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Combate a Incêndio Estrutural - Formação LIÇÃO 1 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO FOGO OBJETIVOS: Ao final desta lição, os participantes serão capazes de: 1. Conceituar corretamente os termos “fogo” e “incêndio”; 2. Indicar os 4 componentes essenciais do fogo (tetraedro do fogo); 3. Citar pelo menos 3 diferentes produtos da combustão; 4. Citar os 3 mecanismos básicos para a transferência (propagação) do calor; 5. Explicar a diferença entre ponto de combustão e ponto de ignição. 6. Explicar os diferentes métodos de extinção de um incêndio interior. 7. Enumerar corretamente as 5 classes de incêndio e citar um exemplo para cada uma delas. MP – Lição 1 – Página 1

c - Lição 1

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    LIO 1

    INTRODUO CINCIA DO FOGO

    OBJETIVOS:

    Ao final desta lio, os participantes sero capazes de:

    1. Conceituar corretamente os termos fogo e incndio;

    2. Indicar os 4 componentes essenciais do fogo (tetraedro do fogo);

    3. Citar pelo menos 3 diferentes produtos da combusto;

    4. Citar os 3 mecanismos bsicos para a transferncia (propagao) do calor;

    5. Explicar a diferena entre ponto de combusto e ponto de ignio.

    6. Explicar os diferentes mtodos de extino de um incndio interior.

    7. Enumerar corretamente as 5 classes de incndio e citar um exemplo para cada

    uma delas.

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    1 INTRODUO

    Sabemos que difcil prever com exatido quando ir ocorrer um incndio e, uma vez iniciado qual ser sua proporo, no entanto, atravs do conhecimento cientfico da dinmica do fogo, podemos determinar os mtodos mais adequados para controlar os incndios.

    Segundo a teoria bsica do desenvolvimento do fogo, seu efetivo controle e extino requer um entendimento da natureza fsico/qumica do fogo e isso inclui informaes sobre elementos essenciais do fogo, fontes de calor, composio e caractersticas dos combustveis, mecanismos de transferncia do calor e as condies necessrias para a ocorrncia da combusto.

    2 CONCEITOS BSICOS

    Fogo e combusto so termos frequentemente usados como sinnimos, entretanto, tecnicamente, o fogo apenas uma das formas de combusto. Pode-se dizer, ainda, que o fogo a parte visvel de uma combusto.

    Combusto uma reao qumica de oxi-reduo, exotrmica, entre uma substncia combustvel e um oxidante.

    O fogo pode ser conceituado como um processo (reao qumica) de combusto, de oxidao rpida, auto-sustentvel, acompanhada pela produo de luz e calor em intensidades variveis.

    J o incndio toda e qualquer combusto rpida, ou seja, fogo, fora do controle do homem, que pode danificar ou destruir bens e objetos e lesionar ou matar seres vivos.

    Outro conceito diz que o incndio uma combusto descontrolada.

    Ainda neste conceito importante verificar que o fogo quando aproveitado corretamente fornece grandes benefcios que podem suprir nossas necessidades industriais e domsticas, mas, quando descontrolado, pode causar danos humanos, materiais e ambientais.

    3 COMPONENTES ESSENCIAIS DO FOGO

    Combustvel; Comburente (em geral, o oxignio); Calor ou energia trmica; e Reao qumica em cadeia.

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    Figura 1: Tetraedro do Fogo

    Durante muitos anos, o tringulo do fogo (combustvel, oxignio e calor) foi utilizado para ensinar os componentes do fogo. Ainda que aquele exemplo fosse simples e til para uso nas instrues, tecnicamente no era totalmente correto.

    Para que se produza o fogo, necessita-se, na verdade, de quatro elementos. Portanto, para efeito didtico, se adota o tetraedro (figura de quatro faces) para exemplificar e explicar o fenmeno do fogo, atribuindo-se, a cada uma das faces, um dos elementos essenciais do fogo, a saber: o combustvel (algo que queima), o oxignio (agente oxidante), o calor (energia trmica) e a reao qumica em cadeia.

    Em resumo, podemos afirmar que a ignio requer trs elementos, o combustvel, o oxignio e a energia (calor). Da ignio combusto auto-sustentvel um quarto elemento requerido, a reao em cadeia.

    3.1 CONSIDERAES SOBRE O COMBUSTVEL

    O combustvel a substncia que se oxida no processo da combusto. Cientificamente, o combustvel de uma reao de combusto conhecido como agente redutor. A maioria dos combustveis mais comuns contm carbono junto com combinaes de hidrognio e oxignio. Esses materiais combustveis podem ser divididos em hidrocarbonetos (como a gasolina, gases, leos e plsticos) e derivados da madeira (como a celulose/papel).

    So todos os elementos orgnicos (sem exceo) ou inorgnicos que em contato com o oxignio so capazes de sofrer combusto.

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    De forma simplificada, podemos dizer que o combustvel toda a substncia capaz de queimar-se e alimentar a combusto, ou seja, o elemento que serve de campo de propagao ao fogo.

    De maneira geral quase todas as matrias so combustveis a uma determinada temperatura, porm, para efeito prtico, arbitra-se a temperatura de 1000C como divisor entre os materiais considerados combustveis (entram em combusto a temperaturas iguais ou inferiores a 1000C) e os incombustveis (entram em combusto a temperaturas superiores a 1000C).

    Os combustveis podem ser slidos, lquidos ou gasosos e, a grande maioria precisa passar pelo estado gasoso para, ento, combinar-se com o oxignio e entrar em combusto.

    A velocidade da queima de um combustvel depende de sua capacidade de combinar-se com o oxignio sob a ao do calor, assim como da sua fragmentao (rea de contato com oxignio).

    3.1.1 Combustveis slidos

    Os combustveis slidos, quando expostos a determinada quantidade de energia trmica, em forma de calor, sofrem decomposio, liberando produtos gasosos (vapores) num processo chamado pirlise (decomposio qumica de uma substncia mediante a ao do calor). Esses produtos gasosos em contato com o oxignio do ar numa concentrao adequada, formam uma mistura inflamvel1, que na presena de uma fonte de ignio (fasca, chama, centelha), se inflamam.

    Figura 2: Mecanismo de ignio de combustvel slido.

    Fonte: Seito (2008).

    Os combustveis slidos tm forma e tamanho definidos. Esta propriedade afeta significativamente o modo como estes combustveis se incendeiam.

    A posio do combustvel slido afeta sua forma de queima, por exemplo: se uma determinada chapa de madeira (uma porta) est em posio vertical (de p), a propagao do fogo ser mais rpida do que se sua posio fosse na horizontal (deitada).

    1 Seito, conforme figuras 2, 4 e 5, define a combinao de gases e vapores combustveis com o ar, como sendo mistura explosiva. Nosso entendimento no sentido que o que se forma na verdade umamistura inflamvel.

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    importante tambm, levar em conta o coeficiente de superfcie-massa dos combustveis, ou seja, a rea de superfcie do material combustvel em proporo a sua massa. Quanto maior o coeficiente superfcie-massa, maior ser a facilidade deste material entrar em combusto

    Um bom exemplo de coeficiente de superfcie-massa pode ser dado pela madeira. Considerando um pedao bruto de um galho de rvore cortado, onde a massa desse pedao de madeira bem alta, mas sua rea de superfcie relativamente pequena, por esse motivo o coeficiente de superfcie-massa baixo. Se cortarmos essa lenha bruta em chapas finas de madeira, teremos a mesma massa em relao ao galho bruto (primeiro pedao de lenha), mas um aumento na rea de superfcie, o que, consequentemente, aumentar o coeficiente de superfcie-massa. Se essas tbuas forem lixadas, o p resultante ter um coeficiente de superfcie-massa ainda maior que os exemplos anteriores.

    A posio do fogo dentro do cmodo incendiado tambm afeta o desenvolvimento do incndio, em funo da maior ou menor quantidade de ar ofertado ao fogo em processamento.

    Figura 3: Posio dos materiais combustveis dentro de um comodo.

    3.1.2 Combustveis lquidos

    No caso dos combustveis lquidos, os vapores combustveis so gerados a partir de um processo chamado vaporizao. A vaporizao a transformao de um lquido em vapor, ou seja, a mudana do estado lquido para o estado gasoso.

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    Os vapores formados em contato com uma concentrao adequada de comburente (oxignio do ar) ir proporcionar uma mistura inflamvel. Essa mistura, na presena de um agente gneo ou por ter atingido o seu ponto de ignio, ir se inflamar.

    Figura 4: Mecanismo de ignio de combustvel lquido

    Fonte: Seito (2008).

    A vaporizao de combustveis lquidos geralmente requer um gasto de energia bem menor do que a pirlise dos combustveis slidos, o que explica o fato de serem combustveis mais eficientes que os slidos.

    3.1.3 Combustveis gasosos

    So aqueles combustveis que em temperatura ambiente apresentam-se j em estado de gs ou vapor, no necessitando serem aquecidos para formar a mistura inflamvel, requerendo, assim, ainda menos energia ainda que os combustveis lquidos.

    Figura 5: Mecanismo de ignio de combustvel gasoso.

    Fonte: Seito (2008).

    Como combustveis gasosos podemos citar o gs natural, o acetileno, o hidrognio, o monxido de carbono, o GLP (gs liquefeito de petrleo), o metano, o propano e o butano.

    Os combustveis gasosos para inflamarem necessitam de uma composio ideal, uma dosagem, com o ar atmosfrico (oxignio).

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    Concentraes maiores ou menores ao limite de inflamabilidade de um combustvel gasoso inviabilizaro a inflamao. Alguns exemplos:

    COMBUSTVEL CONCENTRAOLIMITE INFERIOR LIMITE SUPERIOR

    Metano 1,4% 7,6%Propano 5% 17%Hidrognio 4% 75%Acetileno 2% 80%Monxido de Carbono 12,5% 74%

    3.2 CONSIDERAES SOBRE O COMBURENTE

    Os comburentes ou agentes oxidantes so aquelas substncias que cedem oxignio ou outros gases oxidantes durante o curso de uma reao qumica. So no processo qumico, portanto, os redutores.

    O oxignio (O2) o comburente mais comum que possibilita vida s chamas e intensifica a combusto. No entanto, h casos de combustes em que o comburente o cloro (Cl2) ou o bromo (Br2). O flor (F2) tambm um comburente e seu manuseio muito perigoso.

    A atmosfera composta por 21% de oxignio, 78% de nitrognio e 1% de outros gases, por isso, em ambientes com a composio normal do ar, a queima desenvolve-se com velocidade e de maneira completa e notam-se chamas.

    Contudo, a combusto ir consumir o oxignio do ar num processo contnuo e gradativo, diminuindo a porcentagem do mesmo no ambiente.

    Quando a porcentagem do oxignio do ar do ambiente diminuir de 21% para a faixa compreendida entre 16% e 8%, a queima tornar-se- mais lenta, surgindo brasas e no mais chamas.

    Quando o oxignio contido no ar do ambiente atingir concentraes menores de 8% muito provvel que a combusto deixe de existir.

    Os bombeiros devem ficar atentos e lembrar que muitos materiais que no queimam facilmente nos nveis normais de oxignio podero queimar com rapidez em atmosferas enriquecidas com o mesmo.

    Um desses materiais o conhecido Nomex (material resistente ao fogo que utilizado na fabricao de roupas de aproximao e combate ao fogo para bombeiros) que em ambientes normais no se inflama, no entanto, arde rapidamente

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    em atmosferas com concentraes de 31% de oxignio. Essas situaes podem ocorrer em indstrias qumicas, ambientes hospitalares e at, em domiclios particulares cujos inquilinos utilizem equipamentos portteis para oxigenioterapia.

    3.3 CONSIDERAES SOBRE O CALOR

    O calor o componente energtico do tetraedro do fogo. O calor uma forma de energia em trnsito, geralmente decorrente de uma diferena de temperatura entre corpos.

    O calor o fator preponderante para dar origem a um incndio, mant-lo e intensificar sua propagao.

    portanto uma forma de energia que eleva a temperatura, sendo gerado pela da transformao de outra energia, atravs de processos fsicos ou qumicos.

    So exemplos de formas de energia:

    Processo qumicos: Energia qumica: a quantidade de calor gerado pelo processo de combusto;Energia nuclear: o calor gerado pela fisso ou fuso de tomos.

    Processos fsicos: Energia eltrica: o calor gerado pela passagem de eletricidade atravs de um condutor, como um fio eltrico ou um aparelho eletrodomstico;Energia mecnica: o calor gerado pelo atrito de dois corpos.

    Uma fonte de calor pode ser qualquer elemento que faa com que o combustvel slido ou lquido desprenda gases combustveis e venha a se inflamar. Na prtica, pode ser uma chama, uma fagulha (fasca ou centelha) ou ainda uma superfcie aquecida.

    Alguns efeitos fsicos e qumicos do calor so: a elevao da temperatura, o aumento de volume do corpo aquecido, mudanas no estados fsicos da matria ou mudanas no estado qumico da matria.

    O calor tambm produz efeitos fisiolgicos, ou seja, o calor a causa direta de queimaduras e outras danos pessoais, tais como: desidratao, insolao, fadiga, leses no aparelho respiratrio e em casos mais graves a morte.

    3.3.1 Riscos da variao de volume e de temperatura:

    Como visto, ao do calor sobre os corpos, produz nestes, variaes de volume e temperatura, ocasionando alguns riscos, como por exemplo:

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    Dilatao de corpos slidos : O ao se dilata numa proporo de 2:1 em relao ao concreto. Esta diferena poder ocasionar riscos de desabamento numa edificao, visto que as barras de ao existentes em meio ao concreto das vigas de sustentao das construes, ao serem submetidas a intenso calor, tendero a se deslocarem no concreto, ocasionando a perda da sustentabilidade.

    Dilatao de corpos lquidos : A dilatao dos lquidos pode provocar o transbordamento destes, dos recipientes que os contm.

    Dilatao de corpos gasosos : A dilatao dos corpos gasosos acondicionados em recipientes (cilindros) pode provocar a ruptura dos mesmos, caso no possuam sistema de segurana (vlvulas de escape ou de alivio de presso).

    Variaes bruscas de temperaturas : Os materiais sofrem danos em suas estruturas ao serem submetidos a variaes bruscas de temperatura, podendo inclusive ocorrer o colapso generalizado. uma causa comum de desabamento de estruturas atingidas por incndios combatidos com o uso de gua.

    3.4 CONSIDERAES SOBRE A REAO QUMICA EM CADEIA

    Estudos cientficos demostraram que existe uma reao qumica ocorrida na combusto que se processa pela combinao do oxignio com os tomos e molculas (radicais livres), resultantes da quebra molecular do material combustvel pela ao do calor, ou seja, uma reao qumica contnua entre o combustvel e o comburente, a qual libera calor para a reao e mantm a combusto em um processo sustentvel, chamada reao em cadeia.

    O calor inicial quebra as molculas do combustvel, as quais reagem com o oxignio, gerando mais luz e calor, que por sua vez, vo decompor outras molculas, continuando o processo de forma sustentvel.

    Embora no seja eminentemente um elemento, no termo literal da palavra, por no ser sensvel como os demais (calor, combustvel e comburente), a reao em cadeia um componente essencial para a auto-sustentao do fogo, visto que promove a interao continuada entre os demais elementos do fogo.

    De forma simples, o calor irradiado das chamas atinge o combustvel e este decomposto em partculas menores (radicais livres), que se combinam com o oxignio e queimam, irradiando outra vez calor para o combustvel, formando um ciclo constante.

    A reao qumica em cadeia e a propagao relativamente rpida so os fatores que distinguem o fogo das reaes de oxidao mais lentas. As reaes de

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    oxidao lentas no produzem calor suficientemente rpido para chegar a uma ignio e nunca geram calor suficiente para uma reao em cadeia. A ferrugem em metais e o amarelado em papis velhos so alguns exemplos de oxidao lenta.

    4. PROCESSO DA COMBUSTO

    O PROCESSO DO FOGO: Assim, reunidos os quatro elementos necessrios formao e o seu desenvolvimento, apresentamos abaixo um fluxograma deste processo, partindo do calor:

    5 OS PRINCIPAIS PRODUTOS DA COMBUSTO

    Os principais produtos da combusto so os gases da combusto, as chamas propriamente ditas, o calor irradiado e as fumaas visveis.

    Contrariamente a opinio popular, o maior risco vida devido aos incndios, no se constitui nem das chamas, nem do calor, seno da inalao de fumaa e dos gases aquecidos e txicos, assim como a deficincia de oxignio.

    5.1 OS GASES DA COMBUSTO

    Os gases da combusto podem ser conceituados como aquelas substncias gasosas que surgem durante o incndio e permanecem mesmo aps os produtos da combusto serem resfriados at alcanarem temperaturas normais. A quantidade e os tipos de gases da combusto presentes durante e depois de um incndio variam fundamentalmente com a composio qumica do material da combusto, com a quantidade de oxignio disponvel e tambm com a temperatura do incndio.

    Os efeitos da fumaa e dos gases txicos sobre as pessoas dependem do

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    tempo de exposio, da concentrao dos gases na atmosfera e tambm, em grande parte, das condies fsicas e resistncia dos indivduos expostos.

    A fumaa gerada em incndios contm gases narcticos (asfixiantes) e agentes irritantes. Os gases narcticos ou asfixiantes so aqueles que causam a depresso do sistema nervoso central, produzindo desorientao, intoxicao, perda da conscincia e at a morte. Os gases narcticos mais comuns so o monxido de carbono (CO), o cianeto de nitrognio (HCN) e o dixido de carbono (CO2).

    A reduo dos nveis de oxignio como resultado de um incndio tambm provocar efeitos narcticos nos humanos. Os agentes irritantes so substncias que causam leses na respirao (irritantes pulmonares), alm de inflamao nos olhos, vias areas superiores, e pele (irritantes sensoriais).

    Dos principais gases presentes nos incndios destacamos como mais letais o monxido de carbono, o dixido de carbono, o cido ciandrico, o cloreto de hidrognio e a acrolena, no entanto, no podemos esquecer que a falta de oxignio tambm pode ser fatal.

    Ainda que o monxido de carbono no seja o produto da combusto mais txico certamente o que gerado em maior proporo. Se a combusto se produz com grande aporte de oxignio, o carbono existente na maioria dos combustveis orgnicos se combinar para produzir dixido de carbono (CO2). Mas na maioria dos casos, os incndios se desenvolvem sob condies nas quais as quantidades de ar so insuficientes para completar a combusto, o que consequentemente acaba gerando a produo de monxido de carbono (CO).

    A toxicidade do CO deve-se fundamentalmente a sua tendncia a combinar-se com a hemoglobina do sangue, o que gerar uma diminuio no abastecimento de oxignio dos tecidos humanos (hipxia). No existe um percentual de saturao mnimo de carboxihemoglobina (COHb) associado com a morte, mas se sabe que uma saturao superior a 30% seria potencialmente perigosa a qualquer indivduo e um percentual perto dos 50% seria fatal.

    Outro efeito perigoso do processo da combusto a diminuio dos nveis de oxignio. A concentrao normal de oxignio (O2) no ar de aproximadamente 21%, se esta concentrao diminui abaixo de 17% se produz anxia (com diminuio do controle muscular). Se o O2 desce a nveis entre 14 e 10% as pessoas podem manter a conscincia, mas perdem orientao e tendem a ficar muito cansadas. Concentraes entre 10 e 6% produzem desmaios e at a morte, caso a vtima no seja transferida para um ambiente com atmosfera normal e receba tratamento com oxignio medicinal suplementar.

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    5.2 AS CHAMAS

    A combusto dos materiais no ar quase sempre estar acompanhada de chamas visveis. O contato direto com as chamas, assim como a irradiao direta do calor das mesmas pode produzir graves queimaduras.

    Qualquer queimadura importante, pois alm da profundidade, elas tambm devem ser avaliadas pela extenso da rea atingida e quanto maior for a superfcie corporal atingida, pior a situao da vtima. Os danos produzidos pelas queimaduras so dolorosos, duradouros, difceis de tratar e muito penosos para os vitimados.

    5.3 O CALOR IRRADIADO

    O calor produzido pelos incndios afetam diretamente as pessoas expostas em funo da distncia e das temperaturas alcanadas, podendo produzir desde pequenas queimaduras at a morte.

    A exposio ao ar aquecido aumenta o ritmo cardaco, provoca desidratao, esgotamento, bloqueio do trato respiratrio e queimaduras. Pessoas expostas a ambientes com excesso de calor podem morrer se este ar quente penetrar nos pulmes. A presso arterial diminuir, a circulao do sangue ficar debilitada e a temperatura do corpo aumentar at danificar centros nervosos do crebro.

    5.4 FUMAAS VISVEIS

    As fumaas so constitudas por partculas slidas e lquidas transportadas pelo ar e por gases desprendidos dos materiais que queimam.

    Normalmente, em condies de insuficincia de oxignio (combusto incompleta), madeira, papel, gasolina e outros combustveis comuns desprendem minsculas partculas pretas de carbono, chamadas de fuligem ou p de carvo que so visveis na fumaa e se acomodam sob superfcies por deposio.

    Outros gases da combusto, como o metano (CH4), formaldedo e cido actico, podem ser gerados sob combustes incompletas, condensando-se sobre as partculas de fumaa e sendo transportadas at os pulmes com consequncias fatais para as pessoas.

    6 TRANSFERNCIA DO CALOR

    O estudo da transferncia do calor nos auxiliar a identificar as diferentes formas de propagao de um incndio.

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    O calor pode propagar-se a partir de trs diferentes formas: Por conduo, a qual ocorre principalmente nos slidos; Por conveco, em lquidos e gases e; Por radiao, onde no h necessidade de um meio material para a propagao dessa energia.

    Como tudo na natureza tende ao equilbrio, o calor transferido de objetos ou locais com temperatura mais alta para objetos ou pontos com temperatura mais baixa, ou seja, o ponto ou objeto mais frio absorver calor at que esteja com a mesma quantidade de energia do outro.

    6.1 CONDUO

    Conduo a transferncia de calor atravs de um corpo slido de molcula a molcula. A principal caracterstica da conduo a transferncia de energia sem a simultnea transferncia de matria, ocorrendo, assim, predominantemente nos slidos. Em outras palavras, o calor passa de molcula a molcula, mas nenhuma molcula transportada com o calor.

    Colocando-se, por exemplo, a extremidade de uma barra de ferro prxima a uma fonte de calor, as molculas desta extremidade absorvero calor; elas vibraro mais vigorosamente e se chocaro com as molculas vizinhas, transferindo-lhes calor. Essas molculas vizinhas, por sua vez, passaro adiante a energia calorfica, de modo que o calor ser conduzido ao longo da barra para a extremidade fria. A rapidez com que o calor conduzido de uma extremidade a outra da barra vai depender de fatores, como: comprimento da barra, diferena de temperatura entre suas extremidades, espessura da mesma e do material do qual feita.

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    6.2 CONVECO

    a transferncia de calor que ocorre nos fluidos (gases e lquidos) atravs do movimento de massas de gases ou de lquidos dentro de si prprios.

    Diferentemente da conduo onde o calor transmitido de tomo a tomo sucessivamente, na conveco a propagao do calor se d atravs do movimento do fluido envolvendo o transporte de matria.

    A descrio e explicao desse processo bem simples: quando uma certa massa de um fluido aquecida suas molculas passam a mover-se mais rapidamente, afastando-se uma das outras. Como o volume ocupado por essa massa fluida aumenta, a mesma torna-se menos densa. A tendncia dessa massa menos densa no interior do fluido como um todo sofrer um movimento de ascenso ocupando o lugar das massas do fluido que esto a uma temperatura inferior. A parte do fluido mais fria (mais densa) move-se para baixo tomando o lugar que antes era ocupado pela parte do fluido anteriormente aquecido.

    Esse processo se repete inmeras vezes enquanto o aquecimento mantido dando origem as chamadas correntes de conveco. So as correntes de conveco que mantm o fluido em circulao.

    Em incndios estruturais essa a principal forma de propagao de calor para andares superiores, quando os gases aquecidos encontram caminho atravs de escadas, poos de elevadores, etc.

    6.3 RADIAO

    a transmisso de calor atravs de ondas de energia calorfica que se deslocam atravs do espao. Estas ondas de calor possuem a propriedade de deslocarem-se em todas as direes, sendo que a intensidade com que atingem

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    novos corpos combustveis depender da distncia da fonte que emite o calor aos novos corpos combustveis a serem atingidos, alm, claro, da prpria intensidade do calor em deslocamento.

    As ondas responsveis pela radiao so do tipo eletromagnticas, propagando-se velocidade da luz e atravs do vcuo ou do ar.

    O calor propagado pelo processo da radiao possui a capacidade de penetrar corpos transparentes e/ou translcidos, como o vidro e a gua.

    Este calor em propagao ao atingir um corpo combustvel, dependendo da quantidade de calor e das caractersticas fsico-qumicas do combustvel, poder lev-lo a atingir o ponto de ignio e se inflamar em consequncia. Temos, nesse caso, uma ignio remota, situao muito comum em incndios que se propagam para edificaes vizinhas.

    7 PONTOS DE TEMPERATURA

    Os combustveis so transformados pelo calor e a partir desta transformao, que se combinam com o oxignio, resultando a combusto. Essa transformao desenvolve-se em temperaturas diferentes, medida que o material vai sendo aquecido.

    Com o aquecimento, chega-se a uma temperatura em que o material comea a liberar vapores, que se incendeiam caso houver uma fonte externa de calor. Neste ponto, chamado de Ponto de Fulgor, as chamas no se mantm, devido pequena quantidade de vapores combustveis, s produzem um flash, que logo se apaga.

    Prosseguindo no aquecimento, atinge-se uma temperatura em que os gases desprendidos do material, ao entrarem em contato com uma fonte externa de calor, iniciam a combusto, e continuam a queimar sem o auxlio daquela fonte. Esse ponto

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    chamado de Ponto de Combusto.

    Continuando o aquecimento, atinge-se um ponto no qual o combustvel, exposto ao ar, entra em combusto sem que haja fonte externa de calor. Este o chamado Ponto de Ignio.

    TABELA DE PONTOS DE FULGOR E DE IGNICOSUBSTNCIA PONTO DE FULGOR (c) PONTO DE IGNICO (c)Acetileno GAS 335Acetona -17,7 538cido actico 40 426lcool 11 a 12 371 a 426Amnia GAS 650Asfalto 204 490ter -45 180Gasognio GAS 648Gasolina -42 257Hidrognio GAS 584,5Madeira 50 150Metano GAS 540Monxido de Carbono GAS 650leo diesel 66 400Propano GAS 470Querosene 50 254

    O ponto de combusto ou de inflamabilidade de uma substncia obtido acrescendo 3 a 4C a temperatura do ponto de fulgor.

    8 MTODOS DE EXTINO

    8.1 Retirada do material combustvel

    a forma mais simples de se extinguir um incndio. Baseia-se na retirada do material combustvel, ainda no atingido, da rea de propagao do fogo, interrompendo a alimentao da combusto.

    Exemplos: fechamento de vlvula ou interrupo de vazamento de combustvel lquido ou gasoso, retirada de materiais combustveis do ambiente em chamas, realizao de aceiro, etc.

    8.2 Resfriamento

    o mtodo utilizado mais frequentemente por bombeiros combatentes. Consiste em diminuir a temperatura do material combustvel que est queimando, diminuindo, consequentemente, a liberao de gases ou vapores inflamveis.

    A gua o agente extintor mais usado, por ter grande capacidade de absorver

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    calor e ser facilmente encontrada na natureza. A reduo da temperatura est ligada quantidade e a forma de aplicao da gua (jatos), de modo que ela absorva mais calor que o incndio capaz de produzir.

    8.3 Abafamento

    Consiste em diminuir ou impedir o contato fsico do oxignio com o material combustvel. No havendo comburente para reagir com o combustvel, no haver fogo (como exceo temos os materiais que tm oxignio em sua composio e queimam sem necessidade do oxignio do ar, como os perxidos orgnicos e o fsforo branco).

    A diminuio do oxignio em contato com o combustvel vai tornando a combusto mais lenta, at a concentrao de oxignio chegar prxima de 8%, onde no haver mais combusto.

    Colocar uma tampa sobre um recipiente contendo lcool em chamas, ou colocar um copo voltado de boca para baixo sobre uma vela acesa, so duas experincias prticas que mostram que o fogo se apagar to logo se esgote o oxignio em contato com o combustvel.

    Exemplos: Abafamento do fogo com uso de materiais diversos, como areia, terra, cobertores, vapor dgua, espumas, ps, gases especiais, etc.

    8.4 Quebra da reao qumica em cadeia

    Proporcionado pela introduo de determinadas substncias no processo (reao qumica) da combusto com o propsito de inibi-la e com isso criar uma condio especial em que o combustvel e o comburente perdem ou tm em muito reduzida as suas capacidades de manter o processo da reao qumica em cadeia.

    Consiste em diminuir ou impedir o contato qumico do oxignio com os gases ou vapores combustveis, impedindo a combinao entre o comburente e o combustvel.

    Exemplos: Os extintores de incndio base de p com alta capacidade extintora (tipo ABC) tem como seu principal mtodo de extino a quebra da reao em cadeia.

    9 CLASSIFICAO DOS INCNDIOS

    Os incndios so classificados de acordo com os materiais combustveis neles envolvidos, bem como, pela situao em que se encontram. Essa classificao

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    feita para determinar o agente extintor mais adequado para o tipo de incndio especfico.

    Agentes extintores so todas as substncias capazes de eliminar um ou mais dos elementos essenciais do fogo, cessando a combusto.

    Existem cinco classes de incndio, identificadas pelas letras A, B, C, D e K. Essa classificao adotada pela Norma Americana e tambm pelos Corpos de Bombeiros Militares dos Estados Brasileiros.

    9.1 Incndio classe A

    Incndio envolvendo combustveis slidos comuns, tais como papel, madeira, tecido, borracha, plsticos, etc.

    caracterizado pelas cinzas e brasas que deixam como resduos e por queimar em razo do volume, isto , a queima se d na superfcie e em profundidade. O mtodo mais utilizado para extinguir incndios de classe A o uso de resfriamento com gua, mas tambm se admite o uso de ps qumicos secos de alta capacidade extintora ou espuma.

    9.2 Incndio classe B

    Incndio envolvendo lquidos inflamveis, graxas e gases combustveis.

    caracterizado por no deixar resduos e por queimar apenas na superfcie exposta e no em profundidade. Os mtodos mais utilizados para extinguir incndios de classe B so o abafamento (uso de espuma), a quebra da reao em cadeia (uso de ps qumicos) ou ainda o resfriamento com cautela.

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    9.3 Incndio classe C

    Incndio envolvendo equipamentos eltricos energizados.

    caracterizado pelo risco de vida que oferece ao bombeiro combatente. A extino deve ser realizada por agentes extintores que no conduzam a corrente eltrica (ps qumicos ou gs carbnico). importante registrar que a maioria dos incndios de classe C, uma vez eliminado o perigo da eletricidade (choque eltrico), passam a ser tratados como incndio de classe A.

    9.4 Incndio classe D

    Incndio envolvendo metais combustveis pirofricos (magnsio, selnio, antimnio, ltio, potssio, alumnio fragmentado, zinco, titnio, sdio, urnio e zircnio).

    caracterizado pela queima em altas temperaturas e por reagir com agentes extintores comuns (principalmente os que contenham gua). O mtodo mais adequado para extinguir incndios de classe D o uso de ps especiais que separam o incndio do ar e agem por abafamento.

    9.5 Incndio classe K

    No verdadeiramente uma classe de incndio, pois se confunde com a classe B, no entanto j aparece na maioria dos textos tcnicos mais recentes e tem uma finalidade mais educativa para enfatizar os riscos especiais da classe.

    So os incndios em leo, gorduras de cozinhas e piche derretido que no devem ser combatidos com gua em jato direto. Os mtodos mais utilizados para extinguir incndios de classe K so o abafamento (uso de espuma), a quebra da reao em cadeia (uso de ps qumicos) ou ainda o resfriamento com muita cautela.

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    QUADRO DEMONSTRATIVO

    CLASSE NORMA AMERICANA* CLASSE NORMA EUROPEIA

    ASLIDOSpapel, madeira, tecido, borracha, plsticos

    ASLIDOSpapel, madeira, tecido, borracha, plsticos

    BLQUIDOS, GRAXAS e GASESGasolina, lcool, butano, metano e acetileno

    BLQUIDOSGasolina, leo, lcool e petrleo

    CELTRICOSEquipamentos e mquinas eltricas e eletrnicas energizadas

    CGASESButano, metano e acetileno

    DMETAIS ESPECIAISmagnsio, selnio, antimnio, ltio, potssio, zinco, titnio, sdio, urnio e zircnio

    DMETAIS ESPECIAISmagnsio, selnio, antimnio, ltio, titnio, zircnio, sdio, urnio, zinco e potssio

    KLEOS e GORDURASleos e gorduras de cozinha

    EELTRICOSEquipamentos e mquinas eltricas e eletrnicas energizadas

    FLEOS e GORDURASleos, gorduras de cozinhas e piche derretido

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    AVALIAOINTRODUO CINCIA DO FOGO

    1. Usando suas prprias palavras, use o espao abaixo para conceituar os termos fogo e incndio.Resposta:

    2. Observe com ateno o desenho abaixo (tetraedro do fogo) e indique os componentes essenciais do fogo que esto faltando.

    3. Escreva no espao abaixo pelo menos trs diferentes produtos da combusto:Resposta:

    4. Indique a correspondncia entre os termos de ambas as colunas, colocando nos espaos em branco da segunda coluna, as letras equivalentes da primeira coluna.a) Conduo ( ) Incndio em casas muito prximasb) Conveco ( ) Aquecimento de uma barra de metal c) Radiao ( ) Ocorre nos fluidos (gases e lquidos)

    5. Indique se a afirmao a seguir verdadeira ou falsa, escrevendo V ou F no espao em branco.

    ___ Ponto de fulgor a temperatura na qual um lquido inflamvel gera suficiente vapor para formar uma mistura inflamvel com o ar.___ Ponto de combusto (tambm chamado de ponto de inflamao) a temperatura mnima, na qual os vapores emitidos por um corpo combustvel provocam a combusto na presena de uma fonte gnea externa. Porm, ao ser retirada essa fonte externa de calor, a chama se mantm acesa.___ Ponto de ignio a temperatura mnima na qual os vapores desprendidos por um corpo combustvel provocam combusto ao entrar em contato com o ar, independente ou no da presena de qualquer fonte gnea externa.

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    6. Enumere as 5 classes de incndio e cite um exemplo de cada uma delas;

    7. Cite os mtodos de extino de um incndio.

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    6.1 CONDUO6.2 CONVECO6.3 RADIAOTABELA DE PONTOS DE FULGOR E DE IGNICO

    AVALIAOINTRODUO CINCIA DO FOGO