiciária outrora consagrada, a obra pretende resgatar a importância do Parlamento no fortalecimento das democracias constitucionais, sem desconsiderar, contudo, a necessidade de os parlamentares assumirem seu múnus na condição de agentes políticos exercentes de mandato eletivo. Em razão desse desiderato, a obra propõe, ao final, a possibilidade de responsabilização política dos parlamentares, por ato incompatível com o decoro parlamentar, por desvio de finalidade legislativa, em razão da inobservância dos deveres constitucionais da representação política e dos princípios democráticos e republicanos no exercício da função parlamentar e da atividade legislativa.

no PROCESSO LEGISLATIVOparlam

entarResponsabilidade política do

Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira

Doutor e Mestre em Direito Público pela Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais. Consultor jurídico, na especialidade Direito Constitucional e Administrativo,

da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais. Advogado

sócio fundador do Nogueira Amorim Sociedade de Advogados.

Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito.

Membro do Conselho Editorial da Revista da Defensoria Pública do

Estado de Minas Gerais.

E-mail: [email protected]

Lattes: http://lattes.cnpq.br/4744235504995179 parlamentar

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Plácido Arraes

Tales Leon de Marco

Bárbara Rodrigues

Nathalia Torres

Nathalia Torres

Editor Chefe

Editor

Produtora Editorial

Capa, projeto gráfico

Diagramação

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Belo HorizonteAv. Brasil, 1843,

Savassi, Belo Horizonte, MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

São PauloAv. Paulista, 2444, 8º andar, cj 82Bela Vista – São Paulo, SPCEP 01310-933

Copyright © 2021, D’Plácido Editora.Copyright © 2021, Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira.

Catalogação na Publicação (CIP)

Bibliotecária responsável: Fernanda Gomes de Souza CRB-6/2472

Pereira, Bruno Cláudio Penna AmorimP436 Responsabilidade política do parlamentar no processo legislativo / Bruno Cláudio Penna

Amorim Pereira. - 1. ed. - Belo Horizonte, São Paulo : D’Plácido, 2021.254 p.

ISBN 978-65-5589-198-0

1. Direito. 2. Direito Público. I. Título.

CDDir: 341

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Ao meu pai, José Edgard Amorim Pereira (in memoriam), que nos ensinou a importância de nós, cidadãos e agentes públicos, agirmos e conduzirmos nossas ações com base na eticidade, especialmente no trato da coisa pública. À minha mãe, Maria Helena Mendes Moreira Penna,

símbolo de força, simplicidade e perseverança, valores fundamentais para o meu desenvolvimento como pessoa.

À minha mulher, Daniela, pelo companheirismo verdadeiro e permanente incentivo e pelos sólidos aprendizados em prol de nossa

constante evolução, e às milhas filhas, Manuela e Rafaela, que me fortalecem diariamente com atenção, ternura e carinho e me inspiram

sempre a buscar o melhor.

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Acredito que a legislação e as legislaturas têm má fama na filosofia jurídica e política, uma fama suficientemente má para lançar dúvidas quanto a suas credenciais como fontes de direito respeitáveis. Se essa má fama é ou não merecida por causa das extravagâncias, passadas e presentes, digamos,

dos membros da Câmara dos Comuns britânica ou das duas casas do Congresso dos EUA, é uma questão sobre a qual

não me pronunciarei. Isso porque o problema que percebo é que nem sequer desenvolvemos uma teoria normativa

da legislação que pudesse servir como base para criticar ou corrigir tais extravagâncias. Mais importante, não possuímos

um modelo jurisprudencial capaz de compreender normativamente a legislação como forma genuína de

direito, a autoridade que ela reivindica e as exigências que faz aos outros atores em um sistema jurídico.

(WALDRON, Jeremy, 2003, p. 1).

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S u m á r i o

Lista de abreviaturas e siglas 11

Prefácio 13

Introdução 17

1. Repensando o princípio da supremacia judicial na interpretação constitucional 23

1.1. A responsabilidade pela guarda da constituição: uma questão ainda controversa 23

1.2. A importância e a legitimidade da jurisdição constitucional na interpretação da constituição 44

1.3. Revisitando a supremacia judicial: a necessária oposição ao judicial review 63

1.4. O constitucionalismo popular como alternativa ao discurso da supremacia judicial? 83

2. A efetivação do processo legislativo nos regimes democráticos 103

2.1. Entre constitucionalismo e democracia 103

2.2. A crise do Legislativo e da democracia representativa e a necessidade de refundação do regime democrático 117

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2.3. A judicialização da política e do processo legislativo: a questionável inserção do Judiciário nos espaços democráticos 128

2.4. A legislação como fonte genuína do direito e o resgate do Parlamento como locus apropriado para a discussão e afirmação de direitos 147

3. A responsabilidade do parlamentar no processo legislativo 1673.1. A dicotomia da atividade legislativa:

autonomia ou vinculação? 168

3.2. A necessária objeção à assunção da inviolabilidade como fundamento para a indenidade do legislador 179

3.3. A necessidade de dignificação da legislação e a vinculação do parlamentar aos deveres de eticidade e da representação política 188

3.4. O desvio de finalidade no exercício da função legislativa 201

3.5. A necessária responsabilização político-disciplinar do parlamentar no processo legislativo como forma de aproximação entre direito, política e democracia 214

Conclusão 235

Referências 243

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L i s t a d e a b re v i a t u r a s e s i g l a s

ADC Ação Declaratória de Constitucionalidade

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

CCJC Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania

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P re f á c i o

Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira apresenta neste momento à comunidade jurídica os resultados de suas reflexões sobre a respon-sabilidade do parlamentar no processo legislativo, com a publicação do presente livro Responsabilidade política do parlamentar no processo legislativo.

O livro é fruto da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-gra-duação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas gerais, possibilitando-lhe a elaboração da tese que resultou na concessão do grau de Doutor em Direito.

Bruno consolida-se com esta publicação um dos principais pes-quisadores do Direito Parlamentar no Brasil, vocação revelada quando ainda estudante do curso de graduação da Faculdade Mineira de Direito da PUCMinas, àquele tempo redigindo e defendendo monografia ao final do curso sobre o tema processo legislativo.

Foi quando tive a grata oportunidade de conhecer sua pesquisa e constatar a seriedade com que desenvolve seus trabalhos, honrando o legado de sua tradicional família de profissionais do Direito.

Sua dissertação de mestrado, defendida com êxito perante a mesma instituição, abordou o processo legislativo no Estado Democrático de Direito e foi a base para a publicação de seu livro Jurisdição Constitu-cional do Processo Legislativo: legitimidade, reinterpretação e remodelagem do sistema no Brasil.

Posteriormente, organizou juntamente com este prefaciador o livro Direito Parlamentar: discussões contemporâneas, para o qual também contribuiu com capítulo intitulado Responsabilidade do parlamentar no processo legislativo: entre discricionariedade legislativa e os deveres de integridade e alteridade.

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Somam-se às publicações acima referidas vários artigos em revistas científicas, diversos deles abordando temas pertinentes ao Direito Parlamentar.

Ao contrário do que ocorre em países europeus, o Direito Par-lamentar no Brasil tem logrado pesquisas insuficientes para confirmar sua autonomia científica, sendo seus temas normalmente vinculados ao gigantesco panorama do Direito Constitucional.

Não obstante, a ampliação da estrutura do Estado desde o século XIX repercutiu não somente no Poder Executivo, sem dúvida expo-nencialmente maior, mas também no Poder Legislativo e, especialmente no século XX, no Poder Judiciário.

As atividades parlamentares deixaram a relativa singeleza das assembleias burguesas dos séculos XVII e XVIII para tomarem pro-porções cada vez maiores. A perda do monopólio da elaboração da lei não tornou menor sua complexidade; ao contrário, ampliadas as ati-vidades fiscalizadoras, as estruturas legislativas tornaram-se ainda mais intrincadas, requerendo do investigador do Direito denodo crescente.

Inevitavelmente à sombra do Direito Constitucional, ainda assim o Direito Parlamentar implica reflexões profundas, sobre o princípio da separação de poderes, sobre a natureza do processo legislativo, o princípio da convergência e a conexão entre a vontade da maioria expressa no Poder Legislativo e a vontade da nação manifestada através do Chefe de Estado, sobre a técnica de redação das leis, o impeachment e as Comissões Parlamentares de Inquérito, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, organizacional e patrimonial dos órgãos dos diversos poderes.

A esse vasto rol temático, a pesquisa de Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira acresceu a responsabilidade do parlamentar no processo legislativo, perscrutando o desvio de finalidade no exercício da atividade parlamentar como motivador da responsabilização dos legisladores.

O trajeto percorrido pondera, no capítulo que segue à introdução, as relações entre o Poder Judiciário e o Poder Legislativo, enfatizando o autor o princípio da soberania popular e o corolário do constituciona-lismo popular como moderador das relações entre instituições públicas.

No capítulo seguinte, o autor aborda a efetivação do processo le-gislativo nos regimes democráticos, um dos temas de sua predileção no Direito Parlamentar, concluindo de forma contundente pela legislação como fonte genuína do Direito e pelo resgate do parlamento como locus apropriado para discussão e afirmação de direitos, resgatando o

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legislativo de sua circunstancial subjugação ao Poder Judiciário, quan-do este avança, injustificadamente, sobre as fronteiras da deliberação pública majoritária.

O quarto capítulo compreende a iniciativa renovadora do livro, ao promover profunda reflexão sobre a responsabilidade político--disciplinar do parlamentar pelo desvio de finalidade no exercício da função legislativa.

Não se trata apenas de proposta transformadora do regime ético--disciplinar do parlamentar, mas abrange também seu vínculo político com os princípios da eticidade e à natureza da representação política.

A pesquisa de Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira aceitou o desafio de refletir sobre esta complexa teia de construções teóricas e práticas. E alcançou um resultado extremamente importante.

Desde suas pesquisas anteriores, Bruno apresentou um equilíbrio reflexivo pouco comum a jovens que buscam a pesquisa jurídica. Pes-quisador do Direito agora maduro, este equilíbrio nele se revela apri-morado, permitindo oferecer propostas para soluções sustentáveis aos problemas da legitimidade da representação parlamentar no Brasil.

É, em suma, um trabalho promotor da evolução do Direito Parla-mentar no Brasil, área do Direito à qual o autor se vincula com autoridade.

José Alfredo de Oliveira Baracho JúniorMestre e Doutor em Direito Constitucional

Master of Law pela Harvard Law SchoolProfessor do Programa de Pós-graduação em PUCMinas

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I n t ro d u ç ã o

A discussão que se pretende realizar neste trabalho parte de dis-cursos desenvolvidos pela teoria constitucional contemporânea no sentido de buscar alternativas à supremacia da jurisdição constitucional na interpretação dos enunciados constitucionais e na afirmação de direitos. Sem desconsiderar a importância do papel promovido pelo judicial review e das teorias que reforçam sua legitimidade, sobretudo a partir do período pós-Segunda Guerra Mundial, o novo desenho ins-titucional estabelecido em alguns países tende a valorizar as legislaturas, o processo parlamentar e o direito legislativo, desmitificando, como consequência, a atuação do Judiciário como único e último intérprete do texto constitucional.

Esses discursos que amoldam a nova teoria constitucional são fundamentais para sustentar a proposta que se apresenta neste trabalho, a qual se alicerça na relativização da superioridade do direito judiciário e no resgaste do papel exercido pelo Parlamento e por seus agentes na promoção de uma legislação dignificada. Por outro lado, pretende-se propor, com a refundação do Parlamento e do direito legislativo no novo desenho institucional estabelecido, que os parlamentares incor-porem os atributos da representação política, cuja inobservância, por disfuncionalidades na condução do processo legislativo, por desvio de finalidade, seja capaz de promover sua responsabilidade política.

As teorias constitucional e política ainda se esforçam na tentativa de resolução das vicissitudes pelas quais passa o constitucionalismo contemporâneo, especialmente no que diz respeito ao infindável e controverso debate sobre o órgão responsável pela guarda da consti-tuição e garantia da supremacia de seus enunciados. A temática ainda permeia relevantes discussões nas esferas jurídica e política e contribui

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para a reassunção de novos entendimentos em detrimento de con-cepções outrora consolidadas, as quais se empenharam na elaboração de discursos voltados para a legitimidade da jurisdição constitucional.

Considerada essa premissa, a proposta do primeiro capítulo é exatamente a de repensar o princípio da supremacia judicial na inte-pretação constitucional, com a apresentação de narrativas capazes de demonstrar que os sistemas jurídicos contemporâneos devem se de-senvolver de modo a relativizar a superioridade dos órgãos judiciários, buscando alternativas e soluções para que a interpretação constitucional e a afirmação de direitos sejam também realizadas por canais situados fora da esfera judicial.

A importância da justiça constitucional no contexto do cons-titucionalismo contemporâneo não será desconsiderada, nem os inúmeros discursos que preconizam a legitimidade dos órgãos con-tramajoritários na realização da constituição. A percepção de que a jurisdição constitucional, inclusive no constitucionalismo brasileiro, especialmente no pós-Constituição de 1988, tem sido instrumento que contribui para a afirmação dos direitos fundamentais e dos valores preconizados pelo Estado democrático de direito é ainda fundamental para o desenvolvimento de novas concepções no âmbito das teorias constitucional e política.

De qualquer modo, revela-se, como objetivo primordial do pri-meiro capítulo, a necessidade de revisitação da supremacia judicial, com a promoção de novo desenho institucional que possibilite a inclusão de outros canais de intepretação constitucional, relativizando o monopólio dos órgãos judiciários na intepretação constitucional.

A difusão do discurso de oposição ao judicial review, fundado na teoria do constitucionalismo popular, é alternativa que se apresenta como forma de resistência à supremacia judicial e ao seu autoritaris-mo, capaz de ainda produzir, como consequência, o entendimento de que a interpretação constitucional deve ser compartilhada com outros intérpretes, legitimados constitucionalmente, com a necessária inclusão do povo.

Embora as propostas difundidas pelo constitucionalismo popular estadunidense não se amoldem integralmente ao constitucionalismo brasileiro, por variadas razões, os fundamentos que a sustentam contri-buem não apenas para a contenção do ativismo judicial e a consequente refutação do entendimento de que a constituição não é aquilo que os tribunais dizem ser, como também para resgatar o papel do Legislativo

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e dos parlamentares na realização dos propósitos dos regimes democrá-tico e republicano, por meio da dignificação e qualificação da atividade legislativa por ele desempenhada.

Essas pré-compreensões serão indispensáveis para a abordagem realizada no segundo capítulo, que objetiva analisar a efetivação do processo legislativo nos regimes democráticos. A proposta é reverberar a ideia de que o processo legislativo, digna e democraticamente exer-cido, é essencial para a legitimidade da lei e, consequentemente, do direito. Nesse cenário, o estudo se desenvolve de modo a aprofundar a teorização sobre as legislaturas e o direito legislativo, reforçando a ideia de que a legislação, como fonte genuína do direito, se apresenta como instrumento capaz de representar a vontade geral e o bem comum se a atuação parlamentar, na construção legislativa, estiver direcionada ao cumprimento desses propósitos.

A controversa relação entre constitucionalismo e democracia será destacada, ainda como um debate contemporâneo, a partir do qual será possível chegar a soluções que contribuem, sobremaneira, para a evolução da teoria constitucional, do constitucionalismo e do regime democrático. A difundida narrativa que consigna o desalinhamento entre constitucionalismo e democracia será revisitada, com o propósito de aferir se o discurso é um sofisma, assim como a retórica que atrela a supremacia constitucional à supremacia judicial.

A pretensão de se alcançar a proposta de maior valorização das legislaturas, se dignamente conduzida, e de desconstrução do super-dimensionamento do direito judiciário não descartará a avaliação da dicotomia entre, de um lado, a crise do Legislativo, de sua atividade e da democracia representativa, e, de outro, a judicialização da política e o ativismo judicial, de modo a aferir, efetivamente, em que medi-da o Judiciário pode se imiscuir na esfera legislativa, contribuindo para o fortalecimento da lei como símbolo da vontade geral e fonte primeva do direito.

O intento de demonstrar que o exercício da democracia e da representação política deve ser ressignificado não terá por objetivo negar que superação da crise do sistema democrático e dos órgãos de representação majoritária, nos sistemas jurídicos atuais, depende do resgate do princípio da soberania popular e da refundação dos canais de afirmação dos espaços democráticos.

Em razão disso, a necessária promoção do discurso de contenção judicial, diante do manifesto ativismo judiciário que permeia os sis-

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temas jurídicos contemporâneos, com seu avanço desmedido sobre a política democrática, é pressuposto para o desenvolvimento da narra-tiva de resgate das legislaturas e de sua legitimada função na afirmação democrática de direitos.

A proposta do minimalismo judicial fortalece não apenas o discurso que propaga a contenção do direito judiciário e de sua supremacia, como também é capaz de promover deferência às legislaturas e ao processo democrático de formação das leis. A apresentação de teorias que pre-tendem valorizar o Parlamento como locus apropriado para a discussão e afirmação de direitos será necessária nesse contexto de desconstrução da valorização excessiva da jurisdição constitucional, indicando, por outro lado, que os membros do Poder Legislativo devem amoldar o exercício de suas funções institucionais, em especial a legislativa, aos propósitos constitucionais condicionados à promoção do bem comum e dos atributos da representação política.

A consolidação do entendimento de que o exercício da atividade parlamentar deve se pautar pelo bem comum e pela principiologia do republicanismo e da democracia apresenta-se como condição ao desenvolvimento do último capítulo, cerne do presente trabalho, em que se pretende analisar a responsabilidade do parlamentar no processo legislativo e o modo de sua configuração.

O exame perpassa pela avaliação da dicotomia da atividade le-gislativa, de modo a verificar se o exercício da atividade parlamentar é absoluto e incondicionado ou se, pelo contrário, haveria verdadeira vinculação. A análise, nesse capítulo, do discurso da inviolabilidade parlamentar como fundamento para a indenidade do legislador pro-porcionará avançar no estudo do papel do parlamentar na realização de suas funções parlamentares e legislativas, dos condicionamentos constitucionais imanentes à representação política e da possível res-ponsabilização por desvio de finalidade.

A abordagem da vinculação da atividade parlamentar ao sistema constitucional e à principiologia dos regimes democrático e republi-cano conduzirá ao apontamento dos deveres dos agentes legislativos na construção de uma legislação dignificada, pautada pela responsabilidade, eticidade e por outros atributos decorrentes da representação política.

A possibilidade de responsabilização do parlamentar por disfuncio-nalidades no exercício da função parlamentar dependerá da abordagem específica sobre o modo de configuração do desvio de finalidade le-gislativa. A ilustração do aludido desvio, a partir da exposição de casos

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concretos, muitos dos quais judicializados, reforçará o papel que o direito parlamentar contemporâneo deve exercer no sistema jurídico brasileiro.

A proposta do presente trabalho, portanto, perpassa pela crítica contemporânea à supremacia judicial na intepretação constitucional, sem desconsiderar o papel que as legislaturas, o direito legislativo e seus agentes devem assumir na dignificação da legislação, objetivando, ao final, avaliar de que modo e em que medida os parlamentares respondem, por ato ou procedimento incompatível com o decoro parlamentar, em razão da configuração de desvios de finalidade no exercício da função parlamentar e da atividade legislativa.

Para se alcançar o resultado pretendido neste trabalho, as teorias do constitucionalismo popular desenvolvidas especialmente por Waldron e do procedimentalismo na formulação proposta por Ely, embora tenham sido construídas na concepção do judicial review estadunidense, possuem fundamentos capazes de serem difundidos por outros sistemas jurídicos ocidentais, inclusive o brasileiro, servindo como suporte teórico para a construção da narrativa que busca valorizar, por um lado, o Parlamento e o papel dos parlamentares na produção legislativa, exigindo, por outro, que estes assumam a responsabilidade pela realização de uma legisla-ção dignificada, com a incorporação dos atributos da representação política, sob pena de responderem politicamente na configuração de disfuncionalidades na realização dos processos parlamentar e legislativo.

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ISBN 978-65-5589-198-0

Para se alcançar o resultado pretendido neste trabalho, as teorias do constitucionalismo popular desenvolvidas especialmente por Waldron e do procedimentalismo na formulação proposta por Ely, embora tenham sido construídas na concepção do judicial review estadunidense, possuem fundamentos capazes de serem difundi-dos por outros sistemas jurídicos ocidentais, inclusive o brasileiro, servindo como suporte teórico para a construção da narrativa que busca valorizar, por um lado, o Parlamento e o papel dos parlamen-tares na produção legislativa, exigindo, por outro, que estes assu-mam a responsabilidade pela realização de uma legislação dignifi-cada, com a incorporação dos atributos da representação política, sob pena de responderem politicamente na configuração de disfun-cionalidades na realização dos processos parlamentar e legislativo.

A partir de uma concepção que busca refundar o direito legislativo e as legislaturas, em detrimento da supremacia judiciária outrora consagrada, a obra pretende resgatar a importância do Parlamento no fortalecimento das democracias constitucionais, sem desconsiderar, contudo, a necessidade de os parlamentares assumirem seu múnus na condição de agentes políticos exercentes de mandato eletivo. Em razão desse desiderato, a obra propõe, ao final, a possibilidade de responsabilização política dos parlamentares, por ato incompatível com o decoro parlamentar, por desvio de finalidade legislativa, em razão da inobservância dos deveres constitucionais da representação política e dos princípios democráticos e republicanos no exercício da função parlamentar e da atividade legislativa.

no PROCESSO LEGISLATIVOparlam

entarResponsabilidade política do

Bruno Cláudio Penna Amorim Pereira

Doutor e Mestre em Direito Público pela Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais. Consultor jurídico, na especialidade Direito Constitucional e Administrativo,

da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais. Advogado

sócio fundador do Nogueira Amorim Sociedade de Advogados.

Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito.

Membro do Conselho Editorial da Revista da Defensoria Pública do

Estado de Minas Gerais.

E-mail: [email protected]

Lattes: http://lattes.cnpq.br/4744235504995179 parlamentar