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O Budismo na História das Religiões.
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Histria das Religies 22
BUDISMO
Em termos de Histria das Religies no se pode considerar o budismo uma
religio que tenha surgido do nada, como creatio ex nilhilo. Seu Sitz im Leben
(contexto vital) so as culturas urbanas do vale do rio Ganges, que se desenvolveram
depois do sc. VI a.C..
O fundador do budismo um personagem histrico: Siddhartha Gautama.
Demorou dez sculos at que toda a sua biografia fosse elaborada, tornando-se hoje
em dia praticamente impossvel distinguir o Buda histrico do Buda da f. As tradies concordam em que faleceu na idade de 80 anos, isto , que
ingressou no nirvana nesta idade. Assim sendo, o budismo no propriamente uma religio. Buda esteve muito
longe de fundar um movimento religioso, no s porque no se preocupou com o culto
dos deuses e com a especulao teolgica, mas, principalmente, porque se voltou
unicamente para o homem, cuja sorte miservel, neste mundo, pensou remediar, ou ao
menos aliviar, libertando-o de tudo o que pudesse levar dor.
Buda, porm, no negou a existncia de Deus: e isso permitiu que o povo
seguisse as suas antigas tradies religiosas.
Alm disso, todos os autores que escreveram sobre a Histria das Religies
insistem em ver, no budismo, um movimento religioso: e isso por causa da mesma
atitude de Buda perante o problema da dor.
Nascimento do Buda.
O historiador pode aceitar, mais ou menos, os seguintes fatos relativos vida de
Buda.
Buda nasceu em meados do sculo VI a.C. (a data aproximada 563 a.C.), em
uma famlia nobre pertencente s castas dos xtrias (guerreiros). Essa casta sempre
alimentou certa animosidade contra a casta dos brmanes por causa do esprito
especulativo e ritualista destes.
O perodo no qual Buda viveu foi caracterizado tanto por uma grande
efervescncia asctica, como tambm, por grande ceticismo ideolgico, que chegava a
contestar a existncia dos deuses e at a capacidade humana de chegar verdade.
Estas observaes so importantes para compreender o surgimento do budismo
e os problemas que ele levantou.
A famlia de Buda estabelecera-se na aldeia de Kapilavastu, no reino de Kosala,
situada aos ps do Himalaia, na fronteira meridional do atual Estado do Nepal. O nome
patronmico de Buda era Gautama, e seu nome pessoal, Siddhartha.
Siddhartha, ao que parece, levou durante longos anos uma vida relativamente
tranqila, gozando de luxo principesco, sem dvida alguma exagerado pela tradio,
pois a vida naquela poca e naquela regio, mesmo em se tratando de um prncipe,
deveria ser bastante rude. Casou-se e teve um filho.
Muito sensvel, foi marcado pela atmosfera intelectual e espiritual de sua poca. Isso
provocou-lhe enorme insatisfao.
Impressionado com o problema do sofrimento, aos 29 anos, mais ou menos,
deixou tudo e tornou-se discpulo de dois famosos mestres da poca: Arada Kalama e
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Udraxa Ramaputra. Como o ensino dos mesmos no o satisfizesse, entregou-se, por
alguns anos, a prticas ascticas (jejuns, penitncias) que o deixaram extenuado, mas
no esclarecido. Resolveu, ento, provar por si mesmo a soluo do problema que o
atormentava, e encontrou-a, certa noite, quando meditava ao p de uma figueira, em
Urubilva, hoje Bodh-Gaya.
Julgando-se devidamente esclarecido sobre a origem da dor e sobre o modo de
super-la, dirigiu-se a Benares ao encontro de cinco antigos companheiros de
ascetismo e pregou-lhes o primeiro sermo sobre a iluminao, dando origem ao movimento budista.
O termo Buda significa iluminado. Buda conseguiu numerosos discpulos que, em princpio, se fizeram pregadores
itinerantes, mas que logo sentiram a necessidade de se reunirem em grupos fechados,
como acontecia com outros movimentos similares, dando origem aos mosteiros
budistas, ainda durante a vida do mestre, e com regras ditadas ou aprovadas pelo
mesmo.
Por ocasio da morte de Buda (483 a.C.), o budismo j se estendera por boa
parte da ndia.
Num relato sobre a vida de Buda, fala-se da crise espiritual que ele sofreu ao
encontrar um velho, um doente e um cortejo fnebre. No sabemos se esses encontros
aconteceram de verdade; mas o significado do relato claro: num determinado
momento, Buda descobre que a vida humana caracterizada pela dor.
As quatro verdades nobres do budismo.
Na viso de Gautama Buda, o fundador da religio budista, a vida se caracteriza
pelo sofrimento (dukkha). Essa a Primeira das Quatro Nobres Verdades de que se
inteirou ao alcanar a iluminao espiritual, enquanto meditava debaixo de uma
figueira em Buddh Gaya.
O conceito de dukkha inclui um amplo espectro de coisas, tais como a dor fsica
e mental, as frustraes da vida do dia-a-dia, alm de expectativas e desejos no
realizados.
As Quatro Nobres Verdades foram demonstradas como se fossem os estgios
em uma consulta mdica. Assim, se dukkha era o diagnstico, a Segunda verdade,
samudaya, teria a ver com a identificao da causa da desordem. O Buda afirmava que
as origens da dukkha consistiam em nosso apresamento a coisas transitrias objetos materiais, outras pessoas, o eu, e assim por diante. Experimentamos esse apego como uma espcie de dor fundamental.
exatamente a sede e o desejo ardente que fazem surgir a existncia repetida, que se acha aliada ao apetite fervoroso, e que procura sensaes novas aqui e acol...
A Terceira Nobre Verdade nos ensina o caminho para terminar com o
sofrimento pelo nirodha, a cessao da busca do transitrio. Isso o que define na Quarta Verdade, descrita em maiores detalhes na Nobre Trilha ctupla (a qual
compreende o correto entendimento, correta inteno, correto discurso, correta ao,
correta vivncia, correto esforo, correta ateno e correta concentrao).
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Tipos de Budismo: O budismo ps Buda.
O Buda decidiu no nomear um sucessor formal antes de morrer, preferindo
deixar que cada um de seus seguidores escolhesse um caminho e buscasse dentro de si
mesmo a iluminao. Logo depois de sua morte, no entanto, um conselho se reuniu
para dirimir as crescentes diferenas entre os seguidores budistas.
Esse conselho, liderado pelo monge Mahakasyapa, foi a primeira de muitas
tentativas semelhantes de resolver as vises diferentes no direcionamento da f.
Disputas doutrinais dentro da nova religio tornaram-se comuns nos sculos que se
seguiram morte do Buda; e essas disputas no foram dirimidas com facilidade.
Surgiram muitas seitas budistas, em parte resultantes de disputas sobre os detalhes das
disciplinas monsticas.
Por fim, 18 escolas de disciplinas foram reconhecidas. Dessas, apenas uma, a
Theravada (doutrina dos ancios), existe at hoje. A escola Theravada, que v os ensinamentos mais sagrados como sendo os do
prprio Buda, enfatiza uma vida solitria de disciplina religiosa pessoal baseada no
desapego e na recluso, venera o caminho da renncia o seguimento de um estilo de vida rigoroso e purificador em benefcio dos objetivos espirituais. claro que os fiis
leigos seguiro um regime espiritual menos ambicioso, adotando um estilo de vida
tico de modo geral, e talvez ajudando as ordens monsticas.
Aproximadamente em 100 d.C., contudo, uma concepo muito diferente
comeou a surgir como um poderoso movimento dentro da f. Ela ficou conhecida
como a escola Mahayana. Essa viso do Budismo preferiu focar menos as virtudes
supremas de uma vida de recluso e mais a importncia da compaixo e do servio aos
outros. O ideal dessa ramificao da f no era o sbio perfeito, mas a alma avanada
que merece o Nirvana (experincia direta da realidade suprema) jura adiar a entrada
at que todos os seres sencientes sejam resgatados da roda de nascimento e sofrimento.
O fundador desta escola foi o reverenciado filsofo Nagarjuna. Ele ensinou que o
estado de Buda pode ser obtido sem necessariamente renunciar ao mundo. Segundo
essa viso, o Nirvana uma realidade que pode ser trazida existncia no momento
presente. O Nirvana outra verso do objetivo, o que seria o cu budista, deriva-se do
significado da palavra esfriar. Entrar em estado de nirvana como sair do calor do meio-dia e entrar na sombra. esfriar o calor das paixes, deixar passar e ficar em
paz.
A fidelidade budista.
No budismo tibetano, apesar de todos os acrscimos culturais que carrega, o
monge mantm a fidelidade aos ensinamentos fundamentais do Buda, a saber, as
Quatro Nobres Verdades, a prtica de Bhavana, ou cultivo da mente, conhecido sob o
nome genrico de meditao e a prtica de Refgio no Buda histrico nascido na
ndia, no Seu ensinamento, o Budadharma e na Comunidade de monges praticantes
realizados, a Sangha (comunidade monstica muito parecida com um mosteiro
ocidental).
A prtica do Budismo diz muito sobre tornar-se um ser humano melhor. Tornar-
se um ser humano melhor significa estar apto a ajudar aos outros assim como a voc
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mesmo, evitando os padres negativos de comportamento e adotando os positivos.
Existem 5 passos que podem nos ajudar na busca deste objetivo.
O Budismo Theravada enxerga a importncia da fidelidade; enfatiza a
fidelidade aos preceitos. Tanto os budistas leigos praticantes quanto os monsticos se
comprometem a seguir os seguintes preceitos:
- No matar.
- No roubar.
- No agir de modo lascivo (fornicao e toda forma de impureza).
- No mentir.
- No ingerir substncias txicas (licor fermentado, lcool e bebida forte).
Alem disso, os monges juram:
- No comer em horrios no determinados (de tarde).
- No participar de entretenimentos considerados seculares: danar, cantar e qualquer espetculo.
- No usar perfumes ou unguentos; enfeitar e embelezar o corpo usando grinaldas.
- No dormir em cama ou sentar em poltrona muito alta ou larga.
- No aceitar ouro e prata (dinheiro).
Todos esses preceitos tm como objetivo extinguir, aos poucos, o fogo das
paixes que, com efeito, alimentado pelas aes proibidas por eles.
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